1 PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO ÁREA DE REABILITAÇÃO URBANA DE ARCOS DE VALDEVEZ MAIO DE 2014 2 EQUIPA José Paulo Queirós (coord.) Mário Gonçalves Fernandes (FLUP) Teresa Sá Marques (FLUP) Rui Mealha (FAUP) Sérgio Magalhães (FLUP) Diogo Ribeiro (FLUP) 3 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO 2. JUSTIFICAÇÃO DA DELIMITAÇÃO DA ARU: MORFOGÉNESE E PLANEAMENTO 3. SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO DA ARU 4. OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS 5. APOIOS E INCENTIVOS 4 1. INTRODUÇÃO A presente proposta de Delimitação de uma Área de Reabilitação Urbana (ARU) para o centro urbano de Arcos de Valdevez enquadra-se no regime jurídico da reabilitação urbana (D-L 307/2009, alterado e republicado pela Lei 32/2012). O Regime Jurídico da Reabilitação Urbana (RJRU) possibilita aos municípios dinamizar processos de reabilitação urbana em ARU de forma faseada: numa primeira fase aprova-se a delimitação da ARU e numa fase seguinte faz-se a aprovação da operação de reabilitação a desenvolver nessa área. Caso se opte por este procedimento, o município tem três anos para aprovar a operação de reabilitação urbana para a ARU, previamente delimitada e aprovada, prazo após o qual a caducará a delimitação. Tendo o Município de Arcos de Valdevez optado por um procedimento faseado, seguindo a oportunidade inscrita no RJRU, a proposta que agora se apresenta deverá conter (artigo 13º do RJRU): - a memória descritiva e justificativa, que inclui os critérios subjacentes à delimitação da área abrangida e os objetivos estratégicos a prosseguir; - a planta com a delimitação da área abrangida; - o quadro dos benefícios fiscais associados aos impostos municipais sobre o património, designadamente o imposto municipal sobre imóveis (IMI) e o imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT). Segundo o 12º artigo do RJRU, as áreas de reabilitação urbana incidem sobre espaços urbanos que, em virtude da insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infraestruturas urbanas, dos equipamentos ou dos espaços urbanos e verdes de utilização coletiva, justifiquem uma intervenção integrada. As áreas de reabilitação urbana podem abranger, designadamente, áreas e centros históricos, património cultural imóvel classificado ou em vias de classificação e respetivas zonas de proteção, áreas urbanas degradadas ou zonas urbanas consolidadas. 5 No entanto, importa clarificar que esta proposta de delimitação da ARU de Arcos de Valdevez resulta de um processo continuado de reflexão estratégica em torno da reabilitação urbana: o Plano de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico de Arcos de Valdevez, o Plano de Pormenor de Salvaguarda e Renovação Urbana de S. Paio e o Plano de Pormenor de S. Bento (não publicado em DR). O desenvolvimento de uma estratégia para a ARU, irá permitir uma melhor integração entre as políticas de planeamento urbanístico municipal e as políticas de reabilitação. Com este documento, procura-se construir um contributo que permita enquadrar a reabilitação urbana devidamente fundamentado numa estratégia urbana e municipal. Com base nos objetivos e princípios gerais identificados no RJRU e nos princípios básicos e vetores de desenvolvimento do município, foram estabelecidos os objetivos gerais que devem nortear a identificação dos critérios subjacentes à delimitação da área a prosseguir: - incentivar e facilitar a reabilitação do edificado com valor patrimonial e histórico e dinamizar a reabilitação do tecido urbano degradado; - promover a revitalização e a atratividade económica e fomentar o turismo, a cultura e o lazer; - qualificar o espaço publico e reforçar a unidade, a identidade e a imagem urbana; - reforçar a centralidade urbana de Arcos Valdevez a nível municipal e aumentar a sua atratividade regional. 6 JUSTIFICAÇÃO DA DELIMITAÇÃO DA ARU: MORFOGÉNESE E PLANEAMENTO A poucos quilómetros da foz, quando o vale se torna aberto para o Vez encontrar o Lima, forjando leito assoreado “onde é fácil a ligação a vau entre as duas margens por simples poldras” (MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, p. 209)1, constituiu-se gradualmente um lugar de transição e contacto entre o litoral e as áreas de montanha, lugar de passagem e encruzilhada com características propícias à instalação de feira, onde se transacionavam “as produções da Serra (lã, lenha, caça, carvão) a troco das da Ribeira e do litoral (vinho, pescado, sal, gado) e de outros produtos vindos de mais longe” (MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, p. 212). Paulatinamente, foi-se constituindo uma povoação com referências conhecidas relativas ao século XIII, quando Valdevez era “um julgado onde se localizam terras reguengas”, ao século XV, referenciada nas cortes de Lisboa, ou ao século XVI, concretamente a 1515 quando recebe foral de D. Manuel (MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, pp. 211-213). De qualquer forma, apesar de um ou outro elemento patrimonial anterior, como a capela de Nª Srª da Conceição, edificada provavelmente em finais do século XIV e identificada como o monumento 2 mais antigo existente na vila, a povoação estabiliza as características estruturais primordiais durante os séculos XVII e XVIII, quando, aos “núcleos populares primitivos” da Valeta e do arrabalde da ponte, se acrescenta a articulação do espaço intermédio em torno do largo da Lapa e a estruturação da Vila propriamente dita, com o posicionamento do poder municipal, por entre igrejas (da Matriz e do Espírito Santo) e casas brasonadas, num esporão proeminente contornado pelo rio Vez e dominando, sobranceiro, toda a envolvência. MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, “Arcos de Valdevez, estudo de geografia urbana de uma vila do Alto Minho”. Lisboa, Centro de Estudos Geográficos, Finisterra, vol. V, nº 10, pp. 205-245. 2 Imóvel de Interesse Público, Dec. Nº 43073, DG 162, de 14 de Julho de 1960, ZEP, DG 125, de 26 de Maio de 1964 – consultar http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=4139. 1 7 Entretanto, mais dois momentos são devidamente relevados entre as fases de crescimento urbano, identificadas pela geógrafa Isabel Marques Medeiros, até 1970: a segunda metade do século XIX e o Estado Novo. Em ambos os casos, tratase de períodos estudados e normalmente reconhecidos como importantes para a estruturação e organização da generalidade dos aglomerados urbanos portugueses, variando a hierarquização da sua importância com as circunstâncias locais mas sendo sempre associados a momentos de planeamento urbano, com a construção de estradas, de arruamentos e de equipamentos públicos. No caso de Arcos de Valdevez, as transformações morfológicas da segunda metade do século XIX constituem uma fase de crescimento do espaço público quantitativamente mais significativa, parecendo serem de “menor vulto” (MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, p. 218) as modificações decorrentes da ação do Estado Novo. Assim, entre outros exemplos, na segunda metade do século XIX foi estruturado novo campo da feira no Trasladário, aí se concentrando as feiras que então se dispersavam pela vila, e foram abertos arruamentos (atuais ruas do Clero, Alf. B. Cerqueira, 25 de Abril e Conselheiro P. Brito, esta como continuação da estrada de Monção e alternativa à atual rua Amorim Soares) que articularam aquele campo com as áreas centrais da vila. Além disso, foram abertas as ruas Soares Pereira (anterior estrada para Monção) e a do Lira (articulando o bairro da Valeta à estrada), foi construído o cemitério (1856) e abertas as ruas de S. Bento e do Padre Himalaia, vias estruturantes da área de S. Bento, sendo ainda construída a atual rua Dr. Vaz Guedes (antiga estrada para Viana do Castelo) e a ponte de pedra (1880), em substituição da anterior de madeira, constituindo-se como elemento fulcral de articulação da rede viária oitocentista cuja construção, a par com o caminho-de-ferro, era uma das apostas coevas importantes por parte do governo central. 8 Fases do crescimento urbano de Arcos de Valdevez até 1970 Fonte: MEDEIROS, Isabel Marques, 1970, p. 215. 9 Estradas Nacionais existentes em 1947 e construídas na segunda metade do século XIX Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação do livro/volume: Peças Escritas, Estampa I Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU Rua do Padre Himalaia, 2014. 10 Nos anos 60 do século XX concretizar-se-ia a urbanização da parte Sul da vila, com a abertura das ruas Tomaz de Figueiredo e do Padre Luís Gonzaga Azevedo, bem como com a edificação ao longo da atual Alameda Dr. Francisco Sá Carneiro. Curiosamente, nenhuma destas intervenções fora prevista pelo Plano de Urbanização de 1947, elaborado pelo Arqº Januário Godinho, onde aquela área era identificada, na Planta de Urbanização, como local para o mercado municipal e feiras, mesmo se aparece também identificado como “expansão nova” na Estampa V das peças escritas. Plano de Urbanização de 1947 Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação da peça: Planta de Urbanização Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947; Escala da peça: 1/2 000 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU 11 Aglomeração existente e áreas de expansão prevista em 1947 Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação do livro/volume: Peças Escritas, Estampa V Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU De qualquer forma, apesar das várias propostas, do plano de 1947, que ficaram por concretizar, importa sublinhar a proposta de alargamento da rua Conselheiro P. Brito, concretizada na década de 1960, mas, principalmente, dois aspetos que interfeririam marcadamente na morfologia e na funcionalidade de espaços públicos importantes da vila. 12 Campo do Trasladário e rua Conselheiro P. Brito, 1970. Campo do Trasladário e rua Conselheiro P. Brito, 2014. Assim, por um lado, o projeto de ligação do largo da Lapa com o largo municipal, que previa várias demolições e a relocalização da capela de Nª Srª da Conceição, reestruturou e aprofundou a sua centralidade, mesmo se a concretização tenha acontecido de forma incompleta e bastante mitigada; por outro lado, a construção 13 da variante da estrada nº 102, seria essencial no desvio do trânsito de atravessamento do interior da vila, mas introduziria uma ruptura na ligação, até aí franca e natural, entre a Valeta e as poldras do rio Vez. Estudo de ligação entre os largos da Lapa e Município (a construir a vermelho e a demolir a amarelo) Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação do livro/volume: Peças Escritas; Designação da peça: Estampa III Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU 14 Estudo de ligação entre os largos da Lapa e Município Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação do livro/volume: Peças Escritas; Designação da peça: Estampa III Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU 15 Estradas Nacionais e novos traçados previstos em 1947 Nome do plano: Plano de Urbanização de Arcos de Valdevez Designação do livro/volume: Peças Escritas, Estampa II Autor do plano: Januário Godinho (Arq.); Ano do plano: 1947 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU Verificamos, enfim, que a estrutura fundamental da área agora proposta para ARU estava constituída até 1970 e continuaria, desde logo, a ser preenchida e consolidada, como se pode constatar no Plano de Urbanização de 1983, em cuja planta de zonamento, além da identificação do “limite da zona do núcleo histórico”, se pode verificar de forma evidente que a “zona de construção existente” era já, há cerca de 31 anos, bem mais lata do que a área correspondente à ARU que aqui se propõe. 16 Plano de Urbanização de 1983 Nome do plano: Plano Geral de Urbanização da Vila de Arcos de Valdevez – Anteplano; Zonamento Autor do plano: CEAPE - Cooperativa de Estudos de Arquitectura, Planeamento e Engenharia, CRL Ano do plano: 1983; Escala da peça: 1/5 000 Fonte: Arquivo Histórico da DGOTDU 17 Naturalmente, confirmando a ‘lei da permanência do plano’, no sentido da maior estabilidade do espaço público, apesar da alargada espessura temporal da morfogénese dos espaços públicos da área em causa, será sempre possível identificar no seu interior um ou outro edifício de feitura mais recente. No entanto, não parece razoável “perfurar” a área em questão na busca e extirpação de exceções, principalmente quando se sabe que as opções assentam em alicerces válidos, como, além da evolução reconhecida, são os instrumentos de ordenamento do território estabelecidos e em vigor, nomeadamente o mais recente Plano de Urbanização da Sede de Concelho, de 2003 e retificado em 2007 (planta de zonamento em anexo). Assim, a ARU aqui proposta decorre da delimitação das “zonas de interesse cultural”, identificadas na planta de zonamento retificada em 2007, que incluem a Zona do Plano de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico (A1), a Zona do Plano de Salvaguarda e Renovação de S. Paio (A2), a Zona de S. Salvador (B1), a Zona de S. Bento (B2) e um dos dois Conjuntos de Interesse Turístico e Arquitectónico (D). De facto, além de pequenos ajustes, como a inclusão do tramo inicial da estrada E.N. 303 de forma a abarcar um pequeno conjunto de edifícios antigos e um edifício da segunda metade do século XX, no essencial, a área delimitada naquele plano apenas é significativamente acrescentada em dois locais: por um lado, visando perfazer a continuidade da marginal, com a adição da área estruturada pelas ruas Tomaz de Figueiredo e do Padre Luís Gonzaga Azevedo e urbanizada há mais de 40 anos; por outro lado, pela acoplagem de outro dos Conjuntos de Interesse Turístico e Arquitectónico (D), situado na margem esquerda do Vez e estruturado pelo antigo caminho de Requeijo, podendo, assim, acautelar-se a preservação das poldras e de uma área com um carácter peculiar bem marcado, já representadas no plano de urbanização de 1947. 18 Proposta de delimitação da Área de Reabilitação Urbana 19 Poldras de atravessamento do Rio Vez, 1970. Poldras de atravessamento do Rio Vez, 2014. 20 3. SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO DA ARU Época de construção, estado de conservação e potencial de transformação Estimamos que na ARU existam cerca de 363 edifícios com 565 alojamentos familiares, 38% dos quais construídos antes de 1970 (figura 1). A mistura de edificado antigo com tecidos urbanos recentes, justapondo morfo-tipologias e estados de conservação muito contrastantes transmitem a necessidade de se refletir uma intervenção de reabilitação urbana nesta área. Existe um panorama muito diversificado relativamente ao sentido tipológico dos edifícios, com um padrão de considerável heterogeneidade no que respeita à volumetria das construções, pois frequentemente a diferença de volumetria entre edifícios contíguos estabelecem rupturas morfológicas. Assim, a imagem urbana evidencia a diversidade formal e de escala dos factos urbanos presentes. Gráfico 1. Edifícios por época de construção, na ARU, 2011 Antes de 1919 6% de 1991 a 2011 30% De 1919 a 1945 9% De 1946 a 1970 23% De 1971 a 1990 32% Fonte: INE, cálculos próprios. 21 Figura 1. Tipologia do edificado por época de construção, por subsecção, na ARU e no PU de Arcos de Valdevez. Em termos de estado de conservação cerca de metade do edificado exige reparações com diferentes níveis de profundidade: 13% estão muito degradados; 20% vão exigir grandes ou médias reparações e só 16,5% exigem pequenas reparações. A gravidade e a disseminação das situações de mau estado de conservação exigem o desenvolvimento de um programa de reabilitação que priorize as intervenções e identifique os percursos ou os contextos urbanos mais expostos. 22 Figura 2. Localização dos equipamentos na ARU e no PU de Arcos de Valdevez Gráfico 2. Edifícios por estado de conservação,2011 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Total - Sem Total Pequenas necessidade necessidades reparações de reparação de reparação Reparações médias Grandes reparações Muito degradado 23 São inúmeras as situações de imóveis parcialmente ou totalmente devolutos. Estimamos cerca de 112 alojamentos vagos, o que corresponde a 10,4% do total de alojamentos de residência habitual. Na maioria dos casos, correspondem a imóveis num estado de degradação muito avançada e sem os níveis mínimos de habitabilidade. Em termos prioritários é necessário identificar estas situações, analisar as intensões dos atuais proprietários e desencadear processos de reabilitação adaptados às situações. Algumas das aparentes intervenções de manutenção e de reabilitação de estruturas de edificado realizadas, correspondem a operações ligeiras que não resolveram claramente as patologias em destaque (infiltrações, degradação de caixilharias, nomeadamente). Foram também realizadas pinturas sobre massas deterioradas levando ao aparecimento de diversos sintomas da degradação. Algumas das intervenções com maior profundidade envolveram soluções de agregação tipológica, segregando as serventias urbanísticas do piso térreo e pisos altos. Estas intervenções na maioria das vezes não provocaram malformações indesejadas. Neste sentido, as agregações tipológicas poderão favorecer a inclusão de sistemas de conforto habitacional, seguindo as aspirações e as expectativas da população residente. O facto de cerca de metade dos alojamentos familiares (quadro 1) serem ocupados pelos próprios proprietários facilita à partida os processos de reabilitação que se quiserem implementar. Em termos de materiais de construção, o betão armado já domina na ARU (74% dos edifícios), havendo um numero significativo de edifícios sem placa e em adobe ou alvenaria de pedra solta (figura 3). Em termos morfo-tipológicos (figura 4 e 5), a estrutura apresenta-se de certa forma relativamente diversificada. Na ARU, os contrastes manifestam-se entre os quarteirões onde dominam os edifícios com 3 ou mais alojamentos com as tradicionais morfologias do edificado em banda, refletindo um crescimento urbano mais contido e mais homogéneo. Estes contrastes também se manifestam na diversidade de número de pisos justapostos. Figura 3. Tipologia do edificado por materiais de construção dominante, por subsecções, na ARU e no PU de Arcos de Valdevez Figura 4. Tipologia do edificado por morfologia, Figura 5. Tipologia do edificado por número de por subsecções, na ARU e no PU de Arcos de pisos, por subsecções, na ARU e no PU de Arcos Valdevez de Valdevez 25 Quadro 1. Indicadores relativos ao edificado localizado na ARU Total de edifícios Antes de 1919 De 1919 a 1945 Época de construção De 1946 a 1970 do edificado De 1971 a 1990 De 1991 a 2011 Total de edifícios Total – Bom estado de conservação Total - Com necessidades de reparação Estados de conservação e Pequenas reparações necessidade de reparação Reparações médias Grandes reparações Muito degradado Betão armado Materiais de construção Paredes de alvenaria com placa do edificado Paredes de alvenaria sem placa Paredes de adobe ou alvenaria de pedra solta e outros Total de alojamentos familiares Ocupado pelo proprietário Tipo de ocupação dos alojamentos familiares Ocupado por arrendatário Nº % 363 23 33 84 114 109 363 181 182 60 33 41 48 267 58 58 100 6,3 9,1 23,1 31,4 30,0 100 49,9 50,2 16,5 9,1 11,3 13,2 73,6 7 8,5 565 292 229 100 51,7 40,5 73,6 16,0 Fonte: INE, dados estimados a partir da sobreposição das subsecções na ARU. Nota: Dados estimados a partir da sobreposição da ARU às subsecções estatísticas do INE. Espaço Público A rede de espaços públicos existentes representa um subsistema de utilização colectiva com primazia ao nível das dinâmicas sociais, económicas e institucionais. Os espaços públicos e os edifícios de utilização colectiva marcam a estrutura urbana de Arcos de Valdevez. Assim, este sub-sistema juntamente com a funcionalidade atribuída ao comércio, aos serviços e à restauração (figura 6) promovem uma série de percursos, definindo eixos estruturantes para a estratégia de reabilitação urbana. A isto juntam-se os valores patrimoniais classificados que foram objecto recente de diversas ações de valorização urbanística pela Câmara Municipal de Arcos de 26 Valdevez, designadamente em termos de valorização do património cultural, arquitectónico e arqueológico. Figura 6. Usos mistos e residenciais na ARU e no PU de Arcos de Valdevez. A frente de rio e um conjunto de praças e equipamentos urbanos apresentam uma forte ligação com a população residente transmitindo a Arcos de Valdevez uma imagem de urbanidade. Nas principais áreas de interesse paisagístico Como espaços públicos mais relevantes destacam-se o Largo da Lapa, o Largo do Município, o Campo do Trasladário, a rua Soares Pereira e Praça Salvador Alves Pereira, entre outras. No núcleo central sobressaem a Igreja da Lapa e a Igreja do Espírito Santo, a Câmara Municipal o Palácio da Justiça, e o Edifício das Conservatórias e Notariado. Os pavimentos e o mobiliário urbano encontram-se renovados nas principais artérias e praças, apresentando um design moderno e em bom estado de conservação. Nas praças intervencionadas foi eliminado o estacionamento e foram valorizadas as 27 zonas pedonais. Em matéria de intervenção algumas artérias ainda precisam de ser qualificadas. Figura 7. Tipologia dos alojamentos em função da existência de estacionamento, por subsecções, na ARU e no PU de Arcos de Valdevez. A frente ribeirinha é por excelência o espaço ambientalmente mais qualificado proporcionando a ocupação de práticas desportivas e de lazer, com jardins e zonas verdes sombreadas, permitindo o usufruto de uma paisagem urbana de destacado valor. São os espaços públicos que estruturam e dão identidade urbana a esta área urbana. Aparentemente a valorização do espaço público contagiou o processo de reabilitação do edificado, promovido ora pelas entidades públicas ora pelas privadas, fruto também da melhoria significativa das infraestruturas e das condições de habitabilidade. 28 Estrutura e dinâmicas sociais e económicas Numa época de mudança acelerada, numa sociedade com ansiedade face ao futuro, e num território num contexto de perda populacional as dinâmicas sociais e económicas ganham um especial destaque. Hoje em dia, os territórios de baixa densidade, estão fortemente pressionados pelos problemas do envelhecimento, do isolamento e da falta de emprego. Nesse sentido, os processos de reforço da coesão territorial e da justiça social passam pela promoção da qualidade de vida e do bemestar nas centralidades urbanas, nomeadamente nas áreas históricas e mais antigas. Processos de reabilitação inclusivos socialmente que promovam a atratividade residencial e económica das áreas urbanas centrais parece ser um claro contributo para o reforço da justiça social. Os níveis de acessibilidade mudaram drasticamente nos últimos anos, com a conclusão do IC28, com ligação direta à A3 e ao IC1, dando uma forte visibilidade externa a esta área. O crescimento populacional do centro urbano tem acompanhado a evolução concelhia, o que significa que tem vindo a regredir demograficamente. Até à década de sessenta houve um aumento populacional, mas a partir de 1960 o decréscimo começou a evidenciar-se. A sede concelhia, no entanto, tem demonstrado capacidade para resistir à queda populacional e conseguir atrair e fixar população residente. CONCELHO 2001 2011 População Residente Total 24761 22847 População Residente com menos de 24 anos 6 369 4 659 População Residente com 25 aos 64 anos 11 762 11 131 População Residente com mais de 65 anos 6 630 7 057 No perímetro urbano de Arcos de Valdevez residem cerca de 4200 indivíduos, ou seja cerca de 18% da população concelhia. Na ARU residem 1400 indivíduos (quadro 2), com uma estrutura etária relativamente envelhecida. O envelhecimento 29 expressa-se no número de reformados mas também no peso dos idosos a viverem sós ou com outros idosos (quadro 2). O receio da solidão, do isolamento, da perda de saúde, aliada a uma distribuição de recursos muitas vezes desigual, impõe no futuro uma análise mais aprofundada da estrutura social. Figura 8. Tipologia da população residente, por estrutura etária, por subsecção. Em termos de residentes empregados, o perfil de atividades é claramente dominado pelo sector terciário, sobretudo no comércio, nos serviços pessoais e no sector público. Em termos de atividades económicas é fundamental diversificação a oferta em torno da valorização dos recursos endógenos, no desenvolvimento de uma oferta turística que promova um maior relacionamento urbano-rural e que se concebam soluções residenciais diferenciadoras. 30 O novo ciclo de prosperidade e bem estar no contexto pós-crise passará necessariamente pela reformulação estrutural e profunda dos paradigmas de qualidade de vida vigentes nas últimas quatro décadas mas também por uma política de reabilitação urbana “feita à medida” (tailored) das necessidades e dos anseios das populações. Figura 9. Tipologia da população residente, por níveis de escolaridade, por subsecção. Figura 10. Tipologia da população residente empregada, por sector de atividade, por subsecção. 31 Quadro 2. Indicadores relativos à População Residente na ARU, 2011 Estrutura étaria Nível de escolaridade Atividade económica Estrutura social Total de População Residente 0 aos 24 anos 25 aos 64 anos 65 ou mais anos Não sabe ler nem escrever 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Ensino Secundário Ensino Superior Total de População Residente Empregada Setor Primário Setor Secundário Setor Terciário Reformados por População total Idosos a residir em alojamentos familiares sós* Desempregados por População Ativa *População com 65 mais anos a residir sós ou com outros idosos Fonte: INE, dados estimados a partir da sobreposição das subsecções à ARU. Nº % 1402 367 745 290 35 311 167 264 228 229 629 8 105 516 325 100 26,2 53,1 20,7 2,5 22,2 11,9 18,8 16,3 16,3 100 1,3 16,7 82,0 16,8 178 12,7 51 7,3 32 4. OBJECTIVOS ESTRATÉGICOS Foram estabelecidos os objetivos gerais que devem nortear a reabilitação urbana: - incentivar e facilitar a reabilitação do edificado com valor patrimonial e histórico e dinamizar a reabilitação do tecido urbano degradado; - promover a revitalização e a atratividade económica e fomentar o turismo, a cultura e o lazer; - qualificar o espaço publico e reforçar a unidade, a identidade e a imagem urbana; - reforçar a centralidade urbana de Arcos Valdevez a nível municipal e aumentar a sua atratividade regional. A concretização destes objectivos passa pelo desenvolvimento de um projeto diferenciador em termos de soluções residenciais e urbanas, onde o aprofundamento do intercâmbio urbano-rural deve ser dinamizado, a oferta turística deve de ser potenciada em rede e o reforço da atratividade deve dirigir-se para novos segmentos da procura. É necessário que o projeto de reabilitação urbana venha a adotar no futuro abordagens ágeis (agile planning), arriscando e seguindo comportamentos de tentativa-erro-aprendizagem (learn process) que permitam ir construindo, de forma mais experimental, aberta e colaborativa, novos processos de desenvolvimento urbano. Este tipo de processos adota abordagens mais customizáveis e económicas, mas que uma vez testadas e validadas são passíveis de serem escaladas e replicadas com os necessários ajustamentos, de forma mais global. 33 5. APOIOS e INCENTIVOS A concretização e a operacionalização da estratégia de reabilitação urbana subjacente à proposta de delimitação da ARU de Arcos de Valdevez carece da definição de um conjunto de instrumentos de incentivo de natureza fiscal. Estes benefícios fiscais poderão, ainda, vir a ser complementados com eventuais apoios à regeneração e reabilitação urbana a instituir no quadro do próximo ciclo de programação dos fundos estruturais. Desta forma, e através da criação de um quadro fiscal favorável, conjugado com outros tipos de apoio ao investimento, procura-se mobilizar ação dos principais agentes no processo de reabilitação urbana (proprietários, senhorios inquilinos, residentes em geral, instituições públicas e privadas, comerciantes, a restauração, empresas de construção e promotores imobiliários) a intervir na qualificação, revalorização e refuncionalização do espaço e da oferta urbana, de acordo com a estratégia de reabilitação urbana consagrada nesta proposta, considerando-se como mais relevantes, podendo durante o processo de elaboração, discussão e aprovação da Operação de Reabilitação Urbana vir este quadro a sofrer ajustamentos. Benefícios Fiscais no âmbito da Reabilitação Urbana Sem prejuízo de outros incentivos ou apoios existentes ou a criar, referem-se aqueles que no quadro legal vigente. O investimento em imóveis a realizar no âmbito da ARU beneficia de várias e importantes vantagens do ponto de vista fiscal para além das relativas aos impostos municipais sobre imóveis, designadamente no que se refere ao IRS, ao IRC e ao IVA. De entre estas, destacam-se: IVA Estão sujeitos à taxa reduzida do IVA (6%) as empreitadas de reabilitação urbana, tal como definida em documento específico, realizadas em imóveis ou em espaços públicos localizados em áreas de reabilitação urbana delimitadas nos termos legais - 34 (CIVA Anexo Lista I Verba 2.23). IRS • Dedução à coleta com um limite de 500 euros, de 30% dos encargos suportados pelos proprietários, relacionados com ações de reabilitação de edifícios - art.º 71.º do EBF; • Tributação à taxa de 5 % das mais-valias auferidas por sujeitos passivos residentes em território português quando sejam inteiramente decorrentes da alienação/arrendamento de imóveis recuperados em áreas de reabilitação urbana, sem prejuízo da opção pelo seu englobamento - art.º 71.º do EBF. Benefícios Fiscais Associados aos Impostos Municipais Refira-se a propósito que, nos termos do Artigo 14.º do Regime Jurídico da Reabilitação Urbana, aprovado pelo Decreto Lei n.º 307/2009, de 23 de Outubro, com a última redação dada pela Lei n.º 32/2012, de 14 de Agosto, a delimitação de uma área de reabilitação urbana confere aos proprietários e titulares de outros direitos, ónus e encargos sobre os edifícios ou frações nele compreendidos o direito de acesso aos apoios e incentivos fiscais e financeiros à reabilitação urbana, nos termos estabelecidos na legislação aplicável. Nos termos da alínea c) do n.º 2 do Artigo 13.º e da alínea a) do Artigo 14.º da Lei n.º 32/2012, de 14 de Agosto, a proposta de delimitação de uma área de reabilitação urbana obriga à definição do quadro dos benefícios fiscais associados aos impostos municipais, designadamente o imposto municipal sobre imóveis (IMI) e o imposto municipal sobre as transmissões onerosas de imóveis (IMT), nos termos da legislação aplicável. Neste contexto, a área da delimitada pela ARU beneficiará dos seguintes incentivos associados aos impostos municipais: • IMI - Imposto Municipal sobre Imóveis o Isenção por um período de dois anos, a contar do ano, inclusive, da emissão da respetiva licença camarária para os prédios urbanos objeto de reabilitação - art.º 45.º do EBF; o Isenção de IMI por um período de cinco anos, a contar do ano, 35 inclusive, da conclusão da mesma reabilitação, podendo ser renovada por um período adicional de cinco anos - art.º 71.º do EBF; • IMT - Imposto Municipal sobre Transmissões Onerosas o Isenção de IMT nas aquisições de prédios destinados a reabilitação urbana, desde que no prazo de dois anos a contar da data da aquisição o adquirente inicie as obras - art.º 45.º do EBF; o Isenção de IMT nas aquisições de prédio urbano ou fração autónoma de prédio urbano destinado exclusivamente a habitação própria e permanente, na primeira transmissão onerosa do prédio reabilitado art.º 71.º do EBF. Nos casos acima expostos, os benefícios fiscais a atribuir dependem de comprovação do início e da conclusão das ações de reabilitação pela Câmara Municipal, que está incumbida de certificar o estado dos imóveis antes e depois das obras. Para o efeito, entende-se por reabilitação urbana o processo de transformação do solo urbanizado, compreendendo a execução de obras de construção, reconstrução, alteração, ampliação, demolição e conservação de edifícios, tal como definidas no Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação, com o objectivo de melhorar as condições de uso, conservando o seu carácter fundamental, bem como o conjunto de operações urbanísticas e de loteamento e de obras de urbanização, que visem a recuperação de zonas históricas e de áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística, sendo tal reabilitação certificada pelo Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana ou pela câmara municipal, consoante o caso. Instrumentos de Incentivo Financeiro Os incentivos de natureza financeira poderão corresponder à atribuição de comparticipações pecuniárias com montantes variáveis e de várias tipologias de apoio, poderão revestir a forma de regimes especiais no âmbito das taxas e licenças municipais: A este título, as obras de reabilitação do edificado realizadas na área delimitada da ARU de Arcos de Valdevez beneficiarão de: 36 • Redução em 50% das taxas relativas a urbanização, edificação, reforço de infraestruturas e utilização e aproveitamento do domínio público municipal em obras de reabilitação de edifícios. • Redução, durante 3 anos, em 50% das taxas relativas à ocupação da via pública e publicidade em estabelecimentos de atividades económicas a funcionar em edifícios reabilitados. Os incentivos financeiros e fiscais à reabilitação do edificado serão concedidos após a boa execução das obras, declarada pela Câmara Municipal de arcos de Valdevez e cessarão sempre que se verifique que a obra não se realizou de acordo com o projeto aprovado. Outros Apoio e Incentivos Reconhecendo que para além da fixação de um quadro fiscal favorável ao investimento em projetos de reabilitação urbana inseridos ARU e consonantes com os objetivos fixados, é necessário contribuir para a criação de outras condições e variáveis que facilitem, agilizem e promovam os projetos de reabilitação designadamente no que se refere à diversificação das fontes de financiamento, a Câmara Municipal dos Arcos de Valdevez desenvolverá um conjunto de ações entre as quais se destacam as seguintes: • Celebração de protocolos com instituições bancárias tendo em vista facilitar o acesso ao crédito, a redução de comissões e o estabelecimento de condições de financiamento mais favoráveis; • Apoio técnico na identificação de fontes de financiamento dirigidas à reabilitação urbana ou com conexões com esta (ex. eficiência energética), que permitam aos promotores de projetos de reabilitação urbana, públicos e privados, aceder aos fundos estruturais disponibilizados no âmbito da política de coesão da União Europeia, designadamente aos novos instrumentos de engenharia financeira de que é exemplo o programa JESSICA; 37 ANEXO: Planta de Zonamento do Plano de Urbanização da sede de concelho (rectificação – V2007)