ERICA REGINA APARECIDA DA COSTA DESASSOREAMENTO DE CANAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. SÃO PAULO 2003 ERICA REGINA APARECIDA DA COSTA DESASSOREAMENTO DE CANAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Anhembi Morumbi no âmbito do Curso de Engenharia Civil com ênfase Ambiental. Orientador: Prof. Dr. José Rodolfo S. Martins. SÃO PAULO 2003 AGRADECIMENTOS Ensejo à preciosa lacuna para agradecer inicialmente a Deus pelo vitorioso transcorrer deste curso, podendo concluir esse Trabalho de Graduação. Agradeço a toda minha família e especialmente a meus pais, Edson e Regina, a meus irmãos Hugo, Junior e Denis e a meu noivo Gustavo pelo carinho e precioso suporte que me proporcionaram, sem o qual esse objetivo jamais seria alcançado. Ao meu orientador professor Rodolfo, sempre presente e disposto a ajudarme com sua valorosa experiência e pela atenção a mim dispensada. A meus professores pela abnegação ao transmitir-me, mesmo em momentos adversos, seus conhecimentos, frutos de estudo, dedicação e vivência profissional. E a todos os meus colegas, especialmente a Carla, Waldir e Elieser, os quais durante a, nem sempre pacífica convivência, marcaram esta etapa de crescimento e amadurecimento tanto humano quanto profissional. SUMÁRIO RESUMO.......................................................................................................IV ABSTRACT....................................................................................................V LISTA DE FIGURAS .....................................................................................VI LISTA DE FOTOGRAFIAS ..........................................................................VII LISTA DE TABELAS ..................................................................................VIII 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................ 1 2 OBJETIVOS............................................................................................ 4 2.1 Objetivo Geral........................................................................................... 4 2.2 Objetivo Específico ................................................................................. 5 3 METODOLOGIA DO TRABALHO .......................................................... 6 4 JUSTIFICATIVA...................................................................................... 7 5 INTRODUÇÃO A REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................... 8 5.1 As Causas e Mecanismos do Assoreamento .................................... 8 5.1.1 A Área da Bacia e sua População.................................................... 9 5.1.2 Os materiais desassoreados .......................................................... 11 5.1.3 As Áreas Geradoras dos Sedimentos............................................ 13 5.1.4 O Uso e Ocupação dos Solos......................................................... 17 5.1.5 As Áreas Fonte de Resíduos Urbanos .......................................... 17 5.1.6 Os problemas gerados no sistema Tietê-Pinheiros...................... 20 i 5.1.7 Origem e Formas de Aporte............................................................ 21 5.1.7.1 Lixo doméstico ................................................................................ 22 5.1.7.2 Resíduos de Construção Civil ....................................................... 22 5.2 Classificação das sub-bacias ............................................................. 26 5.3 Recomendações para a Redução do Assoreamento ..................... 29 5.3.1 Quanto ao Aporte de Sedimentos .................................................. 30 5.3.1.1 Ações Preventivas........................................................................ 30 5.3.1.2 Ações Corretivas .......................................................................... 33 5.3.2 6 Quanto ao aporte de detritos .......................................................... 35 ESTUDO DE CASO .............................................................................. 37 6.1 O SISTEMA HIDRÁULICO DA EMAE.................................................. 37 6.2 O Canal do Rio Pinheiros..................................................................... 40 6.3 Usinas Elevatórias................................................................................. 44 6.3.1 Usina Elevatória Pedreira................................................................ 44 6.3.2 Usina Elevatória de Traição ............................................................ 45 6.4 O Desassoreamento do Canal do Rio Pinheiros............................. 48 6.5 A EMAE .................................................................................................... 49 6.5.1 A urbanização na Bacia do Pinheiros ............................................ 51 6.6 Estudos e projetos sobre o Canal do Rio Pinheiros ...................... 53 6.7 Caracterização do material de assoreamento ................................. 55 6.7.1 Monitoramento do material ............................................................. 56 6.8 Caracterização Geoquímica dos Solos da Bacia do Alto Tietê.... 58 6.9 Atual sistema de desassoreamento................................................... 59 6.10 Planejamento dos serviços ................................................................. 61 ii 6.11 Técnicas de desassoreamento ........................................................... 63 6.11.1 Desassoreamento com dragas de sucção e recalque ................. 63 6.11.2 Desassoreamento com escavadeiras de grande porte................ 64 6.11.3 Desassoreamento com sistema escavo-barcaça ......................... 65 6.11.3 Desassoreamento com sistema dupla dragagem ............................ 66 6.11.4 Descrição dos serviços de desaterro ............................................. 66 6.12 Monitoramento do assoreamento por batimetria automatizada.. 68 6.13 Sistema utilizado.................................................................................... 68 6.13.1 Sistema de radioposicionamento ................................................... 69 6.13.2 Ecobatímetro de registro contínuo ................................................. 69 6.13.3 Microcomputador.............................................................................. 70 6.13.4 Navegação........................................................................................ 70 6.13.5 Processamento de dados................................................................ 71 6.14 Aplicabilidade no Canal Pinheiros..................................................... 72 6.14.1 6.15 Produtos obtidos .............................................................................. 73 Volume de Sedimentos do Canal Pinheiros..................................... 74 Situação atual .................................................................................................... 79 6.16 7 Legislação específica ........................................................................... 80 CONCLUSÕES ..................................................................................... 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 85 ANEXO 1...................................................................................................... 87 iii RESUMO Em resumo, este trabalho aborda o problema gerado pelo assoreamento do Canal Pinheiros. De suma importância, a redação do tema deste trabalho tem por objetivo efetuar a análise da origem dos sedimentos, em função das modificações, ocorridas com o solo da área da bacia do canal. O enfoque principal é a definição dos problemas gerados com o assoreamento e as soluções previstas para que, numa situação de chuva intensa, o canal não venha a transbordar, inundando sua região de várzea, hoje urbanizada. É efetuada, ainda, a verificação dos valores do volume assoreado no período em que se tem o monitoramento do canal, permitindo, assim, a análise para verificação do crescente índice de assoreamento. Palavras-chave: assoreado, batimetria e sedimentos. iv ABSTRACT In summary, this work approaches the problem generated for the sanded of the canal Pinheiros. Of utmost importance, the writing of the subject of this work has for objective to effect the analysis of the origin of the sediments, in function of the modifications, occured with the ground of the area of the basin of the canal. The main approach is the definition of the problems generated with the sanded and the foreseen solutions so that, in an intense rain situation, the canal does not come to overflow, flooding its fertile valley region, today occuped. It is effected, still, the verification of the values of the volume sanded in the period where if it has the monitoring of the canal, allowing, thus, the analysis for verification of the increasing index of the sanded. Key-words: sanded, bathymetry and sediments. v LISTA DE FIGURAS Figura 6.1: Ilustração do Sistema Hidráulico ELETROPAULO..................... 39 Figura 6.2: Ilustração Demonstrativa da Usina Elevatória de Traição. ......... 47 Figura 6.3: Representação gráfica da seção transversal do canal............... 74 Figura 6.4: Gráfico do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Superior. ..... 78 Figura 6.5: Gráfico do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Inferior. ....... 78 vi LISTA DE FOTOGRAFIAS Foto 5.1: Barreiras Flutuantes ..................................................................... 18 Foto 5.2: Lixo e Resíduos de Construção Civil lançados no Córrego Pirajussara. ........................................................................................... 20 Foto 5.3: Esteira para recolher lixo UET...................................................... 24 Foto 5.4: Lixo Usina de Rasgão. ................................................................. 24 Foto 5.5: Lixo U E Pedreira. ........................................................................ 25 Foto 6.1: Vista aérea do Canal Pinheiros.40Foto 6.2: Rio Pinheiros década de 30, século XX. .................................................................................. 41 Foto 6.3: Canal do Rio Pinheiros, 1936....................................................... 42 Foto 6.4: Construção da Usina de Recalque no Canal do Rio Pinheiros, década de 30......................................................................................... 43 Foto 6.5: Usina Elevatória de Pedreira........................................................ 44 Foto 6.6: Usina Elevatória de Traição. ........................................................ 46 Foto 6.7: Usina Henry Borden. .................................................................... 50 Foto 6.8: Dragagem no Canal do Rio Pinheiros .......................................... 63 Foto 6.9: Desassoreamento com Escavadeira de Grande Porte................. 64 Foto 6.10: Dragagem pelo sistema escavo-barcaça. .................................. 65 Foto 6.11: Desaterro do Bota Fora 1, próximo a UT Piratininga.................. 67 Foto 6.12: Desaterro do Bota Fora, próximo ao Complexo do Cebolão ...... 67 Foto 6.13: Equipamento de Navegação e Batimetria Automatizada. .......... 68 Foto 6.14: Vista da Ponte da Rodovia Regis Bittencourt sobre o córrego Pirajussara. (Observar os detritos acumulados pela cheia de 01/01/1999). .......................................................................................... 75 vii LISTA DE TABELAS Tabela 1: Constituição média do material do assoreamento no Tietê. ......... 13 Tabela 2: A classificação do solo com seu respectivo uso........................... 16 Tabela 3: Constituição Média dos Resíduos. ............................................... 19 Tabela 4: Características principais e classificação das sub-bacias. ........... 29 Tabela 5: Dados do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Superior. (*).... 76 Tabela 6: Dados do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Inferior. (*) ...... 76 viii 1 INTRODUÇÃO A Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é o maior e mais populoso aglomerado urbano da América do Sul, e um dos maiores parques industriais do mundo, constituindo um aglomerado urbano que abrange 34 municípios, numa área de aproximadamente 5.720 Km², com cerca de 15 milhões de habitantes. Os problemas de alta densidade demográfica e escassez de recursos hídricos são típicos de grandes centros urbanos, que necessitam conviver com impactos ambientais de grande intensidade e complexidade, tais como disposição de resíduos sólidos, disponibilidade hídrica insuficiente para o abastecimento público e industrial, poluição do solo, ar e água. Também, dentre a problemática da superpopulação urbana existem problemas como os assoreamentos, que vêm à tona principalmente nas épocas chuvosas como um dos fatores causadores de grandes enchentes e alagamentos, com notáveis prejuízos ao poder público. A gravidade da situação ainda é maior quando observada em termos de velocidade de crescimento. As áreas periféricas crescem rapidamente, na maioria dos casos sem nenhum planejamento, avançando sobre terrenos desfavoráveis e abrindo o leque de impactos ambientais negativos, sobre os recursos hídricos superficiais. O impacto da urbanização pode ocorrer sobre a quantidade de água (enchentes), quantidade de sedimentos e qualidade da água. À medida que a cidade se urbaniza, em geral, ocorrem os seguintes impactos ambientais gerados pelos sedimentos: − Redução da disponibilidade hídrica, dificultando o escoamento da água, e até o acesso a ela. 1 − Problemas para a captação e distribuição de água, dificultando o bombeamento e distribuição, acarretando no aumento dos custos de operação e manutenção. − Impactos na geração de energia elétrica, diminuindo a capacidade de armazenamento de água, e por conseqüência a diminuição da capacidade de geração de energia. − Impactos no ambiente aquático, os sedimentos em suspensão aumentam a turbidez, diminuindo a penetração da luz no ambiente aquático, e levando a redução do tamanho dos peixes e a quantidade das espécies, além dos agentes tóxicos que os sedimentos transportam, levando a poluição das águas. − Aumento das enchentes, os sedimentos depositados na calha principal do rio, reduz sua área de escoamento, desta forma quando ocorre um evento de cheia, as cotas alcançadas pelas águas são superiores àquelas obtidas anteriormente para a mesma vazão. O assoreamento tem sido verificado nos principais córregos, rios e reservatórios da região. Como o assoreamento é um processo de deposição sedimentar acelerado, que ocorre em corpos d’água de diversas naturezas, a sua ocorrência já denota um desequilíbrio entre a produção de sedimentos de uma bacia e a capacidade transportadora de sua rede de drenagem. O rio Tietê é o principal curso d’água que drena a Região Metropolitana de São Paulo. As intervenções, nessa bacia, principiaram, no começo deste século, com as construções de barragens de geração de energia elétrica para a capital e região. As mais importantes ocorreram na década de 40, com a construção da Usina Henry Borden, a reforma da barragem de Edgard de Souza, a implantação de estruturas no Rio Pinheiros e sua canalização. Com essas obras, o Rio Pinheiros passou a ter seu curso revertido, 2 desviando suas águas e as de seus contribuintes, incluindo-se o rio Tietê, em direção aos reservatórios Billings e Pedras. E uma das conseqüências da implantação desse conjunto de obras foi, a transformação natural do rio Pinheiros em um canal, servindo-se de uma grande bacia de retenção de sedimentos, tornando-se daí, indispensáveis os serviços constantes de desassoreamento. O Canal Pinheiros é de grande importância no contexto da Bacia Hidrográfica do Alto do Tietê e, por conseqüência no âmbito da Região Metropolitana de São Paulo. Esse canal resulta da retificação do antigo rio Pinheiros, realizada na década de 30 e 40, atravessando a região sul da cidade de São Paulo numa extensão de aproximadamente 25,5 km. Atualmente este canal permite a EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., drenar os vales dos rios Tietê e Pinheiros em até 395 m³/s de água em épocas de chuvas. (EMAE,2003) O controle das enchentes urbanas é um processo permanente, que deve ser mantido pelas comunidades, visando a redução do custo social e econômico dos impactos. O controle não deve ser visto como uma ação isolada, mas como uma atividade em que a sociedade deve participar de forma contínua. 3 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral A urbanização provoca, entre outras interferências, o aumento na produção de sedimentos de uma bacia hidrográfica, principalmente devido ao manejo inadequado dos solos, a rápida destruição da cobertura vegetal e a impermeabilização. Estima-se em cerca de 10 milhões de m³ por ano a produção de sedimentos na Região Metropolitana de São Paulo. (IPT,1992). Como a maior parte destes sedimentos é conduzida pela drenagem até os grandes cursos d’água que não tem condições de transportá-los adiante, o assoreamento causa a perda da capacidade de descarga e conseqüentemente inundações, gerando a necessidade de grandes investimentos da sociedade em obras de recuperação, dragagem e disposição de sólidos. Este trabalho tem como objetivo geral pesquisar a origem e natureza do assoreamento em áreas urbanas, os parâmetros de quantidade e tipo de sedimento, e as causas de sua deposição nos cursos d’água. Também será apresentado, um estudo de caso específico sobre o Canal Pinheiros, dando ênfase ao estudo da origem dos materiais sedimentados (orgânica e inorgânica) e suas características (físicas e químicas). Pretende-se também pesquisar como é feito o monitoramento dos rios para evitar enchentes nos períodos de cheias, e mostrar o sistema de desassoreamento do Canal Pinheiros. 4 2.2 Objetivo Específico Pretende-se através do Estudo de Caso do Canal Pinheiros, afluente do Rio Tietê, analisar a origem dos sedimentos numa bacia urbana, em função do desmatamento e da impermeabilização dos terrenos, que aumenta a produção específica das vazões de origem pluvial e por conseqüência a capacidade do transporte de sólidos dos afluentes principais como os córregos Pirajussara, Jaguaré e Morro do S. Os volumes produzidos podem ser quantificados a partir de dados oriundos do monitoramento e do controle de assoreamento, realizado no canal Pinheiros, podendo-se assim estabelecer taxas de produção anual para esta bacia. Estes resultados contribuirão no futuro para a extensão de um estudo semelhante para toda a região da Grande São Paulo, que tem no Rio Tietê um dos grandes problemas de assoreamento já estudados pela engenharia. 5 3 METODOLOGIA DO TRABALHO O trabalho foi desenvolvido de acordo com pesquisas em livros técnicos, anais de congressos, normas técnicas, sobre a origem e causas do assoreamento na Região Metropolitana de São Paulo, também, foi estudado como o material erodido chega ao leito do rio, e quais são os mecanismos de controle e mitigação do assoreamento. Os conjuntos de medidas para minimizar os problemas e orientar futuras intervenções relacionadas ao conjunto de problemas gerados pela desordenada urbanização foram estudados nos relatórios técnicos de empresas diretamente relacionadas com os problemas. Informações dos processos atuais de desassoreamento foram levantados em visitas técnicas, a fim de se obter dados reais a respeito do volume de material dragado, técnicas utilizadas de controle e retenção de sedimentos no canal Pinheiros. 6 4 JUSTIFICATIVA Faz-se de suma importância à profunda e detalhada abordagem do objeto de estudo deste trabalho dados os problemas, à população causada com o assoreamento dos canais dos Rios Tietê/Pinheiros, dentre os quais se destacam as inundações, com seus inúmeros prejuízos materiais, além de várias doenças e outros males. Soma-se a isto um custo aproximado de R$ 20 milhões/ano (EMAE, 2003) com o desassoreamento do sistema hídrico, honerando ainda mais os cofres públicos. Têm-se ainda os infortúnios causados ao meio ambiente com a destinação do material, pois este gera impactos ambientais negativos, dada a contaminação do solo e da água por todos os tipos de resíduos existentes na sua composição, inclusive metais pesados. O aporte de lixo e sedimentos traz inúmeros transtornos ao sistema hídrico da EMAE, prejudicando, assim a operação do sistema e gerando altos custos na manutenção de seus equipamentos. 7 5 INTRODUÇÃO A REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O sedimento ou material de assoreamento é encontrado na maioria dos corpos d’água, tendo sua origem em processos erosivos, que comprometem o trânsito das águas e contribuem para o transbordamento dos rios nos períodos de cheias. Assim nas regiões metropolitanas torna-se necessário o monitoramento e retirada desse material dos leitos dos rios. O maior problema relacionado com essa questão, atualmente, é a disposição final do material desassoreado, considerando as poucas informações disponíveis sobre o grau de contaminação do material de assoreamento do Canal Pinheiros em função, dos volumes e da existência de legislação específica, o que faz com que esses materiais, sejam classificados como material não inertes segundo a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Os padrões das normas tornam-se inadequados para os sedimentos, pois em muitos casos a, concentração natural de determinados elementos químicos encontrados nos solos estão, acima dos valores estabelecidos na norma, por isso a importância de estudo sobre o local de disposição do material retirado do leito dos rios. (IPT, 1992). No processo atual, os sedimentos dragados são lançados em caixas de decantação denominados bota-foras que, após um período de secagem da ordem de 3 a 4 meses, são esvaziados através de uma operação chamada desaterro, estas áreas de bota-fora, estão cada vez mais difíceis de serem localizadas por terem que ter licença ambiental. 5.1 As Causas e Mecanismos do Assoreamento Conforme já mencionado anteriormente, dos materiais desassoreados do Canal do Rio Pinheiros 95% correspondem a sedimentos resultantes de 8 processos erosivos, ressaltando-se que uma parte não mensurável pode ser atribuída aos materiais granulares lançados no sistema de drenagem. (IPT, 1992). Das formas de erosão identificadas, aquelas com capacidade para produzir os volumes de sedimentos encontrados no leito do referido curso d'água, são as associadas aos processos de uso e ocupação urbana de solo. Esse processo tem início com o parcelamento de terras que anteriormente estavam bem protegidas contra processos erosivos, principalmente quando ocorre a remoção da camada superficial de solo, o que permite a exposição de solos de alteração. Os processos erosivos tendem a se estabilizar apenas quando o processo de parcelamento e ocupação já estiver consolidado, pois a partir desse momento os solos expostos à erosão são mínimos. A partir desse momento, a maior contribuição ao assoreamento passa a ser as alterações urbanas. 5.1.1 A Área da Bacia e sua População A bacia do Alto Tietê, no trecho entre as cabeceira e o reservatório de Pirapora, como já visto, consiste uma área de drenagem de aproximadamente 5.720 km², e abrange 34 municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Segundo o relatório do Instituto de Pesquisas Tecnológicas, IPT – 1992, para a elaboração das hipóteses das causas e mecanismos do assoreamento, foram considerados dados fornecidos pela Eletropaulo e DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica), pela Prefeitura do Município de São Paulo, além dos dados e observações do próprio Instituto. 9 Estes dados prévios mostraram que: - Na região metropolitana, onde 30% da área é urbanizada, um dos maiores problemas relativos ao meio físico é a erosão intensa desencadeada por ações provenientes da urbanização acelerada verificada nas últimas décadas. São alterações drásticas na morfologia dos terrenos expondo solos frágeis, mudanças nas características hidrológicas das bacias com o incremento do escoamento superficial, redução do tempo de concentração das águas pluviais, intensificação dos picos de cheias e outras modificações que resultam em processos de erosão e transporte intenso de solos, muito mais que em áreas de uso rural. - A erosão natural seria insuficiente para fornecer o volume de sedimentos que anualmente assoreia os canais do Tietê e Pinheiros. - Nos reservatórios cuja bacia é constituída por áreas urbanas, o aporte de sedimentos é significativamente maior, que em bacias constituídas por áreas rurais, comprometendo assim sua função, seja de geração de energia ou abastecimento. . Segundo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas – 1992, estes dados levaram a formulação das seguintes observações: A causa fundamental, do assoreamento do Canal Pinheiros e Tietê na Região Metropolitana de São Paulo – RMSP, é a erosão urbana; e além dos solos removidos por erosão, também contribuem para o assoreamento os resíduos urbanos como lixo e entulhos que, de alguma forma, atingem os sistemas de drenagem e aportam ao Tietê e Pinheiros. 10 A área da bacia de contribuição efetiva de sedimentos que assoreiam os canais Tietê e Pinheiros na RMSP é representa por 2.774 Km², sendo que a área da RMSP é representada por 8.051Km². (IPT, 1992). Apesar da bacia em foco representar apenas 34% da área total da RMSP, contém mais de 90% da sua área urbana e praticamente 90% de sua população, com suas atividades de moradia e produção. Daí, ser lícito correlacionar diretamente o fenômeno do assoreamento com a expansão das áreas urbanas, processo fundamental na hipótese em questão. Analisando-se a RMSP e, portanto dentro dela, a bacia, verifica-se que a Taxa Geométrica de Crescimento Populacional Anual –TGCA, (IBGE, 1992), nas últimas três décadas vem desacelerando e seu valor médio está na ordem de 1,73%. Mas este valor médio representa na verdade, duas regiões completamente distintas, uma, a região central, consolidada em termos urbanos, constituída pelos distritos centrais do município de São Paulo e alguns municípios vizinhos como Santo André, São Caetano e Osasco, onde se tem verificado taxa de crescimento populacional menor que a média anual, e outra região, a periférica ao núcleo central, com maiores áreas com carência de infra-estrutura urbana e com todos os problemas relacionados, entre os quais a erosão intensa e acelerada. 5.1.2 Os materiais desassoreados As operações de desssoreamento no canal Pinheiros são realizadas pelo sistema de dragas de sucção com o material sendo conduzido por dutos até os bota-foras localizados às margens do canal, onde permanece por alguns meses para drenagem e posteriormente é retirado e transportado por caminhões até as áreas de disposição final. Na desembocadura de afluentes mais importantes, como o córrego Pirajussara, utiliza-se o sistema de “draglines”, onde o material é retirado exclusivamente por “drag-lines”, com este o 11 material é empilhado às margens para secagem e posterior transporte por caminhões até as áreas de disposição final. Quando o material é retirado do Canal apresenta coloração preta, mas depois de drenado e exposto ao ar durante alguns dias, adquire tons amarelados ou avermelhados, características próprias dos solos da Região Metropolitana de São Paulo, dos quais os sedimentos se originam. Segundo a Fundação Centro Tecnológico de Hidráulicas – 1992, as características dos sedimentos são: − No canal do Rio Tietê, os sedimentos depositados são mais grosseiros que no canal do Rio Pinheiros, constituídos por areia, com diâmetros médios em torno de 0,4 mm. − No canal do Rio Pinheiros, os sedimentos são muito mais finos, na faixa do silte, com diâmetros médios em torno de 0,05 mm. Sedimentos mais arenosos encontram-se apenas junto à desembocadura dos afluentes principais, estes corresponde à carga total de sedimentos dos afluentes (carga de lavagem + material de leito). − Dos materiais desassoreados no canal do Rio Tietê, aproximadamente 95% em peso corresponde a sedimentos e 5% a resíduos diversos, predominando os provenientes da construção civil. − A contribuição de sedimentos provenientes dos entulhos da construção civil é significativamente maior, uma vez que os materiais terrosos e granulares (solos de desaterro, areias, etc.), que constituem grande parcela destes, são incorporados aos sedimentos, sendo praticamente impossível sua diferenciação e mensuração em relação aos sedimentos gerados pela erosão dos solos. 12 Tabela 1: Constituição média do material do assoreamento no Tietê. Fonte: (FCTH, 1992). Material Porcentagem em Peso Sedimentos 95,83% Resíduos da construção 2,79% Metais 0,09% Borrachas/Pneus 0,37% Plásticos 0,55% Outros 0,37% 5.1.3 As Áreas Geradoras dos Sedimentos Na identificação das áreas fontes geradoras dos sedimentos, aqui compreendidos como solos removidos pela erosão e transportados pelas águas, até sua deposição nos canais, sendo a erosão associada à urbanização o processo mais importante na geração destes sedimentos. A simples observação dos sedimentos dragados quanto às características de cor (amarelada/avermelhada) e composição (presença de micas) indica como material de origem de solos da Região Metropolitana de São Paulo. Também o processo de uso e ocupação do solo fornece indicadores precisos da relação assoreamento / área fontes, sendo a expansão urbana o processo mais importante de transformação do uso do solo, que mesmo em decréscimo na última década, continuam com taxas muito altas, principalmente se for considerado o crescimento populacional nas regiões periféricas, que se contrapõe ao desadensamento verificado nas áreas urbanas já consolidadas. A erosão enquanto origem do assoreamento vincula-se, portanto, a dois grupos de condicionantes: o primeiro, a erosão dos terrenos, ou 13 simplesmente, a erodibilidade dos terrenos; e o segundo grupo, representado pelos diferentes usos e formas de ocupação que, ao se realizarem, sobre terrenos com características e comportamentos diferenciados, determinam a efetiva erosão e, conseqüentemente, o assoreamento. Observando os fenômenos de erosão na área da bacia, particularmente da erosão urbana, indica que a erodibilidade dos terrenos está associada a três parâmetros básicos: o primeiro é a erodibilidade dos solos, determinado pelo tipo de solo, (textura, estrutura e mineralogia), outros dois parâmetros são a declividade e amplitude das vertentes, que se expressam nas diferentes formas de relevo presentes na área e, em última análise significam a energia potencial disponível para que as águas possam realizar a erosão. Quanto a erodibilidade do solo, a sua variação dentro da área da bacia está associada ao tipo de substrato, isto é, à rocha matriz, e ao grau de desenvolvimento pedológico. Assim, temos como regra geral que: (IPT, 1992). - Os solos pedologicamente desenvolvidos (solos pedologicamente desenvolvidos são solos caracterizados por grandes alterações na sua estrutura, influenciados pelas condições climáticas da região), aqui chamados de solos superficiais, têm baixa erodibilidade, independentemente do tipo de rocha matriz, são solos de textura argilosa, vermelhos ou amarelos; - Os solos de alteração, que correspondem a uma transição entre uma rocha matriz e os solos superficiais na escala de evolução pedológica, são muito mais erodíveis que os solos superficiais; 14 - Os solos amolgados (deformados, compactados) têm sua erodibilidade condicionada mais pelos procedimentos adotados na compactação que por características naturais. Quantificar a erodibilidade dos solos, principalmente os solos de alteração é impossível devido à inexistência de métodos seguros e consistentes. Os métodos existentes restringem-se à caracterização dos solos de suporte para a agricultura, solos com profundidade de 20 a 30 cm, com características completamente diferentes dos solos em foco, que se apresentam em dezenas de metros de profundidade. Na definição das áreas de erosão efetiva, base para a identificação das áreas fontes de sedimentos integrou-se os dados obtidos de erodibilidade dos terrenos e o de uso e ocupação dos solos, estabelecendo a partir destes, as classes de erosão segundo a intensidade de sua ocorrência. A seguir são descritas as classes de erosão: (IPT, 1992). - Baixa: são áreas que apresentam erosão insignificante. Nesta classe se encaixam todas as áreas de cobertura vegetal, chácaras, sobre quaisquer terrenos, e áreas urbana consolidação assentada em terrenos de relevo suavizado. Refere-se às áreas onde a exposição dos solos à erosão é mínima ou ausente, ou onde a exposição é pequena, e ocorre sobre terrenos de baixa capacidade de erodir. - Média: são áreas com baixa, ou média erosão efetiva constituída por: áreas urbanas em consolidação com exposição do solo em parte dos lotes e do sistema viário, assentados em terrenos com maior suscetibilidade à erosão de houver exposição do solo de alteração. Fazem parte também desta classe as áreas urbanas parceladas, com baixa densidade de ocupação e com bastante exposição do solo, 15 principalmente pela ausência de infra-estrutura na implantação dos loteamentos, mas assentadas em terrenos de relevo suavizado. - Média/Alta: são áreas com erosão de média a altas magnitudes por corresponderem às classes de uso com maior exposição do solo. São áreas urbanas parceladas, assentadas em terrenos de relevo mais energético e, portanto, com maior suscetibilidade à erosão; e áreas de movimentos de terra, com o solo totalmente exposto, mas assentadas em terrenos de relevo suavizados e, ou com baixa erodibiliadade. - Alta: constituem as áreas de maior potencial erosivo, por corresponderem à classe de movimentos de terra, onde há grande mobilização e exposição do solo de relevos mais energéticos. Tabela 2: A classificação do solo com seu respectivo uso. Fonte: (FCTH, 1992). Classe Uso do Solo Baixa Cobertura vegetal, Chácaras de lazer, Área urbana consolidada. Área urbana em consolidação Média Área urbana em consolidação Área urbana parcelada Média/Alta Área urbana parcelada Movimentos de terra Alta Movimentos de terra 16 5.1.4 O Uso e Ocupação dos Solos A área da bacia do Rio Pinheiros comporta diversos usos como agricultura, vegetação arbórea, pastagem, etc., mas o uso predominante é o urbano, ainda em acelerada expansão. Destes usos, os levantamentos e observações de campo realizadas pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas - 1992, mostram que a erosão é significativa e capaz de fornecer os volumes desassoreados apenas quando atinge os solos de alteração. Portanto, os usos que se associam a grandes movimentações de terra e alterações drásticas nas formas do relevo, como as terraplanagens para implantação de loteamentos, edificações e obras viárias e instalações industriais. Outros usos como a agricultura e pecuária, mesmo provocando alguma erosão, não seriam suficientes para provocar assoreamento nas dimensões dos canais Pinheiros e Tietê. Além disso, os solos superficiais são naturalmente muito mais resistentes à erosão que os solos de alteração. 5.1.5 As Áreas Fonte de Resíduos Urbanos Segundo informações do IPT, 1992, dos cerca de 5 milhões m³/ano de material de desassoreamento da calha dos rios Tietê e Pinheiros, apenas aproximadamente 5% correspondem a lixo e detritos urbanos de diversas naturezas. 17 Foto 5.1: Barreiras Flutuantes Fonte: (EMAE, 2003). Além disso, cerca de 100 mil m³ de material composto por lixos e detritos são retirados anualmente das barreiras flutuantes do Canal Pinheiros e das grades de proteção das usinas elevatórias de Pedreira e Traição, com maior concentração nos períodos mais chuvosos, de outubro a março. Mesmo considerando a baixa porcentagem do volume dos lixos e detritos, em relação a todo o material que assoreia os canais dos rios, sua presença é extremamente danosa tanto criando barreiras junto às drenagens, com incremento nas inundações. Foi realizado pelo FCTH em 1992, um trabalho de identificação dos principais tipos destes detritos, que pudesse apontar suas origens, no sentido de estabelecer medidas para minimizar seu aporte nas calhas dos rios Tietê e Pinheiros. De acordo com as amostragens realizadas pelo FCTH ao longo do trecho entre a ponte da rodovia Anhanguera e da Foz do rio Tiquatira, na RMSP, a maior parte dos entulhos depositados no leito do canal, junto com os sedimentos, corresponde a resíduos de construção. 18 Tabela 3: Constituição Média dos Resíduos. Fonte: (FCTH, 1992). Material % Resíduos de construção 66,79 Metais 2,23 Borrachas/Pneus 8,94 Plásticos 13,1 Outros elementos naturais 8,94 Além das amostragens, foram feitas observações qualitativas nos depósitos provisórios de materiais retirados da calha do Rio Pinheiros, e apontou a presença dos seguintes materiais: - Madeiras; - Plásticos; - Papéis e papelões; - Couros, lonas e emborrachados; - Borrachas; - Vidros, latas e outras embalagens em geral; - Tecidos; - Restos vegetais. Constatou-se, porém uma nítida predominância das madeiras e plásticos sobre os demais materiais. Verificou-se que parte substancial das peças que foram encontradas denota de uso intenso, o que revela que seu descarte é fruto da impossibilidade prática de reaproveitamento. 19 5.1.6 Os problemas gerados no sistema Tietê-Pinheiros Em relação aos efeitos danosos na operação do sistema Tietê – Pinheiros, os sacos e folhas plásticas, prejudicam o funcionamento das estações de limpeza das grades de retenção de sólidos. As madeiras, ocasionalmente, danificam equipamentos de limpeza das calhas, principalmente quando em peças de maior porte (troncos e pedaços de caibros). Pneus velhos chegam a ocasionar a obstrução dos sistemas de drenagem por sucção. O entulho de construção civil, além de conter madeiras, ocasiona o aumento de material particulado que reduz as seções das calhas, através de desagregação de matérias cerâmicas e argamassa. Foto 5.2: Lixo e Resíduos de Construção Civil lançados no Córrego Pirajussara. Fonte: (www.sigrh.sp.gov.br). Segundo dados da ELETROPAULO, a quantidade de entulho retirado junto às grades das usinas de Traição e Pedreira tem aumentado, desde 1988, a uma razão média de 20% ao ano determinando uma perda considerável no rendimento destas unidades com aumento da manutenção devido à deterioração precoce dos equipamentos. 20 Com as usinas em operação, a obstrução das grades provoca um desnível entre sua montante e jusante, que é fator preponderante na determinação do recalque das bombas. As conseqüências são esforços adicionais nas grades e turbinas, para os quais estes equipamentos não foram projetos. 5.1.7 Origem e Formas de Aporte O aporte destes detritos, para as calhas do Canal Tietê e do Canal Pinheiros, é mais intenso nos períodos chuvosos e críticos nas chuvas intensas. Isto se dá, nestas ocasiões, porque os detritos acumulados, às margens de córregos são então carregados pelas enxurradas e às vezes, em função de inundações, outros materiais depositados em regiões próximas a drenagem atingem córregos e, conseqüentemente, o Tietê e o Pinheiros. É justamente nestas ocasiões, quando se torna necessária uma plena capacidade de bombeamento nas estações elevatórias de Traição e Pedreira, que o sistema fica mais prejudicado, em função da obstrução das grades de retenção, que são atingidas pela grande quantidade destes detritos. Nos depósitos temporários das Usinas não foi detectado a presença de lixo ou outros refugos que denotassem origens industriais, comerciais, hospitalares, etc. Os rejeitos observados são descartes de natureza doméstica e descartes associados à construção civil. 21 5.1.7.1 Lixo doméstico Em relação ao lixo doméstico, constatou-se que, as favelas situadas à margem de córregos são pontos críticos. Nestas, observou-se também o lançamento de móveis velhos e de madeiras inaproveitáveis. De acordo com o observado em campo pelo IPT - 1992, a coleta de lixo domiciliar abrange hoje, praticamente todas as áreas habitadas do Município e da Região Metropolitana. Isto inclui as favelas e, em particular as de beira de córregos. Apesar disso, verificaram-se expressivos lançamentos de lixo às margens e no interior dos córregos, principalmente junto às favelas, o que gera aportes significativos para o Tietê e Pinheiros. O lançamento de lixo e detritos nas drenagens ao longo das favelas é uma prática comum e de difícil modificação por conscientização de seus moradores. Além disso, é comum a dificuldade de circulação no interior das favelas até os pontos de coleta pública, com os moradores acabando por atirar o lixo nos córregos. Tornando-se assim, as áreas de concentração de favelas uma das maiores fontes geradoras de lixo e entulho. 5.1.7.2 Resíduos de Construção Civil Os refugos da construção civil, por sua vez, puderam ser localizados tanto em pontos isolados, ao longo das margens ou no interior de córregos e junto a pontes e viadutos. Os lançamentos se dão, geralmente, nestes casos, apenas em pontos de acesso fácil a veículos, e são também utilizados para o lançamento de móveis e pneus velhos. 22 A atividade de construção civil é altamente geradora de refugos. Análise do processo de produção do setor aponta que no mínimo, 20% em peso do que chega a obra, na forma de materiais e componentes construtivos, são rejeitados na forma de entulho. (IPT, 1992). Esta estimativa se aplica a obras dentro de padrões técnicos correspondentes ao do setor formal da produção (construtoras) que, de alguma forma, adotam procedimentos de racionalização na construção. Porém, à medida que decresce o nível de racionalização, observa-se um incremento sensível na geração de entulho, que chega a atingir 50% em peso, do que chega a obra. Tendem a se enquadrar nesta categoria, as obras sem participação de técnicos o que remete as construções informais altamente disseminadas na grande São Paulo, e que compõe, também as áreas com erosão mais intensa. A forma de entulho mais usual, segundo o IPT-1992, é a madeira não reaproveitável, e estas foram observadas em quantidade expressiva, nos depósitos temporários de Traição e Pedreira, ilustrado nas fotos 1, 2 e 3. Apesar, de não se contar com estatísticas especificas sobre a relação entre a quantidade de madeira que chega a obra e que sai, como entulho, sabe-se que poucos são os usos deste material como integrantes de partes definitivas da construção, tais como pisos, esquadrias, estruturas de cobertura, etc. A maior parte das madeiras utilizadas na construção civil tem funções provisórias, tais como andaimes, cimbramentos e formas, que são descartadas ao final da obra ou recicladas e por poucas vezes utilizadas em novas obras, ou são até mesmo utilizadas na construção de barracos em favelas. De qualquer forma, os lançamentos irregulares de entulho em geral, observados ao longo dos córregos e em pontos notáveis destes (pontes e viadutos), são numerosos e de pequeno volume, denotando origem em pequenas construções e principalmente pequenas reformas, uma vez que 23 muitas vezes contém fragmentos de componentes mais antigos, como exemplo, pedaços de azulejos. Nestes lançamentos também são observadas embalagens de materiais e componentes de construção, que incluem papeis, papelões, plásticos e latas. Porém, estimativas da própria Prefeitura do Município de São Paulo indicam que cerca de 70% das construções, na capital, apresentam irregularidades (Folha de São Paulo, 09/04/92) o que resulta, dentre outros motivos, de um elevado índice de construções e reformas clandestinas. Foto 5.3: Esteira para recolher lixo UET. Fonte: (EMAE, 2003). Foto 5.4: Lixo Usina de Rasgão. Fonte: (EMAE, 2003). 24 Foto 5.5: Lixo U E Pedreira. Fonte: (EMAE, 2003). No caso específico do Município de São Paulo, por exemplo, dispõe-se de apenas quatro depósitos formais de entulho (Santo Amaro, Bandeirantes, Vila Albertina e Itatinga), a despeito de seus 1.493 km² de área. E, como agravante deste problema, apenas o depósito Bandeirantes recebe madeiras. Fator que contribui para a existência de alguns terrenos particulares receberem entulho como material de aterro, fica patente a deficiência verificada no equacionamento da destinação de refugos de construção civil, o que explica, em boa parte, os lançamentos clandestinos aqui estudados. Desta forma, estes resíduos, acabam contribuindo com a maior porcentagem dos materiais de assoreamento da calha das drenagens, depois dos sedimentos provenientes da erosão do solo. 25 5.2 Classificação das sub-bacias Como se conclui da análise dos fatores do meio físico e da ocupação nas sub-bacias, anteriormente expostas e resumidas na tabela 4, a seguir, a classificação das bacias se dá em quatro grupos, considerando a intensidade da erosão efetiva a partir dos materiais e tendências de sua evolução. Esta classificação tem em vista adotar a adoção de medidas de controle do aporte de materiais que assoreiam os canais do Tietê e Pinheiros, como será visto a seguir: (IPT, 1992). − Sub-bacias tipo A: caracteriza-se pelos baixos índices de erosão efetiva, associada à quase ausência de uso urbano / industrial na subbacia. Caracteriza-se pela pequena perspectiva de aumento significativo destes índices, determinado pela baixa pressão de expansão urbana / industrial, em parte devido às restrições legais ao uso urbano do solo. (Área de proteção dos mananciais) − Sub-bacias tipo B: caracteriza-se pela erosão efetiva quase nula, associada à urbanização e consolidação quase total da sub-bacia e praticamente sem perspectivas de retomada dos processos erosivos. O aporte de materiais ao Tietê / Pinheiros consiste de resíduos urbanos como lixo, resíduos de varrição, o aporte desses materiais e disseminado, com fontes pontuais importantes como favelas e locais de acesso facilitado junto às canalizações abertas. − Sub-bacias tipo C: caracteriza-se pelos elevados índices de erosão efetiva, e altas taxas de urbanização. A erosão intensa deve-se ao 26 predomínio de áreas urbanas parceladas e parcialmente consolidadas, e aos movimentos de terra que resulta em muitas áreas com solos expostos aos processos erosivos. Estas sub-bacias são as mais importantes quanto ao aporte de resíduos urbanos devido à própria precariedade da infra-estrutura urbana, à abundância de pontos de acesso facilitado para o seu lançamento, seja em baldios, seja diretamente nos córregos. − Sub-bacias tipo D: caracterizam-se pelos altos índices de erosão efetiva e taxas de urbanização media a tendência e de aumento da erosão ou no mínimo de manutenção dos índices atuais por tempo relativamente longo, em conseqüência da existência de extensas áreas para ocupação urbana, praticamente todas sobre terrenos de alta erodibilidade. Estas sub-bacias têm ainda algumas áreas de retenção natural dos sedimentos, basicamente porções das planícies ainda não ocupadas e com os córregos em seu curso natural. Como se pode observar, há uma clara correlação entre a erosão / aporte de materiais, o uso e ocupação dos terrenos e suas características físicas, que sinteticamente, pode ser assim descrita: a) Os terrenos de baixa erodibilidade (colinas sedimentáveis e planícies mais extensas) constituem a base das áreas urbanas mais antigas na RMSP, por tanto já consolidadas e praticamente sem erosão. Basicamente o interfluvio Tietê-Pinheiros, com uma extensão a oeste, representada pela área urbana central de Osasco, uma extensão a sudeste, em direção a São Caetano / Santo André e outra a leste, em direção a Guarulhos. 27 b) No entorno imediato deste núcleo consolidado estão os terrenos já com alta erodibilidade constituídos por morrotes ocupados por áreas urbanas parceladas e em estágios diversos de consolidação, com alta densidade de ocupação, basicamente. Nesta zona, a erosão é intensa, mas a caminho da redução, com a desaceleração comandada pela velocidade da consolidação urbana. c) perifericamente à zona anterior situam-se os terrenos também com alta erodibilidade, mas com as áreas urbanas ainda concentradas sobre as porções menos problemáticas que já avança para porções de altíssima erodibilidade, determinando uma tendência geral de aumento do índice de erosão efetiva. Parte dos altos índices de erosão efetiva nesta zona deve-se aos extensos movimentas de terra associada à implantação industrial das rodovias Dutra e Castelo Branco. d) apenas no extremo leste da bacia, configura-se uma zona onde os índices de erosão são baixos e assim tendem permanecer, pelo menos em médio prazo, com a predominância de terrenos de alta erodibilidade. Isto se deve à urbanização insignificante e a baixa pressão para a sua expansão. Assim, as sub-bacias do tipo C, com alta taxa de urbanização, porém ainda não totalmente consolidada, apresentam maior contribuição de resíduos de construção civil, não só proveniente de atividades das áreas destas subbacias, como também, em menor grau daquelas localizadas em sub-bacias com urbanização já consolidada (tipo B) adjacente. Nas sub-bacias do tipo D, em franca expansão urbana, o volume de resíduos de construção civil, apesar de significativo, é menor que nas anteriores, porém com tendências de incremento, conforme vai aumentando sua ocupação. 28 As Sub-bacias do tipo A (predominantemente rural) e B (urbano consolidado) pouco contribuem com este material, com exceção das áreas onde existe concentração de favelas. A origem do lixo também obedece esta mesma distribuição espacial. Tabela 4: Características principais e classificação das sub-bacias. Fonte: (FCTH, 1992). Nome Tietê-A S.J. Barueri Cotia Carapicuiba Bussocaba Jaguaré Pirajussara "S" Zavuvus "João Dias" ESP/Cupecê Pinheiros Inferior Verde Cabuçu Baixo Tietê-B Tamanduateí Sub-Bacias Área Nome km² % Classe 114 4 D Meninos 172 6 D Tamanduateí-S 151 5 D Aricanduva 38 1 D Cabuçu Cima 23 1 B Baquirivu 33 1 D Jacu 76 3 D Itaquera 44 2 D Lajeado 19 1 D Tres Pontes 13 1 B Tietê-C 31 1 B Tietê-C 56 2 B Guaiu 37 1 C Tietê-D 43 2 C Tietê-E / Paraiti 189 7 B Tietê-E / Paraiti 149 5 B Tietê / Pinheiros Área km² % 102 4 77 3 102 4 99 4 163 6 36 1 50 2 30 1 23 1 77 3 132 5 99 4 161 6 298 11 157 6 2774 100 Classe C C C C D C C C C D D A/B D A A 5.3 Recomendações para a Redução do Assoreamento Diagnosticadas as causas, os mecanismos do assoreamento e as áreas fontes de sedimentos são estabelecidos e apresentados pelo IPT-1992, as recomendações visando o controle e redução do aporte de sedimentos e resíduos urbanos aos canais do Tietê e Pinheiros. 29 5.3.1 Quanto ao Aporte de Sedimentos Considerando-se o aporte de sedimentos, que constitui cerca de 95% do volume total assoreado nos referidos canais, as ações para o seu controle são definidas por duas linhas de ação uma preventiva, envolvendo basicamente o controle de novas áreas fonte geradoras de sedimentos; e outra, corretiva, envolvendo a contenção da erosão nas atuais áreas fonte a retenção com fixação ou remoção dos sedimentos quando estes já atingiram os sistemas de drenagem. 5.3.1.1 Ações Preventivas Estas ações, tanto de ordem técnica como institucional, visam prevenir a produção de sedimentos. Baseiam-se, portanto, na configuração atual das áreas fonte e seus mecanismos de desenvolvimento de evolução. As medidas preventivas da produção de sedimentos devem, por conseqüência, atuar prioritariamente sobre o processo de urbanização, nas áreas onde exista uma pressão para a expansão urbana, onde a erosão tende a se instalar e/ou intensificar, caso persistam as formas atuais de ocupação. No campo técnico, as medidas mais urgentes são: (IPT, 1992). a) adequar as técnicas de parcelamento do solo, particularmente no projeto e implantação do sistema viário aos terrenos hoje disponíveis à expansão urbana, de modo que se minimizem os movimentos de terra e, conseqüentemente, as áreas de solos expostos à erosão, bem como seu tempo de exposição às chuvas. Consistem de: 30 − Evitar ao máximo a exposição dos solos de alteração, muito mais erodíveis que os solos superficiais; − Reservar os solos superficiais para posterior utilização na proteção das áreas terraplenadas do leito viário; − Evitar o parcelamento de setores com declividade muito acentuada (>60%, por exemplo); − Evitar a execução de desbastes de quadra; − Proteger taludes de corte, aterro e áreas terraplenadas em geral contra a erosão, mesmo que o tempo de exposição seja pequeno, uma vez que grandes volumes de solo podem ser erodidos em apenas um episodio de chuva intensa; − Implantar, revestimento no leito viário, principalmente quando em solo de alteração que pode ser desde uma camada de solo superficial compactada até mesmo pavimentação asfáltica; − Implantar sistema de drenagem das águas pluviais ao longo do sistema viário de modo que não produza erosão; − Lançar as águas pluviais na drenagem natural através de sistemas de dissipação de energia; − Executar a "limpeza" do terreno do lote (remoção da vegetação e terraplenagem) apenas quando da efetiva implantação da edificação; − Implantar área de recepção de solos de desaterro (bota-fora controlado) dentro do loteamento, com as devidas medidas de proteção contra a erosão; 31 − Implantar estruturas de retenção de sedimentos nos pontos de saída das águas do loteamento, com a devida manutenção através da remoção periódica dos sedimentos; b) desenvolver e disseminar tipologias de edificação mais apropriadas aos terrenos disponíveis para expansão urbana terrenos com altas declividades e propícios à erosão, e acessíveis à faixa da população que demanda a ocupação de tais terrenos, bem como as técnicas para a sua execução, tendo em vista que a maioria é implantada por autoconstrução. Tais tipologias devem considerar: − Menor tempo de exposição possível do solo, principalmente do solo de alteração; − Evitar exportação de solos, que irão contribuir à erosão nos locais de seu lançamento; − Em caso de excedente de solos nos trabalhos de preparação de terreno transportá-los até os bota-foras controlados; − Proteger e drenar toda a área do lote; c) desenvolver técnicas de proteção de áreas terraplenadas mais eficientes e melhor relação custo-benefício, tendo em vista que os solos expostos são extremamente estéreis e que via de regra, devem fornecer proteção em prazos curtos e, muitas vezes em caráter provisório, apenas durante a fase de implantação de uma obra. 32 5.3.1.2 Ações Corretivas As ações corretivas são aquelas que tratam da eliminação das atuais áreas geradoras de sedimentos, além de ações que visam à proteção do sistema de drenagem dos solos removidos das áreas erodíveis. (IPT, 1992). − Implantação de um sistema de drenagem que discipline e conduza as águas pluviais, evitando que elas escoem e se concentrem sobre as áreas de solo exposto; − Reafeiçoamento da topografia, através de reaterro com solos de características mais favoráveis, de forma a viabilizar a ocupação inicialmente pretendida ou outra como sistema viário, moradia, instalações industriais, etc; − Proteção superficial das áreas a permanecerem expostas através de técnicas como cobertura vegetal, pavimentação, etc., associadas, a própria implantação do sistema drenagem; − Implantação sistemática, para todo o sistema viário, de drenagem e de pavimentação (ou outra forma de proteção de seu leito). Ocorre que estas intervenções são realizadas, quase sempre, pelo Poder Público, e envolvem custos vultosos. São, portanto, realizadas somente quando os desconfortos e impactos atingem níveis que elevam a população afetada a pressionar a administração pública. As ações para a correção da erosão, apesar de tecnicamente simples, são muito caras, pela extensão das áreas urbanas com erosão efetiva, que totaliza mais de 700 km² da bacia, dos quais metade com intensidade alta. 33 De qualquer forma o próprio Poder Público, de maneira geral, e toda a sociedade, acabam arcando com os custos das conseqüências das erosões, seja através do desassoreamento, seja através da degradação dos recursos hídricos ou ainda, através da potencialização das enchentes e inundações. Quanto ao sedimento, isto é, o solo erodido e já presente nas drenagens, o objetivo restringe-se à sua retenção e fixação ou remoção antes de sua chegada aos canais do Tietê e Pinheiros, onde as operações de desassoreamento são mais complexas e custosas. Alguns aspectos práticos, entretanto, dificultam a implantação de estruturas de retenção de sedimentos ao longo do sistema de drenagem: − Estas estruturas similares a um reservatório alongado, teriam que ter dimensões (largura, comprimento e profundidade) grandes para que o sedimento tenha tempo para se depositar no fundo do reservatório, do contrário, parte significativamente dos sedimentos passaria através dela; − O volume de espera da estrutura teria de ser muito grande, uma vez que os sedimentos gerados na bacia respectiva aportam nos episódios de chuva intensa, que se concentram no período de novembro a março. Portanto, o volume de espera deve ser equivalente à quase totalidade dos sedimentos gerados no ano, porque o volume maior se dá em épocas chuvosas; − As regiões com maior concentração de áreas fonte de sedimentos, onde estas estruturas seriam mais eficazes, são exatamente aquelas onde as ocupações urbanas já se implantou com uma densidade relativamente alta, inclusive junto aos cursos d’água, restringindo o espaço para implantação e operação e/ou encarecendo os custos devido às desapropriações necessárias; 34 − Trata-se, em geral, de águas e sedimentos poluídos advindo dos canais Pinheiros e Tietê, cujo manejo em áreas de concentração populacional podem gerar conflitos. Desta forma, tais medidas têm aplicação mais favorecida nas áreas de transição, do uso rural para o urbano, onde se pode dispor de áreas para sua implantação e o período de vida útil seria mais longo, melhorando a relação custo / benefício. 5.3.2 Quanto ao aporte de detritos Determinados problemas comportamentais de parcelas expressivas da atual sociedade brasileira apresentam uma indissociável relação com a situação econômica do país, que tem disseminado a miséria. Fica muito difícil, neste contexto, exigir dos menos privilegiados o comportamento de “cidadãos”. Os que não tem como usufruir os direitos às condições de cidadania, dificilmente estarão dispostos a assumir os deveres correspondentes. A resolução dos problemas depende da melhoria das condições de vida da população pobre, melhoria vinda através da geração de empregos e da melhoria do poder aquisitivo. Colocadas às limitações inerentes à atuação de cunho localizado para a atenuação do lançamento de detrito nos córregos, cabe aqui ressaltar algumas possíveis linhas de ação para o enfrentamento pelo menos parcial do problema. Ausência de alternativas habitacionais para a população de baixa renda tem ampliado o número e a dimensão das favelas da grande São Paulo. Muitas delas estão situadas à beira de córregos, algumas em áreas inundáveis, inadequadas para a ocupação na incapacidade de resolver a 35 questão habitacional, o Estado “fecha os olhos” para estas ocupações inadequadas, ainda que estas se situem em áreas com severas restrições físicas ou legais. Numa situação econômica mais favorável, tais favelas deveriam ser preferencialmente erradicadas. Porém no quadro econômico atual, justificam-se tentativas no sentido de melhorar suas condições de habitabilidade, o que implica pelo menos, remoções parciais, daqueles barracos situados em áreas com evidentes riscos de inundação. Como já foi dito, um dos aspectos das favelas que se destaca é fruto de seu adensamento, com a conseqüente dificuldade de circulação, que muitas vezes se dá através de vielas estreitas e com obstáculos, tais como a presença de lama e de águas servidas. Em parte, por este motivo o lixo de barracos mais próximos às margens deixam de ser transportados até as caçambas de coleta regular, às vezes distantes. Assim, como primeira medida para evitar lançamento nos córregos, sugerese a melhoria nas condições de circulação internas às favelas, o que pressupõe o calçamento de vielas e sua drenagem, obras cuja realização possa exigir algumas remoções de barracos. Torna-se mais efetivo, porém, um equacionamento geral dos problemas internos às favelas, com a implantação de obras para suprir outras deficiências: melhorias palpáveis influem no comportamento dos moradores e tendem a atenuar, por exemplo, o lançamento indiscriminado de lixo. Além das melhorias físicas, sugere-se ainda o estudo da implantação de serviços de coleta de lixo (e de outros rejeitos domésticos) internos às favelas que, podem se valer de moradores locais, com remuneração quotizada entre os habitantes ou subsidiada pelo Poder Público que pode também fornecer equipamentos de pequeno porte para facilitar a retirada. 36 6 ESTUDO DE CASO 6.1 O SISTEMA HIDRÁULICO DA EMAE. O sistema hidráulico para aproveitamento hidroelétrico Usina Henry Borden compõem-se basicamente do Rio Tietê (onde estão localizados os Reservatórios Edgard de Souza e Pirapora), Canal Pinheiros, Reservatório Billings e Rio das Pedras. As águas do Rio Tietê podem ser recalcadas para o Reservatório Billings, através do Canal Pinheiros, pelas Usinas Elevatórias de Traição e Pedreira. Armazenadas no Reservatório Billings, as águas são descarregadas pela Barragem Reguladora Billings - Pedras no Reservatório do Rio das Pedras, de onde descem pelas adutoras para acionarem as turbinas da Usina Henry Borden. Assim, elevadas a uma altura média de 30 m (5 m em Traição e 25 m em Pedreira), as águas são aproveitadas numa queda de 718 m na vertente oceânica da Serra do Mar. (EMAE, 2003). O Rio Tietê é interceptado em Santana do Parnaíba pela Barragem Edgard de Souza, a qual forma o Reservatório de mesmo nome. Dessa forma, há a possibilidade de inverter o fluxo normal do Rio Tietê, no trecho compreendido entre esta cidade e o Canal Pinheiros, para transferir suas águas ao Reservatório Billings. O Canal Pinheiros tem uma extensão aproximada de 25 km. A Usina Elevatória de Traição divide este canal em dois trechos, denominados Canal Pinheiros Superior, com 15 km e Canal Pinheiros Inferior, com 10 km. No Canal Pinheiros Inferior, junto à sua confluência com o Rio Tietê, há a 37 Estrutura de Retiro. Na extremidade do Canal Pinheiros Superior está instalada a Usina Elevatória de Pedreira, como ilustrada na figura 6.1. Antes da construção das Usinas Elevatórias de Pedreira e de Traição, o Rio Pinheiros corria forçosamente para o Rio Tietê e despejava nele suas águas, bem como a de seus afluentes, Grande e Guarapiranga. Na confluência Tietê-Pinheiros somavam-se as vazões dos rios, e as inundações, que se processavam nas regiões ribeirinhas do Tietê e seus afluentes, ocorriam também ao longo de todo o vale do Pinheiros. Com a crescente urbanização das áreas da cidade e a conseqüente elevação dos índices de impermeabilização, o Canal Pinheiros reveste-se atualmente de uma função primordial à cidade de São Paulo que é a de controle de enchentes em seu vale, o qual representa cerca de 30% da cidade, que conta hoje com uma população de 15 milhões de habitantes. Bombeando até 395 m³/s, dados da EMAE, 2003, o conjunto de usinas elevatórias e canais, passa a funcionar como mecanismo responsável pela drenagem da bacia hidrológica no menor tempo possível. Esta drenagem, além de evitar enchentes das margens do canal, assegura condições para que os diversos córregos e galerias contribuintes possam escoar naturalmente. Este controle hidráulico do Canal Pinheiros é assegurado pela Estrutura de Retiro, que através do fechamento por painéis de vedação, em diversos níveis, regula a participação do sistema de bombeamento também na drenagem da Bacia do Rio Tietê. 38 Figura 6.1: Ilustração do Sistema Hidráulico ELETROPAULO. (fonte: www.emae.sp.gov.br, 2003). 39 6.2 O Canal do Rio Pinheiros A zona denominada Planalto Paulistano, cuja área é de 5 mil km², apresenta relevo suavizado, caracterizado por morrotes e espigões de alturas modestas, com altitudes entre 715m e 900m. Foto 6.1: Vista aérea do Canal Pinheiros. (fonte: livro O Rio Pinheiros, 2003). Ao nascer ao pé da serra do mar os rios que compões a bacia do Tietê e a sub-bacia do Pinheiros transportam materiais depositando-os nas planícies devido sua baixa declividade. 40 Foto 6.2: Rio Pinheiros década de 30, século XX. (fonte: livro O Rio Pinheiros, 2003). Estes rios possuem variações nos seu nível ao longo do ano, sendo possível identificar 3 níveis para o escoamento das águas: “o leito menor”, é o canal escavado pelo talvegue do rio (talvegue é denominado como a linha que une os pontos mais profundos em um vale), “o leito maior”, é a área de planície de inundação de forma regular, quando o rio deixa seu curso normal e extravasa durante as cheias, e é denominado leito maior excepcional, quando ocorre inundações além de seu leito maior. Faz parte de natureza do rio ocupar periodicamente tanto o leito menor quanto o leito maior, resultando assim em graves desastres ambientais dependendo do uso dado às suas margens. O projeto da obra hidroenergética que a Companhia Light estava pondo em prática era um fenômeno da engenharia, com inovações tecnológicas e com grandes transformações no ciclo hidrológico natural. A proposta de desapropriação foi aprovada, e depois foram aprovadas mais duas propostas: a primeira alterava a paisagem e a segunda envolvia mudança no leito do rio Pinheiros. Após o aperfeiçoamento do projeto inicial, 41 a empresa obteve autorização para realizar modificações que iria afetar drasticamente a paisagem paulista. As alterações envolveram diretamente a canalização do Rio Pinheiros e de seus afluentes, o Rio Pinheiros foi revertido e recalcado atingindo os reservatórios de Rio Grande e Rio das Pedras até o pé da serra. Foto 6.3: Canal do Rio Pinheiros, 1936. (fonte: livro O Rio Pinheiros, 2003). O canal Pinheiros resulta da retificação do antigo Rio Pinheiros, realizada nas décadas de 30 e 40, atravessando a região sul da cidade de São Paulo numa extensão de aproximadamente 25,5 Km. Atualmente este canal permite a EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., sucessora da LIGHT e ELETROPAULO, drenar os vales dos rios Tietê e Pinheiros em até 395 m³/s de água em épocas de chuvas, promovendo melhor trânsito de ondas de cheias na RMSP. Houve uma série de detalhes técnicos que asseguram a extensão e largura do novo leito compatível com o recalque do Tietê, o encaminhamento de águas para abastecer o Rio Grande e absorver a vazão do Guarapiranga, evitando as inundações sazonais das várzeas. 42 Suas águas e a de seus tributários são revertidas pelas Usinas Elevatórias de Traição e Pedreira para o Reservatório Billings, originalmente para geração de energia elétrica na Usina Henry Borden, localizada no Município de Cubatão. Foram instaladas bombas de recalque na Usina Elevatória de Traição, elevando o nível do canal Pinheiros em 5 m e a Usina de Pedreira elevando as águas do Rio Grande em 25 m para lançar as águas do Reservatório Billings-Pedras e servir a Usina de Cubatão. Foto 6.4: Construção da Usina de Recalque no Canal do Rio Pinheiros, década de 30. (fonte: livro O Rio Pinheiros, 2003). A partir de 05/10/92, data da edição da Resolução Conjunta Secretaria do Meio Ambiente - SMA Secretaria de Energia e Saneamento - SES n° 003/92, as operações de bombeamento e conseqüente reversão do Canal Pinheiros foram condicionadas principalmente à ocorrência de elevados níveis pluviométricos para controle das cheias. 43 6.3 Usinas Elevatórias Para o aumento da capacidade de geração da Usina Henry Borden foram realizadas, na década de 30, obras de retificação e reversão do Rio Pinheiros, formação do Reservatório Billings, construção das Usinas Elevatórias de Pedreira e de Traição. 6.3.1 Usina Elevatória Pedreira A Usina Elevatória de Pedreira foi inaugurada em 1939, primeira unidade reversível do mundo em operação comercial, ou seja, com possibilidade de funcionamento tanto como geradora de energia, tanto como bomba. Foto 6.5: Usina Elevatória de Pedreira (fonte: www.emae.sp.gov.br, 2003). Posteriormente foram instaladas as demais unidades, que totalizam hoje oito, sendo sete reversíveis e uma que funciona apenas como bomba, todas com turbinas dotadas de rotor tipo Francis, movidas por motores síncronos. 44 As águas do Canal Pinheiros passam para o Reservatório Billings através desta usina, cuja capacidade atual de bombeamento é de 395 m3/s, elevando as águas em cerca de 25 m. (EMAE, 2003). De acordo com a Resolução Conjunta SMA/SES 03/92 (Secretaria do Meio Ambiente) e (Secretaria de Energia e Saneamento), atualizada pela Resolução SEE-SMA-SRHSO-I, de 13/03/96, proíbe o bombeamento das águas poluídas para o Reservatório Billings. Atualmente as águas do Pinheiros não podem ser bombeadas para a geração de energia, hoje só é bombeada quando o Rio Tietê começa a encher, explica Edgard de Noronha Tonezão, coordenador da Usina Elevatória de Traição. 6.3.2 Usina Elevatória de Traição Inaugurada em 1940, a Usina Elevatória de Traição tem como objetivo reverter o curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros, para serem encaminhadas à Usina Elevatória de Pedreira e depois ao Reservatório Billings. A usina possui quatro unidades reversíveis, que podem funcionar como geradoras de energia e como bomba, dotadas de turbinas com rotor tipo Kaplan de eixo vertical, acionadas por motores síncronos. A capacidade de bombeamento é de 280 m3/s, elevando as águas em cerca de 5 metros. 45 Foto 6.6: Usina Elevatória de Traição. (fonte: www.emae.sp.gov.br, 2003). Do ponto de vista energético, a reversão do rio tem como propósito manter volumes d'água nos reservatórios do Rio das Pedras e Billings suficientes para garantir a geração na Usina Henry Borden. Hoje, a operação do sistema de reversão do Rio Pinheiros só é acionada para o controle das enchentes. 46 Figura 6.2: Ilustração Demonstrativa da Usina Elevatória de Traição. (fonte: www.emae.sp.gov.br, 2003). 47 6.4 O Desassoreamento do Canal do Rio Pinheiros O sedimento ou material de assoreamento é encontrado na maioria dos corpos d'água, tendo sua origem em processos erosivos, que comprometem o trânsito das águas e contribuem para o transbordamento dos rios nos períodos de cheia. Assim, nas regiões metropolitanas torna-se necessário dragá-los, de forma a evitar episódios de enchentes. A EMAE tem entre suas atribuições o controle de cheias do Canal do Rio Pinheiros, sendo necessário periodicamente efetuar serviços de desassoreamento do seu leito, garantindo assim o trânsito de grandes vazões em épocas de chuvas. O principal problema relacionado com essa questão, atualmente, é a sua disposição final, em função dos volumes e da inexistência de legislação específica, o que faz com que sejam classificados como resíduos nãoinertes (ABNT). Os padrões das normas tornam-se inadequados para os sedimentos, pois em muitos casos as concentrações naturais de determinados elementos químicos encontrados nos solos, estão acima dos valores estabelecidos nelas. Ao longo das últimas duas décadas, diversos estudos e ações foram desenvolvidos sobre essa questão, entre os quais destacamos: - Monitoramento dos sedimentos encontrados no Pinheiros. - Mapeamento de áreas potencialmente viáveis para a disposição final. - Modelo geoquímico para a evolução dos perfis de solo. - Proposição de legislação específica. 48 Essa questão tem especial importância para as regiões metropolitanas, onde encontramos grande concentração humana e, devido a deficiências na lei e no controle do uso e ocupação dos solos, ocorrem ocupações em áreas inadequadas, acelerando processos erosivos. Em virtude desse fato, torna-se necessário à retirada desses sedimentos do leito dos cursos d'água e sua disposição em áreas adequadas, de forma a evitar episódios de enchentes. Segundo Ariovaldo Sartori, engenheiro civil da EMAE e Carlos E.G. do Nascimento, geólogo da EMAE - 2003, o principal problema relacionado com essa questão, atualmente, é a disposição final desses sedimentos, tendo em vista os volumes encontrados e o fato da inexistência de legislação específica, o que faz com que esses materiais sejam classificados de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) nº NBR 10004 a 10007, cujos padrões para definir a periculosidade dos resíduos, tornam-se inadequadas para os sedimentos, pois em muitos casos as concentrações naturais de determinados elementos químicos encontrados nos solos, estão acima dos valores estabelecidos nas normas acima citadas. 6.5 A EMAE Segundo o site oficial da empresa, a EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., foi criada em janeiro de 1998, é uma concessionária de geração de energia, cujo controle acionário pertence ao governo do Estado de São Paulo. Esta empresa responde pela operação e manutenção do Sistema Hidroenergético do Alto Tietê, promovendo o aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos disponíveis na Região Metropolitana de São Paulo -RMSP. 49 A EMAE possui três focos de atuação, todos eles vitais e de valor inquestionável: a geração de energia em instalações já existentes e estrategicamente dispostas em centros de cargas (Usina Hidrelétrica Henry Borden e Usina Termoelétrica Piratininga), o suprimento de água bruta para abastecimento público (reservatórios Guarapiranga e Billings) e, por último, as atividades de controle do sistema hidráulico, fundamental para a segurança operacional e saneamento dos canais e reservatórios, e para o controle de cheias na Região Metropolitana de São Paulo. A capacidade instalada de 1.394 MW, potência suficiente para atender a demanda de energia de cinco milhões de residências. Complexo Henry Borden é o principal aproveitamento do sistema, foto 6.3, inaugurada em 1926, em Cubatão, ao pé da Serra do Mar, foi vítima de um mal da São Paulo moderna: a poluição dos rios. A usina começou com duas turbinas, que geravam 35 mil quilowatts. Mais tarde, recebeu outras seis e passou a gerar 460 megawatts. Em 1956, abriu-se a seção subterrânea, que alojou mais seis turbinas. Com esse total - 14 turbinas - chegou à sua atual capacidade instalada, de 889 MW, para uma vazão de 157m3/s. Foto 6.7: Usina Henry Borden. (fonte: www.emae.sp.gov.br, 2003). 50 Na década de 50, a usina hidrelétrica que hoje, em plena crise energética, gera só 11% de sua capacidade, era "a maior da América Latina". Sua sessão subterrânea, escavada na rocha viva, era "à prova de bomba atômica". Dois outros pequenos aproveitamentos hidroelétricos estão instalados ao longo do rio Tietê a UHE de Rasgão, no município de Pirapora do Bom Jesus, com capacidade de 22 MW, e a UHE de Porto Góes, no município de Salto, com capacidade de 11 MW. Esse sistema é constituído de reservatórios, canais e estruturas associadas, cuja principal característica é a de exigir uma operação voltada para o aproveitamento racional das águas superficiais e a busca pelo aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos disponíveis, promovendo dessa forma a geração de energia, o controle de cheias e o fornecimento de água bruta para o abastecimento público, lazer e pesca. Complementando esse sistema, tem-se a Usina Termoelétrica Piratininga, com capacidade instalada de 472 MW. Responsável por parcela significativa do crescimento da economia paulista, o sistema de geração da EMAE, por se encontrar agregado ao meio urbano, promove um suprimento de energia elétrica de caráter estratégico. Sua localização aumenta a confiabilidade do atendimento aos consumidores da Região Metropolitana de São Paulo, eliminando a necessidade do transporte de energia de usinas localizadas a grandes distâncias. 6.5.1 A urbanização na Bacia do Pinheiros O Canal Pinheiros, antes de sua retificação, era um típico rio de planície, com declividade quase imperceptível e sinuosa. Essas particularidades 51 criaram as condições necessárias para que em seu entorno se caracterizassem por uma grande várzea, que periodicamente era inundada pelas cheias naturais do rio e, em conseqüência, por uma baixa ocupação humana. A retificação do seu leito e a construção do Canal criou as condições necessárias para que fosse possível uma ocupação mais intensa dessas áreas, que inicialmente foi feita de forma ordenada, mas que a partir dos anos 70 deu-se de forma não planejada, em especial nos afluentes de sua margem esquerda (por exemplo, os córregos do Morro do S, do Pirajussara e do Jaguaré). A região onde está inserida essa sub-bacia sofreu transformações radicais no tipo de ocupação e uso do solo nas áreas de mananciais. Se até os anos 50 havia maior predominância de usos rurais e chácaras de lazer, nas décadas de 60 e 70 ocorreu a formação e consolidação de núcleos urbanos. Esses se caracterizam pela periferização das camadas mais pobres, via loteamentos clandestinos e surgimento de favelas em fundos de vale, sem equipamentos de infra-estrutura adequados às necessidades de qualidade de vida e dos recursos hídricos existentes. Nos últimos vinte anos, o avanço da mancha urbana caracterizou-se por deixar grandes vazios à especulação imobiliária, que foram preenchidos num processo agressivo sem proteção de solo, geralmente erodíveis, sem preservação da cobertura vegetal e sem previsão de medidas preventivas para escoamento das águas superficiais. Nesse processo, foi crescendo a impermeabilização do solo, a erosão e o assoreamento dos rios e reservatórios, com o arraste de materiais sólidos e a contaminação do lençol freático. 52 O crescimento da cidade aliado à falta de investimentos suficientes, pelo poder público, em obras de infra-estrutura necessárias, agravou ainda mais esta situação na medida em que o aporte de lixo e sedimentos ao Canal, tornou-se fator prejudicial da operação do sistema hídrico da EMAE, diminuindo sua capacidade operacional. Dessa forma, os depósitos de sedimentos nos tributários do Canal constituem constante ameaça à própria cidade de São Paulo, pela diminuição da capacidade de amortecimento e vazão das ondas de cheias. No processo de cisão da ELETROPAULO - Eletricidade de São Paulo S.A., a EMAE herdou a responsabilidade pelo controle de cheias, junto com a geração de energia elétrica. Para manter a calha do Canal e a região próxima às bombas de recalque em condições operacionais adequadas, visando o controle de cheias, são realizados constantemente os serviços de dragagem pela EMAE. Assim, a Empresa assume, perante a sociedade, a incumbência da manutenção do Canal em condições que não interfiram na qualidade de vida da população do entorno, cabendo a ela garantir as vazões desse curso d'água, de forma a que não ocorram episódios de cheias na região. 6.6 Estudos e projetos sobre o Canal do Rio Pinheiros Durante os últimos quinze anos a Empresa desenvolveu diversos estudos relativos à questão do desassoreamento do Canal do Rio Pinheiros, entre os quais podemos destacar: (IPT, 1992). - Estudo com o objetivo de caracterizar as causas e mecanismos do assoreamento nos canais dos rios Pinheiros e Tietê na Região 53 Metropolitana de São Paulo, visando estabelecer medidas eficazes para seu controle e redução. Esse trabalho foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), tendo sido concluído em 1993. - Estudos que culminaram com a elaboração de projeto básico de nova sistemática para o desassoreamento do Canal do Rio Pinheiros concluído pela Fundação Centro Tecnológica (FCTH) em 1995. - Estudo de Impacto Ambiental (ElA) e Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) do Novo Sistema de Desassoreamento do Canal do Rio Pinheiros, concluído em 1998. - Coleta, análise e classificação dos sedimentos encontrados no leito do Canal do Rio Pinheiros, realizado pelo IPT pontualmente entre 1996 e 2000. A realização das análises seguiu a metodologia básica descrita na série de normas da ABNT NBR10004, NBR10005, NBR10006 e NBR10007, no "Standard METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTERWATER" (Padronização dos Métodos para Exame da Água e do desperdício d’água.), 19Th Editem, 1995, e EPA (C), adotadas no Brasil, entre outros, pela CETESB. - Monitoramento dos sedimentos encontrados no leito do Canal do Rio Pinheiros, realizado a partir de 2001, através da coleta, análises laboratoriais e classificação de material de assoreamento encontrado no leito do Canal do Rio Pinheiros, em catorze pontos ao longo de seus 25,5 km de extensão, bem como para os cinco bota-foras transitórios atualmente utilizados pela Empresa. Os parâmetros analisados foram estabelecidos junto com o órgão fiscalizados ambiental -CETESB e a realização das análises segue a metodologia básica descrita na série de normas da ABNT NBR10004, NBR10005, 54 NBR10006 e NBR10007, no "STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTERWATER", 19Th Editem, 1995, e EPA (C), adotadas no Brasil, entre outros, pela CETESB. - Também foi realizado o mapeamento de áreas potencialmente viáveis para a disposição final dos sedimentos, chamadas de “bota-fora”. - Modelo geoquímico para a evolução dos perfis de solo das litologias mais freqüentes na bacia do Alto Tietê, visando demonstrar que as elevadas concentrações de ferro, alumínio e manganês encontrado são naturais. Esse estudo foi desenvolvido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), tendo sido concluído no início do ano de 2002. 6.7 Caracterização do material de assoreamento A caracterização desse sedimento realizada, no início da década de 90 constatou que dos materiais desassoreados aproximadamente 95% em peso corresponde a sedimentos e 5% a resíduos sólidos diversos. A análise granulométrica desse material, também realizada no mesmo período, indica que os sedimentos do Canal Pinheiros situam-se na faixa do silte, com valores de diâmetro médio em torno de 0,05 mm. Junto à desembocadura dos afluentes principais (córregos Jaguaré, Pirajussara, Morro do S e o Dreno do Brooklin) encontram-se sedimentos mais arenosos. Do ponto de vista de caracterização da periculosidade desses materiais, os ensaios baseados nas normas brasileiras NBR-10.004 a NBR-10.007, caracterizaram os mesmos como Resíduos Sólidos Não-Inertes. 55 Resíduos sólidos não inertes são resíduos classificados pela ABNT 10.004/87 como Resíduos Classe II, estes resíduos podem ter propriedade de combustível, biodegradável ou solubilidade em água, como exemplo, temos sucatas metálicas, plásticos diversos, papel e resíduos domésticos. 6.7.1 Monitoramento do material Considerando as poucas informações disponíveis sobre o grau de contaminação do material de assoreamento do Canal do Rio Pinheiros, inclusive no âmbito da CETESB (Companhia Tecnológica de Saneamento Ambiental), a elaboração de um plano para a disposição final desse material fica prejudicada. Em decorrência desse fato, a EMAE decidiu adotar, a partir de 2001, um plano de monitoramento do material de assoreamento do Canal do Rio Pinheiros, previamente discutidos com técnicos da CETESB tendo como objetivo definir os parâmetros e a metodologia a serem adotadas. Com a realização de três campanhas anuais de Coleta, Análises Laboratoriais e Classificação do Material, com o objetivo de obter subsídios para a elaboração de proposta de procedimentos, para a disposição final desse material, a ser apresentada à Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo (SMA) e à Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB). As coletas, análises e classificação ocorrem em três períodos específicos que estão descriminados a seguir: 56 Tabela 5: Períodos específicos para coleta de amostras do sedimento do Canal Pinheiros Fonte: (EMAE, 2001). Mês Período 2º quinzena 1º quinzena 1º Março Abril 2º Agosto Setembro 3º Novembro Dezembro Esse critério foi adotado com o objetivo de verificar se existe alguma variação entre as concentrações dos diversos parâmetros definidos e os respectivos períodos. As análises dos sedimentos deverão ser processadas segundo a metodologia básica descrita nas Normas da ABNT – NBR 10.004, NBR 10.005, NBR 10.006 e NBR 10.007, adotadas pela CETESB para a obtenção de parâmetros para a classificação dos materiais inorgânicos e orgânicos. No Canal Pinheiros são coletadas e analisadas dezenove amostras de material de assoreamento, cada amostra é composta por material coletado em cinco pontos distintos (2 amostras são coletadas a cada 1 m de cada margem e as outras amostras definidas no local). Nos bota-foras, são coletadas amostras em dez pontos distintos, devendo cada uma ser coletada a uma profundidade de até 2 m. Após a coleta é feita a análise em laboratório, tendo como produto final o laudo analítico, que completa a classificação dos materiais, atendendo a NBR 10.004. 57 A execução de um Plano de Monitoramento permite a formação de um banco de dados sobre o material visando subsidiar o estabelecimento de uma política para a disposição final desse material e, inclusive, caso alguma amostra específica apresente um grau de contaminação superior aos do estabelecido pelas normas, é possível estabelecer procedimentos específicos para a respectiva área e, também, solicitar ao órgão fiscalizador ambiental a identificação da fonte poluidora. 6.8 Caracterização Geoquímica dos Solos da Bacia do Alto Tietê Outra ação adotada pela EMAE foi à contratação de um estudo, desenvolvido pela Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica, com o objetivo de apresentar um modelo geoquímico para a evolução dos perfis de solo das litologias mais freqüentes na bacia do Alto Tietê, visando demonstrar que as elevadas concentrações de ferro, alumínio e manganês encontrados são naturais, decorrentes de processos de laterização. Outro objetivo do estudo era fornecer subsídios que permitissem verificar se os padrões estabelecidos na NBR 10.004 são viáveis de serem aplicados aos sedimentos e materiais de escavação. Entre as conclusões deste estudo destaca-se: - Os elevados teores de ferro, alumínio e manganês, detectados na massa brutas dos solos residuais da bacia do Alto Tietê, são naturais, decorrentes dos processos de laterização (processo de intemperismo próprio de climas quentes e úmidos). - Estes elementos são provenientes da alteração dos minerais que constituíram as rochas e os sedimentos originais, concentrados na forma de acumulações relativas em níveis superiores do perfil de solo 58 pela lixiviação da sílica e dos metais alcalinos e alcalinos-ferrosos, e de acumulações absolutas em níveis inferiores pela lixiviação, transporte e deposição do ferro, alumínio e manganês, a partir de camadas já enriquecidas destes elementos. (FCTH, 2002). - As concentrações de ferro, alumínio e manganês, detectado nos ensaios de lixiviação e solubilização dos solos, correspondem às formas reduzidas destes elementos, que apresentam mobilidade nas soluções em função de condições ambientais circunstanciais locais, regidas por variações nos limites de pH e Eh, condições complexantes, pressão parcial de gases, produtos de solubilidade e fatores biológicos. (FCTH, 2002). - Os sedimentos de rios e canais, e os produtos de escavação são constituídos por aluviões, sedimentos terciários e solos residuais, sendo, portanto, materiais naturais. Como a norma NBR 10.004 se destina ao controle de resíduos sólidos que resultam de atividades humanas de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição a mesma não se aplica a esses materiais. (FCTH, 2002). - Como os elevados teores de ferro, alumínio e manganês são naturais nos solos residuais e sedimentos terciários da bacia do Alto Tietê, esses materiais quando utilizados em aterros, escavados ou dispostos em áreas de bota-fora, deverão ser considerados inertes. (FCTH, 2002), 6.9 Atual sistema de desassoreamento Para manter a calha do Canal Pinheiros em condição operacional adequada às ne cessidades de veiculação de vazões compatíveis com as operações 59 anteriormente citadas, a EMAE sempre realizou serviços de desassoreamento nesse curso d'água, utilizando dragas de sucção e recalque, com lançamento dos materiais em áreas adjacentes ao canal, de propriedade da Empresa, denominadas de bota-foras. À medida que a cidade de São Paulo cresce e, conseqüentemente, a bacia se urbaniza, favorecendo dessa forma o aporte não só de assoreamento, mas como também de detritos de características diversas (lixo, madeiras, plásticos, etc.) através dos principais córregos contribuintes, tornou-se necessário um outro processo de desassoreamento, isto é, por intermédio de escavadeiras mecânicas de grande porte alocadas próximas às desembocaduras desses córregos. Um terceiro processo, esse como de apoio aos demais, foi o de escavobarcaça, introduzido na década de 70, com objetivo de retirar o assoreamento e transportá-lo para locais próximos ao desassoreamento por dragas e/ou escavadeiras mecânicas de grande porte. Esse sistema também auxilia nos trabalhos de remoção mecânica de vegetação aquática e lixo flutuante, principalmente junto às Usinas Elevatórias de Pedreira e Traição. No passado, a bacia do Pinheiros era totalmente isolada do meio urbano e havia extensas áreas para lançamento dos materiais dragados, especialmente resultantes do processo de retificação. Com o crescimento da cidade de São Paulo a bacia foi envolvida pela urbanização, com a diminuição gradativa de áreas potenciais para disposição final próximas ao local de remoção, ampliando gradativamente as distâncias de recalques e diminuindo conseqüentemente, a produtividade dos equipamentos em razão inversa aos custos do metro cúbico removido, cada vez maiores. 60 No processo atual, os sedimentos dragados são lançados em caixas de decantação denominadas bota-foras que, após um período de secagem da ordem de 3 a 4 meses, são esvaziados através de uma operação chamada desaterro. As distâncias de transporte até as áreas de disposição final têm-se aumentado nos últimos anos, devido às dificuldades crescentes para localização de áreas adequadas para essa finalidade. Muitas dessas áreas situam-se fora dos limites da sub-bacia hidrográfica do Canal Pinheiros, gerando custos proibitivos e impactos do ponto de vista ambiental. 6.10 Planejamento dos serviços Na década de 80, a então Eletropaulo tinha como objetivo manter o Canal Pinheiros desassoreado, todo o planejamento dependia de levantamentos de campo, os denominados ensaios de perda de carga, que além de depender da autorização do Centro de Operação do Sistema (COS – Departamento interno da EMAE) na manutenção de uma determinada vazão de escoamento por um período de 2 horas, envolvia também um grande contingente de funcionários e veículos de apoio. A partir de 1990, com o objetivo de buscar novas alternativas tecnológicas, engenheiros e técnicos da Empresa, em conjunto com a FCTH - Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica, iniciaram um estudo para a obtenção de um modelo matemático computacional, que pudesse simular as condições hidráulicas do Canal Pinheiros, levando-se em consideração toda a gama de informações desse curso d'água obtidas ao longo dos anos. Em 1991 o modelo matemático, mais conhecido como MHCP - Modelo Hidrodinâmico do Canal Pinheiros, em estrutura operacional em MS-DOS, começou a ser utilizado, não mais dependendo de programações de 61 bombeamento do Canal, proporcionado inclusive, uma redução drástica de recursos humanos e materiais envolvidos, já que se poderia simular hidraulicamente o referido curso d'água, via modelo matemático. A partir de então, o Plano de Desassoreamento e de Desaterro começou a ser elaborado em conformidade aos resultados das simulações hidráulicas, orientando previamente onde posicionar os equipamentos de desassoreamento com objetivo de se retirar o material de assoreamento realmente necessário, isto é, aqueles que estão efetivamente interferindo no escoamento normal do fluxo d'água, em atendimento às capacidades máximas de operação das usinas elevatórias. Uma vez atendida essa necessidade, passam a ser consideradas as áreas possíveis de recebimento do material de desassoreamento, isto é, os botaforas da EMAE e de terceiros. No caso dos bota-foras da EMAE, são mantidos em condições de recebimento de material, por intermédio de serviços contratados de desaterro, permitindo o processo de enchimento (lançamento do material pelas dragas) e esvaziamento (desaterro), e assim sucessivamente. Já com relação aos bota-foras de terceiros, isto é, áreas de disposição final, tanto para os serviços de desassoreamento por intermédio de escavadeiras como os de desaterro, as empresas contratadas, até o momento, tem assumido a responsabilidade contratual em obtê-las e apresentar as respectivas licenças ambientais, para posterior assinatura dos contratos. Dessa forma, tendo-se a previsão da utilização das áreas de bota-foras da EMAE, a disponibilidade de recursos próprios e contratados, bem como, a alocação dos equipamentos em conformidade aos resultados do modelo matemático, MHCP, elabora-se o Plano de Desassoreamento e Desaterro. 62 6.11 Técnicas de desassoreamento 6.11.1 Desassoreamento com dragas de sucção e recalque Os serviços consistem na utilização de equipamentos dotados de bomba de sucção e recalque com capacidade de 1.000 HP, denominadas dragas, que após a desagregação do material de assoreamento do fundo do Canal, succiona e recalca o mesmo, lançando-o em caixa denominada de bota-fora. A partir de um sistema de extravasão, por intermédio de uma tubulação (retorno), é efetuada a drenagem do material, assim que acondicionado na referida caixa, auxiliando dessa forma a secagem do material para um futuro desaterro. Foto 6.8: Dragagem no Canal do Rio Pinheiros (fonte: EMAE, 2003). Os serviços são efetuados através de recursos próprios e contratados, envolvendo retirada média anual de cerca de 400.000 m³ de material de assoreamento (média dos últimos 5 anos), sendo que os bota-foras utilizados são aqueles de propriedade da EMAE. 63 6.11.2 Desassoreamento com escavadeiras de grande porte Os serviços compreendem na utilização de escavadeiras mecânica de grande porte que ficam alocadas junto aos principais córregos contribuintes, escavando o material de assoreamento, depositando-o na margem do canal e, após um período de secagem, o seu carregamento e transporte, por intermédio de caminhões, para a área de disposição final. Foto 6.9: Desassoreamento com Escavadeira de Grande Porte (fonte: EMAE, 2003). Os serviços são efetuados através de recursos contratados, envolvendo uma retirada média mensal de assoreamento de 15.000 m³, referentes aos córregos Jaguaré, Pirajussara, Brooklin e Morro do "S", sendo que o licenciamento da área de disposição final tem sido de responsabilidade da empresa contratada pela EMAE. A EMAE foi obrigada a adotar esse tipo de metodologia de desassoreamento em virtude da grande incidência de lixo e detritos de características diversas (madeira, pneus, etc.) que aportam dos córregos, o que dificultava a passagem da draga, ocasionando inúmeras horas de paralisação por 64 entupimentos e conseqüentemente interferindo na produção do equipamento. 6.11.3 Desassoreamento com sistema escavo-barcaça É um sistema composto por uma plataforma flutuante, na qual está instalada uma escavadeira hidráulica e uma barcaça auto-propulsora. A escavadeira hidráulica retira o material de fundo do canal, carregando em seguida a barcaça de capacidade nominal de 100 m³. Uma vez carregada, a barcaça navega em direção aos locais onde estejam localizados os demais equipamentos de desassoreamento (draga e/ou escavadeira junto aos córregos), para que os mesmos possam fazer a retirada definitiva do material. Foto 6.10: Dragagem pelo sistema escavo-barcaça. (fonte: EMAE, 2003). Esse sistema também atua nos serviços de retirada mecânica de vegetação aquática e emergente, ao longo do canal, no controle da proliferação de 65 larvas de mosquitos em uma ação conjunta com a PMSP. São equipamentos de propriedade da EMAE, num total de 3 plataformas e 6 barcaças. 6.11.3 Desassoreamento com sistema dupla dragagem A dragagem realizada pelo sistema de dupla dragagem, ou "tombo" é realizado devido à distância do local de dispo sição final (bota-foras). O Canal Pinheiros Superior compreendido por 15 Km de extensão e o Canal Pinheiros Inferior compreendido por 10 Km de extensão, atualmente só tem a disposição à existência de apenas 03 bota foras no canal superior e 03 bota foras no inferior. Quando o trecho a ser desassoreado está muito distante do bota fora (de 5 km a 15 km), é realizada a dupla dragagem (tombo), cujo processo consiste em dragar primeiro o trecho assoreado e lançá-lo num determinado trecho, o que estiver menos assoreado. Repetese o processo quantas vezes forem necessárias até chegar próximo do botafora, para onde o material é diretamente lançado. 6.11.4 Descrição dos serviços de desaterro Conforme mencionado anteriormente, a fim de dar continuidade aos serviços de desassoreamento por intermédio de dragas é necessário sempre se manter disponível áreas de bota-foras. No caso da EMAE, essas áreas estão dispostas, com maior concentração no Canal Pinheiros Superior (Bota-fora 1, Interlagos, 3 e 4) e somente um botafora no Canal Pinheiros Inferior (bota-fora 14). 66 Foto 6.11: Desaterro do Bota Fora 1, próximo a UT Piratininga (fonte: EMAE, 2003). Uma vez preenchido pelo material de assoreamento (mistura água e sedimentos), o bota-fora sofre um processo de decantação e drenagem, e após um período de secagem, são executados os serviços de terraplanagem, adequando-o para novos recebimentos de material de assoreamento, e assim sucessivamente, promovendo o ciclo de aterro e desaterro. Os serviços de desaterro são contratados, sendo que o material desaterrado é transportado para outros bota-foras, de responsabilidade exclusiva da contratada e devidamente licenciada pelo Órgão ambiental responsável. Foto 6.12: Desaterro do Bota Fora, próximo ao Complexo do Cebolão (fonte: EMAE, 2003). 67 6.12 Monitoramento do assoreamento por batimetria automatizada Como mencionado anteriormente, é de suma importância manter-se as condições de fluxo hidráulico do sistema, através de controle das condições de assoreamento ao longo dos canais, evitando-se dessa forma grandes perdas de carga hidráulicas. Esse controle é realizado por batimetria, a qual detecta a existência de assoreamento em determinados trechos dos canais, indicando assim a necessidade da execução de serviços de dragagem para manutenção da calha dos canais. A partir de 1987, iniciou-se a utilização de um sistema de batimetria automatizada, com a finalidade de se otimizar a batimetria, até então convencional. (EMAE, 2003). 6.13 Sistema utilizado Para o monitoramento do assoreamento por batimetria automatizada utilizase um sistema de radioposicionamento e um ecobatímetro de registro contínuo acoplados a um microprocessador. Foto 6.13: Equipamento de Navegação e Batimetria Automatizada. (fonte: EMAE, 2003). 68 6.13.1 Sistema de radioposicionamento Trata-se de um sistema eletrônico, operado por microondas e compõe-se de uma unidade móvel contendo um console, uma antena principal e duas unidades fixas, denominadas de estações escravas. A unidade móvel é instalada na embarcação e as unidades fixas em pontos de terra de coordenadas conhecidas, como exemplo, no caso do canal Pinheiros, a antena móvel é instalado na caixa d’água da Usina de Traição. O sistema verifica, a cada segundo, a distância entre a unidade móvel e as fixas, em metros, permitindo o cálculo, trilateração, da posição da embarcação. Uma vez conhecidas às coordena das das estações escravas, pode-se trigonométricamente obter as coordenadas da embarcação em um dado instante. As distâncias às estações escravas são obtidas visualmente, através do console ou codificadas em binário para interfaciamento com o microcomputador, visando processamento instantâneo ou geração de arquivo dos dados. Para um bom desempenho do sistema, alguns cuidados devem ser observados tais como visada direta entre a antena principal e as escravas, altura das antenas e principalmente calibração do sistema em uma base prédeterminada. 6.13.2 Ecobatímetro de registro contínuo Equipamento de medidor de profundidade de eco, capaz de fornecer registros permanentes e detalhados da topografia do fundo do canal ou reservatório, em profundidades de até 60 m. 69 A medição de profundidade por eco consiste em medir o tempo gasto por um sinal sonoro para se deslocar desde o transdutor (fonte emissora / receptora) até o fundo (superfície refletora) e retornar ao transdutor. Conhecendo-se a velocidade do som na água, este tempo é transformado em profundidade e registrado (analogicamente) em gráfico contínuo ou codificados em binário para interfaciamento com o microcomputador, visando processamento instantâneo ou geração de arquivo dos dados obtidos. 6.13.3 Microcomputador Equipamento composto de um teclado numérico e alfanumérico separados, unidade de vídeo, impressora bidirecional e uma unidade de fita magnética. O equipamento permite a conexão com outros tipos de periféricos como, por exemplo, uma impressora do tipo plotter para elaboração das seções. 6.13.4 Navegação O sistema de navegação é operado através do microcomputador com o auxílio de programas especiais. O programa é constituído por um software principal que comanda a navegação propriamente dita e outros auxiliares que permitem a interligação das diversas áreas envolvidas na operação (Geodésia, Hidrografia e Geologia). O programa de navegação é do tipo "navegação em linhas de sondagem" o qual necessitam, através de uma fita de arquivo pré-gravada, todas as informações da área a ser levantada. 70 Essas informações são basicamente as coordenadas das estações fixas (escravas), os cantos do retângulo que envolve a área, indicação de linhas longitudinais e/ou transversais espaçamento entre as linhas, intervalo entre duas leituras sucessivas de profundidade e parâmetros de redução das distâncias (para se obter coordenadas planas UTM). Uma vez introduzidos todos os dados, o programa coloca no vídeo a linha a ser navegada, a direção do norte e a posição atual da embarcação. 6.13.5 Processamento de dados O dado obtido em campo quer sejam, de posicionamento quer de batimetria devidamente registrados em fitas magnéticas, são enviados para o escritório juntamente com os registros analógicos do ecobatímetro para processamento e verificação de consistência. Os registros batimétricos contínuos (ecogramas) são arquivados para eventuais consultas. Após, feita identificação da área levantada e do período é incluído o valor do nível d'água (N.A) para redução dos dados batimétricos a valores uniformes, relacionados ao nível d'água referência do local. A plotagem é então realizada interfaciando o plotter com o microcomputador, obtendo-se desenhos com dados previamente estabelecidos, como por exemplo, seção transversal do canal, informações de "como construído”, projeto e situação atual do assoreamento, etc. 71 6.14 Aplicabilidade no Canal Pinheiros Segundo dados da EMAE-2003, descreve-se a seguir a aplicabilidade da batimetria automatizada para o monitoramento do assoreamento do canal Pinheiros. Adotou-se uma poligonal de apoio composta por 64 pontos com coordenadas conhecidas (Sistema UTM), materializados na parte superior das edificações ao longo dos Canais, estas coordenadas estão interligadas com o Sistema Cartográfico Metropolitano (EMPLASA) através de 8 vértices. Uma linha base implantada ao longo dos canais é composta por 44 pontos com coordenadas (Sistema UTM), materializados através de marcos instalados na margem leste do Canal Pinheiros, esses pontos caracterizamse o traçado básico do canal, em um conjunto com os demais dados das curvas e retas. Unindo-se os dados do poligonal à linha base obtém -se o programa de navegação da embarcação, relativo ao posicionamento e direcionamento. Somando aos perfis longitudinais pelo eixo do canal e as seções transversais espaçadas de 20 em 20 metros, seções essas, relativas às informações de projeto e do como construído “as-built”. O levantamento é realizado percorrendo-se as seções perpendiculares ao eixo dos canais, afastadas entre si de 20m. Esse levantamento é feito no sentido de se obter, seções transversais de 20m em 20m, identificando a situação atual do canal, em termos de área e volume assoreado, comparando com as situações de como construído “asbuilt” e de projeto. 72 O perfil longitudinal do canal traduz a situação atual do talvegue, identificando os pontos de grande concentração de assoreamento. Estes levantamentos são realizados a cada 2 meses, intercalando-se entre o Canal Superior e Inferior, essa freqüência é necessária em atendimento aos ensaios de perda de carga, que em conjunto com os obtidos nos perfis longitudinais e transversais, servem de base para a programação do serviço de dragagem, identificando-se os trechos de maior incidência de assoreamento. A perda de carga é determinada em função do comprimento do canal, da rugosidade do material que o compõe, da velocidade, da área e do tipo do escoamento. 6.14.1 Produtos obtidos Executados os levantamentos de campo, após a sua conferência, segue a fase dos trabalhos de escritório. As seções transversais obtidas nos levantamentos, junto das de projeto e como construída, são confeccionadas em desenhos através de uma impressora tipo plotter acoplada ao microprocessador, num total de 260 seções. Também como produto final, obtém-se, a partir de uma programação específica, a área de assoreamento como também o volume total de cada trecho pré-estabelecido dos canais. 73 Figura 6.3: Representação gráfica da seção transversal do canal. (fonte: EMAE, 2003). 6.15 Volume de Sedimentos do Canal Pinheiros Os dados de controle de assoreamento obtido através de levantamentos batimétricos e volumes totais de material dragado nos trabalhos de manutenção do Canal Pinheiros podem ser observados nas tabelas 5 e 6. Os gráficos 6.4 e 6.5, construídos a partir das informações das respectivas tabelas 5 e 6, permitem observar a tendência de assoreamento progressivo do Canal Pinheiros nos leitos superior e inferior, assoreamento este, que têm sua origem em razão da crescente urbanização das periferias, que na maioria dos casos crescem sem nenhum planejamento, avançando sobre terrenos desfavoráveis e abrindo o leque de impactos ambientais negativos, sobre os recursos hídricos superficiais. Observa-se que o aporte médio de material sólido no período pesquisado neste estudo, que é de 80 meses, iniciando-se em abril de 1997 e concluído em maio de 2003, atinge cerca de 10.400 m3 por mês no canal Pinheiros inferior e um valor consideravelmente mais baixo, 3.800 m3 no canal Pinheiros superior. 74 Estes valores permitem verificar que o aporte sólido que se deposita no fundo do canal inferior chegou a atingir 10,68 kg/s. Essa alta incidência se dá, pela ocorrência de urbanização desordenada às margens dos córregos afluentes do canal Pinheiros inferior, os quais são: Córrego Uberaba, Sapateiro, Pirajussara, Bellini e Jaguaré. Esta taxa evidentemente tende a cair ao longo do tempo, com a consolidação da bacia e redução do manejo impróprio nos terrenos para uso urbano. Porém ainda será consideravelmente alta nos próximos anos, obrigando os controladores a investimentos permanentes na manutenção das condições hidráulicas. Foto 6.14: Vista da Ponte da Rodovia Regis Bittencourt sobre o córrego Pirajussara. (Observar os detritos acumulados pela cheia de 01/01/1999). Fonte: (www.sigrh.sp.gov.br, 2003). 75 Tabela 5: Dados do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Superior. (*) Fonte: (EMAE, 2003). Canal Pinheiros Superior Batimetria Pinheiros Inferior Data Volume entre as batimetrias (m3) Volume Volume Total dragado (m3) Assoreado (m³) pi0490 abr/90 --- pi0690 jun/90 54017 --- pi1190 nov/90 -121688 --- pi0391 mar/91 245196 --- pi0691 jun/91 -28968 --- pi9109 set/91 63577 --- pi9202 fev/92 122423 --- pi9610 out/96 pi9704 abr/97 147199 0 147199 pi9710 out/97 -184936 0 -37738 pi9712 dez/97 258845 0 221107 pi0698 jun/98 -25467 0 195640 pi9904 abr/99 -44577 34177 185241 pi9911 nov/99 -191583 40605 34263 pi0008 ago/00 -195232 267983 107013 pi0101 jan/01 -4 73724 180733 pi0601 jun/01 -198694 34433 16472 pi0302 mar/02 19334 90037 125843 pi0103 jan/03 69779 47848 243470 pi0503 mai/03 60895 0 304365 --- Volume Total Assoreado (Abr/97 a Mai/03) 3.805 m³/mes Tabela 6: Dados do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Inferior. (*) 76 Fonte: (EMAE, 2003). Canal Pinheiros Inferior Batimetria Pinheiros Data Superior Volume entre as batimetrias (m3) Volume Volume Total dragado (m3) Assoreado (m³) ps0490 abr/90 --- ps0690 jun/90 -11263 --- ps1190 nov/90 -183318 --- ps0391 mar/91 107262 --- ps0691 jun/91 31311 --- ps9109 set/91 135937 --- ps9202 fev/92 -83313 --- ps9610 out/96 ps9704 abr/97 70737 0 70737 ps9710 out/97 -27945 0 42792 ps9712 dez/97 269684 0 312476 ps0698 jun/98 -139.841 32995 205631 ps9904 abr/99 -111.012 256025 350644 ps9911 nov/99 10.416 130785 491844 ps0008 ago/00 -68.580 97089 520353 ps0101 jan/01 156.906 32995 710253 ps0601 jun/01 -125.296 23403 608360 mês0302 mar/02 -124.650 70911 554621 mês0103 jan/03 332.899 37164 924683 ps0503 mai/03 -87.550 0 837133 --- Volume Total Assoreado (Abr/97 a Mai/03) 10.464 m³/mês (*) - Dados das tabelas 5 e 6 foram disponibilizados pelo FCTH – Fundação Centro Tecnológica de Hidráulica, em acordo com a EMAE – Empresa Metropolitana de Águas e Energia. Sendo que estes dados não estão disponíveis em publicações. Somente encontrados nos Relatórios Técnicos na própria empresa. 77 Assoreamento - Pinehrios Superior 350000 300000 250000 Volume (m³) 200000 150000 100000 50000 0 abr/97 -50000 fev/98 dez/98 out/99 ago/00 jun/01 abr/02 fev/03 -100000 Período Figura 6.4: Gráfico do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Superior. Fonte: (EMAE, 2003). Assoreamento - Pinehrios Inferior 1050000 900000 Volume (m³) 750000 600000 450000 300000 150000 0 abr/97 fev/98 dez/98 out/99 ago/00 jun/01 abr/02 fev/03 Período Figura 6.5: Gráfico do Volume Assoreado no Canal Pinheiros Inferior. Fonte: (EMAE, 2003). 78 Situação atual A EMAE vem enfrentando problemas com relação aos serviços contratados de desaterro, tendo em vista as empresas contratadas encontrarem dificuldades quanto à definição de áreas para disposição final, no que se refere à obtenção da licença ambiental, em função da característica "não inerte" do material de desaterro. Com isso, todo o Plano de Desassoreamento e Desaterro é prejudicado, tendo em vista a não manutenção do ciclo de aterro e desaterro, com conseqüências desastrosas ao desassoreamento do Canal Pinheiros através de dragas de sucção e recalque que dependem dessas áreas, e conseqüentemente, o comprometimento do Controle de Cheias. Atualmente a EMAE está correndo risco de paralisação dos serviços de desassoreamento, porque além das áreas de disposição final para o desaterro de bota-foras, as referentes ao desassoreamento por intermédio de escavadeiras e caminhões, também estão sendo afetadas pela dificuldade em localizar áreas licenciadas para o recebimento desse tipo de material, prejudicando sensivelmente todo um programa de manutenção do Canal Pinheiros, com graves conseqüências na operação de Controle de Cheias, caso os serviços de desassoreamento não ocorram de forma efetiva e contínua. Apesar de todas essas dificuldades, o comportamento hidráulico do Canal tem sido favorável, visto que ainda consegue-se mantê-lo com os atuais contratos e recursos próprios. Todavia, caso essa situação perdure, em um curto prazo de tempo, deveremos nos deparar com uma situação crítica, obrigando-nos a paralisar os serviços pela falta de áreas para disposição final, bem como, pela indisponibilidade dos nossos bota-foras. 79 6.16 Legislação específica Segundo o engenheiro Ariovaldo Sartori: atualmente tramita no Congresso Nacional um Projeto de Lei com o objetivo de instituir uma Política Nacional de Resíduos Sólidos, seus princípios, objetivos e instrumentos são estabelecer diretrizes e normas para o gerenciamento dos diferentes tipos de resíduos sólidos. Considerando os problemas que a EMAE vem enfrentando para a disposição final dos sedimentos retirados do Canal do Rio Pinheiros, bem como o fato de não existir uma legislação específica para a destinação final desse tipo de material, esta Empresa elaborou documento que foi encaminhado ao relator do projeto no Congresso Nacional, com a finalidade de subsidiar e justificar a inclusão do item "sedimentos", no escopo da Minuta Final do projeto de lei que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Foi proposta a inclusão do tema no referido projeto de lei, na Seção 111, dos Resíduos Especiais, conforme segue: SUBSEÇÃO XV DO SEDIMENTO OU MATERIAL DE ASSOREAMENTO Art. "a" - Para efeitos desta lei, são considerados como sedimento qualquer material originado da destruição de qualquer tipo de rocha, transportado e depositado em corpos d'água. Art. "b" - Os detentores ou responsáveis pelos serviços de dragagem e/ou desassoreamento de corpos d'água, são os responsáveis pelo gerenciamento dos sedimentos retirados dos mesmos, incluindo a sua disposição final adequada. 80 Art. "c" - O licenciamento ambiental da disposição final desses sedimentos, ficará a cargo dos respectivos órgãos ambientais estaduais ou municipais, quando for o caso, conforme previsto em lei. Art. "d" -O licenciamento ambiental da disposição final desses sedimentos, será concedido mediante apresentação de alternativa técnica detalhada. Art. "e" -Deverá ser priorizado as alternativas de disposição final, que contemplem a utilização desses sedimentos para a recuperação de solos e áreas degradadas ambientalmente, permitindo dessa forma a reintegração e reutilização das mesmas. Art. "f" -Os sedimentos deverão ser classificados de acordo com o seguinte critério de qualidade: - Sem risco ao ambiente - Sedimentos cuja composição físico-química permita a sua disposição em qualquer área / local e que não impliquem em restrições ao uso posterior das mesmas. - Baixo risco ao ambiente - Sedimentos cuja composição físico-química permita sua disposição apenas em áreas / locais cujo solo tenha composição similar ou com teores mais elevados e que não impliquem em restrições ao uso posterior das mesmas. - Médio risco ao ambiente - Sedimentos cuja composição físico-química permita sua disposição apenas em áreas / locais cujo solo tenha composição similar ou com teores mais elevados e que impliquem em restrições ao uso posterior das mesmas. - Elevado risco ao ambiente 81 - Sedimentos cuja composição físico-química permita sua disposição apenas em áreas restritas e com cuidados especiais e que impliquem em restrições ao uso posterior das mesmas. Art, "g" – Caberá aos órgãos ambientais estabelecerem os padrões. de acordo com os critérios apresentados no art “f”, em conformidade com as particularidades e especificidades dos solos / terrenos de respectiva unidade da federação. Art. "h" –Os órgãos ambientais serão os responsáveis pela fiscalização da disposição final dos sedimentos, de forma a garantir a sua disposição em conformidade com os critérios de qualidade mencionados no art. "g". Art. "i" -Os detentores ou responsáveis pelos serviços de dragagem e/ou desassoreamento de corpos d'água, são os responsáveis pela manutenção das informações da qualidade dos sedimentos, devendo executar serviços periódicos de monitoramento da qualidade dos mesmos. Art. "j" -Os detentores ou responsáveis pelos serviços de dragagem e/ou desassoreamento de corpos d'água, deverão executar serviços periódicos de monitoramento das áreas / locais de disposição final, de forma a garantir que não ocorram episódios de contaminação / degradação ambiental. Art. "k" -Caso seja constatado a ocorrência de episódios de contaminação/degradação ambiental nas áreas de disposição final, esses serviços deverão ser imediatamente suspensos e tomadas às providências necessárias para a remediação da área/local. Art. "I" -As despesas com a remediação da área/local, mencionada no art. "k", correrão por conta dos detentores ou responsáveis pelos serviços de dragagem e/ou desassoreamento de corpos d'água. 82 7 CONCLUSÕES Conforme se observa, com base nos tópicos deste trabalho, o controle da erosão é fundamental para a preservação e adequada gestão dos recursos hídricos. Dos resultados obtidos na redação deste, conclui-se que 95% do material dragado é constituído de sedimentos provenientes principalmente de movimentações de terra em loteamentos, e 5% corresponde a resíduos diversos, tais como: madeiras, vidros, plásticos e materiais de construção civil. Das formas de erosão identificadas, aquelas com capacidade para produzir os volumes de sedimentos encontrados no leito do referido curso d’água, são as associadas ao uso e ocupação urbana do solo, cujo início se dá com o parcelamento de terras que, anteriormente eram protegidas contra processos erosivos, principalmente quando ocorre a remoção da camada superficial do solo. O volume assoreado no canal Pinheiros Superior é crescente com volume de 3800 m³ / mês, consideravelmente menor ao do Pinheiros inferior com aporte de 10400 m³ / mês, pois não conta com as mesmas influências. O Pinheiros inferior possui esse aporte dado o grande número de confluências com outros córregos que são altamente castigados por processos erosivos. Os processos erosivos são responsáveis por inúmeros infortúnios. O transporte de sedimentos pelos corpos d’água pode afetar a qualidade desta para consumo humano, além do assoreamento dos reservatórios e canais, diminuindo, assim, sua capacidade de armazenamento, aumentando o risco de cheias e, conseqüentemente das inundações de suas várzeas. 83 Atualmente, os serviços de dragagem encontram-se paralisados, dada a dificuldade do encontro de áreas licenciadas para o desaterro de bota-foras, afetando, também, os serviços de desassoreamento por escavadeias e caminhões. O material de assoreamento por ser comprometido devido à poluição exige maiores cuidados em sua destinação. A solução para este problema virá a médio ou longo prazo, com a completa implantação dos sistemas de tratamento de esgotos e resíduos industriais. O crescente avanço deste problema tem levado os governos ao uso de métodos de controle nem sempre eficazes. Mesmo assim, a quantidade de verba governamental empregada em obras de controle de erosão é vultuosa, chegando a um valor aproximado de R$ 20 milhões / ano com o desassoreamento do sistema hídrico. 84 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT -ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS -SISTEMA NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE INDUSTRIAL. Normas Técnicas NBR10004, NBR10005, NBR10006 e NBR10007, São Paulo, SP, 1987. ELETROPAULO -Eletricidade de São Paulo S/A. Evolução Urbana da Cidade de São Paulo -Estruturação de uma Cidade Industrial: 1872-1945, Coord. Maria Lúcia P. F. Passos, São Paulo, Volume 1, Tomo 1, Série Bibliografia, 1989. ELETROPAULO / DT Engenharia. Projeto Básico do Novo Sistema de Desassoreamento do Canal Pinheiros e Reservatório Billings, São Paulo, 1995. ELETROPAULO / DT Engenharia. Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental do Novo Sistema de Desassoreamento do Canal Pinheiros, São Paulo, 1997. EMPLASA - Empresa Metropolitana de Planejamento da Grande São Paulo S.A. Carta de Aptidão Física do Assoreamento Urbano, São Paulo, Guia de Utilização, São Paulo, s.d. ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE SEDIMENTOS, 5. 2002, São Paulo, Anais. FCTH -Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica. Rios Tietê-Pinheiros, Estudo sedimentológico na RMSP. São Paulo, 1992. 85 IPT -Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Relatório de Erosão e Assoreamento das Bacias Tietê-Pinheiro na Região Metropolitana de São Paulo: Diagnóstico e diretrizes para a solução do problema, v.1, São Paulo, 1992. RAMOS, L. Dinâmica do Transporte Sólido nos Rios Tietê e Pinheiros na Região Metropolitana de São Paulo. Anais x Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Gramado, 1993. SÃO PAULO (estado). Secretaria do Meio Ambiente. O Rio Pinheiros, 2 ed. São Paulo, 2002. 96p. 86 ANEXO 1 Esquema ilustrativo do Canal Pinheiros, com seus respectivos afluentes. Fonte: (FCTH, 2003). 87