VARIABILIDADE SAZONAL DA PRECIPITAÇÃO NO AEROPORTO DE SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS – SP ENTRE OS ANOS DE 1982 E 2009.
Cleber Souza Corrêa1
Marcela de Ávila Villaron1
Roberto Tadeu de Araujo¹
Marcos Luiz de Andrade Pinto1
1
Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA). Pça Mal Eduardo Gomes, 50. Vila das Acácias. São
José dos Campos – SP – Brazil, email: [email protected]
RESUMO: Este estudo tem a finalidade de avaliar a intensidade da precipitação, elemento
fundamental na manutenção do equilíbrio hidrológico e no planejamento das atividades humanas.
Foram utilizados os dados pluviométricos de São José dos Campos–SP, entre 1982 a 2009. Procurouse analisar, para os meses de período seco (junho, julho, agosto e setembro) e chuvoso (dezembro,
janeiro, fevereiro e março), o total anual médio de precipitação, a quantidade de dias com precipitação
superior a 1, 5, 10, 20 e 50mm e o quociente entre o total diário de precipitação e horas em que
precipitou. A primeira análise revelou que a quantidade de precipitação no período chuvoso quase não
se alterou, enquanto que, no período seco, houve uma redução acentuada. A quantidade de dias por
mês em que houve precipitação superior a 1, 5, 10, 20 e 50mm, tanto para o período chuvoso quanto
para o período seco, diminuiu, principalmente, quando inferior a 1mm. A exceção foi a quantidade de
dias na série chuvosa com precipitação superior a 50mm. Na análise do quociente entre os totais de
precipitação e a quantidade de horas, o período chuvoso apresentou ligeira variação positiva e o
período seco tendeu minimamente a queda. Portanto, foi observado declínio no total e na quantidade
de horas de precipitação em ambos os períodos. Entretanto, a análise para a estação chuvosa foi a mais
discreta, possivelmente relacionada ao aumento da precipitação superior a 50mm
Palavras-chave: Precipitação, Tendência, Climatologia
ABSTRACT: This study aims to evaluate the intensity of precipitation, an important element in the
hydrological balance and human activities planning. The rainfall data from São José dos Campos-SP
between 1982 and 2009 was used. It was searched, for the months of dry period (June, July, August
and September) and rainy period (December, January, February and March), the total annual
precipitation, the number of days with precipitation above 1, 5, 10, 20 and 50 mm and the quotient
between the total daily rainfalls and hours when it was rained. The first analysis showed that the
amount of precipitation during the rainy season has hardly changed, whereas in the dry season, there
was a marked reduction. The number of days per month in which rainfall was above 1, 5, 10, 20 and
50 mm, for both seasons decreased especially when it was less than 1 mm. The exception was the
increase of rainfall number of days exceeding 50 mm in the rainy period. The quotient between total of
rainfall and hours had a slight positive change in the rainy season and a little decrease in the dry
period. So, in general, there was a decrease in total hours and quantity of rainfall in both periods.
However, the analysis for the rainy season was more subdued, possibly related to increased rainfall
exceeding 50 mm.
Key-words: Precipitation, Tendency, Climatology.
1 – INTRODUÇÃO
O volume e a distribuição anual da precipitação determinam, juntamente com a temperatura,
o tipo de vegetação natural e, conseqüentemente, o tipo de exploração agrícola possível (PEREIRA et
al., 2002).
As chuvas podem ser classificadas de acordo com os movimentos ascensionais geradores das
nuvens, sendo as duas principais, as de origem convectiva e as de origem frontal. A primeira está
relacionada aos movimentos rápidos de ascensão de ar úmido e quente que, após resfriamento
adiabático, retorna a superfície em movimentos turbilhonares, completando a célula convectiva, típica
de verão. A segunda está relacionada com a chegada de uma frente, quente ou fria, na qual as nuvens
são formadas pela ascensão de ar úmido ao longo de suas rampas (MENDONÇA; DANNIOLIVEIRA, 2007).
Considerando que a precipitação é o elemento climático mais importante para a
produtividade agrícola ou no planejamento urbano, o estudo das características sazonais e suas
variabilidades ao longo dos anos são fundamentais para o entendimento dos riscos nas atividades
humanas, sejam rurais ou urbanas (DELGADO 2007).
Assim, o objetivo deste trabalho foi analisar a precipitação nos últimos 29 anos na cidade de
São José dos Campos - SP, e descobrir se existe uma tendência de aumento na intensidade do
fenômeno, embora como já observado por Araújo et al. (2008), a série venha diminuindo.
2 – ÁREA DE ESTUDO
O aeroporto Professor Urbano Ernesto Stumpf, localiza-se no município de São José dos
Campos (Figura 1), nas coordenadas 23º 13’ 44’’S e a 045º 52’ 16’’O, numa altitude de 646 metros.
Possui uma pista de 2.676x45 m, cujas cabeceiras são 15 e 33. Atualmente, o aeroporto opera 24 horas
por dia atendendo a vôos visuais e instrumentos. Em 2008, o movimento no aeroporto foi de 14.079
pousos e decolagens (INFRAERO, 2010). O número sinótico da estação, para fins de identificação na
Organização Meteorológica Mundial, é 83829.
O clima da região, pelo sistema de Köeppen modificado, é do tipo Cwa, quente, verão úmido
e inverno seco. Localiza-se na Depressão do Rio Paraíba do Sul, que está inserido nos Cinturões
Móveis Neoproterozóicos Sudeste-Sul (IBGE, 2006). Esta área apresenta em uma parcela a vegetação
do tipo Cerrado e, em outra, Floresta Ombrófila Densa na sua forma secundária, ambos os tipos com
atividade agrária (IBGE, 2004).
Figura 1: Município de São José dos Campos – SP, em destaque região do aeroporto.
3 – MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho, foram utilizados os dados pluviométricos registrados em formulários
meteorológicos (IEMA 105-25, IEPV 105-13 e IEPV 105-78 preenchidos na Estação Meteorológica
de Superfície do aeródromo de São José dos Campos (EMS-SJ), nos horários das 00 h às 23 h (local),
entre os anos de 1982 a 2009, mantidos arquivados pela Subdivisão de Climatologia Aeronáutica do
Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), em São José dos Campos – SP. Os dados foram
digitalizados no Banco de Dados Climatológicos, localizado no mesmo Instituto, da qual foram
extraídos.
Primeiramente, procurou-se identificar quais seriam os meses mais secos e os mais chuvosos
na EMS-SJ, a partir da média dos totais mensais de precipitação no período.
Após a determinação do período seco e do período chuvoso, foi realizada uma análise anual
a partir da soma do total de precipitação nos meses considerados chuvosos e nos secos. Procurou-se
comparar para as duas épocas, o quociente entre o total de precipitação diária e o total de horas em que
precipitou. Também foram separados a quantidade de dias, em ordem cronológica e de acordo com o
período seco e chuvoso, em que houve precipitação superior à 1 mm, 5 mm, 10 mm, 20 mm e 50 mm.
4 – RESULTADOS E ANÁLISES
A partir dos dados de precipitação (Tabela1). Os meses de dezembro, janeiro, fevereiro e
março apresentaram-se como os mais chuvosos, e os meses de junho, julho, agosto e setembro, os
mais secos.
TABELA 1 – Média mensal da precipitação na EMS-SJ entre 1982 e 2009
Mês
jan
fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Média Prp (mm) 221,1 174,9 141,2 74,4 54,0 35,9 33,8 27,9 72,6 99,0 115,9 183,4
A análise da série anual também apresentou um pequeno descréscimo, acumulando
9,1mm, após 28 anos. Entretanto, a redução na precipitação não foi verificada em todas as épocas do
ano. No período chuvoso (Figura 2), a quantidade de precipitação quase não se alterou, enquanto que
no período seco (Figura 3) houve uma redução mais acentuada.
Figura 2: Média anual da precipitação nos meses chuvosos na EMS-SJ entre 1982 e 2009.
Figura 3: Média anual da precipitação nos meses secos na EMS-SJ entre 1982 e 2009.
A partir da divisão entre os totais diários de precipitação e a quantidade de horas diárias do
fenômeno, foi gerado duas séries sazonais a fim de que se possa identificar alguma tendência de
intensificação da precipitação. A primeira (Figura 4) corresponde ao período chuvoso e apresenta
pouca variação positiva em razão da intensidade da precipitação. A segunda (Figura 5),
correspondente ao período seco, foi ainda mais estável, embora tendesse minimamente a queda.
Figura 4: Quociente da divisão entre o total diário da precipitação e a quantidade diária de horas com o
fenômeno nos meses chuvosos na EMS-SJ entre 1982 e 2009.
Figura 5: Quociente da divisão entre o total diário da precipitação e a quantidade diária de horas com o
fenômeno nos meses secos na EMS-SJ entre 1982 e 2009.
Em relação à quantidade de dias por mês em que houve precipitação superior à 1, 5, 10, 20 e
50 mm, tanto para o período chuvoso, quanto para o período seco, a análise da tendência linear
mostrou-se negativa, com ênfase no decréscimo de dias com precipitação inferior a 1mm. A única
exceção foi na série chuvosa com a quantidade de dias de precipitação superior a 50 mm (Figura 6),
que apesar de somarem apenas 31 datas, indicaram o aumento desses eventos.
Figura 6: Quantidade de dias mensais com precipitação superior a 50 mm no período chuvoso na
EMS-SJ entre 1982 e 2009.
5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados das análises sazonais corroboram com a tendência negativa apontada por
Araujo et al.(2009). Foi observado um discreto declínio na quantidade e na duração da precipitação no
período de 1982 a 2009. Entretanto, a análise anual para a estação chuvosa mostrou-se mais estagnada
do que para a estação seca, talvez por causa de um sensível aumento no caso de precipitação superior a
50 mm.
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, R.T.; VILLARON, M.V.;PINTO, M.L.A ; CORREA,C.S. Análise Temporal da
Precipitação no Aeroporto de São José dos Campos – SP entre os anos de 1982 e 2008 utilizando
Teste não-paramétrico de Aleatoriedade. In: 2º Seminário de Recursos Hídricos da Bacia
Hidrográfica do Paraíba do Sul. Universidade de Taubaté: Taubaté, 2009.
DELGADO, J.C. Um estudo sobre o mecanismo físico que inicia o período chuvoso na região do
Vale do Paraíba. Monografia de Especialização em Gestão do Espaço e do Território. Departamento
de Ciências Sociais e Letras da Universidade de Taubaté, Taubaté – SP, 2007. 47 p.
EMPRESA BRASILEIRA DE INFRA-ESTRUTURA AEROPORTUÁRIA (INFRAERO).
Aeroporto de São José dos Campos/ Professor Urbano Ernesto Stumpf. Disponível em:
<http://www.infraero.gov.br/aero_prev_home.php?ai=78>. Em março de 2010.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mapa de
Unidades de Relevo do Brasil. Rio de Janeiro: Diretoria de Geociências, 2006. Mapa
color.,110cm x 90cm. Escala 1:5.000.000.
_____. Mapa de Vegetação do Brasil. Rio de Janeiro: Diretoria de Geociências, 2004. Mapa
color.,115cm x 90cm. Escala 1:5.000.000.
MENDONÇA, F.; DANNI-OLIVEIRA,I.M. Climatologia:Noções Básicas e Climas do Brasil. São
Paulo:Oficina de Textos, 2007. 206p.
PEREIRA, A. R.; ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P. C.Agrometeorologia: fundamentos e
aplicações práticas.Guaíba:Editora Agropecuária, 2002. 478p.
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