Revestimentos pré-doseados de gesso André Filipe Correia da Fonseca Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores Prof. Augusto Martins Gomes Prof.ª Ana Paula Patrício Teixeira Ferreira Pinto França de Santana Júri Presidente: Prof. Albano Luís Rebelo da Silva das Neves e Sousa Orientador: Prof.ª Ana Paula Patrício Teixeira Ferreira Pinto França de Santana Vogal: Eng.º João Manuel Bessa Pinto Outubro 2014 i ii Agradecimentos A realização desta dissertação marca o fim de uma importante etapa da minha vida e o início de uma nova jornada. Queria agradecer às seguintes pessoas que contribuíram de forma decisiva para a sua concretização. Aos meus orientadores, Professora Ana Paula Ferreira Pinto e Professor Augusto Martins Gomes, pela disponibilidade, os importantes conselhos transmitidos e uma enorme colaboração na presente dissertação; A todos os profissionais das empresas consultadas, pela cedência de informação, partilha de conhecimentos sobre os seus produtos e reuniões realizadas; No âmbito da pesquisa de mercado efetuada gostaria de agradecer a todas as empresas consultadas sem exceção, merecendo um especial agradecimento à Sival, Placo-Saint Gobain e Topeca por toda a ajuda, contributo, disponibilidade e oferta de amostras dos produtos estudados no contexto da campanha experimental realizada; Reitero o meu especial agradecimento a Eng.ª Ângela de Sousa da Sival pela forma aberta e atenciosa como fui recebido nas respetivas instalações e pela disponibilidade demonstrada para esclarecimento de dúvidas e privilégio de visitar toda a linha de produção e laboratórios. Ao Sr. Leonel, pelo seu contributo fundamental na realização dos trabalhos em laboratório; Aos meus amigos agradeço a força, paciência e amizade ao longo destes anos do curso de Eng.ª Civil; Por último, a toda a minha família um especial agradecimento, com destaque para os meus pais e o meu irmão, pelo apoio e constante motivação neste período e pelo interesse demonstrado ao longo do meu percurso académico; A todos muito obrigado. i Resumo O gesso é um material que devido às suas características vem sendo usado há vários milénios para revestimento de paredes, sendo com naturalidade que surgiram as argamassas pré-doseadas à base de gesso destinadas a revestimentos interiores, devido às inúmeras vantagens que apresenta, nomeadamente, menor custo, maior velocidade de execução, isolamento térmico e acústico e proteção contra incêndios. O mercado nacional apresenta uma grande variedade de argamassas pré-doseadas de gesso para revestimentos. No entanto, a informação relativa à composição do produto é muito sucinta ou nula, em parte devido ao segredo industrial, não permitindo fazer uma comparação entre os produtos existentes. Com o intuito de promover um incremento de conhecimento sobre este tipo de argamassas, realizou-se uma pesquisa no mercado nacional no sentido de inventariar os produtos disponíveis e efetuar uma caracterização das argamassas pré-doseadas à base de gesso para revestimentos em particular no que se refere à sua composição, tempo de aplicação e relação água/gesso. Após a pesquisa e caracterização com base nas informações fornecidas pelos fabricantes, organizou-se uma campanha experimental que incidiu sobre cinco produtos selecionados com base na pesquisa de mercado efetuada. Sendo um ligante de gesso, duas argamassas à base de gesso e duas argamassas à base de gesso para fins especiais. A campanha experimental teve como objetivo a caracterização no estado seco, fresco e endurecido dos produtos selecionados. Foi possível distinguir as argamassas entre si, determinar correlações e estabelecer uma relação entre os diversos tipos de produtos existentes, informação que contribui para o incremento do conhecimento relativo a este tipo de produtos. Palavras-chave: Argamassas pré-doseadas à base de gesso; Pesquisa no mercado nacional; Composição; Caracterização experimental. ii Abstract Gypsum is a material that due to its characteristics has been used for several millennia for coatings, being naturally that appear the premixed gypsum plaster for interior coatings because of the many advantages of these products. They offer, particularly lower cost, greater speed of execution, thermal and acoustic insulation and fire protection. The national market offers a wide variety of premixed gypsum plasters products for coatings. However, the information of the composition of the product is null or very briefly, partly due to commercial secret, not allowing a better comparison between existing products. In order to promote an increase of knowledge about this type of products, carried out a market survey in the national market in order to inventory the products available and make a characterization of premixed gypsum plasters in particular with respect to its composition, application time and water/plaster ratio. After the characterization of the products based on the information obtained by the product technical datasheets, was elaborated an experimental campaign to determine the main characteristics of five products selected in the dry, fresh and hardened state. It was possible to distinguish the products among themselves, establish evidence of the presence of components, determine correlations between the various types of products, information that contributes to the increase of knowledge concerning this type of product. Key-words: Premixed gypsum plasters; market survey; composition; experimental characterization. iii Índice Agradecimentos.......................................................................................................................... i Resumo ......................................................................................................................................ii Abstract ..................................................................................................................................... iii Índice de Figuras ...................................................................................................................... vii Índice de Quadros .....................................................................................................................xi Capítulo 1 – Introdução ................................................................................................................. 1 1.1. Enquadramento e justificação do tema .............................................................................. 1 1.2. Interesse e objetivos do trabalho ....................................................................................... 2 1.3. Organização do trabalho .................................................................................................... 2 Capítulo 2 – Revestimentos pré-doseados à base de gesso ....................................................... 5 2.1. Considerações gerais ......................................................................................................... 5 2.2. Aspetos Históricos .............................................................................................................. 5 2.3. Aplicações do gesso .......................................................................................................... 7 2.4. Gesso natural – Matéria -prima ........................................................................................ 10 2.5. Extração e transporte da pedra de gesso ........................................................................ 12 2.6. Produção de gesso .......................................................................................................... 13 2.6.1. Calcinação ................................................................................................................. 14 2.6.2. Reações de transformação ....................................................................................... 14 2.6.3. Hidratação do gesso ................................................................................................. 16 2.6.4. Propriedades no Estado Fresco ................................................................................ 17 2.7. Materiais constituintes dos revestimentos à base de gesso ............................................ 20 2.8. Revestimento de gesso .................................................................................................... 21 2.9. Principais características dos revestimentos à base de gesso ........................................ 22 2.10. Considerações Finais do Capítulo ................................................................................. 24 Capítulo 3 – Normas no domínio do gesso de construção ......................................................... 27 3.1. Considerações gerais ....................................................................................................... 27 3.2. Enquadramento Normativo anterior à Normalização Europeia ....................................... 27 3.2.1. Listagem das Normas ............................................................................................... 27 3.2.2. Âmbito das normas portuguesas............................................................................... 29 3.3. Atual Enquadramento Normativo ..................................................................................... 31 3.3.1. Normas Europeias ..................................................................................................... 31 3.3.2. Âmbito das normas europeias................................................................................... 32 3.3.3. Classificação e Descrição dos produtos de gesso segundo a EN 13279-1 ............. 33 3.3.4. Requisitos normativos a satisfazer pelos produtos ................................................... 36 3.3.5. Designação normalizada dos produtos ..................................................................... 37 3.3.6. Marcação CE ............................................................................................................. 37 iv 3.4. Análise comparativa entre as normas europeias e as normas anteriores ao atual enquadramento normativo ...................................................................................................... 38 Capítulo 4 – Estudo do Mercado ................................................................................................. 41 4.1. Enquadramento ................................................................................................................ 41 4.2. Metodologia estabelecida para a pesquisa de mercado .................................................. 41 4.3. Análise dos produtos do tipo A ........................................................................................ 43 4.3.1. Classificação segundo EN 13279-1 .......................................................................... 43 4.3.2. Composição............................................................................................................... 44 4.3.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação .............................................................. 44 4.3.4. Características físicas e mecânicas .......................................................................... 46 4.3.5. Informações adicionais .............................................................................................. 46 4.4. Análise dos produtos do tipo B ........................................................................................ 47 4.4.1. Classificação segundo EN 13279-1 .......................................................................... 47 4.4.2.Composição................................................................................................................ 49 4.4.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação .............................................................. 50 4.4.4. Características físicas ............................................................................................... 54 4.4.5. Características mecânicas ........................................................................................ 56 4.4.6. Informações adicionais .............................................................................................. 58 4.5. Análise dos produtos do Tipo C ....................................................................................... 61 4.5.1. Classificação segundo a EN 13279-1 ....................................................................... 61 4.5.2. Composição............................................................................................................... 61 4.5.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação .............................................................. 62 4.5.4. Características físicas e mecânicas .......................................................................... 64 4.5.5. Informações adicionais .............................................................................................. 66 4.6. Análise comparativa entre os produtos das várias tipologias .......................................... 66 4.7. Produtos selecionados para campanha experimental ..................................................... 68 Capítulo 5 – Campanha Experimental ........................................................................................ 69 5.1.Considerações gerais ........................................................................................................ 69 5.2.Descrição dos produtos selecionados .............................................................................. 69 5.3.Plano de ensaios ............................................................................................................... 70 5.4. Produção de pastas e argamassas .................................................................................. 72 5.4.1.Execução das argamassas ........................................................................................ 72 5.4.2.Preparação de provetes normalizados com pasta de gesso ..................................... 73 5.5. Caracterização no estado seco – Metodologias de ensaio ............................................. 75 5.6. Caracterização no estado fresco – Metodologias de ensaio ........................................... 78 5.7. Caracterização no estado endurecido – Metodologias de ensaio ................................... 84 Capítulo 6 – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados ............................................. 93 6.1. Caracterização no estado seco ........................................................................................ 93 v 6.1.1. Análise Granulométrica ............................................................................................. 93 6.1.2. Massa volúmica aparente e humidade ..................................................................... 95 6.2. Caracterização no estado fresco ..................................................................................... 97 6.3. Caracterização no estado endurecido ........................................................................... 102 6.3.1. Caracterização física ............................................................................................... 102 6.3.2. Caracterização mecânica ........................................................................................ 107 6.4.Conclusões Gerais .......................................................................................................... 111 Capítulo 7 – Conclusões e Propostas para Desenvolvimentos Futuros ................................... 115 Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 121 Anexos A (Fichas técnicas) ........................................................................................................ A.1 Tuforte mac-fino (Topeca) ...................................................................................................... A.2 Tuforte FT acabamento (Topeca) .......................................................................................... A.6 Gesso Esboço (Sival) ........................................................................................................... A.10 Gesso Estuque (Sival) .......................................................................................................... A.11 Gesso Estuque Expo (Sival) ................................................................................................ A.12 Gesso Moldura (Sival) .......................................................................................................... A.13 Gesso Estuque Fino (Sival) .................................................................................................. A.14 Turquesa L (Algíss Uralita) ................................................................................................... A.15 Massa de Barramento (Sival) ............................................................................................... A.16 Massa de Acabamento (Sival) ............................................................................................. A.19 Amatista (Algíss Uralita) ....................................................................................................... A.22 Amatista Extra (Algíss Uralita) ............................................................................................. A.23 Azabache (Algíss-Uralita) ..................................................................................................... A.24 Finoyes (La Maruxina) .......................................................................................................... A.25 Termiyes (La Maruxina) ....................................................................................................... A.26 Yeso Fino Terminacion (Yemasa) ........................................................................................ A.27 Yeso Fino (Yemasa) ............................................................................................................. A.28 Yeso Fino Terminacion (Yetosa) .......................................................................................... A.29 Yeso Fino (Yetosa) ............................................................................................................... A.30 Iberfino (Placo Saint-Gobain) ............................................................................................... A.31 Mecafino (Placo Saint-Gobain) ............................................................................................ A.34 vi Índice de Figuras Figura 2.1. Reboco à base de gesso de parede interior, em Çatal Huyuk [s1]. ........................... 5 Figura 2.2. Estatuetas Ain Ghazal, Jordânia (à direita) [s2]. ........................................................ 5 Figura 2.3. Pirâmide de Gizé, no Egipto [s3]. ............................................................................... 6 Figura 2.4. Charola do Convento de Cristo, estuques de gesso (séc.XVI) [s4]. .......................... 6 Figura 2.5. Abóbadas em estuque apainelados, Convento de Mafra [s5]. ................................... 6 Figura 2.6. Revestimento em gesso [s6]. ...................................................................................... 8 Figura 2.7. Placas para revestimento [s7]. .................................................................................... 8 Figura 2.8. Blocos de gesso [s8]. .................................................................................................. 8 Figura 2.9. Placas de gesso cartonado [s9]. ................................................................................. 9 Figura 2.10. Placas de gesso reforçado com sisal [s10]............................................................... 9 Figura 2.11. Elementos decorativos de gesso [s11]. .................................................................... 9 Figura 2.12. a) Alabastro [s12], b) Selenite [s13], c) Espato Acetinado [s14], d) Anidrite [s15]. 11 Figura 2.13. Extração de gesso a céu aberto [s16]. ................................................................... 12 Figura 2.14. Extração de gesso em profundidade através de galerias [s17]. ............................. 12 Figura 2.15. Esquema do processo de produção do gesso. ...................................................... 13 Figura 2.16. Forno tipo marmita horizontal [s18]. ....................................................................... 14 Figura 2.17. Forno Rotativo Tubular [s19]. ................................................................................. 14 Figura 2.18. Curva de hidratação do gesso [Fonte: adaptado de Antunes (1999)]. ................... 17 Figura 2.19. Influência da temperatura da água de amassadura da pasta de gesso na presa do material. [Fonte: adaptado de CLIFTON, (1973)]. .................................................. 19 Figura 2.20. Processo de execução do revestimento por aplicação manual [Fonte: MONICA, et al., 1998]. ................................................................................................................ 21 Figura 2.21. Esquema de aplicação de revestimento de gesso por projeção mecânica [s20]. .. 22 Figura 3.1. Família dos gessos e das pastas à base de gesso para a construção [Fonte: EN 13279-1]. ................................................................................................................. 34 Figura 4.1. Relação água/gesso dos produtos do tipo A (à esquerda); Tempo de presa e utilização dos produtos do tipo A (à direita). ........................................................................... 45 Figura 4.2. Resistência à flexão (MPa) dos produtos do tipo A. ................................................. 46 Figura 4.3. Relação água/gesso dos produtos do tipo B. ........................................................... 53 Figura 4.4. Tempo de utilização dos produtos do tipo B. ............................................................ 53 Figura 4.5. Massa volúmica aparente no estado seco dos produtos do tipo B. ......................... 55 vii Figura 4.6. Resistência à flexão e à compressão (em MPa). ..................................................... 60 Figura 4.7. Dureza (em unidades Shore C). ............................................................................... 60 Figura 4.8. Relação água/gesso dos produtos do tipo C. ........................................................... 63 Figura 4.9. Tempo de utilização dos produtos do tipo C. ........................................................... 63 Figura 4.10. Massa volúmica aparente do produto em pó. ......................................................... 64 Figura 4.11. Resistência à flexão e à compressão (em MPa) dos produtos do tipo C. .............. 65 Figura 4.12. Dureza (em unidades Shore C) dos produtos do tipo C. ........................................ 65 Figura 5.1. Acondicionamento dos sacos dos produtos selecionados no interior de barricas. .. 70 Figura 5.2. Ensaios efetuados no ligante e argamassas à base de gesso no estado seco e fresco. ................................................................................................................................ 71 Figura 5.3. Ensaios efetuados no ligante e nas argamassas à base de gesso no estado endurecido. ............................................................................................................. 72 Figura 5.4. Material e equipamento para preparação das argamassas. .................................... 73 Figura 5.5. Equipamento utilizado e preparação de provetes normalizados. ............................. 74 Figura 5.6. Acondicionamento dos provetes, no interior da câmara seca. ................................. 74 Figura 5.7. Evolução da temperatura ao longo do tempo no interior da câmara condicionada. 75 Figura 5.8. Evolução da humidade relativa ao longo do tempo no interior da câmara condicionada. ................................................................................................................................ 75 Figura 5.9. a)Tabuleiro e gesso em pó, b) balança, c) estufa, d) molde com capacidade de 1dm 3, e) régua, f) g) e h) procedimento de execução. ..................................................... 76 Figura 5.10. a) Tabuleiro com gesso em pó, b) conjunto de peneiros utilizados, c) agitador de peneiros, d) peneiração. ......................................................................................... 76 Figura 5.11. Equipamento para determinação da humidade: a) colher, b) tabuleiro com gesso em pó, c) balança, d) estufa. ........................................................................................ 77 Figura 5.12. Equipamento e preparação da massa volúmica aparente, a) espátula, b) molde com capacidade de 1dm 3. .............................................................................................. 78 Figura 5.13. Determinação da relação água/gesso pelo método de aspersão. ......................... 79 Figura 5.14. Determinação da relação água/gesso pelo método de espalhamento .................. 80 Figura 5.15. Determinação da relação água/gesso pelo método de espalhamento com compactação. .......................................................................................................... 81 Figura 5.16. Determinação do início de presa pelo método da faca. ......................................... 82 Figura 5.17. Determinação do início de presa pelo método do cone de “Vicat”. ........................ 83 viii Figura 5.18. Determinação do princípio de presa e tempo de presa segundo a norma NP 321. ................................................................................................................................ 84 Figura 5.19. Equipamento e material para determinação da massa volúmica no estado endurecido. ............................................................................................................. 85 Figura 5.20. Determinação da capacidade de absorção segundo a norma NP 762 (1969). ..... 86 Figura 5.21. Determinação da absorção de água por capilaridade. ........................................... 87 Figura 5.22. Equipamento (Exsicador) e provetes à pressão. .................................................... 88 Figura 5.23. Determinação da porosidade e massa volúmica aparente (segundo RILEM 1989). ................................................................................................................................ 89 Figura 5.24. Determinação da resistência à flexão. .................................................................... 90 Figura 5.25. Determinação da resistência à compressão. .......................................................... 90 Figura 5.26. Ensaio de determinação da dureza. ....................................................................... 91 Figura 5.27. Determinação da aderência. ................................................................................... 92 Figura 6.1. Curvas granulométricas dos produtos estudados segundo a EN 1015-1 (à esquerda) e a NP 379 (à direita). ............................................................................................ 94 Figura 6.2. Massa volúmica aparente da mistura seca (à esquerda) e humidade dos produtos estudados (à direita). .............................................................................................. 96 Figura 6.3. Massa volúmica aparente. ........................................................................................ 97 Figura 6.4. Água de presa, NP318 (à esquerda) e relação água/gesso, EN 13279 (à direita). . 98 Figura 6.5. Tempo de início de presa (NP 321). ....................................................................... 100 Figura 6.6. Tempos de presa. ................................................................................................... 101 Figura 6.7. Relação entre os tempos de presa obtidos pela NP 321 e EN 13279-2. ............... 102 Figura 6.8. Porosidade aberta (à esquerda) e relação entre a resistência à compressão e a porosidade aberta (à direita), 28 dias. .................................................................. 103 Figura 6.9. Massa volúmica aparente, 28 dias. ........................................................................ 104 Figura 6.10. Relação entre a massa volúmica aparente no estado fresco e no estado endurecido (28dias). ................................................................................................................ 104 Figura 6.11. Absorção de água após imersão durante 10 horas (à esquerda) e relação entre a porosidade aberta e a capacidade absorção de água após imersão durante 10 horas (à direita), após 28dias. ........................................................................................ 105 Figura 6.12. Curvas de absorção de água por capilaridade. .................................................... 106 Figura 6.13. Curvas de absorção de água por capilaridade (0-180 minutos). .......................... 106 Figura 6.14. Resistências à flexão (à esquerda) e resistências à compressão (à direita), aos 7 dias e aos 28 dias. ................................................................................................ 108 ix Figura 6.15. Coeficiente de ductilidade, 28 dias. ...................................................................... 108 Figura 6.16. Resultados dos ensaios de dureza (à esquerda) e de aderência (à direita), aos 7 dias e aos 28 dias de idade .................................................................................. 110 Figura 6.17. Relação dos tempos de presa dos produtos comercializados pelas empresas. .. 112 x Índice de Quadros Quadro 2.1. Principais características físicas da gipsite ............................................................. 10 Quadro 2.2. Composição química teórica dos diferentes tipos químicos do gesso. .................. 13 Quadro 2.3. Diferentes tipos de adjuvantes e respetivas funções.............................................. 20 Quadro 3.1. Classificação do gesso bruto conforme o seu teor em sulfato de cálcio hidratado 29 Quadro 3.2. Apresentação dos resultados diretos da análise .................................................... 30 Quadro 3.3. Conjunto de peneiros .............................................................................................. 31 Quadro 3.4. Tipos de revestimentos correntes com base no gesso (EN 13279-1:2008) ........... 34 Quadro 3.5. Requisito para argamassas à base de gesso [Fonte: EN 13279-1] ....................... 36 Quadro 3.6. Requisitos para argamassas à base de gesso para fins especiais [Fonte: EN 132791] ............................................................................................................................. 36 Quadro 4.1. Produtos do tipo A – Princípio de utilização ........................................................... 44 Quadro 4.2. Produtos do tipo A - Composição e granulometria dos produtos ........................... 44 Quadro 4.3. Produtos do tipo A - Relação água/gesso e tempos de aplicação ......................... 45 Quadro 4.4. Caracterização física e mecânica dos produtos do tipo A ...................................... 46 Quadro 4.5. Informações adicionais............................................................................................ 47 Quadro 4.6. Produtos do Tipo B – Princípio de utilização .......................................................... 47 Quadro 4.7. Produtos do Tipo B-Composição e granulometria dos produtos ............................ 49 Quadro 4.8. Produtos do Tipo B - Relação água/gesso e tempos de utilização ........................ 51 Quadro 4.9. Caracterização física dos produtos do Tipo B ........................................................ 54 Quadro 4.10. Características mecânicas dos produtos do Tipo B .............................................. 56 Quadro 4.11. Informações adicionais ......................................................................................... 58 Quadro 4.12. Produtos do Tipo C – Princípio de utilização ........................................................ 61 Quadro 4.13. Produtos do Tipo C - Composição e granulometria dos produtos ........................ 61 Quadro 4.14. Produtos do Tipo C - Relação água/gesso e tempos de aplicação ...................... 62 Quadro 4.15. Características físicas e mecânicas dos produtos do tipo C ................................ 64 Quadro 4.16. Informações adicionais ......................................................................................... 66 Quadro 5.1. Designação adotada, tipologia e algumas características dos produtos selecionados para caracterização experimental. .......................................................................... 69 Quadro 5.2. Série de peneiros utilizados na determinação granulométrica ............................... 77 Quadro 6.1. Produtos selecionados para caracterização experimental ..................................... 93 xi Quadro 6.2. Análise Granulométrica - EN 1015-1 ...................................................................... 93 Quadro 6.3. Análise granulométrica - NP 379 ............................................................................ 94 Quadro 6.4. Valores de massa volúmica aparente (NP EN 1097-3) e da humidade (NP 319) dos produtos no estado seco ........................................................................................ 96 Quadro 6.5. Resultados da massa volúmica aparente, da água de presa e da relação água/gesso para os produtos estudados ................................................................................... 97 Quadro 6.6. Resultados dos ensaios de caracterização no estado fresco – tempo de início de presa e tempo de presa ........................................................................................ 100 Quadro 6.7. Resultados dos ensaios de determinação da massa volúmica aparente e real no estado endurecido e da porosidade aberta .......................................................... 103 Quadro 6.8. Resultado da capacidade de absorção de água (NP 762) e de absorção de água por capilaridade (EN 1015-18) .................................................................................... 105 Quadro 6.9. Resultados dos ensaios de flexão e de compressão (EN 13279-2) ..................... 107 Quadro 6.10. Resistência à flexão e à compressão – Resultados experimental, ficha técnica e valor normativo ..................................................................................................... 109 Quadro 6.11. Valores dos ensaios de dureza (EN 13279-2) e aderência (EN 13279-2) ......... 110 xii Capítulo 1 – Introdução 1.1. Enquadramento e justificação do tema Na construção civil a utilização de produtos pré-doseados à base de gesso na execução de revestimentos interiores é muito comum devido às inúmeras vantagens que estes produtos apresentam. Como vantagens da utilização destes produtos industriais na execução de revestimentos pode referir-se: menor custo; melhores características de revestimento associado à menor variabilidade das suas propriedades; maior velocidade de execução; menor necessidade de pessoal especializado nomeadamente no que se refere a conhecimentos de composição das várias camadas de revestimento. Um dos problemas que se verifica em obra é a utilização deste tipo de produto sem qualquer apoio em conhecimentos científicos, havendo por vezes diferenças entre o definido nas indicações das embalagens dos produtos relativamente à relação água/gesso e à realmente utilizada em obra. Têm-se verificado alguns problemas no comportamento de revestimentos produzidos com este tipo de materiais, sobretudo o surgimento de bolores e destacamentos. Ao nível da produção, as argamassas estão associadas a tecnologias de produção tradicionais ou industriais. Nos últimos anos assistiu-se a uma crescente utilização de argamassas industriais, devido às inúmeras vantagens que possibilitam. Contrariamente às argamassas tradicionais, é assegurado um controlo de qualidade no fabrico das argamassas, para além de que a composição é estudada visando a obtenção das propriedades que se pretendem para os produtos. São também bastante vantajosas na medida que propiciam uma redução do desperdício de material no estaleiro e consequentemente uma melhor organização do estaleiro. Para o estudo de argamassas de revestimento em condições de serviço, é essencial analisar os materiais constituintes das argamassas, as suas exigências e características para dar resposta às necessidades de desempenho previstas. Esta prática é relativa a quaisquer que sejam as argamassas ou características de desempenho em estudo. Sendo neste âmbito que se insere este trabalho de investigação, pretendendo-se acrescentar conhecimento ao que se possui atualmente sobre os produtos pré-doseados à base de gesso, focando a análise em argamassas pré-doseadas as quais se inserem no grupo das argamassas industriais. Sendo as argamassas pré-doseadas à base de gesso um produto industrial, os fabricantes optam por não revelar a maioria dos constituintes presentes na composição dos seus produtos, mantendo a composição dos produtos em segredo industrial. As informações referentes às características e propriedades, disponibilizadas nas fichas técnicas e de desempenho são também elas muito escassas, tornando-se assim difícil ter um conhecimento 1 técnico sobre as reais características destes produtos pré-doseados para execução de revestimentos. A dissertação consiste na realização de um trabalho de síntese sobre os gessos e os produtos pré-doseados de gesso para revestimentos, com vista à intervenção dos produtos disponíveis no mercado incluindo um resumo e análise das suas características. Por fim, procurar-se-á avaliar experimentalmente as principais propriedades e características físicas e mecânicas de alguns produtos selecionados com base na pesquisa de mercado efetuada. 1.2. Interesse e objetivos do trabalho A presente dissertação visa aprofundar o conhecimento sobre as características de desempenho do gesso e dos revestimentos pré-doseados de gesso para execução de revestimentos de paredes. Numa primeira fase o estudo vai ser baseado na análise das propriedades e características dos produtos identificados através de um levantamento realizado no mercado nacional. Numa segunda fase realizaram-se ensaios laboratoriais, onde se pretendeu avaliar os resultados individuais das características dos produtos no estado seco, fresco e endurecido e estabelecer correlações entre os parâmetros medidos. Os principais objetivos da dissertação foram: elaborar um documento de síntese sobre o gesso e os revestimentos pré-doseados de gesso para execução de revestimentos de paredes; fazer um levantamento dos produtos comerciais disponíveis no mercado nacional; caracterizar experimentalmente as principais propriedades de alguns produtos selecionados (gesso e produtos pré-doseados de gesso para revestimentos). 1.3. Organização do trabalho Este trabalho encontra-se organizado em sete capítulos: introdução, história do gesso, normalização, estudo de mercado, campanha experimental, apresentação e discussão dos resultados e, por fim, as conclusões e propostas para desenvolvimentos futuros. Dessa forma, em termos de objetivos principais, o trabalho encontra-se dividido em duas partes. A primeira parte aborda os aspetos relacionados com a normalização e a pesquisa de mercado e na segunda parte são avaliados experimentalmente as principais propriedades do gesso e produtos pré-doseados de gesso para revestimento que foram selecionados com base na pesquisa de mercado efetuada. No capítulo 1 apresenta-se um enquadramento ao tema da dissertação, descrevem- se os objetivos a alcançar, a metodologia de investigação a desenvolver e o modo como o trabalho se encontra estruturado e organizado. 2 No capítulo 2, com base na pesquisa bibliográfica efetuada, aborda-se sumariamente a evolução histórica dos gessos e dos revestimentos de gesso, o seu método de fabrico, produção e as propriedades dos revestimentos executados à base de gesso. Os produtos que são analisadas na presente dissertação, estão sujeitos a normalização dado o seu carácter industrial. No capítulo 3, aborda-se este aspeto analisando-se as normas Europeias e as anteriores. Analisa-se com detalhe a EN 13279-1:2008, que regula a atividade fabril deste tipo de argamassas (produtos), nomeadamente no que se refere à definição dos requisitos necessários para que estas argamassas possam ser colocadas no mercado nacional e no espaço comunitário europeu. No capítulo 4 procede-se à apresentação organizada da informação recolhida no estudo de mercado efetuada para que posteriormente seja analisada. No capítulo 5 descreve-se a atividade experimental a desenvolver em laboratório. Inicialmente, são caracterizados os produtos a ensaiar e é sintetizado um plano de ensaios. Descrevem-se os procedimentos laboratoriais de caracterização das pastas e argamassas no estado seco, no estado fresco e no estado endurecido, bem como o modo de cálculo dos parâmetros característicos de cada ensaio. Complementando o capítulo 5, no qual genericamente se apresentou a metodologia de ensaio preconizada e forma de análise e tratamento de dados, o capítulo 6 apresenta os resultados obtidos sob a forma de quadros e gráficos, a partir dos quais são analisados e discutidos, estabelecendo-se uma análise crítica dos mesmos. A análise de resultados decorre da comparação das características dos produtos de gesso em estudo, entre os valores obtidos e os valores fornecidos nas fichas técnicas, e, quando oportuno, da comparação qualitativa com outros resultados de campanhas experimentais desenvolvidas em condições aproximadas idênticas mas sobre gessos tradicionais, no sentido de melhor enquadrar os valores obtidos, mas também possibilitar uma avaliação mais eficaz deste tipo de gessos enquanto soluções para revestimentos interiores. O capítulo 7 inclui as conclusões do trabalho desenvolvido com vista a dar resposta aos objetivos propostos. São também apresentadas propostas para desenvolvimentos futuros que se considera relevante aprofundar em complementaridade do estudo realizado. Por fim, apresentam-se as referências bibliográficas utilizadas no desenvolvimento deste trabalho e em anexo apresentam-se algumas fichas técnicas dos materiais analisados no âmbito do estudo de mercado efetuado. 3 4 Capítulo 2 – Revestimentos pré-doseados à base de gesso 2.1. Considerações gerais O presente capítulo faz uma revisão bibliográfica sobre o gesso abordando os aspetos históricos e geológicos do gesso, os processos de extração e produção e ainda os métodos de execução e principais características dos revestimentos à base de gesso. O gesso é um material que, devido às suas características, existe há vários milénios, é fácil de aplicar e tem características que lhe garante um papel determinante no âmbito de uma construção mais sustentável sendo visto pelas construtoras como um material alternativo de qualidade e de baixo custo para ser aplicado nos revestimentos interiores. Segundo Dana e Linhales a denominação gesso provém do grego gypsos, termo aplicado ao mineral calcinado, enquanto a designação gipsita é mais adequada ao mineral em seu estado natural (DANA, 1969; LINHALES, 2003). Em Portugal o gesso é utilizado como camada de acabamento de revestimentos interiores de paredes. Nos revestimentos tradicionais de gesso, de espessura fina, utiliza-se normalmente agregados muito finos. A cal é adicionada quando se pretende retardar a presa (MALTA DA SILVEIRA et al., 2007). 2.2. Aspetos Históricos A idade apresentada por alguns dos materiais de construção é surpreendente, o gesso encontra-se entre os materiais de construção mais antigos conhecidos pelo Homem. Segundo Gourdin e Kingery (1975) o gesso é utilizado como material de construção desde o período neolítico. O reboco à base de gesso na parede interior encontrado na cidade de Çatal Huyuk, (Anatólia, Turquia) é a evidência mais antiga de gesso e estima-se que tenha aproximadamente 9000 anos, Figura 2.1. O gesso foi também identificado em representações de figuras de gesso na Jordânia, em estatuetas Ain Ghazal, datadas de cerca de 6000 a.C., Figura 2.2. Figura 2.1. Reboco à base de gesso de parede interior, em Çatal Huyuk [s1]. Figura 2.2. Estatuetas Ain Ghazal, Jordânia (à direita) [s2]. 5 Foi descoberta a presença de gesso nas juntas de assentamento dos blocos de calcário das Pirâmides de Gizé (Figura 2.3), no Egipto, erguida por Quéops, no ano 2800 a.C.. (GOURDIN; KINGERY, 1975). Figura 2.3. Pirâmide de Gizé, no Egipto [s3]. A disseminação da utilização do gesso em processos construtivos na Europa ocorreu entre o século XII e XVIII. Inicialmente o gesso foi empregue na produção de argamassas, na colocação de painéis de madeira, no revestimento de paredes e também na construção de chaminés monumentais. Segundo Silveira, Veiga e Brito (2007) encontra-se nas construções mais antigas em Portugal evidências da presença de argamassas de gesso. Os exemplos mais antigos de trabalhos à base de gesso, em Portugal remontam à época romana, destacando-se os estuques de gesso decorativos no Convento de Cristo em Tomar, Figura 2.4 e a utilização de gesso na execução de coberturas com abóbadas de estuques apainelados no Convento de Mafra, Figura 2.5. Figura 2.4. Charola do Convento de Cristo, estuques de gesso (séc.XVI) [s4]. 6 Figura 2.5. Abóbadas em estuque apainelados, Convento de Mafra [s5]. No século XVIII ocorreu a difusão da utilização do gesso como material de construção na Europa onde a região parisiense teve um grande destaque uma vez que se encontrava sobre um veio de gesso de elevada pureza. Tornou-se assim numa fonte da matéria – prima com o material a passar a ser conhecido como gesso paris ou “plaster of Paris” (CINCOTTO; AGOPYAN; FLORINDO, 1988). Segundo os mesmos autores a melhoria da qualidade do gesso e a descoberta de novas aplicações só foi conseguida a partir do século XX como resultado do desenvolvimento industrial e evolução tecnológica. Em 1960, surgiu no mercado o primeiro gesso aplicado à mão fornecido na forma de argamassa seca, e pouco tempo depois, a primeira máquina de utilizar argamassas secas com base em gesso, uma bomba de mistura contínua que veio facilitar e acelerar a execução de acabamento de gesso. Atualmente, o gesso é considerado um material com grande potencial de utilização, pois é um material reciclável e de baixo consumo energético. Satisfaz o contexto social atual que incentiva a procura de materiais que minimizem o uso de recursos naturais e consumam pouco combustível na sua produção. Informações sobre gesso e suas aplicações podem ser encontradas em praticamente todas as civilizações antigas da humanidade. Na cidade de Jericó (6000 a.C.), nos escritos cuneiformes dos sumérios (de cerca de 2800 a.C.) e dos babilónios (cerca de 1830 a.C.). O “Tratado da Pedra”, redigido por volta do ano 300 a.C. pelo filósofo Theosfraste, discípulo de Platão e Aristóteles é o documento mais antigo relativo à extração da gipsita e produção do gesso e indicava que o gesso era utilizado como argamassa para a ornamentação e na confeção de estátuas (ANGELERI; CARDOSO; SANTOS, 1982 in PINHEIRO 2011). No final do século XVIII início do século XIX começaram a surgir os primeiros estudos científicos relacionados com o gesso, destacando-se o estudo sobre os fenómenos relacionados à origem da preparação do gesso, de Lavoisier (1768), e a explicação científica sobre a desidratação do mineral pedra de gesso (gipsita) e a hidratação do gesso, dos químicos Van’t Hoff e Le Chatelier (1878) (LE PLÂTRE, 1982 in MUNHOZ 2008). Com o incremento dos conhecimentos científicos dos materiais e da evolução dos equipamentos, a indústria de gesso está focada em descobrir novas utilizações e aplicações para o gesso. Novas soluções com incorporação de gesso ocorrem na área de proteção térmica e acústica, eficiência energética e tecnologia de aquecimento avançada. 2.3. Aplicações do gesso O gesso é um produto que devido às suas características e propriedades encontra múltiplas aplicações tanto na construção quer como matéria-prima de outras indústrias. 7 Uma das principais consumidoras de gipsita é a indústria cimenteira que a adiciona ao cimento Portland na etapa de moagem do clínquer para evitar presa instantânea do aluminato tricálcico durante a fase de hidratação do cimento. Na construção civil é utilizado gesso proveniente de jazidas onde a gipsita contenha um grau de pureza superior a 75% (DOMINGUEZ, SANTOS, 2001 in BALTAR, BASTOS, LUZ 2005). Os produtos de gesso contribuem de forma significativa para o conforto interior das habitações dadas, as suas propriedades térmicas e acústicas. Devido ao baixo custo a sua procura tem aumentado, tendo-se descoberto novas formas de aplicação. Indicam-se seguidamente as principais aplicações do gesso. Revestimentos de paredes e de tetos interiores por recurso à aplicação de estuques e argamassas formuladas com gesso, destacando-se a capacidade do gesso aderir a vários tipos de substratos e rápido endurecimento, Figura 2.6. As placas para revestimento são utilizadas para a execução de revestimentos e rebaixamentos de tetos na construção civil, Figura 2.7. Figura 2.6. Revestimento em gesso [s6]. Figura 2.7. Placas para revestimento [s7]. Blocos de gesso que são elementos de vedação vertical, utilizados para a execução de paredes e divisórias interiores nos edifícios, Figura 2.5. Figura 2.8. Blocos de gesso [s8]. 8 Produção de placas de gesso cartonado destinadas quer à execução de divisórias que substituem a tradicional alvenaria de tijolo cerâmico, quer ao revestimento de tetos falsos. A utilização de placas de gesso cartonado é responsável por sistemas construtivos de rápida execução. As placas são compostas por gesso prensado entre duas folhas de cartão, Figura 2.9. Placas de estafe que são placas de gesso planas reforçadas com fasquias de madeira e fibras vegetais (sisal), Figura 2.10. Figura 2.9. Placas de gesso cartonado [s9]. Figura 2.10. Placas de gesso reforçado com sisal [s10]. Execução de ornamentos e elementos de decoração em paredes e tetos (molduras, rosáceas, e outros elementos), Figura 2.11. Construção de modelos reduzidos para efeitos de investigação experimental. Figura 2.11. Elementos decorativos de gesso [s11]. Além da construção civil, o gesso é utilizado em diversos sectores. Na agricultura atua como agente corretivo e condicionador de solos agrícolas, sendo excelente fonte de cálcio e enxofre. (SUMNER, 1995). Aplicado na medicina (área de traumatologia e odontologia), na indústria farmacêutica (como desinfetante e como matéria-prima de muitos medicamentos) e na indústria alimentar (utilizado no acondicionamento de água para fabricação de cerveja e na limpeza de vinhos). O 9 gesso é ainda utilizado para aplicação de tintas, no fabrico de objetos de adorno, para cerâmica e para esculturas. 2.4. Gesso natural – Matéria -prima A pedra de gesso também conhecida como gipsita, é uma rocha sedimentar, constituída por sulfato de cálcio di-hidratado cuja fórmula química é CaSO4.2H2O, que geralmente ocorre associado à anidrita, sulfato de cálcio anidro CaSO4 (Ralph,2005). O gesso é o termo genérico de uma família de aglomerantes simples, que demonstra grande afinidade com a água e que endurece ao ar tratando-se assim de um ligante hidrófilo aéreo ou não hidráulico, bastante conhecido e largamente utilizado desde a antiguidade, sobretudo em países de clima seco (Martins, et al., 2010 in LOPES, 2012). No Quadro 2.1. estão presentes as principais características físicas da gipsita. Quadro 2.1. Principais características físicas da gipsite Propriedades físicas Característica Variável, podendo ser incolor, branca, cinza e outras Cor (dependendo das impurezas) Brilho Vítreo, nascarado ou sedoso Dureza (Escala de Mohs) Densidade (g/cm3) Hábito 2 2,3 Prismático Clivagem Em quatro direções Morfologia e tamanho dos cristais Varia de acordo com as condições e ambientes de formação Fonte: Baltar et al. (2005). A pedra de gesso pode-se apresentar de diversas formas sendo a mais conhecida a denominada de alabastro, que apresenta grão fino e cor branca ou clara, além desta existe ainda a selenite, o espato acetinado e a anidrite, Figura 2.12. a) b) 10 c) d) Figura 2.12. a) Alabastro [s12], b) Selenite [s13], c) Espato Acetinado [s14], d) Anidrite [s15]. Depósitos Naturais de pedra de gesso O gesso resulta do processamento da gipsita formada em depósitos evaporíticos naturais originados de antigos oceanos. Os depósitos contêm evaporitos que são constituídos principalmente, pelo sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O), e apresenta alguns contaminantes (a anidrita, a argila, o quartzo, os carbonatos de cálcio e magnésio, os cloretos e outras formas de sulfatos) responsáveis pelas diferenças na pureza da cor e da textura. As jazidas de gesso podem ser encontradas por todo o mundo destacando-se as jazidas de Marrocos e da Tunísia, bem como as do Canadá, Brasil, França, Japão, Irão, Estados Unidos e Península Ibérica. Em Portugal, encontram-se pequenos depósitos de gipsita em Soure, Monte Redondo, Óbidos, Caldas da Rainha, Sesimbra e Loulé (CARVALHO, 2002). Devido aos contaminantes presentes nos depósitos de gipsita, em Portugal, o gesso apresenta reduzida qualidade. O gesso extraído em Portugal é pouco indicado para trabalhos de estuque, sendo necessário importar gesso de Espanha e do Norte de África para responder à procura do mercado. Grande parte do gesso extraído em Portugal é utilizado na indústria cimenteira e na fabricação de placas de gesso laminado. (VELHO, et al., 1998). Segundo os dados da U.S. Geological Survey durante o ano de 2012, a produção mundial de gipsita foi de 150 milhões de toneladas, refletindo uma pequena elevação em relação ao ano de 2011. A China foi o país que mais produziu gipsita com um total de aproximadamente 48 milhões de toneladas (U.S.G.S. 2013). Fontes alternativas de gesso Ao longo dos últimos anos, surgiu a necessidade de procurar processos alternativos de produção de gesso, no sentido de diminuir o impacto ambiental resultante da exploração da gipsita natural. Nesse sentido, o gesso sintético e a reciclagem de resíduos gerados durante a execução dos revestimentos, apresentam-se como fontes alternativas, de matéria-prima. 11 O gesso sintético é o produto que resulta de processos industriais do fabrico de ácidos (fosfogesso, fluorgesso, borogesso), e da dessulfurização dos gases de combustão (FGD – flue gas desulfurisation ou sulfogesso) (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). O gesso reciclado é resultante do reaproveitamento do resíduo gerado durante a execução do revestimento de gesso, na própria obra e da reciclagem do resíduo resultante do processo de demolição. A vantagem do reaproveitamento e da reciclagem destes resíduos é que eles contribuem para a diminuição da exploração de jazidas naturais de gesso (CANUT, 2006). Por enquanto ainda não é possível substituir totalmente a matéria-prima natural, por estas fontes de matéria-prima secundárias. 2.5. Extração e transporte da pedra de gesso A pedra de gesso pode ser encontrada à superfície ou em profundidade e extrai-se utilizando métodos e equipamentos convencionais. O processo de extração da gipsita pode ocorrer a céu aberto (Fig. 2.13) caso os depósitos de gesso se encontrem a pouca profundidade e coberto com uma pequena camada de terreno (vegetal ou sedimentar), ou em profundidade através de galerias (Fig. 2.14) caso as jazidas de gesso estejam cobertas por uma grossa camada de terreno sedimentar e que não seja economicamente viável ou não convenha a sua remoção. A extração a céu aberto é mais segura e económica permitindo obter o gesso a preços concorrenciais, enquanto a extração em profundidade é preferencialmente praticada no caso de as pedreiras estarem perto das fábricas de produção de gesso. Figura 2.13. Extração de gesso a céu aberto [s16]. Figura 2.14. Extração de gesso em profundidade através de galerias [s17]. O transporte da pedra de gesso depende da distância que separa a pedreira da fábrica. No caso da fábrica se encontrar instalada na vizinhança da pedreira a pedra pode ser triturada e o transporte pode ser feito por tela transportadora até os silos de armazenagem. Já se a fábrica de gesso se situar longe da pedreira o transporte da gipsita é feito por via marítima, via-férrea ou rodoviária com os blocos a terem um diâmetro de aproximadamente 60 cm. 12 2.6. Produção de gesso O gesso como material de construção resulta do processo de calcinação da gipsita natural ou do gesso residual, em fornos industriais, com temperaturas próximas dos 180 °C. Enquanto produto calcinado, o gesso apresenta na sua constituição sulfato de cálcio hemihidratado (CaSO4.0,5H2O), anidritas solúveis e insolúveis (CaSO4) e sulfato de cálcio dihidratado (CaSO4.2H2O). No Quadro 2.2 apresenta-se a sua composição química teórica. A percentagem de cada um dos constituintes é mantida sob segredo industrial e são adaptadas em função das propriedades pretendidas pelos fabricantes durante o processo de produção (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). Quadro 2.2. Composição química teórica dos diferentes tipos químicos do gesso. Composição (%) Sulfatos Fórmula Massa molecular (g) Relação CaO/SO3 H2O CaO SO3 Anidrita CaSO4 136,14 0 41,19 58,81 0,7 CaSO4.0,5H2O 145,15 6,20 38,63 55,15 0,7 Hemidrato CaSO4.0,66H2O 148,02 8,03 37,88 54,08 0,7 Gipsita CaSO4.2H2O 172,17 20,99 32,57 46,5 0,7 Fonte: JOHN; CINCOTTO (2007). O processo de produção do gesso, a partir da utilização da gipsita natural, é constituído pelas seguintes etapas: extração e preparação da matéria-prima; calcinação; pulverização; armazenamento em silo; e acondicionamento, Figura 2.15. extração e preparação da matéria-prima • Após a extracção, os blocos de gipsita são britados e moídos até se obter a granulometria necessária para o forno de calcinação. A gipsita é reduzida a tamanhos que não ultrapassam os vinte e cinco milímetros, através da utilização de moinhos de impacto e de mandíbulas, muito eficazes com este tipo de rocha. É efetuado o peneiramento do minério para garantir a homogeneização do tamanho das partículas e uma maior regularidade no processo industrial de produção. Antes de proceder-se à calcinação é realizada uma secagem para retirar a humidade existente. calcinação • O processo de calcinação envolve a desidratação do minério, por meio do aquecimento da matéria-prima em fornos, sendo o tipo de forno e a temperatura a que o forno se encontra uma escolha dos fabricantes em função das características que pretendem para os seus produtos. pulverização e armazenamento em silo • O gesso resultante do processo de calcinação volta ser moído para adquirir a granulometria adequada à sua utilização. • Em seguida, é armazenado em silo, com o intuito de estabilizar os seus constituintes (hemi-hidratos e anidritos), tornando o material homogéneo. acondicionamento • O material resultante da etapa de pulverização é selecionado em frações granulométricas e classificado de acordo com o tempo de presa, e embalado em sacos de papel “Kraft”, big-bags ou silos de acordo com as normas EN 13279-1:2008. As embalagens devem ser estanques, de forma a proteger o material da humidade ambiente. Figura 2.15. Esquema do processo de produção do gesso. 13 2.6.1. Calcinação A calcinação da gipsita é um processo que consiste, na desidratação térmica do sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O), por meio de aquecimento para se obter sulfato de cálcio hemi-hidratado e anidritas solúveis ou insolúveis. O processo de calcinação da gipsita pode ocorrer por via húmida ou por via seca, em função do destino que se pretende atribuir à pedra de gesso, conforme se descreve seguidamente. O processo efetuado por via húmida ocorre em autoclaves, onde o ambiente se encontra sob pressão de vapor de água saturado. Por este processo obtém-se o hemi-hidrato α (gesso tipo α), que é usado em moldes de precisão e na odontologia. O gesso usado como material de construção resulta da calcinação realizada por via seca, utilizando fornos de aquecimento directo e indirecto, dos tipos: panela, marmita (Figura 2.16) rotativo tubular (Fig.2.17), tubular paralelo e barriga quente onde se obtém o hemi-hidrato β (gesso tipo β) (SANTANA, 2008). Figura 2.16. Forno tipo marmita horizontal [s18]. Figura 2.17. Forno Rotativo Tubular [s19]. 2.6.2. Reações de transformação É nos fornos de calcinação que ocorrem as reações de transformação do minério de gipsita que consistem na perda de até ¾ das moléculas de água do sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O), obtendo-se assim sulfatos de cálcio hemi-hidratado e anidrita (III, II e I) (CINCOTTO; AGOPYAN; FLORINDO, 1998 a). É também nesta fase que as empresas se diferenciam umas das outras, no sentido de desenvolver um produto diferenciado. Para isso regulam a temperatura, quantidade de ligantes e controlam as diferentes fases cristalinas, onde as mais comuns são: a gipsita, as duas formas polimórficas do hemi-hidrato (α e β), a anidrita do tipo III solúvel, a anidrita do tipo II insolúvel e a anidrita do tipo I, também denominada anidrita – α (ANGELERI; CARDOSO; SANTOS, 1983 a in JÚNIOR 2008). Seguidamente apresentam-se as reações de transformação do minério de gipsita (sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O)) que podem ocorrer em função do aumento de 14 temperatura, assim como as diferentes espécies químicas de sulfato de cálcio que podem ser obtidas no processo. a) Gipsita, Di-hidrato de sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O) Conforme apresentado na equação 2.1 a gipsita, também designada de gesso cru, é a forma di-hidratada do sulfato de cálcio (CaSO4.2H2O). Quando se aumenta a temperatura até 100 °C ocorre a libertação da água livre existente no material (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). 𝑎𝑡é 100º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 . 2𝐻2 𝑂 + 𝐻2 𝑂 → 𝑔𝑖𝑝𝑠𝑖𝑡𝑎 ∆ 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 . 2𝐻2 𝑂 + 𝐻2 𝑂𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 (Equação 2.1) 𝑔𝑖𝑝𝑠𝑖𝑡𝑎 b) Hemi-hidrato de Sulfato de Cálcio (CaSO4.1/2H2O) A equação 2.2 corresponde à reação de transformação da gipsita em hemi-hidrato de sulfato de cálcio, de fórmula CaSO4.0,5H2O. Esta reação ocorre a temperaturas superiores a 150ºC para fins comercias (mesmo sabendo que o início da reação se inicia a temperatura inferiores) e obtém-se como sub-produtos os hemi-hidratos α e β (SCHROEDER, 1970 in ABREU, 2005). 140º𝐶 𝑎 160º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2 𝑂 → ⏟ 𝑔𝑖𝑝𝑠𝑖𝑡𝑎 ∆ 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 0,5𝐻2 𝑂 + 1,5𝐻2 𝑂𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 ⏟ (Equação 2.2) ℎ𝑒𝑚𝑖−ℎ𝑖𝑑𝑟𝑎𝑡𝑜 Consoante o processo de fabrico, pode-se formar hemi-hidratos (α e β) que são de difícil diferenciação experimental (ANGELERI; CARDOSO; SANTOS, 1983a in JÚNIOR 2008). As duas formas polimórficas do hemi-hidrato diferenciam-se principalmente no ambiente em que são produzidos. O hemi-hidrato-α é resultado de um libertação mais lenta da água de cristalização e uma maior uniformidade na desidratação em ambiente sob pressão de vapor de água, saturado (em autoclaves), enquanto o hemi-hidrato-β é obtido pelo processo de via seca onde ocorre uma rápida libertação da água de cristalização formando de cristais irregulares, fraturados e porosos. c) Anidrita III (CaSO4) Continuando o aumento da temperatura no forno de calcinação, no intervalo entre 160ºC e 190ºC obtém-se a anidrita III, ou anidrita solúvel, resultante da desidratação do hemi-hidrato de sulfato de cálcio. À semelhança do hemi-hidrato, a anidrita também pode ocorrer em formas polimórficas α e β – anidrite III. Nas equações 2.3 e 2.4, apresenta-se as reações de transformação a partir do hemi-hidrato e da gipsita, respetivamente. A fórmula CaSO4.εH2O indica que é constituído por um teor pequeno de água de cristalização, onde ε varia entre 0,06 e 0,11 tornando-o num material reativo e voraz por água que reage com a própria humidade do ar (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). 15 160º𝐶 𝑎 190º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 0,5𝐻2 𝑂 → ⏟ ℎ𝑒𝑚𝑖−ℎ𝑖𝑑𝑟𝑎𝑡𝑜 ∆ 𝑔𝑖𝑝𝑠𝑖𝑡𝑎 (Equação 2.3) 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼𝐼𝐼 160º𝐶 𝑎 190º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 . 2𝐻2 𝑂 → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 𝜀𝐻2 𝑂 + (0,5 − 𝜀)𝐻2 𝑂𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 ⏟ ∆ 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 . 𝜀𝐻2 𝑂 + (2 − 𝜀)𝐻2 𝑂𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 (Equação 2.4) 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼𝐼𝐼 d) Anidrita II (CaSO4) Na equação 2.5 está representada a reação de transformação da anidrita III em anidrita II (CaSO4), ou anidrita insolúvel. Esta reação ocorre para temperaturas próximas de 220 °C para hemi-hidrato-α ou 350 °C para hemi-hidrato-β que é o gesso utilizado na construção (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). 220º𝐶 𝑎 350º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 𝜀𝐻2 𝑂 → ⏟ ∆ 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼𝐼𝐼 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 + 𝜀𝐻2 𝑂𝑣𝑎𝑝𝑜𝑟 (Equação 2.5) 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼𝐼 Caso se prolongue o aumento da temperatura no forno obtém-se anidrita supercalcinada para temperaturas superiores a 350 °C e “anidrita calcinada à morte” para temperaturas entre os 700 °C e os 800 °C. Ambas são conhecidas pela baixa reatividade levando muito tempo a hidratarem-se, sendo adicionadas ao gesso para aumentar o tempo de presa. e) Anidrita I (CaSO4) As últimas reações de transformação que podem ocorrer nos fornos de calcinação ocorrem a temperaturas superiores a 800 °C. Correspondem à formação da anidrita I (CaSO4) ou à decomposição da anidrita I em óxido de cálcio e anidro sulfúrico (MUNHOZ 2008). As reações encontram-se representadas nas equações 2.6 e 2.7, respetivamente. 800º𝐶 𝑎 1230º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 → 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼𝐼 >1230º𝐶 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 → 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼 ∆ ∆ 𝐶𝑎𝑆𝑂 ⏟ 4 (Equação 2.6) 𝑎𝑛𝑖𝑑𝑟𝑖𝑡𝑎 𝐼 𝐶𝑎𝑂 + 𝑆𝑂2 + 0,5𝑂2 (Equação 2.7) 2.6.3. Hidratação do gesso O processo de hidratação do gesso corresponde à mistura do hemi-hidrato de sulfato de cálcio (CaSO4.0,5H2O) com água, dando novamente origem ao sulfato de cálcio di-hidratado (CaSO4.2H2O). É produzida uma pasta homogénea, que rapidamente, adquire a plasticidade e que vai solidificando, até o seu endurecimento. A equação 2.8 representa a reação de hidratação. 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 0,5𝐻2 𝑂 + 𝐻2 𝑂 → 𝐶𝑎𝑆𝑂4 . 2𝐻2 𝑂 + 𝐶𝑎𝑙𝑜𝑟 16 (Equação 2.8) A reação química do gesso com a água é uma reação exotérmica, como se pode verificar pela equação 2.8, onde ocorre a formação do sulfato de cálcio di-hidratado e a libertação de calor. É através do estudo do calor que é libertado que se têm desenvolvido curvas de hidratação do gesso para perceber melhor o tempo disponível para aplicação da pasta de gesso. O modelo teórico da curva de hidratação das pastas de gesso e as etapas da cinética da reação de hidratação (Antunes, 1999), estão representadas na Figura 2.18, a hidratação da pasta de gesso é apresentada em três etapas. A primeira etapa corresponde ao período de indução onde as partículas do hemi-hidrato se juntam com a água. A segunda etapa corresponde ao tempo útil estimado e é caracterizado pela rápida elevação da temperatura. A terceira representa o parte fim da reação da hidratação e consequentemente corresponde ao fim de presa, período a partir do qual deixa de ser possível utilizar a pasta de gesso por já se endurecida. encontrar Figura 2.18. Curva de hidratação do gesso [Fonte: adaptado de Antunes (1999)]. A hidratação do gesso depende das frações dos seus constituintes, da relação água/gesso, do grau de agitação da pasta, da temperatura da água de amassadura, da presença de impurezas, da presença de adjuvantes e da distribuição granulométrica das partículas (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). 2.6.4. Propriedades no Estado Fresco Durante a hidratação da pasta de gesso são, geralmente, observadas as características de trabalhabilidade, o tempo de presa e a variação dimensional das pastas. Trabalhabilidade da Pasta de Gesso A trabalhabilidade é uma das características mais importantes das pastas e argamassas de gesso e define a maior ou menor facilidade de aplicação do material. A trabalhabilidade é medida pela plasticidade do material e pela consistência da pasta. A plasticidade que deverá ser suficiente para garantir o manuseio do material é influenciada pelo teor de água, natureza dos aglomerantes e intensidade da mistura. A consistência de uma pasta ou argamassa de gesso tem influência na resistência final, no 17 rendimento do material, na porosidade e na durabilidade, por isso deve-se ter um rigoroso controlo da relação água/gesso utilizada para não comprometer as suas propriedades finais. A água necessária para garantir boas condições de plasticidade e consistência depende do tipo de material e do tamanho das partículas do gesso. Uma vez que o gesso é um material muito fino resulta numa pasta com maior trabalhabilidade, porém com rápido endurecimento. Então para garantir melhores condições de manuseio da pasta de gesso, são utilizados adjuvantes. Os principais adjuvantes utilizados são os retardadores de presa, que aumentam o tempo disponível para o seu manuseio e os superplastificantes que incrementam a plasticidade necessária à sua moldagem (DOMÍNGUEZ; SANTOS, 2001 in BALTAR, BASTOS, LUZ, 2005). Presa e Endurecimento da Pasta O tempo de presa da pasta de gesso pode ser calculado por dois processos diferentes. Segundo a NP 321 (1963) - “Determinação do princípio de presa e do tempo de presa” o tempo de presa é determinado com base num método calorimétrico baseado na hidratação da pasta de gesso. A norma NP 321 define que o instante em que se inicia a presa corresponde ao princípio de presa. O fim de presa corresponde ao instante em que a pasta de gesso atinge a temperatura máxima. Segundo a mesma norma o tempo de presa é o intervalo que decorre entre o início e fim de presa. Na EN 13279:2006 o tempo de presa é determinado por um processo diferente havendo a separação entre pastas e argamassas de gesso. No caso de uma pasta de gesso, o ensaio é realizado pelo método da faca (corresponde a fazer um corte numa pasta assente sobre uma placa de vidro). O início de presa corresponde à mistura do gesso com a água e o fim de presa corresponde ao momento em que ao realizar um corte na pasta as duas partes já não têm fluidez para se unirem. Já para as argamassas de gesso utiliza-se o método do cone de “Vicat” em que o princípio de presa corresponde ao instante da mistura do produto pré-doseado com a água e o fim de presa é o momento em que a penetração do cone no aparelho de Vicat fica 22 mm acima da chapa de vidro (base). Em ambos os casos o tempo de presa corresponde ao tempo que decorre entre o início e o fim de presa. O tempo de presa da pasta de gesso pode ser influenciado pelos seguintes fatores: a) Presença de Impurezas A presença de impurezas durante o processo de produção da pasta de gesso provoca um aumento da formação dos cristais sólidos, levando ao consequente aceleramento da presa da pasta de gesso (CLIFTON, 1973). b) Tamanho das partículas O tamanho das partículas influencia diretamente a hidratação do gesso. Quanto menor o tamanho das partículas mais rápido o gesso realiza presa, em virtude do aumento da área específica do material (KARNI; KARNI, 1995 in ROSSETTO 2012). 18 c) Relação Água/Gesso A relação água/gesso é o fator de maior influência no comportamento do gesso. Quanto maior a relação água/gesso maior o tempo de presa do gesso, em virtude da menor velocidade a que ocorre a precipitação dos cristais. (NOLHIER, 1986 in MUNHOZ 2008). d) Temperatura da Água de Amassadura O tempo de presa da pasta de gesso varia segundo Clifton (1973) em função da temperatura da água de amassadura. O aumento da temperatura da água até 45ºC aumenta a solubilidade do hemi-hidrato. A partir dos 45 °C ocorre o efeito inverso conforme ilustrado na Figura 2.19. Figura 2.19. Influência da temperatura da água de amassadura da pasta de gesso na presa do material. [Fonte: adaptado de CLIFTON, (1973)]. e) Adjuvantes A utilização de adjuvantes nas pastas de gesso proporciona uma alteração na reação de hidratação do gesso, modificando o processo de crescimento dos cristais e a cinética das reações. Os adjuvantes têm o objetivo de aumentar a fluidez das pastas ou de reduzir a quantidade da água de amassadura (PENG et al., 2005). Variação Dimensional do Gesso Durante o processo de hidratação as pastas de gesso, apresentam inicialmente uma diminuição de volume seguida de uma expansão intensa que vai diminuindo até ao fim da presa. Esta retração/expansão proporciona a produção de componentes de gesso sem variações dimensionais significativas e com bom acabamento superficial (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO 2011). 19 2.7. Materiais constituintes dos revestimentos à base de gesso O gesso é usado como constituinte nos revestimentos, encontrando-se presente nos estuques tradicionais e nos estuques não tradicionais. Nos estuques tradicionais existem vários tipos de revestimentos à base de gesso, destacando-se: pasta de gesso (pasta de gesso puro); argamassa de gesso (gesso e areia), gesso e cal apagada (com ou sem areia). A constituição destes estuques engloba ligantes (gesso escuro ou branco), cal apagada (em pó ou em pasta); cargas minerais (areia limpa e muito fina, siliciosa ou calcária), adjuvantes, água e eventualmente adições. Nos estuques não tradicionais, englobam-se os estuques pré-doseados que são constituídos por misturas previamente doseadas em fábrica, contendo ligantes (gesso escuro ou branco), cal apagada em pó e resinas; cargas minerais (areia limpa, seca e calibrada), pó de pedra (calcário), adjuvantes, água e outras adições. Adjuvantes e Adições Para as pastas de gesso possuírem as características necessárias à boa aplicação em obra e irem de encontro às necessidades dos construtores, as empresas adicionam adjuvantes aos seus produtos pré-doseados, numa percentagem inferior a 1% da massa do produto. No caso dos produtos não pré-doseados as adições são aplicadas no momento da mistura do gesso com a água (Domínguez e Santos, 2001 in BALTAR, BASTOS, LUZ, 2005). No Quadro 2.3 são apresentados os tipos e as funções dos adjuvantes que podem ser adicionados às pastas e argamassas de gesso. Quadro 2.3. Diferentes tipos de adjuvantes e respetivas funções Adjuvantes Funções Retardadores do Diminuem a solubilidade do gesso na água, e consequentemente diminuem a tempo de presa velocidade de reação. Ex: ácido cítrico, ácido bórico. Aceleradores do tempo Diminuem a solubilidade da gipsite, e aumentam a solubilidade do gesso, de presa aumentando a diferença de solubilidade, consequentemente aumentam a velocidade da reação. Ex: sulfatos. Espessantes Aumentam a consistência da pasta de gesso. Ex: o amido pode ser usado com essa finalidade. Plastificantes Possibilitam a redução da relação água/gesso, contribuindo assim para o aumento da massa volúmica e da resistência mecânica. O carbonato de cálcio, adicionado em pequena quantidade, pode exercer essa função. Retentores de água Usados com o objetivo de garantir uma recristalização homogénea e eficiente da pasta de gesso. Reagentes derivados e ésteres de celulose costumam ser utilizados com essa finalidade. Impermeabilizantes Provocam a obstrução dos poros da massa de gesso proporcionando um certo grau de impermeabilidade à água. Ex: silicones. Humectantes Evitam o surgimento de grumos indesejáveis, durante a preparação da pasta de gesso. Introdutores de ar Usados em situações onde se deseja incorporar ar nas pastas de gesso. Promotores de Aditivos à base de polímeros sintéticos solúveis em água que aumentam a aderência aderência das pastas de gesso. 20 2.8. Revestimento de gesso O gesso apresenta propriedades extremamente interessantes para ser utilizado como revestimento. Os revestimentos à base de gesso são de rápida aplicação dada a alta velocidade de endurecimento, proporcionam um excelente acabamento e auxiliam na proteção ao fogo e no isolamento térmico e acústico. O principal inconveniente resulta do facto de o gesso ser muito solúvel na presença de água, devendo evitar a aplicação do gesso em revestimentos exteriores. Nos revestimentos interiores, deve-se ter o cuidado de o não aplicar sobre superfícies húmidas ou sujeitas a grandes concentrações de vapor. O revestimento à base de gesso tem a possibilidade de ser utilizado na forma de pasta ou argamassa e aplicado sobre diversos suportes, nomeadamente tijolos e blocos cerâmicos, blocos de betão e superfícies monolíticas de betão ou argamassa. Quanto ao modo de aplicação, os revestimentos à base de gesso podem ser executados manualmente ou através de projeção mecânica. Revestimento de gesso de aplicação manual tem um baixo custo quando comparado com outros revestimentos tradicionais. Os revestimentos executados com pastas de gesso (estuques), Figura 2.20, são os mais utilizados para os revestimentos interiores. Figura 2.20. Processo de execução do revestimento por aplicação manual [Fonte: MONICA, et al., 1998]. O revestimento de gesso por projeção mecânica pode ser aplicado em superfícies de paredes, lajes, pilares ou vigas e não necessita de nenhuma preparação prévia (Fig.2.21). A espessura da camada de gesso projetado costuma ser inferior a 25 mm. Para melhorar o desempenho, o produto contém adjuvantes que aumentam a sua trabalhabilidade e aderência ao suporte. Este modo de aplicação permite uma diminuição de tempo de execução dos revestimentos e evita o desperdício de material e proporciona um bom acabamento. 21 Figura 2.21. Esquema de aplicação de revestimento de gesso por projeção mecânica [s20]. 2.9. Principais características dos revestimentos à base de gesso A seleção de pastas e argamassas à base de gesso para revestimentos interiores de paredes e tetos está ligada às características que estes produtos apresentam. Além dos requisitos que são exigidos para os revestimentos interiores em termos de aderência, resistência superficial e mecânica é importante conhecer as restantes características associadas aos revestimentos interiores à base de gesso. E nesse sentido que a seguir se apresentam as suas principais características. Produtividade A produtividade dos revestimentos à base de gesso é conseguida através da alta velocidade de hidratação do gesso que permite o aumento da rapidez de execução dos revestimentos. Acresce o facto de apresentar uma superfície lisa e de cor branca, que facilmente é coberta por pintura. (JOHN; CINCOTTO, 2007 in PINHEIRO, 2011). Aderência As argamassas de gesso aderem a suportes de aço galvanizado, vidro, cartão, pedra, cimento, tijolos, betão celular autoclavado, polistireno expandido, etc. Após realizar presa a aderência do gesso nos diferentes tipos de substratos é alta, apresentando bons valores de tensão de aderência por arrancamento (JOHN, ANTUNES, 2002). Porosidade A porosidade nos revestimentos executados com pastas e argamassas à base de gesso resultam da evaporação do excesso de água que não é consumido no processo de hidratação 22 do gesso. A porosidade tem influência no isolamento térmico e acústico, e permite retirar ou devolver a humidade ao ambiente atuando como regulador higrométrico. Durabilidade Quando aplicado em revestimentos interiores o gesso possui uma elevada durabilidade o mesmo não acontecendo quando aplicado em revestimentos exteriores ou em zonas húmidas devido à sua solubilidade. Massa Volúmica O gesso endurecido contém uma massa volúmica baixa, contribuindo para redução do peso dos revestimentos. O valor da massa volúmica está compreendido no intervalo de 800 a 1200 kg/m3 (WIRSCHING, 1991 in FERNÁNDEZ, 1997). Resistência Mecânica Dependendo do produto e da relação água/gesso utilizada o gesso pode apresentar uma resistência mecânica à compressão superior a 10 MPa e uma resistência à tração por flexão superior a 4 MPa. A resistência mecânica do gesso é influenciada pela relação água/gesso. Quanto maior for esta relação menor é a resistência do produto (salvo produtos pré-doseados que podem conter adjuvantes), mas aumenta com o tempo, alcançando níveis máximos entre os 14 e 28 dias de idade, dependendo das condições ambientais. Em contacto com a humidade o gesso pode perder até 50% da sua resistência, dada a sua sensibilidade à variação da humidade. É aconselhável não executar revestimentos à base de gesso em zonas suscetíveis a condensações. Isolamento Térmico Os revestimentos à base de gesso apresentam uma condutibilidade térmica que varia entre 0,46 e 0,54 w/m2 °C, que é muito inferior à das restantes argamassas e pode ser considerado um bom isolante térmico. O gesso sendo duas vezes menor condutor de calor que o betão impede a formação de condensações e consequente e proliferação de bolores nas paredes frias. (CINCOTTO et al. 1985 in SOUSA, 2009) Isolamento Acústico As pastas e argamassas de gesso ao realizarem presa sobre os substratos contribuem para a oposição à propagação do som, promovendo a insonorização dos locais, embora o coeficiente de absorção do gesso não difira muito dos restantes materiais para revestimentos rígidos. 23 Proteção contra incêndios Sob o ponto de vista da ação de incêndios o gesso apresenta um conjunto de características que o tornam num material excelente para revestimentos. Além de ser incombustível e de ter características de isolamento térmico já referidas anteriormente, quando aquecido liberta vapor de água e absorve uma parte do calor do próprio incêndio, ajudando a retardar a elevação de temperatura. Desvantagens Os revestimentos em áreas com muita humidade são suscetíveis ao desenvolvimento de bolor, principalmente em edificações com má ventilação, os quais causam uma deterioração progressiva do revestimento. A pasta de gesso em contacto com superfícies metálicas sem pintura anticorrosiva fomenta a corrosão destas (excetuando o aço galvanizado), surgindo desta maneira manchas de ferrugem. Quando se executam revestimentos com reduzida espessura está-se mais suscetível à deformação dos substratos, mais frágil em relação a choques além de que uma pequena espessura não auxilia na fixação de cargas suspensas e no isolamento acústico. Já quando se executa o revestimento de gesso em camada única, com espessuras superiores a 10mm aumenta a possibilidade de ocorrerem destacamentos do material em grandes dimensões. 2.10. Considerações Finais do Capítulo Neste capítulo foram abordados as principais características do gesso de construção: o seu processo de produção, as transformações do mineral de pedra de gesso em gesso e a sua utilização em componentes empregues na construção civil. O gesso de construção é um ligante aéreo, constituído basicamente por sulfato de cálcio hemi-hidratado. É obtido pela calcinação da gipsita, em fornos industriais em temperaturas que variam de 140 °C a 200 °C. Dependendo das características do material a ser calcinado e da eficiência do forno, o gesso produzido pode conter além do hemi-hidrato, teores menores de dihidrato, de anidritas e de impurezas, que podem alterar as características do produto final. O gesso em contacto com a água inicia uma reação química e retoma o seu grau de hidratação inicial. A mistura de gesso com água produz uma pasta homogénea que rapidamente adquire plasticidade e ao se solidificar adquire resistência mecânica. O gesso de construção é um material de fácil aplicação como revestimento e apresenta inúmeras vantagens em relação ao revestimento tradicional. Este último, em geral, é constituído por várias camadas (chapisco, emboço, reboco e acabamento decorativo), enquanto na 24 aplicação do gesso, em geral, somente duas camadas são necessárias (camada de gesso e acabamento decorativo). Outras vantagens associadas ao revestimento em gesso é a resistência ao fogo e isolamento termo-acústico, além destas, revestimento à base de gesso apresenta forte aderência aos diferentes substratos e devido à sua facilidade de aplicação em obra torna-o um material produtivo diminuindo os custos de produção. 25 26 Capítulo 3 – Normas no domínio do gesso de construção 3.1. Considerações gerais Neste capítulo pretende-se realizar uma análise das normas relativas ao gesso e aos produtos pré-doseados à base de gesso para construção. Para isso começa-se por analisar as normas portuguesas e estrangeiras anteriores às atuais normas europeias e, seguidamente, referem-se as normas atuais. Nesta análise estabelece-se uma breve explicação e comparação de cada um dos enquadramentos normativos anteriores (as normas portuguesas e as normas europeias). Enunciam-se as tipologias vinculadas ao gesso para construção e os requisitos que são exigidos em função do tipo do produto. Por último descrevem-se os aspetos associados à marcação CE. 3.2. Enquadramento Normativo anterior à Normalização Europeia Anteriormente à atual normalização europeia existiam normas Portuguesas relativas à caracterização dos gessos. Estas normas portuguesas foram publicadas na década de 60 e eram complementadas com normas internacionais. As normas portuguesas apesar de datarem dos anos 60 ainda se encontram em vigor, servindo de complemento à normalização europeia. A seguir apresenta-se de forma sumariada as normas portuguesas existentes relativas aos gessos bem como algumas das normas internacionais que eram utilizadas para colmatar as lacunas existentes nessas normas, e posteriormente apresenta-se uma breve descrição dos procedimentos de caracterização do gesso segundo as normas portuguesas. 3.2.1. Listagem das Normas As normas portuguesas, datadas dos anos 60, relativas à análise das características dos gessos destinavam-se principalmente a uma caracterização química da matéria-prima, sendo muito reduzido o número de normas referentes à caracterização do produto no estado endurecido. O gesso para construção usado como ligante nas massas de estuque e nas argamassas à base de gesso, é objeto das normas portuguesas que se indicam seguidamente. Normalização Portuguesa – IPQ (Instituto Português da Qualidade) NP-315:1963 Gesso. Terminologia. NP-316:1963 Gesso Bruto. Classificação, características e receção. NP-317:1963 Gessos. Colheita de amostras. NP-318:1963 Gesso. Determinação da água de presa. NP-319:1963 Gessos. Determinação da humidade. NP-320:1963 Gessos. Determinação do teor em água combinada. 27 NP-321:1964 Gesso. Determinação do princípio de presa e do tempo de presa. NP-322:1963 Gessos. Determinação do teor em anidrido carbónico. NP-323:1963 Gessos. Determinação dos teores em resíduo insolúvel, em ferro e alumínio, em cálcio e em magnésio. NP-324:1963 Gessos. Determinação do teor em sulfato. NP-325:1963 Gessos. Determinação do teor em cloreto de sódio. NP-326:1964 Gessos. Apresentação dos resultados analíticos. NP-379:1964 Gesso. Determinação da granulometria. NP-420:1969 Gesso. Acondicionamento e expedição. NP-762:1969 Gesso. Determinação da capacidade de absorção de água. NP-763:1969 Gesso. Determinação da dureza. NP-764:1969 Gesso. Determinação da expansão. Como se pode constatar pela lista acima apresentada existe uma gama grande de normas aplicáveis. Das dezassete normas apresentadas só duas delas abordam a caracterização física e mecânica do gesso enquanto produto endurecido, nomeadamente a caracterização da capacidade de absorção e a determinação da dureza. Sendo pouco vasta a normalização referente a produtos de gesso, sempre que necessário recorria-se a normas internacionais nomeadamente as normas inglesas, alemãs e francesas para completar as lacunas das normas portuguesas. Em Inglaterra, estes revestimentos são abordados na norma BS 5492:1990, referente a revestimentos interiores, na BS 1191-1:1973 e na BS 1191-2:1973, relativas a revestimentos de gesso. Bristish Standard Institution (BSI) BS 5492:1990 – Code of practice for internal plastering; BS 1191-1:1973 – Specifications for gypsum building plasters. Excluding premixed lightweight plasters; BS 1191-2:1973 – Specifications for gypsum building plasters. Premixed lightweight plasters. Nas normas alemãs, estes revestimentos são abordados nas DIN 18550, DIN 1168-1 e DIN 1168-2 que dizem respeito aos revestimentos de gesso, nomenclatura, tipologia, transporte, marcação, requisitos e métodos de ensaio realizados. Deutsches Institut fur Normung E.V (DIN) DIN 18550: Putz; Begriffe und Anforderungen (Berlin 1985) (Gesso; Definições e Requisitos); 28 DIN 1168-1 (1986): Baugipse; Begriff, Sorten und Verwendung; Liefereung und Kennzeichnung (Gesso de construção; Conceitos, Tipos e Usos, Acondicionamento e Rotulagem); DIN 1168-2 (1975): Baugipse; Anforderungen, Prüfung, Űberwachung (Gesso de construção; Requisitos, Ensaios e Monitorização); Da normalização francesa, refere-se o Document Technique Unité (DTU) 25.1 – relativo a revestimentos interiores de gessos, as normas NF B12-300, NF B12-301, NF B12-302, NF B12303, NF B12-401 e NF B12-402 que estabelecem condições gerais de embalagem, entrega e receção, definem classificações técnicas e especificações de ensaio de produtos de gesso para revestimentos, e tempos de utilização e fim de presa. Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (CSTB) DTU 25.1 – D’ Enduits Intérieurs en Plâtre (Paris 1975); Association Française de Normalization (AFNOR) NF B 12-300 – Plâtres: Generalités: Clauses et conditions generals (France 1963); NF B 12-301 – Gypse et plâtre- Plâtres pour enduits intérieurs à application manuelle ou mécanique de dureté normale ou de três haute dureté- Classification, désignation, spécifications (France 1963); NF B 12-302 – Plâtre à mouler por staff (France 1982); NF B 12-303 – Plâtres fins de construiction pour enduits de très haute duretè dits: plâtre THD (France 1970); NF B 12-401 – Plâtres – techiniques des essais (France 1963); NF B 12-402 – Plâtres temps d’emploi et fin de prèse (France 1963); 3.2.2. Âmbito das normas portuguesas As normas portuguesas da década de 60 apresentam vários processos e metodologias de ensaio das propriedades do gesso para construção. Seguidamente apresenta-se uma breve descrição de cada uma das normas portuguesas, referidas anteriormente. Na norma NP 315 é apresentada a terminologia dos gessos e produtos relacionados com o gesso. A NP 316 é destinada a classificar e caracterizar o gesso bruto conforme o seu teor em sulfato de cálcio hidratado, o qual era classificado em três classes, Quadro 3.1. Quadro 3.1. Classificação do gesso bruto conforme o seu teor em sulfato de cálcio hidratado Classe Teor mínimo em SO4Ca.2H2O Teor mínimo em água combinada I 90% 18,83% II 80% 16,74% III 70% 14,65% Fonte: NP316 (1963). 29 São ainda apresentadas as características do gesso bruto e estabelecidas as condições do seu transporte, designação, identificação e receção. A NP 317 fixa as regras que devem ser seguidas na colheita das amostras dos diferentes tipos de gesso para que estes sejam representativos de um lote deste produto, desde a forma como a colheita é efetuada (incluindo a metodologia utilizada na identificação das amostras) até ao destino das amostras colhidas. A técnica de ensaio e cálculo de resultados da determinação da quantidade de água necessária para a presa do gesso é apresentada na NP 318. A NP 319 descreve o processo de ensaio da determinação da humidade e a fórmula de cálculo da humidade do gesso. Na NP 320 é descrita a técnica de preparação das amostras de gesso para ensaio e o modo de procedimento e cálculo de determinação do teor em água combinada. Na NP 321 é descrito todo o procedimento que deve ser seguido para determinação do princípio de presa e do tempo de presa pelo método calorimétrico, incluindo a colheita e preparação da pasta normal de gesso (mistura de gesso e água determinada segundo a NP 318). É também definido o princípio de presa (instante em que se inicia a subida de temperatura da pasta normal de gesso), fim de presa (instante em que a pasta normal de gesso atinge a temperatura máxima) e tempo de presa (intervalo de tempo que decorre entre os instantes correspondentes ao princípio de presa e fim de presa). A NP 322 descreve o modo de procedimento para determinar o teor do gesso em anidrido carbónico combinado, enumera os reagentes e utensílios necessários, e apresenta um esquema de como deve ser realizada a montagem do conjunto de ensaios. Na NP 323 são apresentados os processos de determinação dos teores do gesso em resíduo insolúvel e em óxidos de ferro, de alumínio, de cálcio e de magnésio, os reagente e utensílios necessários para a sua realização, e a forma de cálculo de cada teor. Na NP 324 e NP 325 é descrita a técnica para determinar e calcular o teor de sulfato e cloreto de sódio, assim como os reagentes e utensílios necessários para executar o procedimento. A NP 326 fixa o modo de apresentação dos resultados da análise química do gesso, de forma direta (Quadro 3.2) ou da análise sob a forma de componentes pressupostos no gesso. Quadro 3.2. Apresentação dos resultados diretos da análise % Humidade ..,.. (norma NP-319) Água combinada ..,.. (norma NP-320) Anidrido carbónico (CO2) ..,.. (norma NP-322) Resíduo insolúvel ..,.. (norma NP-323) Ferro e alumínio (expresso em O3Fe2+O3Al2) ..,.. (norma NP-323) Cálcio (expresso em Oca) ..,.. (norma NP-323) 30 Magnésio (expresso em Omg) ..,.. (norma NP-323) Sulfato (expresso em SO3) ..,.. (norma NP-324) Cloreto de sódio (NaCl) ..,.. (norma NP-325) 100,00 Fonte: NP 326 (1964). Na NP 379 é descrito o conjunto de peneiros e o processo a utilizar na determinação da granulometria do gesso, Quadro 3.3. Nº do peneiro Quadro 3.3. Conjunto de peneiros Abertura da malha (mm) Diâmetro nominal do fio (mm) 20 8,84 0,510 40 0,42 0,290 60 0,250 0,180 80 0,177 0,131 100 0,149 0,110 120 0,125 0,091 Fonte: NP 379 (1964). A NP 420 descreve as condições associadas à embalagem, apresentação, rotulagem, expedição e emissão de certificados de garantia do gesso. O modo de preparação dos cubos de gesso, cálculo e técnica utilizada para determinar a capacidade de absorção de água do gesso é enumerado na NP 762. Na norma NP 763 é descrito o processo de ensaio para determinação da dureza do gesso. Os provetes de gesso são inseridos numa balança decimal especial que permite relacionar a dureza do gesso com a penetração de uma determinada esfera no mesmo. A dureza determinada através duma fórmula de cálculo indicada no documento. O processo, utensílios e fórmula de cálculo da expansão longitudinal de um prisma de pasta de gesso é descrito na norma NP 764. 3.3. Atual Enquadramento Normativo Em 2004 o Comité Europeu de Normalização estabeleceu normas relativas às definições e exigências de gessos e revestimentos à base de gesso e aos métodos de ensaio que devem ser utilizados. A seguir apresentam-se as normas europeias existentes para gesso e produtos à base de gesso, uma breve descrição dessa normalização, bem como a classificação e requisitos dos produtos de gesso, segundo a normalização europeia. 3.3.1. Normas Europeias A globalização dos mercados levou a uma necessidade de estabelecer regras e normas semelhantes em todo o espaço comunitário tendo surgido as normas europeias, normas essas 31 que são adotadas em todos os países da comunidade europeia, podendo estes efetuarem alguns ajustes quando considerados necessários. As normas portuguesas dos anos 60 possuem um conjunto de exigências mais numeroso e voltadas sobretudo para os parâmetros químicos dos componentes do gesso, enquanto as normas europeias atuais apresentam um conjunto de exigências mais centradas na análise das propriedades de resistência mecânica dos produtos. Os estuques com base no gesso são atualmente regulamentados pelas normas EN 13279-1:2008, relativa às definições e exigências de gessos e revestimentos à base de gesso, e EN 13279-2:2006, que estabelece os métodos de ensaio daqueles revestimentos. Estes documentos normativos do CEN (Comité Européen de Normalisation), do qual Portugal faz parte, servem de base à marcação CE, referida na Diretiva dos Produtos de Construção (DPC), que permite a livre circulação dos produtos no mercado do espaço económico europeu (EEE). Seguidamente apresentam-se as principais normas europeias respeitantes a produtos à base de gesso. Normalização Europeia – CEN (Comité Européen de Normalisation) EN 13279-1:2008-Gesso e produtos com base em gesso.Parte1:Definições e requisitos. EN 13279-2:2006-Gesso e produtos com base em gesso.Parte2:Métodos de ensaios. Ambas as normas referidas acima já se encontram harmonizadas, sendo seguidas pelas empresas portuguesas. 3.3.2. Âmbito das normas europeias A EN 13279 é uma norma de produto aplicada a produtos à base de gesso e encontrase dividida em duas partes, uma referente às definições e requisitos e outra relativa aos métodos de ensaio. Esta norma europeia especifica as características e os requisitos do gesso e das argamassas à base de gesso para aplicação manual ou Projeção mecânica. Esta norma contempla os gessos para uso direto em obra, argamassas à base gesso, e os gessos como matéria-prima utilizados para o fabrico de painéis de gesso, placas de gesso laminado, placas de produtos fibrosos. Apresenta-se seguidamente uma breve descrição de cada uma das partes da EN 13279. A primeira parte encontra-se dividida em oito capítulos. No primeiro capítulo são descritos os objetivos e os campos de aplicação a que a norma se destina, no segundo capítulo são apresentadas as normas que serviram de referência à respetiva norma. O capítulo três é relativo à terminologia e definição dos vários produtos à base de gesso. O quarto capítulo corresponde à designação dos gessos e argamassas à base de gesso para a construção, bem como a sua identificação. O quinto capítulo contém os requisitos relacionados com as condições 32 de uso final (englobando a reação ao fogo, desempenho acústico e térmico), requisitos para gesso, requisitos para argamassas de gesso e ainda requisitos para argamassas de gesso para fins especiais. O capítulo seis apresenta a verificação da conformidade dos produtos com os requisitos exigidos e deve ser determinado mediante ensaios do tipo inicial (Initial Type Testing) que são descritos na norma, e com base no controlo de produção em fábrica (CPF). O capítulo sete enumera a forma como deve ser realizada a designação dos gessos e das argamassas à base de gesso para construção. O oitavo capítulo é referente à marcação, rotulagem e embalagem dos produtos. A segunda parte da EN 13279 diz respeito aos métodos de ensaio que devem ser realizados para atestar as propriedades dos gessos e argamassas à base de gesso para construção, de modo a verificar se estes respeitam os requisitos exigidos na primeira parte da norma. Esta segunda parte inclui quatro capítulos onde os primeiros dois, à semelhança do que aconteceu na primeira parte, correspondem aos objetivos da norma e identificação das normas que foram utilizadas como referência. No terceiro capítulo são abordadas as condições de ensaio e recolha das amostras, sendo descrito a atmosfera de ensaio, como deve ser realizada a recolha e preparação da amostra, o tipo de água utilizada e ainda os cuidados que se deve ter com os equipamentos e utensílios a utilizar. No capítulo quatro são indicados os métodos de ensaio para gesso e argamassas de gesso para construção. Os métodos de ensaio descritos incluem os utensílios necessários, o modo de procedimento e ainda o modo de apresentação dos resultados. Os métodos de ensaio inseridos neste capítulo destinam-se à determinação da análise granulométrica, determinação do teor de trióxido de enxofre, do teor de sulfato de cálcio, determinação da relação água/gesso, determinação do tempo de presa e determinação das propriedades mecânicas, nomeadamente determinação da resistência à flexão e à compressão e determinação da dureza e da aderência. 3.3.3. Classificação e Descrição dos produtos de gesso segundo a EN 13279-1 A Figura 3.1 apresenta a família dos gessos de construção e pastas de gesso para construção estabelecida na EN 13279-1. 33 Gipsita, matériaprima A1 - Gesso para produtos em pó A3- Gesso para posterior processamento A2 - Gesso para uso directo em obra BRevestimentos com base em gesso (B1 a B7) CRevestimento com base em gesso para fins especiais (C1 a C7) Para outros elementos, por exemplo: -blocos de gesso; -placas de gesso cartonado Figura 3.1. Família dos gessos e das pastas à base de gesso para a construção [Fonte: EN 13279-1]. No sentido de apresentar uma classificação mais específica dos revestimentos de gesso correntes no Quadro 3.4 apresenta-se a designação estabelecida na EN 13279-1:2008 e respetiva notação. Quadro 3.4. Tipos de revestimentos correntes com base no gesso (EN 13279-1:2008) Designação Notação Gesso (Gypsum binder) A Gesso para produtos em pó (Gypsum binders for direct use or further processing) A1 Gesso para uso direto em obra (Gypsum binders for direct use on site) A2 Gesso para posterior processamento (Gypsum binders for further processing) A3 Revestimento com base no gesso (Gypsum plaster) B Revestimento de gesso (Gypsum building plaster) B1 Revestimento com base no gesso (Gypsum based building plaster) B2 Revestimento de gesso e cal (Gypsum-lime buiding plaster) B3 Revestimento aligeirado de gesso (Lightweight gypsum building plaster) B4 Revestimento aligeirado com base no gesso (Lightweight gypsum based building plaster) B5 Revestimento aligeirado de gesso e cal (Lightweight gypsum-lime building plaster) B6 Revestimento com base no gesso com dureza superficial melhorada (Gypsum plaster for plasterwork with enhanced surfaced hardness) Revestimento com base no gesso para aplicações especiais (Gypsum plaster for special purposes) Revestimento fibroso com base no gesso (Gypsum plaster for fibrous plastework) B7 C1 Gesso para assentamento em tijolo (Gypsum plaster for bricklaying) C2 Gesso para isolamento acústico (Acoustic plaster) C3 Gesso para isolamento térmico (Thermal insulation plaster) C4 Gesso para proteção ao fogo (Fire protection plaster) C5 Gesso para aplicação em camada fina (Thin coat plaster) C6 Produto para acabamento (Finishing product) C7 34 C Descreve-se seguidamente a composição de alguns produtos referidos no Quadro 3.4. Gesso (Gypsum binder) é o produto obtido por calcinação do sulfato de cálcio dihidratado (CaSO4.2H2O) e consiste em sulfato de cálcio nas suas várias formas de hidratação, por exemplo hemi-hidrato (CaSO4.0,5H2O) e anidrita (CaSO4), notação A. Revestimento com base no gesso (Gypsum plaster) é a terminologia utilizada que engloba os produtos à base de gesso, e de gesso (com ou sem cal), que são utilizados na construção, notação B. Revestimento de gesso (Gypsum building plaster) argamassa à base de gesso com um mínimo de 50% de sulfato de cálcio como componente ativo principal e menos de 5% de cal (hidróxido de cálcio), notação B1. Revestimento com base no gesso (Gypsum based building plaster) argamassa de gesso com menos de 50 % de sulfato de cálcio como componente ativo principal e menos de 5% de cal (hidróxido de cálcio), notação B2. Revestimento de gesso e cal (Gypsum-lime bulding plaster) argamassa à base de gesso com mais de 5% de cal (hidróxido de cálcio), notação B3. Revestimento aligeirado de gesso (Lightweight gypsum building plaster) é uma argamassa à base de gesso, com uma constituição semelhante a um produto de notação B1, B2 ou B3, com incorporação de agregados leves inorgânicos tais como perlita expandida ou vermiculita ou agregados leves orgânicos, notação B4. Revestimento com base no gesso com dureza superficial melhorada (Gypsum building plaster for plasterwork with enhanced surfasse hardness) é um gesso de construção especialmente formulado para realizar revestimentos que requerem uma maior dureza superficial, notação B7. Revestimento fibroso com base no gesso (Gypsum plaster for fibrous plasterwork) é um gesso especialmente elaborado para a fabricação de elementos pré-fabricados de revestimento fibroso, notação C1. Gesso para isolamento acústico (Gypsum acoustic plaster) é um gesso especialmente formulado para aplicações que requerem uma maior absorção acústica, notação C3. Gesso para isolamento térmico (Gypsum termal insulation plaster) corresponde a um gesso especialmente formulado para utilizações que requerem melhores propriedades de isolamento térmico, notação C4. Gesso para proteção ao fogo (Gypsum fire protection plaster) é um gesso especialmente formulado para aplicações de proteção ao fogo, notação C5. 35 Gesso para aplicação em camada fina (Gypsum thin coat plaster) é um gesso fabricado para aplicação em camada fina, com espessuras de 3 mm a 6 mm, notação C6. Produto para acabamento (Finishing porduct) é um gesso de acabamento com uma espessura de 0,1 mm a 3 mm, para obter uma superfície regular, notação C7. 3.3.4. Requisitos normativos a satisfazer pelos produtos A EN 13279 estabelece os seguintes requisitos para os produtos: a)Requisitos para ligantes de gesso (A) O conteúdo em sulfato de cálcio deve ser de pelo menos 50%. As propriedades dos produtos de gesso devem ser determinadas de acordo com a EN 13279-2. b)Requisitos para argamassas com base em gesso (B) As propriedades dos revestimentos em gesso quando determinadas de acordo com a EN 13279-2, devem respeitar as condições indicadas no Quadro 3.5. Quadro 3.5. Requisito para argamassas à base de gesso [Fonte: EN 13279-1] Início de pressa Teor de (min) ligante Resistência Revestimentos em à flexão Gesso em gesso Gesso gesso N/mm2 de manual % projetar B1 ≥50 B2 <50 B3 i ≥1 B4 ≥50 >20ii >50 B5 <50 B6 i B7 ≥50 ≥2 i) de acordo com os ponto 3.3., 3.4, 3.5 e 3.6 da norma EN 13279-1 Resistência à compressão N/mm2 Dureza superficial N/mm2 ≥2 - ≥6 ≥2,5 Aderência N/mm2 ≥0,1 ii) para alguns gessos de aplicação manual é permitido um tempo inferior desde que devidamente informado na embalagem. c)Requisitos para argamassas com base em gesso para fins especiais (C) As propriedades para rebocos com base em gesso para usos especiais, quando determinados de acordo com a norma EN 13279-2 devem respeitar os requisitos indicados no Quadro 3.6. Quadro 3.6. Requisitos para argamassas à base de gesso para fins especiais [Fonte: EN 13279-1] Revestimentos em gesso C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 Teor de ligante em gesso % >50 >50 >50 >50 Início de pressa min Finura (μm) Rf N/mm2 5000 1500 200 100 Vicat Faca 2h 7d 0 0 - 0 0 - <1% - <10% 0 >30 >20 >20 >20 >20 >20 >8 - >1,5 - >3 >1 >1 Rf – Resistência à flexão; Rc – Resistência à compressão 36 Rc N/mm2 >2 >2 >2 Dureza superficial N/mm2 2h 7d >4 - >10 - Segundo a EN 13279-2 existem determinados ensaios que devem ser efetuados para verificar os requisitos exigidos pela norma, nomeadamente: Análise Granulométrica; Determinação do trióxido de enxofre e do sulfato de cálcio equivalente; Determinação da relação água/gesso; Determinação do tempo de pressa; Determinação da dureza; Determinação da resistência à flexão; Determinação da resistência à compressão; Determinação da aderência. Consoante o produto em análise seja um ligante de gesso ou uma argamassa de gesso, os ensaios acima referidos têm algumas diferenças na sua realização. 3.3.5. Designação normalizada dos produtos Os gessos de construção e as argamassas à base de gesso para construção devem ser designados da seguinte forma: a) Tipo de gesso ou de argamassa de gesso segundo a designação estabelecida no quadro 3.4; b) Referência à norma EN 13279; c) Identificação segundo o indicado no quadro 3.4; d) Tempo de princípio de presa; e) Resistência a compressão. Tendo em consideração estes requisitos apresenta-se um exemplo de designação, para um gesso para construção de projeção mecânica (B1) com um tempo de princípio de presa > 50 min e resistência a compressão ≥ 2,0N/mm2, cuja designação é a seguinte: Gesso de construção EN 13279-1 – B1/50/2 3.3.6. Marcação CE O símbolo CE aplica-se aos produtos de construção que são incorporados de forma permanente nas obras. Estes produtos só poderão ser comercializados na maioria dos estados membros se tiverem o símbolo CE e deverão permitir a construção de obras que cumpram determinados requisitos essenciais referentes a: resistência mecânica, estabilidade, segurança em caso de incêndio, saúde, meio ambiente, segurança de utilização, proteção contra ruído, economia energética e isolamento térmico. 37 Estes requisitos concretizar-se-ão em primeiro lugar com documentos interpretativos elaborados pelos comités técnicos para, em seguida, serem desenvolvidos sob a forma de especificações técnicas. Normas harmonizadas e Documentos de Idoneidade Técnica Europeia. O fabricante deve submeter cada produto ou família de produtos ao procedimento de avaliação previsto pelo comité. A declaração de conformidade do fabricante ou certificado de conformidade emitido por um organismo notificado autorizarão o fabricante a imprimir a marca CE correspondente. O fabricante ou o seu representante autorizado estabelecido no EEE é o responsável pela fixação da marcação CE. O símbolo CE deve ser colocado em conformidade com a Diretiva 93/68/CEE e deve estar visível sobre o produto. O símbolo de marcação CE deve ser acompanhado da seguinte informação: Número, ou marca comercial e morada registrada do fabricante; Os dois últimos dígitos do ano de colocação em mercado; Referência à norma europeia (neste caso EN 13279); Descrição do produto: nome genérico, tipo, quantidade e uso previsto; Informação sobre características essenciais indicadas na tabela ZA.1 da EN 13279, nomeadamente, reação ao fogo, resistência térmica e isolamento acústico. 3.4. Análise comparativa entre as normas europeias e as normas anteriores ao atual enquadramento normativo Da análise comparativa entre as normas portuguesas da década de 60 e a EN 13279 verifica-se que existem algumas diferenças na análise das propriedades do gesso. A determinação granulométrica difere essencialmente na forma como é efetuada a peneiração e no conjunto de peneiros utilizado, havendo procedimentos diferentes de determinação das partículas retidas no peneiro (NP 379). O método de avaliação do teor em sulfatos é idêntico ao descrito na NP 324 apenas diferindo nas avaliações de quantidades acrescentadas de cada um dos reagentes. A fórmula de cálculo dos sulfatos é idêntica. A fórmula de determinação da relação água/gesso pelo método de dispersão é idêntica à da NP 318 para a água de presa, sendo o procedimento ligeiramente diferente. A determinação do tempo de aplicação de início e fim de presa (NP 321), é efetuada por métodos diferentes. Na norma atual é usado o método de corte de faca ou agulha de “Vicat” enquanto na anterior esta determinação era feita através de um termómetro com base no poder calorimétrico do gesso. Em ambos os casos o resultado é expresso em minutos. 38 Na determinação da dureza o procedimento é semelhante alterando apenas o aparelho de penetração da esfera. A expressão de cálculo é idêntica diferindo nas unidades de cálculo. A determinação da resistência à flexão, compressão e adesão não tem concordância entre as normas atuais e as anteriores. Conforme se verifica alguns métodos de ensaio foram substituídos por outros, uma vez que nas últimas décadas registou-se uma grande evolução no conhecimento das propriedades dos materiais e dos equipamentos para a realização de ensaios, tendo sido feito um ajuste nos procedimentos de caracterização das propriedades do gesso. Constata-se que as normas anteriores estabeleciam um maior controlo das características químicas. O método atual incide mais nas propriedades físicas e mecânicas do material sendo as características determinadas semelhantes às que são determinadas para os restantes materiais existentes no mercado, ou seja, resistência à flexão e à compressão, dureza e aderência. 39 40 Capítulo 4 – Estudo do Mercado 4.1. Enquadramento Um dos objetivos da presente dissertação é efetuar um levantamento dos produtos prédoseados à base de gesso, disponíveis no mercado nacional para execução de revestimentos. Neste capítulo procede-se à avaliação da oferta de produtos pré-doseados existentes, que mediante a junção de água nas proporções indicadas pelo fabricante se apresentem prontos para utilização. Para além de identificar as empresas que fornecem no mercado nacional este tipo de produtos, realiza-se uma caracterização dos produtos existentes estabelecendo-se uma comparação entre eles. 4.2. Metodologia estabelecida para a pesquisa de mercado A pesquisa de mercado efetuada revelou-se importante para esta dissertação, tendo permitido a recolha de informações e conhecimentos sobre os gessos pré-doseados para revestimentos. Através das entrevistas efetuadas com fabricantes e fornecedores, que desde logo se disponibilizaram a ceder toda a informação possível dentro do que lhes era permitido, procurouse saber quais os produtos disponibilizados, aqueles que apresentavam maior volume de venda, e as características que os tornavam únicos em função da utilização que se pretendia dos mesmos. Procurou-se ainda saber o processo de fabrico utilizado e o controlo de qualidade efetuado. Junto dos fornecedores procurou-se também saber quais as marcas disponibilizadas pelos mesmos, quais os produtos mais vendidos e qual a aceitação dos produtos por parte dos consumidores no mercado interno português. Com o início do estudo de mercado rapidamente se verificou que os produtos pré- doseados à base de gesso que são comercializados em Portugal, não são necessariamente produzidos por empresas nacionais. Existem algumas empresas espanholas no sector de produção de produtos com base em gesso para construção que oferecem os seus produtos no mercado Português. Tentou-se ainda recolher o máximo de informações relativas a: fichas técnicas; catálogos de amostras; documentos de desempenho; documentos de certificação; documentos de apoio; fotografias de uma fábrica de produção de produtos pré-doseados à base de gesso. Com o início de recolha de informação, rapidamente se constatou que a maioria dos fabricantes se dedicavam à produção de uma gama diferenciada de produtos pré-doseados à base de gesso. A variação do tipo de produto é conseguida através da alteração da composição (podem conter adjuvantes, fibras, perlite), da pureza do gesso, da quantidade de ligante e dos agregados selecionados. 41 Contudo, e como se esperava, a informação sobre a composição dos produtos é reduzida, havendo empresas que não revelam a composição dos seus produtos por razões de segredo industrial. Relativamente a muitos produtos não há informação suficiente que permita uma adequada caracterização, nomeadamente no que respeita a informação sobre adições, adjuvantes, traços entre ligantes e agregados e valores de resultados de ensaios mecânicos e físicos, que não os valores mínimos exigidos nos documentos normativos. Assim, o utilizador final fica limitado a comparar os variados produtos em função do fabricante e das recomendações presentes nos produtos. Seguidamente listam-se as empresas que comercializam no mercado nacional, produtos pré-doseados à base de gesso para revestimentos. Empresas Empresas portuguesas e/ou com uma sede em Portugal: Sival; Topeca; Placo/Saint Gobain; Fassa Bartolo; Empresas que exportam para o mercado português: Algíss-Uralita; La Maruxina; Yemasa; Yetosa; Yesos Albi; Apesar do número reduzido de empresas, nove empresas diferentes, estas oferecem um vasto número de produtos pré-doseados à base de gesso. Caracterização do Mercado As nove empresas identificadas disponibilizam uma grande variabilidade de produtos, tendo-se listado 6 produtos do tipo A, 45 do tipo B e 14 do tipo C. No total verifica-se que existem 65 produtos oferecidos pelas 9 empresas que operam no mercado nacional. Torna-se assim difícil por parte do consumidor efetuar uma escolha mais fundamentada do produto para a utilização que pretende porque a informação do produto é muito sucinta ou nula, não permitindo fazer uma comparação eficaz entre os produtos disponíveis. No presente trabalho procurou-se efetuar uma descrição e caracterização dos produtos relativamente à sua composição, tempo de aplicação, relação água/gesso, utilizações a que o produto se destina com base na documentação normativa existente. Apresentam-se também os 42 valores das características físicas e mecânicas que são disponibilizadas nalgumas fichas técnicas dos produtos e apresenta-se ainda informação adicional relativa ao modo de aplicação do produto e ao peso de cada saco. A informação do estudo de mercado foi organizada pela tipologia do produto, ou seja começou-se por diferenciar os produtos nos tipos A, B e C, de acordo com a norma EN 13279- 1, onde A corresponde aos ligantes de gesso, B às argamassas com base em gesso e C às argamassas com base em gesso para fins especiais. Dentro de cada tipologia começou-se por analisar os produtos quanto à sua composição, e verificou-se que todos os produtos apresentam na sua composição a indicação de que o produto é à base de gesso. Alguns informam que incorporam adjuvantes ou fibras mas desconhece-se quais e as funções a que se destinam. Na análise da relação água/gesso as empresas acrescentam ser possível variar um pouco a relação em função da trabalhabilidade e da consistência que se pretende, tendo em atenção que ligeiras mudanças poderão provocar variações no tempo de utilização e nas características mecânicas. O modo de apresentação das informações disponibilizadas pelas empresas relativamente ao tempo disponível para utilizar a pasta ou argamassa de gesso foi muito distinta. Algumas empresas que optam por indicar o tempo de início e fim de presa enquanto outras indicam o tempo de utilização ou o tempo para acabamento do revestimento. Com o recurso às fichas técnicas e às declarações de conformidade analisou-se as características físicas e mecânicas dos produtos, nomeadamente a sua massa volúmica, resistência à flexão e à compressão, aderência e dureza. Como a caracterização física não é um requisito da EN 13279-1, algumas empresas não fornecem qualquer informação relativa a características desta natureza. Em relação à caracterização mecânica optam muitas vezes por referir que o valor é superior ao requisito mínimo indicado na norma. Terminou-se o estudo com algumas informações adicionais relativas aos produtos, abrangendo o método de aplicação, espessura por camada e o acondicionamento dos produtos. Depois da análise entre os vários produtos da mesma tipologia realizou-se uma análise global aos produtos existentes no mercado nacional. 4.3. Análise dos produtos do tipo A 4.3.1. Classificação segundo EN 13279-1 A norma europeia EN 13279-1 aplica-se a produtos pré-doseados à base de gesso para revestimentos e define, entre outros, os requisitos para argamassa no estado endurecido. Em função das suas propriedades e utilização, cada produto será de um determinado tipo. 43 No Quadro 4.1 apresenta-se, para cada produto, a sua tipologia segundo a referida norma e o respetivo princípio de utilização. Empresa Sival AlgissUralita Quadro 4.1. Produtos do tipo A – Princípio de utilização Produto Tipo (EN 13279-1) Princípio de utilização Gesso Estuquef1 Gesso Estuque Gesso para uso direto, ou posterior A1 Expof2 processamento Gesso Estuque f3 Fino Gesso Esboçof4 Gesso para uso direto, ou posterior A3 processamento (elementos préf5 Gesso Moldura fabricados) Turquesa Lf6 A1 - Conforme se pode verificar, existem no mercado português duas sub-tipologias diferentes do tipo A. Quatro produtos de identificação A1 e dois produtos de identificação A3, não se verificando a existência de nenhum produto com a identificação A2. Os produtos com a identificação A1 destinam-se a uso direto, ou posterior processamento, enquanto os produtos de identificação A3 acresce o facto de poderem ser utilizados em elementos pré-fabricados. 4.3.2. Composição Com base no estudo de mercado foi possível verificar que os vários produtos de cada empresa apresentam variações na sua composição. No Quadro 4.2 resume-se a composição de cada produto, o resíduo no peneiro de 300μm, e a presença de adjuvantes e/ou fibras. Empresa Sival AlgissUralita Quadro 4.2. Produtos do tipo A - Composição e granulometria dos produtos Designação do Adjuvantes, Resíduo do peneiro Composição Produto Fibras de 300μm Gesso Estuque ≤0,650% Gesso Estuque Expo ≤0,800% Gesso hemiGesso Estuque Fino ≤0,012% hidratado Gesso Esboço ≤2,500% Gesso Moldura ≤1,500% Turquesa L Gesso - A empresa Sival refere ainda que a composição dos seus produtos é de gesso hemihidratado. Não existe para os produtos presentes no Quadro 4.2 nenhuma informação relativa a componentes e agregados adicionais. A granulometria dos produtos junto dos quais foi possível obter informação é apresentada em função do resíduo do peneiro de 300 μm. Dos produtos presentes no Quadro 4.2 o produto que contém a menor percentagem de resíduo nesse peneiro é o Gesso Estuque Fino (Sival) com uma percentagem ≤0,012%. 4.3.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação No Quadro 4.3 apresenta-se a relação água/gesso recomendada para a amassadura dos produtos, bem como o tempo de início e fim de presa ou o tempo de utilização que se dispõem antes que o gesso endureça. Na Figura 4.1 (à esquerda) apresenta-se a relação 44 água/gesso (litros/Kg) dos vários produtos e na Figura 4.1 (à direita) os valores médios do tempo de presa ou os valores máximos do tempo de utilização dos produtos. Quadro 4.3. Produtos do tipo A - Relação água/gesso e tempos de aplicação Relação água/gesso Empresa Produto Tempos de Presa / Utilização (min) (litros/Kg) I.P.:12±3min; Gesso Estuque F.P.:28±5min ≈0,7 I.P.:12±3min; Gesso Estuque Expo F.P.:29±6min I.P.:13±4min; Sival Gesso Estuque Fino F.P.:29±6min ≈0,8 I.P.:12±3min; Gesso Esboço F.P.:26±6min I.P.:12±3min; Gesso Moldura F.P.:28±5min U.:12-20min; Algiss-Uralita Turquesa L 0,6 A.:30-50min 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Tempo (min) Relação Água/Gesso (l/Kg) I.P.-Início de Presa; F.P.-Fim de Presa; U-Utilização; A-Acabamento 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Tempo de presa/ utilização Figura 4.1. Relação água/gesso dos produtos do tipo A (à esquerda); Tempo de presa e utilização dos produtos do tipo A (à direita). Conforme se pode verificar pelo Quadro 4.3 e Figura 4.1 (à esquerda), a relação água/gesso varia para estes produtos entre 0,6 e 0,8 (litros/Kg). O produto Turquesa L (AlgíssUralita) é o que apresenta uma relação mais baixa ao contrário dos produtos Gesso Estuque Fino, Gesso Esboço e Gesso Moldura, todos da empresa Sival, que apresentam uma relação de 0,8 sendo estes os produtos que precisam de uma maior relação água/gesso para realizar a amassadura. Os valores apresentados no Quadro 4.3 e Figura 4.1 (à direita) permitem verificar que o tempo de utilização e de presa variam entre os produtos. No caso dos produtos da empresa Sival, em que se dispõem dos valores de início e fim de presa, verifica-se que os produtos têm um intervalo de utilização próximo dos vinte minutos. O produto Turquesa L apresenta um intervalo de utilização de doze a vinte minutos e permite acabamento entre os trinta e os cinquenta minutos. 45 4.3.4. Características físicas e mecânicas A informação relativa às características físicas e mecânicas dos produtos é bastante restrita. Apenas se reuniu informação sobre a massa volúmica aparente do produto em pó e resistência à flexão. No Quadro 4.4. apresentam-se os valores da massa volúmica aparente e os valores da resistência à flexão (Figura 4.2) que constam nas fichas técnicas dos produtos. Quadro 4.4. Caracterização física e mecânica dos produtos do tipo A Resistência à flexão Massa volúmica aparente Produto do produto em pó (Kg/m3) (MPa) Empresa ≈5,2 Gesso Estuque Gesso Estuque Expo Gesso Estuque Fino Gesso Esboço Gesso Moldura Turquesa L Sival Algiss-Uralita 600-700 ≈5 ≈4 - ≥3,5 Pela análise do Quadro 4.4 é possível perceber que os produtos com base em gesso apresentam uma massa volúmica aparente relativamente baixa entre os 600 kg/m 3 e os 700 kg/m3, como se verificou para todos os produtos da empresa Sival. Para o produto Turquesa L não se encontrou valores. Resistência à flexão [MPa] 6 5 4 3 2 1 0 Gesso Gesso Gesso Estuque Estuque Estuque Expo Fino Gesso Gesso Turquesa Esboço Moldura L Figura 4.2. Resistência à flexão (MPa) dos produtos do tipo A. Relativamente à resistência à flexão, salienta-se que se conseguiu obter informação para todos os produtos desta tipologia. Os valores de resistência à flexão variam entre 3,5 MPa do produto Turquesa L (Algíss-Uralita) e 5,2 MPa do Gesso Estuque (Sival). 4.3.5. Informações adicionais No Quadro 4.5 procurou-se compilar a informação disponível nas fichas técnicas e que não foi apresentada anteriormente. Assim, no Quadro 4.5 é apresentado o modo de aplicação 46 do produto analisado, a quantidade de produto presente em cada saco e o preço de cada embalagem de produto. Empresa Sival AlgissUralita Quadro 4.5. Informações adicionais Modo de Produto Kg./Saco Aplicação Gesso Estuque Gesso Estuque Expo 30 Gesso Estuque Fino Manual Gesso Esboço Gesso Moldura Turquesa L 20 Preço (€/Unid.) 7,20s21 2,30s23 Preço (€/Kg..) 0,24 0,12 Todos os produtos desta tipologia são de aplicação manual e apresentam-se em sacos de papel tipo “Kraft” de 20Kg (empresa Algíss-Uralita) ou 30Kg (empresa Sival). Os únicos preços obtidos mostram uma grande diferença no preço dos produtos mesmo contendo mais 50% de produto. 4.4. Análise dos produtos do tipo B 4.4.1. Classificação segundo EN 13279-1 No Quadro 4.6 apresenta-se os produtos do tipo B juntamente com a forma de utilização definido pelos fabricantes. Empresa Sival Quadro 4.6. Produtos do Tipo B – Princípio de utilização Produto Tipo (EN 13279-1) Princípio de utilização TIPO B1 Massa de Gesso de revestimento interior de Estuquef7 aplicação manual Project O CZf8 Gesso de revestimento interior de Project O BRf9 aplicação mecânica Project 2000f10 Iberplastf11 Placo SaintGobain Longipsf12 Gesso de construção Proyalf13 Yeso YGf14 La maruxina Gesso grosso de construção Yesiplusf15 Gesso grosso de construção de aplicação mecânica Proyesof16 Marfilf17 AlgissUralita Fassa Bartolo B1 Jadef18 Gesso manual controlado Coralf19 Gesso de projeção ZP 149f20 Reboco de gesso Gruesof21 Yemasa Yetosa Yeso Fraguado Controladof22 Yeso de Proyectarf23 Yeso Gruesof24 Fraguado Controladof25 Yeso de Proyectarf26 Gesso de construção 47 Empresa TOPECA Fassa Bartolo Quadro 4.6. Produtos do Tipo B – Princípio de utilização Produto Tipo (EN 13279-1) Princípio de utilização TIPO B2 Tuforte FT acabamentof27 Tuforte G B2 Argamassa à base de gesso enchimentof28 ZF 12f29 TIPO B4 Sival Project 2010 CZf30 Project 2010f31 Gesso de revestimento interior aligeirado Project 2000Pf32 Perlinor Superf33 Placo SaintGobain La maruxina Proyal XXIf34 Perlinor Projectarf35 Prolitef36 Gesso de construção aligeirado Aliproyesf37 Aliplus XXVf38 Perlaf39 Gesso manual com perlite Perla +f40 AlgissUralita Rubif41 B4 Algistarf42 Gesso de projeção com perlite Ópalof43 Fassa Bartolo Z 161f44 Reboco aligeirado de gesso Perlimanf45 Yemasa Yetosa Yesos Albi Yeso de Proyectar Aligeradof46 Perliman maquinaf47 Yeso de Proyectar Aligeradof48 Proyalbi-Plusf49 Gesso de construção Revestimento aligeirado de gesso TIPO B7 Placo SaintGobain AlgissUralita Duro THDf50 B7 Diamantef51 Gesso de construção de alta dureza Gesso manual de alta dureza No mercado português existem quatro sub-tipologias de produtos do tipo B. Pela análise do quadro anterior verifica-se que a grande maioria dos produtos corresponde aos revestimentos de gesso de aplicação manual ou mecânica (B1) ou aos revestimentos aligeirados de gesso (B4). Existem vinte produtos de identificação B1, três produtos de identificação B2, vinte de identificação B4 e dois produtos de identificação B7. Não se verifica a existência de nenhum produto com a identificação B3, B5 e B6, ou seja, nenhum produto definido como revestimento de gesso e cal (B3), revestimento aligeirado com base no gesso (B5) e nenhum para revestimento aligeirado de gesso e cal (B6). 48 4.4.2.Composição No Quadro 4.7 apresenta-se o resumo da composição e granulometria dos produtos. Empresa Sival Quadro 4.7. Produtos do Tipo B-Composição e granulometria dos produtos Granulometria / Designação do Adjuvantes, Composição Resíduo peneiro de Produto Fibras 200μm TIPO B1 Massa de Gesso e cargas Estuque minerais Project O CZ Possui Gesso nacional e Project O BR cargas minerais Project 2000 Iberplast Placo SaintGobain Longips Proyal 0-2 mm Gesso Gesso de mistura - Yesiplus Proyeso Marfil AlgissUralita 0-1,5 mm ≤50,0% Yeso YG La maruxina 0-1 mm Possui ≤50,0% - - Possui <0,1 mm - ≤30,00% Gesso Jade Coral Fassa Bartolo Yemasa Yetosa TOPECA Fassa Bartolo ZP 149 Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Tuforte FT acabamento Tuforte G enchimento ZF 12 Gesso, cal-hidratada e pó de pedra Gesso ≤40,00% Sulfato de cálcio com adição de agregados Semi-hidrato e anidrita II artificial Sulfato de cálcio com adição de agregados TIPO B2 Gessos especiais, compostos de sílica Gessos especiais, cargas minerais Gesso, cal hidratada e areias classificadas TIPO B4 Possui ≤30,00% Possui ≤40,00% - Possui <0,6 mm Project 2010 CZ Sival Project 2010 Gesso nacional, cargas minerais e perlite Possui - Project 2000P Perlinor Super Placo SaintGobain La maruxina Proyal XXI Perlinor Projectar Prolite Aliproyes Aliplus XXV 0-1 mm Perla + 0-1 mm 0-0,8 mm Gesso de projeção mecânica com perlite expandida - - Perla AlgissUralita 0-1 mm Gesso aligeirado com perlite Gesso e silicato de alumínio Rubi 49 Empresa Quadro 4.7. Produtos do Tipo B-Composição e granulometria dos produtos Granulometria / Designação do Adjuvantes, Composição Resíduo peneiro de Produto Fibras 200μm Algistar Ópalo Fassa Bartolo Yemasa Yetosa Yesos Albi Placo SaintGobain AlgissUralita Z 161 Gesso, cal hidratada, perlite e areias classificadas Perliman Yeso de Proyectar Aligerado Perliman maquina Yeso de Proyectar Aligerado Sulfato de cálcio e agregados Proyalbi-Plus <0,6 mm Possui Produto aligeirado à base de gesso TIPO B7 - - Duro THD 0-1 mm Gesso de alta dureza - Diamante - Pela análise do Quadro 4.7 constata-se a existência de empresas que identificam que o gesso é nacional como acontece em alguns produtos da tipologia B1 e B4 da marca Sival. Depois existem alterações na informação prestada por cada empresa relativamente aos restantes componentes da composição. Nalguns produtos temos a informação que estes são formulados com gessos especiais (produtos da TOPECA do tipo B2), gessos de alta dureza (produtos do tipo B7) e gessos aligeirados por perlite ou perlite expandida (produtos do tipo B4 da SaintGobain, Sival, La Marauxina e Fassa Bartolo). Para o caso dos produtos da Fassa Bartolo há a informação destes conterem cal-hidratada, sendo a composição apresentada sumariada e não existindo nenhuma informação relativa à percentagem dos vários componentes. Quanto à natureza dos agregados a informação é escassa e apresentada de maneira diferenciada verificando-se a presença de cargas minerais, pó de pedra, e compostos por sílica e silicato de alumínio entre os produtos presentes no Quadro 4.7. A granulometria dos produtos junto dos quais foi possível obter informação mostra que os produtos apresentam uma granulometria fina variando entre 0-2 mm, tendo-se uma granulometria inferior a 0,1mm para o produto ZP 149 (Fassa Bartolo). Existem ainda produtos que não mencionam intervalos de granulometria, mas que informam que a percentagem de resíduo no peneiro de 200μm é inferior a 50%. 4.4.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação No Quadro 4.8 é indicada a informação relativa à relação água/gesso para a produção dos produtos analisados, e o tempo de utilização. A Figura 4.3 apresenta a relação água/gesso (litros/Kg) dos vários produtos presentes no mercado nacional e na Figura 4.4 os valores médios do tempo de fim de presa ou os valores máximos do tempo de utilização. 50 Quadro 4.8. Produtos do Tipo B - Relação água/gesso e tempos de utilização Relação água/gesso Tempo de utilização Empresa Produto (litros/Kg) (min) TIPO B1 Massa de Estuque Sival 0,45 Project O CZ Project O BR C.: 120-150; N.: 150-210; L.: >210 - Project 2000 Iberplast Placo SaintGobain Algiss-Uralita C.: 120-150; N.: 150-210; L.: >210 C.: 120-150; N.: 150-210; L.: >210 1 U.: 5-8 Longips <0,8 U.: 10-15; A.: 30-40 Proyal 0,5-0,6 Pr.: até: 100-110; A.: 180-200 Yeso YG La maruxina C. 10-18; N.: 20-45; L.:90-180 Yesiplus 0,7-1 U.: 8-12 U.: 5-25 Proyeso 0,8 Pr.: até: 50; A.: 110-195 Marfil 1 U.: 8-10 Jade Até saturação U.: 6-8 Coral - U.: 180 Fassa Bartolo ZP 149 0,65 Yemasa Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Yetosa Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar U.: 150 I.: 10-15; F.: 30-35 0,8 I.: 12-17; F.: 130-150 0,5-0,6 I.: 60-80; F.: 125-155 0,7 I.: 13-18; .F: 30-35 0,8 I.: 25-35;F.: 130-150 0,5-0,6 I.: 60-80; F.: 125-155 TIPO B2 TOPECA Fassa Bartolo Tuforte FT acabamento Tuforte G enchimento ZF 12 U.: 180 Até homogeneidade U.: 180-240 0,34 P.: 180 TIPO B4 Project 2010 CZ Sival Project 2010 - C.: 120-150; N.:150-210; L.:>210 Project 2000P Placo SaintGobain La maruxina Perlinor Super 0,8-0,9 I.: 40-55; A.: 60-75 Proyal XXI <0,7 I.:115-135; A.: 210-235 Perlinor Projectar <0,8 I.: 125-135; A.: 225-235 Prolite <0,7 I.:100-110; A.: 180-200 - Pr.: até 50; A.:110-195 0,7 U.:60 - U.: 180 Aliproyes Aliplus XXV Perla Perla + Algiss-Uralita Rubi Algistar Ópalo Fassa Bartolo Z 161 0,5 E.: 120 0,6-0,8 I.:30-35; A.:45-60 Yemasa Perliman Yeso de Proyectar Aligerado Perliman maquina 0,6-0,7 I.:90-140; A.:180-240 0,7-0,9 I.:80-120; A. 240-300 51 Quadro 4.8. Produtos do Tipo B - Relação água/gesso e tempos de utilização Relação água/gesso Tempo de utilização Empresa Produto (litros/Kg) (min) Yeso de Proyectar Yetosa 0,5-0,6 I.: 60-80; A.:125-155 Aligerado Yesos Albi Proyalbi-Plus 0,6-0,65 U.:210-220 TIPO B7 Placo SaintGobain Algiss-Uralita Duro THD 0,5 I.:40-60; A.:60-80 Diamante 0,6 U.:60 C.-Curto; N.-Normal; L.-Longo;U.-Utilização; A.-Acabamento; Pr.-Projeção; P.-Princípio/Presa; I.-Início de utilização; F.Final de utilização; E.-Endurecimento Pelo Quadro 4.8 e Figura 4.3, verifica-se que existe uma diferença relativamente à relação água/gesso. Os produtos apresentam uma relação água/gesso que varia entre os 0,34 e 1 l/kg, havendo produtos em que a relação água/gesso depende da saturação ou da homogeneidade da mistura. Contudo, existem informações que sobressaem, como acontece com o produto ZF 12 (Fassa Bartolo) com uma relação água/gesso de 0,34 que é a mais baixa entre os produtos presentes, contrastando com alguns produtos que utilizam uma relação água/gesso de 1, como acontece no produto Iberlast e Marfil. Em alguns casos apesar de não termos a relação que deve ser utilizada é referido que deve ser adicionada água até a saturação, como no caso do produto Jade (Algíss-Uralita), ou então, até se obter homogeneidade, como indicado nos produtos Tuforte FT acabamento e Tuforte G enchimento da TOPECA. Os valores presentes no Quadro 4.8 e Figura 4.4 permitem verificar que o tempo de aplicação é um dos principais diferenciadores entre os produtos registando-se grandes flutuações entre os produtos. O produto Jade (Algíss-Uralita) apresenta um tempo de utilização entre os 6 e os 8 min, sendo o valor mais baixo verificado para produtos do tipo B, enquanto outros produtos apresentam tempos de utilização da pasta entre 3-4 horas, como se verifica no caso do produto Tuforte G enchimento (TOPECA). Isto evidencia que apesar dos produtos apresentarem uma natureza semelhante (à base de gesso) a variação da relação água/gesso e das quantidades e variedades de adjuvantes escolhidos influenciam significativamente o tempo de utilização dos produtos, sendo este um dos principais parâmetros que diferencia os produt 52 53 4.4.4. Características físicas Através da análise relativa às fichas técnicas e declarações de conformidade dos produtos analisados só foi possível reunir informação relativa à massa volúmica aparente do produto em pó, à massa volúmica em pasta para um produto e à massa volúmica aparente no estado endurecido relativa a quatro produtos. Os valores que se conseguiram extrair das fichas técnicas dos produtos estão presentes no Quadro 4.9. Na Figura 4.5 apresenta-se a massa volúmica aparente do produto em pó dos produtos do tipo B. Empresa Sival Placo SaintGobain La maruxina Algiss-Uralita Fassa Bartolo Yemasa Yetosa Quadro 4.9. Caracterização física dos produtos do Tipo B Massa volúmica Massa volúmica do aparente do Produto produto em pasta produto em pó (Kg/m3) 3 (Kg/m ) TIPO B1 Massa de 700-800 Estuque Project O CZ 770-870 Project O BR Project 2000 730-830 Iberplast Longips Proyal Yeso YG Yesiplus Proyeso Marfil Jade Coral ≥800 Massa volúmica do produto endurecido (Kg/m3) - ZP 149 750 1150 Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar - - TIPO B2 TOPECA Fassa Bartolo Tuforte FT acabamento Tuforte G enchimento ZF 12 990 - - - 1480 1100 1000 - 1200 - - TIPO B4 Sival Placo SaintGobain La maruxina Algiss-Uralita Project 2010 CZ Project 2010 Project 2000P Perlinor Super Proyal XXI Perlinor Projectar Prolite Aliproyes Aliplus XXV Perla Perla + 690-790 ≤800 ≤790 - 54 Empresa Fassa Bartolo Yemasa Yetosa Yesos Albi Quadro 4.9. Caracterização física dos produtos do Tipo B Massa volúmica Massa volúmica do aparente do Produto produto em pasta produto em pó (Kg/m3) 3 (Kg/m ) Rubi Algistar Ópalo Z 161 800 Perliman Yeso de Proyectar Aligerado Perliman maquina Yeso de Proyectar Aligerado Proyalbi-Plus ≤800 Massa volúmica do produto endurecido (Kg/m3) 1150 ≤600 - TIPO B7 Massa volúmica aparente do produto em pó [Kg/m3] Placo SaintGobain Algiss-Uralita Duro THD - - - Diamante 1100 1000 900 800 700 600 500 Figura 4.5. Massa volúmica aparente no estado seco dos produtos do tipo B. Os produtos com base em gesso apresentam uma massa volúmica aparente relativamente baixa, entre 600 kg/m3 e os 1000 kg/m3, sendo o maior valor o referente ao produto ZF12 (da Fassa Bartolo) e o menor do Yeso de Proyectar (Yemasa) inferior a 600 kg/m3. Relativamente à massa volúmica no estado fresco verifica-se que o valor de 1480 kg/m3 do produto Tuforte G enchimento (TOPECA) é ligeiramente superior ao seu valor da massa volúmica no estado endurecido, como era de esperar. Os valores de massa volúmica aparente no estado endurecido apresentam uma variação entre os 1100 kg/m 3 e os 1200 kg/m 3. Verificase que estes valores são da mesma ordem de grandeza da massa volúmica aparente no estado 55 seco o que permite obter revestimentos de paredes bastante leves em virtude da baixa massa volúmica no estado endurecido. 4.4.5. Características mecânicas No Quadro 4.10 apresenta-se a recolha de valores das características mecânicas dos produtos do tipo B e na Figura 4.6 indicam-se os valores de resistência mecânica à flexão e à compressão. Refira-se que relativamente à resistência à compressão foram utilizados os valores mínimos quando o fabricante declara valores mínimos e quando são apresentados intervalos de valores foi usado o valor médio. Quadro 4.10. Características mecânicas dos produtos do Tipo B Empresa Produto Sival Massa de Estuque Project O CZ Resistência à flexão (MPa) Resistência à compressão (MPa) Aderência (MPa) Dureza (unidades Shore C) TIPO B1 >2 >4 >1 >2 Project 2000 >1,5 >3 Iberplast ≥2 Longips ≥2 Proyal ≥1 Project O BR Placo SaintGobain Yeso YG La maruxina Yesiplus Proyeso Jade Yemasa Yetosa >50 >60 ≥45 ≥60 ≥2 - ≥2 - ≥1 ≥65 - Coral Fassa Bartolo - >0,1 Marfil AlgissUralita >65 - >45 >2 >70 ZP 149 1,3 3 Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar 2,4-3,4 6,5-7,5 2,2-2,6 5,1-6,1 1,9-2,9 4,0-5,2 2,4-3,4 4,5-5,5 2,1-2,5 4,2-5,2 1,9-2,9 4,0-5,2 - - >65 >65 TIPO B2 TOPECA Fassa Bartolo Tuforte FT acabamento Tuforte G enchimento - ZF 12 1 - - 2 TIPO B4 Sival Project 2010 CZ Project 2010 >2 >1 Project 2000P Perlinor Super - >2,5 ≥1 ≥2 56 >50 >55 >0,1 >45 Quadro 4.10. Características mecânicas dos produtos do Tipo B Empresa Produto Placo SaintGobain Proyal XXI Perlinor Projectar Prolite La maruxina Resistência à flexão (MPa) Resistência à compressão (MPa) ≥45 - Perla + Rubi - - Algistar >2 Yemasa Yetosa Yesos Albi >70 >60 Ópalo Fassa Bartolo Dureza (unidades Shore C) Aliproyes Aliplus XXV Perla AlgissUralita Aderência (MPa) >70 Z 161 1,5 2,5 Perliman Yeso de Proyectar Aligerado Perliman maquina Yeso de Proyectar Aligerado 1,8-2,8 5,0-6,0 ≥0,1 1,7-2,9 3,8-5,0 - 1,0-2,1 2,3-3,7 ≥0,1 1,9-2,9 4,0-5,2 Proyalbi-Plus 1,8-2,5 - >50 6,0-6,8 70-75 TIPO B7 Placo SaintGobain AlgissUralita Duro THD ≥2 ≥6 >0,1 ≥75 Diamante - ≥2 - >80 Relativamente à resistência à flexão, da análise do Quadro 4.10 e da Figura 4.6, verificase que os produtos, dos quais foi possível reunir informação apresentam um mínimo de pelo menos 1 MPa, como é o caso do produto Proyal (Placo) ou PROJECT 2010 CZ (Sival). Já outros produtos têm valores mínimos superiores, como acontece com a massa de estuque (Sival) e ´DURO THD (Placo) que apresentam valores mínimos de 2,0MPa. Os outros produtos têm valores de resistência à flexão dentro do intervalo entre 1 e 3,4 MPa. Na resistência à compressão registam-se valores superiores aos da resistência à flexão tendo-se valores na ordem de grandeza dos 6 MPa nos produtos DURO THD (Placo), Yeso Grueso, Fraguado Controlado, Yeso Grueso (Yemasa) e Proyalbi-Plus (Yesos Albi) que são os que apresentam maiores valores de resistência à compressão. O maior valor é registado no Yeso Grueso (Yemasa) que apresenta um intervalo entre os 6,5 e 7,5 MPa de resistência à compressão. Relativamente aos restantes produtos a maioria apresenta valores mínimos de 2 MPa. Quanto à aderência todos os produtos que apresentam informação relativa a esta característica têm o mesmo valor mínimo, de 0,1 MPa, que corresponde ao requisito mínimo da norma EN 13279-1. 57 Na Figura 4.7 apresentam-se os valores mínimos da dureza dos produtos. O produto Diamante (Algíss-Uralita) é o que apresenta o valor mais elevado da dureza Figura 4.7, com um mínimo de 80 unidades Shore C. Já o produto PROYAL XXI (Placo) é um dos que apresenta um valor mais baixo de 45 unidades Shore C. Os restantes produtos apresentam valores intermédios. Tendo em conta todos os valores presentes no Quadro 4.10 os produtos que apresentam melhor resistência mecânica são os produtos do tipo B7 DURO THD (Placo), Diamante (AlgíssUralita), o Yeso Grueso e o Proyalbi-Plus (Yesos Albi). 4.4.6. Informações adicionais No Quadro 4.11 apresenta-se a informação relativa ao modo de aplicação do produto, à espessura por camada, à quantidade de produto presente em cada saco e ao preço de cada embalagem de produto. Empresa Sival Placo SaintGobain Quadro 4.11. Informações adicionais Espessura Produto Aplicação /camada TIPO B1 Massa de Manual Máx: 20 mm Estuque Project O CZ Projeção Project O BR 10 a 15 mm mecânica Project 2000 Iberplast Longips Proyal Yeso YG La maruxina Yesiplus Proyeso Marfil AlgissUralita Jade Coral Fassa Bartolo Yemasa Yetosa 30 Manual 10 a 20 mm Projeção mecânica 20 Manual - Projeção mecânica 15 mm Preço (€/Unid.) Preço (€/Kg.) 4,69s21 0,156 4,43s21 0,148 4,50s21 0,150 4,61s21 0,154 3,78s28 0,189 2,04s27 0,102 5,31s22 0,266 3,08s24 0,154 3,32s24 0,166 4,70s24 0,235 1,97s23 0,116 1,78s23 0,105 Manual 17-20 Projeção mecânica 20 2,94s23 0,147 25 3,54s25 0,142 1,80s26 0,09 - - - - - - - - - - 22,14s22 1,107 22,14s22 1,107 ZP 149 Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Yeso Grueso Fraguado Controlado Yeso de Proyectar Kg./Saco Manual Projeção mecânica 20 Manual Projeção mecânica TIPO B2 TOPECA Tuforte FT acabamento Tuforte G enchimento Manual 0-2 mm 20 Manual 1-5 mm 58 Quadro 4.11. Informações adicionais Espessura Produto Aplicação /camada Projeção ZF 12 Min:7 mm mecânica TIPO B4 Kg./Saco Preço (€/Unid.) Preço (€/Kg.) 25 2,11s25 0,08 3,87s21 0,155 4,13s21 0,165 Project 2000P 4,13s21 0,165 Perlinor Super 5,15s28 0,258 6,64s22 0,266 4,47s30 0,179 5,37s30 0,215 0,217 Empresa Fassa Bartolo Project 2010 CZ Sival Project 2010 Placo SaintGobain 20 10-20 mm Aliproyes 15 mm 17 10-20 mm 25 6,03s24 0,241 4,08s23 0,240 4,08s23 0,240 4,10s23 0,164 4,10s23 0,164 17 4,14s23 0,244 20 2,21s25 0,111 14 - - 17 - - 14 - - 17 4,39s22 0,258 25 4,41s31 0,176 4,50s28 0,225 2,78s23 0,139 Manual 17 Rubi Algistar Ópalo Fassa Bartolo 25 Projeção mecânica Aliplus XXV Perla AlgissUralita 25 3,69s24 Perla + Yesos Albi Manual Perlinor Projectar La maruxina Yetosa 10-15 mm Proyal XXI Prolite Yemasa Projeção mecânica Projeção mecânica Z 161 Perliman Yeso de Proyectar Aligerado Perliman maquina Yeso de Proyectar Aligerado Min: 5 mm Manual - Projeção mecânica Proyalbi-Plus 25 TIPO B7 Placo SaintGobain AlgissUralita Duro THD 10-20 mm Manual 20 Diamante - De acordo com o Quadro 4.11 o modo de aplicação dos produtos pode ser manual ou por projeção mecânica, não existindo um modo de aplicação específico dentro de cada subtipologia, com exceção dos produtos identificados com B7 em que a aplicação é manual. Em termos de espessura por camada os valores variam entre os 10 e 20 mm para a maioria dos produtos. Os produtos de identificação B2 apresentam espessuras mais finas, confirmando-se o caso do produto Tuforte FT acabamento e Tuforte G enchimento que varia entre 1 e 5mm. 59 60 4.5. Análise dos produtos do Tipo C 4.5.1. Classificação segundo a EN 13279-1 No Quadro 4.12 apresentam-se os produtos do tipo C e a respetiva utilização. Empresa Sival Placo SaintGobain La maruxina Quadro 4.12. Produtos do Tipo C – Princípio de utilização Produto Tipo (EN 13279-1) Princípio de utilização TIPO C6 Massa de Gesso de revestimento interno de Barramentof52 aplicação manual em camada fina Iberfinof53 Gesso de acabamento para aplicação em camada fina Mecafinof54 Finoyesf55 Gesso fino de construção de aplicação manual Termiyesf56 Amatistaf57 AlgissUralita Yemasa Yetosa Amatista Extraf58 C6 Gesso fino de acabamento Azabachef59 Yeso Fino Terminacionf60 Yeso Finof61 Yeso Fino Terminacionf62 Gesso para aplicação em camada fina Gesso especial de acabamento Gesso para aplicação em camada fina Yeso Finof63 TIPO C7 Sival Massa de Acabamentof64 TOPECA Tuforte macfinof65 C7 Gesso de revestimento interior para acabamento final de aplicação manual Argamassa à base de gesso No estudo de mercado efetuado verificou-se a existência no mercado nacional de duas das sete sub-tipologias, nomeadamente a correspondente aos gessos para aplicação em camada fina (C6) com doze produtos e a de gesso para acabamento final (C7) com dois produtos. 4.5.2. Composição No Quadro 4.13 resume-se a informação da composição de cada produto, o tamanho das partículas e a presença de adjuvantes e fibras. Quadro 4.13. Produtos do Tipo C - Composição e granulometria dos produtos Granulometria / Designação do Adjuvantes, Empresa Composição Resíduo no Produto Fibras peneiro de 200μm TIPO C6 Massa de Sival Gesso e cargas minerais Possui Barramento Placo Iberfino Gesso 0-0,4 mm SaintMecafino Gesso e agregados Possui 0-0,2 mm Gobain La maruxina Finoyes ≤15,00% Termiyes ≤2,00% Amatista AlgissUralita Gesso Amatista Extra - Azabache 61 Quadro 4.13. Produtos do Tipo C - Composição e granulometria dos produtos Granulometria / Designação do Adjuvantes, Empresa Composição Resíduo no Produto Fibras peneiro de 200μm Yeso Fino ≤15,00% Terminacion Yemasa Yeso Fino ≤10,00% Semi-hidrato e anidrita II artificial Yeso Fino ≤15,00% Terminacion Yetosa Yeso Fino ≤10,00% TIPO C7 Sival TOPECA Massa de Acabamento Tuforte mac-fino Gesso e cargas minerais Possui - É referida a presença de cargas minerais na Massa de Barramento e Massa de Acabamento (Sival) e no Tuforte mac-fino (TOPECA). Nos produtos em que há informação sobre a granulometria verifica-se que esta varia entre 0-0,2 mm ou entre 0-0,4mm para os produtos Mecafino (Placo) e Iberfiono (Placo), respetivamente. Noutros produtos há a informação da percentagem de resíduo no peneiro de 200 μm, onde as percentagens variam entre os 2% e os 15%. 4.5.3. Relação água/gesso e tempo de aplicação No Quadro 4.14 apresenta-se a relação água/gesso aconselhada para a produção dos produtos do tipo C, e o tempo de utilização da pasta/argamassa de gesso. Na Figura 4.8 apresenta-se a relação água/gesso (litros/Kg) e na Figura 4.9 indicam-se os valores máximos do tempo de utilização dos produtos. Quadro 4.14. Produtos do Tipo C - Relação água/gesso e tempos de aplicação Relação água/gesso Tempos de utilização Empresa Produto (litros/Kg) (min) TIPO C6 Massa de Sival 0,45 U.: 120-240 Barramento Iberfino 1-1,5 U.: 10-15 Placo SaintGobain Mecafino <0,7 I.: 75; A.: 90 La maruxina Finoyes 0,8 U.: 7-20 Termiyes 0,8-0,9 U.: 120 Amatista Algiss-Uralita Yemasa Yetosa Amatista Extra Azabache Yeso Fino Terminacion Yeso Fino Yeso Fino Terminacion Yeso Fino Até saturação U.: 60-90 U.: 60-90 1 U.: 25 0,8 I.: 240 0,9 I.: 9-14; A.: 29-34 0,8 I.: 240 I.: 15-20; A.: 75-90 TIPO C7 Sival TOPECA Massa de Acabamento Tuforte mac-fino 0,6-0,7 U.: 120-240 0,6 U.: 90; P.: >120 U.-Utilização; I.-Início do endurecimento; A.-Acabamento; P.-Presa; 62 Relação água/gesso (l/Kg) 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 Figura 4.8. Relação água/gesso dos produtos do tipo C. As relações água/gesso dos produtos presentes no mercado nacional são significativamente diferentes umas das outras. Conforme se pode verificar no Quadro 4.14, existe uma grande diferença relativamente á relação de água/gesso recomendada para a amassadura. Os produtos presentes no Quadro 4.14 apresentam relações água/gesso de 0,45 a 1,5 l/kg, sendo a Massa de Barramento (Sival) a que apresenta menor relação água/gesso de 0,45. Já o produto Iberfino (da Placo Saint-Gobain) apresenta uma relação água/gesso de 1,5 sendo a maior relação entre os valores disponibilizados. Existem ainda dois produtos que não apresentam valores da relação água/gesso referindo apenas que se deve adicionar água até à saturação, é o caso dos produtos Amatista e Amatista Extra da Algíss-Uralita. Tempo de utilização (min) 300 250 200 150 100 50 0 Figura 4.9. Tempo de utilização dos produtos do tipo C. Os valores apresentados no Quadro 4.14 permitem verificar que o tempo de aplicação tal como a relação água/gesso, têm variações significativas de produto para produto. O produto 63 Iberfino (Placo) é o que apresenta o menor tempo de utilização, inferior a 15 min, valor muito diferente do da massa de acabamento e da massa de Barramento da Sival, com tempos de utilização entre os 120 min e os 240 min. 4.5.4. Características físicas e mecânicas Para os produtos do tipo C, à semelhança do que aconteceu para os produtos do tipo A, apenas se conseguiu reunir informação relativa à massa volúmica aparente do produto em pó. Relativamente às características mecânicas recolheu-se a informação referente a valores de resistência à flexão, compressão e dureza. Os valores que se conseguiram obter nas fichas técnicas dos produtos estão indicadas no Quadro 4.15 e representadas nas Figura 4.10, 4.11 e 4.12. Empresa Sival Placo SaintGobain La maruxina AlgissUralita Yemasa Yetosa Quadro 4.15. Características físicas e mecânicas dos produtos do tipo C Massa volúmica Resistência à Resistência à Produto aparente do produto compressão flexão (MPa) em pó (Kg/m3) (MPa) TIPO C6 Massa de 630-730 >2 >4 Barramento Iberfino ≥2 Mecafino ≥1 Finoyes Termiyes Amatista Amatista Extra Azabache Yeso Fino Terminacion Yeso Fino Yeso Fino Terminacion Yeso Fino ≥2,5 ≥2 Dureza (unidades Shore C) >65 - >45 >50 >45 - - 1,0-2,0 2,0-3,0 ≥45 2,5-3,9 7,2-9,0 - 1,0-2,0 2,0-3,0 ≥45 2,3-3,1 4,9-6,0 - 560-660 >2 >3,5 >60 800 >1 >2 - - TIPO C7 Sival Massa volúmica aparente do produto em pó [Kg/m3] TOPECA Massa de Acabamento Tuforte mac-fino 900 800 700 600 500 Massa de Massa de Tuforte macBarramento Acabamento fino Figura 4.10. Massa volúmica aparente do produto em pó. Pela análise do Quadro 4.15 é possível constatar que os produtos com base em gesso do tipo C apresentam uma massa volúmica aparente do produto em pó relativamente baixa, entre 64 610 Kg/m3 e 800 Kg/m3, tendo o produto Tuforte mac-fino (TOPECA) o maior valor de massa volúmica aparente. Verifica-se também que entre os dois produtos da mesma sub-tipologia (C7) existe uma variação de aproximadamente 200 Kg/m3. Resistência mecânica (em MPa) 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 flexão compressão Figura 4.11. Resistência à flexão e à compressão (em MPa) dos produtos do tipo C. Relativamente à resistência à flexão, da análise do Quadro 4.15 e Figura 4.12, verifica- se que todos os produtos dos quais foi possível reunir informação apresentam como valor mínimo um valor igual ou superior a 1 MPa, como é o caso do produto Mecafino (Placo). Já outros produtos têm valores mínimos superiores, como acontece com a massa de acabamento (Sival) e Iberfino (Placo) que apresentam valores mínimos de 2,0 MPa. O produto Yeso Fino da Yemasa apresenta valores entre os 2,5 e 3,9 MPa, sendo 3,9 MPa o valor mais elevado de resistência à flexão verificado. Relativamente à resistência à compressão verificam-se valores na ordem de grandeza de 2 MPa para os produtos das empresas Placo, La Maruxina e TOPECA. Os produtos da empresa Sival, Massa de Acabamento e Massa de Barramento têm valores superiores a 3,5 MPa e 4 MPa, respetivamente. Os produtos das empresas Yemasa e Yetosa apresentam intervalos de valores para a resistência à compressão dos seus produtos, sendo o intervalo de valores mais Dureza (unidades Shore C) elevado registado para o produto Yeso Fino (Yemasa) com um intervalo de 7,2-9,0 MPa. 70 65 60 55 50 45 40 Figura 4.12. Dureza (em unidades Shore C) dos produtos do tipo C. 65 O produto Massa de Barramento (Sival) é o que apresenta o maior valor mínimo da dureza como se pode observar na Figura 4.12, tendo um valor mínimo de 65 unidades Shore C. O produto Azabache (Algíss-Uralita) é um dos que possui um valor mínimo mais baixo, de 45 unidades Shore C. 4.5.5. Informações adicionais O Quadro 4.16 indica o modo de aplicação dos produtos, a espessura por camada, a quantidade de produto presente em cada saco e o preço de cada embalagem de produto. Empresa Sival Placo SaintGobain La maruxina Quadro 4.16. Informações adicionais Espessura Produto Aplicação /camada TIPO C6 Massa de 2-3 mm Barramento Iberfino Mecafino Finoyes 2 mm Termiyes Kg./Saco Preço (€/Unid.) Preço (€/Kg.) 30 5,38s21 0,179 19 3,19s29 0,168 25 9,23s22 0,369 17 3,20s24 0,188 25 9,74s24 0,390 5,25s23 0,263 6,59s23 0,330 2,54s23 0,127 18 7,87s24 0,437 17 - - 18 4,21s22 0,234 17 - - 25 6,78s21 0,271 20 8,36s22 0,418 Amatista AlgissUralita Yemasa Yetosa Amatista Extra Manual 20 Azabache Yeso Fino Terminacion Yeso Fino Yeso Fino Terminacion Yeso Fino - TIPO C7 Sival TOPECA Massa de Acabamento Tuforte mac-fino 2 mm Manual - Todos os produtos presentes no mercado nacional de tipologia C são de aplicação manual. A espessura por camada varia entre 2-3 mm para os produtos Massa de Barramento (Sival) e os 2 mm para a Massa de Acabamento (Sival) e produto Finoyes (La Maruxina). 4.6. Análise comparativa entre os produtos das várias tipologias Após uma análise aos produtos dentro da mesma tipologia, procura-se efetuar uma análise global dos produtos existentes no mercado nacional à base de gesso, de acordo com o definido na EN 13279-1:2008. Como se pode verificar pela análise dos quadros anteriores existe uma enorme variedade de produtos à base de gesso em Portugal, sendo os produtos com identificação A1, B1, B4 e C6 aqueles que apresentam maior representatividade no mercado português. Existem empresas que apresentam vários produtos diferentes em resposta às exigências dos consumidores, apresentando produtos com pequenas diferenças a nível de composição que proporcionam diferentes propriedades ao nível do tempo de utilização e da resistência mecânica. 66 Incluem ainda pequenas variações na tonalidade da cor apresentada (variando entre branco, bege e cinzento), em função do local de origem e da sua pureza. Em termos de composição dos produtos, a informação disponibilizada pelos fabricantes é na sua globalidade escassa, só referindo que os produtos além do gesso podem conter agregados, inertes, compostos minerais ou siliciosos, cal-hidratada, perlite ou perlite expandida, mas nunca indicando a quantidade destes constituintes. Em relação aos adjuvantes, adições e fibras, apenas existe na descrição de alguns produtos a informação de que estes os possuem, mas não identificam quais, nem qual a sua função no desempenho do produto. O gesso revelou-se um produto com granulometria muito fina, variando entre 0-2 mm, registando-se uma granulometria menor que 0,1mm para o produto ZP 149 da Fassa Bartolo até 2 mm para o produto Iberplast da Placo Saint Gobain. A relação água/gesso necessária para se realizar a amassadura da maior parte dos produtos apresenta uma relação entre os 0,5 e os 0,8 l/kg. O produto ZF 12 (Fassa Bartolo) é aquele que apresenta uma relação água/gesso de apenas 0,34, onde é necessária uma menor quantidade de água para a preparação da pasta. O tempo de aplicação é um dos principais diferenciadores entre os produtos registandose grandes diferenças entre os materiais. O Gesso Estuque (Sival) apresenta um tempo de fim de presa próximo dos 28±5 min, enquanto outros produtos apresentam tempos de utilização da pasta entre 3-4 horas, como se verifica no caso do produto Tuforte G enchimento (TOPECA). Isto evidencia que apesar dos produtos apresentarem uma natureza semelhante (à base de gesso) variam nas quantidades e tipos de adjuvantes utilizados de forma a obterem tempos de utilização distintos. Os produtos com base em gesso apresentam uma massa volúmica aparente relativamente baixa, inferior a 1000 kg/m3, sendo o caso do maior valor disponível, o do produto ZF12 (da Fassa Bartolo). Os menores valores da massa volúmica são os da Massa de Acabamento (Sival) 560-660 kg/m3 e Yeso de Proyectar (Yemasa) inferior a 600 kg/m3. Na resistência à flexão, verifica-se que todos os produtos dos quais foi possível reunir informação apresentam como valor mínimo 1 MPa como é o caso do produto Mecafino (Placo) ou PROJECT 2010 CZ (Sival). Os restantes materiais encontram-se no intervalo entre 1 e 5,2 MPa, sendo 5,2 MPa o maior valor de resistência à flexão indicado nas fichas técnicas dos produtos analisados. A resistência à compressão dos produtos analisados variou entre 2,0 MPa, para produtos que apresentam o valor mínimo requerido na EN 13279-1, e o valor de 9,0 MPa indicado para o Yeso Fino (Yemasa). 67 Os produtos que fazem referência à capacidade de aderência informam que estes têm uma resistência superior a 0,1 MP, valor que corresponde ao requisito mínimo da EN 13279. Relativamente à aderência, os produtos do tipo B apresentam valores mínimos superiores aos registados para os produtos do tipo C. Em ambos os casos os valores são superiores a 45 unidades Shore C. Os produtos que à partida apresentam melhor resistência mecânica são os produtos do tipo B7 DURO THD (Placo), Diamante (Algíss-Uralita), o Yeso Grueso e o Yeso Fino (Yemasa) e Proyalbi-Plus (Yesos Albi), dados os valores disponibilizados nas fichas técnicas dos produtos. 4.7. Produtos selecionados para campanha experimental Após a recolha da informação disponível e respetiva análise, procurou-se realizar uma seleção criteriosa dos produtos a utilizar na campanha experimental (Capítulo 5). Optou-se por selecionar cinco produtos, tendo em consideração os seguintes aspetos: a tipologia segundo a EN 13279-1, a informação do produto, a sua composição, representatividade da sua utilização na indústria da construção portuguesa e a disponibilidade dos fabricantes ou distribuidores em fornecer material para ensaio. Assim, os produtos selecionadas englobam as três tipologias estabelecidas na EN 13279-1, nomeadamente, um produto do tipo A, dois produtos do tipo B e dois do tipo C. Dentro da tipologia B optou-se por um produto B2 e outro B4. Relativamente à tipologia C optou-se por dois produtos C7. A escolha destes produtos procurou incluir os produtos mais frequentemente utilizados em Portugal. 68 Capítulo 5 – Campanha Experimental 5.1.Considerações gerais Neste capítulo descreve-se a campanha experimental desenvolvida no Laboratório de Construção do DECivil, do Instituto Superior Técnico. O estudo experimental incidiu sobre cinco produtos: um ligante à base de gesso e quatro argamassas pré-doseadas à base de gesso. Ao longo deste capítulo é descrito o modo de receção e acondicionamento dos produtos no estado seco, a produção das pastas e argamassas de gesso, a produção dos provetes normalizados de gesso, assim como todos os procedimentos a efetuar para a caracterização dos produtos no estado seco, no estado fresco e no estado endurecido. Os procedimentos de ensaio foram repetidos pelo menos três vezes para cada produto de maneira a poder-se calcular um valor médio. 5.2.Descrição dos produtos selecionados Nesta campanha experimental pretende-se que os produtos a analisar abranjam todas as tipologias existentes na norma EN 13279-1, de modo a permitir a realização de uma análise comparativa entre as várias tipologias. A seleção dos produtos inclui um ligante à base de gesso do tipo A, duas argamassas à base de gesso do tipo B e duas argamassas à base de gesso para fins especiais do tipo C. No Quadro 5.1 estão apresentados os produtos selecionados para o estudo experimental, a sua tipologia e sub-tipologias estabelecidos na EN 13279-1, a designação adotada para o produto e algumas características dos produtos selecionados que foram recolhidas nos seus documentos técnicos. Quadro 5.1. Designação adotada, tipologia e algumas características dos produtos selecionados para caracterização experimental. Designação adotada Tipo Relação água/gesso (litros/Kg) Tempo de aplicação (min) Massa volúmica aparente do produto em pó (Kg/m3) Rf (MPa) Rc (MPa) 600-700 ≈5,2 - 990 - - 690-790 >1 >2 560-660 >2 >3,5 800 >1 >2 L A1 ≈0,7 I.P.: 12±3; F.P.: 28±5 AG1 B2 Até homogeneidade U.: 180 AG2 B4 - AE1 C7 0,6-0,7 AE2 C7 0,6 c. 120-150; n.:150-210; l.>210 U.: 120-240 U.: 90minutos; F.P.: >120min Caracterização mecânica I.P. – Início de presa; F.P.-Fim de presa; U.-Utilização; c.-Curto; n.-Normal; L.-Longo. Rf – Resistência à flexão; Rc – Resistência à compressão. Nota: As características correspondem à Informação constante nas fichas técnicas dos produtos. Com esta seleção procurou-se também que os produtos selecionados correspondessem a ligantes e argamassas com alguma representatividade no mercado da construção e que fossem de preferência de empresas com sede em Portugal. Desejou-se ainda que os produtos analisados possuíssem fichas técnicas, certificados ou fichas de desempenho que dessem um contributo favorável à descrição das suas características de forma a permitir realizar uma 69 comparação com os resultados obtidos nos ensaios saliente-se como já referido anteriormente para sua seleção dos produtos a estudar foi tido em conta a disponibilidade na sua obtenção destes produtos. Os produtos selecionados foram fornecidos em sacos de papel “Kraft” com um peso compreendido entre os 20 Kg e os 30 Kg. O acondicionamento dos produtos, tal como pode ser visto na Figura 5.1, foi feito em barricas durante todo o período afeto à realização da campanha experimental. Figura 5.1. Acondicionamento dos sacos dos produtos selecionados no interior de barricas. 5.3.Plano de ensaios O conjunto de procedimentos planeados para esta campanha experimental tem como objetivo caracterizar os produtos selecionados no estado seco, fresco e endurecido. Os ensaios foram realizados de acordo com os procedimentos existentes nas normas para estes produtos e outros procedimentos que se acharam oportunos para aprofundar o conhecimento destes produtos. O trabalho experimental foi desenvolvido em três partes. A primeira parte corresponde aos ensaios de caracterização no estado seco onde se realizam ensaios para obter a análise granulométrica, determinação da massa volúmica aparente e determinação da humidade do produto seco. A segunda parte corresponde aos ensaios de caracterização no estado fresco. Os ensaios consistem na determinação da relação água/gesso, determinação da água de presa, determinação do princípio de presa, tempo de presa e determinação da massa volúmica aparente no estado fresco. A última parte diz respeito aos ensaios de caracterização no estado endurecido, tendo sido avaliados parâmetros físicos e mecânicos. Determinou-se a resistência à flexão, a resistência à compressão, a dureza superficial, a aderência, a absorção de água, a absorção de água por capilaridade, a massa volúmica real e aparente no estado endurecido e a porosidade. O conjunto de procedimentos efetuados para caracterização experimental dos cinco produtos selecionados, bem como a norma segundo a qual são realizados, estão presentes nas 70 Figuras 5.2 e 5.3, de referir que sendo o produto L um ligante a caracterização mecânica é ligeiramente diferente da das argamassas. Ligante e Argamassas à base de gesso Estado Seco Estado Fresco Determinação da massa volúmica aparente Determinação da massa volúmica aparente (NP EN 1097-3) (EN 1015-6) Determinação granulométrica Determinação da relação água/gesso (NP 379) (EN 13279-2) Análise Granulométrica (EN 1015-1) Determinação da humidade (NP 319) Determinação da água de presa (NP 318) Determinação do tempo de presa (EN 13279-2) Determinação do princípio de presa e do tempo de presa (NP 321) Figura 5.2. Ensaios efetuados no ligante e argamassas à base de gesso no estado seco e fresco. 71 Produtos Estado Endurecido Caraterização mecânica Caraterização física Argamassas à base de gesso Ligante de gesso Resistência à flexão Determinação da dureza Resistência à flexão (EN 13279-2) (EN 13279-2 ) (EN 13279-2) (EN 13279-2) 6 provetes 3 provetes - 18 medições 6 provetes 6 provetes - 36 medições Rsistência à compressão (EN 13279-2) 12 meios provetes Determinação da dureza Aderênciia ao suporte Determinação da capacidade de absorção de água (NP 762) 3 provetes - 9 miniprovetes (EN 13279-2) 2 tijolos Reistência à compressão (EN 13279-2) 12 meios provetes Determinação da absorção de água por capilaridade (EN 1015-18) - 3 provetes Determinação da massa volúmica no estado endurecido (EN 1015-10) Pesagem hidroestática (RILEM) 3 provetes Figura 5.3. Ensaios efetuados no ligante e nas argamassas à base de gesso no estado endurecido. 5.4. Produção de pastas e argamassas 5.4.1.Execução das argamassas Ao longo da campanha experimental realizaram-se diversas amassaduras, para a realização dos ensaios de caracterização no estado fresco, moldagem de provetes para o estado endurecido e amassaduras para moldagem da camada de revestimento pré-doseada de gesso de 1 cm de espessura aplicada sobre a superfície de tijolo cerâmico. Devido às limitações inerentes à capacidade do balde da misturadora presente no laboratório, efetuou-se previamente um ensaio para determinar aproximadamente a quantidade de pasta e de argamassa de gesso necessária para preencher dois moldes de provetes prismáticos e também determinar a quantidade necessária para realizar o revestimento de 1 cm do tijolo cerâmico de forma a evitar desperdício de material. 72 Pesam-se as quantidades necessárias de gesso e água (associada à relação água/gesso obtida), para preparar um volume de pasta ou de argamassa de gesso que permita preencher os três compartimentos que compõem um molde de provetes prismático, com dimensões interiores de 40mmx40mmx160mm. Coloca-se a água no recipiente da misturadora e seguidamente adiciona-se o gesso à água e mexe-se manualmente com a espátula durante 1 min, aproximadamente. A pasta é depois misturada na misturadora durante 1 min a baixa velocidade com (140±5) min-1 em rotação e (62±5) min-1 em movimento planetário (Figura 5.4). Figura 5.4. Material e equipamento para preparação das argamassas. 5.4.2.Preparação de provetes normalizados com pasta de gesso Para a determinação das propriedades físicas e mecânicas dos gessos ensaiados, moldaram-se uma série de provetes de 40mmx40mmx160mm, de acordo com o procedimento seguidamente descrito. Imediatamente depois da preparação, transfere-se a pasta com a ajuda de uma espátula para os moldes previamente oleados pressionando nas arestas e cantos. Para eliminar a presença de bolhas de ar no interior do material, deve-se deixar cair o molde num dos lados de uma altura de 10mm. Após a desmoldagem dos primeiros provetes verificou-se que o seu preenchimento foi incompleto em resultado da elevada aderência do material à superfície dos moldes. No sentido de obviar este inconveniente optou-se por revestir os moldes com uma película anti-aderente que permitisse uma maior facilidade na desmoldagem dos provetes, evitando dessa forma que os provetes se danificassem na desmoldagem (Figura 5.5). 73 Todo o processo de enchimento dos moldes não deve ter uma duração superior a 10min, desde o início da amassadura e a sua superfície não deve ser alisada. Quando a pasta fizer pressa deve-se eliminar o material sobrante com uma régua metálica, mediante um movimento de serra. Os moldes são mantidos no ambiente do laboratório até à sua desmoldagem. Figura 5.5. Equipamento utilizado e preparação de provetes normalizados. A desmoldagem dos provetes moldados com pasta de gesso (produto L) foi efetuada decorridas 24 horas da sua produção, tendo os restantes provetes produzidos com argamassas de gesso sido desmoldados decorridas aproximadamente 72 horas depois da sua produção. Depois de desmoldados, os provetes foram conservados na câmara condicionada (HR≈70% e T≈20 ± 2ºC) até à data da sua caracterização no estado endurecido, Figura 5.6. Figura 5.6. Acondicionamento dos provetes, no interior da câmara seca. Depois de retirados da câmara condicionada, e previamente à realização dos ensaios, os provetes foram secos em estufa até se obter massa constante a uma temperatura de 74 (40±2)°C. Depois de secos, os provetes são arrefecidos até à temperatura do ambiente do laboratório. Realizaram-se ensaios de caracterização aos 7 dias e aos 28 dias de idade. A Figura 5.7 e Figura 5.8 apresentam os valores de temperatura e humidade relativa 24/mar 31/mar 24/mar 31/mar 17/mar 10/mar 3/mar 24/fev 17/fev 10/fev 3/fev 27/jan 20/jan 13/jan 6/jan 30/dez 23/dez 16/dez 9/dez 22,0 21,0 20,0 19,0 18,0 17,0 2/dez Temperatura (ºC) registados na câmara seca. 17/mar 10/mar 03/mar 24/fev 17/fev 10/fev 03/fev 27/jan 20/jan 13/jan 06/jan 30/dez 23/dez 16/dez 09/dez 80 75 70 65 60 55 50 02/dez Humidade (%) Figura 5.7. Evolução da temperatura ao longo do tempo no interior da câmara condicionada. Figura 5.8. Evolução da humidade relativa ao longo do tempo no interior da câmara condicionada. 5.5. Caracterização no estado seco – Metodologias de ensaio A caracterização das argamassas pré-doseadas no estado seco realizada no âmbito do presente estudo inclui a determinação granulométrica, a determinação da humidade e da massa volúmica aparente no estado seco. a)Determinação da massa volúmica aparente (segundo a NP EN 1097-3:2002) O ensaio para avaliação da massa volúmica aparente da amostra no estado seco efetua- se seguindo o procedimento descrito na NP EN 1097-3:2002 e com o equipamento que se ilustra na Figura 5.9. Com o auxílio de uma colher procede-se à recolha da amostra para um tabuleiro metálico, que é posteriormente colocada (a amostra) na estufa a 100±5ºC até atingir massa constante. Pesa-se o recipiente de capacidade conhecida (neste caso 1 litro) registando esse valor como m1. Procede-se ao seu enchimento completo até extravasar, sempre com o cuidado de a amostra não ser colocada com a colher a mais de 5 cm de altura relativamente ao topo do molde. Com o auxílio de uma régua metálica executa-se o nivelamento do material pelo topo do molde. 75 Pesa-se o recipiente cheio (amostra seca + molde) registando esse valor como m2. Calcula-se o valor médio da massa volúmica aparente através da equação 5.1: 𝑀𝑉𝑎𝑝𝑎𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 [𝐾𝑔/𝑚3 ] = 𝑚2 − 𝑚1 𝑉 (Equação 5.1) sendo, m1 – massa do molde vazio com 1litro de capacidade (Kg); m2 – massa do molde preenchido com amostra no estado seco (Kg); V – volume do molde cilíndrico (m3). a) b) c) d) e) f) g) h) Figura 5.9. a)Tabuleiro e gesso em pó, b) balança, c) estufa, d) molde com capacidade de 1dm 3, e) régua, f) g) e h) procedimento de execução. b)Análise Granulométrica pela norma EN 1015-1:2006 Para a realização da análise granulométrica adota-se o procedimento descrito na EN 1015-1:2006 utilizando-se o equipamento da Figura 5.10. Para esse efeito utiliza-se peneiros com aberturas de: 8,00 mm; 4,00 mm; 2,00 mm; 1,00mm; 0,500 mm; 0,250 mm; 0, 125 mm e 0,063 mm. A toma das amostras dos produtos é efetuada com uma colher sendo a amostra colocada num tabuleiro metálico. Depois esta é seca em estufa a 100±5ºC. Seguidamente, pesa-se 100g de material seco e realiza-se a peneiração recorrendo ao agitador de peneiros, procedendo depois a uma peneiração manual (em que a massa passada seja inferior a 0,2% da massa total da amostra). Ao fim da peneiração de cada um dos peneiros é registada a massa retida nesse peneiro expressa em percentagem do total da amostra em estudo. a) b) c) d) Figura 5.10. a) Tabuleiro com gesso em pó, b) conjunto de peneiros utilizados, c) agitador de peneiros, d) peneiração. 76 c)Determinação da granulometria pela norma NP 379 (1964) Para a determinação da granulometria do gesso recorre-se ao procedimento descrito na NP 379 (1964). Para este ensaio prepara-se a amostra com aproximadamente 200g de gesso que é seca em estufa durante 1 hora a 100±5ºC. Ao fim desse tempo pesam-se 100g de gesso com a aproximação de 0,1g procedendo-se de seguida à sua peneiração. Para efetuar a determinação granulométrica peneira-se manualmente a amostra através da série de peneiros indicada no Quadro 5.2 e pesa-se a massa que fica retida no fundo de cada peneiro. Quadro 5.2. Série de peneiros utilizados na determinação granulométrica N.º do peneiro Abertura da malha [mm] Diâmetro nominal do fio [mm] 20 8,84 0,510 40 0,42 0,290 60 0,250 0,180 100 0,149 0,110 120 0,125 0,091 Fonte: NP 379 (1964). Os resultados são expressos como uma percentagem do gesso seco retido em cada peneiro, relativamente à massa total da amostra. d)Determinação da humidade pela norma NP 319 (1963) A determinação da humidade dos gessos é realizada de acordo com a NP 319 (1963). O ensaio consiste em aquecer uma amostra de gesso e registar a perda de massa verificada (Figura 5.11). Começa-se por pesar um recipiente, registando o valor como m 1. Pesa-se uma amostra com 100 g de gesso, com a aproximação de 0,1 g e regista-se m2 (massa da amostra e do recipiente). Espalha-se a amostra pelo tabuleiro metálico de modo a garantir uma camada de baixa espessura. Coloca-se o recipiente com a amostra na estufa a uma temperatura de 100±5 °C até se registar uma massa constante. Pesa-se o recipiente a massa constante como m 3. A humidade, H, é expressa em percentagem, de acordo com a equação 5.2: 𝐻[%] = 𝑚2 − 𝑚3 × 100 𝑚2− 𝑚1 (Equação 5.2) sendo, m1 - massa do recipiente; m2 - massa do recipiente com a amostra; m3 - massa do recipiente com a amostra seca. a) b) c) d) Figura 5.11. Equipamento para determinação da humidade: a) colher, b) tabuleiro com gesso em pó, c) balança, d) estufa. 77 5.6. Caracterização no estado fresco – Metodologias de ensaio A caracterização das argamassas no estado fresco consistiu na determinação da relação água/gesso e da água de presa. A partir da relação água/gesso obtida produziu-se argamassa para determinar o princípio de presa e tempo de presa. Tendo em conta que a trabalhabilidade das argamassas diminui ao longo do tempo devido ao processo de endurecimento que se inicia logo após a adição da água, a determinação da massa volúmica aparente no estado fresco foi realizada imediatamente após o fim do processo de amassadura. a)Determinação da massa volúmica aparente pela norma EN 1015-6 (1998) A determinação da massa volúmica dos produtos no estado fresco é realizada de acordo com os procedimentos descritos na EN 1015-6:1998, sendo obtida pelo quociente da sua massa pelo volume do molde que está preenchido pela amostra. Começa-se por pesar o molde de volume conhecido, m 1. A pasta ou argamassa de gesso no molde e compacta-se. Com o auxílio de uma régua metálica procede-se ao nivelamento da superfície do molde pelo seu bordo (Figura 5.12), registando-se a massa m2. A massa volúmica, 𝜌𝑚 ,é determinada através da equação 5.3: 𝜌𝑚 = 𝑚2 − 𝑚1 𝑉 (Equação 5.3) sendo, m1 – massa do molde de 1 litro vazio (Kg); m2 – massa do molde preenchido com a amostra no estado fresco (Kg); V – volume do molde cilíndrico (m 3). a) b) Figura 5.12. Equipamento e preparação da massa volúmica aparente, a) espátula, b) molde com capacidade de 1dm3. b)Determinação da relação água/gesso pela EN 13279-2 Para a determinação da relação água/gesso a EN 13279-2 apresenta três métodos distintos que dependem da tipologia do produto: método da aspersão, método de espalhamento e espalhamento com compactação. O método de aspersão é usado para pastas à base de gesso. O método de espalhamento é usado em argamassa com base em gesso e pastas de gesso. O método de espalhamento com compactação é utilizado para as argamassas com base em gesso e argamassas com base em gesso para fins especiais. 78 Método de Aspersão (Sprinkling method) A determinação da relação água/gesso pelo método de aspersão (Figura 5.13) consiste na determinação da quantidade de gesso, expressa em gramas, que é necessária para saturar 100g de água. A determinação foi realizada de acordo com o procedimento descrito na EN 13279-2. Começou-se por pesar 100g de água num recipiente cilíndrico, tendo o cuidado de não humedecer as faces laterais do recipiente, e pesa-se a massa do conjunto, m0 com uma precisão de 0,1g. Seguidamente polvilha-se o gesso sobre a superfície de água até que a pasta de gesso tenha atingido aproximadamente 2 mm abaixo da superfície de água durante aproximadamente 90s. A colocação da amostra de gesso no recipiente com água não excedeu os 120±5s. No restante tempo polvilha-se gesso de forma cuidada até que a superfície de água desapareça devendo evitar-se o surgimento de pequenas “ilhas” de pasta seca. Efetua-se a pesagem do recipiente com a pasta de gesso saturado, m 1. A relação água/gesso é dado pela equação 5.4: 𝑅= 100 𝑚1 − 𝑚0 (Equação 5.4) onde, m0 – é a massa do recipiente + massa de água, em g.; m1 – é a massa do recipiente + massa de água + massa de gesso, em g. Figura 5.13. Determinação da relação água/gesso pelo método de aspersão. Método de espalhamento (Dispersal method) O método do espalhamento consiste na determinação da massa de ligante de gesso ou de argamassa de gesso, que é necessário adicionar a uma determinada quantidade de água de forma a se obter uma certa consistência avaliada na mesa de espalhamento. O procedimento adotado seguiu o descrito na EN 13279-2. Coloca-se 500g de água num recipiente metálico. Pesa-se a quantidade de gesso necessário, em gramas, determinada através de ensaios preliminares, para se obter um espalhamento no intervalo de 150 a 210 mm numa placa plana, m 2. Adiciona-se o gesso e o recipiente que contem 500 g de água, Figura 5.14. A mistura do gesso com a água é realizada de acordo com o descrito na norma. Polvilhase o gesso sobre a água durante 30s e deixa-se a mistura repousar durante 60s. Mexe-se 79 manualmente com o auxílio de uma espátula durante 30s e volta a deixar-se a mistura repousar durante mais 30s seguindo-se uma amassadura manual de 30s. Após a amassadura verte-se a mistura dentro do molde tronco-cónico apoiado na placa de vidro. Remove-se o excesso da mistura através de uma régua metálica. Eleva-se o molde verticalmente (ao fim de três minutos contados desde o início da mistura) e deixa-se a massa fluir ao longo da placa de vidro. Mede-se o diâmetro do material espalhado em duas direções ortogonais e calcula-se o valor médio. Verifica-se se o resultado se encontra no intervalo 150 a 210 mm, e anota-se a quantidade m2 utilizada. A relação água/ gesso é calculada de acordo com a equação 5.5: 𝑅= onde, m2 – é a massa de gesso, em g. 500 𝑚2 (Equação 5.5) Figura 5.14. Determinação da relação água/gesso pelo método de espalhamento Método de espalhamento com compactação (Flow table method) A determinação da relação água/gesso efetua-se através de um procedimento de tentativa e erro até se obter uma determinada consistência, correspondente a um diâmetro da pasta de 165±5 mm obtido na mesa de espalhamento. O procedimento adotado segue o descrito na EN 13279-2. Pesa-se com uma precisão de 0,1 g o gesso necessário para preencher 1,2 dm 3 a 1,5 dm3, m4. Pesa-se na cuba da misturadora a quantidade de água necessária para realizar a mistura, m 3, determinada através de ensaios preliminares. Adiciona-se o gesso à água e mistura-se manualmente com uma espátula durante 1 minuto. Depois agita-se na misturadora durante 1 minuto a baixa velocidade. Coloca-se o anel tronco-cónico no centro da mesa de consistência, verte-se a mistura no seu interior e remove-se o excesso com uma régua metálica de modo a nivelar a superfície do molde. Depois de 10 a 15s levanta-se o anel e aplicam-se 15 golpes verticais na mesa de consistência a uma velocidade constante de 1 por segundo, Figura 5.15. 80 Mede-se o diâmetro da pasta com uma precisão de 1mm em duas direções perpendiculares. Verifica-se se a média destes valores está no intervalo de 165±5mm. Caso tal não se verifique deve-se repetir o processo, adicionando uma quantidade de gesso superior ou inferior de acordo com o resultado obtido. O valor da relação água/ gesso é calculado pela equação 5.6: 𝑅= 𝑚3 𝑚4 (Equação 5.6) onde, m3 – é a massa de água, em g.; m4 – é a massa de gesso, em g. Figura 5.15. Determinação da relação água/gesso pelo método de espalhamento com compactação. c)Determinação da água de pressa pela norma NP 318 (1963) A determinação da água de presa efetuada de acordo com o procedimento de ensaio descrito na NP 318 (1963) consiste em polvilhar o gesso sobre a água para que a água seja absorvida e até que toda a água desapareça, mas sem que o gesso sobrenade. Mede-se 100ml de água numa proveta e pesa-se a quantidade de água, m. Deita-se a água num recipiente cilíndrico e pesa-se a massa do conjunto (massa do recipiente + massa de água), m1. Polvilha-se o gesso sobre a água com uma espátula, evitando polvilhar as paredes verticais do recipiente e sem sobrepor gesso naquele que não mergulhe. Completa-se o polvilhamento deitando gesso nos locais onde a água ainda aflore. Pesa-se o conjunto (massa do recipiente + massa de água + massa de gesso), m 2. A água de presa que é expressa em percentagem da massa de gesso é calculado pela equação 5.7: Á𝑔𝑢𝑎 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 [%] = 𝑚 × 100 𝑚2− 𝑚1 (Equação 5.7) sendo, m a massa de 100ml de água; m 1 a massa do recipiente cilíndrico com a água; m2 a massa do recipiente com a água e com o gesso. d)Determinação do início de pressa pela norma EN 13279-2 Para a determinação do tempo de presa a EN 13279-2 estabelece dois procedimentos de ensaio. O método da faca e o método de “Vicat”. O primeiro é usado para ligantes à base de gesso e o segundo é aplicável a todas as argamassas de gesso. 81 Método de faca (Knife method) O tempo de presa inicial é o tempo medido em minutos que decorre desde a adição da água ao gesso até que as arestas de um corte realizado com uma espátula na pasta de gesso deixem de fluir em conjunto, Figura 5.16. Começa-se pela produção da pasta de gesso. Para isso mistura-se o ligante à base de gesso com a quantidade de água determinada pelo método de aspersão ou espalhamento descritos anteriormente. O instante em que se adiciona o gesso à água é anotado como (t0). Prepara-se a pasta que se verte sobre uma placa retangular e formam-se 3 fiadas com uma espessura de aproximadamente 5mm. Realizam-se cortes em duas fiadas de ensaio com intervalos não superiores a 1/20 do tempo de presa esperado (servem de ensaio) e deixa-se uma fiada para realizar o corte onde se determina o tempo de presa inicial. Tem-se o cuidado de limpar e secar a faca após cada corte. Quando os bordos de um corte feito ao tempo t1 deixam de se unirem alcança-se o tempo de presa inicial (ti). O tempo de presa é dado pela equação 5.8: (Equação 5.6) 𝑡𝑖 = 𝑡1 − 𝑡0 (Equação 5.8) sendo, ti é o tempo de pressa inicial, em minutos; t0 o tempo em que o gesso é adicionado à água, em minutos; t1 o tempo em que a aresta de um corte efetuado com uma faca através do gesso deixa de fluir junto, em minutos; Figura 5.16. Determinação do início de presa pelo método da faca. Método de “Vicat” (Vicat cone method) Este método consiste na determinação da profundidade de penetração de uma agulha de extremidade cónica na pasta de gesso utilizando o aparelho de Vicat. Para realizar este ensaio foi necessário proceder ao fabrico de uma agulha cónica em cobre com 50 mm de comprimento e 8 mm de base, dimensões presentes na EN 13279. Este princípio é usado para determinar o 82 tempo de presa inicial. Começou-se por colocar o anel de vicat sobre a placa de vidro, tendo o cuidado de deixar a abertura maior em contacto com o vidro, Figura 5.17. O gesso é misturado com a quantidade de água determinada pelo método de dispersão ou método de mesa de consistência descritos anteriormente. O tempo (t 0) corresponde ao instante em que o gesso foi adicionado à água. Verte-se a mistura para o anel do equipamento de Vicat que tem 40 mm de altura, 65 e 75 mm nas bases e, remove-se o excesso de material. Baixa-se o cone sobre o material. O tempo entre cada penetração do cone não deve exceder 1/20 do tempo de presa inicial. Registase o momento em que se obtém uma profundidade de penetração de (22±2) mm acima da placa de vidro, t1. A extremidade inferior do cone fica a uma distância da base da amostra de gesso compreendida entre 20 e 24 mm. Tem-se o cuidado de limpar e secar o cone após cada introdução e evita-se haver hiatos de tempo superiores a 12 min entre cada penetração. O tempo de presa, é dado pela equação 5.9: 𝑡𝑖 = 𝑡1 − 𝑡0 (Equação 5.6) onde, ti é o tempo de pressa inicial, em minutos; to o tempo em que o gesso é adicionado à água, em minutos; t1 o tempo em que é obtida uma profundidade de penetração de (22±2) mm acima da chapa de vidro, em minutos. Figura 5.17. Determinação do início de presa pelo método do cone de “Vicat”. e)Determinação do princípio de presa e do tempo de pressa pela norma NP 321 (1964) A determinação do tempo de princípio de presa e tempo de presa descrito na NP 321 (1964) é efetuada pelo método calorimétrico. 83 Pesa-se uma quantidade de gesso correspondente ao resultado do ensaio de determinação de água de presa descrito anteriormente. Deita-se a água num recipiente e adiciona-se a quantidade de gesso preparada e, simultaneamente, põe-se o cronómetro em marcha. Deixa-se a pasta repousar um minuto e mistura-se o gesso e a água com o auxílio de uma espátula, durante cerca de 30s, para se obter uma pasta homogénea e sem grumos. Vazase a pasta de gesso para um anel de vicat assente sobre uma placa de vidro (Figura 5.18). Introduz-se um termómetro no seio da pasta de gesso, tendo o cuidado de utilizar uma estrutura que evite o deslocamento do termómetro no decorrer do ensaio. A zona do termómetro que fica em contacto com o gesso foi previamente untada com vaselina para facilitar a sua remoção no fim do ensaio. Regista-se a elevação da temperatura da pasta de gesso em função do tempo. O início de presa refere-se ao momento em que começa o aumento da temperatura e o instante em que se atinge a temperatura máxima corresponde ao fim de presa. O tempo de presa é o valor do intervalo decorrido entre o início e o fim de presa. Os resultados são expressos em minutos. Figura 5.18. Determinação do princípio de presa e tempo de presa segundo a norma NP 321. 5.7. Caracterização no estado endurecido – Metodologias de ensaio A caracterização no estado endurecido engloba características mecânicas e físicas. As propriedades físicas foram avaliados aos 28 dias de idade, tendo-se determinado a absorção de água, a absorção de água por capilaridade, a massa volúmica aparente e real e a porosidade. Foram avaliadas aos 7 e aos 28 dias de idade as seguintes características mecânicas: resistência à flexão e à compressão, a dureza e a aderência. Caracterização física a)Massa volúmica da argamassa no estado endurecido (segundo a EN 1015-10 (1999)) Para a determinação da massa volúmica das argamassas no estado endurecido, procede-se de acordo com o descrito na EN 1015-10 (1999). Medem-se as dimensões dos provetes prismáticos (Figura 5.19). A largura e a altura correspondem à média de três medições, efetuadas nos extremos e no centro do prisma. No comprimento, efetua-se apenas uma medição. Pesam-se os provetes prismáticos. O volume total de cada provete prismático obtém-se através da equação 5.10: 84 𝑉 =𝑙×𝑎×𝑐 (Equação 5.10) sendo, V – volume (mm3); l – largura (mm); a – altura (mm); c – comprimento (mm). A massa volúmica aparente no estado endurecido de cada prisma é determinado através da equação 5.11: 𝜌= 𝑀 𝑉 (Equação 5.11) sendo, ρ – massa volúmica do provete (g/dm 3); M – massa do provete (g); V – volume do provete (dm3). Figura 5.19. Equipamento e material para determinação da massa volúmica no estado endurecido. b)Determinação da capacidade de absorção de água pela norma NP 762 (1969) Este ensaio consiste na determinação da capacidade de absorção de água do gesso. Utiliza-se um procedimento semelhante ao da norma NP 762 (1969) com uma modificação na forma dos provetes utilizados (Figura 5.20). Produz-se a pasta de gesso com a relação água/gesso obtida no ensaio de espalhamento com compactação. Enquanto a pasta estiver fluída preenchem-se os moldes prismáticos sem transbordar, mas deixando excesso de material para que se possa rasar quando o gesso ganhar consistência. Os provetes são desmoldados assim que ganhem consistência. Efetua-se o corte dos provetes prismáticos em três mini-provetes para se aproximar das dimensões dos provetes referidos na NP 762. Secam-se os provetes na estufa até que apresentem massa constante. Retiram-se os provetes da estufa e deixam-se arrefecer no exsicador até à temperatura ambiente. Pesam-se os mini-provetes de gesso (m) e mergulham-se em água à temperatura compreendida entre 15ºC e 20ºC, durante 10h. Retiram-se os provetes da água e deixam-se a escorrer colocando-os sobre material não absorvente e mudando por diversas vezes a face de apoio. É removida a água que escorre e quando já não há água livre sobre as faces dos provetes, pesa-se novamente, m 1. A capacidade de absorção de água, que é expressa em percentagem da massa de gesso, é determinado pela equação 5.12: 𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎 [%] = 𝑚1 − 𝑚 × 100 𝑚 85 (Equação 5.12) Figura 5.20. Determinação da capacidade de absorção segundo a norma NP 762 (1969). c)Determinação da absorção de água por capilaridade pela norma EN 1015-18 (2002) O ensaio de absorção de água por capilaridade baseia-se nos procedimentos preconizados na EN 1015-18:2002. O ensaio é efetuado em três provetes prismáticos com 40mmx40mmx160mm de cada um dos produtos estudados. Antes de se proceder ao início do ensaio, todos os provetes são secos, em estufa a uma temperatura de 60±5ºC. A secagem iniciase aos 28 dias de idade até que os provetes atinjam massa constante. Após este período, os provetes são colocados durante 24 horas num exsicador contendo sílica gel, de forma a garantir o seu arrefecimento até atingir a temperatura ambiente e permanecem num ambiente seco. Seguidamente, procede-se ao registo da massa de cada provete seco. Após a pesagem, faz-se numa das faces do provete uma marcação prévia da altura de água (5 mm), com o objetivo de garantir que o nível de água se mantém constante no decurso do ensaio. Posteriormente, introduz-se em os provetes na vertical sobre duas varetas de vidro, colocadas no fundo de um tabuleiro metálico, de forma a suportar os provetes de ensaio (Figura 5.21). Por último, procedese à colocação de água no tabuleiro com o auxílio de um esguicho, de modo a garantir que a base dos provetes fica imersa e o nível da água atinja a altura de 5 mm na face lateral do provete. Este procedimento é realizado de forma lenta e progressiva, a fim de se evitar que as restantes faces sejam molhadas. De seguida, coloca-se sobre o conjunto (tabuleiro e provetes) uma 86 campânula de modo a minimizar a evaporação de água. O nível de água é controlado ao longo de todo o ensaio ajustando-se sempre que necessário. As medições correspondentes ao ensaio são efetuadas ao fim de tempos t i, contados desde a colocação do provete em contacto com a água. Em cada tempo t i, regista-se a massa do provete (Mi), sendo necessário fazer previamente a remoção de água livre em excesso com um pano. Para avaliar a quantidade de água absorvida ao longo do tempo de ensaio pesam-se os provetes ao fim de 5 min, 10 min, 15 min, 30 min, 1h, 1h30min,3h, 6h, 8, 12h, 24h, 48h e 72h. O cálculo do coeficiente de capilaridade foi efetuado de acordo com a equação 5.13: 𝐶= (𝑀𝑖 − 𝑀0 ) 𝑆 (Equação 5.13) sendo, C - Coeficiente de absorção de água [kg/m 2]; M0 - massa do provete seco [kg]; Mi - massa do provete após um determinado intervalo de tempo (ti) [kg]; S-superfície do provete em contacto com a água – 0,04x0,04 m2. Figura 5.21. Determinação da absorção de água por capilaridade. d)Ensaio de determinação da porosidade e da massa volúmica aparente (RILEM 1989) O procedimento adotado neste ensaio segue o estabelecido pela RILEM/PEM (1989), método que é proposto para pedras, cerâmicos e para argamassas. Após a cura dos provetes, os provetes são inseridos numa estufa à temperatura de 100±5ºC para secagem, até atingirem massa constante. Os provetes são seguidamente colocados num exsicador (Figura 5.22), que contenha sílica gel no seu interior, para que arrefeçam sem que haja ganho de humidade. Decorridas 24 horas regista-se, numa balança de precisão 0,01g a massa seca, M1. De seguida, colocam-se os provetes no interior do exsicador que se encontra ligado à bomba de vácuo regulando-a para uma pressão de 20mmHg, durante um período de 24 horas. A diminuição gradual de pressão que se faz sentir no interior do exsicador provoca a extração do ar contido no interior da amostra. Para que isso ocorra, há que garantir uma correta estanquidade ao ar da ligação tampa-exsicador, aplicando-se uma camada de vaselina entre a superfície da tampa e a do exsicador. 87 Decorridas 24 horas, mantendo-se o vácuo introduz-se água através da válvula que está ligada ao exterior, até que os provetes fiquem totalmente submersos. Este procedimento não deve durar um período de tempo inferior a 15 minutos e ao encher o recipiente com água temse o cuidado de não atingir o nível da válvula que está ligada à bomba de vácuo. Os provetes permanecem em imersão à pressão referida durante 24 horas. Terminado este tempo, desligase a bomba, abre-se a torneira por onde foi introduzida a água e permanecem os provetes imersos à pressão atmosférica por mais um período de 24 horas. Por último, executam-se as pesagens. Para a pesagem hidrostática, retira-se cada um dos provetes do exsicador e colocam-se num suporte totalmente imerso e suspenso numa balança de precisão de 0,1g. O valor obtido corresponde à massa em imersão, M2. Logo de seguida, extraiu-se o provete da imersão, e, com o auxílio de um pano absorvente, limpa-se as superfícies do provete eliminando a água em excesso. Pesando o provete nestas condições é avaliada a massa saturada, M 3. O método da pesagem hidrostática (Figura 5.23) é o mais adequado para a determinação da massa volúmica aparente. Com base nos resultados das pesagens efetuadas M 1, M2 e M3 determina-se a porosidade aberta, Pap, a massa volúmica real Mreal e a massa volúmica aparente, Map, através das equações 5.14, 5.15 e 5.16. 𝑃𝑎𝑝 (%) = 𝑀3 − 𝑀1 × 100 𝑀3 − 𝑀2 (Equação 5.14) 𝑀𝑟𝑒𝑎𝑙 (𝑘𝑔/𝑚3 ) = 𝑀1 × 103 𝑀3 − 𝑀2 (Equação 5.15) 𝑀𝑎𝑝 (𝑘𝑔/𝑚3 ) = 𝑀1 × 103 𝑀1 − 𝑀2 (Equação 5.16) Em que: M1-massa do provete seco (g); M2-massa do provete em imersão (g); M3-massa do provete saturado (g). Figura 5.22. Equipamento (Exsicador) e provetes à pressão. 88 Figura 5.23. Determinação da porosidade e massa volúmica aparente (segundo RILEM 1989). Caracterização mecânica e)Determinação da resistência à flexão pela norma EN 13279-2 A resistência à flexão obtêm-se determinando a carga necessária para romper um provete prismático de 160mmx40mmx40mm, colocado sobre apoios distanciados 100mm (Figura 5.24). Seguiu-se o procedimento descrito na EN 13279-2 para realizar este ensaio. Começa-se por colocar o provete de forma centrada sobre os apoios do dispositivo de flexão e aplica-se uma carga até que o provete rompa. Anota-se a carga máxima, em Newton, que o provete suporta. A resistência à flexão σf, expressa em N/mm2, é dada pela equação 5.17: 𝜎𝑓 = 0,00234𝑃 (Equação 5.17) onde, P expresso em N. A resistência à flexão corresponde ao quociente entre o momento fletor (M) e o módulo de flexão (W) do material, obtendo-se a equação 18: 𝑃×𝑙 3𝑃𝑙 𝜎𝑓 = 4 2 = 𝑎×𝑏 2𝑎𝑏 2 6 (Equação 5.18) Introduzindo os valores de l=100 mm e das dimensões do provete (a) e (b) com 40 mm obtém-se a equação 5.19: 𝜎𝑓 = 3 × 𝑃 × 100 = 0,00234𝑃 2 × 40 × 402 89 (Equação 5.19) Figura 5.24. Determinação da resistência à flexão. f)Determinação da resistência à compressão pela norma EN 13279-2 O procedimento adotado foi o descrito na EN 13279-2. Coloca-se de forma centrada cada um dos meios provetes resultantes do ensaio de flexão na prensa de ensaios de compressão de argamassas, e aplica-se a carga até que o provete atinja a rotura (Figura 5.25). Regista-se o valor P da carga máxima, em Newtons. A resistência à compressão é expressa através da equação 5.20: P (Equação 5.20) 1600 é a resistência à compressão em N/mm 2; P é a carga de rotura em N; σc = onde, σc 1600 = 40mmx40mm é a área do provete em mm 2; Como se obtêm no mínimo 6 valores, resultantes do ensaio de cada conjunto de 3 provetes, determina-se o valor médio e o respetivo desvio padrão. Figura 5.25. Determinação da resistência à compressão. g)Determinação da Dureza pela norma EN 13279-2 Este ensaio consiste na determinação da impressão na superfície do provete de gesso produzida de uma esfera de aço com 12 mm de diâmetro submetida a uma força determinada. Para este ensaio utiliza-se um procedimento semelhante ao descrito na EN 13279-2, recorre-se a uma esfera com um diâmetro de 12 mm, uma chapa de aço e um recipiente onde se coloca um conjunto de pesos que permite atingir uma carga de 200N. Realizam-se determinações em duas faces laterais dos provetes prismáticos com 40mmx40mmx160mm que estiveram em contacto com o molde. Com o auxílio de uma esfera e de um dispositivo que permite aplicar uma força de 200N, aplica-se a força perpendicularmente 90 à face a ser ensaiada, em três pontos equidistantes e localizados a pelo menos 20mm das extremidades (Figura 5.26). A carga é mantida durante 15s. Com o auxílio de uma craveira medese a profundidade de cavidades impressas pela esfera. A dureza H, expressa em Newtons por milímetro quadrado é dada pela equação 5.21: 𝐻= 𝐹 20 × 1000 6366 = = 𝜋×𝐷×𝑡 𝜋×1×𝑡 𝑡 (Equação 5.21) onde, F é a carga em N; D é o diâmetro da esfera em mm; t é a profundidade da impressão expressa em μm. Registam-se os resultados de ensaio em grupos de três, correspondentes a cada face e testam-se 18 profundidades de impressão. Calcula-se o valor médio, t, e indica-se o número de resultados entre 0,9t e 1,1t para excluir impressões em zonas com poros óbvios. Figura 5.26. Ensaio de determinação da dureza. d)Determinação da aderência pela norma EN 13279-2 A aderência de um gesso a um determinado suporte é avaliada através da força máxima de arrancamento aplicada a uma pastilha metálica fixada ao gesso. Para a realização deste ensaio adotou-se um procedimento semelhante ao da norma EN 13279-2. Começou-se por selecionar uma superfície de suporte, tendo-se optado por tijolos cerâmicos. A mistura de água/gesso é efetuada com a relação água/gesso determinada pelo método de espalhamento com compactação. Aplica-se a mistura sobre a superfície do tijolo cerâmico de modo a se obter uma espessura de 1 cm. Os provetes são mantidos durante 7 e 28 dias na câmara seca. Com a ajuda de uma serra elétrica cortam-se as áreas retangulares a ensaiar. O corte é realizado tendo em conta o tamanho das pastilhas, evitando-se o excesso ou defeito de material sob as pastilhas metálicas. Sobre estes provetes aplica-se uma resina epoxídica para colar a pastilha metálica aos provetes. Com o auxílio do equipamento do ensaio de pull out aplica-se uma força de tração perpendicularmente à superfície de ensaio, Figura 5.27. O valor da resistência de aderência é calculado através da equação 5.22: 𝑅𝑢 = 𝐹𝑢 𝐴 (Equação 5.22) 91 onde, Ru é a força de aderência em N/mm 2; Fu é a carga de rotura; A é a área de contacto da pastilha metálica com o provete em mm2. O resultado do ensaio de aderência calcula-se como o valor médio de todos os valores individuais e expressa-se com uma precisão de 0,01 N/mm2. Figura 5.27. Determinação da aderência. 92 Capítulo 6 – Apresentação, Análise e Discussão dos Resultados No presente capítulo, são apresentados os resultados obtidos nos ensaios laboratoriais descritos no capítulo anterior. A campanha experimental teve como objetivo analisar as características das pastas e das argamassas à base de gesso que foram selecionadas, e que se indicam no Quadro 6.1. Foi efetuada uma caracterização dos produtos no estado seco, no estado fresco e no estado endurecido. Quadro 6.1. Produtos selecionados para caracterização experimental Tipo Designação adotada A1 L B2 AG1 B4 AG2 C7 AE1 C7 AE2 6.1. Caracterização no estado seco O desempenho de cada produto é substancialmente influenciado pela sua composição e formulação. A caracterização dos produtos selecionados no estado seco envolveu a determinação da análise granulométrica (pelo método descrito no enquadramento normativo europeu e segundo a norma portuguesa), a determinação da humidade e a determinação da massa volúmica aparente. 6.1.1. Análise Granulométrica O Quadro 6.2 apresenta os resultados das análises granulométricas realizadas às amostras de produtos em estudo segundo a norma EN 1015-1 e a Figura 6.1 (à esquerda) apresenta as respetivas curvas granulométricas. Abertura do peneiro (mm) 8 4 2 1 0,5 0,25 0,125 0,063 Quadro 6.2. Análise Granulométrica - EN 1015-1 Material Acumulado Passado [%] A (A1) B B2 B4 L AE1 AG1 AG2 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 99,8 100,0 94,0 99,5 82,2 86,5 81,2 56,4 27,8 85,6 65,3 8,3 21,4 83,0 51,7 4,3 C (C7) AE2 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 97,7 97,4 95,2 No Quadro 6.3 apresentam-se os resultados obtidos nas análises granulométricas realizadas segundo a NP 379 das amostras dos produtos em estudo e a Figura 6.1 (à direita) apresenta as respetivas curvas granulométricas. 93 Abertura do peneiro (mm) 8 0,425 0,250 0,150 0,125 Quadro 6.3. Análise granulométrica - NP 379 Material Acumulado Passado [%] A (A1) B L B2 B4 AE1 AG1 AG2 100,0 100,0 100,0 100,0 99,7 99,2 90,6 99,8 94,1 94,7 79,6 63,9 48,2 92,4 67,6 22,6 37,3 91,2 54,9 15,7 0,01 0,10 1,00 AE2 100,0 99,6 95,6 94,9 94,7 NP 379 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 10,00 Material Acumulado Passado [%] Material Acumulado Passado [%] EN 1015-1 C (C7) Abertura do peneiro [mm] 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 L AG1 AG2 AE1 AE2 0,10 1,00 10,00 Abertura do peneiro [mm] Figura 6.1. Curvas granulométricas dos produtos estudados segundo a EN 1015-1 (à esquerda) e a NP 379 (à direita). Os valores presentes no Quadro 6.2 são representativos de uma média de três medições efetuadas para cada amostra de produto em estudo. Do Quadro 6.2 verifica-se que os produtos em análise apresentam diferentes teores de constituintes finos (<0,063mm). De todos os produtos estudados, o AE2 é claramente o que apresenta maior percentagem de constituintes finos (≈95%) sendo mais de vinte vezes superior ao valor obtido para o AE1, que apresenta a menor percentagem de constituintes finos (≈4,3%). O AE1 é o produto que apresenta uma granulometria mais grossa como é possível verificar pela Figura 6.1 (à esquerda). Note-se que com exceção do produto AE1 que apresenta uma percentagem de material acumulado passado de 56,4% no peneiro de 250 μm todos os restantes produtos apresentam percentagens superiores a 80%. As maiores diferenças surgem no material acumulado passado no peneiro de abertura de 125 μm, onde fica retido aproximadamente 50% do produto L e AE1 e 15% do AG2. A análise granulométrica dos produtos estudados permite verificar que dentro da mesma tipologia de produtos se verificam diferenças significativas na constituição de finos, conforme se pode verificar pelo Quadro 6.2 e na Figuras 6.1 (à esquerda) para os produtos de tipologia B e C. Nos produtos de tipologia B verifica-se que o produto AG1 tem uma maior percentagem de constituintes finos (<0,063mm) relativamente ao produto AG2, uma vez que apresenta 30% mais de material acumulado passado. 94 Relativamente à determinação granulométrica (NP 379) salienta-se à partida que a abertura dos peneiros é diferente da descrita na NP 379, mas representativa das curvas granulométricas das amostras dos produtos em estudo e que pode ser complementada com o ensaio anterior. Como é possível observar na Figura 6.1 (à direita), a determinação granulométrica realizada aos vários produtos estudados originou curvas granulométricas diferentes para os vários produtos. Segundo o Quadro 6.3 o material acumulado no peneiro de abertura de 425 μm foi superior a 99% para todos os produtos, exceto o produto AG2 em que ficam 10% de material retido. No peneiro de 250 μm só os produtos AG2 e AE1 apresentam uma percentagem superior a 10% de material retido e no peneiro de 150 μm verificou-se uma retenção superior a 40% do produto L e AE1. Volta-se a registar que AE1 é o produto que apresenta a menor percentagem de material passado acumulado no peneiro com a abertura mais pequena, sendo o de granulometria mais grossa entre os produtos estudados. A determinação granulométrica aos produtos do tipo B permite verificar que o AG1 tem uma granulometria mais fina que o AG2, como é possível verificar pela percentagem de material passado acumulado no peneiro de 125 μm (≈91% e ≈55% para o AG1 e AG2, respetivamente), Figura 6.1. (à direita). A determinação granulométrica dos produtos do tipo C permite verificar que AE2 e AE1, apresentam granulometrias diferentes a partir do peneiro de 250 μm de abertura. A argamassa AE2 é um produto com granulometria mais fina, apresentando uma percentagem de material passado acumulado no peneiro de 125 μm superior a 90%, bastante acima dos 15,7% registados para a AE1. Os materiais AG1 e AE2 voltam a apresentar curvas granulométricas próximas uma da outra como já havia acontecido no ensaio anterior de análise granulométrica segundo a EN 13279-2. A granulometria dos produtos é relevante na medida em que tem influência em diversas características da argamassa tais como a compacidade, a quantidade de água de amassadura necessária, a trabalhabilidade e a tipologia dos poros formados. 6.1.2. Massa volúmica aparente e humidade O Quadro 6.4 e a Figura 6.2 apresentam o valor médio e o desvio-padrão dos resultados obtidos nos materiais estudados da massa volúmica aparente e da humidade dos produtos no estado seco. 95 Quadro 6.4. Valores de massa volúmica aparente (NP EN 1097-3) e da humidade (NP 319) dos produtos no estado seco Massa volúmica aparente (Kg/m3) Humidade [%] Tipo Produto n V.M.±D.P. Ficha Técnica n V.M.+D.P. A1 L 16 840 ± 38 600-700 5 1,8 ± 0,7 B2 AG1 10 890 ± 20 990 5 0,9 ± 0,2 B4 AG2 7 930 ± 48 690-790 6 0,9 ± 0,6 C7 C7 AE1 AE2 14 10 810 ± 40 820 ± 13 560-660 800 6 5 1,4 ± 0,2 1,3 ± 0,2 n - número de determinações; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão; 2,70 2,40 950 Ficha técnica 900 850 800 750 700 2,10 Humidade [%] Massa Volúmica Aparente [Kg/m3] 1000 1,80 1,50 1,20 0,90 0,60 650 0,30 600 L 0,00 AG1 AG2 AE1 AE2 L AG1 AG2 AE1 AE2 Figura 6.2. Massa volúmica aparente da mistura seca (à esquerda) e humidade dos produtos estudados (à direita). O maior valor da massa volúmica aparente foi registado para AG2 (≈930 Kg/m3), seguido de AG1 e L. Por fim tem-se o AE1 e AE2 com praticamente a mesma massa volúmica aparente (≈820 Kg/m3). Os produtos estudados apresentam valores de massa volúmica aparente compreendidos entre 810 kg/m3 e 930 Kg/m3. Analisando a massa volúmica aparente para os produtos tipo B verifica-se que estes apresentam uma ligeira diferença entre eles. Relativamente aos produtos do tipo C, verifica-se que os produtos AE1 e AE2 apresentam praticamente a mesma massa volúmica aparente. O material L apresenta um valor intermédio de massa volúmica aparente relativamente aos produtos do tipo B e os produtos do tipo C. Verifica-se que o valor da massa volúmica aparente obtido para os produtos estudados é ligeiramente superior aos valores que os fabricantes apresentam para os produtos L, AG2 e AE1. Para AG1 obteve-se um valor de massa volúmica aparente ligeiramente inferior ao valor apresentado pelo fabricante. No caso do AE2 obteve-se um valor praticamente idêntico ao valor de massa volúmica aparente indicado pelo fabricante. A Figura 6.2 (à direita) apresenta os valores obtidos no ensaio de determinação da humidade dos produtos estudados. Todos os produtos apresentam uma humidade inferior a 2%. O maior valor da humidade registou-se para o produto L, onde se obteve um valor médio de 1,8%, sendo os valores mais baixos os registados para os produtos do tipo B em que se 96 registaram valores médios de 0,9%. Para as argamassas do tipo C registaram-se valores de 1,3% e 1,4%, respetivamente para os produtos AE2 e AE1. Analisando os dois produtos da tipologia B verifica-se que apresentam valores semelhantes o mesmo acontecendo entre os dois produtos da tipologia C. 6.2. Caracterização no estado fresco A caracterização dos produtos estudados no estado fresco envolveu a determinação da relação água/gesso através de 3 métodos distintos, a determinação da água de presa, determinação do tempo de princípio de presa, tempo de presa e ainda a determinação da massa volúmica aparente no estado fresco. O Quadro 6.5 apresenta os resultados dos ensaios de determinação da massa volúmica aparente no estado fresco (Figura 6.3), da água de presa e da relação água/gesso para os vários produtos estudados, indicando-se também o valor da relação água/gesso indicado na ficha técnica do produto. Quadro 6.5. Resultados da massa volúmica aparente, da água de presa e da relação água/gesso para os produtos estudados Tipo Produto A1 L EN 1015-6 Massa volúmica aparente (kg/m3) n V.M.+D.P. n V.M.+D.P. n V.M.+D.P. n V.M.+D.P. Espalhamento com compactação R [A/G] n V.M.+D.P. 5 3 67±1 9 0,66±0,03 3 0,65±0,04 5 1650±64 NP 318 EN 13279-2 Água de presa [A/G] Aspersão R [A/G] Espalhamento R [A/G] Ficha Técnica R [A/G] 0,67±0,03 ≈0,7 B2 AG1 4 1530±18 3 71±5 3 0,70±0,02 4 0,55±0,07 4 0,55±0,04 0,550,60 B4 AG2 5 1580±130 3 65±1 9 0,69±0,07 4 0,56±0,07 5 0,54±0,09 - C7 AE1 6 1630±34 3 68±8 3 0,67±0,02 3 0,59±0,01 5 0,59±0,08 0,650,70 C7 AE2 4 1500±10 3 69±2 3 0,68±0,01 3 0,66±0,05 3 0,60±0,00 ≈ 0,60 n - número de determinações; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão; Massa Volúmica Aparente [Kg/m3] 1750 1700 1650 1600 1550 1500 1450 1400 1350 1300 L AG1 AG2 Figura 6.3. Massa volúmica aparente. 97 AE1 AE2 O produto L é o que apresenta maior valor de massa volúmica aparente no estado fresco (≈1650 Kg/m3).Seguem-se os materiais AE1, AG2, AG1 e por fim AE2 que apresenta o valor mais baixo (≈1500Kg/m 3). Os valores obtidos encontram-se todos entre os 1500 Kg/m 3 e os Kg/m3, não existindo uma grande diferença entre os valores das massas volúmicas 1650 aparentes dos vários produtos estudados. Analisando os produtos do tipo C (AE1 e AE2) verifica-se que, ao contrário do que acontecia no estado seco em que ambas as argamassas apresentavam aproximadamente o mesmo valor de massa volúmica aparente, não acontece no estado fresco o material AE2 tem valor da massa volúmica inferior ao de AE1. No Quadro 6.5 e na Figura 6.4 (à esquerda) indica-se a quantidade de água necessária para a presa do gesso dos vários produtos estudados, determinada segundo o procedimento de ensaio estabelecido na NP 318. AE2 AE1 Método de Espalhamento com Compactação AG2 Método de Espalhamento AE2 AE1 AG2 AG1 AG1 L L 55 60 65 70 75 80 Água de presa A/G [%] Método de Aspersão 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 Relação Água/Gesso Figura 6.4. Água de presa, NP318 (à esquerda) e relação água/gesso, EN 13279 (à direita). Verifica-se que os valores obtidos para a relação água/gesso se encontram no intervalo de 65-71%. O produto AG2 é a que necessita de menor quantidade de água enquanto os restantes produtos necessitam de uma quantidade semelhante. Relativamente aos produtos do tipo B (AG1 e AG2), constata-se que o produto AG1 necessita de uma maior quantidade de água, tendo-se obtido 71 ml e 65 ml de água por cada 100g de gesso, respetivamente, para os produtos AG1 e AG2. Os produtos do tipo C (AE1 e AE2) necessitam praticamente da mesma quantidade de água para a presa do gesso. O AE1 precisa de 68 ml de água por cada 100g de gesso e o AE2 precisa de 69 ml de água. No Quadro 6.5 e Figura 6.4 (à direita) indica-se a relação água/gesso dos vários produtos determinada segundo os vários métodos descritos na EN 13279-2. 98 Nesta determinação decidiu-se realizar os procedimentos descritos na norma não diferenciando os produtos e estabeleceu-se uma comparação entre os resultados dos vários métodos de ensaio de determinação da relação água/gesso. Segundo a EN 13279-2 a determinação da relação água/gesso para o produto L (produto do tipo A) pode ser realizada segundo o método de aspersão ou espalhamento, enquanto para os restantes produtos se deve realizar o ensaio de determinação da relação água/gesso pelo método de espalhamento com ou sem compactação. Para o método de aspersão, obtiveram-se resultados semelhantes aos verificados para o ensaio anterior (determinação da água de presa), devido à semelhança que existe entre os dois procedimentos. Os resultados encontram-se entre os 0,60-0,70. O produto L necessita de uma menor relação água/gesso, aproximadamente 0,66. Pelos métodos de espalhamento e espalhamento com compactação obtiveram-se valores inferiores de relação água/gesso, tal como se previa, uma vez que são métodos mais precisos e que contêm nos seus procedimentos um limite de espalhamento o que conduz a uma determinação mais precisa da relação água/gesso. No caso do método de espalhamento o limite de espalhamento está compreendido entre 150 e 210 mm e no método de espalhamento com compactação o resultado deve cumprir 165±5 mm. Para o método de espalhamento os valores de a/g situaram-se entre 0,55-0,66, tendo- se registado uma relação água/gesso de 0,66 para AE2 e de 0,55 para o produto AG1. Verifica-se que os produtos do tipo B apresentam valores bastante próximos, 0,55 e 0,56, respetivamente para a AG1 e AG2. Os produtos do tipo C apresentam uma relação água/gesso ligeiramente superior entre 0,59 e 0,66. Já o produto L apresenta um valor ligeiramente inferior ao verificado para a argamassa AE2, 0,65. Para o método de espalhamento com compactação os valores de a/g situaram-se entre 0,54-0,67. Tendo-se agora registado o valor mais elevado no produto L. Todos os restantes valores são praticamente iguais aos registados pelo método de espalhamento, com exceção do produto AE2, onde se verificou ser necessária uma quantidade de água inferior para se obter um espalhamento da pasta de gesso dentro dos limites estabelecidos no procedimento. Para os produtos do tipo B obteve-se uma relação água/gesso de 0,54 e 0,55 para AG2 e AG1, respetivamente. Para os produtos do tipo C os valores da relação variam entre 0,59 e 0,60 para AE1 e AE2, respetivamente. No produto L, verifica-se que os valores da relação água/gesso obtidos pelo método da NP 318 e segundo o método de aspersão e espalhamento são bastante próximos. Já o mesmo não se verifica para os restantes produtos onde o valor obtido através do método da NP 318 é ligeiramente superior aos resultados dos métodos descritos na EN 13279-2 para estes produtos 99 (método de espalhamento e espalhamento com compactação). Constata-se também que os dois métodos preconizados na EN 13279-2 relativos a cada produto apresentam valores idênticos. Com base nos valores obtidos no ensaio de espalhamento com compactação verifica-se que todos os valores das amostras estudadas se encontram próximos e até dentro do intervalo estipulado pelos fabricantes. Para a caracterização dos produtos no estado fresco é importante caracterizar os tempos de presa. O Quadro 6.6 apresenta os resultados dos ensaios do tempo de princípio de presa e do tempo de presa. Quadro 6.6. Resultados dos ensaios de caracterização no estado fresco – tempo de início de presa e tempo de presa Tempo de início de presa Tempo de presa (min) (min) Tipo Produto NP321 EN13279-2 NP321 n V.M. n V.M. n V.M. A1 L 3 11 3 34 3 44 B2 AG1 3 49 3 273 3 216 B4 AG2 3 71 3 418 3 393 C7 AE1 3 41 3 362 3 327 C7 AE2 3 46 3 279 3 225 n - número de determinações; V.M.-Valor médio; Os valores do tempo de início de presa determinados pelo método calorimétrico descrito na NP-321 são apresentados no Quadro 6.6 e na Figura 6.5. 0 10 20 Tempo (min) 30 40 50 60 70 80 L AG1 AG2 AE1 AE2 Figura 6.5. Tempo de início de presa (NP 321). Pela análise da Figura 6.5 verifica-se que o produto AG2 é o que apresenta o maior valor de princípio de presa, enquanto o produto L é o que apresenta um menor valor de tempo de princípio de presa. Os restantes produtos apresentam valores bastante próximos, entre os 40 100 minutos e 50 minutos. Os valores obtidos nas amostras estudadas estão dentro dos limites indicados pelos fabricantes nos casos em que essa informação é disponibilizada e respeitam os limites impostos pelas normas em vigor. Os valores dos tempos de presa dos produtos estudados determinados segundo a EN 13279-2 e a NP 321 são apresentados no Quadro 6.6 e Figura 6.6. 0 100 Tempo (min) 200 300 400 500 L AG1 EN 13279-2 NP 321 AG2 AE1 AE2 Figura 6.6. Tempos de presa. A análise dos tempos de presa determinados segundo a EN 13279-2 permite verificar que existe uma grande discrepância entre os vários produtos estudados. Os valores obtidos variam entre os 34 minutos e os 418 minutos para os produtos L e AG2, respetivamente. Os valores obtidos para o produto L encontram-se bastante próximos dos fornecidos pelo fabricante. Para os restantes materiais obtiveram-se valores de tempos de presa superiores aos valores de utilização do produto disponibilizados pelos fabricantes. Analisando os produtos do tipo B verifica-se que o AG2 tem um tempo de presa superior ao do AG1. Nas argamassas do tipo C verifica-se também que existe o produto AE1 tem um tempo de presa muito superior a AE2. Os valores do tempo de presa determinados pelo método calorimétrico descrito na NP321 são ligeiramente inferiores aos obtidos pelo ensaio anterior. O material L continua a apresentar o valor mais baixo de tempo de presa apesar de, contrariamente aos restantes, ter aumentando, enquanto o AG2 apresenta o valor mais elevado. Verificou-se que o L foi o que apresentou também a maior variação de temperatura durante o processo de presa. Para os restantes materiais verifica-se que a subida não foi tão significativa. Os produtos AG1 e AE2 voltaram a apresentar tempos de presa bastante próximos, 216 minutos e 225 minutos, respetivamente. Para AE1 e AE2 obteve-se respetivamente 327 minutos e 393 minutos. 101 Na Figura 6.7 representam-se o tempo de presa obtido pelo método descrito na EN 13279-2 em função do tempo de presa obtido pela NP 321. Constata-se que existe uma boa correlação entre os resultados dos dois métodos, com um coeficiente de correlação de 97%. Na Figura 6.7 à direita representam-se os resultados dos dois tipos de ensaio indicando-se também 500 400 Tempo de presa (min) Tempo de presa [NP321] (min) uma reta com 45º de inclinação, onde é possível constatar a elevada proximidade dos resultados. R² = 0,9729 300 200 100 0 0 100 200 300 400 500 500 400 300 EN13279 NP 321 200 100 0 0 Tempo de presa [EN 13279-2] (min) 100 200 300 400 500 Tempo de presa (min) Figura 6.7. Relação entre os tempos de presa obtidos pela NP 321 e EN 13279-2. 6.3. Caracterização no estado endurecido A caracterização das pastas e das argamassas no estado endurecido envolveu a determinação de parâmetros físicos e de parâmetros mecânicos. Os parâmetros físicos foram avaliados aos 28 dias de idade tendo sido determinada a massa volúmica aparente e real, a porosidade, a absorção de água e a absorção de água por capilaridade. Nos parâmetros mecânicos determinou-se a resistência à flexão e à compressão, a dureza e a aderência. Todas estas determinações foram efetuadas aos 7 e aos 28 dias de idade. 6.3.1. Caracterização física A caracterização física envolveu a determinação da massa volúmica aparente e real, da porosidade aberta, da absorção de água e da absorção de água por capilaridade. O Quadro 6.7 apresenta os resultados obtidos em alguns dos ensaios enunciados. Estes valores permitem obter alguma informação relativa à estrutura interna dos produtos, possibilitando-se por esta via a análise de relações, não só com os constituintes e formulações empregues, que no caso dos produtos pré-doseados se desconhece, como também com os restantes ensaios de caracterização. 102 Quadro 6.7. Resultados dos ensaios de determinação da massa volúmica aparente e real no estado endurecido e da porosidade aberta Massa Volúmica (Kg/m3) Porosidade [%] Tipo Aparente Produto Real EN 1015-10 RILEM n V.M. n V.M.. n V.M.+D.P. n V.M. A1 L 3 40,6 3 1870 15 1060± 23 3 1110 B2 AG1 3 48,7 3 1940 6 900 ± 37 3 990 B4 AG2 3 38,2 3 1720 12 1060 ± 75 3 1070 C7 AE1 3 45,9 3 1980 15 1170 ± 207 3 1070 C7 AE2 3 47,0 3 1780 6 1050 ± 57 3 940 n - número de determinações; V.M.-Valor médio; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão; Os resultados dos ensaios de determinação da porosidade aberta são apresentados no Quadro 6.7 e na Figura 6.8 (à esquerda). Na Figura 6.8 (à direita) analisa-se a correlação entre 50 Tensão de resistência à compresão aos 7 dias, [MPa] Porosidade Aberta [%] a resistência à compressão e a porosidade aberta. 40 30 20 10 0 L AG1 AG2 AE1 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 R² = 0,6991 30 40 50 Porosidade aberta [%] AE2 Figura 6.8. Porosidade aberta (à esquerda) e relação entre a resistência à compressão e a porosidade aberta (à direita), 28 dias. A análise da Figura 6.8 (à direita) permite verificar que se obteve uma boa correlação entre os valores de porosidade das argamassas e da resistência à compressão aos 7 dias de idade. Na análise desta correlação não se considerou o resultado do produto L que é uma pasta à base de gesso. Da Figura 6.8 (à direita) verifica-se que os produtos mais porosos são mais brandos, enquanto os menos porosos são mais compactos e apresentam valores superiores de resistência mecânica. Os produtos do tipo C (AE1 e AE2), apresentam valores de porosidade bastante próximos 46% e 47%, respetivamente, valores esses intermédios aos registados para os produtos do tipo B, onde se obteve uma porosidade de 49% para o AG1 e de 38% para o AG2. O produto L apresentou uma porosidade de 41%, superior à do AG2 mas inferior aos registados nos produtos do tipo C. Na Figura 6.9 apresentam-se os valores, da massa volúmica aparente determinada com base na EN 1015-10 e de massa volúmica aparente e massa volúmica real obtidos no ensaio de pesagem hidrostática (RILEM). A relação entre a massa volúmica aparente no estado endurecido 103 (aos 28 dias de idade) e massa volúmica aparente no estado fresco é apresentada na Figura 6.10. Massa Volúmica [Kg/m3] 2500 2000 1500 Real (RILEM) Aparente (EN1015) 1000 Aparente (RILEM) 500 0 L AG1 AG2 AE1 AE2 Massa Volúmica Aparente aos 28 dias [Kg/m3] Figura 6.9. Massa volúmica aparente, 28 dias. 1150 R² = 0,9318 1100 1050 1000 950 900 1450 1500 1550 1600 1650 1700 Massa Volúmica Aparente no estado fresco [Kg/m 3] Figura 6.10. Relação entre a massa volúmica aparente no estado fresco e no estado endurecido (28dias). A análise da Figura 6.10 permite verificar uma boa correlação ente os valores de massa volúmica aparente no estado endurecido (aos 28 dias) com os valores da massa volúmica aparente no estado fresco. Verifica-se que os valores da massa volúmica aparente no estado endurecido obtidos pelo processo descrito na EN 1015-10 e pela pesagem hidrostática (RILEM) são semelhantes. Relativamente à massa volúmica aparente determinada de acordo com a EN 1015-10, o valor mais elevado foi o do AE1 (1170Kg/m 3), seguido dos produtos AG2, L, AE2 e por fim AG1 (900Kg/m3). Relativamente à massa volúmica aparente obtida pelo processo de pesagem hidrostática, o valor mais elevado foi o do produto L (1110Kg/m3), seguido do produto AE1, AG2, AG1 e por fim AE2 (940Kg/m3). 104 Da análise do Quadro 6.7 e Figura 6.9 verifica-se que o AE2 apresenta o maior valor da massa volúmica real (1980 Kg/m 3), seguido do AG1 (1940 Kg/m3), L (1870Kg/m3), AE1 (1780 Kg/m3) e por fim o que apresenta o valor menor o AG2 (1720 Kg/m3). Os valores da massa volúmica real dos produtos do tipo B variam entre 1720-1940 Kg/m3, e os valores da massa volúmica real dos produtos do tipo C varia entre 1780-1980 Kg/m3. O Quadro 6.8 e a Figura 6.11 (à esquerda) apresenta os valores da capacidade de absorção de água após 10 horas de imersão e do coeficiente de absorção de água por capilaridade. Quadro 6.8. Resultado da capacidade de absorção de água (NP 762) e de absorção de água por capilaridade (EN 1015-18) Tipo Produto Absorção de água A [%] A1 B2 B4 C7 L AG1 AG2 AE1 n 9 9 3 9 C7 AE2 9 V.M.+D.P. 32 ± 0,2 44 ± 3,7 30 ± 0,2 45 ± 0,4 n 3 3 3 3 43 ± 4,0 3 Coeficiente de Capilaridade (kg/m2min0,5) V.M. 4,417 0,637 2,023 0,550 1,767 Valor Assintótico (Kg/m2) n 3 3 3 3 V.M. 106,5 44,3 93,1 48,8 3 119,4 n - número de determinações; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão; 40 Porosidade aberta [%] Absorção de Água [%] 50 30 20 10 0 L AG1 AG2 AE1 AE2 50 48 46 44 42 40 38 36 34 32 30 R² = 0,9157 25 35 45 55 Absorção de água [%] Figura 6.11. Absorção de água após imersão durante 10 horas (à esquerda) e relação entre a porosidade aberta e a capacidade absorção de água após imersão durante 10 horas (à direita), após 28dias. Os resultados obtidos apontam o produto AG2 como sendo o menos absorvente, os produtos AG1,AE1 e AE2 com valores do teor em água da mesma ordem de grandeza sendo o AE1 o que apresenta maior teor de absorção de água às 10 horas. Os produtos AE1 e AE2 com uma porosidade aberta semelhante manifestaram valores de capacidade de absorção próximos, entre os 43% e 45%, para o produto AE2 e AE1, respetivamente. Os menores valores de absorção de água foram registados nos materiais AG2 e L ambos com valores próximos de 30%. Pela análise da Figura 6.11 é possível afirmar que existe uma boa correlação entre a porosidade e a absorção de água durante 10 horas. 105 O estudo da capacidade de absorção de água por capilaridade dos produtos foi realizado sobre três provetes de cada produto, através do método descrito na EN 1015-18. A Figura 6.12 apresenta as curvas de absorção de água por capilaridade dos cinco produtos estudados. 140,0 Absorção Capilar [Kg/m2] 120,0 L 100,0 AG1 80,0 AG2 60,0 AE1 AE2 40,0 20,0 0,0 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000 4500 Tempo [min] Figura 6.12. Curvas de absorção de água por capilaridade. A análise das curvas de absorção de água por capilaridade permite verificar que os produtos AG1 e AE1 revelaram características de absorção praticamente idênticas sendo inferiores às dos restantes materiais. O produto AE2 foi o que manifestou maior capacidade de absorção seguida do produto L e do AG2. A Figura 6.13 apresenta a evolução da absorção capilar (de acordo com a EN 1015-18) no período de ensaio compreendido entre os 0 e os 180 minutos. 100,0 Absorção Capilar [Kg/m2] 90,0 80,0 70,0 60,0 L 50,0 AG1 40,0 AG2 30,0 AE1 20,0 AE2 10,0 0,0 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 Tempo [min] Figura 6.13. Curvas de absorção de água por capilaridade (0-180 minutos). 106 Os valores dos coeficientes de capilaridade e respetivos valores assintóticos, são apresentados no Quadro 6.8. Para o coeficiente de capilaridade considerou-se o declive do troço inicial da curva de absorção capilar, em que se regista uma taxa de absorção constante. Como se pode observar na Figura 6.13, AG2 e AE2 apresentam coeficientes de capilaridade muito semelhantes, reveladores de velocidade de absorção equivalentes nos primeiros instantes do ensaio, o mesmo acontecendo entre aos AG1 e AE1. O produto L é o que manifestou maior coeficiente de absorção de água por capilaridade. A análise da Figura 6.12 permite verificar que este (Produto L) mantém a taxa inicial de absorção até às 18 horas (1080 min), altura em que a franja capilar atingiu o topo do provete e a partir do qual se verifica uma estabilização da curva de absorção. Os produtos AG1 e AE1 apresentam um crescimento a taxa constante começando a estabilizar a partir das 48 horas (2880 min). O produto AE2 também cresce a taxa constante mas superior ao verificado para os AG1 e AE1 até as 48 horas, começando a estabilizar de seguida até perto do seu valor assintótico, o qual corresponde ao valor mais elevado registado (≈120Kg/m 2). Quanto ao AG2, este começou a estabilizar a partir das 24 horas, altura em que a franja capilar atingiu o topo do provete. Os produtos AG1 e AE1 revelaram um comportamento semelhante. Nos instantes iniciais, AE1 revela menor coeficiente de capilaridade (0,550 Kg/m 2s0,5), enquanto o produto AG1, possui um valor próximo, mas ligeiramente superior (0,637 Kg/m 2s0,5). Após a fase inicial, ambas evoluem de forma semelhante. O produto L revela o maior coeficiente de capilaridade (4,417 Kg/m2s0,5) sendo aquele que estabiliza mais cedo, registando um valor assintótico semelhante ao verificado para AE2. 6.3.2. Caracterização mecânica Apresentam-se seguidamente os resultados dos ensaios de resistência à flexão e à compressão, de aderência ao suporte e de dureza. No Quadro 6.9, e na Figura 6.14, apresentam-se os valores médios e respetivo desviopadrão das tensões de rotura à flexão e à compressão aos 7 dias e aos 28 dias de idade obtidos nos diferentes produtos estudados. Quadro 6.9. Resultados dos ensaios de flexão e de compressão (EN 13279-2) σf(N/mm2) Tipo Produto A1 L B2 n 7 dias V.M.+D.P. 6 3,6 ± 0,7 AG1 3 σc (N/mm2) n 28 dias V.M.+D.P. 6 4,0 ± 0,2 1,0 3 σf/ σc 28 dias n 7 dias V.M.+D.P. n 28 dias V.M.+D.P. 12 9,0 ± 1,4 12 10,5 ± 0,7 0,39 1,2 6 1,6 ± 0,3 6 2,9 ± 0,4 0,42 B4 AG2 3 1,3 3 1,5 6 2,6 ± 0,2 6 3,6 ± 0,4 0,41 C7 AE1 3 0,8 6 2,5 ± 0,5 6 1,3 ± 0,1 12 4,3 ± 1,1 0,57 C7 AE2 3 0,4 3 1,2 6 0,8 ± 0,4 6 2,8 ± 0,3 0,41 n - número de determinações; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão; 107 Complementam-se estes valores com o cálculo do coeficiente de ductilidade, que corresponde ao quociente entre o valor da tensão de rotura à flexão e o valor da tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade. Os valores de ductilidade obtidos variam entre 0,39 para o produto L e 0,57 para o produto AE1. Todos os produtos manifestam alguma capacidade de deformação perante uma solicitação mecânica (Figura 6.15). Resistência à compressão (MPa) Resistência à flexão (MPa) 5 4 3 2 1 0 L AG1 AG2 AE1 12 10 8 7 dias 6 28 dias 4 2 0 AE2 L AG1 AG2 AE1 AE2 Figura 6.14. Resistências à flexão (à esquerda) e resistências à compressão (à direita), aos 7 dias e aos 28 dias. 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20 0,10 0,00 L AG1 AG2 AE1 AE2 Figura 6.15. Coeficiente de ductilidade, 28 dias. O produto L foi o produto em que se obteve melhores resultados mecânicos obtendo-se uma tensão à flexão de 3,6 MPa aos 7 dias e de 4,0 MPa aos 28 dia. A resistência à compressão foi de 9,0 MPa aos 7 dias e de 10,5 MPa aos 28 dias. Para os produtos do tipo B verifica-se que estes apresentam valores bastante próximos tanto na resistência à flexão como na resistência à compressão, aos 7 dias e aos 28 dias, sendo AG2 a que dos dois produtos evidencia melhores características de resistência mecânica, como é possível verificar na Figura 6.14. Para os produtos do tipo C verifica-se que se obteve valores de resistência à flexão aos 7 dias inferiores ao que seria expectável tendo-se obtido valores no intervalo de 0,4-0,8 MPa 108 enquanto era de esperar valores superiores a 1 MPa. Dos dois produtos do tipo C, o que regista melhores características mecânicas é o produto AE1. Os baixos valores baixos obtidos no ensaio aos 7 dias podem estar relacionados com a quantidade de água utilizada e com o método de procedimento utilizado na preparação dos provetes. De notar que os produtos do tipo B apresentam melhores resistências mecânicas aos 7 dias que os produtos do tipo C, mas aos 28 dias tal já não se verifica. Aos 28 dias o AE1 apresenta melhores valores de resistência mecânica (flexão e compressão) e o AE2 apresenta valores próximos dos verificados para os AG1 e AG2 para a mesma idade. No Quadro 6.10 apresenta-se a informação dos fabricantes, bem como a gama de valores recomendados na EN 13279-2 para esses produtos. Refira-se que as diferenças obtidas podem dever-se a diferentes procedimentos de preparação e cura dos provetes e condições de ensaio. Quadro 6.10. Resistência à flexão e à compressão – Resultados experimental, ficha técnica e valor normativo Tensão de rotura à flexão [MPa] Tipologia Produto A L B2 AG1 B4 AG2 C7 AE1 C7 AE2 7d-7 dias; 28d-28 dias; Valor Obtido 7d 28d 3,6 4,0 1,0 1,2 1,3 1,5 0,8 2,5 0,5 1,2 Ficha Técnica 7d 28d 5,2 >1,0 >2,0 ≥1,0 - EN 13279-2 ≥1,0 >1,0 Tensão de rotura à compressão [MPa] Valor Ficha EN 13279-2 Obtido Técnica 10,5 2,9 ≥2,0 3,6 >2,0 4,3 >3,5 >2,0 2,8 ≥2,0 Comparando os valores obtidos com os presentes nas fichas técnicas dos produtos estudados, é possível verificar que, nas situações possíveis de analisar, os valores obtidos são da mesma ordem de grandeza. Os valores da resistência à flexão, obtidos para os produtos estudados aos 7dias, com exceção dos produtos AE1 e AE2, foram todos superiores a 1 MPa, valor mínimo requerido na norma. Aos 28 dias obtiveram-se valores superiores aos mínimos indicados pelo fabricante, os quais por sua vez são maiores do que o mínimo especificado na norma. Os valores da resistência à flexão aos 28 dias foram todos superiores a 1 MPa. Verifica-se que as resistências dos produtos AE1 e AE2 mais que duplicaram dos 7 para os 28 dias. O produto L apresenta um valor de resistência à flexão de 4,0 MPa superior ao dos restantes materiais, mas inferior ao valor indicado pelo fabricante. Para produtos desta tipologia não existe um valor mínimo imposto na norma. Na resistência à compressão aos 7 dias de idade só os produtos L e AG2 atingiram resultados superiores a 2 MPa. Já aos 28 dias, verifica-se que todos os valores são superiores a 2 MPa, que é o mínimo indicado pelos fabricantes e exigido na norma. Os valores obtidos para o produto L são superiores aos valores que são exigidos na norma para as argamassas do tipo B e argamassas do tipo C, tanto para a resistência à flexão como para a resistência à compressão. 109 No Quadro 6.11 e na Figura 6.16 apresentam-se os valores médios e respetivos desviopadrão dos resultados dos ensaios de dureza e de aderência realizados nos produtos estudados, aos 7dias e aos 28 dias de idade. Quadro 6.11. Valores dos ensaios de dureza (EN 13279-2) e aderência (EN 13279-2) Dureza H [MPa] 7dias 28dias n V.M.+D.P. N V.M.+D.P. A1 L 18 9,1 ± 2,0 B2 AG1 18 4,4 ± 1,3 18 6,3 ± 1,5 B4 AG2 12 4,1 ± 0,4 18 4,1 ± 0,6 C7 AE1 18 1,7 ± 0,3 18 2,1 ± 0,4 C7 AE2 18 3,5 ± 0,7 18 4,8 ± 1,2 n - número de determinações; V.M.±D.P.-Valor médio ± Desvio-Padrão. Tipo Produto 12 Aderência [MPa] Dureza [MPa] 10 8 6 4 2 0 L AG1 AG2 AE1 AE2 n 3 3 3 3 7dias V.M. 0,5 0,5 0,4 0,3 Aderência Ru (MPa) 28dias EN 13279 n V.M. 3 0,7 ≥0,1 3 0,6 3 0,7 3 0,8 - 1 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 7 dias 28 dias AG1 AG2 AE1 AE2 Figura 6.16. Resultados dos ensaios de dureza (à esquerda) e de aderência (à direita), aos 7 dias e aos 28 dias de idade Da análise do Quadro 6.11 e da Figura 6.16 (à esquerda) verifica-se que o produto L é o que apresenta o maior valor de dureza, 9,1 MPa aos 7 dias. Nos ensaios realizados aos 7 dias de idade aos produtos do tipo B (AG1 e AG2) obteve-se, respetivamente, 4,4 MPa e 4,1 MPa, valores superiores aos registados para os produtos do tipo C, com 3,5 MPa e 1,7 MPa, respetivamente para a argamassa AE2 e AE1. No entanto, aos 28 dias, verifica-se um acréscimo de dureza superior a 40% nos produtos AG1 e AE2 e uma ligeira subida na dureza das AG2 e AE1, como se pode ver na Figura 6.16 (à esquerda). O AE1 é o que apresenta a dureza mais baixa 1,7 MPa aos 7 dias e 2,1 MPa aos 28 dias. No Quadro 6.11 e Figura 6.16 (à direita) indicam-se os resultados obtidos no ensaio de aderência, aos 7 dias e aos 28 dias. Nos ensaios realizados, aos 7 dias de idade o produto AG1 é o que apresenta um valor superior de resistência de aderência 0,5 MPa, enquanto o valor mais baixo é o da AE2 com 0,3 MPa. O mesmo já não se verifica aos 28 dias onde o AE2 é o que apresenta maior valor de aderência, 0,80 MPa e o AG2 é o que apresenta menor valor de aderência 0,6 MPa. 110 Todos os produtos manifestaram um aumento do valor de aderência com o aumento da idade, registando-se a maior subida no produto AG2, aquele que em termos granulométricos apresenta uma percentagem de material fino superior a 95%. No Quadro 6.11 apresenta-se o requisito da EN 13279 para a aderência, 0,1 MPa para os produtos de tipologia B. Verifica-se que todos os produtos apresentam valores superiores ao mínimo exigido na norma (0,1 MPa), tanto aos 7 dias como aos 28 dias de idade. 6.4.Conclusões Gerais Após a análise das características das argamassas em estudo no estado seco, fresco e endurecido, importa agora avaliar os resultados de uma forma global, antevendo conclusões da presente dissertação. Em termos granulométricos os produtos estudados apresentam uma granulometria muito fina, só se conseguindo encontrar uma maior diferenciação entre os produtos para o peneiro de 250μm de abertura. Devido à finura dos materiais não se evidenciou uma diferenciação entre as curvas granulométricas dos produtos. No que se refere aos produtos AG1 e AE2, a granulometria é praticamente idêntica apresentando curvas granulométricas semelhantes, facto relevante tendo em conta que estes produtos, apesar de serem de tipologias diferentes, pertencem ao mesmo fabricante. A finura do gesso está intimamente ligada à presa e endurecimento do gesso. Quanto mais moído for o gesso, maior será a sua superfície específica e consequentemente a superfície do material exposto à hidratação, pelo que a presa será mais rápida [Coutinho,2002]. Este facto verifica-se para os produtos AG1 e AE2, que apresentam tempos de presa inferiores aos tempos de presa do AG2 e AE1. O produto L apesar de apresentar uma curva granulométrica intermédia tem um rápido endurecimento correspondendo a um tempo de utilização muito curto. Todos os produtos estudados apresentaram uma massa volúmica aparente no estado seco, inferior a 1000 Kg/m3 condicente com as características deste material. A humidade obtida nos produtos estudados é, como seria de esperar um valor muito baixo, inferior a 2%, uma vez que se pretende que o material seja seco, uma vez que o contato do gesso com a água tende a realizar presa. Os valores da massa volúmica aparente no estado fresco subiram ligeiramente em relação aos verificados no estado seco tendo a subida mais significativa ocorrido nos produtos do tipo C. A relação água/gesso obtida para os vários produtos é semelhante e está compreendida dentro do intervalo indicado pelos fabricantes. 111 Quanto mais água se emprega na amassadura maior é o tempo de presa, pois mais tempo leva a solução a ficar saturada, e portanto a cristalização faz-se mais tarde. A quantidade de água utilizada na amassadura de gesso, influencia muito a presa e o endurecimento e, consequentemente a resistência e porosidade. De facto a presa é tanto mais rápida quanto menor for a quantidade de água, no sentido de a aproximar da estritamente necessária à hidratação de dada quantidade de gesso. Quanto maior a quantidade de água menor será a resistência mecânica e maior será a porosidade, como se verificou para os AE1 e AE2, produtos em que utilizou uma relação água/gesso superior. Tendo em conta os valores de tempo de princípio de presa e tempos de presa, supõese que todos os produtos com exceção do produto L devem conter nos seus constituintes aditivos retardadores que têm a finalidade de aumentar o tempo de presa das pastas de gesso, de forma a permitir um tempo de utilização ou aplicação mais longo. O facto de os produtos AG1, AG2, AE1 e AE2 apresentarem tempos de presa superiores ao registado para o produto L, sugere que estes produtos contêm na sua constituição compostos que garantem a trabalhabilidade durante um período mais longo, mas que provocam efeitos nas características físicas e mecânicas. Sabendo que os produtos AG1 e AE2 são de tipologias diferentes mas fornecidos pela mesma empresa e que as AG2 e AE1 também são de uma outra empresa, verifica-se que uma das empresas utiliza uma composição do produto, que garante um maior tempo de utilização. AG2 Empresa B AE1 AG1 Empresa A AE2 0 100 200 300 400 500 Tempo (min) Figura 6.17. Relação dos tempos de presa dos produtos comercializados pelas empresas. Analisando os valores de resistência à flexão e à compressão aos 28 dias, obtidos e a granulometria dos produtos pode verificar-se que, os que revelaram menores valores de tensão de rotura à flexão e à compressão, foram os constituídos por agregados que possuem maior percentagem de partículas de menores dimensões, ou seja, os que são mais finos. 112 As características mecânicas das argamassas dependem de diversos fatores, nomeadamente, da natureza e dosagem do ligante, da razão água/ligante, da granulometria e das condições de aplicação, entre outros. No que se refere aos produtos estudados, a informação das fichas técnicas e que foi recolhida em entrevistas realizadas aos fabricantes, não permite fazer análises muito específicas, tendo em consideração o reduzido conhecimento que se dispõe da sua composição. Percebe-se que a modificação da composição do produto no sentido de retardar a presa tem uma influência direta sobre a resistência à compressão do gesso endurecido, como se pode observar na diferença de valores obtidos entre o produto L e os restantes. Os valores obtidos para a resistência mecânica à flexão e à compressão de gesso de construção aos 28 dias de idade são semelhantes a outros valores encontrados na bibliografia [Coutinho, 2002]. De um modo geral, os valores mínimos das tensões de aderência registados em todos os produtos são superiores ao valor mínimo estipulado como requisito na EN 13279-2 para os produtos de tipologia B. Para os restantes produtos e na norma não especifica um valor mínimo. Note-se porém que, os elevados valores das tensões de aderência obtidos podem também ficar a dever-se à presença de constituintes ou adjuvantes incluídos nos produtos com o objetivo de promoverem a aderência dos produtos ao suporte. Os valores de massa volúmica aparente no estado endurecido obtidos são próximos de outros valores mencionados em bibliografia [Cincotto, 1997]. O gesso endurecido tem massa volúmica aparente baixa, da ordem de 1000 kg/m 3, sendo outra das suas vantagens. Esta baixa densidade está associada à porosidade do material. Os valores de porosidade obtidos para os produtos estudados foram superiores a 38%. Associado diretamente à porosidade encontra-se a capacidade de absorção de água que, como se constatou apresentou valores superiores a 30 % obtidos no ensaio de imersão em água às 10 horas. 113 114 Capítulo 7 – Conclusões e Propostas para Desenvolvimentos Futuros O estudo efetuado permitiu abordar as principais características do gesso de construção (aglomerante aéreo, constituído basicamente de sulfato de cálcio hemi-hidratado): o seu processo produtivo, as transformações do mineral gipsita em gesso e o seu uso em componentes empregados na construção civil para uma construção sustentável. Foi realizado um estudo de mercado que permitiu identificar a existência de diversas empresas a comercializarem produtos pré-doseados à base de gesso destinadas à execução de revestimentos, tendo-se contabilizado nove empresas cada uma das quais a comercializar diversos produtos. No total foram identificados 65 produtos diferentes. Relativamente aos vários produtos comerciais disponíveis no mercado nacional, foi possível verificar que os fabricantes, apenas se referem às características presentes nos requisitos da EN 13279-1:2008, não fornecem informação complementar que permita uma análise mais detalhada dos produtos. De acordo com a EN 13279-1 os produtos identificados no âmbito da pesquisa de mercado podem dividir-se em três tipologias: a tipologia A refere-se aos produtos ligantes à base de gesso; as argamassas à base de gesso correspondem à tipologia B; a tipologia C diz respeito às argamassas à base de gesso para fins especiais. Os produtos do tipo A são utilizados para uso direto ou posterior processamento, de aplicação manual, sendo essencialmente compostos por gesso com uma granulometria muito fina. Dentro desta tipologia os produtos são muito semelhantes, apresentam uma relação água/gesso entre 0,6 e 0,8 l/Kg, tempos de aplicação próximos (≈16 minutos) e boa resistência à flexão. Os produtos do tipo B são utilizados para revestimento interior de paredes e tetos, por aplicação manual ou mecânica, em camadas de espessura entre 5 e 20mm. Em termos de composição existem certas diferenças entre os produtos. Estes podem conter além de gesso, agregados minerais, perlite, cal, adjuvantes e fibras que conferem propriedades específicas aos produtos. A granulometria varia ente 0 e 2 mm, sendo ligeiramente mais grossa que os produtos do tipo A. As maiores diferenças entre os produtos desta tipologia verificam-se na relação água/gesso e no tempo de utilização. Quanto à caracterização mecânica os produtos apresentam valores ligeiramente superiores aos mínimos impostos pela EN 13279-1. No que respeita aos produtos do tipo C existentes no mercado nacional, estes são aplicados em acabamentos finais de revestimentos interiores, por aplicação manual em camadas com espessura de 2 a 3 mm. Os produtos são compostos por gesso, cargas minerais, adjuvantes e fibras apresentando uma granulometria fina. Tal como acontece para os produtos do tipo B, existe uma grande diferença entre os produtos relativamente à relação água/gesso 115 (entre 0,45 e 1 l/Kg) e tempo de utilização (varia entre 10 e 240 min). Em termos de resistência à flexão existem semelhanças ente os produtos, o mesmo já não se verificado na compressão onde o produto Yeso Fino (Yemasa) apresenta uma resistência bastante superior à dos restantes. Relativamente ao conjunto dos produtos identificados foi possível apurar diferenças ao nível dos tempos da utilização dos produtos, nas espessuras das camadas, nas relações água/gesso recomendadas, na natureza dos agregados, nas características no estado seco e fresco, nas características físicas e mecânicas das argamassas no estado endurecido e nos preços de mercado. A análise de todos os resultados obtidos da campanha experimental conduziu às conclusões que em seguida se sintetizam. Estado Seco Em termos granulométricos os produtos estudados apresentam uma granulometria muito fina, só se conseguindo encontrar uma maior variação entre os produtos a partir do peneiro de abertura inferior a 250μm. A granulometria dos produtos AG1 e AE2 é praticamente idêntica apresentando curvas granulométricas semelhantes, facto relevante tendo em conta que estes produtos, apesar de serem de tipologias diferentes, são produzidos pelo mesmo fabricante. De todas as argamassas estudadas, o produto AE2 é o produto que claramente apresenta maior percentagem de constituintes finos, tendo revelado um resíduo no peneiro de abertura 0,063 mm inferior a 5%, enquanto AE1 é o produto que apresenta granulometria mais grossa. Em termos de massa volúmica aparente do produto em pó, os valores obtidos evidenciam a sua baixa densidade. Os valores obtidos para os produtos estudados apresentaram valores inferiores a 1000 Kg/m3. A humidade registada nos produtos estudados foi sempre inferior a 2%. Estado Fresco A relação água/gesso obtida para os vários produtos segundo o método de espalhamento com compactação encontra-se compreendida no intervalo 0,54 a 0,67 l/Kg, estando dentro do intervalo definido pelos fabricantes. Em termos de tempo de princípio de presa verifica-se como seria de esperar, uma grande diferença entre os vários produtos, sendo o produto L do tipo A aquele que apresenta um valor muito inferior ao dos restantes. O mesmo se regista para o tempo de presa, registando-se 34 min para o produto L e tempos superiores a 200 min para os restantes. Verifica-se que não existe uniformidade entre os produtos de diferentes tipologias nem entre os da mesma tipologia. 116 O produto L e produto AE1 foram os produtos que revelaram valores mais elevados de massa volúmica aparente no estado fresco, entre 1600 e 1700 Kg/m3. Estado endurecido Características Físicas Relativamente às características físicas, os resultados dos ensaios efetuados demonstraram que, de uma forma geral, todos os produtos apresentam uma grande suscetibilidade à entrada de água por absorção tendo o produto AG2 apresentado menor percentagem de absorção de água. Tais resultados poderão ser relacionados com os valores de porosidade aberta obtidos, que evidenciaram os produtos L e AG2 como os que possuem menor porosidade podendo ser uma das causas para os melhores resultados obtidos. O material AG1 apresentou-se como sendo o produto mais poroso, com 48,7%, seguido de AE2, AE1, L e AG2. Esta última foi a que apresentou maior compacidade. Obteve-se uma boa correlação entre os valores de porosidade com a tensão de rotura à compressão. O produto AE2 foi o que apresentou maior capacidade de absorção de água tendo no produto L e no AG2 se obtido uma capacidade de absorção semelhante. A capacidade de absorção das argamassas AE1 e AG1 foi distinta das restantes, possivelmente devido à presença de um adjuvante hidrófugo. Os valores de massa volúmica aparente no estado endurecido são da ordem de 1100 kg/m3. Esta baixa massa volúmica aparente está associada a porosidade do material. Os valores de porosidade obtidos para os produtos estudados foram superiores a 38%. Associado diretamente à porosidade encontra-se a capacidade de absorção de água que, como se constatou, apresentou valores superiores a 30 % no ensaio de imersão às dez horas. Por outro lado, pelos ensaios de absorção capilar, conclui-se que quanto maior a porosidade aparente, maior o teor em água. Caracterização mecânica A caracterização mecânica obtida, evidenciou um ligante, produto L, com valores superiores de resistência mecânica face à dos restantes materiais. As outras argamassas apresentaram valores semelhantes de resistência mecânica, verificando-se esta proximidade de valores nos restantes ensaios. Todas as argamassas revelaram alguma ductilidade, característica importante para a resistência à fendilhação. As argamassas da tipologia B, AG1 e AG2 apresentam características mecânicas e físicas semelhantes. Estes produtos revelaram os maiores valores de resistência à compressão (aos 28 dias), compreendidos entre 2,85 e 3,58 MPa, menor capacidade de deformação do que as de tipologia C, bem como os maiores valores de dureza superficial. Assumem-se assim como as argamassas mecanicamente mais resistentes e de estrutura mais compacta. 117 Analisando os valores de resistência à flexão e à compressão aos 28 dias e a granulometria dos produtos, pode verificar-se que os que revelaram menores valores de tensão de rotura à flexão e à compressão foram os constituídos por agregados que possuem maior percentagem de partículas de menores dimensões, ou seja, os que são mais finos. As características mecânicas das argamassas dependem de diversos fatores, nomeadamente, da natureza e dosagem do ligante, da razão água/ligante, da granulometria e das condições de aplicação. De um modo geral, os valores mínimos das tensões de aderência registados, em todos os produtos são superiores ao valor mínimo estipulado como requisito na EN 13279-2 para os produtos de tipologia B. Os elevados valores das tensões de aderência obtidos podem também ficar a dever-se à presença de constituintes incluídos nos produtos com o objetivo de promoverem a aderência dos produtos ao suporte. A análise destas propriedades, demonstram que é difícil compatibilizar determinadas propriedades que se desejariam otimizadas. Não existem por isso soluções ótimas, mas antes, soluções com vantagens e desvantagens. No desempenho das características físicas e mecânicas, foi possível verificar que na generalidade, os resultados obtidos se enquadram com os valores obtidos noutros estudos e com os valores presentes nas fichas técnicas e requisitos da EN 13279-1:2008. Nos casos em que tal não se verificou, julga-se que a causa provável será a adoção de procedimentos de ensaio diferentes dos preconizados na EN 13279-2:2006. Salientando-se que à data da entrega desta dissertação já ocorreu uma atualização do documento normativo passando a ser denominada de NP EN 13279-2:2014-en. Ao longo de todos os ensaios realizados apresentaram-se diferentes indícios (nalguns casos confirmados pelo fabricante) da existência de adjuvantes na composição deste tipo de argamassas, sendo esta uma das justificações para o melhor desempenho em determinadas características. Este aspeto demonstra bem o carácter industrial deste tipo de produtos, tendo também em conta que a incorporação deste tipo de elementos poderá ser apontada como uma das causas para a existência de uma grande variedade de composições dentro de argamassas para as mesmas funções, dado que o recurso a adjuvantes permite modificar o seu desempenho. As fichas técnicas do produto deveriam apresentar-se mais detalhadas nomeadamente ao nível da composição facto este que possibilitaria uma melhor compreensão dos fundamentos associados a este tipo de produtos. Como desenvolvimentos futuros deste trabalho e em concordância com os resultados obtidos nesta dissertação, destacam-se algumas linhas de investigação referentes aos aspetos já estudados e a outras que não foram abordados que se indicam seguidamente: 118 Avaliação da suscetibilidade das argamassas à fendilhação; Avaliação da retração livre e restringida e do módulo de elasticidade; Análise do comportamento destas argamassas face à ação de cloretos e sulfatos; Análise do comportamento das argamassas quando aplicadas em diferentes suportes; Influência da espessura das camadas na aderência das argamassas; Avaliação do comportamento das argamassas aos ensaios de durabilidade, difusão de vapor de água e de secagem. 119 120 Referências Bibliográficas ABREU, E. M. X. Estudo da influência de diferentes gessos produzidos na região Nordeste do Brasil para a fabricação de moldes utilizados na indústria de louças sanitárias. 2005. 85p. 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Outubro 2012. [f4] Sival. Ficha Técnica Gesso Esboço. Outubro 2012. [f5] Sival. Ficha Técnica Gesso Moldura. Outubro 2012. [f6] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Turquesa L. Julio 2013 [f7] Sival. Ficha Técnica Massa de Estuque. Outubro 2012 [f8] Sival. Ficha Técnica Project O CZ. Outubro 2012 [f9] Sival. Ficha Técnica Project O BR. Outubro 2012 [f10] Sival. Ficha Técnica Project 2000. Outubro 2012 [f11] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Iberplast. Maio 2010 [f12] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Longips. Maio 2010 [f13] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Proyal. Maio 2010 [f14] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Yeso YG. Junio 2013 [f15] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Yesiplus. Junio 2013 [f16] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Proyeso. Junio 2013 [f17] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Marfil. Julio 2013 [f18] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Jade. Julio 2013 [f19] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Coral. Julio 2013 [f20] Fassa Bartolo. Ficha Técnica ZP 149. São Mamede Edição 10/2011. 124 [f21] Yemasa. Ficha Técnica Yeso Gruesa. Julio 2009 [f22] Yemasa. Ficha Técnica Fraguado Controlado. Julio 2009 [f23] Yemasa. Ficha Técnica Yeso Proyectar. Julio 2009 [f24] Yetosa. Ficha Técnica Yeso Gruesa. Julio 2009 [f25] Yetosa. Ficha Técnica Fraguado Controlado. Julio 2009 [f26] Yetosa. Ficha Técnica Yeso Proyectar. Julio 2009 [f27] Topeca. Ficha Ténica Tuforte FT acabamento. Ourém. Dezembro 2010. [f28] Topeca. Ficha Ténica Tuforte G enchimento. Ourém. Dezembro 2010. [f29] Fassa Bartolo. Ficha Técnica ZF 12. São Mamede Edição 10/2011. [f30] Sival. Ficha Técnica Project 2010 CZ. Outubro 2012 [f31] Sival. Ficha Técnica Project 2010. Outubro 2012 [f32] Sival. Ficha Técnica Project 2000P. Outubro 2012 [f33] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Perlinor Super. Maio 2010 [f34] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Proyal XXI. Maio 2010 [f35] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Perlinor Projectar. Maio 2010 [f36] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Prolite. Maio 2010 [f37] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Aliproyes. Junio 2013 [f38] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Aliplus XXV. Junio 2013 [f39] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Perla. Julio 2013 [f40] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Perla+. Julio 2013 [f41] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Rubi. Julio 2013 [f42] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Algistar. Julio 2013 [f43] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Ópalo. Julio 2013 [f44] Fassa Bartolo. Ficha Técnica Z 161. São Mamede Edição 01/2013. [f45] Yemasa. Ficha Técnica Perliman. Julio 2009 [f46] Yemasa. Ficha Técnica Yeso Proyectar Aligerado. Julio 2009 [f47] Yemasa. Ficha Técnica Perliman maquina. Julio 2009 [f48] Yetosa. Ficha Técnica Yeso Proyectar Aligerado. Julio 2009 [f49] Yesos Albi. Caracteristicas Proyalbi-Plus. Burgos [f50] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Duro THD. Maio 2010 125 [f51] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Diamante. Julio 2013 [f52] Sival. Ficha Técnica Massa de Barramento. Outubro 2012 [f53] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Iberfino. Maio 2010 [f54] Placo Saint Gobain. Ficha Técnica Mecafino. Maio 2010 [f55] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Finoyes. Junio 2013 [f56] La Maruxina. Declaracion de prestaciones Termiyes. Junio 2013 [f57] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Amatista. Julio 2013 [f58] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Amatista Extra. Julio 2013 [f59] Algíss Uralita. Declaracion de prestaciones Azabache. Julio 2013 [f60] Yemasa. Ficha Técnica Yeso Fino Terminacion. Julio 2009 [f61] Yemasa. Ficha Técnica Yeso Fino. Julio 2009 [f62] Yetosa. Ficha Técnica Yeso Fino Terminacion. Julio 2009 [f63] Yetosa. Ficha Técnica Yeso Fino. Julio 2009 [f64] Sival. Ficha Técnica Massa de Acabamento. Outubro 2012 [f65] Topeca. Ficha Ténica Tuforte mac-fino. Ourém. Dezembro 2010. 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