3 iMPeRDÍVel 6 BeNeFÍCio Novidades do Congresso Europeu de Microbiologia e Doenças Infecciosas Desconto e novas formas de 5 ASSoCiAtiViSMo 7 oPiNiÃo Sociedade Paulista de Infectologia comemora duas décadas no Brasil: como estamos? pagamento ao associado Aumento de casos de sarampo sbi www.infectologia.org.br Boletim de informação e atualização da Sociedade Brasileira de Infectologia – Ano XII – N0 46 – Abril/Maio/Junho de 2014 Recusa em tomar vacinas é fenômeno histórico, que deve ser combatido Por Érico Arruda, presidente da SBI R ecusa de vacinas é um fenômeno histórico, que remonta ao surgimento dessas fantásticas estratégias de proteção da saúde. Edward Jenner, médico e cientista inglês, pioneiro na utilização de vacina contra varíola, numa época de grande epidemia, enfrentou desconfiança sobre a utilidade e segurança de sua descoberta, mesmo após experimentos humanos de resultados surpreendentes. Nos dias de hoje, depois de provado o conceito da imunização, que pode ser robusta e duradoura, através de estímulos com substâncias desenvolvidas com esse fim, a questão da segurança costuma ser o ponto de crítica principal de grupos contrários, que causam comprometimento da adesão às campanhas e programas básicos de vacinação. Estima-se que 2,5 milhões de mortes anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal básico, em todo mundo. Raros são os eventos adversos sérios, como anafilaxia. A larga maioria são eventos de pequena monta, como dor e rubor no local da aplicação, febre baixa e mal-estar. É de se compreender que, na medida em que alguns problemas graves vão sendo superados (varíola, poliomielite e sarampo, por exemplo), em certas comunidades esses grupos populacionais passam a perceber mais os riscos da vacina do que seus benefícios. Principalmente, quando em desmedido valor, costumam valorizar o naturalismo como melhor estratégia de vida: “a imunidade desencadeada pela doença é superior à da vacina”. Esquecendo que a doença faz sofrer e morrer, em percentual muitas vezes maior que o dos eventos adversos graves – raros como já dissemos –, relacionados às vacinas. Argumentam, ainda, que os estímulos vacinais em grande carga poderiam desencadear doenças autoimunes e outras patologias degenerativas. Além dos naturalistas, poderíamos juntar a esses os adeptos da medicina antroposófica e quiroprática. Houve, por erros científicos – e até de natureza ética – a publicação de estudos que propiciaram falsos argumentos a esses grupos. Apenas para citar o mais emblemático, um médico britânico publicou um artigo, em importante revista médica mundial, relacionando os conservantes da vacina tríplice viral (sarampo, caxum- Estima-se que 2,5 milhões de mortes anuais sejam evitadas com as vacinas do calendário vacinal básico, em todo mundo ba e rubéola) com o aparecimento de autismo em crianças expostas. Depois de alguns anos, descobriu-se que havia erros e até fraude nos dados do pesquisador, que motivaram a cassação do seu registro profissional. A revista retirou o artigo de sua base de dados. Além da grande repercussão inicial, até hoje pesa sobre o fato, pelo menos em grau significativo de colaboração, a recrudescência de sarampo em alguns países da Europa devido a essa publicação de baixa qualidade científica. Como complicador, somamse os argumentos radicais religiosos. O conceito mais grosseiro talvez possa ser descrito como: “se Deus nos enviará uma doença, não devemos tentar obstruir os seus planos”. Os fundamentalistas islâmicos ganham destaque atual nessa posição, fazendo de países como Paquistão, Afeganistão e Nigéria os líderes mundiais de casos de poliomielite e de baixas coberturas vacinais. Outros grupos religiosos conservadores cristãos, entre eles o americano Family Research Council (FRC) – que também se posiciona contra o aborto, homossexualidade, divórcio, transfusão de hemoderivados e estudo com células embrionárias –, têm contribuído para suscitar dúvidas na comunidade, sobre efetividade e segurança das vacinas. Recentemente, moveram campanhas contra a vacinação para o HPV. Dr. Guido Carlos Levi, renomado colega da nossa SBI, publicou recentemente um livro muito interessante sobre a recusa de vacinas. Recomendo a leitura, com maior detalhamento dessas questões, disponível para download no portal www.infectologia.org.br. Em resumo, motivos religiosos ou filosóficos e desinformação quanto a riscos de eventos adversos são os principais motivos para a recusa de vacinas, e devemos combater em prol da melhoria da qualidade de vida do indivíduo e, principalmente, da coletividade. As vacinas estão entre as maiores conquistas da humanidade. A recusa de vacina de um pode significar o sofrimento e morte, por doença, de vários outros. 2 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014 EDITORIAL Érico Arruda Presidente da SBI E Projetos, ações e resultados stimado infectologista, “enquanto a bola rola” voltamos a lhe informar sobre as atividades da SBI. Nesses últimos meses (abril, maio e junho), focamos nossas ações em profunda discussão e elaboração de propostas de reformulação do Estatuto, que detalharemos um pouco adiante. Introduzimos mudanças na maioria dos comitês científicos e comissões permanentes e realizamos intenso trabalho de divulgação. No Dia Nacional do Infectologista, 11 de abril, atingimos o ponto alto desse esforço de comunicação, com o lançamento de uma campanha que teve como slogan “Vacinas são do bem! Não fique fora dessa!”. Buscamos envolver todas as federadas nessa atividade ao enviar panfletos, que distribuímos, em ato simbólico, na praça de alimentação de um centro comercial da cidade de São Paulo. Participamos de importante solenidade no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na qual o Dr. Guido Carlos Levi recebeu justa homenagem daquela instituição. Sem descuidar de nossas responsabilidades quanto à vigilância e incentivo à melhoria do SUS, alertamos o país, através dos meios de comunicação, incluindo o jornal impresso O Estado de São Paulo e o televisivo “Jornal Nacional” – para citar apenas dois grandes veículos de comunicação – sobre o grave problema de desabastecimento de alguns imunógenos em vários estados brasileiros. Instituímos o envio quinzenal de mensagens (News SBI) a todos os associados, que você deve estar recebendo. O 9º Congresso Paulista de Infectologia foi um momento muito importante para o encaminhamento das ações de reformulação do estatuto. Destaco o excelente trabalho da comissão organizadora e de todos os membros da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI), liderados pelo Dr. Mauro Salles, que nos presentearam com um maravilhoso evento. Por oportuno, agradecemos a todos pela acolhida e viabilização de estrutura para as atividades realizadas pela SBI. Da mesma forma, nos dirigimos aos Drs. João Mendonça, Juvêncio Furtado e Carlos Brites, membros da Comissão Especial para Revisão do Estatuto, pela gigantesca colaboração, após árduo trabalho de estudar e propor melhorias ao estatuto da SBI. O Conselho Deliberativo acatou a maioria das propostas encaminhadas pela comissão e modificou algumas, que foram depois levadas e aprovadas na Assembléia Geral Extraordinária. Debatemos e deliberamos a sede do Congresso Brasileiro de Infectologia 2017 (Infecto 2017), que temos a felicidade de anunciar que será realizado na “cidade maravilhosa”, sob organização da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro (SIERJ). Na Assembleia Geral, vivenciamos fato inédito ao realizá-la em conjunto com a Assembleia Geral da SPI. Momento histórico que, sob intenso e respeitoso debate, permitiu a aprovação de várias mudanças do Estatuto, por unanimidade, cabendo destaque a dois pontos principais: modificação do quorum mínimo necessário para a sua própria reformulação; e modificação do processo eleitoral da diretoria, que passará a ser apenas por votos eletrônicos (on line) ou por correios, sem votação durante o congresso. Já estamos em campanha para agregar novos associados, com primeiro valor da anuidade promocional (50% do valor cobrado) e aumento da adimplência, com incentivo ao pagamento das anuidades atrasadas pelo novo portal eletrônico, que facilita o acerto com a possibilidade de uso de cartões de crédito e parcelamento em até seis vezes. Aproveitamos para conclamar que cada sócio faça seu recadastramento e incentive os colegas mais próximos a também fazê-lo, saldando seus débitos, para que possamos ter um banco de dados mais consistente e útil ao nosso trabalho de divulgação e comunicação e garantir um bom funcionamento da SBI. Convido a todos a participarem do Infecto Rio 2014, do Simpósio Pernambucano de Infectologia (II Infecto PE) e do Congresso Centro-brasileiro de Infectologia, Controle de Infecção, Imunização e Medicina Tropical, que ocorrerão no mês de agosto. Forte abraço. Boletim institucional da Sociedade Brasileira de Infectologia DIRETORIA PRESIDÊNCIA DAS SOCIEDADES FEDERADAS Iza Maria Fraga Lobo (SE) Mauro José Costa Salles (SP) Myrlena Mescouto (TO) Presidente Érico Arruda Vice-presidente Thaís Guimarães Primeira-secretária Mônica Jacques de Moraes Segunda-secretária Cláudia Carrilho Primeiro-tesoureiro Luís Fernando Aranha Camargo Segundo-tesoureiro Unaí Tupinambás COORDENADORES A SBI é filiada à AMB Científico Heloísa Ramos Lacerda de Melo Divulgação Alexandre Cunha Informática Cristiane da Cruz Lamas Fernando Luiz de A. Maia (AL) Eucides Batista da Silva (AM) Fabianna Marcia M. Bahia (BA) Melissa Soares Medeiros (CE) Henrique Marconi Sampaio Pinhati (DF) José Américo Carvalho (ES) Edgar Berquó Peleja (GO) José de Macedo Bezerra (MA) Lucineia Maria de Q. C. Ramos (MG) José Ivan de A. Aguiar (MS) Maria do Perpétuo S. C. Correa (PA) Heloísa Ramos Lacerda de Melo (PE) Maria do Amparo S. Cavalcanti (PI) Benedito Bruno de Oliveira (PB) Rosana Camargo (PR) Alberto Chebabo (RJ) André Prudente (RN) Lessandra Michelim R. N. Vieira (RS) Antonio Fernando B. Miranda (SC) SEDE DA SBI R. Domingos de Moraes, 1061 cj. 114 - CEP 04009-002 São Paulo / SP Tel/fax: (11) 5572-8958 5575-5647 E-mail: [email protected] www.infectologia.org.br Secretaria: Givalda Guanás EXPEDIENTE Produção: Acontece Comunicação e Notícias [email protected] Jornalista responsável: Chico Damaso (MTb 17.358/SP) Arte e diagramação: Giselle de Aguiar Pires Abril/Maio/Junho de 2014 | Boletim SBI | 3 Novidades do Congresso Europeu de Microbiologia e Doenças Infecciosas A proximadamente 200 brasileiros prestigiaram um dos mais importantes eventos da infectologia mundial, o European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases (ECCMID), em Barcelona, Espanha. O encontro ocorreu de 10 a 13 de maio de 2014 e reuniu 10.600 conferencistas de 116 países. Os congressistas puderam acompanhar reuniões científicas sob a forma de debates com especialistas, simpósios, sessões orais e pôsteres, simpósios satélites e conferências, em 10 auditórios simultaneamente. A programação evidenciou epidemiologia, microbiologia, diagnóstico, tratamento e prevenção das principais doenças infecciosas. “A sessão Ano da Infectologia Hospitalar relacionou os melhores trabalhos publicados na área, entre eles um de autoria da colega Flavia Rossi, sobre o isolamento da bactéria VRSA em corrente sanguínea de um paciente, re- centemente publicado no New England Journal of Medicine. Outra brasileira de destaque no evento foi Ana Gales, que coordenou simpósio sobre carbapenemases, além daqueles que apresentaram temas livres”, destaca Thaís Guimarães, vice-presidente da SBI. Bacteriologia De acordo com Alexandre Cunha, coordenador de divulgação da SBI, o conteúdo da grade científica do ECCMID contemplou temas de grande relevância na rotina do infectologista. “Em bacteriologia clínica e microbiologia, foram amplas as discussões em torno das questões de PK/PD de antimicrobianos enquanto estratégias farmacológicas para otimizar o uso de ‘velhos’ antimicrobianos, uma vez que não temos novas classes no pipeline”, comenta. Também mereceram destaque na programação questões como as bactérias multirre- sistentes e discussões sobre estratégias de prevenção e tratamento, temas atuais e de grande preocupação em todo o mundo. Tópico muito discutido na América Latina e que tem se revelado um problema de dimensões globais, os bacilos gram negativos receberam igualmente ênfase no Congresso. Em diagnóstico, mostrou-se a definitiva incorporação de biologia molecular e MALDITOF no diagnóstico etiológico rápido das infecções virais e bacterianas, que podem, com extrema precisão e rapidez, auxiliar, sobretudo, os pacientes críticos. Biomarcardores Para Cristiane Lamas, coordenadora de informática da SBI, a diversidade dos temas foi um atrativo especial. “A abordagem aos biomarcadores em doenças infecciosas, por exemplo, foi bastante interessante. As palestras abarcaram desde as doenças fúngicas, com a beta-glucana como biomarcador para infecção sistêmica por Candida sp., até aqueles relacionados a infecções específicas, como pneumonia associada à ventilação”. Diversos biomarcadores em pneumonia associada à ventilação (PAV) foram apresentados pelo palestrante José Manuel Pereira, médico intensivista de Porto, Portugal. Neste contexto, a procalcitonina (PCT) aumenta, em 6 a 12 horas do início da infecção, e sofre queda de 50% por dia, com o início do tratamento para PAV de causa bacteriana. Aspecto importante da procalcitonina é permitir a diferenciação entre PAV viral e bacteriana, pois os níveis mais altos ocorrem com infecção bacteriana. A procalcitonina tem papel importante na decisão sobre o momento de interromper o tratamento, além de ajudar a definir o prognóstico da PAV. Outros trabalhos mostram redução de tempo de tratamento de 15 para 10 4 | Boletim SBI | Abril/Maio/Junho de 2014 Houve, também, apresentação do Consenso de Prato, realizado na Itália, há um ano, sobre polimixinas. A dose de manutenção do colistimetato depende de clearance renal e com a polimixina B independe da função renal. Aguardamos a publicação do consenso para mais esclarecimentos sobre o melhor uso das polimixinas”, acrescenta. Na prática dias e o emprego do marcador proadrenomedulina para prognóstico. “Biomarcadores não devem ser usados para decidir o momento de começar antimicrobianos - isto deve ser feito com base na clínica e exames ‘comuns’ do cotidiano -, mas principalmente para avaliar o tempo de tratamento. É sugerido que biomarcadores sejam determinados no momento da suspeita, e no 3º, 5º e 7º dias de tratamento”, salienta Cristiane. Mais um tema de interesse geral foi o aumento de multirresistência detectado na comunidade (por exemplo, trabalhos na França mostram que fezes colhidas de crianças com 3 a 30 meses, tendo sido estudadas mais de 400 crianças, já apresentavam colonização por carbapemenase produtores em 6,4%), que há colonização de alimentos por Gram negativos resistentes, que estudos com animais (sejam ratos, capturados em hospitais, ou animais de estimação, como cães) apresentam Gram negativos resistentes. Mesa sobre criptococose mostrou dados preocupantes em relação à sensibilidade de Cryptococcus neoformans in vitro a fluconazol, em níveis de 65% a 70%. Deste modo, o uso de fluconazol para terapia de indução fica bastante complicado. Foi discutido o possível papel de se pedir antígeno criptocócico no soro, precocemente, em pacientes HIV positivos ou com outra imunodeficiência, com o objetivo de se fazer diagnóstico precoce de doença criptocócica invasiva. Reforçou-se a capacidade de esterilização do líquor na meningite criptocócica com a associação de anfotericina com flucitosina, e a necessidade de flucitosina ser disponível para uso. Esse “clamor” foi publicado em Lancet Infectious Diseases, de 2013. Artigo recente (N England J Med) não mostrou benefício na associação de anfotericina B com 800 mg de fluconazol, o que reforça que esta associação, usada muitas vezes no Brasil, não é benéfica. Diagnóstico e tratamento Do ponto de vista de Cláudia Carrilho, segunda-secretária da SBI, as palestras ressaltaram o acesso ao diagnóstico em tempo real, com custo mais acessível, embora ainda distante da realidade no Brasil. Trouxeram debates sobre tratamento de infecções pan-resistentes ou com extrema resistência, com terapia combinada. No caso de enterobactérias resistentes, embora até o momento não existam ensaios clínicos randomizados, a combinação mais citada foi polimixina com carbapenêmico. Sobre controle de patógenos resistentes, apresentou-se a importância da pesquisa de pacientes com internação nos últimos 12 meses, em locais com enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos, avaliando semanalmente e vigiando os contatos. Não há evidência sobre o benefício de banho com clorexidina 2%, nem da descolonização intestinal. Deve-se controlar o ambiente, instituindo as precauções, especialmente higiene das mãos. “Grande relevância tiveram os debates sobre tratamento das infecções por gram negativos resistentes e antimicrobianos em fase de estudo para patógenos resistentes (três em fase III – eravacicline, plazomicina e ceftazidima/avibactam e fase 1 -aztreonam/avibactam). “Por reunir grandes pesquisadores internacionais, a atualização e troca de experiências é importante desde que aplicadas à nossa prática e ajustadas à nossa realidade. Foi, sem dúvida, um grande congresso, bem organizado e estruturado. Espero que o Brasil tenha acesso, em breve, às técnicas de diagnóstico rápido, pois além do tempo, diminuem risco de contaminação ambiental”, afirma Cláudia. “É importante colocar em prática os avanços discutidos, como por exemplo o custobenefício de procalcitonina e beta-glucana como marcadores para uso de rotina em pacientes com infecção. Há vários anos estes marcadores são documentados como úteis, mas poucos serviços no Brasil os disponibilizam. Outra discussão envolve o poder público: a distribuição gratuita de medicamentos como a flucitosina para tratamento de infecção grave, como a meningite criptocócica, que tem altos índices de mortalidade quando associada ao HIV na América Latina (55%)”, afirma Cristiane. Quem não teve como participar ou perdeu alguma sessão, pode assistir vídeos das aulas ou baixar os slides em PDF no site https://www.escmid.org. O próximo encontro ocorrerá em Copenhague (Dinamarca), de 25 a 28 de abril de 2015. Abril/Maio/Junho de 2014 | Boletim SBI | C SPI comemora duas décadas em Congresso Paulista om o objetivo de discutir os pontos mais relevantes da especialidade, enfocando o desenvolvimento científico de temas atuais e desafiadores da prática diária, a Sociedade Paulista de Infectologia (SPI) realizou o 9º Congresso Paulista de Infectologia, de 21 a 24 de maio, reunindo cerca de mil congressistas. O palco foi o Centro de Eventos e Convenções do Hotel Bourbon Atibaia, no interior paulista. “Comemoramos os 20 anos de nossa entidade e tivemos a preocupação de produzir debates sobre os tópicos mais relevantes da especialidade, em prol de melhor qualificação dos médicos que atuam na prevenção e no tratamento das doenças infecto-contagiosas”, pontua Mauro Salles, presidente da SPI. A programação científica do Congresso abordou assuntos de interesse da infectologia, como infecções relacionadas à assistência à saúde, hepatites virais, aids, resistência bacteriana, infecções em pacientes imunocomprometidos, imunizações e medicina de viagem. Ainda durante o Congresso, foi realizado o Conselho Deliberativo e a Assembleia Geral Extraordinária da SBI, que deliberaram sobre as mudanças no Estatuto atual e no processo eleitoral, inadimplência dos associados, entre outros pontos, além da Assembleia da SPI. “Apresentamos as correções e adendos já realizados durante o Conselho Deliberativo. Definimos que o regimento do Brazilian Journal of Infectious Diseases (BJID) passará por uma análise mais detalhada e com possíveis novidades para o 19º Congresso Brasileiro de Infectologia, em 2015. Além disso, mudamos o método das eleições, passando a valer somente os votos enviados por correio ou em formato eletrônico. Durante a AGE, os sócios conheceram a sede do Congresso Brasileiro de Infectologia 2017, que será o Rio de Janeiro, conforme deliberado pelo Conselho”, explica Érico Arruda, presidente da SBI. Reunião do Conselho Deliberativo SBI Durante o 9º Congresso Paulista de Infectologia, em Atibaia, São Paulo, a diretoria da SBI e representantes das Federadas se encontraram para a Reunião do Conselho Deliberativo. O encontro proporcionou a avaliação da proposta da Comissão Especial de Revisão pela mudança do Estatuto, aprovando boa parte das sugestões. Houve, ainda, um balanço parcial de arrecadação e o andamento dos preparativos para o 19º Congresso Brasi- leiro de Infectologia, que acontecerá de 26 a 29 de agosto de 2015, no Serra Park Centro de Feiras e Eventos, em Gramado, Rio Grande do Sul. “Foi um encontro bem positivo. Definimos, inclusive, que a sede do Congresso de 2017 será o Rio de Janeiro, cidade representada por Alberto Chebabo, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro. Em nossa reunião, ele apresentou as vantagens de o evento ocorrer na capital carioca e o orçamento inicial”, destaca Érico Arruda, presidente da SBI. Cada Federada apresentou as atividades desenvolvidas, as dificuldades burocráticas e suas demandas por eventos regionais. A representante do Pará, Maria do Perpétuo Socorro Correa, discorreu sobre o 17º Congresso Médico Amazônico, que ocorrerá em agosto, e solicitou apoio da SBI, com a participação de Mauro Salles, presidente da Sociedade Paulista de Infectologia, como palestrante. Pernambuco, repre- sentado por Heloisa Ramos, também requisitou a contribuição da Sociedade para o seu 2º Infecto PE - Simpósio Pernambucano de Infectologia. Já André Prudente, presidente da federada do Rio Grande do Norte, atualizou a todos sobre o andamento dos trabalhos de organização do 5º Congresso Norte e Nordeste de Infectologia e da 5ª Conferência Brasileira de Aids e Hepatites Virais, que ocorrerá em Natal, RN, em setembro. Confira as federadas representadas no Conselho Deliberativo 2014 Fernando Luis de A. Maia Sociedade Alagoana de Infectologia Edgar B. Peleja Sociedade Goiana de Infectologia Melissa Medeiros Sociedade Cearense de Infectologia Lucineia Maria de Q. Ramos Sociedade Mineira de Infectologia Henrique Marconi S. Pinhati Sociedade de Infectologia do Distrito Federal José Américo Carvalho Sociedade de Infectologia do Estado do Espírito Santo Maria do Perpétuo Socorro Correa Sociedade Paraense de Infectologia Benedito Bruno de Oliveira Sociedade de Infectologia da Paraíba 5 Iza Fraga Lobo Sociedade Sergipana de Infectologia Heloisa Ramos Lacerda de Melo Sociedade Pernambucana de Infectologia Alexandre Zavaschi Sociedade Riograndense de Infectologia Alberto Chebabo Sociedade de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro Thaís Guimarães Sociedade Paulista de Infectologia André Luciano de A. Prudente Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia Myrlena Mescouto Sociedade de Infectologia de Tocantins 6 | BoletiM SBi | Abril/Maio/Junho de 2014 Desconto e novas formas de pagamento ao associado Entre as opções para quitar a anuidade, estão cartões de crédito e débito Os sócios e aspirantes a ingressar como membros da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) têm à sua disposição mais um benefício. A quitação das anuidades, antes possível apenas via boleto bancário, agora disponibiliza um sistema eletrônico para cartões de crédito (à vista ou parcelado) e de débito. Com este novo formato, o associado tem mais liberdade para escolher a melhor forma de realizar a sua contribuição à entidade, de maneira rápida, fácil e segura. No portal da entidade, está disponível um tutorial com o passo a passo para efetuar o pagamento: http:// infectologia.org.br/newsletter/ info_pagseguro.html A ferramenta também permite ao sócio que possuir anuidades em aberto regularizar a sua situação, por meio de pagamento à vista ou parcelado. Lembre-se: somente o sócio adimplente tem a seu alcance todos os benefícios oferecidos pela SBI. Discriminação aos portadores de HIV e aids torna-se crime Sancionada em 2 de junho de 2014 e publicada no dia seguinte no Diário Oficial da União, a Lei 12.984 torna crime a discriminação aos portadores de HIV e aids. A pena vai de multa à prisão de um a quatro anos, valendo para escolas que se recusarem a aceitar alunos portadores e para empregadores que demitirem, exonerarem de cargo ou se negarem a contratar quem vive com HIV/aids. Com o novo arcabouço legal, também é considerado crime segregar no ambiente de trabalho ou escolar, recusar ou retardar atendimento de saúde, bem como divulgar a condição de portador do HIV ou de doente de aids com o intuito de ofender a dignidade. A lei compatibiliza o Direito Penal Brasileiro às diretrizes Internacionais da Organização das Nações Unidas (ONU) e já está em vigor. O objetivo é combater o estigma pejorativo em torno do portador do HIV, garantindo igualdade e liberdade ao indivíduo. A íntegra da lei 12.984 publicada no Diário Oficial da União pode ser consultada em: http:// pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/ index.jsp?jornal= 1&pagina=3&d ata=03/06/2014 SBI divulga lista de aprovados no Concurso para Título de Especialista em Infectologia Quatorze candidatos passaram no Concurso para Título de Especialista em Infectologia, promovido pela Sociedade Brasileira de Infectologia. Veja a lista de nossos novos colegas: Ana Carolina de Moura Coelho (SP) Clarissa Giaretta Oleksinski (RS) Fernanda Justo Descio Bozola (SP) Florencia Comello (SP) Jackeline Coutinho Neves (SP) Juliana de Camargo Fenley (SP) Kengi Itinose (PR) Luís Augusto Mazzetto (SP) Maíra Zanetti Bessa (SP) Mariana Char Elias Corrêa (SP) Marina da Rós Malacarne (SP) Naihma Salum Fontana (SP) Renata D’Avila Couto (SP) Vitor Dantas Muniz (SP) Membro da SBI recebe Prêmio Capes-Elsevier 2014 Professora da disciplina de infectologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/ UNIFESP) e ex-coordenadora do Comitê Científico de Bacteriologia Clínica da Sociedade Brasileira de Infectologia, Ana Cristina Gales foi agraciada com o Prêmio CapesElsevier 2014. A entrega da premiação aconteceu em 15 de maio, no Hotel Copacabana Palace, Rio de Janeiro. Recebem o prêmio pesquisadores brasileiros com um número significativo de citações em produções científicas nacionais e internacionais, demonstrando a excelência e o destaque dos conteúdos apresentados no Scopus, a mais ampla base de dados contendo resumos e citações da literatura científica mundial. Na edição do Prêmio de 2014, foram homenageadas as mulheres cientistas e sua vasta contribuição ao desenvolvimento do país. São pesquisadoras que se destacam, também, por artigos publicados e indexados na base Scopus, além de orientações acadêmicas comprovadas pelo Currículo Lattes. “Foi uma surpresa muito agradável receber a notificação da Capes e da Elsevier pela indicação, pois representa o reconhecimento de que nosso trabalho é importante, além de contribuir com a divulgação da especialidade. Sem dúvida, indica o grau de qualidade e a visibilidade que a infectologia nacional possui no contexto mundial”, ressalta Ana Gales, a primeira laureada da infectologia pela Unifesp, que segue em sua linha de pesquisa temas como antimicrobianos e resistência bacteriana. Abril/Maio/Junho de 2014 | Boletim SBI | O 7 Aumento de casos de sarampo no Brasil: como estamos? sarampo é uma doença altamente contagiosa, podendo levar a sérias complicações e à morte. Mesmo com cobertura vacinal relativamente alta, o Brasil apresentou em 2013 aumento significativo de infecções, tendência que permanece até agora. Segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 200 casos em 2013. Neste ano, já foram contabilizados 71 somente até a primeira quinzena de fevereiro. Para falar sobre esse tema, o Boletim da SBI ouviu Reinaldo Menezes Martins, consultor científico do Ministério da Saúde para o Programa Nacional de Imunizações. Em entrevista exclusiva, ele aborda as perspectivas sobre o sarampo no Brasil e no mundo, além de esclarecer sobre o controle durante a Copa e as Olimpíadas. Como está a situação global do sarampo? A Organização Mundial de Saúde (OMS) estabeleceu planos de eliminação do sarampo para todas as regiões do mundo (Weekly Epidemiological Record 2014; 89:45-52). A aplicação de vacinas contendo o componente sarampo (monovalente, dupla viral, tríplice viral ou tetraviral) levou a uma queda de 77% na incidência anual da doença entre 2000 e 2012, estimando que 13,8 milhões de mortes foram evitadas no mundo. Nas Américas, a taxa de incidência (por milhão de habitantes) caiu de 2,1 para 0,1, mas essa incidência foi, em 2012, de 125 na África, 47 no Sudeste da Ásia, e na Europa 37. A OMS confirma no documento citado que as Américas eliminaram o sarampo. O que poderia explicar os número tão expressivo de casos no Brasil este ano, quando comparados com os anos anteriores? É preciso não perder a perspectiva. Há 30, 40 anos, eram notificados dezenas de milhares de casos de sarampo por ano no Brasil, e o número de casos era certamente muito maior, pois a vigilância era muito mais frágil do que agora. O sarampo era uma das causas mais importantes de mortalidade de crianças. Temos confirmados 68 casos em 2010, 43 em 2011, um em 2012, 200 em 2013 e 71 em 2014, sendo a maioria no Nordeste, com foco em áreas turísticas. Tudo indica que a origem da maioria dos casos é de turistas de proveniência europeia, onde surtos de sarampo continuam a ocorrer. A Inglaterra teve mais de três mil casos em 2013, a Holanda mais de mil. Por outro lado, no Brasil, apesar das coberturas vacinais serem altas com uma dose, com duas doses foram mais baixas, e sabemos que as falhas vacinais com apenas uma dose são mais frequentes. Além disso, em alguns municípios, as coberturas As coberturas globais são elevadas, mas em alguns Estados não são homogêneas foram mais baixas, apesar dos altos índices no Estado como um todo. Portanto, há uma combinação de fatores. Como explicar os casos em que profissionais de saúde, com duas doses de vacina documentadas, tenham desenvolvido sarampo? A vacina perde a eficácia com o passar dos anos? Como regra geral, casos de sarampo em pessoas com duas doses de vacina são muito raros. Para isso contribuem falhas primárias (por falha na primeira dose) e secundárias (por diminuição da imunidade ao longo do tempo). O Brasil está correndo o risco de perder o certificado de eliminação da circulação endêmica do sarampo? Acredito que não, pois o Ministério da Saúde está implementando ações enérgicas visando interromper a cadeia de transmissão nos estados afetados, e a população está consciente da necessidade de vacinar e revacinar contra o sarampo. O vírus do sarampo sofreu mutações e por isso a doença está voltando? A vacina de sarampo protege contra todas as cepas de vírus do sarampo, portanto mutações do vírus não explicam o que está ocorrendo. Como está a cobertura vacinal para o sarampo no Brasil? As coberturas globais são elevadas, mas em alguns Estados não são homogêneas, isto é, há municípios ou localidades com coberturas mais baixas, principalmente para a segunda dose da vacina. 8 | Boletim SBI | Abril/Maio/Junho de 2014 Na Europa, a polêmica envolvendo a vacina tríplice viral e autismo foi infeliz e teve consequências negativas Os eventos da Copa do Mundo e das Olimpíadas podem desencadear uma grande epidemia de sarampo no Brasil? Grande epidemia não, mas há mais ou menos localizados, como estão acontecendo agora no Nordeste. A vacina do sarampo é realmente segura? Por que os europeus têm tanto medo dessa vacina? Como toda vacina, as de sarampo (dupla viral, tríplice viral e tetra viral) têm eventos adversos, mas mas em uma frequencia e gravidade muito menores do que as causadas pelos vírus selvagens, que causam a doença em pessoas não vacinadas. Os vírus vacinais são atenuados. O que é melhor: receber os vírus atenuados da vacina, ou expor-se aos vírus selvagens? As pessoas que se opõem à vacina de sarampo (e a outras), em geral, têm motivação filosófica ou religiosa e, assim, não conseguem ser convencidas pelas evidências científicas. Na Europa, a polêmica envolvendo a vacina tríplice viral e o autismo foi infeliz e teve consequências negativas para a aceitação da vacina. Os autores do artigo que deu origem a essa polêmica se retrataram (exceto um), mas os efeitos negativos não foram totalmente eliminados. Mesmo assim, a grande maioria das pessoas se vacina contra o sarampo na Europa. É possível, tecnicamente, eliminar o sarampo, assim como ocorreu com a varíola? Sim, é possível, pois dispomos de uma vacina segura e eficaz, e o sarampo só atinge seres humanos. Se todos se vacinarem, a doença desaparecerá, como a varíola. Por que o Programa Nacional de Imunizações antecipou a segunda dose da vacina do sarampo para um ano e três meses, combinada na vacina tetraviral em vez de manter a recomendação anterior, na qual o reforço era entre quatro e seis anos? Os objetivos da mudança foram: aumentar a cobertura vacinal da segunda dose de vacina, aplicando-a numa faixa etária em que a frequência da criança aos serviços de saúde normalmente é maior. Como o componente caxumba da vacina tríplice viral é menos imunogênico do que os componentes sarampo e rubéola, aproximar a segunda dose protege a criança contra caxumba de maneira mais completa mais precocemente. A vacina tetraviral (sarampocaxumba-rubéola-varicela) aplicada após a tríplice viral (sarampo-caxumba-rubéola) induz menos reações febris (e consequentemente menos convulsões febris) do que quando é aplicada como primeira dose. Assim, a mudança do esquema minimizou os eventos adversos e protegeu mais precocemente contra as quatro doenças. Se todos se vacinarem, a doença desaparecerá, como a varíola F Planos agora são obrigados a reajustar médicos oi publicada hoje, dia 25, no Diário Oficial da União, a alteração na Lei 9.656, que dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde. Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, sob a forma da Lei 13.003, determina a substituição de prestadores descredenciados por outros equivalentes, de forma a garantir que não haja interrupção de tratamentos. As mudanças entram em vigor em 180 dias e significam avanço histórico para os pacientes do sistema de saúde suplementar. A partir de então, a inclusão de qualquer prestador de serviço de saúde como contratado, referenciado ou credenciado implicará em compromisso com os consumidores quanto à sua manutenção ao longo da vigência dos contratos. Outro ponto positivo da Lei 13.003 é obrigar que as relações entre planos de saúde e médicos sejam reguladas por contratos. Ela determina que os reajustes sejam anuais e os índices definidos entre as partes. Se passados 90 dias da data-base não houver acordo, caberá à Agência Nacional de Saúde Suplementar estabelecer um índice. Todos esses pontos são motivo de comemoração para a classe médica, pois a luta por periodicidade contratual para os reajustes vinha desde os idos do ano 2000. Também têm reflexos relevantes para os cidadãos, já que os profissionais de medicina terão mais segurança na prestação de serviços para os planos de saúde. Faz tempo que os cidadãos usuários de planos apontam a questão do acesso como um dos principais gargalos da saúde suplementar. Pesquisa Datafolha, encomendada pela Associação Paulista de Medicina, em 2013, confirmou que 55% dos pacientes estavam insatisfeitos com a demora nos atendimentos e consultas. Isso reforça a importância de leis que blindem os consumidores e planos de saúde de eventuais abusos praticados por uma ou outra empresa, de forma a resgatar o papel realmente suplementar dos planos de saúde.