VII ENCONTRO ENSINO EM ENGENHARIA PROGRAMA COOPERATIVO DIVERSIDADE DE MÍDIAS: PROCURA DO MELHOR APRENDIZADO Gil Carvalho Paulo de Almeida, MSc. - [email protected] Departamento de Transportes e Geotecnia - Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora RESUMO:O aprendizado das disciplinas dos cursos de Engenharia pode e deve ser agradável, ainda que a aquisição de conhecimentos sempre exija esforço e dedicação por parte dos alunos. O uso de meios multimídia pode auxiliar a atender este objetivo, tanto como elemento complementar ao se ministrar uma aula, como por permitir que o aluno reveja rapidamente os conhecimentos já adquiridos. Além disso, o custo atual de disquetes, discos Cd -rom e fitas de vídeo, bem como a Internet, permite a edição e divulgação rápida e barata do que se pretende transmitir, não só por palavras e desenhos, mas também por uma linguagem baseada em imagens com cores, movimento, e sons. Por outro lado, a qualidade de conhecimentos adquiridos pelo discente só se torna real quando este os aplica. Este trabalho pretende sugerir alguns princípios básicos que permitam ao professor pouco familiarizado com essas novas ferramentas, desenvolver apresentações que produzam forte motivação no aluno, despertando sua atenção, curiosidade e, quando possível, o amor pela disciplina em estudo e uma forma de desenvolver a sua criatividade. São apresentadas experiências em duas áreas: Construção de Estradas e Laboratório de Mecânica dos Solos. A principal conclusão delas obtida é a desmitificação daquelas disciplinas como complexas a nível de graduação pelos estudantes. Isto concorre para que os alunos se sintam mais confiantes e tenham sua auto estima aumentada. PALAVRAS-CHAVES: diversidade de mídias, aprendizado, multimídia. 1. INTRODUÇÃO Percebe-se hoje que é o aluno que ensina a si mesmo, e cabe ao professor apenas orientá-lo, apontar-lhe o modos de aprender - e evitar que enverede por caminhos improdutivos ou desista. Se conseguir ensiná-lo a “aprender a aprender”, sua missão estará cumprida. A pura e simples transmissão de informação não é bastante – é preciso que o aluno se apaixone pelo que faz. Apaixonado, teremos um profissional que não apenas cumpre suas obrigações, mas se supera, usa sua criatividade, se diverte com seu trabalho. Gostar é pouco – a Engenharia é uma amante possessiva que exige dedicação total, um amor incondicional (Almeida, 2001). É possível despertar esse entusiasmo com palavras, giz e quadro-negro, mas ferramentas mais modernas podem facilitar a consecução desse objetivo. Propomos uma linguagem dentro e fora da sala de aula, baseada no uso da imagem, do som, do tato e olfato, que possa facilitar o despertar do interesse, da curiosidade, da polêmica e da crítica e atividades criativas que o conduzam a transformar o conhecimento adquirido em experiência real. 2. NOVOS TIPOS DE MÍDIA E SUAS CARACTERÍSTICAS O advento da informática criou uma nova facilidade na produção de mídias de comunicação, que agora começam a aparecer em volume significativo. A fotografia e o cinema estão sendo suplantados no uso didático pela foto digital e pelo vídeo, que permitem edição e publicação mais rápidas e a baixo custo. Entretanto, para sua produção e boa utilização pedagógica, é necessário alguma formação em Semiologia, História da Arte, Iconologia, Teoria da Comunicação, Filosofia, Sociologia, e ainda dominar tecnologias de produção e reprodução de imagens. Tal gama de conhecimentos não faz parte do acervo da maior parte dos professores da área de Engenharia. Mas com poucas horas de treinamento, um professor pode produzir vídeos didáticos, apresentações de slides e outros softwares com boa qualidade, se concentrar sua intenção na transformação pedagógica e seguir uma metodologia voltada à facilitar o aprendizado. A escolha de uma mídia exige que se cumpra uma série de passos inerentes ao planejamento das aulas (Allende, 1992): definição dos objetivos; seleção dos conteúdos; e organização das tarefas do processo ensino aprendizagem. Note-se que tão – ou mais – importante que a aula, é o planejamento das tarefas com que o aluno tornará concreto o aprendizado, transformará em experiência o conhecimento adquirido. Os meios de ensino são imprescindíveis em qualquer fase do processo educativo, exigindo um planejamento essencial e cuidadoso, com fundamentação científica, e não arbitrária ou regida por modismo. O uso de representações é tão útil quanto o objeto original, desde que contenha todos os elementos essenciais do mesmo e permita a execução de atividades específicas, e permite materializar o resultado de uma abstração (Silveira, 1999). O conceito de meio de ensino confunde-se com a linguagem utilizada por esse meio e está entrelaçado com ela. Consideramos novos tipos de mídias: 1. Cinema e vídeo didático: Difere do documentário por sua forma didática, não sendo apenas informativo. Sua exibição exige interrupções para anotações e “releituras”. A produção de um vídeo de trinta minutos tem custo a partir de dois mil dólares, com prazo mínimo de produção estimado em seis meses. Sua grande vantagem é poder apresentar simultaneamente a prática e a teoria do conteúdo pretendido (Ferreira, 1999). 2. Apresentação de transparências: Seu uso na apresentação de fotos e figuras é elogiável, desde que seja disponibilizado ao aluno cópias das mesmas. Com texto corrido é condenável, assim como seu abuso. Não há dúvida que as transparências aceleram a apresentação do conteúdo. O que se discute é se e quando seu uso ajuda o aprendizado. 3. Apresentação de slides: Passa pelas fases de concepção, roteiro, produção, edição e distribuição. Entre a concepção e a primeira versão da apresentação o tempo decorrido é bem menor que no caso de vídeos, com alterações e aperfeiçoamentos mais rápidos e praticamente sem custo adicional. Tem uso na sala de aulas e individual. Permite que o usuário escolha seu próprio ritmo. A possibilidade de usar fotos digitais e imagens “escaneadas” reduz o custo de produção, que é baixo, e com tempo expresso em horas ou semanas. Acelera a apresentação do conteúdo e torna-o mais atrativo, com a apresentação oportuna de textos e uso de efeitos especiais de som e imagem. Vantagens: possibilidade de segmentação da apresentação e facilidade de fornecer cópias ao aluno. Aplicam-se as mesmas restrições que ao uso de transparências. 4. Internet: O correio eletrônico pode atuar como redutor da inibição inicial de alunos. O aluno pode consultar o instrutor à qualquer hora, cabendo ao professor fornecer-lhe retorno em prazo razoável. Por intermédio de sites, um conteúdo pode ser rapidamente disponibilizado. O maior problema a ser vencido é a garantia da interatividade entre professor e aluno. A facilidade em buscar informações democratiza o conhecimento, mas o excesso dessas mesmas informações cria armadilhas para o usuário dispersivo. Como conseqüência, já ocorre maior desenvolvimento do ensino à distância. 5. Seminários on-line: Com ou sem ambiente virtual para discussão sobre temas definidos com antecedência, pessoas são convidadas a apresentar em artigos sua experiência em temas pré determinados, que ficam disponíveis em sites da Internet por períodos de tempo fixos. 6. Coursewares: Computer Based Training (CBT): são mídias que apresentam sessões de treinamento especialmente produzidas com linguagens de autoria. Segundo Mayerhofer e Brígido (1992), caracterizam-se por: inicialização, exposição, respostas pré-especificadas, uso de métodos quantitativos, exercícios. São também conhecidos como “Computer Assisted Learnig (CAL). Sua grande vantagem: velocidade de aprendizagem definida pelo aluno. 7. Mesa-redonda, ou reuniões de discussão: Com ênfase no “brainstorm”, temas pré-definidos devem ser preparados para discussão, pelos participantes. Podem ser realizados com presença física, ou “on-line”. 8. Trabalhos de cunho criativo: tomando como exemplo o desenvolvimento de planilhas eletrônicas, alunos são desafiados a criar planilhas para uso profissional. Para tanto, necessitam o cuidadoso estudo de normas técnicas e pesquisas bibliográficas. Com isso, aprofundam o conhecimento e o realizam, tornando mais concreto o que aprenderam. No mesmo contexto encaixa-se o desafio à escrever artigos (para publicação), criar apresentações reais e montar relatórios técnicos e ou a criação de pequenos programas específicos, técnicos ou financeiros (Almeida, 2001). 3. ESTILOS DE APRENDIZAGEM (Almeida e Ferreira 2000) (Kolb 1984) e (Harb et alii 1993) apresentaram classificações psicológicas para os alunos, baseando-se no modo pelo qual aprendem ou preferem aprender. Segundo Felder (Felder 1996): alunos do tipo “visual” preferem aulas com quadros, diagramas, quadros de fluxo, enquanto os estudantes “verbais” aprendem melhor com explicações escritas e faladas. Estudantes “indutivos” preferem apresentações que vão do específico ao geral e “dedutivos” gostam de apresentações que vão do geral para o específico. Alunos “ativos” aprendem experimentando e trabalhando com outros enquanto estudantes “reflexivos” tem melhor rendimento refletindo e trabalhando a sós. Todos os autores concordam que não existe uma forma de ensino única que atenda à todos os estilos de aprendizagem, e que o aluno deve ter à sua disposição os elementos para que estude no modelo em que renda mais. Assim, é desejável a disponibilidade de diversas metodologias, com livros de consulta ao lado de vídeos, slides etc. (Ferreira, 2000). Também se deve possibilitar a escolha entre trabalhos individuais ou em grupo, voltados para execução de tarefas bem determinadas ou de cunho criativo. A criação e o uso de planilhas é uma destas escolhas, que pode atender à todos os tipos psicológicos, se utilizada com prudência e critério. Alguns, por permitir atividades criativas, outros, por considerar que seu uso economiza tempo, que será dedicado à outras atividades de aprendizado. A criação de planilhas eletrônicas é sugerida, por não necessitar – ao contrário das linguagens de programação – grande período de treinamento. 4. DIVULGAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE TRABALHOS EDUCACIONAIS: Não há sentido em produzir um software educacional sem que o mesmo seja divulgado e distribuído. Ainda que existam defeitos, é na sua utilização e pelas sugestões e críticas recebidas se produzirão aperfeiçoamentos. Recomenda-se portanto a mais extensa distribuição possível. A Internet parece ser, hoje, o melhor veículo para atingir este propósito. No site do Núcleo de Geotecnia da UFJF, acreditamos que o conhecimento é propriedade da humanidade, pois nada é produzido sem a utilização de conhecimentos anteriormente gerados pela própria humanidade. Assim, liberamos para cópia, distribuição e utilização livres o material produzido por professores e alunos, em um primeiro estágio, no LIFE (Laboratório de Informática da Faculdade de Engenharia), em Cd-rom’s, e em seguida pelo site www.geotecnia.ufjf.br. Mas isto não é suficiente: dado o caráter anárquico da Internet, existe a necessidade de portais para a centralização de informações. Por exemplo: a ABENGE, poderia centralizar em um site links para sites que disponibilizam artigos, softwares livres, com resumos desses trabalhos em Ensino da Engenharia , ou mesmo disponibilizá-los diretamente. Da mesma forma, a ABNT, ABMS, e outras Associações Brasileiras poderiam criar indicadores para apontar sites com normas técnicas, artigos, softwares, específicos para seus campos de conhecimento. 5. UM SONHO - LOUCO ? Poucos anos atrás, pensar em um computador para cada escola parecia ser um sonho irrealizável. Hoje, um computador portátil, com leitor de dvd ou Cd-rom para cada aluno universitário pode tornar-se uma solução econômica, capaz de atender a mais pessoas, com um custo global mais baixo. Não é o sonho de um louco: basta calcular a diferença entre o preço do conjunto mínimo de livros de um curso superior, ou mesmo das cópias xerográficas desses livros - com o custo de cd-rom’s com o mesmo conteúdo, à cores, podendo conter sons, filmes, animações. As condições mínimas para que tal sonho se realize são realmente – mínimas. A produção intelectual das Universidades Brasileiras é muito maior do que hoje aparenta ser. Existem milhares de trabalhos engavetados, sob forma de livros, apostilas, relatórios técnicos, programas de computador, artigos prontos para publicação, e que não são liberados à sociedade por vários motivos, liderados pela falta de recursos financeiros e – cada vez menos – pela timidez de seus autores. Nenhum trabalho é tão pequeno que não mereça divulgação. Trabalhos de (digamos assim) pequeno porte podem ser divulgados pela Internet, ou agrupados para distribuição em cd-roms. Poderão inspirar desenvolvimentos – ou não. Alguns podem ser comercialmente viáveis, porém a maior parte dos textos didáticos não gera grande retorno financeiro, mesmo que tenham grande relevância intelectual. Por isso, há a necessidade de um meio de divulgação dinâmico e de baixo custo. O caso relatado a seguir descreve uma experiência que utiliza cd-roms. 6. RELATO DE UM CASO: CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS II Como piloto, foi utilizada uma pequena turma de alunos, matriculados no segundo semestre do ano 2000 na disciplina Construção de Estradas II. Um cd-rom foi liberado para cópias, por intermédio do Diretório Acadêmico de Engenharia da UFJF, e os alunos que não possuíam computador utilizaram os computadores do LIFE – Laboratório de Informática da Faculdade de Engenharia. O custo final para cada aluno foi baixo, na ordem de grandeza de metade do que custaria a cópia xerox apenas da apostila com o mesmo conteúdo. O cd-rom continha uma apostila (em word), um site virtual escrito em html, e repetido de forma resumida nas “aulas” (arquivos do Power Point), usadas em aula com auxílio de TV. Os alunos tinham como tarefa complementar a produção de duas planilhas de cálculo ou artigos técnicos para cada equipe, constituída por dois alunos. O tema de cada planilha era de escolha do aluno, embora submetido cada projeto à uma avaliação prévia. Reuniões de discussão foram estimuladas, e o professor ficou disponível para orientação e esclarecimento de dúvidas. Ao fim de duas semanas, era muito estimulante observar o interesse de alunos discutindo normas técnicas, garimpando especificações na Internet. Quase todos escolheram produzir planilhas de cálculo, tendo sido produzidos trabalhos de muito bom nível, que estão sendo incluídos na próxima versão do cd-rom e já estão disponibilizados no site www.cestrada2.ufjf.br. Embora não haja tamanho de amostra suficiente para conclusões estatísticas confiáveis, não houve qualquer desistência entre os discentes que participaram da experiência. Erros ? Sim, existem alguns, bem como trabalhos que ainda podem evoluir. Ficarão como desafios para a próxima turma. Todos nós cometemos erros. Por exemplo: deveria ter sido apresentada a relação dos temas para trabalhos logo ao início do curso, para ganhar tempo. A dosagem, ou pontuação de trabalhos e testes na avaliação do aprendizado ainda não é ideal. Mas com erros, também se adquire experiência, que reduz a incidência de erros. 7. CONCLUSÕES Ø A diversidade de mídias de aprendizado permite que o aluno escolha aquela em que melhor se adapte, atendendo expectativas de maior número de alunos; Ø A atividade de criar algo útil estimula o aluno a superar-se e aprofundar o conhecimento. Ø A necessidade do cumprimento de prazos gerou aumento na capacidade de organização, na noção de responsabilidade técnica e profissional; Ø A “sensação de aprendizado” foi atingida por uma percentagem significativa de alunos; Ø Reuniões para discussão promoveram trocas de experiência, e um excelente “feedback” para o professor; Ø A distribuição livre tende a gerar aumento de público – expandindo a informação e reduzindo custos diretos. BIBLIOGRAFIA e REFERÊNCIAS : Allende, J.C; – Fundamentação psicopedagógica dos meios de ensino. Universidade de Oviedo, Espanha, 1992. Almeida, G.C.P. – Planilhas de cálculo em laboratório de solos: meio de aprendizado e instrumento de trabalho. In: Anais do Simpósio Brasileiro de Aplicações de Informática em Geotecnia INFOGEO. Curitiba, 2001. Almeida, G.C.P, Ferreira, R. S. - Metodologia para o uso de novas mídias no aprendizado geotécnico. In: Anais do IV Congresso de Engenharia Civil, UFJF, Juiz de Fora, 2000. Harb, J.N. , Durrant, S.O., Terry, R.E. Use of Kolb learning cycle and the 4MAT system in: Engeneering Education, Journal of Engeneering Education, pp. 70-77, April 1993. Felder , R. M. - Matters Of Style, ASEE Prism, 6(4), 18-23 (Dezembro 1996). Ferreira, R.S. O vídeo didático como meio de aproximar a teoria geotécnica da prática profissional de engenharia, In: Anais do XXVII COBENGE, CD-ROM, Natal, 1999. Ferreira, R.S. e Vieira, A. Inovações metodológicas no aprendizado dos ensaios de caracterização física dos solos, In. Proceedings of the International Conference In Engineering and Computer Education, São Paulo, Agosto 2000. Kolb, D. A. – Experiential learning: experience as the source of learning and development,Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey, 1984 Mayerhofer, M.A., Brígido, R.V. “Teorias pedagógicas e suas aplicações ao ensino porcomputador”, in Boletim Técnico do SENAC, 18(3): pp.199-226, São Paulo, 1992. Silveira, M. H. – Imagem e Ideologia –V Encontro Ensino de Engenharia, Itaipava,1999.