Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Stricto Sensu em Educação Física CENTRO DE INICIAÇÃO DESPORTIVA PARALÍMPICA NO DISTRITO FEDERAL: UM ESTUDO NA ÓTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Autor: André Luís Normanton Beltrame Orientadora: Profª. Drª. Tânia Mara Vieira Sampaio Brasília – DF 2013 ANDRÉ LUIS NORMANTON BELTRAME CENTRO DE INICIAÇÃO DESPORTIVA PARALÍMPICA NO DISTRITO FEDERAL: UM ESTUDO NA ÓTICA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação Física. Orientadora: Profª. Drª. Tânia Mara Vieira Sampaio Brasília 2013 12,5 cm B453c Beltrame, André Luis Normanton Centro de iniciação desportiva paralímpica no Distrito Federal: um estudo na ótica da educação inclusiva. / André Luis Normanton Beltrame – 2013. 138f.; : il. 30 cm 7,5cm Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Profa. Dra. Tânia Mara Vieira Sampaio. 1. Esportes. 2. Educação inclusiva. 3. Educação física. I. Sampaio, Tânia Mara Vieira, orient. II. Título. CDU 796:376 Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB 14/05/2013 7,5 cm “Aqueles que tiveram a oportunidade de se consagrar nos estudos científicos deverão ser os primeiros a por seus conhecimentos a serviço da humanidade” (Karl Marx) “Para ensinar há uma formalidadezinha a cumprir - saber” (Eça de Queiroz) Dedico este trabalho a todos os alunos, pais e professores que lutam no seu dia-a-dia com respeito e responsabilidade por uma educação de qualidade para todos. AGRADECIMENTOS Agradeço, em primeiro lugar ao meu pai e minha mãe, irmãos, esposa e filhos que foram fundamentais ao longo dessa etapa de minha vida. Cada um ao seu modo e à sua maneira me dando incentivo, encorajamento e sabedoria para enfrentar com perseverança o universo da pesquisa. À minha orientadora Professora Doutora Tânia Mara Vieira Sampaio pela sua forma de ser. Cativante e alegre sempre sem perder o foco da pesquisa. Adorável, sorridente e confiante mesmo nos momentos mais difíceis. Fundamental no meu aprendizado e na minha perspectiva sobre o universo qualitativo. Um exemplo de pessoa e profissional, uma aula a cada encontro. Tê-la conhecido foi uma honra e ter sido seu orientando uma oportunidade pela qual sou muito agradecido. Aos Professores do Programa de Pós-Graduação da Universidade Católica de Brasília e da banca de qualificação pela responsabilidade, respeito e generosidade com que sempre me trataram. Destaco: Professor Luís Otávio, Daniel Boullosa, Gislane Melo, Jonato Prestes, Cláudio Córdova e Hebert Simões, Erenice Carvalho e Roberta Gaio. Às secretarias da Pós-Graduação Daniela e Juliana que sempre, com muito carinho, respeito e bom-humor ajudaram a garantir as formalidades do curso. Aos colegas, grupo de estudo, pesquisa, extensão e revista: Luís e Ricardo Lira, Luquinha, Igor, Élvio, Genildo, Júnior, Gustavo, Tibana, Isabela, Márcia, Poliana, Ioranny, Jéssica além de todos e todas com quem compartilhei momentos inesquecíveis, como “a magnífica aula sobre ciclo de Krebs ministrada pelo Luquinha”. Por fim agradeço à Secretaria de Educação do Distrito Federal pela autorização da pesquisa e afastamento remunerado de quatro meses e a CAPES pela bolsa concedida ao longo dessa formação. RESUMO BELTRAME, André Luís Normanton. Centro de Iniciação Desportiva paralímpica no Distrito Federal: um estudo na ótica da educação inclusiva. 2013. 138f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, 2013. Desde a Declaração de Salamanca, na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: Acesso e Qualidade, de 1994, promovida pela UNESCO e governo espanhol, a escola se tornou o eixo articulador de novas ações. Nesse cenário, a Educação Especial, através de serviços de apoio especializado, passa a exercer um importante papel no sentido de legitimar a presença de estudantes com necessidades educacionais especiais no ensino regular. O Programa CID-Paralímpico é um serviço de apoio especializado e utiliza a iniciação esportiva para atender alunos com deficiência. A literatura aponta benefícios da iniciação esportiva, mas também riscos, se afastada de uma base pedagógica que não valorize a participação de todos. Este problema norteador foi enfrentado por meio do objetivo de analisar, a partir da concepção de seus professores, se o Programa CID-Paralímpico atende aos referenciais de uma proposta de educação inclusiva. O estudo em questão caracteriza-se como qualitativo e descritivo por meio de análise documental e análise de discurso com a participação de 10 professores, por meio de um processo de entrevista gravada e posteriormente transcrita. Em resposta às perguntas geradoras foram criadas sete categorias de análise: concepção de inclusão, preparo do professor, percepção sobre o aluno, atendimento especializado, participação, competição e reflexo na escola. Conclui-se que as concepções dos professores acerca da iniciação esportiva utilizada no Programa CID-Paralímpico não se alinham em sua plenitude aos princípios da educação inclusiva. Esses dados explicam-se principalmente pela falta de contato dos professores que atuam no CID-Paralímpico com a escola e a Educação Física escolar, pela indução à competição, pela busca de resultado como único ou principal objetivo e um processo de formação e orientação pedagógica distante das orientações legais para o serviço de apoio especializado que regulamenta a existência do CID-Paralímpico. PALAVRAS-CHAVE: Iniciação Esportiva. Inclusão Escolar. Atendimento Especializado. CID-Paralímpico. ABSTRACT Since the Declaration of Salamanca at the World Conference on Special needs education: access and quality, of 1994, promoted by the UNESCO and the Spanish Government the school became the articulator axis of new shares. In this scenario, special education, through specialized support services, shall exercise an important role in order to legitimize the presence of students with special educational needs in regular education. The CID Paralympic Program is a service for expert support and uses the sports initiation to serve students with disabilities. The literature points to the benefits of sports initiation, but also risks clear of a pedagogical basis that does not enhance the participation of all. This problem has been tackled through the guide purpose of analyzing, from the design of their teachers, if the CID-Paralympic Program meets the benchmarks of a proposal for inclusive education. The study in question was characterized as qualitative and descriptive through documentary analysis and discourse analysis with the participation of 10 teachers, through a process of interview recorded and subsequently transcribed. In response to the questions which were created seven categories of analysis: design of inclusion, teacher preparation, perception on the student, specialized care, participation, competition and reflection in school. It is concluded that the teacher‟s conceptions about the sports initiation used in the CID-Paralympic Program does not line up in its fullness to the principles of inclusive education. These data are appointed mainly by lack of contact with the teachers from CIDParalímpic with school and the school physical education, by induction to the competition, the search result as the sole or main objective and a process of training and pedagogical orientation away from legal guidance to the specialized support service that regulates the existence of CID-Paralympic. KEY-WORDS: Sports Initiation. School Inclusion. Specialized Care. CIDParalympic. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................... 10 2 INCLUSÃO- ABORDAGENS E CONCEITOS .......................................................... 14 2.1 Aspectos históricos ........................................................................................... 14 2.2 Políticas Públicas Atuais ................................................................................... 19 3 EDUCAÇÃO FÍSICA E A DEFICIÊNCIA: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E DESAFIOS 25 3.1 A Educação Física tradicional e suas tendências .............................................. 26 3.2 Críticas ao modelo tradicional e ascensão de novas perspectivas .................... 29 3.3 Educação Física Adaptada ................................................................................ 40 3.3.1 Esporte e Deficiência .................................................................................. 45 3.3.2 História do Esporte Adaptado ..................................................................... 48 3.3.3 Surgimento do Esporte Adaptado no Brasil................................................. 52 4 O ESPORTE E SUAS POSSIBILIDADES ................................................................ 57 4.1 Construção do Esporte como fenômeno sócio-cultural plural ............................ 57 4.2 Iniciação Esportiva ............................................................................................ 60 4.3 O Programa CID-Paralímpico ............................................................................ 65 5 METODOLOGIA ...................................................................................................... 69 5.1 Universo da pesquisa ........................................................................................ 70 5.2 Instrumentos ..................................................................................................... 70 5.3 Procedimentos .................................................................................................. 71 5.4 Procedimento para a Análise de Dados ............................................................ 72 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................... 72 6.1 Perfil dos Entrevistados ..................................................................................... 73 6.2 Discursos dos Participantes .............................................................................. 76 6.2.1 Indicadores da pergunta 1 e 2..................................................................... 76 6.2.2 Categorias de análise para a pergunta 1 .................................................... 76 6.2.3 Análise das categorias da pergunta 1 ......................................................... 77 6.2.4 Categorias de análise para a pergunta 2 .................................................... 87 6.2.5 Análise das categorias da pergunta 2 ......................................................... 87 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 100 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 104 APÊNDICE-A:TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............... 115 APÊNDICE-B: ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ....................... 116 APÊNDICE-C: INDICADORES DAS PERGUNTAS .................................................. 117 ANEXO-A: ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA CID-PARALÍMPICO ............................... 122 ANEXO-B: APRESENTAÇÃO PRO-PNE ................................................................. 134 10 INTRODUÇÃO Desde a mensagem transmitida pela Conferência Mundial de 1994, pela UNESCO, sobre necessidades educacionais especiais a escola se tornou o eixo articulador de novas ações. O movimento da inclusão escolar trabalha na perspectiva de que todas as pessoas independentemente de sua deficiência, origens e talentos frequentem a mesma escola. Nesse cenário, a Educação Especial, através de serviços de suporte à inclusão educacional, passa a exercer um importante papel no sentido de legitimar a presença de estudantes com necessidades educacionais especiais1 no ensino regular. Os serviços em questão são caracterizados como serviços de apoio especializado e buscam, por meio de práticas pedagógicas diversificadas e de acordo com a meta de inclusão plena, eliminar barreiras no processo de ensino e aprendizagem reunindo argumentos que equalizem condições para o acesso e permanência na escola em todas as etapas e modalidades da educação básica (BRASIL, 2001). Os objetivos dos serviços de apoio especializado se encaminham para a garantia da transversalidade das ações do Ensino Especial no Ensino Regular, promovendo condições de acesso e participação nesse ambiente, e paralelamente fomentando o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem barreiras nesse processo de ensino aprendizagem assegurando as devidas condições de ensino. Esses serviços podem ser ofertados em salas de recursos multifuncionais além de centros de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (BRASIL, 2011). Diferentes disciplinas fazem parte do Atendimento Educacional Especializado e dentre elas está a Educação Física Adaptada (BRASIL, 2004). Atendendo a esses pressupostos legais a Secretaria de Educação do Distrito Federal criou o Programa CID-Paralímpico (Centro de Iniciação 1 Para a Resolução CNE/CEB n.2, de 11 de setembro de 2001, artigo 5º, os educandos com necessidades educacionais especiais são aqueles que apresentam dificuldades acentuadas de aprendizagem podendo ser vinculada ou não a causas específicas, dificuldades de comunicação demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis e altas habilidades/superdotação. 11 Desportiva-Paralímpica)2 que por meio da Educação Física Adaptada oferece a iniciação esportiva para pessoas com deficiência. O esporte e o seu processo de iniciação, por sua vez, passam por uma fase de democratização oferecendo, várias possibilidades para sua prática. Estudos apontam para benefícios da iniciação esportiva, mas também apontam riscos se afastada de uma base pedagógica que não valorize a participação de todos ou que se apoie no modelo do esporte profissional adulto voltado apenas para a competição e busca de resultados (BETTI; ZULIANI, 2002; BRACHT et al., 2002; KUNZ, 1998; SANTANA, 2005). Isto significa dizer que embora haja, por um lado, o reconhecimento de que as práticas esportivas são elementos importantes na formação do indivíduo pela participação e apropriação de uma cultura corporal de movimento, há por outro, um pensamento de que os resultados de sua prática podem ser controversos na medida em que seus objetivos não sejam bem esclarecidos, como por exemplo, na valorização excessiva do desempenho como seu único objetivo. Nesse sentido, há que se analisar e discutir os interesses da iniciação esportiva desenvolvida pelo chamado CID-Paralímpico e desvelar se o que tem sido feito é na perspectiva de esporte de alto rendimento ou esporte educacional e de participação. Portanto, ao estabelecer o cenário da iniciação esportiva como conteúdo da Educação Física no marco da inclusão o objetivo do presente estudo foi analisar, a partir da percepção de seus professores, se o Programa CIDParalímpico atende aos referenciais de uma proposta de educação inclusiva. A pesquisa junto aos professores visava identificar se o Programa CIDParalímpico contribuiu no sentido de promover condições de acesso, participação e aprendizagem no Ensino Regular conforme Decreto nº7.611/211 que trata do Atendimento Educacional Especializado. E nesse âmbito é fundamental discutir se dentre suas concepções pedagógicas estão presentes 2 Seguindo o alinhamento global do Comitê Paralímpico Internacional (IPC) o Brasil passa a adotar o termo “Paralímpico”, no lugar de “Paraolímpico” para se alinhar aos demais países inclusive os de língua portuguesa. Fonte: http://www.cpb.org.br/noticias/comite-brasileiro-segue-alinhamento-global-do-ipce-passa-a-usar-o-nome-paralimpico acessado em 23/5/2012. 12 aulas voltadas ao contexto da inclusão no que diz respeito a proporcionar vivências e oportunidades motoras, adotando práticas educativas que valorizem dimensões subjetivas, como afetividade e sociabilidade ou uma prática voltada meramente à participação em competições e seus respectivos resultados. Todo esse contexto, no entanto, exigiu revisitar conceitos de iniciação esportiva, políticas do esporte brasileiro, práticas pedagógicas da Educação Física e o processo de inclusão da pessoa com deficiência. A dissertação está estruturada da seguinte forma: no início, a temática foi discutida a partir de quatro eixos de análise. Primeiramente a trajetória da inclusão escolar, desde seus princípios preconizados pela Declaração dos Direitos Humanos, passando pelos marcos da Educação para todos e Declaração de Salamanca. Em segundo, no intuito de investigar a trajetória da inclusão, analisou-se o princípio de que a inclusão é a participação de todos no processo educativo e com vistas a uma educação para todos destacamos as diferenças entre inclusão e integração além de abordar as novas características do Ensino Especial, serviços de apoio e o Atendimento Complementar Especializado, evidenciando por meio de leis, decretos, portarias e literatura acadêmica, os alicerces dessa perspectiva de ensino. Entendendo que este tipo de serviço nasce oriundo de uma demanda por participação e permanência no sistema de ensino, devendo contribuir para que o aluno tenha mais representatividade no cenário escolar, apresentamos no terceiro momento, a trajetória da Educação Física Escolar e o respectivo papel da pessoa com deficiência nesse processo. A investigação teve a finalidade, de conhecer e reconhecer os pressupostos pedagógicos que deram origem tanto ao pensamento tradicional que se encontram nas tendências higienista, militarista e tecnicista, ainda muito presentes nas práticas dos Professores de Educação Física, quanto à ascensão de novas perspectivas. E logo após apresentamos a Educação Física Adaptada, que além de reunir conhecimento para a atuação na Educação Física Escolar é uma das matérias de Atendimento Complementar Especializado, nos seus conceitos, estratégias, características e conteúdos. 13 Ao tratar de um programa de Estado, localizado mais precisamente na Secretaria de Educação do Distrito Federal, implica dizer que o Programa CIDParalímpico possui estreita relação com a Educação Física Escolar e consequentemente com a Escola. Prosseguindo, destacou-se como parte das práticas da Educação Física Adaptada, a questão do Esporte Adaptado no que tange sua conceituação, história e surgimento no Brasil desde o início de sua prática às primeiras políticas públicas que envolveram sua discussão. A partir do entendimento de que o esporte contemporâneo é um fenômeno sociocultural plural, tratamos a questão da iniciação esportiva e sua dimensão sócio-educativa, discutindo o que seria essa possibilidade para pessoas com deficiência. Procurou-se também estabelecer uma reflexão crítica sobre as consequências da iniciação esportiva que se apoia no modelo do esporte profissional adulto, envolvendo questionamentos acerca da exacerbação da competição, busca de talentos e dos riscos da especialização precoce. E nesse sentido, defender a possibilidade de uma iniciação esportiva como direito dentro do cenário da inclusão escolar. Por fim, foi avaliada a história e a estrutura do Programa CIDParalímpico, através de documentos e depoimentos de seus participantes, apontando suas características desde sua origem como Programa de Reeducação e Orientação às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais (PRO-PNE). 14 INCLUSÃO- ABORDAGENS E CONCEITOS 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS A inclusão escolar preconiza que todos os alunos devam frequentar o ensino regular a fim de se criar um espaço democrático de respeito à diversidade. Nessa perspectiva, a Educação Especial tem assumido a característica de serviços de apoio especializado que, em linhas gerais, tem o propósito de contribuir para o desenvolvimento acadêmico e social das pessoas com deficiência (BRASIL, 2008, 2011). O princípio da inclusão escolar é fruto de um movimento de inclusão social inspirado na luta pelos direitos humanos. A esse respeito, podemos citar o artigo primeiro da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, que declara a liberdade e igualdade em direitos e dignidade entre os seres humanos como uma das primeiras iniciativas a respeito. (ONU, 1948). A partir dessa data, vários foram os tratados e convenções internacionais, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos em 1966, que ratificaram a questão da igualdade para todos, proibindo qualquer tipo de discriminação (ONU, 1966). Associadas a essa discussão percebe-se a urgência de novas discussões acerca da universalização da educação básica e criação de uma política de educação para a paz. Quando tratamos do público pertinente a esse projeto não podemos deixar de analisar que a educação dessas pessoas foi construída historicamente em um cenário de exclusão e desigualdade, mas recentemente o entendimento de uma educação para todos3, iniciada pela integração e mais recentemente a inclusão, está colocada em discussão. Segundo Aranha (2006), em uma análise acerca da história da educação, desde a antiguidade o acesso à escola se restringiu à criança do 3 A “Educação para Todos” envolve os seguintes movimentos: Conferência Mundial sobre Educação para Todos, realizada em 1990, em Jomtien, Tailândia, promovida pela UNESCO, UNICEF e PNUD, que aprovou a Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1991); Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: acesso e qualidade, que produziu a Declaração de Salamanca, promovida em 1994 pelo governo da Espanha e UNESCO e o Foro Mundial de Educação para Todos, realizado em 2000 em Dakar. 15 sexo masculino, sobretudo da elite, evidenciando um afastamento das minorias destituídas de poder como a mulher, a pessoa com deficiência e determinadas etnias, todavia nos últimos anos novos paradigmas estendem a educação a esses grupos. Tal assertiva nos indica que a educação para Pessoas com Deficiência tenha sido construída historicamente em um cenário de exclusão e diferença, mas recentemente o entendimento de uma educação para todos, iniciada pela integração e mais recentemente a inclusão, foi colocada em discussão. A integração escolar busca de um modo geral, selecionar alunos para inseri-los no sistema regular de ensino. Seria uma forma de fazer com que o aluno com deficiência se adapte a uma escola que não se modificou para atendê-lo. De acordo com Mantoan (2006, p.18) “os movimentos em favor da integração de crianças com deficiência surgiram nos países nórdicos, em 1969, quando se questionaram as práticas sociais e escolares de segregação”. Com o passar dos anos, nos anos 80, surge um novo entendimento que se incompatibiliza com a integração por entender que a escola regular deveria ser um ambiente apto a receber as diferenças e para isso a escola deveria mudar, atendendo as necessidades dos alunos e não o contrário (STAINBACK e STAINBACK, 1999). Todavia o que veio a ser chamado de inclusão começa a coexistir com as antigas práticas. Mantoan (2003, p.60) reforça: “Não se pode encaixar um projeto novo, como é o caso da inclusão, em uma velha matriz de concepção”. Entende-se a partir daí que a escola deve rever seu modelo de ensino a fim de atender a diversidade. De acordo com Mendes (2006) o movimento de inclusão teve início nos Estados Unidos, ganhando repercussão mundial, o que acabou incidindo no Brasil. Tal movimento se baseou na perspectiva de que a Educação Especial, embora integrando muitos alunos em classes regulares, não atendia de modo satisfatório os alunos classificados como Deficientes ou com Necessidades Educacionais Especiais (STAINBACK e STAINBACK, 1999). Nesta trajetória observa-se que nos Estados Unidos, em 1986, ocorreu a Iniciativa de Educação Regular (Regular Education Iniciative), baseada em 16 algumas das idéias propostas por Stainback e Stainback (1999), que tinham como propósito encorajar a parceria entre a educação especial e a regular. Na década de 1990, como resposta aos serviços educacionais oferecidos aos alunos com necessidades especiais, o movimento de educação inclusiva ganha força. Para Mantoan (2006), no Brasil, a questão da escolarização sob os princípios da educação inclusiva vêm se fortalecendo, todavia o que tem predominado tem sido o modelo de integração. Ao longo dessa época de 1990 a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cidadania - UNESCO passa a reconhecer em seus documentos norteadores o direito à educação de todos e a sua importância para uma sociedade mais igualitária. Na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em 1990, foi adotado um Plano de Ação para satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem e os países membros se manifestaram compromissados com a universalização do acesso à educação e a promoção da equidade com referência às pessoas com deficiência, no item 5 do Art 3º., onde se destacou a necessidade de se “tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência como parte integrante do sistema educativo” (ONU, 1990). Em 1993, a Conferência Mundial sobre Direitos Humanos realizada em Viena promulgou a Declaração e Programa de Ação de Viena. No seu capítulo II, afirmou que: [...] todos os direitos humanos e liberdades fundamentais são universais e, portanto, aplicáveis sem qualquer reserva às pessoas portadoras de deficiências. Todas as pessoas nascem iguais e com os mesmos direito à vida e ao bem-estar, à educação e ao trabalho, à independência e à participação ativa em todos os aspectos da sociedade (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1993). [...] as pessoas portadoras de deficiências devem ter acesso igual a todo e qualquer lugar. Devem ter a garantia de oportunidades iguais, mediante eliminação de todas as barreiras socialmente determinadas, sejam elas físicas, financeiras, sociais ou psicológicas, que excluam ou restrinjam sua plena participação na sociedade (Art. 64). Ainda em 1993, foi promulgado pela ONU a resolução 48/96, de 20 de dezembro, intitulada “Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para 17 Pessoas com Deficiência” (ONU, 1993). O documento tinha como compromisso moral e político por parte dos Estados adotarem medidas na direção da garantia de igualdade de oportunidades para as pessoas com deficiência. No âmbito da Educação ficou estabelecido que os Estados devessem reconhecer o princípio da igualdade de oportunidades de ensino nos seus diferentes níveis para crianças, jovens e adultos com deficiência em ambientes integrados. Um maior detalhamento esclarece: O ensino nas escolas comuns pressupõe a prestação de serviços de interpretação e outros serviços de apoio adequados. Devem ser garantidas condições adequadas de acessibilidade e serviços de apoio, concebidos em função das necessidades de pessoas com diversos tipos de deficiência (ONU, 1993). Apesar de considerar serviços de apoio e ambientes integrados o documento ainda ponderava sobre a possibilidade de se estabelecer o Ensino Especial nas situações em que o sistema geral de ensino não estivesse em condições de responder as necessidades de todas as pessoas com deficiência reconhecendo que “o Ensino Especial poderia ainda ser considerado como a forma mais adequada de ministrar a educação a alguns alunos com deficiência” (ONU, 1993). Em 1994, na Espanha, grande destaque foi dado para a Declaração de Salamanca que, teve como objetivo específico de discussão a atenção educacional aos alunos com necessidades educativas especiais. Esta Declaração proclamou que: Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e que a elas deve ser dada à oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimentos; Cada criança tem características, interesses capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios; Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista a gama das diferentes características e necessidades individuais; As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns, que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades; As escolas comuns com essa orientação integradora representam o meio mais eficaz de combater atitudes discriminatórias, de criar comunidades acolhedoras, de construir uma sociedade integradora e de oferecer educação para todos. (ONU, 1994). 18 A Declaração de Salamanca, resultado do encontro de dirigentes de dezenas de países e organismos internacionais, foi considerada um marco histórico para a educação inclusiva que buscou construir uma sociedade democrática efetivando a equiparação de oportunidades. No âmbito da legislação Brasileira a Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 206 referente aos princípios do ensino, no seu parágrafo 1º, dispõe: “Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1988). e mais adiante no seu artigo 208 sobre a forma de acesso e garantia à educação, no seu parágrafo 2º, destaca: “Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9394/96, que regulamenta o sistema educacional do Brasil ratifica esta posição de preferência da escola regular e ainda evidencia no seu artigo 60: “O poder público adotará, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede regular de ensino, independentemente do apoio às instituições previstas neste artigo” (BRASIL, 1996). A partir das leis mencionadas surge a importância de se avaliar o papel protagonizado pela Educação Especial ao longo da história. Sabemos inicialmente que a preocupação política com a Pessoa com Deficiência começa a aparecer antes do processo de inclusão, contudo foi estruturada em paradigmas baseados na separação dos alunos em escolas ou classes especiais. Dados históricos sobre a trajetória da Educação Especial, segundo Jannuzzi (2006), indicam que a década de 1970 foi um dos marcos na educação da pessoa com deficiência, pois ocorrem alguns acontecimentos que colocam a área em evidência como, por exemplo, a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, em 1975(ONU, 1975)4, e a Resolução Internacional que proclama 1981 como o ano Internacional da Pessoa Deficiente, em 1976. (ONU, 1976). 4 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec_def.pdf 19 Sobre essa trajetória sabe-se que, em 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial - CENESP, que vinculado ao Ministério da Educação (MEC) tinha por objetivo coordenar iniciativas no campo de atendimento educacional dos chamados “excepcionais”. Em 1985, o governo Sarney lança o plano de Ação Conjunta para Integração da Pessoa Deficiente. Com status de prioridade o plano tinha por objetivo a Integração da Pessoa com Deficiência e o Aprimoramento da Educação Especial. O plano de ação desencadeou a reformulação do CENESP que transformado em Secretaria de Educação Especial (SEESP) lhe conferiu mobilidade institucional junto às fontes de decisão do Executivo (JANNUZZI, 2006). Entende-se que este período, até o início do século XXI, correspondeu a um processo em que as Pessoas com Deficiência faziam parte de uma Educação Especial que, organizada em classe especial ou centro de ensino, escolheria por intermédio de avaliações de desempenho cognitivo os aptos para o ingresso em classe comum. 2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS ATUAIS Atualmente no Brasil, as políticas públicas no campo educacional têm convergido para um movimento que visa à garantia de uma educação igual para todos. Em consonância com esse movimento a inclusão tem provocado uma discussão que busca redefinir o papel da escola em que todos possam participar livres de preconceitos, reconhecendo e valorizando as diferenças. Entretanto, mesmo consagrada na Constituição brasileira como direito de todos, a inserção de alunos com deficiência na escola ainda encontra dificuldades para avançar no sentido de oferecer possibilidades de acesso. Além disso, o acesso do estudante à sala de aula não é suficiente uma vez que a qualidade do ensino ofertado se confronta com o caráter eminentemente excludente e segregador do ensino brasileiro atual (MANTOAN, 2009). 20 A qualidade do ensino foi tema reportado no Plano Decenal de Educação para Todos (BRASIL, 1993) como um dos obstáculos nesse caminho. Segundo o documento, pouca criatividade do sistema educacional para atender grupos específicos dificulta e compromete o processo de inclusão escolar: Em síntese, o sistema educacional vem mostrando incapacidade de associar o acesso, a permanência com qualidade e equidade para uma clientela afetada por profundas desigualdades sociais. A Região Nordeste; as zonas rurais, as populações de baixa renda e a clientela que ingressa precocemente na força de trabalho devem ser foco prioritário das ações. Da mesma forma, os indígenas devem receber atenção diferenciada, levando-se em conta os aspectos linguísticos e culturais, além dos métodos de aprendizagem próprios de suas comunidades. Como também os portadores de necessidades especiais de educação, cujo contingente é ainda expressivo no Brasil (BRASIL, 1993, p.33, grifo nosso). É grande a variedade de excluídos no sistema educacional e dessa forma ainda hoje, parece evidente que a luta pela melhoria de condições de acesso e qualidade da educação enfrenta impasses e resistências . A resolução Nº2, de 11 de setembro de 2001, que institui as Diretrizes Operacionais para a Educação Especial, declara que os alunos com deficiência devem estudar preferencialmente, em classes regulares com a oferta de Ensino Especial em turno contrário, por apenas um período de tempo (BRASIL, 2001). E mais recentemente o Decreto Nº7611/2011que dispõe sobre Educação Especial e Atendimento Educacional Especializado observa no seu artigo 2º que a Educação Especial deve estabelecer os serviços de apoio especializado os quais devem contribuir com a escolarização do estudante com deficiência. O documento relata que essas atividades serão complementares à formação do aluno além de integrar a proposta pedagógica da escola e serem articuladas com outras políticas públicas. A partir da legislação mencionada observa-se que a proposta pedagógica da Educação Especial, ao longo de sua trajetória, passa a fazer parte de outro cenário. Passa de uma posição mais independente, observada quando faz parte do processo de integração, ao de parte de um processo, que a faz compondo serviços de apoio a inclusão. Seria uma educação mais 21 voltada a um trabalho complementar do que propriamente substitutivo ao ensino regular, não diminuindo o seu grau de importância. Para entender o processo de mudança é importante observar que a escola foi construída sob a perspectiva de instrução e reprodução de conteúdos escolares o que acaba por criar um modelo de ensino segregador e exclusivista. Para Mantoan (2006, p.16) a lógica dessa organização é marcada por uma visão de ensino que oferece oportunidade para poucos, “própria do pensamento científico moderno, que ignora o subjetivo, o afetivo, o criador”, tornando-se uma barreira para a proposta da inclusão. Em um trecho retirado do Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedadeInclusão e exclusão social no ano de 2007 isso fica bem claro, de modo que: A resistência em mudar o paradigma que sustenta um perfil excludente de educação, em que as “categorizações” das pessoas por suas diferenças sociais, econômicas, psíquicas, físicas, culturais, religiosas, raciais, ideológicas e de gênero reforçam conflitos e violências físicas e simbólicas, e tornam-se entraves para a constituição da inclusão educacional (BRASIL, 2007, p.6). Esses dados contrariam a Constituição brasileira que dispõe, em seu Artigo 205, que “a educação é direito de todos e dever do estado e da família”, acrescentando que ela deve ser assegurada “visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” o que significa uma escola que acolha, respeite e valorize os seus estudantes fazendo com que todos obtenham êxito em suas aprendizagens. Uma escola que atenda os pré-requisitos acima deve receber alunos independentemente de suas condições sociais, emocionais, físicas, intelectuais, lingüísticas, entre outras. Suas práticas pedagógicas também devem atuar no sentido de educar e incluir todos os seus participantes, tanto os que apresentam deficiências como os que apresentam dificuldades temporárias ou permanentes. A escola neste sentido precisa se reorganizar e melhorar o atendimento que dispensa a seus alunos. Todavia, apesar dos entraves, o processo de transformação deve gradualmente romper com os modelos conservadores da escola redirecionando suas práticas (MANTOAN, 2006). A partir daí alguns autores observam que: 22 Vale sempre enfatizar que a inclusão de indivíduos com necessidades educacionais especiais na rede regular de ensino não consiste apenas na sua permanência junto aos demais alunos, nem na negação dos serviços especializados àqueles que deles necessitem. Ao contrário, implica uma reorganização do sistema educacional, o que acarreta a revisão de antigas concepções e paradigmas educacionais na busca de se possibilitar o desenvolvimento cognitivo, cultural e social desses alunos, respeitando suas diferenças e atendendo às suas necessidades (GLAT; NOGUEIRA, 2002, p.26). Essas contribuições corroboram para o discurso de que a educação inclusiva não é apenas o acesso dos alunos com necessidades especiais à classe regular desconsiderando suas especificidades e necessidades. Pelo contrário, significa preservar direitos através de um atendimento de necessidades específicas que leve o aluno ao pleno desenvolvimento. Dessa forma, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) complementar e em horário contrário do ensino regular, atende os pressupostos da inclusão. De acordo com o documento elaborado pelo MEC/SEESP em 2007 as diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva compreende: O atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2007). Tal entendimento é reforçado pela cartilha intitulada “O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular”, publicada em 2004 pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, na qual sugere que as práticas do Atendimento Educacional Especializado envolvem: [...] aquilo que é necessariamente diferente do ensino escolar para melhor atender às especificidades dos alunos com deficiência. Isto inclui, principalmente, instrumentos necessários à eliminação de barreiras que as pessoas com deficiência têm para relacionar-se com o ambiente externo (BRASIL, 2004). Esses documentos não deixam dúvidas que a Educação Especial deva ser entendida sob uma nova perspectiva. Não é mais substitutiva à educação regular, mas complementar, na qual os alunos possam, por intermédio do 23 Atendimento Educacional Especializado, ser atendidos em turno contrário às aulas regulares. Além de ratificar o direito dos alunos, a participarem das salas de aula regular, há ainda o entendimento de aumento das salas de recursos para o Ensino Especial, bem como a ampliação dos recursos para capacitação de gestores e professores (BRASIL, 2008). Entendendo o processo que se constrói, a partir da necessidade de novas práticas, fica evidente também um novo papel para o professor. Papel esse que assuma práticas pedagógicas que contemplem as necessidades evidenciadas, que por sua vez, levem o aluno a uma participação mais ativa na vida escolar e social. O Atendimento Educacional Especializado, portanto é compreendido como um serviço de apoio especializado oferecido pela Educação Especial que corresponde a um conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucional e continuamente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação de estudantes (BRASIL, 2011). As atividades de Atendimento Educacional Especializado acontecem nas salas de recursos no contra turno escolar com horas e dias agendados. O público-alvo são alunos com deficiência física, intelectual, sensorial, transtornos globais do desenvolvimento e alunos com altas habilidades/superdotação. E segundo a cartilha da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão intitulada “O acesso de alunos com deficiência às escolas e classes comuns da rede regular” o Atendimento Educacional Especializado se apresenta como: [...] uma forma de garantir que sejam reconhecidas e atendidas as particularidades de cada aluno com deficiência. São consideradas matérias do atendimento educacional especializado: Língua brasileira de sinais (Libras); interpretação de libras; ensino de língua Portuguesa para surdos; Sistema Braile; orientação e mobilidade; utilização de soroban; as ajudas técnicas, incluindo informática adaptada; mobilidade e comunicação alternativa/aumentativa; tecnologias assistivas; informática educativa; educação física adaptada; enriquecimento e aprofundamento do repertório de conhecimento ; atividades da vida autônoma e social, entre outras (BRASIL, 2004, grifo nosso). 24 Considerando que as matérias devem contribuir para o processo de inclusão mudanças de atitudes e práticas pedagógicas devem ser avaliadas. E diante dessa mudança, estudos de experiências e práticas educativas se fazem necessárias para validar propostas que mostrem como fazer para garantir a inclusão escolar de pessoas com deficiência (GLAT et al., 2003). As mesmas autoras também declaram: Os atuais desafios da Educação Inclusiva brasileira centram-se na necessidade de desenvolver instrumentos de monitoramento sistemáticos (indicadores dos programas implementados), realização de pesquisas qualitativas e quantitativas que possam evidenciar os resultados dos programas implantados e identificação das experiências de sucesso; implantação de programas de capacitação de recursos humanos que incluam a formação de professores [...] (GLAT et al., 2003, p. 35). A partir do momento que a democratização do acesso à educação nos impõe a adoção de formas mais solidárias e plurais de convivência, as aulas não podem deixar de ser realizadas sem se pensar na formação integral do aluno. E para tanto não podemos prescindir de um ensino participativo, solidário e acolhedor a fim de proporcionar uma formação que caminhe ao encontro do exercício da cidadania e emancipação do ser humano. É oportuno frisar que tal atendimento, por se tratar um processo diferenciado, não constitui discriminação por parte do Estado desde que “a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à igualdade dessas pessoas” exercendo dessa forma seu princípio que é o de “promover a integração social e o desenvolvimento pessoal” das pessoas com deficiência (BRASIL, 2001). Trata-se, portanto, de ensino aprendizagem que complementa, e em alguns casos suplementa, as atividades do ensino regular e, portanto extremamente importantes no momento em que deve assumir uma interlocução com o desenvolvimento do aluno e da escola. Considerando os pressupostos legais e históricos da Inclusão e Educação Especial, apresenta-se a seguir um breve histórico da Educação Física e a sua relação com a deficiência. 25 EDUCAÇÃO FÍSICA E A DEFICIÊNCIA: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E DESAFIOS As aulas de Educação Física são reconhecidamente importantes no processo de formação de crianças, jovens e adultos (BRASIL, 1997; DARIDO 2008). Seja pelas oportunidades de desenvolver habilidades, participar e vivenciar atividades culturais e esportivas ou pelo aprendizado para a prática do lazer. Não há como frequentar essa disciplina sem a expressão de sentimentos, afetos e emoções. O problema é que para uma boa parcela de alunos e alunas o conjunto dessas sensações nem sempre traz boas lembranças. É um conjunto de ideias e verdades que determinaram, e ainda determinam uma Educação Física voltada aos mais habilidosos e vitoriosos, assumindo um caráter unicamente biológico, em detrimento dos que não tem a mesma capacidade (DARIDO, 2008; BRACHT, 2009). Nesse sentido, não há como negar que em muitos casos a Educação Física tem adotado medidas excludentes ao se deparar com as diferenças ignorando dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais no seu processo de ensino-aprendizagem. A democratização do acesso à educação nos impõe a adoção de formas mais solidárias e plurais de convivência. Assim, as aulas de Educação Física não podem deixar de ser realizadas sem se pensar na formação integral do aluno. E para tanto não podemos prescindir de um ensino participativo, solidário e acolhedor a fim de proporcionar uma formação que caminhe ao encontro do exercício da cidadania e emancipação do ser humano. Ao discutir novas perspectivas de educação, Aranha (2006) afirma que “a educação não é a simples transmissão da herança dos antepassados para as novas gerações, mas o processo pelo qual também se torna possível a gestação do novo e a ruptura com o velho”. Ou seja, as concepções que outrora não atendiam por uma educação voltada a todos devem dar espaço a novas percepções que atendam o interesse da diversidade. Contudo, ao pensar na possibilidade de novos cenários que venham a valorizar aspectos subjetivos do desenvolvimento humano é de suma 26 importância assumir as novas possibilidades da educação no contexto inclusivo, como por exemplo, os serviços de apoio especializado cuja função se volta a “eliminar as barreiras que possam obstruir o processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação” (BRASIL, 2011). O apoio especializado proposto pelo Atendimento Educacional Especializado se justifica no sentido de que a educação não é um fenômeno neutro, pois ao estar envolvida com a política e a sociedade sofre os efeitos de suas ideologias. Isso significa dizer que a histórica relação da Educação Física Escolar com a pessoa com deficiência se alinharam às concepções pedagógicas vigentes a cada época, afinadas de acordo com determinadas opções políticas. Como afirma Freire (2000, p. 127), "[...] não é possível separar política de educação, o ato político é pedagógico e o pedagógico é político". Consequentemente, para entender determinadas posturas referentes ao trato pedagógico da Educação Física e Esporte é importante que se apresente sua trajetória histórica, entendida a partir de suas tendências e modelos pedagógicos. Importante também é fazer um paralelo da pessoa com deficiência e sua participação dentro desse cenário a fim de compreender como se desenrolou os entendimentos acerca da oferta da atividade física e pratica esportiva para essa população. Na sequência apresenta-se um resgate da história da Educação Física no Brasil, localizando as principais influências históricas e tendências pedagógicas que fazem parte da concepção que se tem da área contemplando paralelamente as questões ligadas ao processo de integração e inclusão escolar da pessoa com deficiência. 3.1 A EDUCAÇÃO FÍSICA TRADICIONAL E SUAS TENDÊNCIAS Segundo Darido (2008, p. 1) “a inclusão oficial da Educação Física no Brasil ocorreu no século XIX, em 1851, com a reforma Couto Ferraz embora a preocupação com exercícios físicos, na Europa, remonte ao século XVIII”. 27 A partir desse momento, baseado nos conhecimentos produzidos pela biologia, fisiologia e anatomia a Educação Física e mais precisamente a Ginástica passa a ser uma prática necessária à manutenção de uma condição ligada às exigências do capital. Segundo Soares (2001, p.52) as finalidades da Educação Física no âmbito escolar eram: Regenerar a raça (devido ao grande número de mortos e doentes); promover a saúde (sem alterar as condições de vida); desenvolver a vontade, a coragem, a força, a energia de viver (para servir a pátria nas guerras e na indústria e, finalmente, desenvolver a moral (que nada mais é do que uma intervenção nas tradições e nos costumes dos povos). Nessa época, de 1850 à 1930, a Educação Física é baseada em uma perspectiva higienista onde se priorizava principalmente a questão da saúde biológica, que através do exercício desenvolvia o físico e a moral. Havia também uma grande contrariedade por parte dos pais em ver seus filhos envolvidos em atividades que não tinham caráter intelectual sendo que para os meninos havia certa tolerância em função de um entendimento que a ginástica associava-se às instituições militares ao passo que no caso das meninas alguns pais proibiam sua participação (BRASIL, 1997). A partir de 1930, juntamente com a concepção higienista o modelo militarista serviu de base para a implantação da “Educação Física nas Escolas do Sistema Nacional de Educação, com o intuito de tornar a juventude mais sadia para que pudesse atuar na defesa e no desenvolvimento do país através de um corpo perfeito” (CASTELLANI FILHO, 1988, p.34). A Educação Física nessas concepções pode ser vista como uma maneira de promover a disciplina moral e o adestramento físico tanto para a defesa da nação como para o aprimoramento da raça. Inclusive o próprio caráter da disciplina era essencialmente prática não demonstrando necessidade de fundamentação teórica (DARIDO, 2008). Para a pessoa com deficiência fica clara sua exclusão, pois todos aqueles que não se encaixassem nos padrões de normalidade, baseados em estado patológico, eram considerados como doentes que precisavam ser curados e habilitados para viver em sociedade. E enquanto não aptos para 28 viver em sociedade eram atendidos em instituições segregadoras como as APAES (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e instituições educacionais para surdos-mudos e cegos (CHICON, 2005). Portanto, percebe-se uma filosofia positivista que a partir de uma visão fragmentada e reducionista do ser humano educa para a obediência selecionando os fortes e aptos excluindo os fracos e incapacitados. Após a segunda grande guerra, em 1945, sob uma forte influência das mudanças políticas, sociais e econômicas que vigoravam na sociedade brasileira uma fase de Pedagogização da Educação Física se instala. Principalmente pelas teorias psicopedagógicas de Dewey e da sociologia de Durkheim (DARIDO, 2008). A Educação Física passa por um debate onde fica evidente a crítica à escola tradicional, todavia o que no discurso demonstrava um ponto de vista que passava da valorização do biológico para o sociocultural, na prática observa-se que didaticamente a Educação Física continuava a se pautar por parâmetros militaristas (GHIRALDELLI JR., 1991). Esse movimento de ideias progressistas, que no Brasil era representado por Anísio Teixeira, teve seu auge no início da década de 1960. E com o início dos governos militares passa a ser bastante coibido, pois o consideravam como revolucionário. No campo da deficiência foi discutida também a necessidade de reformulação das práticas de atendimento sob o paradigma da institucionalização. A partir das críticas a esse modelo entende-se que a concepção em vigor não preparava o indivíduo para a sociedade tampouco para o estudo e o mercado de trabalho. Para Betti (1991), de 1946 a 1968, a Educação Física brasileira passa por uma forte influência de um método criado na França, denominado “Método Desportivo Generalizado” que procurava incorporar o conteúdo esportivo aos métodos da Educação Física, com ênfase no aspecto lúdico. Surge a tendência tecnicista que de acordo com Darido (2008, p.3): 29 É nesta fase da história que o rendimento, a seleção dos mais habilidosos, o fim justificando os meios está mais presente no contexto da Educação Física na escola. Os procedimentos empregados são extremamente diretivos, o papel do professor é bastante centralizador e a prática uma repetição mecânica dos movimentos esportivos. A influência do esporte foi tão grande na escola que passa a ser denominado o esporte na escola e não esporte da escola, tamanha era a ideologia de promoção de um país onde através do êxito em competições de alto nível tentava transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento. Mesmo assim, para Kunz (1999) e Bracht (2009) quando falamos da prática esportiva em âmbito escolar ainda prevalece uma visão unilateral da instituição esportiva sobre as práticas escolares. Seja pelo rendimento, exacerbação à competição, modelo do esporte profissional adulto dentre outros aspectos em detrimento ao acesso e prática de todos. A Educação Física foi marcada por uma concepção biológica, tecnicista e esportivista manifestando uma postura a-crítica e a-histórica baseada na racionalidade, eficiência e desempenho o que não favorecia a inclusão de pessoas com deficiência (CHICON, 2005; BRACHT, 2009). Na década de 1950 a expressão Educação Física Adaptada surge, embora o enfoque para atividades tenha sido médico, inicialmente. Segundo Chicon (2005), tendo como concepção histórica a eugenia e o biologicismo, a Educação Física baseada em corpos saudáveis e perfeitos não conseguiu contemplar a especificidade das pessoas com deficiência sendo necessária para isso a Educação Física Adaptada que veio suprir essa lacuna desenvolvendo programas de atividade física voltados para esta população. 3.2 CRÍTICAS AO MODELO TRADICIONAL E ASCENSÃO DE NOVAS PERSPECTIVAS O final da década de 70 representou para a Educação Física um momento onde havia a necessidade de romper as concepções anteriores e discutir a importância excessiva que vinha sendo dada ao desempenho como único objetivo das práticas de Educação Física. Numa tentativa de romper com 30 o modelo mecanicista “Desenvolvimentista, Darido (2008, p.4) cita Construtivista-Interacionista, as abordagens Crítico-Superadora, Sistêmica, Psicomotricidade, Crítico-Emancipatória, Cultural, Saúde Renovada e Parâmetros Curriculares Nacionais”. A abordagem Desenvolvimentista foi apresentada em 1988 por Tani et al. (1988) tendo como autores Gallahue e J.Connoly. Essa abordagem é dirigida à faixa etária de 4 a 14 anos e estabelece como fundamentação teórica os processos de crescimento, desenvolvimento e de aprendizagem motora que dentro dos objetivos, conteúdos e métodos coerentes à faixa etária e característica de cada criança tem como foco a interpretação do significado do movimento dentro do ciclo de vida do ser humano (TANI, 2002). Os autores desta abordagem entendem o movimento como meio e fim da Educação Física o que significa que embora suas atividades possam desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização, por exemplo, seus objetivos privilegiam o aprendizado do movimento. Segundo Darido (2008) a habilidade motora é um dos conceitos centrais da abordagem desenvolvimentista, pois através dela as pessoas se adaptam aos problemas do cotidiano. A mesma autora (2008, p.5) complementa: Assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se às demandas e exigências do cotidiano em termos de desafios motores. Assim, entende-se que o processo educacional deve atender adequadamente a população que se destina. Isso faz com que os conteúdos sejam divididos por meio de uma ordem de habilidades que vão das mais simples para as mais complexas. As condições adequadas para que o aluno desenvolva suas capacidades e habilidades motoras baseadas no que é esperado para o seu crescimento, desenvolvimento físico, cognitivo e afetivo-social demonstra uma fragilidade desta abordagem que Darido (2008, p.5) aponta como “pouca 31 importância, ou a uma limitada discussão, sobre a influência do contexto sóciocultural que está por trás da aquisição das habilidades motoras”. Em 1989, João Batista Freire publica o livro “Educação de Corpo Inteiro”. Esse livro tem importante papel na divulgação da abordagem intitulada “Construtivista-Interacionista”, no Brasil. O teor do livro externa uma preocupação do autor com o excesso de racionalismo da educação e da Educação Física levantando a questão do respeito à cultura que a criança traz para a escola e a proposta de atividades lúdicas e desafiadoras para a construção do conhecimento. Para Darido (2008, p.6): A proposta denominada interacionista-construtivista é apresentada como uma opção metodológica, em oposição às linhas anteriores da Educação Física na escola, especificamente à proposta mecanicista caracterizada pela busca do desempenho máximo, de padrões de comportamento sem considerar as diferenças individuais, sem levar em conta as experiências vividas pelos alunos com o objetivo de selecionar os mais habilidosos para competições e esporte de alto nível. A intenção dessa abordagem é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo tendo para isso a chance de explorar o máximo de possibilidades educativas. Freire (1997), baseado em Piaget, entende que a cada atividade aprendida deveriam ser acrescidos elementos novos e mais complexos, respeitando o nível de desenvolvimento da criança. Nesse sentido, entende-se que a aquisição do conhecimento passa por um processo de constante reorganização. Além disso, devem ter características desafiadoras para que exista um envolvimento constante na participação da construção do conhecimento. Os jogos e brincadeiras tem papel de grande importância nesse sentido, pois Freire (1997) levanta a questão da bagagem cultural da criança e o fato da consideração que a Educação Física deve ter com isso. Valorizar e explorar conhecimentos que a criança já possui, através do resgate das brincadeiras de rua, os jogos com regras, as rodas cantadas e outras atividades do universo cultural dos alunos, podem ser conteúdos com estratégias bem definidas. O que significa que enquanto a criança joga e brinca tem contato com novos valores e atitudes. 32 Com ênfase em uma avaliação não punitiva e baseada no processo entende-se que a abordagem Construtivista-Interacionista para a pessoa com deficiência respeita as experiências e a bagagem cultural desses indivíduos valorizando a participação de todos no processo de aprendizagem. A abordagem Crítico-Superadora tem como finalidade a transformação social. Tendo como influência Demerval Saviani e José Libâneo é baseada no marxismo e neomarxismo. Para Soares (1992, p.50) essa abordagem é entendida como “ [...] uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica formas estas que configuram uma área de conhecimento denominada cultura corporal.” Questões de poder, interesse, esforço e contestação devem ter ligação com uma prática pedagógica que reflita preocupação com as implicações da cultura corporal no desenvolvimento do ser humano na sociedade. Para Soares (2003, p.213) algumas questões devem ser levadas em consideração para se entender o conhecimento na abordagem Crítico-Superadora: 1º- identificar qual o conhecimento que a Educação Física deve tratar dentro da escola; 2º- decidir com clareza por que esse conhecimento se apresenta como base fundamental para o aluno refletir a realidade social, apreendê-la e explicá-la; 3º- explicitar por que o conhecimento da Educação Física deve estar presente como elemento de impulsão para o salto qualitativo cultural da nossa população. Tais considerações devem permitir uma reflexão sobre como ensinar e o que ensinar valorizando a contextualização dos fatos e do resgate histórico. É colocado em jogo então que as atividades corporais não nascem conosco, pois existe aí todo um processo de construção que deve ser levado em consideração (SOARES et al., 2003). Para o autor a relevância da abordagem não está ligada no domínio de técnicas corporais ou domínio de conteúdo. Está sim objetivando a “competência para apreender as possibilidades e os limites da expressão corporal enquanto linguagem no tempo histórico” (SOARES et al., 2003, p.219). E continua, dizendo: 33 Isso significa que o mais importante não é melhorar aspectos neuromotores e sim, a partir da relevância social do conteúdo a ser trabalhado e aprofundado a partir da confrontação do conhecimento do senso comum com o conhecimento científico. A relevância social do conteúdo a ser trabalhado é um ponto positivo para a participação da pessoa com deficiência. Discutindo as possibilidades de jogos e atividades físicas descoladas de perspectivas produtivas o aluno é levado a refletir sobre valores como solidariedade, cooperação, distribuição e enfatizando a liberdade e expressão dos movimentos (SOARES et al., 2003). A abordagem Sistêmica levada à discussão por Betti (1991) considera a teoria de sistemas defendida por Bertalanffy e Koestler. Essa abordagem entende que os conteúdos da Educação Física devam ter uma leitura crítica da sociedade em que está inserida. Isto é, formar o cidadão que vai usufruir e transformar as formas culturais da atividade física. A Educação Física nessa abordagem é entendida pelo autor como um sistema aberto onde sofre influências ao mesmo tempo em que influencia a sociedade. Neste contexto, a aprendizagem de habilidades motoras, apesar de serem importantes, não são o objetivo único da Educação Física. Para isso Betti (1992) afirma: Não basta (o aluno) correr ao redor da quadra; é preciso saber por que se está correndo, como correr, quais os benefícios advindos da corrida, qual intensidade, frequência e duração são recomendáveis. Não basta aprender as habilidades motoras específicas do basquetebol; é preciso aprender a organizar-se socialmente para jogar, compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível... aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo a ser aniquilado, pois sem ele simplesmente não há jogo. É preciso, enfim, que o aluno seja preparado para incorporar o basquetebol e a corrida na sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível (BETTI, 1992, p.286). A abordagem crítica do jogo, esporte, dança e ginástica faz com que o aluno ao conhecer a cultura corporal tenha uma experiência com o movimento, sendo denominado de vivência por Betti (1992). Segundo Darido (2008, p.10) “o termo vivência enfatiza a importância da experimentação dos movimentos em situação prática além do conhecimento cognitivo e da experiência afetiva advindos da prática de movimentos.” 34 Outro aspecto importante da abordagem Sistêmica é o princípio da não exclusão que significa que as atividades a partir de suas estratégias e metodologias devem propor a todos os alunos um processo de vivência em atividades esportivas, rítmicas e expressivas nas aulas. A busca da cidadania é um dos pressupostos do princípio da diversidade. Esse princípio propõe que a Educação Física não trabalhe apenas com um tipo de conteúdo. O objetivo é proporcionar vivências nas mais diferentes atividades que compõem a Educação Física. Essa abordagem passa a discutir a participação da pessoa com deficiência nas aulas. Pode-se entender também que esses princípios começam a reivindicar espaço e novas atividades pedagógicas do professor. A abordagem da Psicomotricidade, tendo como influenciador do pensamento brasileiro o francês Jean Le Boulch, propõe a educação pelo movimento com vista a formação global da criança. Também é considerado como movimento mais articulado surgido a partir da década de 1970 (DARIDO, 2008) De acordo com Le Boulch (1984) essa abordagem visa aprimorar ações motoras por meio da aquisição de noções de lateralidade, consciência corporal, coordenação viso-motora e coordenação global que servissem para prevenção de dificuldades escolares. Apesar de ser muito sugerida por meio da Educação Física a abordagem da Psicomotricidade é área de estudo para psicólogos, psiquiatras, neurologistas e profissionais que trabalham junto às crianças (DARIDO, 2008). Para a Pessoa com Deficiência essa abordagem, pode ser importante principalmente porque entende a ação educativa a partir dos movimentos espontâneos da criança valorizando assim o processo de aprendizagem. Segundo o Centro Nacional de Educação Especial “A psicomotricidade é básica na educação de crianças, e é parte integrante do trabalho pedagógico, que deve ser desenvolvido de uma forma integrada e baseada em vivências” (BRASIL, 1984, p.10). 35 Para Boato (2006) o desenvolvimento psicomotor é parte integrante do desenvolvimento intelectual e a Educação Física deve contribuir nesse processo favorecendo a espontaneidade e liberdade do movimento. Isso implica que a educação seja menos verbal partindo de atividades concretas onde a criança use seu corpo para descobrir o mundo, utilizando atividades motoras, intelectuais e afetivas trabalhando o indivíduo de maneira global. Ao estudar a relação entre Crianças com e sem Deficiência com a discussão baseada em diversos estudiosos da psicomotricidade Falkenbach (2005) observa que a vivência corporal a que foram submetidas contribuiu para o desenvolvimento da atenção, percepção e reconhecimento do outro. Valores que se estenderam para além do ambiente onde foram feitos os estudos, escola e casa por exemplo. A abordagem da Saúde Renovada, representada por Guedes (1996) e Nahas (2003) sob um enfoque mais sociocultural procura evidenciar a importância das práticas de atividades físicas para o desenvolvimento de atitudes e hábitos que podem contribuir com um estilo de vida ativo. Estudos norte americanos mostram que para combater o aumento de doenças crônico não transmissíveis deve ser adotado um comportamento ativo que por sua vez tem ligação com a quantificação e intensidade da atividade física diária. Essa abordagem traz para a escola uma discussão de matriz biológica compreendendo temáticas relacionadas à saúde e qualidade de vida. Para seus autores as práticas de atividades físicas vivenciadas na infância e na adolescência favorecem a adoção de atitudes e hábitos saudáveis para um estilo de vida ativa fisicamente, na idade adulta. Nahas (2003) complementa: A educação para um estilo de vida ativo representa uma das tarefas educacionais fundamentais que a Educação Física tem a realizar. A importância atual dessa abordagem decorre o grande número de estudos científicos demonstrando a associação inequívoca entre hábitos de atividades físicas e saúde, em particular a saúde cardiovascular [...]. Neste sentido, é importante construir currículos que atendam às necessidades dos indivíduos, tanto as atuais como as futuras, Se um dos objetivos é fazer com que os alunos venham a incluir hábitos de atividades em suas vidas, é fundamental que compreendam os conceitos básicos relacionados com a saúde e a aptidão física, que sintam prazer na prática de atividades física e que desenvolvam um certo grau de habilidade motora, o que lhes dará a percepção de competência e motivação para essa prática. Esta 36 parece ser uma função educacional relevante e de responsabilidade preponderante da Educação Física escolar (NAHAS, 2003, p.148). Ensinando conceitos baseados na relação entre atividade física, aptidão física e saúde, essa abordagem em seus objetivos procura atender todos os alunos, e nele estão incluídos sedentários, os de baixa aptidão física, e as Pessoas com Deficiência. Na década de 80 surge a abordagem Crítico-Emancipatória que tem como interesse rediscutir o modelo de prática hegemônica do esporte e aptidão física praticado nas aulas de Educação Física. Tendo como área de base a filosofia, sociologia e política a abordagem propõe questionar o que entende por caráter alienante da Educação Física propondo para isso um modelo de superação das contradições e injustiças sociais. Critica até a abordagem Critico Superadora (DARIDO, 2008). Eleonor Kunz é um dos seus principais autores e em uma de suas obras intitulada “Transformação Didático-pedagógica do Esporte”, publicada em 1994, apresenta uma reflexão sobre possibilidades em se ensinar esportes e a partir de uma educação que contribua com a emancipação de crianças e jovens. O objetivo da abordagem é não apenas entender situações e fenômenos, mas ter a capacidade de mudá-los. Habermas (2007, p.263) que é um dos autores nos quais se fundamenta esta abordagem considera que “o poder diferenciado e ilegítimo e a desigualdade são estruturalmente inerentes ao capitalismo”. O autor tem seu trabalho inicial localizado na tradição da ideologia critica da Escola de Frankfurt e se alicerça em princípios fundamentais de justiça social, promoção da igualdade social, criação de “interesses generalizáveis” e o compromisso de criar uma sociedade democrática. Apesar de não tratar a questão da Deficiência em sua obra consultada, Kunz (1998) aponta que o Professor de Educação Física nessa linha pedagógica deve ter um compromisso com possibilidades e que através das práticas corporais, jogos, brincadeiras, ginástica e esportes, deve proporcionar a seus praticantes não apenas o saber fazer, mas o saber reinventar no 37 sentido de que a reflexão crítica produza uma manifestação contextualizada que no caso reconhece seus praticantes. A abordagem denominada Parâmetros Curriculares Nacionais foi elaborada por meio do Ministério da Educação seguindo a lei de Diretrizes e Bases, nº 9394/96 (BRASIL, 1996). Em 1997 foram lançados os documentos referentes aos 1º e 2º ciclos do ensino fundamental (1ª a 4ª série) e no ano de 1998 aos 3ª e 4ª ciclos (5ª a 8ª séries) De acordo com o grupo que organizou os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), o grande objetivo era mostrar alternativas às propostas curriculares dos estados e municípios além de fornecer subsídios e possibilidades para a atuação e a prática docente auxiliando os professores a dialogar com as propostas e experiências já existentes (DARIDO, 2008). Os documentos que compõe os PCN são: documento introdutório e os temas transversais (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo). A proposta dos documentos como um todo remete à questão da cidadania como eixo norteador se identificando com abordagens de cunho psicológico e também com olhar mais sociológico e político. Buscando a superação das concepções de origem médica e militar fazendo com que as dimensões culturais, social, política e afetiva, presentes no corpo também sejam considerados. Entendendo esta questão como algo complexo é importante a distinção entre organismo (baseado no fisiológico) e corpo (que se relaciona dentro de um contexto sociocultural). A partir daí a Educação Física passa a ser entendida como cultura corporal (BRASIL, 1997). Isto quer dizer: Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar (BRASIL, 1997, p.27). Portanto, embora haja certo ecletismo, nos meios considerados para atingir os objetivos da abordagem, quer sejam da crítica ou da compreensão dos benefícios da atividade física para a saúde, a educação formal norteada 38 pela cidadania pode contribuir para a formação de cidadãos críticos (DARIDO, 2008). No que diz respeito à Pessoa com Deficiência essa abordagem reconhece a sua exclusão das aulas de Educação Física (PCN, 1997). E nesse cenário enfatiza “É possível integrar essa criança ao grupo, respeitando suas limitações, e, ao mesmo tempo, dar oportunidade para que se desenvolva suas potencialidades” (BRASIL, 1997, p.41). Em crítica à perspectiva biológica, em 1993, Jocimar Daólio sugere a abordagem Cultural. Apoiado em autores como Mauss e Geertz denominou de enfoque cultural uma linha de pensamento baseada em uma perspectiva antropológica. Essa discussão não excluía a dimensão biológica apenas passava a discuti-la sob um ponto de vista cultural. Dessa maneira se observa que modelos pré-estabelecidos vindos do esporte de rendimento, por exemplo, às vezes negam e não observam as diferenças culturais entre os alunos. Para Betti (1993) a cultura corporal pode ser determinada como cultura geral bem como pode ser fruto dela a partir de uma relação dialética entre elas. Já por Soares et al. (1992, p.38) a cultura corporal deve proporcionar: [...] uma reflexão pedagógica sobre o acervo das formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica, e outros que podem ser identificados como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas. Betti e Zuliani (2002) também contribuem para o discurso de formação a partir da cultura corporal do movimento e sobre a sua integração afirmam: Para isso, não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas, aprendizagem esta necessária, mas não suficiente. Se o aluno aprende os fundamentos técnicos e táticos de um esporte coletivo, precisa também aprender a organizar-se socialmente para praticá-lo, precisa compreender as regras como um elemento que torna o jogo possível (portanto é preciso também que aprenda a interpretar e aplicar as regras por si próprio), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não um inimigo, pois sem ele não há competição esportiva (BETTI; ZULIANI, 2002, p.75). A cultura corporal percorre um aprendizado que possibilitará ao aluno compreender as dinâmicas nas quais está inserido. E por meio desse 39 aprendizado, balizado na reflexão sobre a cultura corporal, poderá intervir na sociedade. Isto significa estimular e desafiar o indivíduo a construir e reconstruir seus movimentos a partir de sua compreensão e necessidade. Entende-se por trás disso que todo movimento corporal é considerado um gesto técnico de tal forma que, a não ser dentro de um contexto específico, é difícil estabelecer valor entre eles. Isso significa que não se estabelecem comparações entre as técnicas. Portanto, ao ampliar o conceito de técnicas corporais, Betti e Zuliani (2002) defendem que cada aluno já possui sua bagagem cultural e a prática do professor passa a ser transformadora quando procura entender as pessoas a partir de suas diferenças. Seria como não escolher melhores ou piores, certo ou errado e sim compreender diferenças. O princípio da alteridade, emprestado da antropologia pelo autor, passa a ser importante nesse contexto, pois considera a humanidade a partir de uma pluralidade de modo que a Educação Física e o professor deve ter como ponto de partida o repertório corporal que o aluno carrega consigo. A Ciência da Motricidade Humana chega ao Brasil no final da década de 80 e início de 90. Seu surgimento tem como pressuposto a necessidade de uma mudança epistemológica da concepção da Educação Física tradicional desenvolvida no final da década de 1980. Essa concepção tradicional estava alicerçada em uma concepção linear de movimento onde o desenvolvimento do físico era seu maior objetivo. Para Manuel Sérgio (1992, p. 53-54) a Ciência da Motricidade Humana passa a ser “paradigma emergente, antidualista e holístico, expresso na passagem do físico ao motor[...]”. A visão da motricidade humana, considerando a multiplicidade de fatores para sua compreensão, necessita de diferentes áreas do conhecimento como antropologia, sociologia, filosofia e biologia para compreender o ser humano. 40 O corpo deve ser entendido não apenas em seu aspecto físico, mas também a partir de uma complexidade onde se conjuga a sua construção social, cultural e política. De acordo com Moreira (2002, p.130): A ciência da motricidade humana aí está para o estudo da originalidade da dinâmica existencial do corpo, da intencionalidade dos gestos que o corpo apresenta. Ela procura desvendar as intencionalidades desse ser humano que se movimenta na direção de sua auto-superação. Sendo assim, o ser humano e o seu movimento passam a ter significado o que acaba gerando a necessidade de um pensamento menos racionalista e mais pautado na complexidade. O que se observa das abordagens pedagógicas apresentadas é que a partir dos anos 80 passam a questionar uma Educação Física tradicional expressas nas abordagens Militar, Higienista e Tecnicista. A idéia de seleção de indivíduos fisicamente perfeitos e formação de atletas olímpicos servindo de exemplo para a nação são substituídas, pelo menos em discurso, por uma preocupação de uma Educação Física para Todos. 3.3 EDUCAÇÃO FÍSICA ADAPTADA Os primeiros relatos de prática de Atividade Física Terapêutica surgiram na China há cerca de 3 mil anos a.C., mas o conceito de educação ou Atividade Física voltada às pessoas com diferentes condições ou peculiaridades para praticá-las “é um fenômeno ainda recente” (WINNICK, 2004, p. 9). Segundo Seabra (2006, p. 56) a Educação Física Adaptada em termos de construção histórica percorre “direta ou indiretamente os mesmos caminhos da Educação Física e, por vezes, confunde-se com esta quando nos deparamos com sua origem médica, terapêutica e higienista”. O autor ainda aponta que tem sido precária a participação das pessoas com deficiência no contexto escolar dizendo que a lacuna para essa participação “não está mais na identificação e no reconhecimento desta população, mas, de maneira geral, evidencia-se nas estruturas e ações 41 educacionais, no ambiente escolar” que, ainda são despreparados para aceitar e entender as particularidades, características e necessidades das “diferenças” (SEABRA, 2006, p.56). A expressão Educação Física Adaptada passou de um conceito de Educação Física Corretiva, e médica para um modelo Pedagógico (SEABRA, 2006). Tal expressão teve estreita relação com a prática esportiva, com grande destaque ao Dr. Ludwig Guttmann que implementou o esporte como meio de reabilitação terapêutica, passando pelas práticas do lazer e recreação e ainda foi um dos grandes responsáveis pelo esporte adaptado de alto rendimento. De acordo com a American Association for Health, Physical Education, Recreation and Dance (AAHPERD) a Educação Física Adaptada é definida como um ”programa diversificado com atividades desenvolvimentistas, jogos e ritmos adequados aos interesses, capacidades e limitações de estudantes com deficiências” (WINNICK, 2004, p.10). Ao partir do princípio de que a deficiência é uma condição em grande parte construída socialmente, pode-se observar que ao longo do tempo o entendimento acerca da definição do que é Educação física Adaptada foi mudando construindo novas perspectivas e objetivos para a prática de atividade física para esta população. Segundo Seaman e DePauw (1982, s/p apud Pedrinelli 1994, p.8), Educação Física para pessoas portadoras de necessidades especiais. São consideradas atividades apropriadas e possíveis às atividades desenvolvimentistas, jogos, esportes e atividades rítmicas. Toda programação deve ser adequada aos interesses, capacidades e limitações dos estudantes. Mais de uma década depois Duarte e Werner (1995, p.9) definiram a Educação Física Adaptada como: uma área da Educação Física que tem como objeto de estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais, adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada portador de deficiência, respeitando suas diferenças individuais. Podemos observar a partir das definições acima que o termo “portador” definia e caracterizava a deficiência puramente numa perspectiva médica 42 desconsiderando a questão da desvantagem como consequência da relação da pessoa com seu meio. Uma nova definição, entretanto oferece outra possibilidade de entendimento da Educação Física Adaptada. Educação Física Adaptada é uma parte da Educação Física, cujos objetivos são o estudo e a intervenção profissional no universo das pessoas que apresentam diferentes e peculiares condições para a prática das atividades física. Seu foco é o desenvolvimento da cultura corporal de movimento. Atividades como ginástica, danças, jogos e esportes, conteúdos de qualquer programa de atividade física devem ser consideradas tendo em vista o potencial de desenvolvimento pessoal (e não a deficiência em si) (PEDRINELLI; VERENGUER, 2005, p. 4). Esse último conceito desencadeia uma mudança de pensamento passando do termo deficiente para o termo diferente. Afasta-se daí o entendimento de se avaliar a deficiência puramente sob o prisma biológico, tratando o seu portador como doente, sempre necessitando de ajuda e por isso digno de pena. A Educação Física Adaptada então ultrapassa dois entendimentos que se tinham a respeito: “Que era indicada só para pessoas com deficiência e que suas estratégias e metodologias tornariam mais fáceis e menos complexas as suas atividades” (RODRIGUES, 2006, p.41). Quanto à primeira questão o foco passa a ser centrado na funcionalidade e sua adequação. A partir desse princípio passam a fazer parte do grupo pessoas com atraso de desenvolvimento, condições especiais de saúde, com dependência de drogas, pessoas em risco de exclusão social o que acaba apresentando um panorama com diferentes dificuldades sejam elas permanentes ou temporárias. Segundo Rodrigues (2006, p.41) a adaptação deve “adequar a exigência da tarefa ao nível de desempenho” o que significa adotar medidas para que a pessoa pratique a atividade explorando suas potencialidades. Isso significa que a atividade continuará com exigências, todavia a adaptação oferecerá a condição para que a pessoa consiga nela se desenvolver. 43 Pelo observado percebemos que os conteúdos da Educação Física Adaptada não se diferem dos da Educação Física, entretanto precisam de um processo de planejamento e ação docente que atendam a necessidade do educando (BUENO; RESA, 1995). Isto quer dizer que existe um respeito às limitações, sempre se valorizando e enfatizando as potencialidades do educando. Para Mauerberg de Castro (2005) os programas podem ter os seguintes objetivos: Desenvolver ou aperfeiçoar: autoconceito positivo; competência social; integração sensório-motora; aprendizagem perceptivo-motora; padrões e habilidades motoras; aptidão física e estilo de vida saudável; postura e aparência; competência em jogos, atividades de lazer e relaxamento; habilidades aquáticas e dança; habilidades esportivas e de competição; e desenvolver atitudes e conceitos sobre: habilidades, atividades, movimento, saúde e bem-estar, condicionamento físico (CASTRO, 2005, p.278). A partir dos objetivos e a diversidade de pessoas que podem fazer parte dos programas de Educação Física Adaptada é necessário que as metas se adequem às propostas vigentes nos possíveis locais de intervenção que de acordo com Pedrinelli e Verenguer (2005) são locais onde são desenvolvidas atividades físicas ou esportes que pressupõem a aplicação de conhecimentos pedagógicos, técnicos e científicos, mediante a atuação ética e responsável do profissional de Educação Física. Ainda sobre os objetivos dos programas de educação Física Adaptada Pedrinelli e Verenguer (2005) ressaltam que uma vez conhecida as metas do programa, deve-se modificá-las apenas quando necessário em prol da integridade das atividades e respeito a todos os participantes. E a respeito disso Rosadas (1991, p.16-19) apresenta algumas metas: Estimular o desenvolvimento do aluno; Possibilitar ao aluno condições de desenvolver seu potencial criativo e espontâneo; Possibilitar criar situações que se pareçam com as situações reais de vida; Aproximar o deficiente do convívio comunitário e Auxiliar na plena integração afetivo social. A diversidade de pessoas e metas nessa situação exigem currículos diferenciados com a distribuição de conteúdos que atendam as expectativas 44 dos praticantes. Munster (2006, p.85) sugere um guia ilustrativo de atividades físicas e esportivas como exemplo de um amplo universo de possibilidades. Em modalidades esportivas envolvidas nos Jogos Paralímpicos, dos quais participam atletas com deficiência física (amputação, paralisia cerebral, outras condições), atletas com deficiência visual e atletas com deficiência intelectual; Em modalidades esportivas desenvolvidas nas Olimpíadas Especiais, das quais participam atletas com deficiência intelectual em esportes regulares e em esportes unificados (modalidades das quais participam atletas parceiros que não apresentam deficiência intelectual); Em modalidades esportivas dos jogos mundiais para surdos, dos quais participam atletas com perda auditiva equivalente a 55 decibéis; Em outras modalidades esportivas notoriamente conhecidas e que não fazem parte dos eventos citados, a exemplo do futebol para atletas com amputação ou da dança em cadeira de rodas, cujas associações ou confederações brasileiras propiciam participação em eventos mundiais; Em atividades físicas outras que constituem opções para o desenvolvimento da cultura corporal do movimento, nas quais podem se envolver todos os participantes interessados. Uma vez apresentadas as metas e todo o processo de valorização da pessoa com deficiência, dentro dos conteúdos da Educação Física Adaptada há que se investir na metodologia e nas estratégias de ensino-aprendizagem orientando para um tratamento pedagógico adequado às atividades ministradas. E para tanto, a atuação do professor deve se dirigir a atuações que permitam ao participante acesso ao universo de possibilidades e igual oportunidade de participação. Pedrinelli (2006, p.218) recomenda as seguintes observações para os primeiros encontros: 1. Procure agir naturalmente. Acolha e receba todos com o mesmo nível de atenção, abraços, consideração. Perguntas vão surgir. Responda naturalmente. 2. Atenção e prestígio é muito bom. Todos gostam. Não superproteja, nem dê excesso de atenção para alguns, pois todos os outros irão reclamar! 3. Procure garantir a participação de todos (individual ou em grupo), desafiando cada um a realizar o melhor considerando as suas potencialidades. Utilize a teoria da corda inclinada cujo pressuposto básico é: “Se você, consegue saltar na parte mais baixa da corda, salte. Se você consegue saltar mais alto, então escolha outra parte da corda”. Cada um se ajusta às suas possibilidades de ação motora. 4. Procure realizar adaptações compartilhando opiniões. Regras podem ser combinadas recombinadas, inventadas e 45 5. 6. 7. 8. 9. reinventadas. Jogos cooperativos são uma excelente opção para viver em comum-unidade (BROTO, 1997 apud PEDRINELLI, 2006). Procure promover e adequar desafios, incentivando e ajudando a superar dificuldades. Não subestime. Procure aceitar formas diferentes de execução de movimentos. Procure promover sucesso para desenvolver a auto-estima. Ofereça a oportunidade de pensar, decidir, agir por seus próprios meios. Garanta autonomia. Avalie se espaço, local e materiais estão adequados. Avalie a necessidade de estruturar esquemas de apoio (colega/tutor, familiares/babás, auxiliares, suporte técnico, parceria com profissionais ou entidades afins). Nesse sentido, o desafio está em promover programas de atividades motoras onde tanto o professor como os alunos possam aprender. No cenário da educação inclusiva todos são importantes e significativos e a diversidade passa a ser algo imprescindível dentro de um processo ensino aprendizagem. O participar desse processo exige respeito às diferenças individuais e estratégias de ensino que favoreçam a troca de experiência e a cooperação. Tais estratégias permitem um novo olhar em relação à pessoa com deficiência, sobretudo desfazendo mitos e fantasias na medida em que expomos argumentos e compartilhamos experiências (PEDRINELLI, 2006). Entretanto, a proposta de fazer com que todos participem a fim de que se conheçam as diferenças encontra dificuldades em se instalar (CHICON; MENDES; SÁ, 2011), pois há um cenário presente tanto na Educação Física como na Educação Física Adaptada que equivocadamente tem valorizado o rendimento e a aptidão (SEABRA, 2006) o que acaba gerando uma situação de segregação daqueles que já estão segregados (ARAÚJO, 1998). 3.3.1 Esporte e Deficiência Antes de tratar do Esporte para Pessoas com Deficiência, propriamente, é importante deixar claro alguns conceitos que envolvem a deficiência e adaptação, como: Pessoa com deficiência, atividade motora (adaptada), esporte adaptado e esporte para pessoas com deficiência. 46 A expressão pessoas com deficiência de acordo com a convenção sobre os direitos da pessoas com deficiência significa: Pessoas com deficiência são aquelas que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas (ONU, 2006). A nova nomenclatura obedece a uma nova classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que leva em consideração a Classificação Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF). Assim, para tal caracterização, o registro da doença deve ser acompanhado de evidências que a incapacidade acompanha barreiras que levem o indivíduo a desvantagem no meio social. Como pode se observar a perspectiva clínico-médica não é imperante. Atualmente considera-se, para esse fim, a questão social, que suscita um olhar não só voltado a condição patológica da deficiência, chamando atenção para a interação com outros fatores. A inclusão e o Esporte Adaptado nesse sentido tem contribuído para esse olhar mais voltado à capacidade do que propriamente para a deficiência (CARVALHO, 2006). Dentro de uma perspectiva educacional, segundo Rodrigues (2006), o termo Atividade Motora passa a ser mais apropriado do que Atividade Física, principalmente porque o primeiro busca abrir espaço para um “comportamento multifacetado”, ao contrário do segundo que remete à questão de dualidade do corpo e ao mecanicismo. A partir dessa visão nossos movimentos passam a ser fruto de um contexto e não propriamente uma parte da nossa capacidade. A adaptação, a partir daí, não atenderá apenas pessoas com deficiência e muito menos irá procurar facilitar ou deixar pouco exigente a atividade. Isso fica bem claro observando que: Constatamos também que o conceito de atividade motora adaptada como o conjunto de experiências motoras destinadas a pessoas com condições de deficiência é um conceito redutor. Adaptar é sobretudo conhecer quais os diferentes componentes que podem influenciar o desempenho de uma atividade e manipulá-las de forma que construa uma situação de desempenho ou de aprendizagem adequada ao aprendiz (RODRIGUES, 2006, p. 45). 47 O termo Esporte Adaptado sugere a modificação de algum esporte que já nos é conhecido como, por exemplo, o atletismo. Sendo assim imagina-se que sendo ele para deficiência visual, a depender do nível de comprometimento, por exemplo, poderá ter guias ao longo do percurso, da mesma forma que um deficiente físico, que dependendo de sua classificação funcional, poderá utilizar de sua cadeira para a disputa (ARAÚJO, 1998; WINNICK, 2004). Uma vez que o esporte foi criado exclusivamente para uma determinada deficiência, como no caso do goalball para deficientes visuais, são denominados Esporte para deficientes (ARAÚJO,1998). De acordo com Mauerberg de Castro (2005, p.437), “internacionalmente o termo Esporte Adaptado não é aceito sendo utilizado o termo esporte para deficientes ou esportes para pessoas com deficiência”. Já Carvalho (2006) cita que o Paraesporte, a partir de seu prefixo “para” (que sugere aproximação ou paralelo) são esportes adaptados para pessoas com deficiência ou criados a partir de suas necessidades. A partir dos conceitos citados, podemos entender que o termo adaptação não é estático, irá depender de diferentes variáveis, que oriunda de contextos diferenciados irá se situar de tal maneira que seu objetivo passa ser o atendimento de diferentes dificuldades podendo as mesmas em permanentes ou temporárias. Quanto a essa questão, Rodrigues (1996, s/p, apud ARAÚJO, 1997, p.4-5) destaca: Este termo parece sugerir que a atividade é estandartizada e que para ser praticada por pessoas com deficiência necessita ser adaptada. Esta lógica funciona por exemplo para referir ao basquete em cadeira de rodas, mas será que podemos usar como por exemplo o “boccia” que foi criado exclusivamente para pessoas com paralisia cerebral? Talvez sim, dado que o termo adaptação tem também uma conotação que se identifica com a manipulação de variáveis ecológicas. A atividade, os métodos, os estilos de ensino, os enquadramentos, etc. Tem que ser adaptada porque a pessoa tem menos possibilidade de adaptação. Adaptar uma atividade em sentido lato pode ser pois construir uma atividade para um objetivo definidopor exemplo desenvolver a consciência corporal. Adaptação ou usando um termo mais genérico - a adaptabilidade pode-se referir a modificações numa atividade padronizada. Referente a um desporto, pode criar um envolvimento específico de atividade não padronizada e pode ainda criar um contexto com objetivos claramente terapêuticos ou reeducativos. 48 Sendo assim, observa-se que a adaptação consiste em mudanças em um contexto mais amplo. Ou seja, a atividade pode pedagogicamente sofrer modificações uma vez que se leve em conta uma série de variáveis e a busca por objetivo passe pela necessidade de mudança do tradicionalmente concebido. 3.3.2 História do Esporte Adaptado A história do Esporte Adaptado conhece suas primeiras manifestações no ambiente escolar no século XIX. Segundo Winnick (2004, p.16) “os atletas surdos são os primeiros norte americanos com deficiência a se envolverem em esportes organizados”. Citando Gannon (1981, apud ARAÚJO, 1997) Araújo aponta que em 1870 surgem as primeiras manifestações paraesportivas, envolvendo o beisebol para surdos, oferecidas por escolas no estado de Ohio. Greguol (2008) observa que em 1888, em Berlin, já havia clubes esportivos para surdos com o conhecimento do futebol e basquetebol. Em 1885, se tem notícia da prática do futebol americano, no estado de Ilinois, onde havia competições entre eles e com atletas de escolas regulares. Já o basquetebol, em 1906, foi iniciado na Wisconsin School for de Deaf (ARAÚJO, 1997). Vale ressaltar que o Esporte Adaptado para surdos possui uma trajetória independente de outros movimentos esportivos para pessoas com deficiência, que diante. Foram os primeiros, em 1924, a organizar uma competição internacional, chamada Jogos do Silêncio que ocorreu em Paris e teve a participação de nove nações. Em 1945, estabeleceram nos Estados Unidos a American Athletic Association for the Deaf (AAAD) que até hoje promove e organiza suas competições. Em 1907 aparece o primeiro relato de eventos competitivos para cegos, que aconteceu entre escolas de Overbrook e Baltimore nos Estados Unidos. De acordo com Winnick (1990) foi um campeonato telegráfico de atletismo 49 entre tais escolas. O mesmo autor complementa que em um campeonato telegráfico, os resultados das competições realizadas à nível local são enviados a um comitê central, que por sua vez faz comparações entre os resultados para determinar os vencedores. Práticas esportivas com alguma organização, segundo Araújo (1997), aconteceram ao final da primeira grande guerra, todavia não tinham continuidade. De acordo com Araújo (1997) em 1918 um grupo de mutilados alemães buscou a prática esportiva como forma de amenizar o que tinham vivido na guerra além de passar o tempo nas longas internações a que eram submetidos. Em 1932 em Glasgow, no Reino Unido, aparece uma associação de golfe para amputados que também não efetiva sua prática. Nota-se neste momento que as praticas esportivas voltadas para Reabilitação terapêutica eram centradas em hospitais e centros de reabilitação, oferecidas como parte de um tratamento que buscava amenizar sequelas oriundas da guerra, todavia eram atividades que não tinham propriamente uma organização ou sequência. Esse momento pode ser classificado como um início do movimento do Esporte Adaptado. Com a Segunda Guerra mundial mais soldados voltam para seus países com incapacidades e a partir daí aumenta a necessidade de se assegurar algum apoio a essas pessoas. A construção de novos centros de reabilitação bem como a preparação de pessoal especializado para tal são alguns desses exemplos que passam a inspirar novos olhares da sociedade. Para Adams (1985): [...] a volta desses homens, tratados como heróis, fizeram com que o olhar sobre a deficiência ganhasse outra perspectiva. Quando antes eram tratados como um peso para a sociedade, e às vezes para a própria família, passaram a ser olhados com respeito e, até mesmo, membros da sociedade (ADAMS, 1985, p.38). A partir daí a prática do Esporte visando a competição começa a ser organizada e tem o seu início em dois países: Inglaterra e Estados Unidos, todavia eles aparecem com diferentes propostas. 50 Para Greguol (2008, p.536) seus objetivos eram distintos. “Enquanto na Inglaterra o objetivo era a reabilitação pelo esporte, nos estados norteamericanos a meta final era a competição”. Segundo a mesma autora embora as origens do esporte tivessem tido o mesmo local, nos hospitais de reabilitação de veteranos de guerra, a organização e a direção do esporte adaptado era diferente. Enquanto para os ingleses esta incumbência cabia aos médicos, nos Estados Unidos cabiam para os próprios deficientes, que inclusive, em 1946 fundaram a associação Paralyzed Veterans of America (PVA) que com o basquetebol e atletismo buscou chamar a atenção das pessoas para as atividades esportivas em cadeira de rodas. Nos Estados Unidos, em 1946, começaram os primeiros torneios e exibições de basquete em cadeira de rodas, com a equipe Flying Wheels (rodas voadoras), o que de acordo com Adams (1985) trouxe importantes resultados. A equipe The Flying Wheels, de Van Nuys, Califórnia, fez uma turnê, deixando cidadãos impressionados e espantados. O resultado dessa importante turnê pelo país teve duas conseqüências. Primeiro, despertou interesse e apoio para a realização dos esportes gerais realizados na cadeira de rodas. Em segundo lugar, o que é mais importante, estimulou aqueles que viram a equipe de cadeira de rodas em ação, a compreenderem que uma pessoa deficiente pode ter força, coragem e habilidade para jogar basquetebol numa cadeira de rodas. Na realidade, não há limite para as capacidades de um mesmo indivíduo que seja adequadamente treinado, portanto ele pode ser considerado uma pessoa normal (ADAMS, 1985, p.39). De acordo com Winnick (2004) o responsável por esse movimento de início ao esporte nos Estados Unidos foi Mr. Benjamin H. Lipton, diretor do Joseph Bulova School of Watchmaking. E o sucesso do movimento foi tamanho que em 1948 se associou ao Professor Timothy Nugent, que era diretor do Student Rehabilitation da Universidade de Illinois, para treinamento e competição de equipes de basquetebol em cadeira de rodas. Na Inglaterra, a trajetória da prática esportiva, teve início no Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville fundado por Sir Ludwig Guttmann na cidade de Aylesbury, em 1944. Atribui-se ao senhor Guttmann, que foi convidado pelo governo britânico para tratar soldados 51 do exército inglês feridos durante a segunda grande guerra, a introdução da competição esportiva como parte integrante do processo de reabilitação, que foi o início do Movimento Paralímpico. Segundo Carvalho (2006) ele institui o esporte como meio de reabilitação terapêutica além de desenvolvê-lo na perspectiva de lazer e recreação e também como alto rendimento. Em 1948 ocorreram o I Jogos de Stoke Mandeville, patrocinado pelo próprio hospital. As motivações demonstradas por esses indivíduos começavam a questionar crenças de que pessoas com deficiência estariam condenadas a viver como vítimas (ARAÚJO, 1997). A partir daí nota-se que o movimento foi ganhando notoriedade e reconhecimento. Pois com a realização, em 1952, dos I Jogos Internacionais de Stoke Mandeville surgiu a fundação International Stoke Mandeville Games Federation (ISMGF). E, além disso, o reconhecimento oficial pelo Comitê Olímpico, em 1956, fato que marca definitivamente a inserção do paraesporte no cenário da época. Em 1962 enquanto a trajetória do paraesporte de alto rendimento estava em pleno curso é muito importante observar que jogos esportivos baseados em uma perspectiva mais participativa, para indivíduos com deficiência intelectual, também estava em processo. No ano de 1968, em Soldier Field (Illinois, EUA), que acontece o primeiro evento para promover oportunidades de competição atlética para pessoas com deficiência intelectual. Os primeiros Jogos Internacionais das Olimpíadas Especiais, idealizados por Eunice Kennedy Shiver, culminaram com o inicio do programa Special Olympics International (WINNICK, 2004). Hoje os jogos Paralímpicos são o segundo maior evento esportivo do mundo, apenas atrás dos Jogos Olímpicos. Os jogos são realizados de 4 em 4 anos desde Seul (1998) e os de inverno desde Albertville (1992). Ocorrem duas semanas após os Jogos Olímpicos fazendo uso da mesma estrutura e local (CARVALHO, 2006). 52 Portanto, se observa que o paraesporte surgiu a partir de iniciativas isoladas e começa a ganhar notoriedade principalmente no cenário médico de reabilitação. É evidente também que o movimento paraesportivo não se restringe as “Paralimpíadas”, tendo o movimento “Jogos do Silêncio” e o “Special Olympics” demonstrado isso. E com a evolução das práticas esportivas o movimento consegue sair de um contexto médico e de reabilitação para um contexto pedagógico. Adquire, dessa maneira, uma identidade própria tendo atualmente um grande apelo social e político com penetração em diversos países (CARVALHO, 2006). 3.3.3 Surgimento do Esporte Adaptado no Brasil No Brasil, é reconhecido que o paraesporte nasceu a partir da iniciativa de dois paraplégicos na década de 50 que buscaram serviços de reabilitação nos Estados Unidos (ARAÚJO, 1997). Robson Sampaio de Almeida, do Rio de Janeiro, e Sérgio Serafim Del Grande, de São Paulo. Fundaram, em 1958, o Clube do Otimismo e o Clube dos Paraplégicos, respectivamente. Conforme depoimento de Del Grande para Araújo (1997) a reabilitação ofereceu a ele grande melhora em diferentes aspectos e complementa: Quando eu cheguei lá eu só andava de cadeira de rodas. Com as orientações e terapias eu consegui me locomover com os aparelhos e me tornar completamente independente. Eles ensinaram-me a subir e descer escada de muleta, ensinaram-me como tinha que sentar no banheiro, levantar da cama como tinha que arrumar a minha cama, a dirigir carro, os cuidados que eu deveria ter em relação as partes lesadas. Tudo foi feito no instituto de reabilitação (ARAÚJO, 1997, p.17). Apesar do reconhecimento Del Grande, segundo o mesmo autor, declara que não tinha a intenção de fundar um clube, entretanto foi estimulado a partir de um evento realizado em São Paulo. O acontecimento realizado pela AACD trouxe para exibições de basquete em cadeira de rodas, tênis de mesa e arco e flecha um time de funcionários das companhias Pan American World Air Ways. O time era chamado de “Pan Jets” e era formado por pessoas que tinham ficado paraplégicas e continuaram a trabalhar e a praticar esportes. 53 O primeiro jogo de basquetebol em cadeira de rodas foi realizado, em 1959, no Maracanãzinho, Rio de Janeiro, entre as equipes de São Paulo e Rio de Janeiro. E já nessa época, Del Grande embarca para Buenos Aires e iniciase o contato esportivo e social entre Brasil e Argentina. Em 1960 o Clube dos Paraplégicos de São Paulo participa do 1º Campeonato Mundial, realizado em Roma (ARAÚJO, 1997) No campo dos esportes para deficientes auditivos, Diehl (2008) destaca que, em 1957, aconteceu a I Olimpíada Nacional de Surdos no Brasil. Participaram do evento associações de surdos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e foram disputadas modalidades de futebol, atletismo, voleibol e ginástica rítmica. Em 1969 o Brasil forma sua primeira seleção de basquetebol em cadeira de rodas. Foi para disputa da segunda edição dos Jogos Pan-Americanos, realizada na capital da Argentina. Para Mauerberg de Castro (2005, p.449): Apesar das dificuldades advindas da falta de patrocínio e de credibilidade dos órgãos governamentais, esta modalidade trouxe a medalha de bronze e muita esperança para o esporte para deficientes no Brasil (De 45 aos...,1988). A partir daí, nosso país começou a entrar nas grandes competições internacionais, entre elas os Jogos Pan-Americanos de 1971 (Jamaica) e de 1973 (Peru). Os jogos Pan-Americanos do México, em 1975 culminam com a criação da Associação Nacional para Deficientes (ANDE) que tinha como objetivo difundir, organizar e administrar essa atividade. Fato que mais tarde, em virtude de um grande número de categorias de deficiências e participantes, levou a criação de associações específicas. No campo das políticas públicas a discussão sobre o esporte para pessoas com deficiência começa na década de 1970. Era o início de um movimento que apregoava a pratica de atividade física para todos. Chamado Esporte para Todos (EPT) se baseava na idéia de que o esporte moderno deveria acompanhar a vida moderna, e assim, oferecer além da versão mais tradicional, que eram a alta competição e a escolar, uma proposta vinculada à valorização do tempo de lazer e à busca de atividades ao ar livre. 54 Esse movimento estava em um cenário onde a comunidade acadêmica também manifestava interesse pela área da pessoa com deficiência. De acordo com Jannuzzi (2006), em 1978, foi criado o Programa de Mestrado em Educação Especial na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e o curso de Mestrado em Educação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Sendo assim, o EPT era definido como um meio termo entre as modalidades esportivas tradicionais e os jogos informais, ou seja, atividades que exigissem o mínimo de técnica e organização e que permitissem a ampla possibilidade de participação. A partir da definição, entendiam os organizadores, o EPT podia adotar perspectivas de acordo com a realidade local. Os locais para a prática eram fruto do próprio contexto local, ou seja, poderiam acontecer em qualquer lugar onde se pudessem adaptar corridas, exercícios, jogos, encontros e campeonatos (COSTA, 1981). E nesse momento os Congressos Brasileiros de EPT começaram a abrir espaço para a discussão acerca do esporte para a pessoa com deficiência. A publicação do livro “A teoria e Prática do Esporte para Todos”, em 1982-1983 pelo MEC, marca o início das publicações em anais, dos temas livres sobre atividade para pessoas com deficiência (BRASIL, 1983). Tais encontros se repetiram com bastante evidência nos anos de 1984 e 1986, todavia apesar da notoriedade do programa ainda não havia uma atenção especial à pessoa com deficiência (ARAÚJO, 1996; BRASIL, 1989). Era o momento da integração, que suscitado pelo interesse de normalizar as pessoas começava a se contrapor a outras teorias, que ainda iniciais, buscavam considerar as características da pessoa com deficiência. Porém, em um dado momento, os Congressos Brasileiros de Esporte Para Todos começaram a evidenciar, para a esfera federal do governo, a ausência de políticas relacionadas à Educação Física e o Esporte para pessoas com deficiência. Em 1986 é criada a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora da Deficiência (CORDE) que, com sua ligação a grupos da 55 sociedade civil, contribuiria para agilizar a política de integração educacional. No campo do paraesporte a CORDE foi responsável por diversos acontecimentos. Cita Araújo (1997) que a participação da equipe Brasileira nas Paralimpíadas de Seul em 1988 foi uma delas. Além disso, mantinha o esporte na sua proposta original como fator relevante de integração da pessoa com deficiência. Com forte impulso da Constituição de 1988, com base no artigo 217 que incluía o direito ao esporte e ao lazer, e também a fim de atender necessidades e compensar defasagens de outros planos, em 1990 é criada a Secretaria de Desporto que elabora o “Programa de desportos das pessoas portadoras de deficiência” (BRASIL, 1989). Segundo Araújo (1997, p.42), a criação da Secretaria de Desporto iria “contribuir para mudar uma perspectiva elitista e concentrada em benefícios que não favoreciam a faixa da população mais carente”. E ainda observa que, dentro de seus princípios norteadores, a prática esportiva de massa o estímulo e promoção do esporte para pessoas com deficiência são destacados. Quanto ao Programa de desportos das pessoas portadoras de deficiência era composto por quatro subprogramas assim caracterizados: Capacitação recursos humanos; Pesquisa e desenvolvimento tecnológico, Desenvolvimento e fomento esportivo e Publicações. Cada subprograma possuía metas que deveriam ser cumpridas ao longo dos 5 anos de governo (BRASIL, 1989; ARAÚJO, 1997). Com o Impeachment do Presidente Fernando Collor de Melo a Secretaria dos Desportos se transforma em Departamento do Ministério da Educação e o Departamento de Desporto das Pessoas Portadoras de Deficiência vira coordenação. Araújo (1997, p.50) observa que “a nova organização apresentou-se mais tímida embora tentasse assegurar a mesma filosofia imposta anteriormente”. Nesse sentido, com a perspectiva de avaliar os avanços da última década foi realizado em 1993 o “Encontro técnico de Avaliação Desportiva das Pessoas Portadoras de Deficiência na década de 83/92”. Tal encontro 56 reconheceu avanços propostos nas metas dos subprogramas, todavia outras questões foram sugeridas como: “garantir o desporto de alto nível, ações políticas para sensibilização, articulação para a criação do Comitê Paraolímpico Brasileiro e a formação de dirigentes esportivos” (ARAÚJO, 1997, p.53). Atualmente algumas leis merecem destaque, como a lei nº 9615 de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre desporto e a lei nº 10.264 sancionada pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso em 16 de julho de 2001 que destina recursos públicos para o desenvolvimento do esporte, que teve uma boa repercussão no meio esportivo. Essa lei, conhecida como lei Agnelo/Piva por causa de dois de seus autores, o então Deputado Federal Agnelo Queiroz (na época PC do B-DF) e o então Senador Pedro Piva (PSDB-SP) estabelece que 2% da arrecadação bruta das loterias federais sejam repassadas ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Os percentuais são de 85% ao COB e 15% ao CPB cujas receitas servem para, além de outras responsabilidades, promover competições em nível escolar conhecidas como Olímpíadas Escolares5 e Paralimpíadas Escolares6 respectivamente. Portanto da iniciativa, mesmo que despretensiosa, de dois indivíduos podemos dizer que nasce, de forma organizada, o movimento paraesportivo no Brasil. Todavia tal movimento se constrói com inúmeras dificuldades o que ainda permanece nos nossos dias. Uma delas nos remete ao modelo de segregação a nível escolar o que parece acompanhar o modelo profissional adulto. 5 6 http://www.cob.org.br/novos-talentos/olimpiadas-escolares http://www.cpb.org.br/paralimpiadas-escolares/ 57 O ESPORTE E SUAS POSSIBILIDADES 4.1 CONSTRUÇÃO DO ESPORTE COMO FENÔMENO SÓCIO-CULTURAL PLURAL As primeiras mudanças quanto aos propósitos do esporte que começaram a perceber a questão do esporte para pessoas com deficiência surge na década de 70. O esporte nessa época é marcado pelo profissionalismo que associado a interesses políticos e demonstração de poder passa a buscar a detecção de talentos e iniciação esportiva precoce com a seguida massificação esportiva para a formação do atleta de alto nível. E fruto desse movimento se aperfeiçoam técnicas e casos de doping, adulteração de resultados e outros desmandos que mostrou como o esporte estava impregnado pelas disputas político ideológicas dos Estados (TUBINO, 2000). E como consequência a todo esse movimento começam a surgir novos questionamentos acerca das características e objetivos do esporte expresso em documentos e manifestos. O esporte, assim impregnado pela política e ideologia, foi se exacerbando e, consequentemente, passou a provocar na intelectualidade internacional a reação contra esses excessos, explicada por três fatos importantes: a) o surgimento do movimento “Esporte para Todos” na Noruega, com o nome de “Trim”; b) os manifestos e cartas emitidos pelos organismos internacionais como CIEPS, FIEP, Unesco e outros; c) as manifestações intelectuais, que sob a forma de textos e artigos passaram a se envolver com questões do esporte (TUBINO, 2000, p.249). Com relação a um desses documentos, Tubino (2006, p.22) relata que quando a Unesco, em 1978, publica a Carta Internacional de Educação Física e Esporte “o esporte amplia seu conceito” quando no artigo primeiro diz que a prática de Educação Física e do desporto é um direito fundamental de todos. E continua, dizendo que o esporte passa a ser praticado também por portadores de deficiência e idosos tendo inclusive estudos demonstrando que “essas competições têm ajudado bastante na restauração da autoconfiança e do equilíbrio psicológico daqueles que apresentam algum tipo de deficiência”. (TUBINO, 2000, p.45). 58 Nessa mesma época o Brasil é marcado pelo início de um movimento que apregoava a pratica de atividade física para todos. Tal movimento, chamado Esporte para Todos (EPT) se baseava na idéia de que o esporte moderno deveria acompanhar a vida moderna, e assim, oferecer além da versão mais tradicional, que eram a alta competição e a escolar, uma proposta vinculada à valorização do tempo de lazer e à busca de atividades ao ar livre. E nesse momento os Congressos Brasileiros de EPT começaram a abrir espaço para a discussão acerca do esporte para a pessoa com deficiência. A publicação do livro “A teoria e Prática do Esporte para Todos”, em 1982-1983 pelo MEC, marca o início das publicações em anais, dos temas livres sobre atividade para pessoas com deficiência (BRASIL, 1983). Tais encontros se repetiram com bastante evidência nos anos de 1984 e 1986, todavia apesar da notoriedade do programa ainda não havia uma atenção especial à pessoa com deficiência (ARAÚJO, 1997; BRASIL, 1989). Era o momento da integração, que suscitado pelo interesse de normalizar as pessoas começava a se contrapor a outras teorias, que ainda iniciais, buscavam considerar as características da pessoa com deficiência. É importante notar que nessa época estavam em movimento no cenário acadêmico e social novas perspectivas que começavam a discutir e evidenciar as problemáticas ligadas à Pessoa com Deficiência (JANNUZZI, 2006). Carmo (2002, p.7) evidenciando essa nova perspectiva, afirma: A fundação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada, a criação de um grupo de Trabalho nos Congressos do CBCE, a inclusão de várias linhas de pesquisas nos Programas de Mestrado e Doutorado no Brasil. Tanto em Educação quanto em Educação Física, o fortalecimento do Comitê Paraolímpico Brasileiro e as grandes conquistas dos atletas nas últimas Paraolimpíadas, exemplificam e corroboram nossas afirmações. O esporte passa a assumir uma posição plural onde não só atletas e recordes são alvos de seus interesses, mas também outros segmentos da sociedade, como descreve Bento (1993, p.114): [...] os homens e as mulheres na pluralidade e diversidade de seus estados de desenvolvimento, do comportamento e do rendimento; são por isso, crianças e jovens, adultos e idosos, maridos e esposas, 59 pais e mães, avôs e avós, cultos e incultos, casados e divorciados, saudáveis e doentes, „normais‟ e deficientes. Toda essa nova possibilidade do esporte passa a ser compreendida como uma manifestação social e cultural pluralizada correspondendo aos diferentes interesses de seus praticantes. Entendido também como um bem pedagógico e educacional o esporte proporciona além de oportunidades um campo de vivência importante para a formação e socialização de quem o pratica (BENTO, 1998, p.114). É educativo quando não inspira vaidades vãs, mas funda uma moral do esforço e do suor quando se afirma como uma verdadeira escola do alto-rendimento; quando socializa crianças e jovens num modelo de pensamento e vida, assente no empenhamento e disponibilidade pessoais para a correcção permanente do erro. Quando forja optimismo na dificuldade, satisfação pela vitória pessoal e admiração pelo sucesso alheio. O esporte para todos passa a ser defendido por Tubino (2000) como um direito das pessoas às práticas esportivas, podendo ser entendido por meio de diferentes possibilidades como estabelece a lei nº 9615 de 24 de março de 1998 que institui normas gerais sobre desporto e esclarece: o Art. 3 O desporto pode ser reconhecido em qualquer das seguintes manifestações: I - desporto educacional, praticado nos sistemas de ensino e em formas assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer; II - desporto de participação, de modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e educação e na preservação do meio ambiente; III - desporto de rendimento, praticado segundo normas gerais desta Lei e regras de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações. Os últimos argumentos sobre o esporte corroboram para novos entendimentos sobre a iniciação esportiva. Ao ser compreendido como fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades o esporte no meio educativo gera a necessidade de se avaliar e adequar suas práticas pedagógicas aos seus praticantes. 60 4.2 INICIAÇÃO ESPORTIVA De acordo com o que foi discutido na primeira parte deste capítulo o esporte ao se tornar um fenômeno sociocultural de múltiplas possibilidades abre espaço para ser pensado sob um viés educacional contribuindo para o desenvolvimento humano. Todavia se tratado fora de um contexto que aprecie os seus aspectos sócio-culturais corre risco de representar um instrumento de manipulação e reprodução de valores vigentes. Pretendemos com os parágrafos seguintes discutir a possibilidade da iniciação esportiva orientada para uma perspectiva onde o professor considere o ser humano como um todo. Desde seus aspectos subjetivos sem deixar de valorizar sua individualidade e suas diferenças. Segundo Pilatti (1996), a iniciação esportiva deve ser discutida uma vez que seu produto final tem sido acrítico e submisso, reproduzindo o interesse do sistema. Isso significa que a educação para a iniciação esportiva deve afastar a crença de que o esporte é coisa de quem tem talento unicamente ou uma reprodução do esporte profissional. Quando isso acontece não se respeitam diferenças, pois o referencial maior passa ser a competição e o seu resultado. Isso significa passar a perceber que a pratica educativa na iniciação esportiva pode ser trabalhada sob um viés inclusivo. Pode ser percebida na construção de valores como responsabilidade, respeito ao próximo, respeito às regras, desenvolvimento da personalidade, tolerância, integração e convívio (BENTO, 1998). Tani (1996) apresenta argumentos que oferecem alternativas quanto aos objetivos do esporte em diferentes contextos e nesse sentido podemos fazer uma breve análise sobre as diferentes situações: Esporte-Rendimento e Esporte - Conteúdo da Educação Física. De acordo com o autor o EsporteRendimento caracteriza-se fundamentalmente por: (a)objetivar o máximo de rendimento, pois visa resultado; (b)ocupar-se com o talento, preocupando com os melhores; (c)submeter pessoas ao treinamento com orientação para a especificidade, ou seja, uma única modalidade; (d)enfatizar o produto, que é 61 igual a resultado; (e)resultar em constantes inovações, utilizar novas metodologias e estratégias visando maximizar ações que se potencializem na performance. Nessa perspectiva o esporte e sua prática têm como objetivo central o resultado, seleção dos mais aptos fisicamente e repetição de gestos a fim de se potencializar o movimento a ser representado em ambiente de competição. Para Medina (2003, p.145) o esporte praticado sob essas orientações „”deixa de ser um agente dinâmico de aproximação da saúde integral, de educação libertadora ou de uma cultura corporal-esportiva que poderia promover a compreensão e a solidariedade entre as pessoas”, pois há uma íntima relação entre as forças e as práticas produtivas, culturais e sociais onde predominam as forças econômicas que acabam por reproduzir no esporte os valores dominantes da sociedade. O Esporte - Conteúdo da Educação Física, visto como Patrimônio Cultural da Humanidade, pode ser caracterizado por: (a) objetivar o ótimo rendimento, respeitando interesses e condições do praticante; (b) ocupar-se com a pessoa comum, destacando possibilidades de acesso e participação; (c) preocupação com a prática, acesso a diferentes públicos e objetivos ligados a eles; (d) orientar-se para a generalidade, acesso a diferentes modalidades; (e) enfatizar o processo e não o produto em forma de rendimento ou recordes, e essa orientação resulta na difusão do esporte como patrimônio cultural (TANI, 1996). O Esporte a partir dessa perspectiva valoriza o praticante e o seu resultado como algo importante para o seu próprio desenvolvimento. Ao se preocupar com a prática e se orientar pela generalidade passa o entendimento da criação de uma cultura esportiva que pode até levar ao esporte de alto rendimento, porém não é o seu principal objetivo. O esporte e sua iniciação, nesse sentido educativo, carregam consigo novas possibilidades. Segundo Santana (2005, p.20) “a iniciação esportiva é um fenômeno de múltiplas possibilidades pedagógicas” o que significa que deve ser um facilitador educacional atuando na direção de ampliar as possibilidades de participação do praticante. 62 Para Kunz (1998) é necessário que a iniciação esportiva seja uma prática prazerosa educando para uma competência critica e emancipadora. O autor (1998) ainda cita outras competências que podem ser desenvolvidas por quem passa pela ação educativa do esporte, que são: competência objetiva, quando o aluno desenvolve a autonomia através da técnica; competência social, que são referentes aos conhecimentos que o aluno deve adquirir para compreender seu próprio contexto sociocultural e a competência comunicativa, que é um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico. Freire (2003) também entende a necessidade de se ensinar e aprender de forma lúdica e prazerosa. O autor quando fala do processo de ensinoaprendizagem do futebol destaca quatro princípios básicos que podem servir de base para uma reflexão no processo de iniciação esportiva: ensinar a todos, valorizando a capacidade de cada um. Os que possuem uma habilidade e desenvoltura maior devem ser orientados tanto quanto os que não as possuem; ensinar bem a todos, onde se deve valorizar a forma de ensino independente do nível de habilidade do aluno; ensinar mais que o esporte a todos, pois a pratica educacional não será utilizada apenas no campo de jogo, será verificada no aprendizado da vivência com o outro questionando e construindo regras em grupo; ensinar a gostar do esporte, esse princípio destaca que as práticas de ensino devem ser prazerosas, por meio de brincadeiras e diversão fazendo com que a pessoa goste de praticar o esporte (FREIRE, 2003, p.8-10). Porém, a especialização precoce, repetição de gestos técnicos e a pratica esportivisada, que são fruto de uma visão tecnicista e mecanicista prevalentes no modelo científico, dão suporte ao entendimento de especialização esportiva. Kunz (2000) entende que o treinamento e especialização precoce acontecem quando: [...] as crianças são introduzidas, antes da fase pubertária, a um treinamento planejado e organizado a longo prazo e que se efetiva em um mínimo de três sessões semanais, com o objetivo do gradual aumento do rendimento, além da participação periódica em competições esportivas (KUNZ, 2000, p.49). O treinamento e especialização precoce trazem algumas consequências como aponta Kunz (2000): Formação escolar deficiente, devido à grande exigência em acompanhar a carreira esportiva; A unilateralização de um desenvolvimento que deveria ser plural; Reduzida participação em 63 atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil, indispensáveis para o desenvolvimento da personalidade na infância (KUNZ, 2000, p.50). Segundo Ferreira, Galatti e Paes (2005) esses valores não contribuem para uma formação integral do ser humano. Pelo contrário o excesso de cobranças e outros estímulos geram o desinteresse: [...] a utilização desses métodos utilizados com profissionais na iniciação tem submetido os iniciante, especialmente crianças e adolescentes, a cobranças e pressões em busca de vitórias e títulos, estando sujeitos a especialização precoce, stress e estímulos fisiológicos inadequados, o que poderá levá-los ao desinteresse pelo esporte também de forma precoce (FERREIRA, GALATTI, PAES, 2005,p.134). Essas formas de compreender o esporte e seus objetivos devem dar espaço a novas possibilidades de entendimento a partir de práticas pedagógicas que colaborem para tal afastando-se da visão classificada como reducionista. Segundo Santana (2005, p.4) a visão reducionista se manifesta da seguinte maneira: Despreza dimensões sensíveis como a moralidade, a afetividade, a sociabilidade e privilegia a dimensão racional (avaliação e treinamento); Elege um modelo de atleta ideal a ser (per) seguido; Compartilha da preocupação mercadológica da revelação de talentos; Tem uma tendência à especialização esportiva precoce; Seleciona crianças para o esporte a fim de compor equipes de competição; Reproduz modelos de eventos competitivos do esporte profissional; Elege a competição como o principal referencial de avaliação. A partir do exposto não podemos achar que a iniciação esportiva deva levar só ao alto rendimento, mesmo sabendo que pode fazer parte desta ação. A iniciação ao esporte, e no caso ao Paraesporte, deve configurar, sobretudo, uma oportunidade educativa que encaminhe o aluno ao sentido da pratica corporal. Rodrigues (2006, p.66) observa que “a cultura desportiva e competitiva, dominante nas propostas curriculares da Educação Física, criam obstáculos à inclusão” e quanto a prática esportiva afirma: A própria prática desportiva - em particular quando usada sem uma perspectiva pedagógica - é uma atividade que não favorece a 64 cooperação, não valoriza a diferença e gera igualmente sentimentos de insatisfação e de frustração. Essa cultura competitiva constitui uma segunda fonte de exclusão (RODRIGUES, 2006, p.67). Diante do exposto surge o seguinte questionamento: Como conciliar uma prática pedagógica esportiva sem se prender a reducionismos técnicos? Para Santana (2005) e Mauerberg de Castro (2006) a pedagogia do esporte não deve deixar de ensinar capacidades e habilidades, mas deve cultivar um modo de pensar e agir comprometido com quem está envolvido na ação pedagógica. Para Araújo (2002, p.14) a iniciação esportiva é um fenômeno complexo. A complexidade, por sua vez, é um fenômeno que não pode ser reduzido a explicações simples como o de talento ou a busca de resultados físicos como objetivos. Segundo Paes e Balbino (2005, p.11) “a perspectiva da complexidade na iniciação esportiva deve educar para a autonomia, fazer com que o praticante goste do esporte e introduzir uma cultura de lazer esportivo.” Santana (2005, p.10) destaca alguns princípios para uma educação esportiva comprometida com a complexidade que podem ser colocados como exemplo: 1. Tratar pedagogicamente a competição, de modo que ela apoie o desenvolvimento infantil; 2. Buscar o equilíbrio entre o racional e o sensível; 3. Investir em aulas que reconheçam a diferença entre os iguais; 4. Investir em uma pedagogia sedutora; 5. Dialogar e negociar saberes com o sistema humano que orienta a iniciação esportiva; 6. Investir em métodos de ensino comprometidos com a participação e a construção da autonomia; 7. Capacitar (educação de habilidades e desenvolvimento de capacidades) e formar (educação de atitude). Nesse sentido a iniciação esportiva no contexto da inclusão exige que se leve em conta aspectos subjetivos, afetivos e criadores que se contraponham aos paradigmas racionalistas que nos impedem uma visão do essencial. Santana ainda refletindo sobre pontos que sinalizariam para o entendimento da complexidade no tratamento pedagógico da iniciação esportiva observa: 65 Considerar na iniciação esportiva os desejos, necessidades e possibilidades do aprendiz e refletir sobre possíveis incompatibilidades entre esses fatores e as ideias, atitudes e objetivos do sistema humano; Considerar na iniciação esportiva a convivência com uma base de conhecimento interdisciplinar, possibilitando trazer para o processo ensino-aprendizagem subsídios de ouros ramos do conhecimento; Propor uma pedagogia que contraponha o fenômeno da especialização esportiva precoce e a mentalidade predominante de resultados em curto prazo. Deve derivar dessa pedagogia uma metodologia que valorize (a) a participação da criança, (b) que explore os valores implícitos no jogar e competir, (c) que invista nas relações com pais, dirigentes esportivos e árbitros, (d) que resgate nas aulas de esporte os jogos da cultura infantil e (e) que se preocupe em criar eventos competitivos com regulamentos alternativos (SANTANA, 2005, p.18). Ao se especializar o conhecimento, quando o fazemos concebendo o ser humano como máquina, esperando reações automáticas ao treinamento ou um comportamento pré-estabelecido socialmente como o mais adequado, deixamos de reconhecer suas inter-relações. Isolamos a sua possibilidade de contextualização e assim negligenciamos sua complexidade. 4.3 O PROGRAMA CID-PARALÍMPICO Ao buscar documentos que datassem e aprofundassem as origens e objetivos do Programa CID-Paralímpico observou-se a ausência de tais referenciais. E dessa forma, na pesquisa qualitativa, dados descritivos, como depoimento e extratos de vários tipos de documentos fazem parte do contato de pesquisador com a situação investigada (LUDKE; ANDRÉ, 1986), buscouse o depoimento de quatro professores que fizeram parte do Programa precursor do CID-Paralímpico, o qual se chamava Programa de Reeducação e Orientação às Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais – PROPNE . Segundo os depoimentos, o PRO-PNE teve início em 1999, juntamente com a proposta de governo de tornar as escolas inclusivas. Nessa época, muitos alunos de Centro de Ensino Especial foram transferidos para escolas inclusivas. O Programa tinha como objetivo “oferecer uma prática regular de 66 Educação Física Adaptada às Pessoas com Necessidades Especiais do Distrito Federal”7. Enfocando a inclusão do aluno com necessidades especiais a proposta do Programa se baseava no “atendimento especializado em Educação Física Adaptada às pessoas com necessidades educacionais especiais” (Anexo-B). Essa argumentação à época encontrava respaldo no artigo 208, item III da Constituição Federativa do Brasil, que determina o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino”, no Decreto Lei nº 1.044 de 21/10/69, que dispõe sobre o atendimento especializado para os alunos com necessidades especiais, no Regimento da Administração Central da Fundação Educacional do Distrito Federal, Decreto nº 12.488/91 – GDF – 1990, Título I, artigo 1º item V que assegura a “oferta de Educação adequada aos Portadores de Necessidades Especiais” e na LDB, que destaca o papel da Educação para todos, enfocando a inclusão do aluno com necessidades especiais (ANEXO- B). A clientela atendida pelo Programa era constituída por: Pessoas com Deficiência Mental, Física, Visual e Auditiva Pessoas com condutas típicas e altas habilidades/ superdotados Pessoas da terceira idade Pessoas com obesidade Pessoas com diabetes, asma, cardiopatia e outros comprometimentos orgânicos. Para os depoentes, o Programa visava atender essa demanda de alunos na área de Educação Física em duas vertentes: 1) Assistência pedagógica aos professores de Educação Física para que os alunos especiais pudessem participar das aulas (inclusive aqueles alunos dispensados da prática da Educação Física Escolar). Essa assistência era feita com visitas a todas as escolas da Administração Regional. Com o tempo, as visitas acabaram privilegiando escolas que tinham muitos alunos com deficiência (escolas com classes especiais e escolas "piloto" destinadas a atender algum tipo de deficiência específica); 7 Documento fornecido pelo Professor depoente (ANEXO-B) 67 2) Iniciação Esportiva e Treinamento para alunos que pudessem frequentar as aulas ministradas no contra turno. Em alguns casos (classe especial). O que acabou se tornando atendimentos a turmas específicas no próprio turno em função da melhor frequência e pelo fato desses alunos não terem aula de Educação Física na grade horária8. A trajetória do PRÓ-PNE durou de 1999 até 2006, o que de acordo com dois dos depoentes, “acabou com uma reunião, onde nos foi apresentado o CID-Paralímpico”. De acordo com a Orientação Pedagógica da SEEDF (DISTRITO FEDERAL, 2006) o CID-Paralímpico “é um programa de atendimento complementar especializado na modalidade sala de recursos que oferece aos alunos com comprometimento funcional físico, auditivo, visual e mental a educação física e o desporto adaptado como forma de inclusão social e participação nos programas educacionais e esportivos”9. Entende-se em seus objetivos gerais que a oferta da prática esportiva adaptada possui uma interlocução com o desenvolvimento de potencialidades que por sua vez podem contribuir para um melhor estilo de vida e inserção social. E em seus objetivos específicos além de oferecer atividade física esportiva adaptada, promove: “ações de parceria com outros programas, pesquisa novas maneiras de atendimento educacional, capacitação profissional na área de Educação Física Especial além de formalizar parcerias, representar o Distrito Federal nas atividades esportivas e eventos educacionais, divulgar e sensibilizar a participação dos alunos com comprometimento funcional (visual, auditivo, intelectual e físico no esporte adaptado) além de implementar Núcleos Regionais do CID-Paralímpico” (ANEXO-A). A fundamentação legal do programa está baseada na Lei Orgânica do Distrito Federal de 1993 que em seu Artigo 255 aponta que: “as ações do poder público darão prioridade ao desporto educacional”; Lei de Diretrizes e Bases 9394 (art. 58 e 59) que trata sobre o “atendimento de Educação Especial” e as 8 Com base no Plano Orientador das ações da Educação Especial nas escolas da rede pública do Distrito Federal, alunos de Classe Especial no Distrito Federal não possuem Educação Física Escolar. 9 http://cief.org.br/2011/index.php/gtd/cid-paraolimpico/orientacoes-pedagogicas.html acessado em 8/2/2012. 68 “garantias aos educandos com Necessidades Educacionais Especiais”; Constituição Federal (art. 206 e 208) que dispõe respectivamente sobre a “igualdade de condições para acesso e permanência na escola” e a “garantia do atendimento educacional especializado”. Além de outros documentos que ratificam a importância e a legalidade do esporte educacional de maneira assistemática para pessoas com necessidades educacionais especiais (ANEXO-A). Quanto à sua estrutura organizacional e de coordenação o CIDParalímpico atualmente se apresenta ligado ao Governo do Distrito Federal (GDF), Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF), Subsecretaria de Educação Básica (SUBEB) e Coordenação de Educação Física e Desporto Escolar (CEFDESC). Figura 1 – Estrutura Organizacional e de Coordenação do Programa CID-Paralímpico. Fonte: Do autor A Gerência de Desporto Escolar (GEDESC) coordena as ações do CIDParalímpico, por contato feito diretamente aos professores ou por intermédio da Coordenação Intermediária, localizadas nas cidades satélites. Atualmente existe um Coordenador em cada regional de Ensino coordenando o trabalho dos seguintes grupos de professores: São Sebastião (3 Professores), Santa Maria (1 Professor), Gama (1 Professor), Guará (2 Professores), Taguatinga (2 Professores), Ceilândia (3 Professores), Núcleo Bandeirante (2 Professores) e Plano Piloto (2 Professores), além disso funciona também através do Convênio com o centro de treinamento em Educação Física Especial (CETEFE). 69 Dentro das atribuições pedagógicas do professor observa-se a premissa de analisar as características dos alunos considerando a funcionalidade e interesse de forma que possa estabelecer suas ações pedagógicas a fim de promover a inclusão social (DISTRITO FEDERAL, 2006, p.7). a) Estimulação das habilidades básicas; b) Estimulação das habilidades específicas; c) Estimulação afetivo-psico-sócio-motora; d) Promoção do lazer e cultura; e) Desenvolvimento funcional corporal; f) Iniciação e aperfeiçoamento aos fundamentos esportivos; g) Treinamento esportivo. De 2006 até a presente data o Programa teve duas novas propostas pedagógicas, em 2009 e 2011, sem grandes mudanças em torno dos objetivos já tratados. Atualmente uma nova proposta está em discussão para o ano de 201310. METODOLOGIA Para realização do presente estudo foi adotada uma abordagem que permite a compreensão dos múltiplos aspectos que envolvem seu objeto de estudo fazendo com que o pesquisador se posicione frente às informações levantadas e registre suas análises e críticas. Desse modo o estudo em questão foi caracterizado como qualitativo e descritivo. De acordo com Ludke e André (1986, p.11) na pesquisa qualitativa é muito importante o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente ou situação investigada. O desenvolvimento da pesquisa combinou três dimensões: bibliográfica, documental e campo. Pesquisa bibliográfica: utilizada para construir o referencial teórico. Análise documental: Documentos como o artigo 205 e 208 da Constituição Federal de 1988; Plano de desenvolvimento da educação de 2007; Decreto nº6949 de 2009, Resolução CNE/CEB Nº4/2009 dentre outras, assim como dados de relatórios e orientação pedagógica do CID-Paralímpico 10 http://www.cief.com.br/arquivoupgdesc/orientacaopedagogicacidparalimpico.pdf 12/09/2012. acessado em 70 que evidenciam a possibilidade do atendimento complementar como sala de recurso em escola regular. Estudo de campo por meio de entrevistas semiestruturadas. O projeto da pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Católica de Brasília, sob o registro: CAAE: 03940412.1.0000.0029. 5.1 UNIVERSO DA PESQUISA Foram convidados a participar das entrevistas os professores do CIDParalímpico de todas as cidades satélites e Plano Piloto, no total de 16 professores, dos quais 10 participaram do estudo. Os critérios de inclusão para a participação foram: Atuar há pelo menos um ano no CID-Paralímpico. Participar regularmente nas reuniões realizadas no Centro Interescolar de Educação Física-CIEF pela coordenação do Programa. Concordar em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE. 5.2 INSTRUMENTOS Foi utilizada a entrevista para a construção dos dados, adotando-se um roteiro semiestruturado dividido em duas partes. A primeira parte abordou questões como dados pessoais e profissionais. A segunda, a partir de perguntas geradoras, buscou analisar concepções acerca dos princípios pedagógicos do Programa, facilitadores e dificultadores para o desempenho das atividades pedagógicas, além de práticas pedagógicas relacionadas ao ensino no Programa CID-Paralímpico relatada pelos entrevistados. As perguntas geradoras foram as seguintes: 1) O que você entende por inclusão escolar?; 71 2) Existe relação entre a iniciação esportiva do programa CIDParalímpico e a educação inclusiva? As entrevistas foram gravadas em um aparelho MP3/4 (Player Music no Limit) e transcritas para posterior análise. A análise documental foi feita a partir de arquivos organizando a documentação com as fichas de leitura. Nesse sentido as leituras e o fichamento tiveram um papel central nesta etapa. Cada documento possuía uma ficha de leitura contendo resumo, referência bibliográfica de publicação além de algumas transcrições de trechos que foram utilizados de acordo com o desencadeamento das discussões. 5.3 PROCEDIMENTOS Após entrar em contato com a Gerência de Desporto Escolar (GEDESC) obtivemos, por meio da assinatura da instituição coparticipante, a autorização para a realização do estudo. Na primeira etapa através de reunião e mensagem via email, buscou-se explicar aos professores o objetivo e os procedimentos de participação na pesquisa. Após o convite 10 dos 16 professores que obedeciam aos critérios de inclusão no estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deixando bem claro que o participante teria a confidencialidade de seus dados resguardada e poderia, caso quisesse, deixar de participar da pesquisa a qualquer momento. Para a realização da entrevista foi agendando um horário no próprio ambiente de trabalho do professor. O local foi escolhido em virtude da dificuldade alegada por eles em se deslocar até o Centro Interescolar de Educação Física (CIEF), uma vez que as reuniões, que eram um dos critérios de seleção para a participação dos professores, não estavam acontecendo com a frequência necessária para a construção dos dados. Essa mudança oportunizou um maior contato com a realidade do professor. 72 5.4 PROCEDIMENTO PARA A ANÁLISE DE DADOS Neste estudo a análise de conteúdo foi realizada tendo em vista que é um dos métodos mais difundidos em pesquisas na qual se utiliza da entrevista para construção de dados. Para Bardin (1992), o método de análise de conteúdo incorpora um conjunto de técnicas facilitadoras para o estudo das comunicações entre os sujeitos, e também privilegia as formas de linguagem oral e escrita valorizando a transmissão do conteúdo da mensagem. Dentre as diferentes formas de pesquisa qualitativa, a técnica de análise de conteúdo escolhida foi a Técnica de Elaboração e Análise de Unidades de Significado desenvolvida por Moreira, Simões e Porto (2005). Segundo os autores essa é uma técnica de pesquisa que visa “à compreensão e à interpretação dos relatos dos sujeitos de uma pesquisa, os quais emitem opinião sobre determinado assunto, opinião essa carregada de sentidos, de significados e de valores” (p.108). Na análise em questão a técnica empregada percorre os seguintes momentos (MOREIRA; SIMÕES; PORTO, 2005): 1. Relato ingênuo, que consiste no entendimento do discurso dos sujeitos através das perguntas geradoras; 2. Identificação de atitudes, que alinhando ao objetivo do trabalho busca no sentido geral do discurso selecionar as unidades mais significativas criando indicadores e categorias que sirvam de referencial de interpretação e; 3. Interpretação que, evitando generalizações, procura confrontar o ponto de vista dos autores com o relato dos pesquisados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente os dados tratam da caracterização dos entrevistados, referente à primeira parte do roteiro semiestruturado, abordando questões como dados pessoais e profissionais de formação e atuação. 73 6.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS Dos 10 participantes entrevistados observamos o seguinte perfil: Quanto à idade constatamos que parte deles (50%) tem idades que variam de 40 a 45 anos e 50% possui idades que variam de 24 à 35 anos. Em relação ao Gênero a maioria dos participantes era do gênero masculino (80%), enquanto que 20% do gênero feminino. No que diz respeito à formação, todos os professores relataram ter tido contato com a disciplina Educação Física Adaptada no curso superior, porém apenas um deles não a cursou, alegando ser disciplina optativa e não ser do seu interesse naquele momento. Todos cursaram quatro anos de Ensino Superior obtendo a licenciatura plena. No Quadro 1, sobre cursos de pós-graduação, apenas 40% (4) dos entrevistados possui Especialização (Lato Sensu) na área de Esporte Adaptado e/ou área correlata, que no caso, pontuamos como cursos relacionados diretamente ao tema de Inclusão e Esporte Escolar. O restante (60%) relatou possuir apenas a Graduação (50%) ou curso de Especialização (Lato Sensu) fora do contexto de atuação do Programa CIDParalímpico (10%). QUADRO 1: CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO CURSO PARTICIPANTES PORCENTAGEM Especialização na área de Esporte Adaptado e/ou área correlata: Inclusão e Escolar 4 40% Especialização fora da área 1 10% Apenas Graduação em Educação Física 5 50% TOTAL 10 100% No Quadro 2, em relação aos cursos de atualização de curta duração, voltados para o Programa CID-Paralímpico, 80% dos professores disseram nunca ter procurado formação continuada, nem sequer em área correlata ao campo de atuação. Em relação aos cursos específicos, eventos científicos e 74 seminários apenas 02 entrevistados alegaram ter tido interesse, participando das atividades oferecidas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro. QUADRO 2: CURSOS DE ATUALIZAÇÃO PARA O PROGRAMA CURSOS DE PARTICIPANTES ATUALIZAÇÃO PORCENTAGEM Cursos Específicos, Eventos Científicos e Seminários 2 20% Não participaram 8 80% TOTAL 10 100% Em relação à experiência de magistério, Quadro 3, onde foi observado exclusivamente a experiência em sala de aula demonstrou que dois dos professores (20%) possuem de 1 a 5 anos de sala de aula. Um grupo de 30% informou nunca ter tido experiência em sala de aula. E o restante da amostra (50%) possui experiência em sala de aula que varia de 8 a 20 anos. QUADRO 3: TEMPO DE MAGISTÉRIO (SALA DE AULA) TEMPO DE MAGISTÉRIO PARTICIPANTES (SALA DE AULA) PORCENTAGEM 14 A 20 ANOS 2 20% 08 A 10 ANOS 3 30% 01 A 05 ANOS 2 20% SEM EXPERIÊNCIA DE SALA DE AULA 3 30% TOTAL 10 100% Ao avaliar o tempo de experiência dos Professores entrevistados no Programa CID-Paralímpico, Quadro 4, foi constatado que 70% possuía de 02 a 05 anos de experiência, enquanto apenas três participantes acumulavam uma atuação que variava entre 10 a 14 anos. 75 QUADRO 4: TEMPO DE CID-PARALÍMPICO TEMPO DE CID-Paralímpico PARTICIPANTES PORCENTAGEM 10 A 14 ANOS 3 30% 02 A 05 ANOS 7 70% TOTAL 10 100% Na análise acerca dos critérios de ingresso no Programa CIDParalímpico, Quadro 5, todos os participantes relataram que, em seu processo de ingresso no Programa, não houve qualquer orientação formalizada11. Nesse sentido, 90% dos participantes entraram no Programa apenas sendo convidados por dirigentes pertencentes ao mesmo ou por indicação externa, classificados como atletas e outros gestores não ligados diretamente ao Programa. Apenas um participante informou ter sido avaliado por entrevista e currículo que no caso ocorreu sem qualquer edital ou forma organizada pela coordenação do Programa. QUADRO 5: CRITÉRIO PARA PARTICIPAR DO PROGRAMA CRITÉRIO PARA PARTICIPANTES PARTICIPAR DO PROGRAMA 11 PORCENTAGEM ENTREVISTA E CURRICULO 1 10% CONVIDADO PELO PROGRAMA 4 40% INDICAÇÃO POR MEIO EXTERNO 5 50% TOTAL 10 100% Atualmente a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEEDF) através da Gerência de Desporto Escolar (GEDESC) realizou processo seletivo interno simplificado para professores do Centro de Iniciação Desportiva – CID, Decreto nº 31.195 de 22 de dezembro de 2009, Diário Oficial do Distrito Federal - Nº 71 quarta-feira, 11 de abril de 2012 – páginas 42 e 43. Disponível em: http://www.se.df.gov.br/wpcontent/uploads/pdf_se/publicacoes/desportivo.pdf acessado em 12/10/2012 76 6.2 DISCURSOS DOS PARTICIPANTES Os relatos dos entrevistados em relação à pergunta 1 e 2 foram transcritos na integra sem qualquer alteração do conteúdo conforme indicam Moreira, Simões e Porto (2005, p.111): “É o discurso em sua vertente ‟pura„, não sofrendo neste momento nenhum tipo de polimento ou modificação”. Alguns trechos do texto, para não identificar a localidade, modalidade ou nome do aluno, foram pontilhados de acordo com a orientação do Comitê de Ética e Pesquisa no sentido de não constranger ou gerar qualquer tipo de desconforto e quebra da confidencialidade dos dados dos entrevistados e seus respectivos alunos. Pergunta 1: O que você entende por Inclusão Escolar? 6.2.1 Indicadores da pergunta 1 e 2. Do relato ingênuo, que é fala dos entrevistados transcrita na sua íntegra, partimos para a segunda parte da análise de conteúdo que busca levantar questões que servirão como indicadores situados entre a fala dos sujeitos e a elaboração das categorias (APÊNDICE-C). Nesse momento “é fundamental para o pesquisador identificar os componentes dos enunciados avaliativos, ou seja, os objetos de atitude (pessoas, grupos, ideias, coisas, acontecimentos)” (MOREIRA; SIMÕES; PORTO, 2005, p.111). 6.2.2 Categorias de análise para a pergunta 1 Nesse momento, sem perder o sentido geral do discurso deve-se selecionar, sem se prender a generalizações “a estrutura do pensamento individual dos sujeitos que pode, como um todo, pertencer a vários outros indivíduos” (MOREIRA; SIMÕES; PORTO, 2005, p.111). 1- concepção de inclusão (participantes: 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10) 77 2- preparo do professor (participantes: 1,2,3,4,5,7,8,10) 3- percepção sobre o aluno (participantes: 1,3,5,7,8,10) 4- atendimento especializado (participantes: 2,3,4,5) QUADRO 6: CATEGORIAS DE ANALISE DA PERGUNTA 1 Participantes/ Categorias 1 2 3 4 de análise Concepção de inclusão x x x x Preparo do professor x x x x Percepção sobre o aluno x x Atendimento especializado x x x 5 6 7 8 9 10 % x x x x x x x x x x x x x x x 100% 80% 60% 40% 6.2.3 Análise das categorias da pergunta 1 Após as transcrições dos discursos foram selecionadas indicadores a partir dos discursos de cada sujeito para identificar as unidades de significados ou categorias como se observa no Quadro 1 acima. A inclusão escolar entendida como a concepção de inclusão foi a categoria onde se associaram o maior número de respostas, representados por 100% dos entrevistados. Os discursos apontaram para um entendimento ligado à participação, lei, vivência em sociedade e ao acesso. A inclusão escolar e a sua perspectiva atual remete à escola comum como um ambiente centrado no respeito e valorizador das diferenças. Tal perspectiva indica o acesso e participação de todos estudantes inclusive os com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação aos processos de ensino-aprendizagem (BRASIL, 2004, 2008, 2012). Essa ideia de participação de todos expressa pela legislação corrobora com o que foi exposto por parte dos participantes e observada a seguir: “A inclusão é participação efetiva de todos os alunos”. (Participante 7) Nesse sentido, é fundamental que a participação seja viabilizada, porém que não se restrinja à mera figuração do aluno dentro da escola, sem que o conhecimento lhe seja acessível. Glat e Pletsch (2011) esclarecem a afirmação revelando pesquisas recentes onde indicam que o estudante pode estar 78 incluído fisicamente em turma comum, em boa integração social com a turma, com acesso ao sistema escolar, todavia excluído do processo de construção do conhecimento o que entendem as autoras como exclusão escolar. É necessário que não só o discurso se alinhe à legislação, mas a ação em torno da inclusão leve em conta um processo de ensino-aprendizagem para todos. Mantoan (1997, p.145) ainda registra que “a inclusão não se limita a ajudar somente aos alunos que apresentam dificuldades na escola, mas apoia a todos” o que é um claro sinal de que a efetiva participação de todos oferece maior possibilidade de aprendizagem (STAINBACK; STAINBACK, 1999). Ao explicar o que entende por inclusão, parte dos participantes se norteou pela lei. Por exemplo: “A inclusão não é direito de escolha, é uma lei. Todos devemos cumpri-la!”. (Participante 9) Tal ênfase na resposta, sem posteriores complementações, denota conhecimento da lei, porém é importante o seu cumprimento efetivo. Compreendendo não só o acesso, mas a permanência como caminho para os direitos humanos e a inclusão escolar uma prática que garanta esses direitos. Para Aranha (2004, p.2) é de conhecimento “o fato de que as pessoas com deficiência têm sido segregadas e excluídas dos espaços da vida nas comunidades, praticamente em todos os períodos da história da humanidade”. Jannuzzi (2006) aponta que embora seja flagrante o desrespeito aos direitos humanos, no caso da pessoa com deficiência, existem avanços e os rumos da educação devem ser repensados a fim de que todos tenham iguais oportunidades. Portanto, o direito à educação das pessoas com deficiência não se limita apenas à lei (GLAT; NOGUEIRA, 2002). É fundamental que o Estado as aplique atendendo às necessidades educacionais de todos: Há que assegurar não apenas o acesso, mas a permanência e o prosseguimento do estudo desses alunos e não retirar do Estado, por nenhum motivo, essa obrigação, exigindo, postulando o cumprimento das leis, para atender às necessidades educacionais de todos (MANTOAN, 2006, p.25) Outra perspectiva declarada foi que: 79 “A inclusão é a possibilidade de as pessoas com algum tipo de deficiência viver em sociedade”. (Participante 4) Essa observação acrescenta a importância da sociedade e da escola como influência educativa na formação do indivíduo. Para Vygotsky (1991), segundo a teoria histórico-cultural a constituição do indivíduo como ser ocorre por meio de processos de maturação orgânica e principalmente por interações sociais que dão origem às suas formações psíquicas. Para o autor é durante o processo de socialização e educação que se formam as qualidades psíquicas da personalidade independente de a pessoa ter deficiência ou não. Evidencia-se aí a necessidade de que as práticas pedagógicas devam se relacionar com a sociedade possibilitando que a pessoa com deficiência desenvolva papéis ativos e seja reconhecida nesses grupos sociais. Mas segundo Mantoan (1997) existem severas dificuldades para que esse reconhecimento seja de fato realizado, o que constitui um desafio para o professor. A autora diz que há um nivelamento ocorrendo na sociedade onde há respaldo não só do Estado, mas dos pais, alunos e professores. Esse nivelamento se refere a uma educação elitista que avalia a escola por nível de desempenho acadêmico. É uma tentativa de igualar ou apagar as diferenças uma vez que esse tipo de avaliação atende a exigências internacionais e garante financiamentos, além de melhorar o país na colocação entre os mais desenvolvidos em educação. E como resultado é constatado: Apesar das discussões em congressos, nas revistas especializadas da área educacional e no cenário político, muito pouco tem sido feito para aumentar as oportunidades de acesso e permanência do alunado com necessidades educacionais especiais à Educação Escolar, no Brasil (SILVA; SOUZA; VIDAL, 2005, p.71). Ao que parece a escola ainda passa por alterações superficiais na organização de seu espaço o que acaba por deixar de lado a discussão de elementos importantes para o processo de inclusão (CARMO, 2002). De acordo com a segunda categoria de análise (80%) dos professores se referiram ao preparo do professor, na percepção sobre inclusão escolar. 80 Demonstraram que pouca atenção tem sido dada à participação da pessoa com deficiência. No discurso seguinte, percebe-se a afirmação de postura que não aceita novas possibilidades necessárias ao movimento de Educação Inclusiva. “Eu vejo o professor que segue aquela rotina previamente determinada de muitos anos e o aluno tem que se adequar a aula, senão fica excluído”. (Participante 3) Reverdito et al. (2009, p.607), ao analisarem conceitualmente algumas abordagens da pedagogia do esporte, e que sob um ponto de vista profissional pode ser exemplo para a Educação Física Escolar, percebem que “não podemos estar entregues a professores com conhecimentos pedagógicos considerados insuficientes para a prática pedagógica” destacando que uma ruptura ideológica e paradigmática deve ser empreendida nesse campo, e ideias contemporâneas devem assumir esse novo caminho. Isso implica dizer que uma aula está diretamente ligada à responsabilidade de quem ensina para reconhecer limitações, porém sem restringir o processo de ensino a uma única modalidade como possibilidade e, além disso, deve transcender a simples repetição de movimentos e atender em plenitude o seu praticante, construindo conceitos e valores para a cidadania. O autor ainda aponta para a existência de diferentes obstáculos a serem superados em relação às práticas corporais o qual tem desprezado as dimensões sensíveis do sujeito e pouco comprometidos com a responsabilidade sociocultural e educativa do praticante. Rodrigues (s/d) discorre que a Educação Física como disciplina curricular não pode ser indiferente para com o movimento de Educação Inclusiva. Glat e Nogueira (2002) vão além, dizendo que atender aos alunos que apresentam necessidades educativas especiais é uma questão de responsabilidade social e ética. A responsabilidade e ética profissional são necessárias para entender que a Educação Física Escolar deve ser capaz de formar um cidadão apto para o “exercício crítico da cidadania e de melhoria de qualidade de vida” nos PCN (BRASIL, 1997, p.29). Portanto o professor de Educação Física Escolar diante 81 dessa perspectiva deve partir de um princípio básico onde todos devem conviver com as diferenças e onde “não podemos deixar de pensar em como articular o tempo, o espaço e o conhecimento na Educação Física Escolar que contemple não só o aluno com deficiência, mas o princípio da diversidade da diferença” (SILVA; SOUSA; VIDAL, 2005, p.73). Ao discorrer sobre o convívio com diferenças e ações que contemplem todos se destacam possibilidades de aula, o participante 01 sugere uma alternativa para se trabalhar com a pessoa com deficiência: “Tudo tem que ser adaptado ao aluno, igualdade de condições. Se você tem um cadeirante, ele só tem mobilidade com a cadeira, vamos fazer o seguinte: um jogo onde todos tenham o mesmo tipo de mobilidade, claro que não vai dar a cadeira para todo mundo, por exemplo. Todos podem jogar vôlei sentado, por exemplo!”. (Participante 1) A iniciativa de incluir o esporte adaptado como sugere este participante pode ser uma importante contribuição para as aulas de Educação Física. Bracht (2002), ao discutir a importância do esporte no cenário escolar como elemento contribuinte para a educação do movimento, defende a ideia de que o esporte deve estar integrado ao projeto pedagógico da escola como forma de manifestação cultural que tenha significado para os alunos, o qual será obtido se for dada a oportunidade de esse esporte ser reinventado, recriado, reconstruído. Freire (1997), a partir das ideias de Piaget, observa que o jogo pode ser uma possibilidade, pois uma ação motora que mobilize o aspecto cognitivo favorece a aprendizagem. Encontrar possibilidades é uma forma de reconhecer o direito da participação de todos. A educação inclusiva nesse contexto deve oferecer em seus processos de ensino-aprendizagem possibilidades que oportunizem ao aluno um ambiente seguro para desenvolver suas potencialidades. Munster e Almeida (2006, p.90) ao citar características de programas de atividade física para pessoas com deficiência abordam questões importantes que podem fazer parte da Educação Física Escolar: [...] o respeito às diferenças e a valorização da diversidade devem estar implícitos na filosofia do programa, manifestando-se na diversidade de metas, currículos, conteúdos programáticos, locais de intervenção, adaptações, estilos de ensino e procedimentos 82 pedagógicos, refletindo-se nos valores e nas atitudes externados pelas pessoas envolvidas em tal processo. Ao perceber que a inclusão se assenta no princípio de um sistema educacional único, que ofereça educação de qualidade para todos observa-se que o currículo voltado para as pessoas com deficiência não tem objetivos diferentes dos demais alunos. Deve sim possuir um conjunto de técnicas e adaptações específicas que se alinhem às necessidades do aluno assegurando sua participação nas aulas. Novos procedimentos e técnicas para que todos participem apontam para uma nova postura que propõe mudanças significativas a fim de favorecer uma ação educativa de qualidade para todos, porém essas devem abranger o sistema escolar como um todo. não se trata de pequenas modificações pontuais que o professor venha a fazer em termos de métodos e conteúdos, implica, sobretudo na reorganização do projeto político pedagógico de cada escola e do sistema escolar com um todo (GLAT, 2004, s/p). Portanto, oferecer possibilidades envolve muito mais do que simplesmente adotar uma mudança em uma aula esporádica, ou fazer com que alunos tenham pena de outros porque não conseguem. Envolve um princípio básico de cidadania e direito que se negue, por exemplo, a aceitar o favor e atitudes que desprezam a inteligência e a capacidade do outro, como a observada no discurso: “[...] pois hoje o professor tem pelo menos boa vontade, colocando o aluno apitando o jogo ou fazendo algo parecido”. (Participante 5) Outro ponto observado pelos professores entrevistados (60%) convergiu para a percepção sobre o aluno alegando que o aluno com deficiência ainda é pouco assistido pelo professor de Educação Física. Dentre as opiniões destaca-se: “Alguns até participam, mas tem que ter perfil, no caso o cadeirante mesmo os colegas estão correndo na quadra e ele fica do lado de fora observando e muitas vezes não vai nem para aula de Educação Física. O professor faz de conta que não está nem vendo”. (Participante 7) 83 O “perfil” a que se refere o participante sete é a condição física, onde no caso, se o aluno fosse amputado de braço e os alunos estivessem correndo poderia ser uma condição para participação caso o aluno quisesse. Fica evidente que ainda existem perspectivas tradicionais de ensino nas aulas de Educação Física conforme reconhecido por Silva, Sousa e Vidal (2005). A perspectiva tradicional, segundo Darido (2008, p.2) aborda as concepções higienista e militarista que “consideravam a Educação Física disciplina essencialmente prática sem fundamentação teórica que lhe desse suporte”. Nesse cenário, onde só quem tem condições físicas realiza as atividades propostas, as pessoas que não têm essa condição, acabam se afastando (SOARES et al., 1992) legitimando os mais habilidosos (BRACHT, 2009). Rodrigues (s/d) argumenta que dentre os motivos de exclusão dos alunos nas aulas de Educação Física estão além do não enquadramento nos padrões esperados, uma cultura esportiva como cópia do esporte de rendimento que acaba gerando insucesso e fracasso dos menos capacitados (KUNZ, 2004). Chicon, Mendes e Sá (2011) em estudo de caso acompanhando duas crianças, uma com baixa visão e outra com Síndrome de Down, inseridos em turma regular, observaram o que pode estar em curso, uma naturalização da exclusão, pois os alunos não interagiam com outras crianças de forma satisfatória nem na quadra nem no recreio. Os autores indicam que os alunos podem ter assimilado o comportamento ou atitude dos professores uma vez que se observou a perpetuação ou reprodução de atitudes de segregação aos alunos com deficiência. Segundo Pedrinelli e Verenguer (2004), para que o aluno seja assistido nas aulas de Educação Física é fundamental que o professor valorize a diversidade considerando e respeitando as diferenças individuais, o aprendizado sobre si mesmo e sobre os outros numa situação de diversidade de ideias, sentimentos e ações. Munster e Almeida (2006) reforçam tal concepção ao notar que a inclusão é um processo pelo qual a sociedade se 84 adapta para incluir a pessoa com deficiência dando-lhe autonomia, e na escola os professores de Educação Física tem um papel importante nesse processo. Para que o aluno com deficiência participe das aulas de Educação Física Silva, Sousa e Vidal (2005, p.73) observam que os professores devem enfrentar desafios e para tanto “estar envolvidos numa prática sócio-políticopedagógica capaz de materializar uma nova Educação Física Escolar”. Portanto, sob o ponto de vista pedagógico fica evidente que a educação deve ser dotada de formas mais solidárias e participativas, e que a Educação Física enquanto disciplina do currículo escolar não deve ser isentada da mesma responsabilidade que é exigida da escola (SOARES et al., 1992) e do ponto de vista legal essa mudança deve ser não só da escola mas de seus professores, pois o direito à educação não se questiona (BRASIL, 1988). Para 40% dos participantes (04) a inclusão “é a oportunidade através de serviços especializados como suporte”, ou seja, o atendimento especializado pode contribuir com o aprendizado em sala de aula conforme o discurso a seguir: “Esse trabalho é essencial para inclusão porque se a gente quer incluir a gente ter que dar condições para isso, e no caso isso é o suporte para a sala de aula”. (Participante 4) É importante enfatizar que o suporte a que se refere o participante não substitui as atividades escolares, mas sim complementa ou suplementa o processo de inclusão através de metodologias e estratégias que visam a eliminar barreiras a fim de desenvolver a aprendizagem do estudante (BRASIL 2009, 2011). É um regime de diferenciação, que se dá quando se procura construir uma perspectiva de participação da pessoa que não teve acesso, não é uma vantagem e sim uma condição para a participação de todos. Isso é fundamental ao se pensar em uma nova sociedade que passa pela celebração das diferenças a fim de que cada indivíduo possa usufruir o bem comum. Ressalta-se sobre a questão que o Programa CID-Paralímpico atua nesse regime de diferenciação, contudo suas ações e medidas devem estar 85 articuladas com as políticas públicas vigentes melhorando o desenvolvimento acadêmico e social de seus participantes (BRASIL, 2011). Em uma dessas ações o participante cinco relata: “Aqui no nosso trabalho o professor que precisa da gente entra em contato com a nossa coordenação e ela nos pede e ai a gente vai e tenta orientar. Mas a realidade é que ele fica lá sentado”. (Participante 5) Observamos um descompasso entre o que seria um suporte para o conhecimento do professor de sala de aula e a sua falta de iniciativa para realizá-la. Isso porque como parte das atribuições do professor do CIDParalímpico está a de promover palestra e cursos de capacitação para professores do ensino fundamental e médio (ANEXO-A) com o intuito de que alunos com deficiência participem das competições e em aulas de Educação Física Escolar, porém mal interpretado pelo professor. “No nosso trabalho, por exemplo, é oferecer para ele um trabalho de qualidade para que tenha suporte para a escola regular. Mas em sala de aula esse negócio de inclusão é muito difícil para ele”. (Participante 2) Outro ponto contrário ao princípio do atendimento especializado a que se propõe o Programa CID-Paralímpico (BRASIL, 2011). E nesse sentido a interface que o serviço especializado deve realizar com a escola não é a de achar que uma é mais fácil ou detém mais conhecimento que o outro. Ambos devem atuar juntos, “pois um beneficia o desenvolvimento do outro e jamais esse benefício deverá caminhar linear e sequencialmente” (BATISTA, 2009, p.127). Mantoan (2006), sobre isso, nos faz uma importante observação, onde aponta que o compartilhamento de ideias é um dos pontos chave na formação do professor inclusivo, mas pondera quando fala que o professor especialista não dividindo suas ações tende a acomodar o professor comum deixando a falsa impressão que a aprendizagem é do aluno e só especialista saberá resolvê-lo. A dificuldade de interlocução com o professor de sala de aula é, desde o PRÓ-PNE, um dos aspectos de dificuldade no processo de atuação. Segundo os depoentes, desde essa época, que vai de 1999 a 2006, a assistência 86 pedagógica tinha um efeito limitado, pois havia resistência por parte dos professores quanto às sugestões metodológicas para inclusão dos alunos. E também por parte de alguns alunos que utilizam as aulas do Programa, que acontecem, para alguns alunos, em regime de contraturno, para serem dispensados da Educação Física Escolar. O que acabava se tornando um contrassenso dentro dos próprios objetivos do Programa. Nota-se outra postura a partir da observação do participante três que modificou sua própria forma de ver a pessoa com deficiência ao declarar: “O CID vem, justamente para isso, mostrar que a pessoa motivada ela tem condições e participa naturalmente”. (Participante 3) Entendendo que historicamente as pessoas com deficiência foram marginalizadas, Aranha (2004) aponta que com a devida adaptação, atendendo ao limite imposto pela deficiência, e uma Educação Física voltada para a participação de todos, naturalmente alunos que antes eram segregados irão conseguir desempenhar com tranquilidade suas atividades nas aulas de Educação Física. Mas é fundamental que a adaptação dos conteúdos atenda cada um procurando desenvolver suas respectivas potencialidades. [...] deve dar oportunidade a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. [...] os alunos portadores de necessidades especiais não podem ser privados das aulas de Educação Física (BRASIL, 1998, p.29). Portanto, frente às reflexões realizadas até o momento, fica o reconhecimento de que a escola deve atender a todos e para tanto é necessário uma conjugação de esforços onde o serviço especializado pode sim contribuir, mas dentro de uma perspectiva onde sua forma de atuação não se sobreponha a do professor regente. É importante que seja uma forma de oportunizar ao professor uma nova forma de pensar e ver aquele aluno, para que o mesmo passe a ter um sentimento de pertencimento às práticas de Educação física, em suas diferentes manifestações. Pergunta 2: Existe relação entre a iniciação esportiva do programa CIDParalímpico e a educação inclusiva? 87 6.2.4 Categorias de análise para a pergunta 2 1- competição (participantes: 1,2,3,4,5,7,9) 2- participação (participantes: 2,7,8,9,10) 3- reflexos na escola (participantes: 1,6,7,8,9) QUADRO 7: CATEGORIAS DE ANALISE DA PERGUNTA 2 Participantes/Categorias de 1 2 3 4 análise Competição x x x x Participação x Reflexos na escola 5 6 7 8 9 10 % x x x x x x x x x x 70% 50% 40% x 6.2.5 Análise das categorias da pergunta 2 O segundo tema gerador que pergunta sobre a relação entre iniciação esportiva do Programa CID-Paralímpico e a educação inclusiva revelou três categorias de análise. Os resultados em questão apontam alguma relação entre o Programa e a educação inclusiva, porém princípios do Programa e entendimentos controversos acerca do esporte e sua iniciação demonstram efeitos pouco ligados à educação inclusiva. A categoria de análise na qual convergem 70% dos participantes demonstra aspectos ligados à competição. Acreditam, dentre outras perspectivas, que o Programa CID-Paralímpico deve preparar o aluno para que seja atleta, mesmo que esse preparo passe por etapas ou ocorra de forma natural. Ainda revelam uma espécie de cobrança por resultados e a compensação financeira como elemento que justifica este enfoque em sua prática. Conforme observamos no discurso do participante um e quatro há uma boa intenção dentro de um processo de iniciação esportiva, entretanto demonstram sinais de uma prática voltada à formação de um atleta: “Eu entendo o CID-Paralímpico como desporto escolar como se fosse uma preparação da criança para mais tarde ser um atleta. É uma iniciação esportiva mesmo (participante 1)” “Quando a gente trabalha com paralímpico tem que pensar nessa parte autonomia, independência e ajustamento social porque sem isso o aluno não tem como participar de competição, e aí o que eles 88 querem? Que o menino chegue pronto! A verdade é que eles não chegam prontos. A gente tem que trabalhar tudo isso (participante 4)”. Ao perceber uma fala que direciona ao preparo do aluno para ser um atleta, passamos a pensar na “reprodução compulsória do esporte-performance na educação” (TUBINO, 1992, p.40). Sobre essa questão o próprio autor aponta que embora o esporte tenha uma importante relevância social, quando vista por sua dimensão educativa, existem alguns efeitos sociais negativos oriundos do esporte moderno, que distorcem sua finalidade. E destaca, que apesar das finalidades entre esporteeducação e esporte-performance serem diferentes, e conhecidas desde 1964, o forte apelo midiático empreendido pelo esporte-performance tem levado os dirigentes educacionais a não utilização do esporte como meio de educação observado na busca de talentos e outras práticas evidenciando outros “vícios do esporte de alto nível” (TUBINO, 1992, p.40). Talvez o desconhecimento da iniciação esportiva postulada pelo CIDParalímpico demonstre que os referidos participantes não levem em consideração que o Programa deve “oportunizar a participação em programas educacionais e esportivos” (ANEXO-A). E como um desdobramento dessa perspectiva de competição há também uma vertente de cobrança por resultados, revelados na fala: “O foco do CID é o treinamento, somos induzidos a fazer isso. Temos que ter alunos no pódio, pois somos questionados por nossos coordenadores superiores. Ué você não está apresentando resultado. [...] A parte do rendimento desde que eu entrei foi gritante para mim, eu tendo que mostrar a cara, eu tenho que mostrar serviço com alunos no pódio”. (Participante 2) A observação nos revela uma orientação que contraria os reais objetivos do Programa e distorcem o sentido maior da prática inclusiva, expresso nos objetivos do atendimento educacional especializado, que devem oportunizar a participação de crianças e jovens com deficiência, prover condições de acesso para a participação e aprendizagem no ensino regular (BRASIL, 2011). Talvez essa distorção, na medida em que a competição começa a se sobrepor às práticas formativas, tenha tido início no próprio PRÓ-PNE, pois segundo os depoentes já havia nessa época dois tipos de alunos: um que era 89 da classe especial (a maioria), e que era atendido nos moldes da Educação Física Escolar no turno escolar12, outro formado por alunos de classe regular (DISTRITO FEDERAL, 2006). E com a dificuldade em se formar turmas com os alunos de classe regular e a contrapartida da melhor frequência dos alunos da classe especial passam a serem substituídas as práticas formativas individuais passando a formar equipes e a participar de jogos e competições como Olimpíadas Especiais e Jogos Escolares da Regional e do DF. Então, a partir de um cenário onde quem não orienta a iniciação esportiva para as competições e o alto rendimento é induzido para tal, percebese uma tentativa de unilateralização da iniciação esportiva, pois nega a possibilidade de um desenvolvimento que deveria ser plural apontando para o que seria uma visão reducionista, conforme Santana (2005). Segundo o mesmo autor, ainda discutindo a questão das relações que devem ser consideradas pelo professor no ensino do esporte, aponta ser uma ingenuidade o fato de se resumir tal questão apenas na aprendizagem de gestos técnicos, habilidades táticas e desenvolvimento de capacidades físicas. Entendendo nesse contexto que a relação entre iniciação esportiva e o processo de inclusão deva proporcionar o aprendizado geral do estudante encontramos respaldo em Kunz (1998) quando diz que é necessária que a iniciação esportiva seja uma prática prazerosa educando para uma competência critica e emancipadora. O autor cita também outras competências que podem ser desenvolvidas por quem passa pela ação educativa do esporte, que são: competência objetiva, quando o aluno desenvolve a autonomia através da técnica; competência social, que são referentes aos conhecimentos que o aluno deve adquirir para compreender seu próprio contexto sociocultural e a competência comunicativa, que é um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico. A competição também é percebida, revelando em seu discurso uma outra questão preocupante que diz respeito à recompensa material pela prática esportiva 12 Com base no Plano Orientador das ações da Educação Especial nas escolas da rede pública do Distrito Federal, alunos de Classe Especial no Distrito Federal não possuem Educação Física Escolar. 90 “Hoje ele já tem sua renda e também tem bolsa atleta”. (Participante 3) Bento (2006, p.152) ao observar sobre a sedução que exercem as compensações materiais quando da participação no esporte não vê muito problema inicialmente. Entretanto, quando estas compensações permitem aos jovens viverem dos prêmios essa questão pode ser algo preocupante. Motivo para o abandono de suas carreiras acadêmicas, sendo que cabe ao professor mostrar outras possibilidades, pois o esporte “como fonte de receitas pode se esgotar rapidamente”. Outra questão também se apresenta quando, para além do senso comum que estabelece que “o esporte tira crianças da rua” ou “forma campeões”, coexiste uma situação que expõe tanto o professor como o aluno na busca pelo desempenho como único objetivo. É um acirramento das disputas e o alto nível de competitividade o que leva a questionar o sentido educacional dessa prática esportiva, pois passam a ser as mesmas do alto rendimento. Dessa forma se faz importante discutir novas formas de tratamento do conteúdo pedagógico. E dentro de seus objetivos, muito mais do que transmitir conteúdos, reproduzir regras ou a repetição de gestos técnicos para fins somente de competição, explorar o aprendizado com atividades que possam privilegiar a ressignificação das práticas esportivas, considerando o contexto onde se realiza, o que inclui a cultura como campo de possibilidades (KUNZ, 2009). A segunda categoria de análise resultante da análise de discurso dos participantes, (50%) convergiu para a participação. A referida categoria foi observada sob o ponto de vista do lúdico, motivação para o desenvolvimento do Programa e participação na vida social e escolar. “Então eu tento fazer o meio termo, uso o lúdico por um lado e do outro o esporte de alto rendimento”. (Participante 3) Ao analisar o discurso do participante três a questão que se coloca é se o Programa CID-Paralímpico é mesmo um Programa de iniciação esportiva voltado para o processo de inclusão. Nesse cenário, se torna importante 91 discutir em que medida se desenvolve o prazer pela prática e no que o lúdico pode contribuir nesse processo. Embora não seja intenção analisar a questão do lúdico no esporte Ferraz (2006, p.262) ao discutir a ludicidade e o ensino do esporte indica “que grande parte das resistências, desinteresses e dificuldades de envolvimento, dos aprendizes pode ser minimizada se aspectos lúdicos forem contemplados nas atividades” e que os mesmos devem ser enfatizados na construção de ambientes de aprendizagem. Então, ao entender a origem do esporte, vinculada ao jogo (TUBINO, 1999, p.12) e concebendo as características do lúdico como intrínsecas ao seu processo de ensino-aprendizagem percebe-se que seu conteúdo pedagógico passa a ser voltado à relação entre as pessoas e às normas de conduta que sustentam essas relações. Portanto, o processo educativo não resumirá a participação do sujeito em uma busca pela vitória e sim em uma condição permanente de reflexão acerca do jogo jogado e as regras e condições implícitas naquele momento. Esta é, sem dúvida, uma questão que merece muita atenção, pois, se a prática esportiva não for baseada em princípios que se configurem em oportunidades no sentido da prática corporal, cooperação e valorização às diferenças, estaremos criando obstáculos para a inclusão. Não se pode negar o princípio de que “a iniciação esportiva é um fenômeno de múltiplas possibilidades pedagógicas” o que significa que deve ser um facilitador educacional atuando na direção de ampliar as possibilidades de participação do praticante (SANTANA, 2005, p.21). No ponto de vista sobre participação, adotado pelo participante 10, observa-se algo que pode ser uma proposta fechada com objetivos estipulados e que não se preocupam com os interesses dos alunos, vislumbrando uma meta de programa e busca por motivação sem critérios pedagógicos. “Dentro do meu trabalho o meu objetivo muitas vezes ele choca com o objetivo do aluno. Tenho metas a cumprir no programa: quantidade de alunos para atender, fazer com que eles participem dos jogos escolares, e eu tenho que motivar esses alunos. Na verdade é muito difícil motivar os alunos dando aula de [...], ainda mais aqui que não tem nada. [...] se tem premiação na atividade já é uma motivação, 92 viajar é outro meio de estar motivando esse aluno. Se ele viaja e ganha medalha é outra motivação, assim como ganhar o bolsa atleta. Não fico indo atrás de aluno, eu acho que se ele tem capacidade e interesse ele vai”. (Participante 10) O objetivo de participação abordada, sendo alimentado por meios de motivação financeira e material acaba descortinando o que parece ser uma ideia errônea acerca da participação no esporte. A motivação que se reflete em premiação, viagens, medalhas e bolsa atleta alimenta uma perspectiva que mantém o caráter excludente e seletivo do esporte entendido por esse participante. É como “moeda de troca” para manter o interesse do aluno na prática esportiva. Nesse sentido aceitam e obedecem a essas regras, mesmo não concordando com elas, tudo para que no final recebam o que lhe foi prometido ou que continuem sonhando para a próxima vez. Nesse caso, é constatado que longe da possibilidade de atender a todos nos deparamos com a substituição do caráter solidário e participativo que deveriam ser inseridos no aprendizado do Esporte como prática educativa. E somos conduzidos para uma realidade criada a partir da transposição de um modelo extraído do cenário competitivo adulto, onde acaba se privilegiando uma única maneira de atuação e objetivo, que podem ser facilmente traduzidos na busca pelo rendimento e vitória. Tubino (2010, p.66) acrescenta que, inclusive nos dias de hoje, se passa pelo discurso de que o esporte educa “embora as praticas/competições escolares continuem buscando primordialmente padrões crescentes de performance”. E ainda continua, pontuando que embora existam oportunidades de ações educativas, o esporte rendimento em suas ações valoriza de forma equivocada “o foco em resultados, individualidades e exaltação dos vencedores, em detrimento dos vencidos, muitas vezes esquecendo os valores que fariam do Esporte Escolar e das suas competições uma referencia para a formação da cidadania”. Outra observação sobre participação também é relatada na declaração, que diz: 93 “Sim, Os dois caminham juntos para o mesmo objetivo, que é propiciar ao aluno com deficiência a participação na vida social e escolar [...] saiam satisfeitos com que eles conseguiram alcançar”. (Participante 8) A participação como uma melhor representação tanto na escola como na sociedade e a satisfação pelo que conseguiu o participante oito corrobora com a percepção de Freire (2003) apontando a necessidade de se ensinar e aprender de forma lúdica e prazerosa. O autor quando fala do processo de ensino-aprendizagem do futebol destacando quatro princípios básicos que podem servir de base para uma reflexão no processo de iniciação esportiva: Ensinar a todos, em um ato de valorizar capacidades; Ensinar bem a todos, valorizando pessoas em primeiro lugar e não suas habilidades; Ensinar mais que o esporte a todos, pois a pratica educacional se estende ao campo de jogo segundo o autor, sendo verificado o aprendizado de vivência e compreensão de regras em grupo; Ensinar a gostar do esporte, princípio que destaca a importância do prazer práticas de ensino, por meio de brincadeiras e diversão fazendo com que a pessoa goste de praticar o esporte. Ao entender que a prática pedagógica no ensino do esporte deve ser algo que estimule o praticante, a interação favorecida pela escola exerce um importante papel no processo de desenvolvimento do aluno consigo mesmo e com o outro. E nesse sentido, é importante destacar que a função social da escola vai além de apenas adaptar e fazer com que os alunos saibam que ali existe uma pessoa com deficiência. Exige um desenvolvimento contínuo das práticas pedagógicas para que as mesmas sejam alicerces para instrumentalizar o desenvolvimento desse aluno (MEC/SEESP, 2007). A terceira categoria de análise observada na fala dos participantes (40%) aponta para reflexos na escola. O discurso a seguir ilustra parte dessa análise: “Quando eles participam da nossa atividade eles chegam na aula de EF com vontade de fazer. Uma turma que eu atendo aqui no [...] participou do interclasse e jogaram de igual para igual com as outras turmas e foi bem elogiado isso pela direção da escola”. (Participante 7) Percebe-se que o esporte e sua aplicação na escola abre portas para perceber que não basta formar um atleta para justificar sua prática. Pode ser 94 um caminho pelo qual se pode chegar, porém não o único, pois se o aluno aprende em um esporte suas técnicas e táticas, por exemplo, deverá também aprender a organização social que circunda sua prática, compreender o processo das regras (interpretando a necessidade de suas adaptações), aprender a respeitar o adversário como um companheiro e não inimigo além de estabelecer uma relação de coerência com os resultados, postulando e considerando a questão tanto da derrota como da vitória como inerentes ao processo do jogo o que certamente será um reflexo dentro de sua formação para dentro da sala de aula. Betti (1998, p.10) estudando Belbenoit, pedagogo francês que discutiu algumas ideias sobre a relação esporte e educação, confirma tal questão quando observa que “introduzir a iniciação ao esporte de competição nos programas escolares não é aceitar para a escola a missão expressa de produzir atletas capazes de assegurar o prestígio esportivo do país”. O autor não descarta essa possibilidade, porém alega que não pode ser o objetivo principal, substituindo um conjunto de outras atividades que classifica como formativas. Porém, para Bracht (1999) e Kunz (2009) se constata que apesar de muito se discutir sobre o papel da Educação Física escolar e o seus benefícios no aprendizado dos alunos, quando se fala da prática esportiva em âmbito escolar ainda prevalece uma visão unilateral da instituição esportiva sobre as práticas escolares. Seja pelo rendimento, exacerbação à competição, modelo do esporte profissional adulto dentre outros aspectos em detrimento ao acesso e pratica de todos. Dessa forma ao discutir reflexos do esporte na escola é necessário questionar qual a importância de um programa esportivo como o CIDParalímpico, e a que tipo de organização o Programa deve ser submetido, entendendo sua perspectiva inclusiva? Não existem dúvidas que, dentro do contexto educacional, a prática do esporte, é uma atividade altamente valiosa para a formação e desenvolvimento dos educandos, com benefícios que vão desde a melhora na condição física e motora até a integração e participação através do convívio e compreensão das 95 diferentes manifestações esportivas (KUNZ, 2009). E tudo isso embasado no princípio da inclusão que garante o acesso de todos os alunos às atividades propostas (BRASIL, 1998). Todavia tal tarefa não é tão fácil quanto parece, o que tem se edificado como um obstáculo no caminho da educação para todos, pois poucas medidas têm sido tomadas para garantir a igualdade e acesso à educação para as pessoas com deficiência. Segundo o Plano Decenal de Educação para Todos (BRASIL, 1993, p.31-32) há ainda “pouca criatividade do sistema para atender a grupos em situações específicas [...] o que dificulta o provimento de ensino de qualidade para atender suas especificidades”. O documento ainda aponta para a “ausência de metodologias e processos adequados para se trabalhar com grupos em situações de risco, principalmente os marginalizados social e economicamente”. O Plano Nacional de Educação atual, vigência 2011-2020 (BRASIL, 2011), ainda sustenta essa realidade da inclusão quando expõe na sua meta 4, as estratégias para se universalizar o atendimento escolar para a população de 4 a 17 anos. Sobre essa questão o movimento Todos Pela Educação 13 demonstra em seu relatório De Olho nas Metas 2011, que ainda existem 3,8 milhões de crianças e jovens fora da escola sendo boa parte dela formada por crianças com deficiência que não encontram na escola o atendimento e a infraestrutura adequados para que sejam incluídas no sistema. Então, como não estabelecer metas básicas de participação para pessoas que como observado, não tem tido oportunidade sequer de “entrar” na escola! É claro também que o cenário da participação não exclui a competição como um elemento que integre esse processo. Portanto, com esse conjunto de dados, que envolveram preceitos teóricos acerca da inclusão e da iniciação esportiva empreendida pelo CIDParalímpico, podemos perceber que o Programa está distante do discurso da 13 Fundado em 2006, o Todos Pela Educação é um movimento da sociedade civil brasileira que tem a missão de contribuir para que até 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil, o país assegure a todas as crianças e jovens o direito a Educação Básica de qualidade. acessado em 07/11/2012 disponível em: http://www.todospelaeducacao.org.br/institucional/quem-somos/ 96 inclusão, embora boa parte de suas práticas não as negue. E nesse sentido, não basta que a inclusão seja imposta apenas por uma garantia constitucional, pois sem a devida mobilização de professores, gestores e organização escolar substitui-se um trabalho que deveria ser voltado para uma proposta inclusiva, onde todos que necessitam deveriam participar, para um trabalho voltado unicamente a participação de competições e busca de resultados. É uma ação conjunta, que para além de uma questão pedagógica um processo de gestão também se faz necessário. Tais temas encontram respaldo em Aranha (2004, p.14) que ao empreender estudos sobre aspectos teóricos das políticas públicas para a Educação Especial, nos apresenta que em âmbito administrativo “cabe aos sistemas de ensino a criação e implementação de um setor responsável pela educação especial que devem ser dotados de recursos humanos, materiais e financeiros” que deem suporte ao processo de inclusão. Ao longo dos contatos para a realização das entrevistas, estava em curso a reformulação da orientação pedagógica do CID-Paralímpico, em que foram notadas algumas controvérsias e desconhecimentos básicos acerca da origem e função do próprio Programa, por parte dos gestores da GEDESC. Inclusive como uma forma de oferta de Educação Especial, conforme consta no próprio site da Secretaria de Educação do Distrito Federal14. Esse aparente descompasso também foi observado no desconhecimento dos gestores acerca da origem do Programa como Atendimento Educacional Especializado, e consequentemente a lei 7611/2011 que trata do Atendimento Educacional Especializado. Portanto, das análises empreendidas até aqui se levantam questionamentos não só quanto à falta de cursos específicos, mas de exigências mínimas para o desempenho da função o que vale dizer que tanto os professores quanto os gestores devem se adequar as exigências compreendendo a complexidade do tipo de atuação. Então, o conhecimento que envolve não só o campo pedagógico, mas todos os saberes inerentes à 14 Apresentação do CID-Paralímpico como serviço de Educação Especial oferecido pela SEEDF. Disponível em: http://www.se.df.gov.br/?page_id=204 acessado em 20/08/2012. 97 função são fundamentais para o desenvolvimento dessa iniciação esportiva que pretende contribuir com o processo de inclusão escolar. Estas questões estão de acordo com as diretrizes políticas para a educação inclusiva que, ao pressupor estratégias para sua implementação, observam que além da garantia de acesso ao ensino sejam dadas também a permanência e qualidade para os alunos com necessidades especiais no ensino regular (MEC/SEESP, 2007). A partir das percepções e observações realizadas ao longo das entrevistas e contato com os representantes do CID-Paralímpico apresentamos duas perspectivas que o Programa pode adotar, por meio do nome simbólico de modelo Esporte-Competição (EC) e Esporte Educação-Participação (EEP). Neles os desencadeamentos se distinguem reunindo ideias que ou massificam a prática do esporte buscando o resultado e a formação de campeões para sustentar sua condição de Programa esportivo ou propõem o acesso à prática e se legitima argumentando que seus participantes ganham autonomia e maior nível de participação dentro de suas respectivas escolas. Figura 2 – Organograma do modelo Esporte Competição (EC) Fonte: Do autor.15 15 O Geração Campeã, desenvolvido no início do governo Roriz (ano de 2003), no Centro Interescolar de Educação Física-Cief, oferecia iniciação para alunos da rede pública em quatro modalidades: atletismo, natação, vôlei e handebol. Eram três patrocinadores estatais: (CEB) energia elétrica, (Caesb) água e o Banco de Brasília (BRB), que divulgavam suas marcas nos uniformes dos atletas. Acaba após quatro anos com o abandono das estatais e não reação ou explicação por parte do governo, gerando incompreensão 98 Figura 3 – Organograma do modelo Esporte Educação Participação (EEP) Fonte: Do autor. Ao longo da tentativa de reconstituir parte da história do CID-Paralímpico fica claro, embora sem acesso a uma documentação oficial, em sua origem como Atendimento Educacional Especializado, uma ambiguidade no que se refere à relação entre seu objetivo e sua prática. Essa questão é notada principalmente quando os professores se afastam de um trabalho que deveria ser voltado à assistência pedagógica e praticas formativas individuais, assumindo o regime de diferenciação proposto pelo tipo de atendimento e sua repercussão no processo escolar, para objetivos voltados unicamente a formação de equipes e seu envolvimento em competições na busca por resultados. Por fim, destacamos que ainda predominam ações voltadas para o esporte de alto rendimento em detrimento das práticas voltadas para o esporte educacional e participativo. Isso é muito perigoso, independentemente da linha entre seus participantes. Disponível em: http://blogdocruz.blog.uol.com.br/arch2009-09-01_2009-0930.html acessado em 19/10/ 2012. 99 ideológica a que se prenda, na medida em que a prática esportiva deixa de ser um argumento favorável à reflexão, emancipação e participação democrática na escola inclusiva para ser uma busca por desempenho e resultados excluindo automaticamente os menos aptos para sua prática. 100 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao iniciar esta pesquisa, procurei partir de um consenso que postula o reconhecimento de que as práticas esportivas são elementos importantes na formação do indivíduo. Todavia, os resultados de sua prática podem ser controversos, na medida em que seus objetivos não sejam bem esclarecidos. Nesse sentido, busquei investigar e discutir os interesses da iniciação esportiva desenvolvida pelo chamado “CID-Paralímpico” e desvelar em que medida suas práticas estariam voltadas aos princípios da inclusão. E uma vez envolvido por esta busca passei por diferentes momentos. O primeiro deles foi o referencial teórico que me exigiu revisitar conceitos e legislação da inclusão escolar, história da pessoa com deficiência e Educação Física além de aspectos ligados ao esporte e suas práticas pedagógicas. Pude perceber o difícil processo de inserção da pessoa com deficiência no cenário social e escolar e assim elencar elementos balizadores para a constituição de um panorama sobre a prática esportiva à altura das pessoas que utilizam esse serviço. Outro momento importante, que me ajudou a constituir as linhas de ação da pesquisa e aplicá-las, foram os contatos com os depoentes e professores entrevistados, que fruto do envolvimento com o objetivo do estudo acabou revelando um CID-Paralímpico carente de uma linha de ação mais técnica, com objetivos alinhados a uma documentação e ação pedagógica que o sustentasse. Essa constatação ganhou sustentação a partir do momento que tratando com gestores, coordenadores intermediários e os próprios professores em reuniões, entrevistas e conversas informais, notei discursos defendendo propostas, de ordem unicamente pessoal, as quais colocavam o esporte e sua prática a serviço de poucos. Os discursos destoavam das práticas inclusivas o que nos reforçou o interesse de revisitar a proposta do Programa a fim de constituir subsídios concretos para o alinhamento de sua teoria com sua prática. E nesse sentido, ao invés de uma prática voltada para que todos pudessem participar plenamente, o regime de diferenciação proposto pelo projeto, se apresentou 101 “aprisionado” em uma atividade sem maiores repercussões no desenvolvimento do aluno e aluna com deficiência nas suas práticas escolares. Isso não quer dizer que benefícios para alunos, comprometimento por parte dos professores envolvidos, estavam ausentes. Mas, formalmente, as ações desenvolvidas pelo Programa não se mostraram associadas à promoção condições de acesso, participação e aprendizagem no Ensino Regular conforme Decreto nº 7.611/2011 que trata do Atendimento Educacional Especializado. E a tendência de afastamento se complicava na medida em que se notavam comportamentos que entendiam o resultado esportivo como único objetivo do Programa. Sendo assim, os resultados revelados através das concepções dos professores acerca da iniciação esportiva utilizada no Programa CIDParalímpico não se alinham em sua plenitude aos princípios da educação inclusiva. Esses dados são apontados inicialmente a partir dos dados sobre conhecimento acerca da inclusão escolar, no primeiro tema gerador. A concepção de inclusão, preparo do professor e atenção ao aluno e atendimento especializado foram as primeiras observações. As respostas indicaram que os professores entendem que a inclusão é a participação de todos e que o professor regente e a escola não têm assumido essa posição. Entretanto apesar de demonstrarem certo conhecimento da legislação, os professores desconheciam parcialmente os seus objetivos e não reconheciam o CID-Paralímpico, de fato, como um Atendimento Complementar Especializado. Ao reconhecerem que não há preparação da escola e do professor de sala de aula para oferecer um atendimento de qualidade para a pessoa com deficiência acabam reforçando as evidências de que a Educação Física Escolar ainda atende de forma precária o aluno com deficiência. Outro ponto diz respeito ao reconhecimento de que a adaptação e o atendimento educacional especializado fazem parte do processo de inclusão, entretanto pouca ou nenhuma referência ao programa CID-Paralímpico é feita. Essa questão reforça o entendimento de afastamento da escola, pois o professor apesar de dar valor aos seus atendimentos não os considera importantes para a 102 educação inclusiva, de forma que na maioria dos casos não foi observado uma relação de diálogo com escola. Já o segundo tema gerador, sobre a relação entre a iniciação esportiva do Programa CID-Paralímpico e educação inclusiva, observamos que apesar de existir uma afirmação sobre essa relação, inclusive apontando benefícios como a maior participação do aluno na vida social e escolar coexiste fortes evidências que perpassam dificuldades de gestão e de orientação pedagógica confusa em seus princípios induzindo a uma prática voltada unicamente aos valores da competição como justificativa para o desempenho do Programa. A orientação pedagógica coexiste tanto aceitando professores que entendem que o Programa é voltado para a competição e alto rendimento como com a evidente indução daqueles que não pensam da mesma forma. Esse desconhecimento de uma iniciação esportiva voltada para os princípios da participação e vivência nos esportes nos leva a perceber um descompasso entre as percepções dos professores. E ao entender que o objetivo do atendimento educacional especializado, oportunizando a participação de crianças e jovens com deficiência, deve prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular, nos questionamos sobre sua real orientação. A ambiguidade de concepções ora atendendo de forma participativa e ora voltado à formação de atletas, induzindo para a busca de resultados sem planejamento ou achando que a atividade em questão deva ser comparada às aulas de Educação Física regular, nos levou a questionar o processo de formação do professor para as exigências do Programa. E nesse sentido a formação do professor deve ter interlocução com a proposta de gestão. Porém, conforme observado, nos procedimentos, a própria gestão do Programa se encontrava sem coordenador específico o que sem dúvida pode ser encarado como um complicador para o bom andamento das atividades. Portanto, é de extrema importância uma rediscussão das práticas pedagógicas adotadas para o ensino do esporte no Programa CID-Paralímpico 103 a começar pelo seu próprio nome que remete a um espaço esportivo cuja ação é voltada ao esporte rendimento elegendo alguns tipos de deficiência para sua prática o que não atende a outros tipos de deficiência ou transtorno.Nesse caminho de releitura do Programa também vale notar que embora existam avanços, ainda persiste um reconhecimento por parte de gestores e professores a perspectiva que democratizar o esporte significa massificá-lo, adotando objetivos de formar gerações de campeões dentre outras coisas. A mudança de paradigma em questão é imprescindível para a reformulação de algo que pode contribuir com a inclusão escolar. Nesse sentido, a escola assim como a prática esportiva, por muito tempo negligenciou a pessoa com deficiência, criando padrões e modelos a serem seguidos de modo que é preciso a escola e o professor entender que praticar a inclusão não é acréscimo muito menos alternativa para o seu labor, mas sim um dever inexorável à cidadania. 104 REFERÊNCIAS ADAMS, R.C. et al. Jogos, esportes e exercício para o deficiente.São Paulo: Manole, 1985. ARANHA, M. S. F. Educação inclusiva: transformação social ou retórica? In: OMOTE, Sadao. Inclusão: intenção e realidade. Marília: Fundepe,2004. p.126. ARANHA, M. L. de A. Filosofia da educação. 3ed. ver. e ampl.São Paulo: Moderna, 2006. ARAÚJO, P. F. de. Desporto adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidade. Brasília; Ministério da Educação e do Desporto; Indesp, 1998. ARAÚJO, P. F. de. Desporto adaptado no Brasil: origem, institucionalização e atualidades.1997. 140f. 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Para minimizá-las tomaremos as seguintes medidas: 1)Qualquer informação ou resultados obtidos será mantido em sigilo e a discrição dos mesmos em publicações científicas ocorrerá sem qualquer chance de identificação, 2)Você estará participando de livre e espontânea vontade e tem assegurado o direito de abandonar a participação nessa pesquisa a qualquer momento, bastando para isso comunicar o desejo ao pesquisador André Luís Normanton Beltrame (tel.9906 2079 ou email: [email protected]). Como benefício desse trabalho compreende-se que poderá cotribuir com a reflexão e discussão das práticas pedagógicas utilizadas dentro do contexto escolar e no ensino dos esportes. Após estes esclarecimentos, solicitamos seu consentimento de forma livre para participar desta pesquisa. Portanto preencha, por favor, os itens que se seguem: Nome e Assinatura do Participante da *____________________________________ Assinatura do Pesquisador:_________________________________ Assinatura do Orientador:__________________________________ Pesquisa: 116 APÊNDICE-B ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA PARTE I-Identificação do Participante 1-Idade: 2-Sexo: Feminino( ) Masculino ( ) 3-Escolaridade (última graduação): 4-Cursos de atualização: 5-Tempo de Magistério: 6-Tempo de atuação no CID-Paralímpico: 7-A sua entrada no programa exigiu alguma capacitação? Se sim, qual? PARTE II-PERGUNTAS GERADORAS 1-O que você entende por inclusão escolar? 2-Existe relação entre a iniciação desportiva oferecida pelo CID-Paralímpico e a educação inclusiva? 117 APÊNDICE-C Indicadores da Pergunta 1: O que você entende por Inclusão Escolar? PARTICIPANTE 1: 1- é a concepção quando existe a cópula- o pai e a mãe; 2- é lei, temos que cumpri-la; 3- todos tem que participar da sociedade como um todo, inclusive na escola; 4-é uma adaptação para uma igualdade de condições, mas dentro da Educação Física é segregado; 5- a participação de todos, mas talvez o professor não esteja preparado. PARTICIPANTE 2: 1- opurtunizar, acesso e permanência de qualidade para todos em qualquer meio; 2- oferecer suporte, para a escola regular; 3-é difícil para o professor em sala de aula, o professor tenta mas não consegue muito não. PARTICIPANTE 3: 1-fazer com que as pessoas participem; 2-o professor segue aquela rotina onde o aluno tem que se adequar, senão fica excluído; 3-a gente presencia alunos com deficiência na sombra assistindo; 4- o CID-Paralímpico mostra que a pessoa motivada tem condições e participa naturalmente. PARTICIPANTE 4: 1-possibilidade de viver em sociedade; 2-respeitar seus limites oferecendo oportunidade de se desenvolver; 118 3-oportunidade através de atendimento especializado como suporte. PARTICIPANTE 5: 1-é ajudar o aluno com deficiência a participar com a turma toda, mas hoje não funciona; 2-é um processo que necessita de serviço especializado para mostrar a capacidade do aluno; 3-hoje o aluno é colocado em sala de aula e não tem nenhum tipo de ajuda; 4-hoje o professor tem pelo menos boa vontade. PARTICIPANTE 6: 1-participação de todos; 2-ser capaz de viver em sociedade. PARTICIPANTE 7: 1-a participação efetiva de todos; 2-geralmente na Educação Física o aluno com deficiência não participa; 3-o professor faz de conta que não está nem vendo. PARTICIPANTE 8: 1- é um direito hoje já adquirido onde todos devem participar; 2- a escola ainda não está preparada, ainda mais na educação física; 3- os professores não estão preparados para fazer esse tipo de atendimento; 4- deixam o aluno de lado e não procuram meios de inseri-lo. PARTICIPANTE 9: 1- é uma lei; 2-é importante para a sociedade como um todo. PARTICIPANTE 10: 119 1- incluir as pessoas que tem mais dificuldade de estar envolvido; 2- é generalista; 3- é incluir de todos independentemente do perfil; 4- é adaptar para que o aluno deficiente participe da aula, mas professor tem muita dificuldade; 5- o que a gente vê é que o aluno fica fora da aula. Indicadores da Pergunta 2: Existe relação entre a iniciação esportiva do programa CID-Paralímpico e a educação inclusiva? PARTICIPANTE 1: 1- a gente da autonomia; 2- vai para a escola com outra visão; 3- prepara para ser atleta; 4- tem que dar prazer ao aluno. PARTICIPANTE 2: 1- o foco do CID é o treinamento, somos induzidos a fazer isso; 2- uso o lúdico por um lado e do outro o esporte de alto rendimento. PARTICIPANTE 3: 1- quando começam a praticar esporte adaptado já começam a interagir socialmente; 2- praticando e massificando apareceu o rendimento; 3- meu aluno saiu de uma situação de risco social e hoje é atleta e tem bolsa atleta. PARTICIPANTE 4: 1- a gente até tem como atender essas necessidades; 120 2- um trabalho voltado só para o resultado; 3- independência, autonomia e depois da atividade física e social; 4- participar de competição. PARTICIPANTE 5: 1- é o treinamento; 2- não são atividades lúdicas. PARTICIPANTE 6: 1- tem relação na volta dele para a escola; 2- faz parte do nosso dia-a-dia; 3- saúde, bate-papo, vivência. PARTICIPANTE 7: 1- quando eles participam chegam na aula de Educação Física com vontade de fazer; 2- participou do interclasse e jogaram de igual para igual com as outras turmas e foi bem elogiado isso pela direção da escola; 3- nossa finalidade é incluir; 4- pelos coordenadores vejo a competição. PARTICIPANTE 8: 1- participação na vida social e escolar; 2-todos participem e saiam satisfeitos; 3- tenha reflexo na escola. PARTICIPANTE 9: 1- meu objetivo é a participação; 2- trabalham a competição; 121 3- como, a criança tem que competir apenas!; 4- trabalhando no sentido escolar. PARTICIPANTE 10: 1- não, é específico para cada deficiência; 2- meu objetivo muitas vezes choca com o objetivo do aluno; 3- tenho metas a cumprir no programa; 4- participem dos jogos escolares; 5- se tem premiação na atividade já é motivação; 6- não fico indo atrás do aluno, se ele tem capacidade e interesse ele vai. 122 ANEXO-A Governo do Distrito Federal Secretaria de Estado de Educação Subsecretaria de Gestão Pedagógica e Inclusão Educacional Diretoria do Desporto Escolar e Educação Física Gerência de Técnicas Desportivas ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA GDF-SE CID CENTRO DE INICIAÇÃO DESPORTIVA PARAOLÍMPICA Brasília-DF-2006 123 Orientação Pedagógica CID PARAOLÍMPICO I – APRESENTAÇÃO O processo de inserção da pessoa com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico está vinculado às transformações sociais, culturais e diversificações das ações educacionais. A Educação Física utilizando o esporte adaptado como veículo de resgate da cidadania da pessoa com comprometimento funcional oportunizará as pessoas participarem ativamente na sociedade. Com a consolidação do Centro de Iniciação Desportiva Paraolímpica (CID PARAOLÍMPICO) na modalidade de Sala de Recurso estamos cumprindo as exigências legais, oferecendo às pessoas com comprometimento funcional, atendimento complementar especializado em Educação Física, oportunizando a sua participação integral aos programas educacionais e esportivos. Neste documento, a Secretaria de Estado de Educação, Subsecretaria de Desenvolvimento do Sistema de Ensino e Diretoria de Desporto Escolar do Distrito Federal, atualizam e consolidam a estrutura e o funcionamento do CID PARAOLÍMPICO de forma a alcançarem seus objetivos. II – FUNDAMENTAÇÃO LEGAL • Lei Orgânica do Distrito Federal, 1993. • LDB, Lei n 9.394 de 20 de dezembro de 1996, artigos 58 e 59. • Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, artigos 206 e 208. • Regimento da Administração Central da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, Decreto n. 12.488/91 – GDF, 1990, Título I, artigo 1, item V. • Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (LDEN, 2001), Resolução CNE/CEB n. 2, de 11 de setembro de 2001. • Decreto n. 3.956, de 8 de outubro de 2001. • Documento do Ministério Público “O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns da Rede Regular”, 2004. • Lei Distrital n. 3.218, de 05 de novembro de 2003. • Lei Federal n. 10.048 de 08 de novembro de 2000. 124 • Lei Federal n. 10.098 de 19 de dezembro de 2000. • Decreto Federal n. 5.296 de 02 de dezembro de 2004. III – OBJETIVOS 3.1 – Geral Oferecer às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico, atendimento complementar curricular de Educação Física por meio da prática esportiva adaptada, buscando condições favoráveis ao desenvolvimento de suas potencialidades de forma a proporcionar-lhes melhor estilo de vida e efetiva atuação no meio social. 3.2 – Específicos • Oferecer atividade física esportiva adaptada às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico; • Promover ações de parceria com outros programas; • Promover pesquisa para novos caminhos no atendimento educacional às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico • Promover capacitação profissional na área de Educação Física Especial; • Formalizar parceria com entidades Governamentais e não Governamentais; • Representar o Distrito Federal nas atividades esportivas e eventos educacionais; • Divulgar e sensibilizar a participação dos alunos com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico no esporte adaptado; • Implantar e implementar Núcleos Regionais do CID Paraolímpico. IV – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL A Coordenação do CID PARAOLÍMPICO é de responsabilidade da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, Subsecretaria de Desenvolvimento do Sistema de Ensino por intermédio da Diretoria de Desporto Escolar (DIDESC) cabendo as seguintes funções administrativas e pedagógicas: a) Coordenar e Supervisionar as ações pedagógicas e administrativas vinculadas as Regionais de Ensino – Divisão Escola Comunidade; b) Fornecer aos Núcleos de Atendimento do CID PARAOLÍMPICO, material para registro das atividades, ficha de matrícula, planilha de relatório, diário, material de divulgação; 125 c) Disponibilizar instalações, materiais esportivos, recurso humano, transporte, premiação e apoio logístico para promoção das atividades dos núcleos e dos eventos do calendário oficial da Rede Pública do Distrito Federal; d) Autorizar a participação dos professores e delegação do CID PARAOLÍMPICO nos eventos locais, nacionais e internacionais; e) Divulgar o CID PARAOLÍMPICO e seus parceiros junto aos meios de comunicação, eventos, jogos e localidades que desenvolvem o CID PARAOLÍMPICO, no decurso do ano letivo; f) Assegurar a expansão do CID PARAOLÍMPICO, articulando-se com a Regional de Ensino, Escolas, Administrações Regionais e demais Instituições Públicas e Particulares; g) Desenvolver cursos de capacitação aos professores do CID PARAOLÍMPICO; h) Acompanhar e supervisionar as ações dos professores dos Núcleos Regionais; i) Selecionar ou desligar os professores dos Núcleos Regionais; j) Definir o plano anual de atividades; k) Oferecer suporte administrativo e pedagógico a Regional de Ensino; l) Implantar ou extinguir Núcleos Regionais; m) Convocar ou nomear os professores dos Núcleos Regionais para compor equipe técnica ou de apoio aos jogos e eventos sociais, culturais, lazer e esportivo desenvolvido pela Secretaria de Estado do Distrito Federal ou pelas entidades desportivas Distritais, Regionais, Nacionais e Internacionais; n) Coordenar as ações administrativas e pedagógicas promovidas pela Conveniada Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial (CETEFE) nos Núcleos Regionais e Central - CID PARAOLÍMPICO; o) Promover parcerias para ampliar e qualificar as atividades de Educação Física Escolar, Esporte de Rendimento-Educacional - Participativo às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico. V – RECURSOS HUMANOS A característica fundamental do professor para atuar no CID PARAOLÍMPICO é possuir conhecimento básico na área de Educação Física Especial e Esporte Adaptado condicionando a promoção de novos desafios, estimulando sua criatividade, espírito inventivo, autonomia e interesse em produzir. 126 5.1 – Lotação do Professor Para compor o quadro do CID PARAOLÍMPICO, o professor deverá: a) Ser encaminhado à DIDESC para entrevista; b) Apresentar os documentos determinados pela Diretoria de Recursos Humanos para remanejamento e contratação de professor; c) Receber autorização da Diretoria de Recurso Humano, Regional de Ensino e Diretoria do Desporto Escolar para efetivar a lotação no CID PARAOLÍMPICO. d) A lotação do professor será no Centro de Ensino Especial, Sala de Recursos ou em Itinerância, ficando a critério da DRE-DIDESC-DEE o direcionamento da lotação; e) São assegurados aos professores do programa, os mesmos direitos, deveres e vantagens dos professores em regência de ensino especial de acordo com legislação vigente da SEEDF. f) O professor ao solicitar desligamento do programa deverá apresentar todos os relatórios à Regional de Ensino e Coordenação Geral, bem como deverá repassar todas as informações administrativas e pedagógicas ao professor que irá substituí-lo; g) O professor para solicitar o desligamento do núcleo deverá indicar para seu lugar, outro professor que esteja liberado pela Regional de Ensino para assumir o CID PARAOLÍMPICO. 5.2 – Atribuições do Professor do CID PARAOLÍMPICO a) Fazer contatos com escolas, entidades sociais, hospitais, postos de saúde e comunidade em geral para apresentação, divulgação visando o cadastramento de pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico para compor a equipe do CID PARAOLÍMPICO; b) Efetuar o cadastro do interessado em participar do CID PARAOLÍMPICO; c) Realizar as avaliações funcionais dos integrantes do CID PARAOLÍMPICO; d) Definir se a pessoa encaminhada para o CID PARAOLÍMPICO, encontra-se dentro do perfil do Núcleo; e) Buscar, junto à comunidade, espaços públicos ou particulares para o desenvolvimento das atividades do CID PARAOLÍMPICO; f) Participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, avaliação, supervisão, coordenação e capacitação promovidos pelo executor; 127 g) Executar as tarefas pedagógicas e administrativas que lhe são inerentes; h) Ajustar a programação desenvolvida às necessidades e às características do participante e executor; i) Desenvolver as atividades em consonância com a ficha de análise do CID PARAOLÍMPICO e indicação médica; j) Registrar as atividades nos documentos específicos do CID PARAOLÍMPICO; k) Promover palestras, cursos de capacitação e orientar os professores de educação física do ensino fundamental e médio para o atendimento da pessoa com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico; l) Colaborar, Orientar e participar nos eventos de Atividade Física e Esporte Adaptado promovidos pela Regional de Ensino e DIDESC; m) Fazer representar com seus alunos integrantes do CID PARAOLÍMPICO, nos eventos indicados pelo executor e DIDESC; n) Dentro das possibilidades criar projetos para reestruturação de espaço físico, aquisição de material, transporte dos participantes e outra ações em beneficio as pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico; o) Manter o Executor, Gestores e Regional de Ensino, semestralmente informados por meio de relatório dos atendimentos oferecidos; p) Encaminhar os alunos dos Núcleos Regionais do CID PARAOLÍMPICO para o Convênio CETEFE para representar o Distrito Federal nos Jogos Distritais, Regionais, Nacionais e Internacionais; 5.3 – Carga Horária do Professor O professor disponibilizado para o CID PARAOLÍMPICO deverá cumprir a carga horária definida pela SEEDF - DIDESC/Regional de Ensino, conforme as seguintes recomendações: a) O professor com 40 horas de carga semanal, deverá cumprir seis turnos de quatro horas de regência, devendo distribuir 3 turnos matutino e 3 turnos vespertino. b) O professor com 20 horas de carga semanal, deverá cumprir três turnos de quatro horas de regência, devendo distribuir 3 turnos matutino ou 3 turnos vespertino. c) De acordo com a disponibilidade de espaço físico, horário e modulação, principalmente para as atividades coletivas, o professor poderá adequar à regência oferecendo as atividades no turno matutino, vespertino ou noturno; 128 d) O professor em conjunto com as coordenações (DIDESC e Regional de Ensino) deverá definir três turnos (matutino ou vespertino) de quatro horas para coordenação, orientação, divulgação, atendimento ao público, avaliação, atualização dos relatórios, desenvolvimento de cursos, cadastrar os alunos, visitas nas escolas, participar de reuniões públicas ou privadas, freqüentar curso de capacitação e outras funções vinculadas ao CID PARAOLÍMPICO definidas pelo DIDESC/Regional de Ensino; e) O professor deverá assinar a folha de ponto no estabelecimento definido pela Regional de Ensino; f) Reserva a Regional de Ensino, solicitar ao professor uma declaração de presença onde estão desenvolvendo as atividades do CID PARAOLÍMPICO e visitas realizadas nos horários de coordenação; g) Para controle administrativo da carga horária de presença, o professor deverá assinar todos os dias (de segunda à sexta-feira) na folha de freqüência, com horário definido para o turno matutino, das 08:00 às 12:00 horas e para o turno vespertino, das 14:00 às 18:00 horas. O turno noturno será utilizado para acomodar algumas modalidades específicas e disponibilidade de estrutura física, adequando as normas administrativas da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal. VI – AÇÕES PEDAGÓGICAS 6.1 – Proposta Pedagógica 6.1.1 - O professor, ao desenvolver suas atividades deve considerar os limites, possibilidades, características, enfermidades e funcionalidade corporal da pessoa com deficiência, instituindo em suas ações pedagógicas diversificadas, de forma que promova a sua inclusão social, promovendo: a) Estimulação das habilidades básicas; b) Estimulação das habilidades específicas; c) Estimulação afetivo-psico-sócio-motora; d) Promoção do lazer e cultura; e) Desenvolvimento funcional corporal; f) Iniciação e aperfeiçoamento aos fundamentos esportivos; g) Treinamento esportivo; 129 6.1.2 - O atendimento oferecido pelo CID PARAOLÍMPICO, por meio da Educação Física e Esporte Adaptado é classificado como atividade complementar especializada, podendo em alguns casos substituir a Educação Física desenvolvida no ensino fundamental e médio. 6.1.3 - O programa destina às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico, com idade de 6 anos à terceira idade, oriundas das escolas regulares, ensino especial e comunidade, com indicação para: a) Esporte Educacional: De 12 à 17 anos de idade; b) Esporte de Rendimento: Acima de 14 anos de idade; c) Esporte de Participação: Idade de 6 anos à terceira idade 6.1.4 - Os Núcleos do CID PARAOLÍMPICO terão a característica de desenvolver os programas de base para desenvolvimento de atividade física e treinamento esportivo adaptado. Os alunos com destaque esportivo serão encaminhados para o Convênio SEEDF/CETEFE para compor a seleção de Brasília nos Jogos Paradesportivos (Escolar, Regional, Nacional e Internacional). 6.1.5 - O Núcleo desenvolverá ações de Atividade Física e Treinamento Esportivo Adaptado às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico de acordo com as disponibilidades de espaços, horários, equipamentos, material e demanda populacional. 6.1.6 - O Núcleo poderá ser constituído exclusivamente de uma modalidade e/ou comprometimento funcional, mediante autorização da DIDESC, sendo permitindo a existência do Núcleo dentro dos Centros de Ensino Especial, como atividade complementar de Educação Física. 6.1.7 - A modulação será definida pelo DIDESC, levando em consideração a disponibilidade do espaço físico, horário, turno, demanda de atendimento, equipamento, material adaptado, característica específica da modalidade e deficiência, tendo como referência: a) Modalidade Coletiva: Possuir no mínimo uma equipe completa da modalidade oferecida. b) Modalidade Individual: Iniciação: atuar com uma média de 05 alunos por atendimento, podendo ser individual. Aperfeiçoamento: atuar com uma média de 10 alunos por atendimento, podendo ser individual. c) Disponibilizar modalidade para todas as deficiências e gêneros de acordo com a sua disponibilidade de espaço e material. d) Dentro das disponibilidades do Núcleo a modalidade será oferecida mais de um atendimento semanal, podendo o aluno participar em mais de uma modalidade. 130 e) A carga de atividade será definida pelo professor, tendo como parâmetro a modalidade, o nível de atividade e disponibilidade do espaço físico. f) Para as atividades esportivas educacionais e rendimento serão destinadas no mínimo 20 horas semanais e no mínimo 20 horas semanais às atividades esportivas de participação. 6.2 - Propostas Administrativas Para aprovação do funcionamento do CID PARAOLÍMPICO nos pontos relacionados abaixo, a Coordenação da Regional de Ensino deverá apresentar uma proposta de execução das atividades para que ocorra um estudo da DIDESC e autorização de funcionamento. a) Atendimento do aluno no mesmo horário da grade horária escolar, onde o aluno deverá deslocar para o Núcleo do CID PARAOLÍMPICO; b) Atendimento dos alunos das oficinas dos Centros de Ensino Especial como atendimento complementar; c) Atendimento no Núcleo do CID PARAOLÍMPICO substituindo as aulas de Educação Física na escola; d) Deslocamento do professor do CID PARAOLÍMPICO no mesmo turno para atender em outra localidade; e) Escala do professor com grade horária fracionada; f) Atividade no turno noturno; g) Concentração de atividade para um grupo de comprometimento funcional e/ou modalidade; h) Atividade desenvolvida em local particular ou em entidade pública não pertencente à Secretaria de Estado de Educação; i) O professor desenvolvendo suas atividades fora na área administrativa de sua Regional; j) Envolvimento com outra entidade social; k) Implantar Núcleo Regional exclusivo de uma modalidade esportiva; l) Escola que apresenta estrutura física de treinamento esportivo, disponibilizando o professor da própria escola para funcionar um Núcleo do CID PARAOLÍMPICO; m) Criação de um Núcleo dentro do Centro de Ensino Especial como atendimento complementar. 6.3 – Beneficiário 131 O CID PARAOLÍMPICO destina-se ao atendimento às pessoas com comprometimento funcional visual, auditivo, intelectual e físico matriculados nas escolas de ensino fundamental, médio, especial, conveniadas, educação de jovens e adultos, escola técnica, sala de recurso, classes especiais e comunidade. O beneficiário deverá: a) Seguir as normas da SEEDF e Parceiros; b) Ser pontual e assíduo nas atividades programadas; c) Participar dos eventos e jogos convocados; d) Usar e divulgar adequadamente o nome e a logomarca da SEEDF e Parceiros; e) Apresentar os documentos exigidos, preencher as fichas especificas do programa e possuir os requisitos básicos para atuar no Núcleo e modalidade de interesse; f) Ter idade compatível com a modalidade oferecida e determinada pela executora. 6.4 – Calendário das Atividades a) Atividade de Regência: serão desenvolvidas de acordo com o calendário escolar da SEEDF; b) Atividade de Competição: serão desenvolvidas em consonância com o calendário de competição do GDF, Ministério do Esporte e entidades de representações Nacionais e Internacionais do Desporto Adaptado. 6.5 – Acompanhamento, Controle e Avaliação Para acompanhamento, controle e avaliação das atividades dos Núcleos serão adotados as seguintes estratégias: a) Reuniões entre o executor e professores do CID PARAOLÍMPICO; b) Visitas aos Núcleos; c) Relatório semestral entregue pelos professores dos Núcleos; d) Relatório anual entregue pelo executor ao gestor; e) Parecer anual (pedagógico e administrativo) do gestor; f) Acompanhamento direto pela Regional de Ensino e Direção da Escola. Referências 132 1. ADAMS, Ronald C., et al. (1985) Jogos, esportes e exercícios para o deficiente físico. São Paulo: Ed. Manole. 2. ARAÚJO, Luís Alberto David. (1994) A proteção constitucional das pessoas portadoras de deficiência. Brasília: CORDE. 3. BATSHAW, M. et. al. (1990) Criança com deficiência: uma orientação médica. São Paulo: Ed. Maltese. 4. BRASIL. Constituição da República do Brasil. Promulgada em 05 de outubro de 1998. 5. BRASIL. Decreto n. 3.956, de 8 de outubro de 2001. 6. BRASIL. Diretrizes e Base da Educação - Lei n. 9.394 de 20 de dezembro de 1996, Ministério da Educação. 7. BRASIL. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, Resolução CNE/CEB n. 2, de 11 de setembro de 2001, Ministério da Educação. 8. BRASIL. Lei n. 1.049 de 1969 – Atendimento Especializado na Educação Física. 9. BRASIL. Lei n. 10.328, de 12 de dezembro de 2001, A Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da Educação Básica, ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos. 10. DUARTE, Edison e LIMA, Sonia Maria Toyoshima Lima. Atividade Física para Pessoas com Necessidades Especiais: Experiências e Intervenções Pedagógicas. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2003. 11. FRONTERA, Walter R., DAWSON, Davida M., SLOVIK, David M. (2001) Exercício Físico e Reabilitação. Porto Alegre: Editora Artmed. 12. GORGATTI, Márcia Grecuol e COSTA, Roberto Fernandes. ( 2005) Atividade Física Adaptada. São Paulo: Editora Manole. 13. GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, Lei Orgânica do Distrito Federal. Promulgada em 1993. 14. MORENO, Garcia. Síndrome de Down um Problema Maravilhoso. Brasília: Ed. Cor Graf, 2004. 15. OLIVEIRA, Marcos Aurélio Brazão, NÓBREGA, Antonio Cláudio Lucas. (2003) Tópicos Especiais em Medicina do Esporte. São Paulo: Editora Atheneu. 133 16.SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão Construindo uma Sociedade para Todos. Rio de Janeiro: Ed. WVA, 1997. 17. WINNICK, Joseph P. Educação Física e Esportes Adaptados, São Paulo: Ed. Manole, 2004. 134 ANEXO-B GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DO DISTRITO FEDERAL DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA DIVISÃO DE ENSINO ESPECIAL CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTO ESCOLAR PRO-PNE PROGRAMA DE REEDUCAÇÃO E ORIENTAÇÃO ÀS PESSOAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS 135 APRESENTAÇÃO O PRO-PNE, programa da Gerência do Desporto Escolar – GEDESC e da Direção de Ensino Especial da Subsecretaria de Educação Pública da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal, propõe um atendimento especializado em Educação Física Adaptada a pessoas com necessidades educacionais especiais, baseado no artigo 208, item III da Constituição Federativa do Brasil, que determina o “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência preferencialmente na rede regular de ensino”, no Decreto Lei nº 1.044 de 21/10/69, que dispõe sobre o atendimento especializado para os alunos com necessidades especiais, no Regimento da Administração Central da Fundação Educacional do Distrito Federal, Decreto nº 12.488/91 – GDF – 1990, Título I, artigo 1º item V que assegura a “oferta de Educação adequada aos Portadores de Necessidades Especiais” e na LDB, que destaca o papel da Educação para todos, enfocando a inclusão do aluno com necessidades especiais. Mediante convênios e instrumento legais firmados com associações, entidades, clubes e órgãos públicos e privados, o programa procura desenvolver atividades de Educação Física Adaptada direcionadas às pessoas com de necessidades especiais e terceira idade dando-lhes oportunidades de desenvolver seu potencial, de optar pela atividade de sua preferência, de se integrar melhor à sociedade e ainda de adequar seus objetivos ao que lhe é oferecido. Assim sendo, pretende-se dar continuidade e ampliar as atividades para as pessoas com Necessidades Especiais, como também criar novas modalidades com um maior leque de opções visando a atender a uma variada gama de pessoas, a abranger diferentes faixas etárias e necessidades, através de atividades recreativas, esportivas e culturais, bem como, participações e apresentações em eventos junto à comunidade. OBJETIVO PRO-PNE é uma programa que tem por objetivo oferecer uma prática regular de Educação Física Adaptada às Pessoas com Necessidades Especiais do Distrito Federal. 136 CLIENTELA Pessoas com Deficiência Mental, Física, Visual e Auditiva Pessoas com condutas típicas e altas habilidades/superdotados Pessoas da terceira idade Pessoas com obesidade Pessoas com diabetes, asma, cardiopatia e outros comprometimentos orgânicos FAIXA ETÁRIA A partir de 7 anos de idade MODALIDADES/ATIVIDADES OFERECIDAS Atletismo Capoeira Expressão Corporal Futsal Ginástica Rítmica Desportiva Handebol Hockey sobre piso Musculação Tênis de Mesa Voleibol Condicionamento Físico Estimulação Funcional Basquetebol Dança Futebol Ginástica Artística Goal Ball Judô Karatê Natação Tênis de Quadra Xadrez Atividades recreativas e sociais 137 DISTRIBUIÇÃO DOS MÓDULOS DE ATENDIMENTO Módulo Central Centro de Educação Física e Desporto Escolar – CEFDE 907/908 sul (atrás do Colégio Elefante Branco) Fone: 244-8885 ramal 26 Fax: 443-1921 Módulos Regionais (em fase de implantação) Brazlândia Cruzeiro Guará Paranoá Recanto das Emas Samambaia São Sebastião Taguatinga Ceilândia Gama Núcleo Bandeirante Planaltina Riacho Fundo Santa Maria Sobradinho ATENDIMENTOS REALIZADOS PELO PRO-PNE EM 1999 NÚMERO DE ALUNOS Natação/Hidroestimulação 160 Goal Ball 20 Futsal para deficientes visuais 20 Atletismo 21 Musculação 42 Ginástica Rítmica Desportiva 19 Basquetebol em cadeira de rodas 15 Judô 03 Capoeira 02 Karatê 01 Total de alunos 303 Os alunos do PRO-PNE participaram, no ano de 1999, dos XXXIX Jogos Escolares do Distrito Federal, além de competições Regionais, Nacionais e Internacionais nas seguintes modalidades: MODALIDADE 138 Goal Ball Futsal para cegos Basquetebol em cadeira de rodas Futebol para amputados Natação Atletismo RECURSOS HUMANOS Os professores de Educação Física que atuarão nos Núcleos de atendimento serão cedidos pela Fundação Educacional do Distrito Federal.