[ caso clínico ]
Variação anatômica de primeiro molar inferior e a importância de uma descontaminação efetiva
Conclusão
O conhecimento da anatomia do sistema de canais
radiculares dos primeiros molares inferiores, aliado a
uma instrumentação eficaz e uma obturação hermética e tridimensional vedando áreas de possível retenção
de microrganismos, como a região de istmo, são fatores
essenciais para se atingir o sucesso do tratamento endodôntico. Além disso, a utilização de elementos que
agreguem valor ao diagnóstico, como o microscópio
operatório, podem auxiliar grandemente para o sucesso.
que houve um total preenchimento com material obturador dos três canais radiculares tornando-se um único
canal na imagem radiográfica (Fig. 4, 5). Esse fato pode
ser explicado pela presença de um istmo entre os canais radiculares, mostrando a importância de se realizar
uma limpeza eficaz e posterior obturação hermética e
tridimensional do sistema de canais. Isso permite que o
material obturador vede aquelas regiões que não puderam ser tocadas pelos instrumentos endodônticos durante o preparo químico-mecânico.
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32
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):28-32
artigo original
Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do
tratamento endodôntico em uma população brasileira
João Eduardo GOMES-FILHO1
Luciano Tavares Angelo Cintra1
Mauro Juvenal Nery1
Roberto Holland2
Valdir de souza2
Pedro Felício Estrada Bernabé2
José Arlindo Otoboni Filho1
Elói Dezan Júnior1
Marianne Di Paula3
Camile Marques Gonçalves3
Carolina Simonetti Lodi3
Resumo
realizado pelos estudantes de graduação foi de 87,7%.
Quando o tratamento foi adequado (43 casos), o percentual
de sucesso foi de 90,69% (39 casos), enquanto para os tratamentos inadequados (14 casos), o percentual de sucesso foi
de 78,57% (11 casos), sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na taxa de sucesso relacionada ao sexo
(p>0,05). A condição pulpar também não interferiu na taxa
de sucesso (p>0,05). Conclusão: concluiu-se que o tratamento endodôntico foi satisfatório e alcançou uma taxa de
sucesso adequada, em torno de 90% dos casos.
Objetivo: esta investigação tem como objetivo avaliar a
prevalência de periodontite apical detectada na radiografia
periapical e a relação entre a doença e a qualidade da obturação de canais radiculares realizada por estudantes de
graduação. Métodos: foi investigada uma amostra aleatória de 131 prontuários de pacientes que haviam recebido
tratamento do canal radicular na Faculdade de Odontologia
de Araçatuba, Universidade Estadual Paulista. Realizou-se
anamnese, radiografias e exame clínico quanto à sintomatologia dolorosa, presença e qualidade da restauração, bolsa
periodontal, mobilidade dentária e trauma oclusal. Resultados: a porcentagem de sucesso obtido com o tratamento
Palavras-chave: Proservação. Taxa de sucesso. Obturação. Educação.
Como citar este artigo: Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza
V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi
CS. Radiographic evaluation of root canal treatment technical quality in a Brazilian
population. Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse, nos produtos e
companhias descritos nesse artigo.
Recebido: 8/11/2011. Aceito: 15/11/2011.
1
Professor associado, Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de AraçatubaUnesp.
2
Professor titular, Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de AraçatubaUnesp.
3
Departamento de Endodontia, Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp.
© 2012 Dental Press Endodontics
Endereço para correspondência: João Eduardo Gomes-Filho
Faculdade de Odontologia de Araçatuba/Unesp, Departamento de Endodontia
Rua José Bonifácio, 1193 – 16015-050 – Araçatuba/SP
E-mail: [email protected]
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Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7
[ artigo original ] Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do tratamento endodôntico em uma população brasileira
Introdução
A periodontite apical é diagnosticada por critérios clínicos e radiográficos. Sinais clínicos como dor, inchaço,
sensibilidade e formação de fístula ocorrem em graus
variados e são apenas moderadamente específicos1. Outros marcadores como saliva e amostras de sangue para
diagnóstico não são úteis. A interpretação radiográfica
é, portanto, o primeiro critério para o diagnóstico de periodontite apical2 e tem sido usada principalmente para
atingir essa avaliação3,4. Helminen et al.5 mostraram que
o sucesso, ou o prognóstico, do tratamento de canal depende da qualidade técnica da obturação.
Levantamentos epidemiológicos indicam obturações
dos canais radiculares tecnicamente satisfatórias em 42
a 90% dos casos3,6,7. Numerosos estudos têm mostrado
uma alta porcentagem de dentes obturados inadequadamente e com periodontite apical concomitante3,8.
Pesquisas de ensino endodôntico sugerem que o
tempo dedicado ao estudo da Endodontia no Reino
Unido é limitado, especialmente em relação ao tempo gasto em laboratórios pré-clínicos e no desenvolvimento de habilidades práticas9,10,11. Além disso, a qualidade do ensino por especialistas pode ajudar a atingir
a excelência na formação11.
Nas escolas brasileiras oficiais de Odontologia,
como a Faculdade de Odontologia de Araçatuba, o ensino da Endodontia é realizado por especialistas doutores, que são selecionados por um concurso público.
Os estudantes têm de completar um curso prático em
Odontologia conservadora antes de progredirem para
a prática clínica. O ensino pré-clínico em Endodontia envolve 16 horas de aulas teóricas e 64 horas de
exercícios práticos pré-clínicos durante o primeiro semestre do quarto ano e atividades clínicas durante o
segundo semestre desse ano escolar.
Portanto, essa investigação tem como objetivo
avaliar a prevalência de periodontite apical detectada a partir de radiografias periapicais e a relação
entre a doença e a qualidade da obturação realizada
por estudantes de graduação.
Registros que não incluíam radiografias periapicais
pré e pós-operatórias, aqueles em que o tratamento
do canal radicular (TCR) não tinha sido concluído ou
aqueles cuja qualidade radiográfica era pobre também
foram excluídos. A amostra final consistiu de 185 obturações radiculares em 121 pacientes, considerando-se que um mesmo paciente teve mais de um dente
tratado e registrado no mesmo prontuário. Todos os
ensaios clínicos randomizados foram realizados pelos alunos do terceiro ano de graduação (duas classes consecutivas) usando a técnica crown-down de
preparo do canal e a técnica de condensação lateral para obturação dos canais radiculares com guta-percha e cimento Sealapex (Sybron Endo, Glendora,
EUA). A técnica de instrumentação consistiu de uma
ampliação inicial do terço coronário com ampliador
manual (Dentsply Maillefer, EUA), seguido de brocas
Gates-Glidden na sequência 3, 2 e 1 (Dentsply Maillefer, EUA), determinação do comprimento de trabalho
(1mm aquém do ápice radiográfico), preparo apical
com limas tipo K (Dentsply Maillefer, EUA) e preparação step-back anatômica com limas Hedström (Dentsply Maillefer, EUA). Curativo de hidróxido de cálcio foi
utilizado em todos os casos de necrose pulpar ou em
casos de mais de uma sessão de tratamento de polpas
vitais. Se complicações como perfurações laterais ou
de furca, instrumentos fraturados, etc. fossem determinadas, a obturação era considerada como inadequada.
Todos os pacientes foram chamados, mas apenas
41 retornaram para avaliação de controle, perfazendo um total de 57 dentes avaliados no ano de 2009.
Nesse momento as avaliações clínicas e radiográficas foram realizadas. Clinicamente, foram realizados:
anamnese e exame clínico para avaliar a sintomatologia dolorosa, presença e qualidade da restauração, bolsa periodontal, mobilidade dentária e trauma
oclusal. Radiografias periapicais também foram realizadas com filme Kodak Ektaspeed exposto por 0,5s
em equipamento de raios X (Dabi Atlante, Ribeirão
Preto/SP), calibrado com 8mA e 80kV — para observar a presença de periodontite apical e sua relação
com a qualidade da obturação radicular.
Dois examinadores avaliaram as radiografias com
uma fonte de luz em uma sala escura usando ampliação
de 2x. Registrou-se a periodontite apical como presente
na radiografia periapical se o Índice Periapical12 para a
lesão fosse superior a 3 (pontuação de 1-5 crescente
Material e Métodos
Foi investigada uma amostra aleatória de 131 prontuários de pacientes que receberam tratamento endodôntico na Faculdade de Odontologia de Araçatuba-Unesp entre os anos de 2000 e 2001. Foram excluídos
prontuários de pacientes com idade inferior a 19 anos.
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Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7
Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi CS
tratamento realizado por estudantes de graduação
foi de 87,7%. A Tabela 2 mostra a distribuição dos
pacientes por faixa etária. A idade mais prevalente
estava entre 51 e 60 anos (13 casos). A Tabela 3 mostra a prevalência do tipo e posição de dente (Classificação FDI) para o tratamento, sendo os dentes mais
prevalentes o 21 (6 casos) e o 22 (6 casos). A Tabela
4 mostra a porcentagem de sucesso relacionado com
a qualidade do tratamento endodôntico. Quando o
tratamento foi adequado (43 casos), o percentual de
sucesso foi de 90,69% (39 casos), enquanto para os
tratamentos inadequados (14 casos) o percentual de
sucesso foi de 78,57% (11 casos), sem diferença estatisticamente significativa (p>0,05). Não foi observada diferença estatisticamente significativa na taxa
de sucesso com relação ao sexo (p>0,05) (Tab. 5).
A condição da polpa também não interferiu na taxa
de sucesso do tratamento endodôntico realizado por
alunos de graduação (p>0,05) (Tab. 6).
conforme o tamanho e a severidade) (Tab. 1). A calibração dos dois examinadores foi realizada utilizando-se
15 radiografias periapicais, repetida duas vezes. Dentes
multirradiculares foram classificados de acordo com a
raiz com a pontuação mais grave. As obturações radiculares foram classificadas como adequadas ou inadequadas (Tab. 1). Os canais radiculares eram considerados
como bem obturados quando não havia bolhas visíveis
e estivessem a não menos que 2mm do ápice radiográfico. O tratamento era considerado inadequado quando
estava sobreobturado, subobturado ou mal condensado.
A significância estatística foi avaliada pelo teste do qui-quadrado; valores de p inferiores a 0,05 foram considerados estatisticamente significativos.
Resultados
Nenhum paciente apresentou dor, nem alteração
dos tecidos moles em relação ao volume, à cor ou
textura. A porcentagem de sucesso obtido com o
Tabela 1. PAI (índice periapical)12.
Itens
Condição periapical
Critério
Critério agrupado
1- periodonto apical normal
2- alteração da estrutura óssea indicando sinal, não patognomônico, de
lesão apical
3- alteração da estrutura óssea com alguma perda mineral característica da
periodontite apical
4- radioluminescência bem definida
5- radioluminescência com expansões irradiantes das mudanças da
estrutura óssea
Qualidade do selamento
1- selamento adequado (sem bolhas laterais ou apicais)
2- selamento inadequado (bolhas laterais ou apicais visíveis ou lúmen do
canal no terço apical da raiz)
Distância da obturação ao
ápice
1- obturação terminando a 2mm ou menos do ápice radiográfico
2- obturação terminando a mais de 2mm do ápice radiográfico
3- sobreobturação; material obturador visível na área periapical
1 e 2 – condição periapical normal
3, 4 e 5 – periodontite apical
Tabela 2. Variação de idade dos pacientes.
Idade (anos)
21-30
31-40
41-50
51-60
61-70
71-80
n
4
10
10
13
3
1
%
9,75
24,39
24,39
31,70
7,31
2,43
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Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7
[ artigo original ] Avaliação radiográfica do sucesso e da qualidade do tratamento endodôntico em uma população brasileira
Tabela 3. Prevalência do tipo e posição do dente (classificação FDI) para o tratamento.
Maxila
17
16
15
14
13
12
11
21
22
23
24
25
26
27
Total
n
0
1
3
3
2
4
4
6
6
3
3
2
2
0
39
%
0
1,75
5,26
5,26
3,50
7,01
7,01
10,52
10,52
5,26
5,26
3,50
3,50
0
68,42
Mandíbula
47
46
45
44
43
42
41
31
32
33
34
35
36
37
Total
n
2
2
4
3
1
0
0
0
0
0
1
2
1
2
18
%
3,50
3,50
7,01
5,26
1,75
0
0
0
0
0
1,75
3,50
1,75
3,50
31,58
e a variabilidade interobservadores é maior ao analisar
esse tipo de radiografias13, optou-se por usar radiografias periapicais nesse estudo.
Os critérios radiográficos utilizados para avaliar a
qualidade do tratamento de canal foram os mesmos
usados por Orstavik et al.12 (índice periapical). Esse índice considera como sucesso a espessura do ligamento
periodontal apical igual ao dobro daquela observada no
ligamento periodontal lateral e já foi usado em vários
outros estudos14,15,16.
Obturações com características ideais relacionadas
ao limite apical, conicidade e preenchimento são desejadas para se alcançar o sucesso endodôntico17-20. No
presente estudo o percentual de tratamento adequado
do canal radicular foi de 75,4%. Embora seja difícil comparar esses resultados com os de outros estudos, a percentagem de obturações radiculares com comprimento
adequado foi superior quando comparada à relatada
em estudos anteriores, que mostraram 31,2%20, 48,9%15,
34,8%21 e 47,4%17. Essas diferenças podem ser devidas
ao fato de que estudantes de Odontologia realizam várias
radiografias durante o tratamento endodôntico a fim de
obter o correto comprimento de trabalho, bem como à
supervisão constante dos professores orientando os alunos a concluir o tratamento apenas quando a radiografia periapical mostra qualidade aceitável. Além disso, a
padronização da técnica operatória pode ter diminuído
a variabilidade interprofessores relacionada com a filosofia de trabalho, materiais e medicamentos. Kerekes e
Tronstad22 relataram redução das sobressaturações de
24% para 3% após a padronização da técnica operatória
e a frequência de obturações adequadas passou de 78%
para 97%, assim como a taxa de sucesso passou de 82%
para 91%, o que contribui para explicar a taxa de sucesso
ao redor de 87% observada no presente estudo.
Outro ponto a ser considerado é o tempo despendido na formação pré-clínica e clínica. Na Universidade
de Cork (Irlanda), o curso pré-clínico ocorre no terceiro
Tabela 4. Prevalência do sucesso relacionado à qualidade do tratamento endodôntico.
Qualidade do
tratamento endodôntico
Total
Sucesso (n)
Sucesso (%)
adequada
43
39
90,69
inadequada
14
11
78,57
Total
57
50
87,71
*Estatisticamente significativo.
Tabela 5. Prevalência do sucesso relacionado ao sexo.
Sexo
Total
Sucesso (n)
Sucesso (%)
Feminino
38
34
89,47
Masculino
19
16
84,21
*Estatisticamente significativo.
Tabela 6. Prevalência da taxa de sucesso relacionado à condição pulpar.
Condição pulpar
Total
Sucesso (n)
Sucesso (%)
vital
19
17
89,47
não vital
38
33
86,84
Total
57
50
87,71
*Estatisticamente significativo.
Discussão
Os dados utilizados nesse estudo consistiram de uma
amostra de radiografias periapicais dos pacientes que
receberam tratamento endodôntico na Faculdade de
Odontologia de Araçatuba-Unesp, em Araçatuba, São
Paulo, Brasil. Todas as radiografias periapicais utilizadas
nesse estudo foram realizadas durante a rotina de procedimentos do tratamento endodôntico, dentro de uma
prática realizada por estudante de Odontologia, mas as
radiografias periapicais de acompanhamento foram tomadas especialmente para esse estudo. Como as radiografias panorâmicas não revelam detalhes importantes
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Gomes-Filho JE, Cintra LTA, Nery MJ, Holland R, Souza V, Bernabé PFE, Otoboni Filho JA, Dezan Júnior E, Di Paula M, Gonçalves CM, Lodi CS
ano e tem duas aulas de uma hora cada, e 48 horas com
atividades pré-clínicas e revisão de literatura. Na Inglaterra, os alunos têm oito aulas teóricas e 24 horas de aulas práticas9. Há diferença na quantidade de atividades
pré-clínicas23 na Europa Oriental (16h), Inglaterra (24h),
América do Norte (41h), Turquia (56h) e Escandinávia
(66h). Na Faculdade de Odontologia de Araçatuba, os
alunos têm 80 horas de atividades pré-clínicas e mais
80 horas de atividades clínicas com professores doutores. O nível dos professores ao redor do mundo não é o
mesmo. O currículo de Endodontia das Universidades
na Inglaterra mostra nas atividades clínicas uma falta de
professores com nível pelo menos de especialista9,10,23.
A técnica de instrumentação utilizada pelos alunos
também pode ter contribuído para os resultados, a qual,
após correto treinamento, pode facilmente ser utilizada
em canais radiculares retos ou curvos. No entanto, algumas melhorias poderiam ser feitas para alcançar maior
taxa de sucesso, como reduzir as proporções de 10:1 alunos/professor nas aulas práticas e 80:1 em aulas teóricas. Além disso, a real competência do cirurgião-dentista
clínico geral poderia ser voltada para que se concentrasse nos conceitos mais importantes e fundamentais e em
treinamento, investindo em softwares didáticos e equipamentos, na modernização dos laboratórios pré-clínicos e
sistemas de avaliação de aprendizagem.
Com base nos resultados encontrados, concluiu-se
que o tratamento realizado pelos alunos de graduação
da Faculdade de Odontologia de Araçatuba foi satisfatório e alcançou uma adequada taxa de sucesso.
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37
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):33-7
nonononono
caso clínico
Implantes endodônticos intraósseos de NiTi
J. Edgar Valdivia Cardenas1
Enrique Hair Salas Beltrán2
Felipe Hernández Añaños3
Resumo
relato de caso clínico é apresentar um tratamento conservador para estabilizar e criar condições restauráveis para
dois incisivos inferiores, nos quais foram implantados dois
estabilizadores endodônticos intraósseos de níquel-titânio
confeccionados a partir de limas endodônticas com a finalidade de restabelecer sua função no sistema dentário.
Introdução: os implantes endodônticos são considerados
uma extensão metálica intraóssea radicular de um dente.
São indicados especialmente para estabilizar elementos
dentários. Assim sendo, são considerados um artifício final
para aumentar de forma artificial o comprimento radicular
com a finalidade que o dente afetado possa suportar seu
próprio dinamismo e função. Objetivo: o objetivo desse
Palavras-chave: Implante dentário endo-ósseo endodôntico. Níquel. Titânio. Tratamento do canal radicular.
Como citar este artigo: Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH. Nickeltitanium endodontic endosseous implants. Dental Press Endod. 2012 JanMar;2(1):38-41.
1
Pós-graduado em Endodontia, Universidad Católica San Pablo, Peru. Aluno do curso de
especialização em Endodontia, HGeSP.
2
Especialista em Endodontia, USP. Mestre em Ciências da Saúde, Universidad Nacional de San
Agustín, Arequipa, Peru. Doutor em Educação Superior, Universidad Católica de Santa María,
Arequipa, Peru. Professor de Endodontia de pré e pós-graduação, Universidad Católica de
Santa María, Arequipa, Peru.
3
Especialista, Mestre e Doutor em Endodontia, Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima,
Peru. Professor de Endodontia, Universidad Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru.
© 2012 Dental Press Endodontics
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
companhias descritos nesse artigo.
Recebido: 08/12/2011. Aceito: 24/01/2012.
Endereço para correspondência: José Edgar Valdivia Cardenas
Rua Caio Prado, 340 – Consolação – São Paulo/SP – 01.303-000
E-mail: [email protected]
38
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41
Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH
Introdução
A Implantologia tem hoje grande abrangência no campo da Odontologia. Isso deixou para trás certos tratamentos conservadores, considerados alternativas viáveis para
manter dentes naturais no sistema dentário. Um desses
tratamentos conservadores são os implantes endodônticos
intraósseos (IE), ou estabilizadores endodônticos, introduzidos em 1943 por Bernier com o objetivo de aumentar o
comprimento radicular em dentes com raízes curtas e, principalmente, para estabilizar dentes afetados com doença
periodontal e prolongar a permanência desses dentes1,2.
Como acontece com qualquer ato cirúrgico, o diagnóstico e perfil de tratamento são determinantes fundamentais
para o sucesso do implante endodôntico.
O implante endodôntico é um pino metálico que é
implantado através do conduto radicular e se prolonga
até o tecido ósseo, com a finalidade de aumentar a proporção coronorradicular, dando sustentação ao dente e
restabelecendo sua função2.
Há relatos clínicos indicando que dentes portadores
de implantes endodônticos podem ser usados como pilares de próteses3.
A maioria dos autores recomendava o uso de implantes endodônticos de cromo-cobalto-molibdênio (Vitallium), que é bem tolerado clínica e histologicamente pelo
organismo, fato pelo qual a ausência de toxicidade foi totalmente demonstrada1,4,5.
Goldberg6 observou, em um estudo histológico, a
formação de uma membrana periodontal um “pseudo
periodonto” ao redor do implante de cromo-cobalto, demonstrando a biocompatibilidade desse metal com os tecidos periapicais. Porém, concluiu-se que o Vitallium não
é um metal inerte, pois sua corrosão provocava resposta
inflamatória reversível. Posteriormente, foi gradualmente
substituído pela liga de titânio puro, com resultados excelentes2,5,7, com osseointegração observada tanto clínica
quanto histologicamente por vários autores (considerando o titânio um metal biocompatível)4,5,8,9.
Embora devamos lembrar que nenhum dispositivo
artificial substitui a obra da natureza, o IE é uma alternativa conservadora que nos permite reconsiderar a
extração de dentes com problemas de estabilidade15
ou doença periodontal1,8.
Peru) foi avaliado clínica e radiograficamente, e encaminhado ao setor de prótese fixa. Após ser avaliado, foi encaminhado ao setor de Cirurgia Bucomaxilofacial para
extração dos elementos 31 e 32. O paciente não estava
de acordo com a extração, sendo, então, encaminhado
ao setor de Endodontia (Fig. 1).
No exame clínico do elemento 32, o elemento encontrava-se exposto ao meio bucal. Foi diagnosticado grau
de mobilidade II com presença de fístula vestibular.
No exame radiográfico, observou-se rarefação apical
e foi diagnosticado um quadro de periodontite apical crônica. Ao exame clínico do elemento 31, observou-se que
se encontrava exposto ao meio bucal. Foi diagnosticado
grau de mobilidade I com presença de fístula vestibular.
Com o exame radiográfico, observou-se presença
de tratamento endodôntico e rarefação apical. Foi diagnosticado um quadro de periodontite apical crônica.
Optou-se por se realizar implantes endodônticos
para estabilizar esses elementos dentários e criar condições para, depois, serem restaurados proteticamente.
Executou-se a mensuração da odontometria e osteometria, tendo em conta o eixo vertical dos elementos. O
procedimento padrão endodôntico foi realizado na seguinte ordem: aplicação da anestesia local, isolamento do
campo operatório, cirurgia de acesso, preparo químico-cirúrgico sob condições assépticas, limpeza e modelagem
do canal com sistema de limas rotatórias de níquel-titânio
ProTaper Universal (Dentsply Maillefer, Ballaigues, Suíça).
Foi realizada a medicação intracanal com pasta de hidróxido de cálcio Calen (S.S. White, Rio de Janeiro, RJ).
Antes de se começar o procedimento endocirúrgico
intraósseo, levou-se em conta o eixo de inclinação dos
dentes com relação coroa-raiz-mandíbula. Foi realizada
osteometria prévia e seleção dos IEs: para o incisivo lateral, uma osteometria de 12mm e para o incisivo central
inferior, de 11mm.
Iniciou-se, assim, a preparação endocirúrgica intraóssea. Para isso, usou-se um motor endodôntico X-Smart
(Dentsply Maillefer) com uma velocidade de 600rpm e
torque de 5N/cm e o mesmo sistema de limas rotatórias
usadas anteriormente. A preparação do leito ósseo só
cessou quando se chegou até a osteometria calculada. O
canal e leito ósseo foram irrigados continuamente com
digluconato de clorexidina a 0,12% (Laboratórios Kin
S.A., Barcelona, Espanha) e soro fisiológico. Uma vez que
a preparação no osso alveolar foi concluída, foram implantados os estabilizadores endodônticos previamente
Relato de caso
Paciente do sexo masculino, 25 anos de idade, apresentou-se à clínica odontológica da FO-UCSM (Arequipa,
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Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41
[ caso clínico ]
Implantes endodônticos intraósseos de NiTi
confeccionados a partir de limas NiTi. Para o elemento 32 foi implantada uma lima ProTaper F-5 (Dentsply
Maillefer), e para o elemento 31, uma lima Profile 40, taper 0,06 (Dentsply Maillefer).
Previamente, antes da implantação do estabilizador, foi
realizada um irrigação profusa na área e, posteriormente,
os condutos foram secos com cones de papel estéreis. Em
seguida, o implante foi cimentado com cimento endodôntico Apexit (Ivoclar Vivadent, Schaan, Liechtenstein), impedindo o contato excessivo do cimento com a ponta do
implante que teria contato com o osso alveolar.
A cavidade de acesso foi selada com ionômero de reconstrução e resina composta micro-híbrida (FGM) (Fig. 2).
O paciente foi regularmente avaliado pós-implantação
para controle do caso.
Decorridos 16 meses, a avaliação clínica mostrou sondagem periodontal normal entre os limites, ausência de
mobilidade dentária e doença periodontal. À avaliação radiográfica, observou-se reparação óssea apical. A radioluscência apical limitada sugere uma cicatrização apical e biocompatibilidade do implante com o tecido ósseo (Fig. 3).
Figura 1. Radiografia periapical pré-operatória dos incisivos inferiores.
Figura 2. Radiografia periapical pós-operatória. Observe os implantes
endodônticos intraósseos implantados.
Figura 3. Proservação radiográfica após 16 meses da estabilização dos
elementos 31 e 32.
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40
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41
Cardenas JEV, Beltrán EHS, Añaños FH
Discussão
Sumi et al.2 e Nevins et al.3 sugeriram que a liga de
cromo-cobalto-molibdênio é biologicamente tolerada
pelo organismo. Alguns autores afirmam que os dentes
portadores de IE podem ser usados como pilares para
diferentes tipos de próteses3-10.
Embora os implantes de cromo-cobalto tenham se
revelado inertes, apesar de provocarem uma inflamação crônica de baixa intensidade, alguns pesquisadores sugeriram a utilização de implantes de titânio devido à sua baixa corrosão e alta biocompatibilidade
com os tecidos periapicais4.
Decidimos substituir os implantes endodônticos de
cromo-cobalto-molibdênio pelos confeccionados a partir
de limas endodônticas de níquel-titânio, as quais têm obtido êxito devido à sua biocompatibilidade11,12 e osseointegração radiograficamente constatada. Assad et al.12
afirmam que ligas de níquel-titânio podem ser usadas frequentemente como materiais cirúrgicos12.
Cranin et al.13, após uma avaliação de 952 implantes endodônticos, constatou que 91% foram bem-sucedidos. Concluímos que os implantes endodônticos
de NiTi podem alcançar taxa de êxito semelhante.
No entanto, até hoje não há estudos científicos que sustentem essa afirmação.
Por todas essas razões, Feldman e Feldman14 mostraram que os implantes endodônticos devem ser considerados como uma alternativa conservadora viável no
plano de tratamento.
Os implantes endodônticos são considerados um
tratamento conservador para restabelecer a função
e preservar dentes naturais que estão destinados ao
aparente insucesso clínico ou extração. Na implantologia endodôntica, se houve um diagnóstico clínico e
radiográfico preciso, uma correta seleção do implante
endodôntico e uma técnica adequada, o IE irá proporcionar segurança e sucesso. Ao mesmo tempo, é
importante saber que o uso indiscriminado desses tipos de implantes, sem uma apurada seleção de casos
(excessivo grau de mobilidade dentária, doença periodontal severa, radioluscência ao redor do implante),
leva ao fracasso do tratamento.
O implante endodôntico deve ser divulgado na área
odontológica e ser usado com mais frequência. Com a
seleção cuidadosa de casos, os implantes endodônticos
intraósseos são seguros e eficazes.
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41
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):38-41
caso clínico
Fratura incomum de broca Gates Glidden
Fausto Rodrigo Victorino1
Renata Fernandes2
Resumo
do canal mesiovestibular. O fragmento fraturado foi removido através do uso do ultrassom CVDent 1000 com
a ponta T0S-E1. A broca fraturada foi removida e o tratamento concluído com sucesso. Ao controle radiográfico
de um ano, os tecidos periapicais apresentavam-se com
aspecto de normalidade. Conclusão: de acordo com o
presente caso clínico, pode-se dizer que as brocas Gates
Glidden podem fraturar de forma incomum, o que dificulta muito sua remoção, por isso deve-se sempre respeitar
sua dinâmica de uso.
Introdução: a broca Gates Glidden, utilizada para o preparo das regiões cervical e média dos canais radiculares,
apresenta um ponto frágil em sua haste, distante da ponta
ativa, onde normalmente ocorre fratura, o que facilita sua
remoção. Objetivo: apresentar um caso clínico de fratura
da broca Gates Glidden próxima de sua ponta ativa, local
incomum de fratura nesse instrumento. Caso clínico:
paciente de 21 anos de idade foi submetido ao tratamento endodôntico do dente 37. Durante o preparo do terço
cervical e médio dos canais, houve fratura da ponta ativa
da broca de Gates Glidden, ficando retida no terço médio
Palavras-chave: Endodontia. Tratamento do canal radicular. Zona de fratura.
Como citar este artigo: Victorino FR, Fernandes R. Uncommon fractures of
Gates Glidden drill. Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5.
» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
companhias descritos nesse artigo.
Recebido: 16/12/2012. Aceito: 17/01/2012.
1
Professor da disciplina de Endodontia, CESUMAR. Professor da Pós-graduação em
Endodontia, CESUMAR.
Endereço para correspondência: Fausto Rodrigo Victorino
Rua Formosa, 489 – Centro – Marialva/PR – 86.990-000
E-mail: [email protected]
Especialista em Endodontia, CESUMAR. Mestranda em Promoção da Saúde, CESUMAR.
2
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42
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5
Victorino FR, Fernandes R
Introdução
Durante o tratamento endodôntico, na fase do
preparo químico-mecânico do canal radicular, o clínico pode se deparar com dificuldades relacionadas
à anatomia do sistema de canais que podem levar a
acidentes de procedimento técnico. Um desses acidentes, que às vezes foge ao controle do operador e
que pode comprometer o sucesso do tratamento, é a
fratura de instrumento no interior do canal radicular.
Ao utilizar os instrumentos endodônticos, os mesmos são submetidos a estados de tensão e deformação que podem exceder a capacidade de sua resistência e vir a se fraturar. Essa fratura pode ser resultada
da aplicação de cargas lentas, como flexão e torção,
pela fadiga do instrumento e ainda por cargas de baixa intensidade atuando por tempo prolongado¹.
Defeitos de acabamento superficial do instrumento decorrentes do processo de fabricação, principalmente durante o processo de usinagem, também são
fatores importantes para a ocorrência de fratura, pois
são concentradores de tensão².
A broca Gates Glidden é comumente utilizada durante o tratamento endodôntico para o preparo do
terço cervical e médio de canais radiculares³. Pode
ser encontrada no comércio especializado em diferentes marcas comerciais, apresentando-se com o
comprimento de 32 e 28mm, com sua ponta ativa em
forma de “chama”4.
São fabricadas por usinagem, apresentando duas
barras cilíndricas de diferentes diâmetros. A haste da
broca é formada pela barra de maior diâmetro e o
corpo é constituído pela haste de menor diâmetro¹.
Sua utilização deve ser feita de maneira cuidadosa, pois sua haste apresenta um ponto de fragilidade próxima ao corpo, região onde geralmente
as fraturas ocorrem. Quando a fratura ocorre nessa
região, sua remoção é facilitada devido ao desenho
da broca³. Para assegurar que a forma do canal seja
mantida, a broca de Gates Glidden pode ser levada
ligeiramente contra a parede do canal e, em seguida, deve ser retirada5.
Sua parte ativa apresenta três lâminas cortantes,
semi-helicoidais, que permitem a passagem de limas
de pequeno diâmetro4. No entanto, durante o uso da
broca Gates Glidden podem ocorrer fraturas em regiões incomuns, levando a dificuldades na remoção
do fragmento fraturado.
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O sucesso na remoção do instrumento fraturado
depende de vários fatores, dentre eles podemos citar
a anatomia do canal, tipo de liga metálica, localização
do fragmento no interior do canal, comprimento do
instrumento fraturado e diâmetro do canal radicular6.
O objetivo desse estudo foi apresentar um caso
clínico de fratura da broca Gates Glidden próxima de
sua ponta ativa, local incomum de fratura desse instrumento, e sua remoção.
Caso clínico
Paciente do sexo masculino, 21 anos de idade,
foi encaminhado por clínico geral para realização
do tratamento endodôntico do dente 37. Ao exame
clínico e radiográfico (Fig. 1) determinou-se o diagnóstico: necrose pulpar.
Após o isolamento absoluto, cavidade de acesso
e a exploração do leito dos canais com lima manual
tipo K #10 (Dentisply Maillefer, Ballaigues, Suíça) ao
utilizar a broca Gates Glidden #2 (Dentisply Maillefer,
Ballaigues, Suíça) no canal mesiovestibular, notou-se
um leve estalido e uma mudança brusca de direção.
Ao retirar a broca do interior do canal, observou-se
que sua ponta havia fraturado (Fig. 2). Por meio de
tomada radiográfica, foi possível observar que a ponta ativa fraturada ficou retida no terço médio (Fig. 3).
Inicialmente tentou-se sua remoção com lima
tipo K #10 seguido de limas Headstroem, sem sucesso. Com a lima tipo K #10 foi possível passar pelo
fragmento. Optou-se, então, pelo uso do ultrassom
CVDent 1000 (CVD Vale, São José dos Campos, SP)
com a ponta T0S-E1, indicada para a remoção de
instrumentos fraturados. Antes de utilizá-las, realizou-se desgaste anticurvatura com broca LA Axess
#35 (SybronEndo, Orange, EUA) melhorando o acesso ao canal mesiovestibular. O ultrassom foi regulado
na potência 50%, função endodontia, com a ponta
trabalhando ao redor da broca por alguns minutos.
Ao realizar a tomada radiográfica para confirmação
do comprimento de trabalho pode-se observar que o
fragmento havia sido removido (Fig. 4).
A obturação foi realizada com cimento obturador
Sealer 26 (Dentsply, Petrópolis, RJ) e cones de guta-percha pela técnica híbrida de Tagger (Fig. 5). Controle
radiográfico foi realizado após um ano (Fig. 6).
Microscopia eletrônica de varredura com aumento de 150X foi realizada na broca fraturada (Fig. 7).
43
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5
[ caso clínico ]
Fratura incomum de broca Gates Glidden
Figura 1. Radiografia inicial.
Figura 3. Ponta ativa fraturada retida no terço
médio.
Figura 2. Broca Gates Glidden fraturada.
Figura 4. Comprimento de trabalho.
Figura 5. Obturação.
Figura 6. Controle radiográfico após 1 ano.
Figura 7. Microscopia eletrônica de varredura.
Discussão
A remoção de instrumentos fraturados no interior do
canal radicular é, algumas vezes, muito difícil, principalmente em canais atrésicos ou com curvatura acentuada, pois a progressão de outros instrumentos é dificultada7. Por isso, é de fundamental importância criar-se um
trajeto em linha reta até o fragmento em todos os casos4,
permitindo melhor visibilidade e acesso adequado4,7. Porém, o acesso ao fragmento fraturado deve ser realizado de maneira cuidadosa, pois o desgaste excessivo da
dentina pode ocasionar outras intercorrências, como
perfuração e fratura radicular6.
© 2012 Dental Press Endodontics
44
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5
Victorino FR, Fernandes R
O fato da broca de Gates Glidden fraturar próximo
à sua parte ativa, local incomum, deve-se à tensão gerada na broca no interior do canal6. Constantemente
esta broca está sujeita a esforços de torção e flexão,
podendo ocasionar tensões normais e cisalhantes, que
se concentram em uma região onde geralmente ocorrem as fraturas¹. Na maioria dos casos, a fratura de instrumentos acontece devido ao uso incorreto ou ao uso
excessivo8. No intuito de evitar a ocorrência de fratura
de instrumentos deve-se sempre respeitar a cinemática
de uso e evitar movimentos bruscos no interior do canal
radicular. A fratura do instrumento por fadiga apresenta
altos índices, podendo ser evitada pelo profissional4,8.
No presente caso ficou evidente que a fratura ocorreu
por fadiga e torção do instrumento, como observado na
imagem da microscopia eletrônica de varredura (Fig.
7). Deve-se ressaltar também que não houve preparo
do terço cervical, o que se tornou um outro fator de
estresse na broca, como visualizado na Figura 3.
Uma vez ocorrida a fratura, o profissional deve lançar
mão de alguns recursos para que sua remoção possa ser
realizada com sucesso. Embora exista um número variado de técnicas para a remoção de instrumentos fraturados do interior de canais radiculares, o uso do ultrassom
tem se mostrado um procedimento eficaz e seguro.
Conclusão
As brocas Gates Glidden podem fraturar de forma
incomum, próximo à sua ponta ativa, o que dificulta
muito sua remoção, por isso deve-se sempre respeitar
sua dinâmica de uso. A remoção de instrumentos fraturados é um desafio para o cirurgião-dentista, porém
com o uso de técnicas e instrumentos adequados, sua
remoção pode ser realizada com sucesso.
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45
Dental Press Endod. 2012 Jan-Mar;2(1):42-5
artigo original
Limas endodônticas: esterilizar ou descartar?
Manuel Marques Ferreira1
Andre Luiz da Costa Michelotto2
Ana Rita Alexandre3
Rodolfo Morganho3
Eunice Virginia Palmeirão Carrilho4
Resumo
com solução de Van Gieson, observadas ao microscópio
óptico e atribuído um valor representativo da quantidade
de matéria orgânica ainda existente na lima, de acordo
com uma escala previamente estabelecida. Essa quantificação foi realizada nos terços apical, médio e cervical
da parte ativa de cada lima, e foram elaboradas tabelas
comparativas entre os diferentes grupos. Resultados:
os resultados demonstraram que ambos os grupos experimentais apresentaram resultados significativamente inferiores aos das limas do grupo controle positivo.
Conclusão: comparando-se os grupos experimentais,
as limas imersas em banho de ultrassom com solução
enzimática apresentaram valores inferiores aos daquelas
que não foram submetidas a esse procedimento.
Objetivo: o objetivo desse trabalho foi comparar, qualitativa e quantitativamente, a presença de matéria orgânica em limas endodônticas depois de utilizadas, descontaminadas e esterilizadas. Métodos: foram usadas
30 limas tipo K #30, das quais 5 serviram como grupo
controle positivo e 5 como negativo. Instrumentaram-se
10 molares suínos pela técnica Crown-Down, inserindo
uma lima por canal num total de 25 limas. As limas do
grupo 1 (n=10) foram esterilizadas em autoclave. As limas do grupo 2 (n=10) foram colocadas em banho de
ultrassom com solução enzimática e posteriormente
esterilizadas em autoclave. As do grupo 3 (n=5) foram
utilizadas, mas não foram esterilizadas; e as do grupo 4
(n=5) não foram utilizadas nem esterilizadas. As limas experimentais e de controle foram posteriormente coradas
Palavras-chave: Endodontia. Príons. Controle de infecções dentárias. Síndrome de Creutzfeldt-Jakob.
Como citar este artigo: Ferreira MM, Michelotto ALC, Alexandre AR, Morganho
R, Carrilho EVP. Endodontic files: Sterilize or discard? Dental Press Endod. 2012
Jan-Mar;2(1):46-51.
1
Professor auxiliar do Mestrado Integrado em Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da
Universidade de Coimbra.
2
Professor de Endodontia, UTP-PR. Doutor em Endodontia, FOUSP.
3
Cirurgião-dentista, Área de Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de
Coimbra, Portugal.
4
Doutor, Área de Medicina Dentária, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra,
Portugal. Professor auxiliar do Mestrado Integrado em Medicina Dentária, Faculdade de
Medicina da Universidade de Coimbra.
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» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
companhias descritos nesse artigo.
Recebido: 01/01/2012. Aceito: 17/02/2012.
Endereço para correspondência: Manuel Marques Ferreira
Área de Medicina Dentária – Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Bissaya Barreto – Blocos de Celas HUC – 30.00-075. Coimbra – Portugal
E-mail: [email protected]
46
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