Sistema de Metro Ligeiro da Área Metropolitana do Porto, Linha C, T04.05
Porto, Campo 24 de Agosto
SANTOS,
SANTOS, Maria José – Uma descoberta no Campo 24 de Agosto
Uma Descoberta no Campo 24 de Agosto
No âmbito das funções inerentes ao cargo de responsável pelos serviços afectados
da empreitada de concepção e construção do metro ligeiro da área metropolitana do Porto, à
data de 1999, foi necessário proceder a uma inventariação criteriosa das infra-estruturas
existentes no subsolo, que estariam em colisão com a implantação projectada para a
estação de Metro, no Campo 24 Agosto.
Na sequência desse trabalho, e tendo como principal fonte de informação, os
cadastros recolhidos nos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento do Porto (SMAS),
verificou-se a existência profícua de minas na área afectada pela estação, zona do jardim do
Campo 24 de Agosto.
Parte das minas cadastradas, estavam à data canalizadas e em actividade. Interessa
ressalvar a existência da mina de Montebelo, canalizada em polietileno ø 110 mm, ao longo
da guia do passeio nascente, e com entrada por uma arca situada num prédio na Av. Fernão
de Magalhães, esquina com a Rua das Eirinhas, ostentando na sua parte cimeira as armas
episcopais de Frei José Maria da Fonseca Évora, datado de 1749.
Situada na esquina nascente do jardim pequeno do Campo 24 de Agosto, defronte da
Junta de Freguesia do Bonfim, registavam os cadastros uma outra Arca d´Água constituída
por três galerias em pedra e arcos em abóbada. Segundo informação dos Serviços Técnicos
dos SMAS, estaria esta mina já extinta, pelo que não haveria objecção à sua remoção, no
sentido de se dar início ao desvio de redes, empreitada prévia aos trabalhos de escavação
para implantação da estação do Metro.
Na fase de piquetagem das condutas e colectores e do arranque dos trabalhos
preparatórios, solicitou-se a descida pelo óculo de visita à mina extinta, para uma
observação “in loco” do seu interior.
O resultado dessa inspecção foi não só curioso como a génese de todo o processo
subsequente. A observação extasiada do operário que acedeu à mina “(…) a caixa interior é
muito grande, toda em pedra e tem uma cara gravada na pedra”, bem como a referência ao
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relevo em pedra aguçou-nos a curiosidade e o interesse em obter mais conhecimento e
informação sobre a matéria.
Foi assim que encetamos uma breve pesquisa quer nos arquivos dos SMAS quer
recorrendo à Biblioteca Nacional do Porto.
Da consulta dessa bibliografia, ficamos a saber que a referida Arca d´Água pertencia
aos mananciais de Campo Grande e/ou de Mijavelhas, e que, efectivamente, referenciava a
existência de um brasão com as armas reais gravado no frontispício de uma das paredes da
arca. Relatava ainda a diversa bibliografia, que em 1548, esse brasão teria sido argumento
da Câmara pela disputa dos direitos sobre o aproveitamento das águas, com o proprietário
do terreno, pertença da Quinta do Reimão.
Na posse desta informação, promoveu-se uma vistoria programada ao interior da
arca, com o acompanhamento dos Técnicos dos Serviços Municipalizados e do Metro do
Porto, tendo-se concluído da necessidade de se averiguar o seu eventual interesse histórico
- arqueológico.
A partir deste marco, o assunto relacionado com a Arca d’ Água passou a ser
coordenado pelo Gabinete de Arqueologia do Metro do Porto para uma avaliação de impacto
patrimonial.
Após a pesquisa efetuada no interregno da obra até ao arranque da execução da
contenção periférica da área de implantação da estação, e constatado o real interesse
patrimonial e histórico, resultou do consenso geral, a necessidade de preservação daqueles
elementos estruturais. Daí, e com recurso a equipamento de escavação adequado,
procedeu-se ao levantamento da estrutura de alvenaria da arca, um trabalho minucioso e
criterioso, seguindo-se a catalogação e numeração de todas as peças do puzzle.
Com o apoio da engenharia e a arte do Arquitecto Eduardo Souto Moura, reconstruiuse pedra por pedra, à cota do mezanino baixo da estação 24 de Agosto, a Arca d’Água de
Mijavelhas, relíquia do passado portuense para deleite e memória futura dos transeuntes do
século XXI e seguintes, na rota do metropolitano.
Maria José Santos, Engenheira Civil
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Bibliografia
AAVV – Mananciais do Campo Grande e de Mijavelhas (Campo 24 de Agosto), S.M.A.S.,
Porto, 1958
FERREIRA, Mª Manuela – “Fontes e Chafarizes. Um discreto tesouro do Porto”, Porto,
1987 (trabalho policopiado)
JÚNIOR, J. Bahia – Contribuição para a Higiene do Porto, Boletim Cultural, Câmara
Municipal do Porto, Porto, 1909.
PASSOS, Carlos dos – O Campo de Mijavelhas e a Quinta do Reimão, Boletim Cultural,
Câmara Municipal do Porto, Porto, 1955.
SILVA, Germano – Dos campos do Reimão à Quinta dos Cirnes, À Descoberta do Porto,
Jornal de Noticias, 1998.11.22
SOUZA REYS, Henrique Duarte e – Apontamentos para a verdadeira história antiga e
moderna da Cidade do Porto, vol. I, 1861, in BRITO, Maria Fernanda,
Manuscritos Inéditos da Biblioteca Pública Municipal do Porto, II Série, Porto,
1984
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