MIGUELZINHA DUTRA: ARTE, CULTURA E ARQUITETURA NO INTERIOR PAULISTA Autor(es) TIAGO DE OLIVEIRA ROSA Orientador(es) VALERIA ALVES ESTEVES LIMA Apoio Financeiro FAPIC/UNIMEP Resumo Simplificado Este projeto dedicou-se à investigação de aspectos relacionados às incursões do artista Miguelzinho Dutra (Itu, 1812 – Piracicaba, 1875) no campo da arquitetura. Foram privilegiados como objetos de análise os registros pictóricos de fachadas e edificações, bem como os desenhos por ele elaborados para a execução dos arcos comemorativos para a recepção ao imperador D. Pedro II em Itu, no ano de 1846. Neste último conjunto, adotando uma tipologia nitidamente romana (arcos e portas associados à passagem vitoriosa do monarca), Miguel Dutra emprega formas do vocabulário clássico no projeto e na ornamentação destas obras, que integram um dos mais interessantes conjuntos de arquitetura efêmera do Segundo Reinado. A partir deste conjunto documental, foi feita uma análise e identificação do vocabulário por ele empregado, desenvolvendo assim uma investigação sobre a transferência da tradição clássica para o universo americano. Em segundo lugar, esse estudo pretende também ter contribuído para melhor situar a produção artística de Miguelzinho Dutra, relativizando seu universo autodidata e a força exclusiva da tradição local sobre o seu trabalho, tal como tende a nos convencer grande parte da bibliografia a respeito do artista e sua obra. A metodologia aplicada nesse projeto consistiu na leitura de textos e livros referentes à cultura brasileira oitocentista, assim como à tradição clássica europeia e à vida do artista em questão. Foram levantadas, entre as reproduções disponíveis das obras do artista, algumas imagens, principalmente as que retratam arquitetura efêmera, que foram analisadas com o embasamento de um dicionário arquitetônico, sendo feitas assim identificações dos elementos que compõem o vocabulário formal do artista. No que se refere ao contexto histórico, com o embasamento dos textos indicados, novos textos foram redigidos, relatando e buscando encontrar as possíveis fontes do conhecimento do artista em questão, tentando de certa forma apontar seus possíveis referenciais. Do ponto de vista da formação do artista e de seu saber empírico, Miguelzinho desenvolveu algumas de suas habilidades através da pura experimentação, sendo a principal delas a técnica da aquarela, com a qual desenvolveu seus principais trabalhos. Avaliando o conjunto de sua obra, é inegável reconhecer o talento do artista, guardadas as limitações do contexto em que desenvolveu sua arte. Comum na época, a formação multifacetada que Miguelzinho possuía não necessariamente faz dele um gênio autodidata. Miguelzinho foi músico, pintor, arquiteto, organicista, compositor, escritor, entre outras funções. No entanto, tal performance não se deve apenas a Miguelzinho, mas ao “ser social” do artista: quando falamos de suas aptidões, por trás de todo artista existem outros tantos fatores, outros tantos artistas, outros tantos olhares e obras. Com Miguelzinho não poderia ser diferente, sua genialidade não nasceu por si mesma, ela foi criada e construída através de referências, através de olhares, através de experimentações, através de livros e de mestres, mestres estes que não lecionavam em academias, mas que formaram outros mestres através de suas viagens e peregrinações. Foi nesse sentido que esse projeto visou não só uma análise mais aprofundada sobre a atuação do artista no universo arquitetônico, mas também a relativização de seu autodidatismo e “ingenuidade”.