AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E
OS SEUS DESAFIOS
Delmar Mattes
A DIMENSÃO DO PROBLEMA
 Não se trata de uma crise qualquer, não
envolvendo apenas impactos locais regionais
mas, acima de tudo um fenômeno global
associado a uma crise de civilização que se
manifesta também numa crise econômico-
financeira, energética, alimentar e de valores
éticos/morais na relação do homem com a
natureza, de valores humanos e de
responsabilidades dos seus efeitos sobre as
populações mais afetadas. Enfim um sistema
político, econômico e social e, por estilo e
padrão de vida insustentável.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA
 O desenvolvimento sustentável entendido
como
um
processo
multidisciplinar,
fundamentado em objetivos econômicos,
sociais e ambientais onde cada uma dessas
dimensões constitui uma condição necessária
porém não suficiente para a sustentabilidade.
No plano global a sustentabilidade deve ser
relacionada ao modelo político, econômico e
social existente.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA
 Estudos científicos mostram que
a
pegada ecológica do planeta atualmente é
superior a sua capacidade de regeneração
dos recursos naturais em 30%. Mantendo
essa tendência de aumento caminhamos
para um déficit suicida .
Fonte: Krug, T. Biocombustíveis: do agronegócio ao uso final e sua influencia no regime
do clima global, Primeiro Seminário brasileiro sobre Seqüestro de Carbono e Mudanças
climáticas, Natal, 2007.
O SIGNIFICADO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
● As mudanças climáticas constatadas atualmente
são resultado de um aquecimento global
acelerado provocado por emissões de gases de
efeito estufa emitidas por atividades humanas
especialmente devido a queima de combustíveis
fosseis (petróleo, carvão mineral, gás natural) e
mudanças de uso do solo (desmatamento,
atividades agrícolas, queimadas e incêndios).
O SIGNIFICADO DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS
● Os efeitos das mudanças climáticas já vem se
manifestando em todos os países, evidenciados
especialmente pelos eventos climáticos extremos
que tem aumentado de 200 casos anuais para
400,
envolvendo
furacões
e
ciclones,
modificações nos padrões de chuva e umidade,
inundações, ondas de calor e agravamento das
secas.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA E A DÍVIDA
ECOLOGICA
● É verdade que todos os países contribuem para emissões
de gases de efeito estufa e para o agravamento das
condições de deterioração da superfície do planeta (uso
do solo). Porém ela se dá de modo diferenciado: os
países desenvolvidos são os principais responsáveis pelo
aquecimento global, pelas acumulações históricas de
emissões de Gases de Efeito Estufa desde a revolução
industrial no século XVIII, agravados pelas políticas
neoliberais aplicadas nas últimas quatro décadas
(especialmente entre 1995-2005, quando tiveram um
aumento de 20 % (Pichs,R./2008).
A DIMENSÃO DO PROBLEMA E A DÍVIDA
ECOLOGICA
● No entanto, mais recentemente os países em
desenvolvimento (os chamados emergentes, como
China, Índia e Brasil), tem aumentado as suas
emissões, de modo que embora não integram os
países do chamado Anexo I, estão moralmente
comprometidos com a redução de emissões.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA E A DÍVIDA
ECOLOGICA
● Atualmente de a quinta parte da população
mundial vive nos países com maiores rendas,
sendo esses responsáveis pela maior parte da
contaminação ambiental global. No caso das
emissões de C02, somente os EUA emitem cerca
de quarta parte de gases de efeito estufa. Isso
equivale a nove vezes as emissões médias por
habitante em relação aos países do Terceiro
Mundo e oito vezes aos países da América Latina
e Caribe.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA E A DÍVIDA
ECOLOGICA
● Embora os impactos das mudanças climáticas
afetam de um modo geral toda a população
mundial, os países mais vulneráveis e as
populações mais atingidas pelos seus efeitos
negativos são respectivamente os países
subdesenvolvidos e as camadas mais pobres
inclusive a dos países industrializados.
A DIMENSÃO DO PROBLEMA E A DÍVIDA
ECOLOGICA
●
Os países industrializados responsáveis por
assumir os custos e responsabilidades para os
países do Hemisfério sul, como parte de uma
dívida ecológica. Ou seja, a obrigação e
responsabilidade que eles tem pelo saque e
usufruto de seus bens naturais, petróleo,
minerais, florestas, biodiversidade, bens marinhos
às custas da energia humana de seus povos e da
destruição, devastação e contaminação do
patrimônio natural e de fontes de sustento da
humanidade.
CORTE DE EMISSÕES E COMPROMISSOS
●
A Convenção do clima foi adotada por
unanimidade em 1992, diante de evidências
apresentadas por cientistas de que a composição
da atmosfera estava sendo alterada e que ela
deveria provocar o aquecimento da Terra, além
de efeitos indesejáveis.
CORTE DE EMISSÕES E COMPROMISSOS
● O Protocolo de Kyoto de 1997 aprovou corte de
5,2%, tendo como referência os índices de
emissões de 1990 (compromissos comuns porém
diferenciados). Os EUA não assinaram o acordo e
a maioria dos que o assinaram não cumpriram.
Entre 1992 (ano da Conferência do Rio de
Janeiro) até 2006, houve um aumento de 30% das
emissões.
CORTE DE EMISSÕES E COMPROMISSOS
● O Relatório do IPCC recomenda entre 25% a
40% até o ano de 2020 e 80% até 2050 (base de
1990)
CORTE DE EMISSÕES E COMPROMISSOS
● Atualmente as propostas apresentadas na mídia
são insuficientes e a maioria dos países
desenvolvidos não querem assumir metas fixas,
chegando a falar em abandono do Protocolo de
Kyoto, em troca de um compromisso político (não
vinculante). Os EUA anunciaram 17% até 2020
(base 2005), porém sem maiores compromissos
enquanto não tiverem aprovado o projeto de lei
pelo Congresso.
CORTE DE EMISSÕES E COMPROMISSOS
● O Brasil anunciou metas voluntárias corajosas
mediante corte de 36,1 a 38,9% até o ano de 2020,
tendo como base as emissões de 2005, mediante a
redução do desmatamento em 80% (até 2020) e
ações para mitigação no setor siderúrgico,
agropecuário e energético: aumento da eficiência
energética, ampliação de hidrelétricas e energia
eólica, emprego do “aço verde” e recuperação de
pastagens, além de plantio direto.
A CAUSA ESTUTURAL DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
● A origem dos problemas, a verdadeira causa das mudanças
climáticas está no atual modelo político, econômico e social
do capital baseado nos elevados padrões de consumo e
produção, destinados prioritariamente para o mercado e não
para as necessidades da população, comandados por uma
lógica baseada na maximização dos lucros e na acumulação
de capitais. Neste sistema não há controle para a expansão e
a produção e consumo se desenvolvem separadamente,
acabando gerando um consumismo sem limites. Atualmente
a produção de supérfluos está muito acima das necessidades
básicas e vem se distanciando em proporções cada vez mais
maiores.
A CAUSA ESTUTURAL DAS MUDANÇAS
CLIMÁTICAS
● Essa lógica do sistema baseado na expansão,
crescimento permanente e sem limites exige, na
mesma proporção, um uso crescente de enormes
quantidades de matérias primas, recursos naturais
e serviços ambientais, ao mesmo tempo em que
produz grandes volumes de resíduos sólidos e
líquidos e de gases de efeito estufa. Um exemplo
ilustrativo: Os EUA (5% da população usam cerca
de 25% da energia mundial).
MEDIDAS MITIGATÓRIAS E ADAPTATIVAS
“Quem sobrevive não é o mais forte
mas
aquele
que
tem
melhor
capacidade de se adaptar” - Charles
Darwin.
MEDIDAS MITIGATÓRIAS E ADAPTATIVAS
● Mitigatórias: redução de emissões e seqüestro de
emissões acumuladas na atmosfera
●Adaptativas: enfrentamento dos efeitos dos gases já
acumulados desde o período industial
● As duas medidas precisam ser implementadas
conjuntamente e de forma integrada.
MEDIDAS MITIGATÓRIAS E ADAPTATIVAS
● Posição dos países industrializados: incertezas e
valores ridículos. G77: 200 a 400 milhões de dólares
anuais e o Banco Mundial 75 a 100 milhões de
dólares anuais. Orçamento aprovado pelo Senado
dos EUA (outubro 2009) 1 trilhão de dólares para a
guerra do Afeganistão e Iraque. Outros maiores
trilhões para ajudar as empresas falidas na crise
econômico-financeira.
POLÍTICAS DE BAIXO CARBONO
●
Tecnologias de maior eficiência energética e com
maior capacidade de redução de emissões
● Ampliação de energias renováveis (solar, eólica,
marinha, biomassa e hidroelétrica).
●Taxas de carbono (destinadas a inibir o uso de
combustíveis fósseis)
POLÍTICAS DE BAIXO CARBONO
● Tecnologias de seqüestro de carbono (biomassa
mediante florestas artificiais e agrocombustíveis e
geologias)
● Transferência de emissões dos Países do Norte para
o Sul
● Ampliação da energia nuclear
POLÍTICAS DE BAIXO CARBONO
●
Proteção e conservação
biodiversidade
dos
biomas
e
da
● Instrumentos econômicos voltados para o mercado
de carbono ( MDL)
● Conjunto de políticas e medidas voltadas para a
busca de sustentabilidade:
planejamento e
desenvolvimento urbano voltado para a nova
realidade, políticas de resíduos sólidos (como as dos
3 R´s), reuso do óleo comestível e muitas outras.
AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS
1. Falsas soluções: energia nuclear, florestas artificiais,
agrocombustíveis, transferência de emissões,
hidroelétricas de grande porte (contexto do Brasil) e
MDL.
2. Propostas importantes e extremamente vantajosas
em si, mas que perdem grande parte de seus
benefícios quando avaliadas em função do modelo
político, econômico e social que serão aplicadas.
AVALIAÇÃO E PERSPECTIVAS
3. Soluções mais importantes, decisivas e emergenciais:
proteção e conservação dos biomas e da
biodiversidade e políticas voltadas para a
sustentabilidade (valorizar o capital natural).
4. Exigência de aplicação das medidas mitigatórias
integradas às medidas adaptativas com a mesma
prioridade e importância.
5. Enfrentamento prioritário da crise mundial da
fome
OS VERDADEIROS OBJETIVOS DAS
PROPOSTAS
●Preservação e ampliação do modelo responsável pela
crise climática e aplicação de uma estratégia para a
atual crise econômica –financeira, substituição da
energia fóssil e redução de emissões de carbono
(consumismo sem limites) e manutenção do poder
político e econômico
● Implantação de um novo ciclo de renovação
destrutiva
OS VERDADEIROS OBJETIVOS DAS
PROPOSTAS
●
A maior parte da “ajuda” aos países
subdesenvolvidos destina-se a financiar a venda das
novas tecnologias de
combate ás mudanças
climáticas que os países desenvolvidos são
possuidores dos direitos autorais aos países
subdesenvolvidos (cooperação tecnológica em vez de
transferência tecnológica).
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Delmar Mattes