ILUMINAÇÃO ILUMINAÇÃO por PATRíCIA SILVA Iluminação Pública “Precisamos de actuar no projecto de execução” À semelhança do Documento de Referência para a Eficiência Energética na Iluminação Pública, lançado em 2011, o CPI desenvolveu, agora, o Manual da Poluição Luminosa. Um guião de divulgação das boas práticas no uso da luz, em especial na iluminação urbana, é o foco principal deste documento técnico. 78 © Miguel Claro A iluminação pública é responsável pelo desperdício de mais de 30% da energia consumida, estima a DarkSky Association, e a principal causa da poluição luminosa, para qual contribui com um peso de 98%. A raiz desta problemática está, sobretudo, na fase do projecto com equipamentos mal projectados, incorrectamente instalados ou com potências inadequadas para o objecto a iluminar, que têm originado a poluição luminosa, quer através da iluminação monumental, quer nos outdoors e publicidade, nos equipamentos desportivos ou nas vias públicas. “Precisamos de actuar essencialmente ao nível do projecto de execução de iluminação que tem de ser um projecto cuidado. Temos de ponderar exactamente aquilo que pretendemos: verificar se precisamos de níveis tão elevados (de luz) e se estes aumentam a nossa segurança e melhoram a mobilidade”, enfatizou Luís Duarte, um dos três membros que integram o grupo de trabalho que desenvolveu o Manual da Poluição Luminosa, do Centro Português de Iluminação (CPI). Foi sob pretexto de “pôr regras e rigor técnico no levantamento do que é a rede de iluminação pública” e, ainda, de “ajudar os técnicos a ter uma percepção de uma actuação mais responsável” que o CPI desenvolveu o Manual da Poluição Luminosa – actuações para o seu controlo/redução, disponível desde Fevereiro. Olhando para as medidas propostas no guião técnico - apresentado numa sessão que decorreu no planetário Calouste Gulbenkian, em Janeiro iluminar apenas a área pretendida, evitar que a luz seja dispersa, reflectida ou emitida para o hemisfério superior e escolher os equipamentos e luminárias certos, “para que tenhamos uma iluminação suficiente sem emitir para onde não é necessário”, são algumas das medidas que podem atenuar os efeitos da poluição luminosa. Aqui, as luminárias “cut-off” são consideradas as mais adequadas, uma vez que não emitem luz acima dos 90º, embora as luminárias com emissão até 25 candelas por mil lumens, acima deste ângulo, sejam aceitáveis. Tomando como exemplo o caso de Lisboa, “para que o efeito da poluição luminosa se deixe de sentir, temos de nos afastar para um pouco mais de 100 quilómetros da capital”, explicou Guilherme de Almeida, professor e colaborador na área “astronomia e efeito no seu estrelado” no desenvolvimento deste documento técnico. “O grande problema que se vai colocar é que o efeito da poluição nos aglomerados populacionais se repercute na distância. É necessário reduzir a poluição luminosa para que o céu seja um pouco mais bonito e para que os efeitos à distância sejam muito menos prejudiciais”, acrescentou. Para que tal aconteça, “é importante pensar e começar por criar legislação nacional”, apelou Luís Duarte. “Áreas críticas, como de rede natural, próximas de observatórios ou parques naturais, devem ter iluminação estudada e devidamente regulamentada”, destacou. Para que um projecto de iluminação urbana seja bem sucedido, recomenda-se também que o posicionamento da luminária seja o mais horizontal possível e que os difusores sejam plano de vidro em detrimento de policarbonato, os quais “se degradam facilmente ao longo dos anos com os ultra-violetas e reflectem para onde não devem, provocando má qualidade da iluminação”, exemplificou Luís Duarte. Quanto aos reflectores da luminária, estes devem ser adequados à área a iluminar e “conseguir longitudinalmente e transversalmente uma boa uniformidade, com curvas fotométricas bem adaptadas à situação”, sendo aconselhado na iluminação das vias “ponderar bem qual é a velocidade, qual é o volume, qual é o tráfego que lá temos, e verificar se já tem luz ambiente e, nesse caso, os níveis já não precisam de ser tão elevados”. No caso das lâmpadas de tecnologia LED, em que o emissor de luz é de muito pequena dimensão, “com lentes bem estudadas conseguimos uma distribuição muito mais correcta e precisa, em que o fluxo luminoso incide exactamente onde nós queremos”, sendo, ainda, aconselhado que a temperatura dos LEDs não exceda os 4000º Kelvin. O projecto, sublinhou Luís Duarte, deve cumprir o Plano Director de Iluminação da zona ou do espaço, o Documento de Referência para a Eficiência Energética e visar a máxima redução do consumo de energia, pois uma má iluminação tem consequências para os seres vivos, energia, esplendor do céu ou alterações dos ecossistemas – os animais são afectados, assim como as plantas e os insectos provocando desconforto visual e encandeamento. De uma forma geral, deve “ser evitado o excesso de níveis de poluição, não utilizar lâmpadas com radiações inferiores a 500 nanómetros e projectar a instalação para que o fluxo luminoso incida só sobre o objecto a iluminar. Outras das questões com relevo no projecto é a da redução do fluxo luminoso a partir de determinada hora, quando deixam de ser necessários mais altos níveis de luz. No caso da iluminação monumental, os autores defendem que “devia ser completamente desligada, porque a partir das duas horas da manhã não temos turistas interessados nos monumentos”. ILUMINAÇÃO A PENSAR NO TURISMO O projecto DarkSky Alqueva – de combate à poluição urbana e de sustentabilidade ambiental na reserva do Alqueva – tem trabalhado com as câmaras municipais da região para uma iluminação mais eficiente e menos poluente, de forma a manter a Certificação Starlight Tourism Destination. O programa de astro-turismo e de promoção da utilização adequada de sistemas de iluminação em Portugal tem um potencial de atracção de cerca de 25 milhões de turistas e, segundo o Euromonitor International, poderá vir a atrair 50% da população que vive em cidades. “É um produto complexo e exigente e que, naturalmente, implica mudança de atitudes e de mentalidades”, explicou Apolónia Rodrigues, uma das responsáveis pela iniciativa. Para a especialista, o combate à poluição luminosa tem sido uma “grande dificuldade”, pois apesar de as autarquias se mostrarem “muito motivadas para desenvolver o programa, existe sempre alguém que aprova uma luminária que não está de acordo com o processo ou não entende por que é que os globos são tão poluidores”, desabafou. Também a comunicação em matéria de dispersão da poluição é um trabalho em contínuo desenvolvimento, estando a região do Alqueva exposta à poluição gerada, por exemplo, por Évora, Elvas e, especialmente, Badajoz. “Temo-nos estado a concentrar no nosso território mas a curto prazo temos de trabalhar os que nos afectam”, avançou. Apesar das barreiras colocadas por outras regiões, o conselho de Reguengos de Monsaraz é dos municípios que se destaca e cuja capacidade para entender a problemática é maior, assim como tem o maior grupo de empresários a “tirar proveito da criação deste projecto e, por isso, está a fazer por ele”. De futuro, o projecto, que tem apresentado ganhos a nível da sustentabilidade ambiental, económica e social, promete a “intensificação do combate à poluição luminosa”, através, por exemplo, da criação do mapa DarkSky Alqueva – um cadastro de todo o território – ou a aposta na arqueoastronomia. . 79