COMPORTAMENTO DA PRESSÃO ATMOSFÉRICA E DO VENTO MÁXIMO NO
EPISÓDIO CATARINA: RESULTADOS PRELIMINARES
Marcelo Martins1 , Renato Victória,1, Maurici Monteiro1, Marcelo Moraes1, Daniel Calearo1, Gilsânia
Araujo1, Clóvis Correa1, Maria Laura Rodrigues1
ABSTRACT
The present work describes the behavior of the pressure and wind in the Catarinense coast and
Gaucho in the episode Catarina, in the period betwen the days 26 the 28 of March of 2004. The
results had shown a strong gradient of pressure in the dawn of sunday 28, especially between
Siderópolis and Florianópolis, and Siderópolis-SC and Torres-RS, place where the eye of the
Catarina reached the Catarinense south coast and coastal north Gaucho. In the periphery of the
system to the north of Florianópolis and the south of Torres, the pressure gradients had been the
registered minors. The maximum wind speed and minimum pressure were in Siderópolis to the 3
hours of day 28, with 146 km/h and 993 hPa the respective values.
PALAVRAS-CHAVE: Catarina, pressão atmosférica, gradiente de pressão, vento máximo
RESUMO
O presente trabalho descreve o comportamento da pressão e vento na costa catarinense e gaúcha no
evento Catarina no período entre os dias 26 a 28 de março de 2004. Os resultados mostraram um
forte gradiente de pressão na madrugada de domingo 28, especialmente entre Siderópolis e
Florianópolis, e Siderópolis-SC e Torres-RS, local onde o olho do Catarina atingiu o litoral sul
catarinense e litoral norte gaúcho. Na periferia do sistema ao norte de Florianópolis e ao sul de
Torres, os gradientes de pressão foram os menores registrados. A velocidade máxima e menor
pressão registrada foi em Siderópolis às 3 horas do dia 28, com os valores respectivos de 146,7
km/h e 993 hPa.
1
Meteorologistas do Centro Integrado de Meteorologia e Recursos Hídricos de SC - EPAGRI/CLIMERH - Rod. Admar
Gonzaga, 1347, Itacorubi C.P.502, - 88034-901 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil /Fone (0xx48)2398064/8066/8067. Fax (0xx48)239-8065 - 2
INTRODUÇÃO
A denominação para Furacão ou Tufão, serve para caracterizar um ciclone tropical com um
centro intenso de baixa pressão não frontal de escala sinótica. Um centro de baixa pressão sobre o
oceano, passa por vários estágios até se configurar como um Furacão. Um ciclone tropical é o
balanço entre as forças gradiente de pressão, de Coriolis e centrífuga. Nos furacões existem grandes
amplitudes de temperatura, cerca de 10°C para uma distância de 100 km, com ventos superiores a
120 km/h a escala de Saffir Simpsom.
Para ( PARKER, S. P. 1977), Furacões não ocorrem no Atlântico Sul e Sudeste do Pacífico.
Furacões no Hemisfério Norte podem influenciar de forma remota as condições meteorológicas
na América do Sul (Mello & Dias, 1994).
A passagem de furacões associam-se sempre com uma queda violenta na pressão atmosférica
num curto período de tempo, podendo chegar a 75 hPa, em casos extremos.
Um Furacão em estágio de maturidade, possui intensidade máxima em torno do seu centro;
centrifugação espiralada em banda de nebulosidade; mínima pressão no centro e áreas de
tempestade que pode atingir até 500 km de raio, com ventos e chuvas intensas. (VIANELLO,
2000).
O “olho” do Furacão é uma área quase que circular, onde os ventos são normalmente mais
calmos comparáveis as paredes do centro e pouca ou quase nenhuma nebulosidade. Embora os
ventos sejam calmos no eixo de rotação, podem ocorrer ventos intensos em alguns momentos nesta
região.
Seu tamanho varia de 8 a 200 km de diâmetro, mas em média temos ciclones tropicais com
diâmetro de olho em torno de 30 a 60 quilômetros.
O olho é circundado pela parede do olho (área aproximadamente circular de convecção
profunda), correspondendo à área de ventos de superfície mais intensos. O olho é composto de ar
que apresenta movimento levemente descendente enquanto que a parede tem um fluxo resultante
ascendente de moderado a fortes correntes ascendentes e descendentes.
A convecção da parede do olho é fundamental na formação e manutenção do ciclone tropical.
Convecção em ciclones tropicais é organizada e alongada na mesma orientação do vento horizontal,
sendo chamadas de bandas espirais pela típica formação em espiral. Ao longo dessas bandas a
convergência em baixos níveis é máxima e, assim, a divergência é bem pronunciada nos altos
níveis.
O objetivo deste trabalho não é caracterizar o fenômeno como Furacão ou Ciclone Extratropical,
mais sim estudar o comportamento da pressão e do vento ocorrido à ocasião do episódio Catarina.
METODOLOGIA
Foram utilizadas observações horárias no período de 26 a 28 de março de 2004 de pressão
atmosférica e vento máximo à superfície e vento em níveis superiores.
Os dados analisados foram das estações meteorológicas pertencentes a EPAGRI (Empresa de
Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina) e ao 8° Disme (Distrito de
Meteorologia) do INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).
Os dados das sondagens aerológicas realizadas nas estações meteorológicas de altitude de
Curitiba-PR (83840), Florianópolis-SC (83899) e Porto Alegre-RS (83971) do dia 26 a 29 de março
de 2004, pertencentes ao DPV (Departamento de Proteção ao Voô da Aeronáutica).
A tabela abaixo mostra as coordenadas geográficas principais das estações analisadas:
Nome
Estado
Macrorregião
Itajaí
SC
Litoral Norte
27° 11’ 45” 053° 14‘ 00”
2
Aut.
Florianópolis
SC
Grand. Fpolis
27° 35’ 00” 048° 34’ 00”
2
Aut.
Siderópolis
SC
Litoral Sul
28° 36’ 32” 049° 33’ 04”
135
Aut.
Laguna
SC
Litoral Sul
28° 29’ 00” 048° 48’ 00”
31
Aut.
SC
Litoral Sul
28° 28’ 49” 049° 00’ 00”
9
Aut.
São Joaquim
SC
Planalto Sul
28° 19’ 00” 049° 59’ 00”
1415
Conv.
Torres
RS
Litoral Norte
29° 19’ 00” 049° 44’ 00”
31
Conv.
Tramandaí
RS
Litoral Norte
30° 00’ 34” 050° 08’ 06”
4
Aut.
Capivari de
Baixo
Lat. Sul
Long. Oeste Altura m
Tipo
Através dos dados meteorológicos e da distância aproximada em quilômetros, entre as
localidades estudadas, resultou em um gradiente de pressão em superfície terrestre entre cinco
estações meteorológicas na área litorânea restrita entre os municípios de Itajaí-SC e Tramandaí-RS.
As estações meteorológicas estão separadas por uma distância de aproximadamente 300 km.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O fenômeno Catarina atingiu a costa catarinense e gaúcha na madrugada de domingo dia 28 de
março de 2004.
Figura 1 – Disposição das localidades estudadas
Analisando os dados que correspondem às 03:00 horas local do dia 28 de março,
aproximadamente a hora em que a parede do “olho” do Catarina atingiu a costa catarinense e
gaúcha.

Itajaí dista de Siderópolis 200 km aproximadamente. A diferença de pressão foi de 21 hPa.
O que corresponde a um gradiente de pressão de 4hPa/38 km, aproximadamente.

A distância de Tramandaí a Siredópolis é aproximadamente de 168 km. A diferença de
pressão foi de 19 hPa, o que corresponde a um gradiente de aproximadamente 4hPa/35 km.

A distância entre Itajaí e Florianópolis aproximada é de 78 km. Assumido-se as diferenças
de pressão, as 03:00 horas (hora local) da manhã foi de 6 hPa nesta distância, encontrou-se
um gradiente médio de aproximadamente de 4hPa/52km.

Florianópolis dista de Siderópolis aproximadamente cerca de 133 km, onde a diferença de
pressão foi de 15 hPa, o que corresponde a variação aproximadamente de 4 hPa/35km.

A distância de Tramandaí a Torres é de aproximadamente de 81 km. A diferença de pressão
registrada foi de 13 hPa, o que corresponde a variação de aproximadamente 4hPa/25km.

De Torres a Siderópolis a distância aproximada é de 88 km. A diferença de pressão
atmosférica foi de 6 hPa, o que resulta num gradiente de 4 hPa/58 km.
Considerando-se que Itajaí, em Santa Catarina (SC), e Tramandaí, no Rio Grande do Sul (RS),
como periferia do sistema, seus gradientes médios até Siderópolis mostram valores equivalentes, da
ordem de 4hPa/35 km. De Itajaí até Florianópolis se mostra como o valor de menor intensidade,
equivalente ao entre Torres e Siderópolis, da ordem de 4hPa/55 km.
Os gradientes médios mais fortes medidos se estabeleceram entre Tramandaí e Torres, no Rio
Grande do Sul, da ordem de 4hPa/25 km, e entre Florianópolis e Siderópolis, da ordem de 4hPa/35
km.
Como se observa o gradiente médio mais intenso neste horário se estabeleceu na periferia sul do
Catarina, registrando a ordem de 4 hPa/25 km, assim como o mais fraco, da ordem de 4hPa/58 km,
ocorreu entre Torres/RS e Siderópolis/SC, onde o “olho” dos sistema atingiu o continente. Ressaltase que no “olho” do sistema é caracterizado por calmaria e pequeno gradiente de pressão.
Variação da pressão entre 26 a 28 de m arço
Pressão atm osférica em hPa
1020
1015
1010
1005
1000
995
990
1
3
5 7
9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59 61
hora local
Im bituba
Capivari
Siderópolis
São Joaquim
Torres
Figura 2 - Variação da pressão atmosférica entre os dias 26 a 28 de março nas localidades acima.
A figura mostra um decréscimo acentuado da pressão atmosférica, principalmente na noite do
sábado, dia 27 e na madruga de domingo dia 28 de março.
Entre as 19 horas de sábado e 3 da manhã do domingo a pressão caiu 17 hPa em Siderópolis-SC,
cujo e menor valor absoluto foi de 993 hPa. Em Torres a pressão caiu cerca de 12 hPa entre 19
horas de sábado e uma hora do Domingo.
Nas demais localidades, os menores valores absolutos ficaram entre 1003 e 1004 hPa.
O forte gradiente de pressão ocasionou em ventos intensos, acima da casa de 100km/h como
mostra a figura abaixo.
28 a 29 de m arço
160
Velocidade do vento
máximo em km/h
140
120
100
80
60
40
20
0
1
5
9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89
Hora local
Siderópolis
Laguna
Im bituba
Figura 3 – Velocidade do vento máximo nas localidades acima.
O maior valor absoluto do vento máximo foi registrado em Siderópolis-SC, as 3 horas da manhã
de domingo, 146,7 km/h, seguido por Laguna-SC, 104 km/h as 4 da madrugada e de 56 km/h as 6
da manhã em Imbituba-SC.
O pico do vento registrado em Siderópolis-SC, culminou com o menor valor absoluto da pressão
atmosférica com mostra a figura abaixo.
160
1020
140
1015
120
1010
100
1005
80
1000
60
995
40
990
20
985
0
980
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70
Hora local
Siderópolis
Siderópolis
Figura 4 – Pressão atmosférica x vento máximo em Siderópolis-SC.
Pressão atmosférica em hPa
Velocidade Máximo do vento km/h
Pressão x Vento Máximo 26 a 28 de março
Análise das sondagens aerológicas realizadas nas estações meteorológicas de altitude de Curitiba
(83840), Florianópolis (83899) e Porto Alegre (83971) do dia 26 a 29 de março de 2004.

Curitiba: No dia 26 a sondagem apresentava ar bastante seco em praticamente todos os
níveis atmosféricos. Até a sondagem realizada na manhã do dia 28 os ventos predominaram
de sudeste da superfície até aproximadamente 8 km de altitude. A maior intensidade
registrada variou de 30 a 45 kt, mais intensos nas sondagens do dia 28. O índice K mostrou
aumento gradual na instabilidade do ar, sendo que no dia 28 ocorreu o maior, registrado em
34.

Florianópolis: Com exceção da sondagem realizada na manhã do dia 27, o ar encontrava-se
muito úmido. Até a sondagem da noite do dia 27, os ventos foram fracos soprando de sul a
sudoeste. Em seguida, passaram a soprar de nordeste a norte, ficando mais intensos, em
baixos níveis, na sondagem da manhã do dia 28 com valores de 25 a 30 kt. O ar ficou
instável na maioria das sondagens, porém a maior instabilidade foi apresentada na noite do
dia 28, com valores do índice K igual a 31,5.

Porto Alegre: Presença de inversão térmica próxima à superfície em todas as sondagens. Os
ventos sopraram de sudoeste a sudeste e ficaram mais intensos com 35 a 45 kt a partir da
sondagem da noite do dia 27. A instabilidade atmosférica aumentou a partir da noite do dia
27 apresentando o índice K com valores entre 31 e 34.
CONCLUSÃO
O episódio Catarina causou danos severos na área atingida pelo fenômeno em diversos setores
da sociedade. Desde o advento dos satélites na década de 60, esse foi o primeiro eventos dessa
natureza, com tal magnitude e trajetória. Os dados revelam uma violenta queda de pressão em
Siderópolis, associada a uma velocidade máxima do vento de 146,7 km/h. O maior impacto foi
sobre a área em que o centro do Catarina atingiu a costa, entre Torres e Siderópolis. Mesmo assim,
nas demais localidade (periferia do sistema), também foram atingidas, mas com menor intensidade.
Os dados mostram que a influência do Catarina se estendeu até a Serra Catarinense, onde a pressão
caiu de forma brusca durante o evento.
Os resultados preliminares aqui apresentados, mostram a magnitude do efeito do episódio,
dando subsídios a comunidade meteorológicas no discernimentos e caracterização do evento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MELLO, M. S.; DIAS, P. L. S. – Impacto remoto de furacões na América do Sul: Efeito da
resolução espacial do modelo, VIII CBMet, Belo Horizonte-MG, vol 1, p. 508.
PARKER, S. P. McGraw-Hill Encyclopedia of Ocean and Atmospheric Sciences. New York:
McGraw-Hill, 1977, 580 p.
VIANELLO, R. L., VIANELLO. A. R. A. – Meteorologia básica e suas aplicações. Viçosa:
UFV, 200 448p.
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