[ caso clínico ] Variação anatômica de primeiro molar inferior e a importância de uma descontaminação efetiva Conclusão O conhecimento da anatomia do sistema de canais radiculares dos primeiros molares inferiores, aliado a uma instrumentação eficaz e uma obturação hermética e tridimensional vedando áreas de possível retenção de microrganismos, como a região de istmo, são fatores essenciais para se atingir o sucesso do tratamento endodôntico. Além disso, a utilização de elementos que agreguem valor ao diagnóstico, como o microscópio operatório, podem auxiliar grandemente para o sucesso. que houve um total preenchimento com material obturador dos três canais radiculares tornando-se um único canal na imagem radiográfica (Fig. 4, 5). Esse fato pode ser explicado pela presença de um istmo entre os canais radiculares, mostrando a importância de se realizar uma limpeza eficaz e posterior obturação hermética e tridimensional do sistema de canais. Isso permite que o material obturador vede aquelas regiões que não puderam ser tocadas pelos instrumentos endodônticos durante o preparo químico-mecânico. Referências 1. Fabra-Campos H. Three canals in the mesial root of mandibular first permanent molars: a clinical study. Int Endod J. 1989 Jan;22(1):39-43. 2. Ingle JI, Beveridge EE, Glick DH, Weichman JA. Modern endodontic therapy. In: Ingle JI, Beveridge EE, editors. Endodontics. 2nd ed. Philadelphia (PA): Lea & Febiger; 1976. p. 1-57. 3. Chen G, Yao H, Tong C. Investigation of the root canal configuration of mandibular first molars in a Taiwan Chinese population. Int Endod J. 2009 Nov;42(11):1044-9. 4. Vertucci FJ. Root canal morphology and its relationship to endodontic procedures. Endodontic Topics. 2005 Mar;10(1):3-29. 5. Fachin EVF, Scarparo RK, Bassegio GB. Presence of three canals in the mesial root of a mandibular first molar: a case report. J Dent Science. 2009;24:97-9. 6. Song JS, Kim SO, Choi BJ, Choi HJ, Son HK, Lee JH. 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J Endod. 2000 Sep;26(9):532-4. 32 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):28-32 artigo original Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do tratamento endodôntico em uma população brasileira João Eduardo GOMES-FILHO1 Luciano Tavares Angelo Cintra1 Mauro Juvenal Nery1 Roberto Holland2 Valdir de souza2 Pedro Felício Estrada Bernabé2 José Arlindo Otoboni Filho1 Elói Dezan Júnior1 Marianne Di Paula3 Camile Marques Gonçalves3 Carolina Simonetti Lodi3 Resumo realizado pelos estudantes de graduação foi de 87,7%. Quando o tratamento foi adequado (43 casos), o percentual de sucesso foi de 90,69% (39 casos), enquanto para os tratamentos inadequados (14 casos), o percentual de sucesso foi de 78,57% (11 casos), sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na taxa de sucesso relacionada ao sexo (p>0,05). A condição pulpar também não interferiu na taxa de sucesso (p>0,05). Conclusão: concluiu-se que o tratamento endodôntico foi satisfatório e alcançou uma taxa de sucesso adequada, em torno de 90% dos casos. Objetivo: esta investigação tem como objetivo avaliar a prevalência de periodontite apical detectada na radiografia periapical e a relação entre a doença e a qualidade da obturação de canais radiculares realizada por estudantes de graduação. Métodos: foi investigada uma amostra aleatória de 131 prontuários de pacientes que haviam recebido tratamento do canal radicular na Faculdade de Odontologia de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista. Realizou-se anamnese, radiografias e exame clínico quanto à sintomatologia dolorosa, presença e qualidade da restauração, bolsa periodontal, mobilidade dentária e trauma oclusal. Resultados: a porcentagem de sucesso obtido com o tratamento Palavras-chave: Proservação. Taxa de sucesso. Obturação. Educação. Como citar este artigo: Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi CS. Radiographic evaluation of root canal treatment technical quality in a Brazilian population. Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7. » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Recebido: 8/11/2011. Aceito: 15/11/2011. 1 Professor associado, Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de AraçatubaUnesp. 2 Professor titular, Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de AraçatubaUnesp. 3 Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp. © 2012 Dental Press Endodontics Endereço para correspondência: João Eduardo Gomes-Filho Faculdade de Odontologia de Araçatuba/Unesp, Departamento de Endodontia Rua José Bonifácio, 1193 – 16015-050 – Araçatuba/SP E-mail: [email protected] 33 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7 [ artigo original ] Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do tratamento endodôntico em uma população brasileira Introdução A periodontite apical é diagnosticada por critérios clínicos e radiográficos. Sinais clínicos como dor, inchaço, sensibilidade e formação de fístula ocorrem em graus variados e são apenas moderadamente específicos1. Outros marcadores como saliva e amostras de sangue para diagnóstico não são úteis. A interpretação radiográfica é, portanto, o primeiro critério para o diagnóstico de periodontite apical2 e tem sido usada principalmente para atingir essa avaliação3,4. Helminen et al.5 mostraram que o sucesso, ou o prognóstico, do tratamento de canal depende da qualidade técnica da obturação. Levantamentos epidemiológicos indicam obturações dos canais radiculares tecnicamente satisfatórias em 42 a 90% dos casos3,6,7. Numerosos estudos têm mostrado uma alta porcentagem de dentes obturados inadequadamente e com periodontite apical concomitante3,8. Pesquisas de ensino endodôntico sugerem que o tempo dedicado ao estudo da Endodontia no Reino Unido é limitado, especialmente em relação ao tempo gasto em laboratórios pré-clínicos e no desenvolvimento de habilidades práticas9,10,11. Além disso, a qualidade do ensino por especialistas pode ajudar a atingir a excelência na formação11. Nas escolas brasileiras oficiais de Odontologia, como a Faculdade de Odontologia de Araçatuba, o ensino da Endodontia é realizado por especialistas doutores, que são selecionados por um concurso público. Os estudantes têm de completar um curso prático em Odontologia conservadora antes de progredirem para a prática clínica. O ensino pré-clínico em Endodontia envolve 16 horas de aulas teóricas e 64 horas de exercícios práticos pré-clínicos durante o primeiro semestre do quarto ano e atividades clínicas durante o segundo semestre desse ano escolar. Portanto, essa investigação tem como objetivo avaliar a prevalência de periodontite apical detectada a partir de radiografias periapicais e a relação entre a doença e a qualidade da obturação realizada por estudantes de graduação. Registros que não incluíam radiografias periapicais pré e pós-operatórias, aqueles em que o tratamento do canal radicular (TCR) não tinha sido concluído ou aqueles cuja qualidade radiográfica era pobre também foram excluídos. A amostra final consistiu de 185 obturações radiculares em 121 pacientes, considerando-se que um mesmo paciente teve mais de um dente tratado e registrado no mesmo prontuário. Todos os ensaios clínicos randomizados foram realizados pelos alunos do terceiro ano de graduação (duas classes consecutivas) usando a técnica crown-down de preparo do canal e a técnica de condensação lateral para obturação dos canais radiculares com guta-percha e cimento Sealapex (Sybron Endo, Glendora, EUA). A técnica de instrumentação consistiu de uma ampliação inicial do terço coronário com ampliador manual (Dentsply Maillefer, EUA), seguido de brocas Gates-Glidden na sequência 3, 2 e 1 (Dentsply Maillefer, EUA), determinação do comprimento de trabalho (1mm aquém do ápice radiográfico), preparo apical com limas tipo K (Dentsply Maillefer, EUA) e preparação step-back anatômica com limas Hedström (Dentsply Maillefer, EUA). Curativo de hidróxido de cálcio foi utilizado em todos os casos de necrose pulpar ou em casos de mais de uma sessão de tratamento de polpas vitais. Se complicações como perfurações laterais ou de furca, instrumentos fraturados, etc. fossem determinadas, a obturação era considerada como inadequada. Todos os pacientes foram chamados, mas apenas 41 retornaram para avaliação de controle, perfazendo um total de 57 dentes avaliados no ano de 2009. Nesse momento as avaliações clínicas e radiográficas foram realizadas. Clinicamente, foram realizados: anamnese e exame clínico para avaliar a sintomatologia dolorosa, presença e qualidade da restauração, bolsa periodontal, mobilidade dentária e trauma oclusal. Radiografias periapicais também foram realizadas com filme Kodak Ektaspeed exposto por 0,5s em equipamento de raios X (Dabi Atlante, Ribeirão Preto/SP), calibrado com 8mA e 80kV — para observar a presença de periodontite apical e sua relação com a qualidade da obturação radicular. Dois examinadores avaliaram as radiografias com uma fonte de luz em uma sala escura usando ampliação de 2x. Registrou-se a periodontite apical como presente na radiografia periapical se o Índice Periapical12 para a lesão fosse superior a 3 (pontuação de 1-5 crescente Material e Métodos Foi investigada uma amostra aleatória de 131 prontuários de pacientes que receberam tratamento endodôntico na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp entre os anos de 2000 e 2001. Foram excluídos prontuários de pacientes com idade inferior a 19 anos. © 2012 Dental Press Endodontics 34 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7 Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi CS tratamento realizado por estudantes de graduação foi de 87,7%. A Tabela 2 mostra a distribuição dos pacientes por faixa etária. A idade mais prevalente estava entre 51 e 60 anos (13 casos). A Tabela 3 mostra a prevalência do tipo e posição de dente (Classificação FDI) para o tratamento, sendo os dentes mais prevalentes o 21 (6 casos) e o 22 (6 casos). A Tabela 4 mostra a porcentagem de sucesso relacionado com a qualidade do tratamento endodôntico. Quando o tratamento foi adequado (43 casos), o percentual de sucesso foi de 90,69% (39 casos), enquanto para os tratamentos inadequados (14 casos) o percentual de sucesso foi de 78,57% (11 casos), sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na taxa de sucesso com relação ao sexo (p>0,05) (Tab. 5). A condição da polpa também não interferiu na taxa de sucesso do tratamento endodôntico realizado por alunos de graduação (p>0,05) (Tab. 6). conforme o tamanho e a severidade) (Tab. 1). A calibração dos dois examinadores foi realizada utilizando-se 15 radiografias periapicais, repetida duas vezes. Dentes multirradiculares foram classificados de acordo com a raiz com a pontuação mais grave. As obturações radiculares foram classificadas como adequadas ou inadequadas (Tab. 1). Os canais radiculares eram considerados como bem obturados quando não havia bolhas visíveis e estivessem a não menos que 2mm do ápice radiográfico. O tratamento era considerado inadequado quando estava sobreobturado, subobturado ou mal condensado. A significância estatística foi avaliada pelo teste do qui-quadrado; valores de p inferiores a 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Resultados Nenhum paciente apresentou dor, nem alteração dos tecidos moles em relação ao volume, à cor ou textura. A porcentagem de sucesso obtido com o Tabela 1. PAI (índice periapical)12. Itens Condição periapical Critério Critério agrupado 1- periodonto apical normal 2- alteração da estrutura óssea indicando sinal, não patognomônico, de lesão apical 3- alteração da estrutura óssea com alguma perda mineral característica da periodontite apical 4- radioluminescência bem definida 5- radioluminescência com expansões irradiantes das mudanças da estrutura óssea Qualidade do selamento 1- selamento adequado (sem bolhas laterais ou apicais) 2- selamento inadequado (bolhas laterais ou apicais visíveis ou lúmen do canal no terço apical da raiz) Distância da obturação ao ápice 1- obturação terminando a 2mm ou menos do ápice radiográfico 2- obturação terminando a mais de 2mm do ápice radiográfico 3- sobreobturação; material obturador visível na área periapical 1 e 2 – condição periapical normal 3, 4 e 5 – periodontite apical Tabela 2. Variação de idade dos pacientes. Idade (anos) 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-80 n 4 10 10 13 3 1 % 9,75 24,39 24,39 31,70 7,31 2,43 © 2012 Dental Press Endodontics 35 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7 [ artigo original ] Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do tratamento endodôntico em uma população brasileira Tabela 3. Prevalência do tipo e posição do dente (classificação FDI) para o tratamento. Maxila 17 16 15 14 13 12 11 21 22 23 24 25 26 27 Total n 0 1 3 3 2 4 4 6 6 3 3 2 2 0 39 % 0 1,75 5,26 5,26 3,50 7,01 7,01 10,52 10,52 5,26 5,26 3,50 3,50 0 68,42 Mandíbula 47 46 45 44 43 42 41 31 32 33 34 35 36 37 Total n 2 2 4 3 1 0 0 0 0 0 1 2 1 2 18 % 3,50 3,50 7,01 5,26 1,75 0 0 0 0 0 1,75 3,50 1,75 3,50 31,58 e a variabilidade interobservadores é maior ao analisar esse tipo de radiografias13, optou-se por usar radiografias periapicais nesse estudo. Os critérios radiográficos utilizados para avaliar a qualidade do tratamento de canal foram os mesmos usados por Orstavik et al.12 (índice periapical). Esse índice considera como sucesso a espessura do ligamento periodontal apical igual ao dobro daquela observada no ligamento periodontal lateral e já foi usado em vários outros estudos14,15,16. Obturações com características ideais relacionadas ao limite apical, conicidade e preenchimento são desejadas para se alcançar o sucesso endodôntico17-20. No presente estudo o percentual de tratamento adequado do canal radicular foi de 75,4%. Embora seja difícil comparar esses resultados com os de outros estudos, a percentagem de obturações radiculares com comprimento adequado foi superior quando comparada à relatada em estudos anteriores, que mostraram 31,2%20, 48,9%15, 34,8%21 e 47,4%17. Essas diferenças podem ser devidas ao fato de que estudantes de Odontologia realizam várias radiografias durante o tratamento endodôntico a fim de obter o correto comprimento de trabalho, bem como à supervisão constante dos professores orientando os alunos a concluir o tratamento apenas quando a radiografia periapical mostra qualidade aceitável. Além disso, a padronização da técnica operatória pode ter diminuído a variabilidade interprofessores relacionada com a filosofia de trabalho, materiais e medicamentos. Kerekes e Tronstad22 relataram redução das sobressaturações de 24% para 3% após a padronização da técnica operatória e a frequência de obturações adequadas passou de 78% para 97%, assim como a taxa de sucesso passou de 82% para 91%, o que contribui para explicar a taxa de sucesso ao redor de 87% observada no presente estudo. Outro ponto a ser considerado é o tempo despendido na formação pré-clínica e clínica. Na Universidade de Cork (Irlanda), o curso pré-clínico ocorre no terceiro Tabela 4. Prevalência do sucesso relacionado à qualidade do tratamento endodôntico. Qualidade do tratamento endodôntico Total Sucesso (n) Sucesso (%) adequada 43 39 90,69 inadequada 14 11 78,57 Total 57 50 87,71 *Estatisticamente significativo. Tabela 5. Prevalência do sucesso relacionado ao sexo. Sexo Total Sucesso (n) Sucesso (%) Feminino 38 34 89,47 Masculino 19 16 84,21 *Estatisticamente significativo. Tabela 6. Prevalência da taxa de sucesso relacionado à condição pulpar. Condição pulpar Total Sucesso (n) Sucesso (%) vital 19 17 89,47 não vital 38 33 86,84 Total 57 50 87,71 *Estatisticamente significativo. Discussão Os dados utilizados nesse estudo consistiram de uma amostra de radiografias periapicais dos pacientes que receberam tratamento endodôntico na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp, em Araçatuba, São Paulo, Brasil. Todas as radiografias periapicais utilizadas nesse estudo foram realizadas durante a rotina de procedimentos do tratamento endodôntico, dentro de uma prática realizada por estudante de Odontologia, mas as radiografias periapicais de acompanhamento foram tomadas especialmente para esse estudo. Como as radiografias panorâmicas não revelam detalhes importantes © 2012 Dental Press Endodontics 36 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7 Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi CS ano e tem duas aulas de uma hora cada, e 48 horas com atividades pré-clínicas e revisão de literatura. Na Inglaterra, os alunos têm oito aulas teóricas e 24 horas de aulas práticas9. Há diferença na quantidade de atividades pré-clínicas23 na Europa Oriental (16h), Inglaterra (24h), América do Norte (41h), Turquia (56h) e Escandinávia (66h). Na Faculdade de Odontologia de Araçatuba, os alunos têm 80 horas de atividades pré-clínicas e mais 80 horas de atividades clínicas com professores doutores. O nível dos professores ao redor do mundo não é o mesmo. O currículo de Endodontia das Universidades na Inglaterra mostra nas atividades clínicas uma falta de professores com nível pelo menos de especialista9,10,23. A técnica de instrumentação utilizada pelos alunos também pode ter contribuído para os resultados, a qual, após correto treinamento, pode facilmente ser utilizada em canais radiculares retos ou curvos. No entanto, algumas melhorias poderiam ser feitas para alcançar maior taxa de sucesso, como reduzir as proporções de 10:1 alunos/professor nas aulas práticas e 80:1 em aulas teóricas. Além disso, a real competência do cirurgião-dentista clínico geral poderia ser voltada para que se concentrasse nos conceitos mais importantes e fundamentais e em treinamento, investindo em softwares didáticos e equipamentos, na modernização dos laboratórios pré-clínicos e sistemas de avaliação de aprendizagem. Com base nos resultados encontrados, concluiu-se que o tratamento realizado pelos alunos de graduação da Faculdade de Odontologia de Araçatuba foi satisfatório e alcançou uma adequada taxa de sucesso. Referências 1. Hyman JJ, Cohen ME. The predictive value of endodontic diagnostic tests. Oral Surg Oral Med Oral Pathol. 1984;58(3):343-6. 2. Recommendations for clinical research protocols for dental materials. Federation Dentaire Internationale, Commission on Dental Products. Int Dent J. 1982;32(4):403-23. 3. Buckley M, Spångberg LS. The prevalence and technical quality of endodontic treatment in an American subpopulation. 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Edgar Valdivia Cardenas1 Enrique Hair Salas Beltrán2 Felipe Hernández Añaños3 Resumo relato de caso clínico é apresentar um tratamento conservador para estabilizar e criar condições restauráveis para dois incisivos inferiores, nos quais foram implantados dois estabilizadores endodônticos intraósseos de níquel-titânio confeccionados a partir de limas endodônticas com a finalidade de restabelecer sua função no sistema dentário. Introdução: os implantes endodônticos são considerados uma extensão metálica intraóssea radicular de um dente. São indicados especialmente para estabilizar elementos dentários. Assim sendo, são considerados um artifício final para aumentar de forma artificial o comprimento radicular com a finalidade que o dente afetado possa suportar seu próprio dinamismo e função. Objetivo: o objetivo desse Palavras-chave: Implante dentário endo-ósseo endodôntico. Níquel. Titânio. Tratamento do canal radicular. Como citar este artigo: Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH. Nickeltitanium endodontic endosseous implants. Dental Press Endod. 2012 JanMar;2(1):38-41. 1 Pós-graduado em Endodontia, Universidad Católica San Pablo, Peru. Aluno do curso de especialização em Endodontia, HGeSP. 2 Especialista em Endodontia, USP. Mestre em Ciências da Saúde, Universidad Nacional de San Agustín, Arequipa, Peru. Doutor em Educação Superior, Universidad Católica de Santa María, Arequipa, Peru. Professor de Endodontia de pré e pós-graduação, Universidad Católica de Santa María, Arequipa, Peru. 3 Especialista, Mestre e Doutor em Endodontia, Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru. Professor de Endodontia, Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru. © 2012 Dental Press Endodontics » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Recebido: 08/12/2011. Aceito: 24/01/2012. Endereço para correspondência: José Edgar Valdivia Cardenas Rua Caio Prado, 340 – Consolação – São Paulo/SP – 01.303-000 E-mail: [email protected] 38 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41 Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH Introdução A Implantologia tem hoje grande abrangência no campo da Odontologia. Isso deixou para trás certos tratamentos conservadores, considerados alternativas viáveis para manter dentes naturais no sistema dentário. Um desses tratamentos conservadores são os implantes endodônticos intraósseos (IE), ou estabilizadores endodônticos, introduzidos em 1943 por Bernier com o objetivo de aumentar o comprimento radicular em dentes com raízes curtas e, principalmente, para estabilizar dentes afetados com doença periodontal e prolongar a permanência desses dentes1,2. Como acontece com qualquer ato cirúrgico, o diagnóstico e perfil de tratamento são determinantes fundamentais para o sucesso do implante endodôntico. O implante endodôntico é um pino metálico que é implantado através do conduto radicular e se prolonga até o tecido ósseo, com a finalidade de aumentar a proporção coronorradicular, dando sustentação ao dente e restabelecendo sua função2. Há relatos clínicos indicando que dentes portadores de implantes endodônticos podem ser usados como pilares de próteses3. A maioria dos autores recomendava o uso de implantes endodônticos de cromo-cobalto-molibdênio (Vitallium), que é bem tolerado clínica e histologicamente pelo organismo, fato pelo qual a ausência de toxicidade foi totalmente demonstrada1,4,5. Goldberg6 observou, em um estudo histológico, a formação de uma membrana periodontal um “pseudo periodonto” ao redor do implante de cromo-cobalto, demonstrando a biocompatibilidade desse metal com os tecidos periapicais. Porém, concluiu-se que o Vitallium não é um metal inerte, pois sua corrosão provocava resposta inflamatória reversível. Posteriormente, foi gradualmente substituído pela liga de titânio puro, com resultados excelentes2,5,7, com osseointegração observada tanto clínica quanto histologicamente por vários autores (considerando o titânio um metal biocompatível)4,5,8,9. Embora devamos lembrar que nenhum dispositivo artificial substitui a obra da natureza, o IE é uma alternativa conservadora que nos permite reconsiderar a extração de dentes com problemas de estabilidade15 ou doença periodontal1,8. Peru) foi avaliado clínica e radiograficamente, e encaminhado ao setor de prótese fixa. Após ser avaliado, foi encaminhado ao setor de Cirurgia Bucomaxilofacial para extração dos elementos 31 e 32. O paciente não estava de acordo com a extração, sendo, então, encaminhado ao setor de Endodontia (Fig. 1). No exame clínico do elemento 32, o elemento encontrava-se exposto ao meio bucal. Foi diagnosticado grau de mobilidade II com presença de fístula vestibular. No exame radiográfico, observou-se rarefação apical e foi diagnosticado um quadro de periodontite apical crônica. Ao exame clínico do elemento 31, observou-se que se encontrava exposto ao meio bucal. Foi diagnosticado grau de mobilidade I com presença de fístula vestibular. Com o exame radiográfico, observou-se presença de tratamento endodôntico e rarefação apical. Foi diagnosticado um quadro de periodontite apical crônica. Optou-se por se realizar implantes endodônticos para estabilizar esses elementos dentários e criar condições para, depois, serem restaurados proteticamente. Executou-se a mensuração da odontometria e osteometria, tendo em conta o eixo vertical dos elementos. O procedimento padrão endodôntico foi realizado na seguinte ordem: aplicação da anestesia local, isolamento do campo operatório, cirurgia de acesso, preparo químico-cirúrgico sob condições assépticas, limpeza e modelagem do canal com sistema de limas rotatórias de níquel-titânio ProTaper Universal (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça). Foi realizada a medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio Calen (S.S. White, Rio de Janeiro, RJ). Antes de se começar o procedimento endocirúrgico intraósseo, levou-se em conta o eixo de inclinação dos dentes com relação coroa-raiz-mandíbula. Foi realizada osteometria prévia e seleção dos IEs: para o incisivo lateral, uma osteometria de 12mm e para o incisivo central inferior, de 11mm. Iniciou-se, assim, a preparação endocirúrgica intraóssea. Para isso, usou-se um motor endodôntico X-Smart (Dentsply Maillefer) com uma velocidade de 600rpm e torque de 5N/cm e o mesmo sistema de limas rotatórias usadas anteriormente. A preparação do leito ósseo só cessou quando se chegou até a osteometria calculada. O canal e leito ósseo foram irrigados continuamente com digluconato de clorexidina a 0,12% (Laboratórios Kin S.A., Barcelona, Espanha) e soro fisiológico. Uma vez que a preparação no osso alveolar foi concluída, foram implantados os estabilizadores endodônticos previamente Relato de caso Paciente do sexo masculino, 25 anos de idade, apresentou-se à clínica odontológica da FO-UCSM (Arequipa, © 2012 Dental Press Endodontics 39 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41 [ caso clínico ] Implantes endodônticos intraósseos de NiTi confeccionados a partir de limas NiTi. Para o elemento 32 foi implantada uma lima ProTaper F-5 (Dentsply Maillefer), e para o elemento 31, uma lima Profile 40, taper 0,06 (Dentsply Maillefer). Previamente, antes da implantação do estabilizador, foi realizada um irrigação profusa na área e, posteriormente, os condutos foram secos com cones de papel estéreis. Em seguida, o implante foi cimentado com cimento endodôntico Apexit (Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein), impedindo o contato excessivo do cimento com a ponta do implante que teria contato com o osso alveolar. A cavidade de acesso foi selada com ionômero de reconstrução e resina composta micro-híbrida (FGM) (Fig. 2). O paciente foi regularmente avaliado pós-implantação para controle do caso. Decorridos 16 meses, a avaliação clínica mostrou sondagem periodontal normal entre os limites, ausência de mobilidade dentária e doença periodontal. À avaliação radiográfica, observou-se reparação óssea apical. A radioluscência apical limitada sugere uma cicatrização apical e biocompatibilidade do implante com o tecido ósseo (Fig. 3). Figura 1. Radiografia periapical pré-operatória dos incisivos inferiores. Figura 2. Radiografia periapical pós-operatória. Observe os implantes endodônticos intraósseos implantados. Figura 3. Proservação radiográfica após 16 meses da estabilização dos elementos 31 e 32. © 2012 Dental Press Endodontics 40 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41 Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH Discussão Sumi et al.2 e Nevins et al.3 sugeriram que a liga de cromo-cobalto-molibdênio é biologicamente tolerada pelo organismo. Alguns autores afirmam que os dentes portadores de IE podem ser usados como pilares para diferentes tipos de próteses3-10. Embora os implantes de cromo-cobalto tenham se revelado inertes, apesar de provocarem uma inflamação crônica de baixa intensidade, alguns pesquisadores sugeriram a utilização de implantes de titânio devido à sua baixa corrosão e alta biocompatibilidade com os tecidos periapicais4. Decidimos substituir os implantes endodônticos de cromo-cobalto-molibdênio pelos confeccionados a partir de limas endodônticas de níquel-titânio, as quais têm obtido êxito devido à sua biocompatibilidade11,12 e osseointegração radiograficamente constatada. Assad et al.12 afirmam que ligas de níquel-titânio podem ser usadas frequentemente como materiais cirúrgicos12. Cranin et al.13, após uma avaliação de 952 implantes endodônticos, constatou que 91% foram bem-sucedidos. Concluímos que os implantes endodônticos de NiTi podem alcançar taxa de êxito semelhante. No entanto, até hoje não há estudos científicos que sustentem essa afirmação. Por todas essas razões, Feldman e Feldman14 mostraram que os implantes endodônticos devem ser considerados como uma alternativa conservadora viável no plano de tratamento. Os implantes endodônticos são considerados um tratamento conservador para restabelecer a função e preservar dentes naturais que estão destinados ao aparente insucesso clínico ou extração. Na implantologia endodôntica, se houve um diagnóstico clínico e radiográfico preciso, uma correta seleção do implante endodôntico e uma técnica adequada, o IE irá proporcionar segurança e sucesso. Ao mesmo tempo, é importante saber que o uso indiscriminado desses tipos de implantes, sem uma apurada seleção de casos (excessivo grau de mobilidade dentária, doença periodontal severa, radioluscência ao redor do implante), leva ao fracasso do tratamento. O implante endodôntico deve ser divulgado na área odontológica e ser usado com mais frequência. Com a seleção cuidadosa de casos, os implantes endodônticos intraósseos são seguros e eficazes. Referências 1. Ritaco AA. Implantes Endodónticos Intraoseos. 2nd ed. Buenos Aires (AR): Editorial Mundi; 1979. 2. Sumi Y, Mitsudo K, Ueda M. Conservation of severely traumatized teeth using endodontic-implant: A case report. J Oral Maxillofac Surg. 1998 Feb;56(2):240-2. 3. Nevins ML, Gartner-Sekler JL. Periodontal implant and prosthetic treatment for advanced periodontal diseases. Compend Contin Educ Dent. 1997 May;18(5):469-74, 476, 478-9; quiz 480. 4. Pereira FR, Brawuel JD, Roahen JO, Giambarresi L. 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O fragmento fraturado foi removido através do uso do ultrassom CVDent 1000 com a ponta T0S-E1. A broca fraturada foi removida e o tratamento concluído com sucesso. Ao controle radiográfico de um ano, os tecidos periapicais apresentavam-se com aspecto de normalidade. Conclusão: de acordo com o presente caso clínico, pode-se dizer que as brocas Gates Glidden podem fraturar de forma incomum, o que dificulta muito sua remoção, por isso deve-se sempre respeitar sua dinâmica de uso. Introdução: a broca Gates Glidden, utilizada para o preparo das regiões cervical e média dos canais radiculares, apresenta um ponto frágil em sua haste, distante da ponta ativa, onde normalmente ocorre fratura, o que facilita sua remoção. Objetivo: apresentar um caso clínico de fratura da broca Gates Glidden próxima de sua ponta ativa, local incomum de fratura nesse instrumento. Caso clínico: paciente de 21 anos de idade foi submetido ao tratamento endodôntico do dente 37. Durante o preparo do terço cervical e médio dos canais, houve fratura da ponta ativa da broca de Gates Glidden, ficando retida no terço médio Palavras-chave: Endodontia. Tratamento do canal radicular. Zona de fratura. Como citar este artigo: Victorino FR, Fernandes R. Uncommon fractures of Gates Glidden drill. Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5. » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Recebido: 16/12/2012. Aceito: 17/01/2012. 1 Professor da disciplina de Endodontia, CESUMAR. Professor da Pós-graduação em Endodontia, CESUMAR. Endereço para correspondência: Fausto Rodrigo Victorino Rua Formosa, 489 – Centro – Marialva/PR – 86.990-000 E-mail: [email protected] Especialista em Endodontia, CESUMAR. Mestranda em Promoção da Saúde, CESUMAR. 2 © 2012 Dental Press Endodontics 42 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5 Victorino FR, Fernandes R Introdução Durante o tratamento endodôntico, na fase do preparo químico-mecânico do canal radicular, o clínico pode se deparar com dificuldades relacionadas à anatomia do sistema de canais que podem levar a acidentes de procedimento técnico. Um desses acidentes, que às vezes foge ao controle do operador e que pode comprometer o sucesso do tratamento, é a fratura de instrumento no interior do canal radicular. Ao utilizar os instrumentos endodônticos, os mesmos são submetidos a estados de tensão e deformação que podem exceder a capacidade de sua resistência e vir a se fraturar. Essa fratura pode ser resultada da aplicação de cargas lentas, como flexão e torção, pela fadiga do instrumento e ainda por cargas de baixa intensidade atuando por tempo prolongado¹. Defeitos de acabamento superficial do instrumento decorrentes do processo de fabricação, principalmente durante o processo de usinagem, também são fatores importantes para a ocorrência de fratura, pois são concentradores de tensão². A broca Gates Glidden é comumente utilizada durante o tratamento endodôntico para o preparo do terço cervical e médio de canais radiculares³. Pode ser encontrada no comércio especializado em diferentes marcas comerciais, apresentando-se com o comprimento de 32 e 28mm, com sua ponta ativa em forma de “chama”4. São fabricadas por usinagem, apresentando duas barras cilíndricas de diferentes diâmetros. A haste da broca é formada pela barra de maior diâmetro e o corpo é constituído pela haste de menor diâmetro¹. Sua utilização deve ser feita de maneira cuidadosa, pois sua haste apresenta um ponto de fragilidade próxima ao corpo, região onde geralmente as fraturas ocorrem. Quando a fratura ocorre nessa região, sua remoção é facilitada devido ao desenho da broca³. Para assegurar que a forma do canal seja mantida, a broca de Gates Glidden pode ser levada ligeiramente contra a parede do canal e, em seguida, deve ser retirada5. Sua parte ativa apresenta três lâminas cortantes, semi-helicoidais, que permitem a passagem de limas de pequeno diâmetro4. No entanto, durante o uso da broca Gates Glidden podem ocorrer fraturas em regiões incomuns, levando a dificuldades na remoção do fragmento fraturado. © 2012 Dental Press Endodontics O sucesso na remoção do instrumento fraturado depende de vários fatores, dentre eles podemos citar a anatomia do canal, tipo de liga metálica, localização do fragmento no interior do canal, comprimento do instrumento fraturado e diâmetro do canal radicular6. O objetivo desse estudo foi apresentar um caso clínico de fratura da broca Gates Glidden próxima de sua ponta ativa, local incomum de fratura desse instrumento, e sua remoção. Caso clínico Paciente do sexo masculino, 21 anos de idade, foi encaminhado por clínico geral para realização do tratamento endodôntico do dente 37. Ao exame clínico e radiográfico (Fig. 1) determinou-se o diagnóstico: necrose pulpar. Após o isolamento absoluto, cavidade de acesso e a exploração do leito dos canais com lima manual tipo K #10 (Dentisply Maillefer, Ballaigues, Suíça) ao utilizar a broca Gates Glidden #2 (Dentisply Maillefer, Ballaigues, Suíça) no canal mesiovestibular, notou-se um leve estalido e uma mudança brusca de direção. Ao retirar a broca do interior do canal, observou-se que sua ponta havia fraturado (Fig. 2). Por meio de tomada radiográfica, foi possível observar que a ponta ativa fraturada ficou retida no terço médio (Fig. 3). Inicialmente tentou-se sua remoção com lima tipo K #10 seguido de limas Headstroem, sem sucesso. Com a lima tipo K #10 foi possível passar pelo fragmento. Optou-se, então, pelo uso do ultrassom CVDent 1000 (CVD Vale, São José dos Campos, SP) com a ponta T0S-E1, indicada para a remoção de instrumentos fraturados. Antes de utilizá-las, realizou-se desgaste anticurvatura com broca LA Axess #35 (SybronEndo, Orange, EUA) melhorando o acesso ao canal mesiovestibular. O ultrassom foi regulado na potência 50%, função endodontia, com a ponta trabalhando ao redor da broca por alguns minutos. Ao realizar a tomada radiográfica para confirmação do comprimento de trabalho pode-se observar que o fragmento havia sido removido (Fig. 4). A obturação foi realizada com cimento obturador Sealer 26 (Dentsply, Petrópolis, RJ) e cones de guta-percha pela técnica híbrida de Tagger (Fig. 5). Controle radiográfico foi realizado após um ano (Fig. 6). Microscopia eletrônica de varredura com aumento de 150X foi realizada na broca fraturada (Fig. 7). 43 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5 [ caso clínico ] Fratura incomum de broca Gates Glidden Figura 1. Radiografia inicial. Figura 3. Ponta ativa fraturada retida no terço médio. Figura 2. Broca Gates Glidden fraturada. Figura 4. Comprimento de trabalho. Figura 5. Obturação. Figura 6. Controle radiográfico após 1 ano. Figura 7. Microscopia eletrônica de varredura. Discussão A remoção de instrumentos fraturados no interior do canal radicular é, algumas vezes, muito difícil, principalmente em canais atrésicos ou com curvatura acentuada, pois a progressão de outros instrumentos é dificultada7. Por isso, é de fundamental importância criar-se um trajeto em linha reta até o fragmento em todos os casos4, permitindo melhor visibilidade e acesso adequado4,7. Porém, o acesso ao fragmento fraturado deve ser realizado de maneira cuidadosa, pois o desgaste excessivo da dentina pode ocasionar outras intercorrências, como perfuração e fratura radicular6. © 2012 Dental Press Endodontics 44 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5 Victorino FR, Fernandes R O fato da broca de Gates Glidden fraturar próximo à sua parte ativa, local incomum, deve-se à tensão gerada na broca no interior do canal6. Constantemente esta broca está sujeita a esforços de torção e flexão, podendo ocasionar tensões normais e cisalhantes, que se concentram em uma região onde geralmente ocorrem as fraturas¹. Na maioria dos casos, a fratura de instrumentos acontece devido ao uso incorreto ou ao uso excessivo8. No intuito de evitar a ocorrência de fratura de instrumentos deve-se sempre respeitar a cinemática de uso e evitar movimentos bruscos no interior do canal radicular. A fratura do instrumento por fadiga apresenta altos índices, podendo ser evitada pelo profissional4,8. No presente caso ficou evidente que a fratura ocorreu por fadiga e torção do instrumento, como observado na imagem da microscopia eletrônica de varredura (Fig. 7). Deve-se ressaltar também que não houve preparo do terço cervical, o que se tornou um outro fator de estresse na broca, como visualizado na Figura 3. Uma vez ocorrida a fratura, o profissional deve lançar mão de alguns recursos para que sua remoção possa ser realizada com sucesso. Embora exista um número variado de técnicas para a remoção de instrumentos fraturados do interior de canais radiculares, o uso do ultrassom tem se mostrado um procedimento eficaz e seguro. Conclusão As brocas Gates Glidden podem fraturar de forma incomum, próximo à sua ponta ativa, o que dificulta muito sua remoção, por isso deve-se sempre respeitar sua dinâmica de uso. A remoção de instrumentos fraturados é um desafio para o cirurgião-dentista, porém com o uso de técnicas e instrumentos adequados, sua remoção pode ser realizada com sucesso. 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Parashos P, Messer HH. Rotary NiTi instrument fracture and its consequences J Endod. 2006 Nov;32(11):1031-43. 45 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5 artigo original Limas endodônticas: esterilizar ou descartar? Manuel Marques Ferreira1 Andre Luiz da Costa Michelotto2 Ana Rita Alexandre3 Rodolfo Morganho3 Eunice Virginia Palmeirão Carrilho4 Resumo com solução de Van Gieson, observadas ao microscópio óptico e atribuído um valor representativo da quantidade de matéria orgânica ainda existente na lima, de acordo com uma escala previamente estabelecida. Essa quantificação foi realizada nos terços apical, médio e cervical da parte ativa de cada lima, e foram elaboradas tabelas comparativas entre os diferentes grupos. Resultados: os resultados demonstraram que ambos os grupos experimentais apresentaram resultados significativamente inferiores aos das limas do grupo controle positivo. Conclusão: comparando-se os grupos experimentais, as limas imersas em banho de ultrassom com solução enzimática apresentaram valores inferiores aos daquelas que não foram submetidas a esse procedimento. Objetivo: o objetivo desse trabalho foi comparar, qualitativa e quantitativamente, a presença de matéria orgânica em limas endodônticas depois de utilizadas, descontaminadas e esterilizadas. Métodos: foram usadas 30 limas tipo K #30, das quais 5 serviram como grupo controle positivo e 5 como negativo. Instrumentaram-se 10 molares suínos pela técnica Crown-Down, inserindo uma lima por canal num total de 25 limas. As limas do grupo 1 (n=10) foram esterilizadas em autoclave. As limas do grupo 2 (n=10) foram colocadas em banho de ultrassom com solução enzimática e posteriormente esterilizadas em autoclave. As do grupo 3 (n=5) foram utilizadas, mas não foram esterilizadas; e as do grupo 4 (n=5) não foram utilizadas nem esterilizadas. As limas experimentais e de controle foram posteriormente coradas Palavras-chave: Endodontia. Príons. Controle de infecções dentárias. Síndrome de Creutzfeldt-Jakob. Como citar este artigo: Ferreira MM, Michelotto ALC, Alexandre AR, Morganho R, Carrilho EVP. Endodontic files: Sterilize or discard? Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):46-51. 1 Professor auxiliar do Mestrado Integrado em Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. 2 Professor de Endodontia, UTP-PR. Doutor em Endodontia, FOUSP. 3 Cirurgião-dentista, Área de Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal. 4 Doutor, Área de Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, Portugal. Professor auxiliar do Mestrado Integrado em Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. © 2012 Dental Press Endodontics » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e companhias descritos nesse artigo. Recebido: 01/01/2012. Aceito: 17/02/2012. Endereço para correspondência: Manuel Marques Ferreira Área de Medicina Dentária – Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Bissaya Barreto – Blocos de Celas HUC – 30.00-075. Coimbra – Portugal E-mail: [email protected] 46 Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):46-51