Servidores da Justiça: O que essa carreira faz? O que essa carreira pode fazer? Missão, ampliação de papeis e valorização. Servidores da Justiça: O que essa carreira faz? O que essa carreira pode fazer? Missão, ampliação de papeis e valorização. Caderno de teses Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Corpo Diretivo Coordenadores gerais Ana Paula Barbosa Cusinato (MPDFT) Berilo José Leão (STJ) Cledo de Oliveira Vieira (TRT) Coordenadores de Administração e Finanças José Oliveira Silva (TJDFT) Jailton Mangueira de Assis (TJDFT) Raimundo Nonato da Silva (STM) Coordenadores de Assuntos Jurídicos e Trabalhistas Antônio José Oliveira Silva (TSE) Marília Guedes de Albuquerque (TRE) Newton José Cunha Brum (TST) Coordenadores de Formação e Relações Sindicais Sheila Tinoco Oliveira Fonseca (TJDFT) Eliane do Socorro Alves da Silva (TRF) José Joventino Pereira de Sousa (TJDFT) Coordenadores de Comunicação, Cultura, Esporte e Lazer Maria Angélica Portela (STF) Orlando Noleto Costa (TSE) Valdir Nunes Ferreira (MPF) Suplentes Fátima Maria de Araújo Arantes (TJDF) Francisco de Assis Lima Filho (TRF) Julio César Fontela de Queiroz (TJDFT) Symball Rufino de Oliveira (TSE) Conselho Fiscal Efetivos Abdias Trajano Neto (TJDFT) Armando Lopis Esbaltar (TJDFT) Matuzalém Braga dos Santos (TRF) Suplentes Adalgisa Cecília Goiabeira Feques (TRT) Antonio Machado Costa (MPM) Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do MPU no DF SDS, Ed. Venâncio V, s. 108 a 114, Brasília-DF, 70393-900 Tel.: +55 (61) 3212-2613 www.sindjusdf.org.br 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Índice Pag. 7 Juntos, podemos transformar os desafios em conquistas profissionais e sociais Pág. 14 Plano de lutas Pág. 16 Delegados que assinam a tese Pág. 17 Quem sabe faz a hora! Pág. 18 I. Globalização mata: França enfrenta onda de suicídios Pág. 19 II. Conjuntura Internacional e Nacional Pág. 28 III. O papel dos sindicatos Pág. 31 IV. Plano de lutas e plataforma de reivindicações Pág. 32 V. A Independência de Classe dos Trabalhadores frente à Burguesia Pág. 33 Dívida pública: um mal que precisa ser combatido Pág. 36 Sindjus-DF e o Sistema Judicial Brasileiro 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Construindo uma nova realidade Vivemos um tempo especial em nossa jornada. No momento em que estamos em campo, unidos e mobilizados, batalhando pela aprovação do nosso Plano de Cargos, Carreira e Remuneração, preparamo-nos também para realizar o 6º Congresso do Sindjus. Esse evento, rico em significado, concebe todo um sentido a nossa caminhada e pontua a nossa história. Os nossos congressos sempre nos impulsionaram rumo ao aperfeiçoamento das nossas lutas e da nossa carreira. As palestras, as discussões, as oficinas promovidas em cada evento foram fundamentais para a consolidação da democracia sindical e de uma carreira mais sólida e próxima dos nossos ideais e aspirações. Os encaminhamentos de um congresso sempre nos guiam, auxiliando as nossas lutas diárias, das mais específicas às mais gerais, e orientando nossos passos a curto, médio e longo prazo. Por tudo isso, um congresso é um momento único no tocante à construção dessa obra permanente que é a nossa carreira. E, não por acaso, a nossa carreira é o tema do 6º Congresso: “O que essa categoria faz; o que essa categoria pode fazer. Missão, ampliação de papéis e valorização”. Não tenho dúvidas de que será uma grande oportunidade de forjarmos as diretrizes do plano de carreira que, num futuro próximo, levaremos ao Congresso Nacional. Nós, servidores, desempenhamos um papel estratégico no Poder Judiciário e no MPU; um papel que permite o funcionamento da Justiça brasileira. Ainda não temos o reconhecimento devido, mas vamos buscá-lo a partir de um trabalho de excelência e de uma carreira que nos valorize. Sim, os servidores podem fazer mais pela Justiça! Basta que nos dêem as devidas condições. E, por outro lado, o Judiciário e o MPU também podem fazer mais pelos servidores. Esse é o cerne da discussão que vamos travar nos dias 27 e 28 de maio, no palco do Parlamundi, durante o nosso 6º Congresso. Vamos trazer à pauta pontos específicos da nossa carreira, como a melhor forma de remuneração, e bandeiras históricas de luta, como o combate à terceirização no serviço público. Mais uma vez, contamos com a pluralidade de opiniões para o sucesso desse evento que reúne todas as condições para fortalecer a nossa jornada em busca de isonomia de tratamento, salário justo, melhores condições de trabalho e maior qualidade de vida. Nesse sentido, as teses deste 6º Congresso contribuem para a concretização de uma plataforma democrática, que permita, por meio de uma ação coletiva, transformar reivindicações de diferentes naturezas em realidade. Como agentes sociais, vamos discutir as conjunturas internacional, nacional e local; firmar posição e apontar saídas. Como dito no início desta apresentação, vivemos um momento especial. Afinal, a nossa carreira e a nossa categoria estão prestes a renascer a partir de um congresso que irá congregar nossas sugestões e nossas críticas, nossos sonhos e nossas necessidades, nossos projetos e nossos valores, numa mesma luta, ainda mais forte e significativa. Sheila Tinoco Membro da Comissão de Organização do 6º Congresso Regimento interno Art. 1º. O 6º Congresso dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Publico no Distrito Federal realizarse-á nos dias 27 e 28 de maio de 2011, no Parlamundi (LBV), e terá por finalidade discutir a situação específica da categoria, as condições de funcionamento e desenvolvimento da sociedade e deliberar sobre programas de trabalho do sindicato ( art. 20 do Estatuto do Sindjus). Art. 2º. A organização do 6º Congresso dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público está a cargo da Comissão Organizadora do Congresso. Art. 3º. O Congresso será instalado e dirigido por uma mesa diretora, previamente indicada pela Comissão Organizadora. Art. 4º. Participam do Congresso, com direito a voz e voto, os delegados eleitos nas assembleias setoriais. Art. 5º. O credenciamento de delegados será realizado no dia 27, das 8h30 às 18 horas, no Parlamundi. Art. 6º. O Congresso terá a seguinte estrutura de funcionamento: 1) Painéis; 2) Grupos de Trabalho; e 3) Plenária Deliberativa. Parágrafo primeiro: Os grupos de trabalho serão formados de maneira uniforme, por sorteio dos participantes do 6º Congresso no momento da entrega do material aos delegados e terão um (a) relator (a) escolhido pelos seus participantes e um (a) facilitador (a) indicado pela coordenação do Congresso, que terá a responsabilidade de conduzir os trabalhos de cada grupo. As propostas aprovadas, por maioria simples de votos, pelos grupos serão levadas às Plenárias Deliberativas. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Parágrafo segundo: A Plenária Deliberativa será dirigida por uma mesa diretora indicada pela coordenação do 6º Congresso e suas deliberações serão tomadas por maioria simples dos votos (50% mais 1). Art. 7º. As teses poderão subsidiar as discussões dos grupos de trabalho. Art. 8º. O 6º Congresso terá a competência de discutir, aprovar, emendar, rejeitar em parte ou no todo as propostas apresentadas. Art. 9º. As Intervenções dos delegados ao 6º Congresso terão a duração de 3 (três) minutos para cada orador, sendo as inscrições encerradas durante a intervenção do 3º orador, podendo ser reabertas mediante consulta ao plenário. Artigo 10º. As inscrições serão feitas pela ordem de chegada dos crachás na mesa diretora dos trabalhos. Artigo 11º. As questões de ordem e encaminhamento serão dirigidas à mesa diretora dos trabalhos e, caso não resolvidas, serão submetidas à votação do plenário. Artigo 12º. As declarações de voto poderão ser feitas com intervenção oral desde que não ultrapassem 1 (um) minuto e ainda por escrito, enviadas à mesa para efetuar sua leitura. Artigo 13º. O direito de resposta será garantido em caso de citação nominal ofensiva, tendo o orador o tempo de 1 minuto para intervenção de resposta. Artigo 14º. Os casos omissos neste regimento serão resolvidos pela Comissão Organizadora do 6º congresso. Juntos, podemos transformar os desafios em conquistas profissionais e sociais Conjuntura internacional De 6 a 11 de fevereiro de 2011, Dacar, capital do Senegal, no norte africano, acolheu a 11ª edição do FSM (Fórum Social Mundial). Cinquenta mil militantes, de 123 países, participaram de um fórum que se propôs ir além do discurso anticapitalista, buscando salvaguardar as diferenças num mundo cada vez mais globalizado. Enquanto o Fórum Econômico Mundial de Davos se esvazia ano após ano, o Fórum Social Mundial discute um novo modelo de desenvolvimento, democracia e governança global. Os temas mais discutidos foram os mais relacionados à situação africana: crise alimentar, subdesenvolvimento, agricultura, saúde, saneamento e outros direitos básicos que faltam à maioria da população. Ditaduras com mais de 30 anos estão caindo no mundo árabe. O fim de um regime ditatorial é algo a se comemorar. Porém, cabem pelo menos duas perguntas: será que esses movimentos libertários serão capazes de derrubar aquelas ditaduras sem cair nas mãos de partidos muçulmanos fundamentalistas? Será que eles adotarão o modelo de democracia que os Estados Unidos querem lhes impor? Na Tunísia, o povo nas ruas conseguiu resistir à repressão e provocar a fuga do Ben Ali. No Egito, o povo ocupou, e disputou com os governistas, a praça central do Cairo sob o olhar neutro dos militares. Depois de 18 dias de manifestações, as ruas conseguiram derrubar Mubarak. De lá para cá, o movimento se alastrou para diversos países. A cada dia surgem fatos novos. Muitos países foram afetados, como Marrocos, Argélia, Iêmen, Bahrein, Jordânia, Líbia, Síria e Arábia Saudita. No Iraque, o povo saiu às ruas pedindo melhores serviços públicos, em colapso desde a invasão americana de 2003. No Irã (persa, não árabe), como em 2009 e 2010, houve passeatas contra o governo. É importante destacar que cada um desses países tem uma realidade própria e uma realidade em comum com os outros. Em comum há a grande taxa de desemprego e a falta de perspectivas, assim como a falta de liberdade política. As realidades próprias variam muito, assim como variam os objetivos dos manifestantes. Alguns governos têm o apoio do povo, que exige apenas algumas mudanças. Outros realmente enfrentam a ameaça de deposição. Contudo, é significativo que até agora todas as demandas tenham sido de cunho socioeconômico e por liberdade política e democracia. O que está se consagrando é a expressão “Primavera Árabe”. Não é a primeira “primavera” que vemos na história nem será a última. A ideia, como a “Primavera dos Povos” de 1848, remete ao renascimento ou ao triunfo de uma ideia sobre uma realidade mais antiga. As comparações são muitas. De qualquer forma, é importante ressaltar: estamos assistindo a um processo histórico que pode se tornar um divisor de águas e que traz a perspectiva de afastar a ideia do “choque de civilizações”, cultivada por setores da direita dos Estados Unidos. Conjuntura nacional A crise financeira mundial não passou totalmente e nada garante que não volte a se agravar. Diversos países europeus, como Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, vivem um momento de redução de gastos públicos e sociais, 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 contenção e redução de salários e aposentadorias. Num mundo que reduz taxas de juros, já baixas, o Brasil contrasta com altas taxas de juros, que seguem crescendo. Mas até quando? Quando se aumentam os juros, a economia é afetada como um todo, causando, entre outras consequências nefastas, cortes nos gastos públicos. As recentes medidas anunciadas pelo governo federal no início de março deste ano, de corte no orçamento para 2011 na ordem de R$ 52 bilhões, acionaram o alerta vermelho, já que se traduzem em uma importante redução em investimentos públicos e retração no crescimento econômico e social do país. Conjuntura do movimento sindical O movimento sindical, além de defender os interesses dos trabalhadores, vem cumprindo um importante papel no que diz respeito à transferência de renda no Brasil. Todos saem perdendo com o aprofundamento da lógica rentista em detrimento da lógica produtiva que proporciona desenvolvimento econômico e social. Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), aproximadamente 97% das 290 negociações registradas no primeiro semestre de 2010 conquistaram reajustes salariais iguais ou acima da inflação medida pelo INPC-IBGE. Foi um avanço em relação ao que ocorreu em 2008 (87%) e 2009 (93%). O corte orçamentário em áreas que contribuem para o fortalecimento do mercado interno e para a minimização das desigualdades sociais deve ser encarado como um retrocesso. Foi com mais investimentos do Estado que o país enfrentou a crise do sistema financeiro internacional que eclodiu em 2008. O sindicalismo tende a viver uma nova realidade durante o governo Dilma Rousseff, tanto na forma de relacionamento, mais formal e institucional, quanto no tratamento a ser dado aos trabalhadores do setor privado e da área pública, com medidas não tão populares quanto as do governo Lula. Outro aspecto preocupante da política de cortes no orçamento está na suspensão dos concursos públicos e admissão de concursados. Frear a reconstrução do serviço público sucateado pelos governos neoliberais é uma postura que contraria a linha desenvolvimentista pregada pelo governo. O Palácio do Planalto já demonstrou que tem prioridade na aprovação de projetos como o PLP 1/07 (semelhante ao PLP 549), que restringe a despesa com pessoal; o PL 1.992/07, que trata da previdência complementar do servidor; e o PLP 92/07, sobre as fundações estatais. Um dado relevante: mesmo com a política de recomposição da administração pública federal tocada pelo governo Lula, o Brasil tem hoje o mesmo quantitativo de servidores públicos ativos de 1997. Proporcionalmente, a população cresceu e a quantidade de trabalhadores no serviço público diminuiu. Estagnar o funcionalismo não traz prejuízos apenas para os servidores públicos. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) também é prejudicado, pois precisa de novos servidores, ainda mais se levarmos em conta que, nos próximos quatro anos, no mínimo 20% dos atuais servidores públicos federais estarão se aposentando. O corte de R$ 2 bilhões nos benefícios previdenciários também deve ser observado de forma preocupante, visto que poderá significar estagnação na política de recomposição das aposentadorias. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Também pode ser incluído entre as prioridades do Poder Executivo o projeto que autoriza a dispensa de servidores por insuficiência de desempenho na União, Estados e Municípios, o PLP 248/98. Em relação aos servidores federais dos três poderes, a tendência é que a mesa permanente de negociação seja mantida, cabendo aos sindicatos pautar as discussões. Devido à postura do governo Dilma de conter despesas para controlar a inflação, não há previsão de reajuste no salário dos servidores em 2011. Só haverá atualização para aqueles que já contam com lei aprovada com par- celas a receber ou para aqueles cujos projetos prevendo algum tipo de beneficio tenham sido enviados ao Congresso até 31 de agosto de 2010. O movimento sindical deve permanecer atento a esses e outros pontos, como a regulamentação da negociação coletiva, o direito de greve, a instituição da aposentadoria especial do servidor e a revisão de critérios para aposentadoria por invalidez. O governo Lula, no início, fez muitos anúncios de cortes e contenção de despesas. Fez inclusive uma dura reforma da Previdência. Mas depois fez grandes concessões aos servidores. Não podemos esperar que o governo Dilma repita a mesma fórmula. Precisamos estar mobilizados. O sindicalismo também deve ficar de olho nas reformas política e tributária que estão na pauta do Congresso. Também precisa ficar atento à PEC do fim do trabalho escravo e à regulação das comunicações. O movimento sindical precisa, de forma estratégica, construir uma agenda voltada para os interesses dos trabalhadores, em sintonia com as demandas da sociedade brasileira. Na disputa por um projeto nacional de desenvolvimento sustentável, inclusivo, com distribuição de renda e valorização do trabalho, é imprescindível garantir direitos e ampliar conquistas. Precisamos estar mobilizados contra a política de juros altos e a favor da justiça distributiva. Para avançarmos, é fundamental a unidade, a organização e a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras do setor público e privado. Para isso, precisamos aprofundar a nossa relação com as bases, ampliar o nível de sindicalização e redimensionar nossa representatividade. Juntos, podemos transformar os desafios em conquistas profissionais e sociais. Análise de conjuntura local No ano passado vivemos um momento histórico: a virada política de Brasília, com o fim de uma hegemonia de mais de dez anos de um determinado grupo político. A população se uniu em torno de um novo caminho para o Distrito Federal, dizendo basta à corrupção e às políticas que colocavam a cidade e a população em segundo plano. Além da expressiva derrota eleitoral imposta à represent- ante da família Roriz nas eleições, os infortúnios do campo rorizista aprofundaram-se com os desdobramentos de novos vídeos com imagens da deputada federal recebendo dinheiro de Durval Barbosa; com a denúncia dos negócios nebulosos do genro de Roriz; e também com o ingresso de mais um processo judicial contra integrantes da família por improbidade administrativa em razão de empréstimos do BRB. A eleição do ano passado trouxe ainda um novo cenário para os servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público, com a posse do ex-coordenador-geral do Sindjus, Roberto Policarpo, que assumiu a cadeira de deputado federal em fevereiro deste ano. Essa é a oportunidade de os servidores terem voz dentro da Câmara e de construírem uma ponte com o governo federal. Uma das provas da atuação de Policarpo em favor do funcionalismo é a emenda que apresentou ao PL 6613/2009 e ao PL 6697/2009, propondo a volta dos salários à proposta original construída e aprovada pela categoria. Policarpo teve também aprovado requerimento seu para que a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público promova seminário nacional para discutir o PL 1992/2007, que visa privatizar a previdência pública dos servidores. No final de abril, Policarpo foi designado relator do PL 6613. Análise de conjuntura específica Pela aprovação do PCCR O Sindjus lutou pela elaboração, construção e aprovação de três Planos de Cargos e Salários dos servidores do Judiciário e do Ministério Público, construindo um processo gradativo de valorização dos servidores. A partir do Congresso de Gramado, realizado pela Fenajufe em 2007, o Sindjus passou a buscar um plano que trouxesse mudanças mais profundas para a estrutura da nossa carreira. O PCS IV, ou Plano de Cargos, Carreira e Remuneração, como passou a ser chamado, foi objeto de muitos debates e estudos. Em 2008, o STF criou uma Comissão Interdisciplinar para elaborar esse plano. Além dos representantes dos tribunais superiores e do TJDFT, a Fenajufe e o Sindjus participaram da comissão. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Confira alguns pontos discutidos na comissão: Área de gestão e de tecnologia de informação Diante do crescimento da importância do trabalho desenvolvido pelos profissionais de informação, frente à forte tendência de virtualização dos processos e da crescente segurança jurisdicional, o Sindjus defendeu a criação de uma área para os servidores que desenvolvem trabalhos ligados à tecnologia da informação. Área para segurança Discutiu-se a criação de uma área para os servidores que desempenham funções referentes à segurança, vigilância e ao transporte. É inegável que depois de anos de políticas de terceirização, haja necessidade de investimentos em quadro próprio e capacitado para essas atribuições. Criação de cargo de Oficial de Justiça O debate sobre a criação do cargo de Oficial de Justiça alcançou um bom encaminhamento dentro da comissão. Criação da Escola de Formação Há muito tempo o Sindjus luta para que haja um centro de formação e capacitação para os servidores do Judiciário. A modernização do Judiciário implica a modernização do conhecimento dos servidores. Fim das FCs Discute-se dentro da comissão a extinção de boa parte das Funções Comissionadas. O Sindjus argumentou que as FCs não representam vantagem para o conjunto dos servidores, já que sua ocupação nem sempre obedece a critérios justos. A economia resultante da extinção dessas gratificações será revertida nos reajustes salariais. 10 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Combate à terceirização Para o Sindjus é necessário cada vez mais promover investimentos em um quadro próprio, qualificado e contínuo, e por isso levou para a comissão a discussão sobre a terceirização de algumas áreas como atividades básicas. O Sindjus defendeu a necessidade de se criar instrumentos para resguardar a carreira, combatendo a terceirização e todos os males que ela causa à administração, aos servidores e à sociedade. Também foi analisada uma forma de reduzir o número de especialidades ao mínimo necessário, evitando os indesejáveis e prejudiciais desvios de função. Instituto da Remoção Havia dúvida sobre a necessidade do instituto da remoção diante da iminência do PL 319/07, que tramita na Câmara e aborda a redistribuição. O Sindjus justificou que, mesmo com a redistribuição aprovada, os tribunais nada perderiam com a permanência da remoção no texto, podendo esta ajudar em casos específicos. Mudança do nível escolar dos técnicos O Sindjus defendeu que o nível escolar dos técnicos fosse elevado, de médio para superior, no intuito de promover a valorização da tabela salarial. A defesa foi embasada no fato de que ao buscar comparativos em outras carreiras para atividades de nível médio, não iremos conseguir avançar muito na questão salarial dos técnicos. Muitos já são graduados e desenvolvem atividades de nível superior. De acordo com as discussões, a exigência de nível superior seria válida nos futuros editais, preservando os quadros atuais de modo a estimulá-los a ingressar em faculdades. Adicional de Qualificação Em razão do sucesso dessa experiência e embasados na necessidade de atualização do conhecimento, debate-se o aprimoramento do Adicional de Qualificação dentro do Poder Judiciário, bem como a elevação de seus percentuais. Além desses pontos, foram também discutidas a definição de atribuições, a criação do cargo amplo e da carreira única, a ascensão funcional e a revisão da tabela salarial. Depois de oito meses de trabalho, um anteprojeto foi encaminhado aos diretores-gerais. No entanto, a cúpula do Judiciário optou por não discutir mudanças na carreira sob a justificativa de que não havia clima para isso. Todos os avanços feitos foram deixados de lado, sob a promessa de que seriam discutidos depois que se aprovasse uma nova tabela salarial. O PCS IV ou PCCR passou então a significar a reestruturação da tabela salarial, um reajuste para repor a inflação e uma correção das distorções salariais entre carreiras de mesma responsabilidade existentes nos outros poderes. Sem alternativa mais rápida e completa que fosse capaz de recompor os salários dos servidores que estavam defasados, aprovou-se a fórmula de lutar primeiro pela revisão salarial, depois pela reestruturação da carreira. No entanto, Gilmar Mendes, Presidente do Conselho Nacional de Justiça promoveu cortes na tabela salarial proposta pelo Sindjus, que buscava aproximar o salário dos servidores do Judiciário e Ministério Público da União ao de outras carreiras análogas, como a Receita Federal. No segundo semestre de 2010, o presidente Lula fez um acordo com o presidente do STF, Cezar Peluso, no sentido de apreciar o projeto logo após as eleições. O acordo não foi cumprido. Enquanto o debate acontecia no âmbito do Poder Judiciário, a postura cômoda do procurador-geral da República foi de aguardar qualquer posicionamento daquele Poder para, a partir do resultado, adaptar ao Ministério Público da União. Pela primeira vez o MPU não instalou Comissão para propor a revisão da carreira. Além disso, a negociação com o Executivo também foi “terceirizada” pelo procuador-geral ao presidente do STF. Os servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União estão com seus respectivos projetos de reajuste salarial, PLs 6613/2009 e 6697/2009, estacionados na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara Federal desde 2010. Em março de 2011, o deputado federal Policarpo (PT/ DF), em decorrência dessa demora, derrubou os argumentos de cortes propostos pelo ex-presidente do STF Gilmar Mendes, e apresentou uma emenda aos PLs 6613 e 6697/2009, propondo a volta dos valores originalmente aprovados pelos servidores. Policarpo pediu um aumento escalonado de 170% da Gratificação Judiciária (GAJ), elevando-a de 50% para 90%, a partir de 1º/6/2011; de 90% para 130%, a partir de 1º/1/2012; e de 130% para 170%, a partir de 1º/6/2012. A emenda também propõe a redução de dois padrões na tabela, como forma de combater a evasão de servidores para carreiras mais atrativas, valorizando assim os recémchegados ao Judiciário. No dia 27 de abril, Policarpo foi designado relator do PL 6613/2009. Nesse mesmo dia, os servidores do TRF e da Justiça Federal cruzaram os braços numa paralisação de 24h, reivindicando a aprovação imediata do plano e demonstrando o alto grau de mobilização da categoria. A falta de iniciativa das cúpulas do Judiciário e do MPU em buscar a aprovação do PCCR gerou um clima de angústia no âmbito da categoria, que decidiu construir greve por tempo indeterminado. Missão, ampliação de papéis e valorização O que fazem os servidores do Judiciário ou do MPU? Ainda é pequeno o conhecimento que a população tem sobre as atribuições desses profissionais, porque há uma indefinição muito grande a respeito. Não há clareza nem detalhamento suficiente dos papéis desses servidores. Por isso discutiu-se, dentro da comissão interdisciplinar instituída pelo STF para propor a revisão das Carreiras, a necessidade de definir as atribuições dos servidores do Judiciário e do MPU para evitar desvios de função. A informatização e a virtualização dos processos reforça a necessidade de se definir nossas atribuições, com o crescimento de algumas áreas, como é o caso da tecnologia da informação. Também é preciso definir a atuação dos servidores por local de trabalho, como nos juizados especiais. Os servidores têm hoje uma carga muito grande de trabalho, em função da alta demanda por Justiça por parte da sociedade. Segundo um levantamento do Conselho Nacional de Justiça, vinte milhões de processos chegam todos os anos ao Judiciário. Por isso, é fundamental investir na qualidade de trabalho e de vida para os servidores, para que eles possam oferecer uma prestação jurisdicional de excelência. Mas para isso é preciso responder duas perguntas: o que essa categoria faz e o que essa categoria pode fazer? 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 11 Em linhas gerais, os servidores têm a missão de proporcionar à sociedade o acesso à Justiça e à resolução dos conflitos, por meio de um atendimento de qualidade. Os servidores, que já possuem, em sua maioria, a mesma graduação de magistrados e promotores/procuradores, subsidiam as atividades dos agentes políticos. Após ter definidos seus papéis, os servidores poderão contribuir, ainda mais, na busca por uma Justiça célere, eficiente e justa. Está na hora de assumirmos o nosso papel de protagonistas da Justiça. Para isso, é preciso que tenhamos condições de desenvolver nosso trabalho. O compromisso firmado com a cúpula do Judiciário foi o de dar continuidade à discussão da reestruturação da carreira logo após a aprovação do PL 6613/2009. Vamos cobrar isso. A defasagem salarial existente em relação a servidores de carreira análogas do Executivo e do Legislativo desestimula os profissionais mais qualificados a prestar concursos para ingresso nas carreiras do Judiciário e Ministério Público. Além de causar a evasão de servidores do quadro para outros poderes, prejudicando a qualidade dos serviços. Jornada de trabalho Com a resolução do CNJ de ampliar o atendimento dos tribunais para o período das 9 às 18 horas, o Sindjus propôs ampliar ainda mais o expediente, defendendo que o horário de atendimento de todos os tribunais e órgãos jurisdicionais siga o exemplo do Superior Tribunal de Justiça, que funciona de segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas, com atendimento aberto ao público das 7h30 às 19 horas, conforme o art. 146 do Ato Regulamentar nº 2, de 5/7/2007. Defendendo o pleno acesso à Justiça e uma jornada de trabalho justa aos servidores que compõem o Poder Judiciário e o Ministério Público da União, o jurisdicionado ganha, a produtividade aumenta e possibilita-se uma melhor utilização dos recursos disponíveis pelos órgãos. Aos servidores, tal medida agradaria sobremaneira, pois possibilitaria a adoção de uma jornada de 6 horas ininterruptas, mais produtiva e que racionaliza o uso dos recursos físicos e humanos. Outro ponto que merece ser lembrado é que a mesma Resolução 88/09-CNJ cria uma ressalva: na medida em que houver legislação local especial ou diversa da Resolução, ela deixa de ser aplicada. Uniformizar o horário de atendimento da Justiça é uma atitude positiva, desde 12 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 que se aperfeiçoe a gestão de pessoas e de materiais de cada órgão. Por uma aposentadoria digna Está no Congresso Nacional o projeto de instituição da previdência complementar do servidor público (PL 1992/07). Nele é fixado, para todo servidor de cargo efetivo e que for admitido no serviço público a partir de seu funcionamento, o teto do Regime Geral da Previdência Social (INSS), hoje no valor de R$ 3.689,66. Somos contra esse projeto que institui o regime de previdência complementar aos servidores públicos titulares de cargo efetivo da União (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além de MPU), suas autarquias e fundações, inclusive para os “membros” do Poder Judiciário, do Ministério Público e do Tribunal de Contas da União. Os servidores atuais não são obrigados a aderir ao fundo previdenciário. A exigência valerá para os servidores que ingressarem a partir da instituição do fundo de previdência complementar, concedendo 180 dias aos atuais servidores para que possam aderir a ele. No entanto, os demais servidores, conforme determina o § 16 do art. 40 da Constituição Federal, podem aderir ao regime de previdência complementar, submetendo-se, assim, ao referido limite. Com isso, o projeto criará quatro regimes diferentes de aposentadoria. Um para aqueles que se aposentaram até 2003, com paridade e integralidade; outro para quem se aposentar entre a edição da EC (Emenda Constitucional) 41 e a instituição do regime de previdência complementar, que não terá paridade e integralidade, mas terá contribuído com 11% de seu salário integral. O terceiro, que virá depois da criação da previdência complementar, abrigará os servidores que vão contribuir com 11% até o limite do Regime Geral; e, por fim, o quarto, com servidores que optarem pelo benefício complementar. Por ter um formato de contribuição definida, o servidor sabe com quanto vai contribuir, mas não tem como saber o quanto vai receber. Atrelado ao fundo, o servidor fica na dúvida também quanto à integralidade da remuneração, uma vez que não há garantia alguma se o valor vai corresponder ao cargo da atividade no momento da aposentadoria. O artigo 15 da proposta determina a contratação de instituições financeiras para administrar a carteira desse fundo que será criada. Ou seja, a aposentadoria ficará refém do mercado financeiro. Além disso, o projeto, da forma como está, não solucionará o problema do suposto déficit da Previdência. Não se pode falar em déficit na previdência dos servidores públicos e no RGPS (Regime Geral de Previdência Social) porque nunca houve a capitalização dos recursos arrecadados. A apresentação da proposta como uma forma de amenizar o provável déficit não se justifica, uma vez que o projeto, se virar lei, não afetará os servidores federais já aposentados, aprofundando assim o desequilíbrio fiscal do governo. No dia 27 de abril deste ano, a Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, atendendo a um requerimento apresentado pelo deputado federal Policarpo, realizou um seminário com representantes do governo e entidades de classe para debater o projeto, que recebeu duras críticas dos representantes dos servidores. Aposentadoria especial O Sindjus luta pela aposentadoria especial, em defesa dos servidores portadores de deficiência e dos que executam atividades insalubres, perigosas ou de risco, como aquelas relacionadas às áreas de execução de mandados, segurança judiciária, obras e conservação, das áreas médicas e odontológicas, de serviço social e psicologia, entre outras. Por isso, está atento a dois projetos de lei complementar (PLP 554 e 555/10) que pretendem regulamentar a aposentadoria especial do servidor público. É válido ressaltar que as entidades de classe não foram consultadas, tampouco participaram da elaboração desses projetos. Os projetos chegaram ao Congresso Nacional incompletos e restritivos, com exigências inexistentes na legislação de aposentadoria especial dos trabalhadores do setor privado, como a idade mínima. Os projetos só tratam de atividades de risco e agentes nocivos à saúde, não fazendo qualquer menção à aposentadoria especial do servidor deficiente. Durante audiência pública realizada na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, o Sindjus apresentou uma Proposta de Emenda ao PLP 555/2010, atendendo ao pedido da servidora Tânia Andrade (TST), sobre a regulamentação de aposentadoria especial ao servidor público portador de necessidades especiais, ou cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. A proposta foi aceita pelos depu- tados presentes, que reconheceram a necessidade dessa regulamentação. Aguarda votação no Plenário da Câmara dos Deputados a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 270/08, que tem como objetivo garantir ao servidor que ingressou no serviço público até o dia 16 de dezembro de 1998 e que se aposentou em virtude de invalidez permanente o direito à percepção de proventos integrais, inclusive com revisão na mesma proporção e data da revisão da remuneração dos servidores em atividade. Essa matéria é importante porque há servidores públicos aposentados por invalidez em situação bastante desfavorável. Há pessoas que recebiam R$ 4 mil e hoje ganham em torno de R$ 800. Levando-se em conta o cenário em que centenas de servidores públicos federais aposentados por invalidez perderam cerca de 70% dos seus vencimentos, é preciso que os parlamentares sejam sensibilizados e aprovem a PEC 270 o mais rápido possível. Estender ao servidor público o direito de aposentar-se pelo regime especial significa igualá-lo a qualquer outro trabalhador da iniciativa privada. Mais do que justa, a medida é necessária. Observe um exemplo que ilustra essa injustiça: hoje, um operador de raios-X do setor privado aposenta-se após 25 anos de serviço, enquanto que o do serviço público é obrigado a trabalhar 35 anos. Por que essa diferença se os riscos e a insalubridade são os mesmos? Os servidores que atuam na área de saúde (médicos, dentistas e enfermeiros), os que trabalham em guarda de objetos de crime, os que manipulam combustíveis e outros materiais insalubres, bem como os taquígrafos, técnicos e auxiliares de gráficas, além de outras áreas, expõem-se diariamente ao perigo. Porém, para obter a aposentadoria depois de anos de serviços prestados, muitas dessas pessoas têm como único caminho a Justiça. Consciente disso, e em vez de ficar de braços cruzados esperando o Executivo e o Legislativo regulamentar a aposentadoria especial, o Sindjus acionou a Justiça para conquistar esse direito para a nossa categoria. Em 2008, o Sindjus impetrou no STF o MI 824 para obter o direito constitucional que assegura aposentadoria especial aos servidores que exercem atividades sob condições que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Também foi autor do MI 844, que trata da aposentadoria especial dos servidores que exerçam atividades de risco, beneficiando, em regra, os oficiais de justiça, os inspetores e os agentes de segurança. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 13 Contra contribuição dos inativos O Sindjus defende a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 555/06) que altera o regime previdenciário para acabar com a contribuição sobre os benefícios de aposentados e pensionistas com direitos adquiridos até janeiro de 2004. Clube do Servidor Para o sindicato, a previdência deve ser vista sob a ótica do benefício social e não do custo. Desde a implantação do ajuste fiscal em fins de 1998, os governos brasileiros priorizam o gasto financeiro em detrimento do investimento social. Até mesmo a Previdência Social Pública é vista sob a ótica do custo e não sob o enfoque do benefício social. O ofício nº 135, de 3 de março de 2005, encaminhado ao ministro interino do Planejamento e Gestão, Nelson Machado, marca o início da luta do Sindjus pela administração do Clube do Servidor. Em 2009, depois de muito empenho, o sindicato recebeu a cessão do Clube, ao lado da Advocacia-Geral da União. Desde então, trabalha para devolver o clube aos servidores público de Brasília. Nossa luta é para que o governo levante novas fontes de financiamento para a sua manutenção. O Sindjus se posiciona contra a contribuição previdenciária dos servidores públicos inativos por considerá-la injusta e inconstitucional. O Sindjus está na fase de recuperação do espaço físico, que envolve muitas obras que possibilitarão transformar esse ambiente em um clube recreativo, em polo cultural e em centro de treinamento de servidores. O intuito é que o servidor possa repousar, divertir-se, recrear-se, entreter-se e aprimorar a sua formação num mesmo espaço. Combate à discriminação O Sindjus acredita que a construção de um mundo melhor exige o combate a todas as formas de discriminação e preconceito. Devemos lutar pela igualdade no mercado de trabalho brasileiro, em especial, pela isonomia de tratamento no serviço público. Lutar contra a discriminação sofrida pelas mulheres, negros, índios, jovens e homossexuais. Dentro do Judiciário e do MPU, precisamos lutar para que os cargos de chefia sejam ocupados independentemente de gênero, raça ou cor, idade, origem, opção sexual e credo. Precisamos ficar atentos ao PL 122/06, que altera a Lei nº 7.716, de 1989, que define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. O texto foi desarquivado em 8 de fevereiro de 2011 pelo Senado Federal e terá de passar pelas comissões temáticas da Casa. Se for aprovado, terá de voltar à Câmara, onde foi apresentado e aprovado inicialmente. O Estatuto da Juventude PL 4529/04 foi aprovado por comissão especial em 2010 e aguarda deliberação do plenário da Câmara. Já o Estatuto do Portador de Deficiência PL 7699/2006 foi aprovado pelo Senado e está pronto para votação no plenário da Câmara. Em pesquisa realizada pelo Sindjus junto aos tribunais e ramos do Ministério Público em 2011 (em andamento), fica evidente que a ocupação dos cargos de primeiro escalão é em grande maioria formada por homens e a partir daí a distribuição é igualitária. Esse problema se 14 repete em todos os espaços de poder e deve ser combatido com critérios objetivos para a ocupação de cargos em comissão e funções comissionadas, garantindo possibilidades iguais para servidores e servidoras. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Plano de lutas Lutas Gerais Internacionais: 1. Pelo direito à autodeterminação dos povos; 2. Pela construção da solidariedade entre os povos; 3. Pela erradicação da fome e da pobreza absoluta. Lutas Gerais Nacionais: 4. Pela democratização do Poder Judiciário e do Ministério Público; 5. Pelo fim do trabalho escravo; 6. Pela garantia da proteção à Criança e ao Adolescente, prevista no ECA; 7. Luta pela educação pública, gratuita e de qualidade; 8. Luta por assistência à saúde universal, pública e de qualidade; 9. Pela redução das taxas de juros; 10. Contra a flexibilização das leis trabalhistas e pela recuperação dos direitos suprimidos; 11. Pela regulamentação das comunicações, contra os oligopólios da mídia; 12. Pelo fim de toda forma de preconceito (gênero, raça e cor, orientação sexual, credo e idade). Lutas Gerais dos Servidores Públicos: 13. Pela definição de uma política salarial que recomponha os salários e mantenha o poder de compra dos servidores; 14. Pela realização de concursos públicos; 15. Contra a terceirização dos serviços públicos; 16. Contra a instalação dos fundos de pensão; 17. Pela redução da jornada de trabalho; 18. Pela manutenção da paridade entre ativos e aposentados; 19. Retirada do PLP 92/07, que cria as fundações estatais privadas; 20. Pela aprovação da PEC 555/2006, que revoga a taxação dos aposentados; 21. Retirada do PLP 549/09 (antigo PLP 01), que congela dos salários por dez anos; 22. Pela aprovação da PEC 270/2006, que assegura proventos integrais aos servidores que se aposentar por invalidez. 23. Repúdio total à PEC 02/03, que permite a efetivação de servidores requisitados; 24. Contra o PLP 248/98, que permite a dispensa do servidor por insuficiência de desempenho; processo de escolha de chefias dentro de critérios estabelecidos pelo plano de carreira. 31. Liberação de servidores para participação em atividades sindicais; 32. Pagamento de horas extras; 33. Melhoria do programa de assistência médica, com a diminuição da participação dos servidores no custeio; 34. Auxílio pré-escolar atualizado anualmente pelo índice utilizado pelas escolas particulares; 35. Fim da utilização do estágio em substituição da força de trabalho dos servidores; 36. Criação de novos cargos de servidores para Judiciário e MPU; 37. Pela instalação de berçários em todos os locais de trabalho do Judiciário e MPU; 38. Pela definição de critérios objetivos para ocupação de cargos em comissão e funções comissionadas; 39. Por uma política de capacitação de servidores ampla e de qualidade; 40. Pela criação de conselhos administrativos nos ramos do Ministério Público da União; 41. Pela participação de representante de servidores em todos os conselhos deliberativos de planos de saúde; 42. Pela quitação de todos os passivos; 43. Pela valorização da atividade psicossocial no Ministério Público e Poder Judiciário. 25. Lutar pela liberação dos dirigentes sindicais. Lutas Específicas do Judiciário Federal e MPU: 26. Pela aprovação dos Projetos de Revisão Salarial PL 6613/09 (Judiciário) e PL 6697/09 (MPU); 27. Pela valorização e reajuste anual dos benefícios: auxílio-alimentação, indenização de transporte, auxílio pré-escolar; 28. Contra as requisições de servidores não pertencentes aos quadros do Judiciário Federal e MPU, pela defesa do concurso público para o fortalecimento dessas instituições; 29. Pela transparência da execução orçamentária do Judiciário Federal e MPU; 30. Democratização das relações de trabalho, inclusive com participação dos trabalhadores no 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 15 Delegados que assinam a tese CJF Jackson Ataxerxes Matos MPDFT Janiwson de Souza Soares Jean Paulo Loiola Lima Joira Coelho Furquim Leda Magalhães Germano Sebastiana Nunes Barbosa William R. G. Estrela MPF Marcos Ronaldo Freire de Araújo Nascip Vargas de Souza STF Aécio Furtado de Almeida Artur Olimpio Rodrigues Queiroz Carlos Eduardo Alves Coelho Eyler Gonçalves de Almeida Jamir Lopes Luiza Gallo Pestano Ruy Soares de Carvalho STJ Antônio Alcides de Assis Carvalho Eronildes Ribeiro da Silva José Augusto Campos Neto José Roberto Queiroga Ferreira Luis Cesar Texeira de Oliveira Marcelo James Lopes Washington Marques Dourado STM Eva Cláudia Medeiros da Silveira Joaquina Alves de Abreu Luzimar Dias Carvalho Roberto Alves Ferreira TJDFT Abdias Trajano Neto Alexandre Dias Mesquita Kleber Aires Belem Devair de Souza Lima Anderson Carneiro de Morais Sá Antônio Carlos Batista de Souza Marcelo dos Reis Rodrigues Armando Lopis Esbaltar Carlos Alberto de Araújo Costa Carmelita Pereira Cardoso Cicero de Assis Soares Claudio da Cunha Coelho Edelson Rodrigues Nascimento Fátima Maria de Araújo Arantes Flávia Regina Lara de Souza 16 Francine Ribeiro Teixeira Francisco Carlos de Sá Freitas Frederico Luciano Araújo Ferraz Júnior Geovane Néo Dantas Glaucia Sena de Brito Henrique de Melo Cavalcanti Ivã Teixeira da Silva Iveraldo de Vasconcelos Soares Jair Ferreira Castelo Branco Jorge Luiz de Souza Lobato Leila Aparecida do Nascimento Valadão Lilia Dourado de Souza Luciano Amorim Temóteo Luciano Dias Lima Luzmar Batista de Araújo Márcio Vaz de Mello Margari Gomes Gadelha Marina Riehl de Magalhães Arruda Nilton José Cordeiro Monteiro Jeremias do Nascimento Alves Renato do Nascimento Ayres Roney Marcelino da Silva Sérgio Satoshi Ito Sérgio Vieira da Silva Silvânia Costa da Silva Siqueira Warner Maia Rodrigues Wesley Chaves de Albuquerque TRE Edivan Ismael dos Santos Heraclito Carlos Vieira Freitas Maristela Ribas Feltrin Symball Rufino de Oliveira TRF/JF Andre de Jesus Coelho Machado Demetrio Gonçalves Lara Edmilton Gomes de Oliveira Fabiano Costa Lucindo Gilmar Saraiva da Paz Walter de Souza Matos Filho Maria Angela Rocha Paes Matuzalém Braga dos Santos Tatiana Wokmer Rovere M. e Costa TRT Adalgisa Cecília Goiabeira Feques Antonio Gilson de Jesus Santos Dalila Maria Mota Figueiredo Monteiro Eduardo da Fonseca Melo Francisco Meton Bessa de Castro José Soares da Silva Júnior Lindomar Oliveira da Costa Luiz Antonio dos Santos Sandra Sueli do Nascimento Maruno Waltemir Oliveira Lopes TSE João Hermette Stemler Veiga Job de Brito Silva Filho Luiz Valério Rodrigues Dias 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 TST Adalberto Alves Silveira Adelor Alves Lopes Alan Kardek Saraiva Ferreira Antônio Carlos Falcão Cleusa Martins de Oliveira Daniel Braga de Lima Edilson Franklin de Medeiros Herbert de Melo Bezerra Hilvio Maciel Carvalho João Carmelino dos Santos Filho Jorge Roberbal Rolim Lucicleide Costa Bezerra O. Lopes Maria Regina da Silva Nascimento Neuza Ferreira de Oliveira Paulo Rogério de Almeida Lima Sidon de Souza Costa APOSENTADOS(AS) Adriana Hercules Sevillis Antônio Francisco Machado Costa Bernadeth Tavares de Aquino Costa Carmem Lucia de Oliveira Meneses Deoziria Felismino Ribeiro Donato Batista de Oliveira Edda Bettina Medeiros Salles Emerson Barreira Parente Flaubert Barbosa dos Santos Júnior Geralda Maria Inacia F. de Oliveira Jaime de Oliveira Joaquim Alves de Morais Jorge Eduardo dos Santos Motta Maria Noelia do Nascimento Brito Marta Suel de Oliveira Messias Batista da Silva Nelson de Sena Nivalda Gomes Oliveira Fonseca Reginaldo Pereira Lima Sidenei do Prado DIRETORIA Ana Paula Barbosa Cusinato Antônio José Oliveira Silva Berilo José Leão Cledo de Oliveira Vieira Eliane do Socorro Alves da Silva Jailton Mangueira Assis José Joventino Pereira de Sousa José Oliveira Silva Maria Angélica Portela Marília Guedes de Albuquerque Newton José Cunha Brum Orlando Noleto Costa Raimundo Nonato da Silva Sheila Tinoco de Oliveira Fonseca Valdir Nunes Ferreira Quem sabe faz a hora! Apresentação O Sindjus/DF realiza seu VI Congresso a poucos meses da aprovação dos seus Planos de Carreira. Acreditamos que a missão de aprovação desses Planos de Carreira não será nada fácil. Está claro, também, que nosso êxito nessa empreitada envolve desafios que estão colocados para toda a classe trabalhadora que, neste momento, se quiser avançar, terá que distinguir quem são os seus verdadeiros aliados ou algozes. Acreditamos que os servidores do judiciário e MPU – mais uma vez • terão que assumir o papel de protagonistas destas lutas e, por conseguinte, não permitir que as correntes governistas se arvorem no papel de defensores dos nossos interesses de classe, sob pena de perdermos a batalha de enfrentamento contra o governo Dilma e seus declarados ataques em direção à retirada de nossos direitos históricos e congelamento de salários. Esta tese que apresentamos ao VI Congresso do SINDJUS/DF busca apresentar a visão que temos dos desafios que estão colocados para a nossa organização e as propostas que temos para enfrentá-los. Queremos discutir aqui não só análise da conjuntura e o plano de ação para aprovação dos PCS’s. Isto é fundamental, mas queremos também avançar nas discussões mais estratégicas para a luta dos trabalhadores brasileiros, especialmente o fenômeno de traição da burocracia sindical. O tema geral do Congresso será: “Prestação Jurisdicional: O que essa categoria faz? O que essa categoria pode fazer? Missão, ampliação de papéis e valorização”. “O Congresso tem o objetivo, também, discutir qual a melhor forma de remuneração para a categoria (www. sindjusdf.org.br)”. Sobre a escolha do tema central para discussão no nosso VI Congresso Com o intuito de desviar a atenção dos trabalhadores do judiciário e MPU para as verdadeiras bandeiras e desafios fundamentais que temos pela frente, mais uma vez, a diretoria do sindicato propõe como tema central para discussão no seu congresso um assunto distante dos verdadeiros anseios da nossa categoria. Propuseram um tema de nível superficial, abstrato, indubitavelmente secundário. Como é do conhecimento de todos, cabe ao Estado e suas diversas esferas de poder político a competência para legislar e promover ações para melhorar a prestação jurisdicional. As organizações dos trabalhadores e suas diversas instâncias são independentes do Estado e, neste contexto, devem se preocupar preponderantemente com os aspectos relacionados com a exploração dos trabalhadores nos seus locais de trabalho (assédio moral, discriminação, saúde, etc), dentre outras tratativas. Se os diretores do SINDJUS/DF optarem por ocupar o papel de Dilma e Peluso, terão que se afastar do sindicato, ou arcar com o ônus e/ou equívoco político de transformar a nossa entidade em uma Secretaria de Estado ou coisa afim. Talvez, a escolha do tema seja uma tentativa da diretoria do Sindjus/DF de estabelecer uma relação amigável com as administrações dos Tribunais de Justiça, que, agora-mais-do-que-nunca, demonstraram falta de compromisso com a valorização dos servidores do quadro de carreira e, até mesmo, na otimização da prestação jurisdicional. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 17 Contribuição crítica Morrer pelo trabalho e pela empresa I. Globalização mata: França enfrenta onda de suicídios David Criquy, de 31 anos, o último operário da Renault a se matar (em fevereiro passado) deixou uma carta atribuindo sua decisão à dificuldades e a sobrecarga que ele estava encontrando no trabalho. Dois dias depois, motivado pelas mesmas razões, outro operário tentou o suicídio sem sucesso. Onda de suicídios em empresas francesas revela uma das faces mais cruéis do mercado de trabalho em tempos de globalização e “reestruturação produtiva”. No dia 16 de julho, um operário se dirigiu a seu posto de trabalho numa fábrica do grupo automobilístico PSA Peugeot Citroen, em Mulhouse, na França, como fazia há anos. Mas, ao invés de dar início a mais um dia de trabalho, decidiu fazer o mais desesperado dos protestos: pôs fim à própria vida, enforcando-se. O suicídio do operário de 55 anos, pai de três filhos e funcionário da empresa há 29 anos, está longe de ser um caso isolado e excepcional. Somente na Peugeot, já ocorreram seis mortes desde o início do ano (a maioria deles trabalhadores da seção de ferragens da fábrica de Mulhouse). No mesmo período, outros três suicídios foram registrados na Renaut. Outra empresa em que suicídios têm sido freqüentes é a estatal de energia EDF. Em dois anos, quatro agentes da central nuclear de Chinon se mataram. O último caso foi registrado em maio, quando uma funcionária de 50 anos suicidou-se depois de ser transferida de uma cidade para outra como parte do processo de reestruturação da empresa, uma imposição do processo de privatização que está em curso sob orientação da União Européia. Apesar dos franceses conviverem com um dos mais altos índices de suicídios no mundo – cerca de 11 mil casos por ano, o que faz dessa a maior causa de mortes violentas, a frente de acidentes de trânsito e homicídios – a seqüência de mortes relacionada ao trabalho tem chamado a atenção da imprensa mundial que, em geral, não consegue esconder o que, de fato levou todos estes trabalhadores a atitudes tão desesperadas: as nefastas práticas e as conseqüências da reestruturação produtiva no mundo neoliberal. 18 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Parte significativa das dificuldades está relacionada com o que vêm ocorrendo com a fábrica particularmente depois de 2005, quando o brasileiro Carlos Ghosn assumiu a presidência da sede da empresa, na França. Conhecido como um “cost killer” (“matador de custos”), o sanguessuga neoliberal impôs à empresa um ambicioso plano de aumento de produção, com drásticas reduções de custos, a partir de metas fixadas até 2009. Isto, obviamente, significou um aumento absurdo da pressão sobre todos os trabalhadores da empresa. O fato de o brasileiro ter chegado à presidência da matriz da empresa francesa diz, por si só, a que se refere à devoção de Ghosn à cartilha neoliberal. Para atingir suas metas, ele tem se utilizado de mecanismos que, lamentavelmente, grande parte dos trabalhadores de todo mundo já conhecem: incentivo a “competitividade”, precarização e terceirização, aumento das jornadas, assédio moral, cortes de direitos e renda. Enfim, exploração sem limites, além da constante ameaça de desemprego. Infelizmente, não são poucas as vezes que toda essa pressão leva trabalhadores ao estresse, à depressão e a um nível de desespero que, em alguns casos, pode levar ao suicídio, como nos casos da Peugeot Citroen e da Renaut. Uma situação para a qual o presidente da Renaut tem uma explicação digna do parasita que ele é: há uma noção de fracasso que foi mal interpretada” (revista Carta Capital, 25.07.07). Ainda segundo a lógica hipócrita de Ghosn, os trabalhadores “não interpretaram” bem o que a Renaut quer dizer quando afirma que “a empresa não tem direito ao fracasso (...), mas os indivíduos têm direito ao fracasso, sem cair na complacência”. Na verdade, os trabalhadores entenderam muito bem. “Sem cair na complacência” nada mais é do que ser implacável com os trabalhadores, para garantir o único objetivo que realmente importa para Ghosn e gente de sua laia: a garantia do sucesso e dos lucros de suas empresas, mesmo que para isso os trabalhadores naufraguem, em proporção inversa, em perdas. e de incentivos rigorosos, esse sintoma é sempre mais evidente e assume um caráter epidêmico”. Que este acúmulo de perdas leve trabalhadores a um beco sem saída, infelizmente, não chega a surpreender. Principalmente, em casos como o da empresa francesa, onde as perdas têm significado ataques a conquistas históricas. Lamentavelmente, seria impossível descrever o que vem ocorrendo na França e em tantos outros cantos do mundo – inclusive no Brasil – na atualidade. A “cura” para esta epidemia já foi há muito apontada pelo próprio Marx: a unidade dos trabalhadores e oprimidos para derrubar este sistema doente que, das formas mais distintas, tem levado cada vez mais trabalhadores à morte. Suicídio: sintoma de uma sociedade doente O caso da Renaut é exemplar. Sua história tem tudo a ver com os avanços neoliberais nas últimas décadas e, também, nos ensina muito sobre a luta dos trabalhadores. Em 1945, pressionado pela mobilização dos trabalhadores franceses – que saíam de uma heróica vitória contra o nazismo, conquistada com decisiva participação da Resistência -, o General De Gaulle foi obrigado a nacionalizar a empresa, como punição por sua nefasta colaboração com o regime de Hitler, através da fabricação de veículos para as tropas de ocupação. Durante as décadas seguintes, os trabalhadores da Renault arrancaram várias conquistas, que começaram a ser sistematicamente arrancadas a partir da privatização promovida pelo presidente “socialista” François Mitterrand. Agora que as mortes começam a ser tratadas como uma “epidemia”, a única resposta das empresas tem sido oferecer serviços de atendimento psicológico e psiquiátrico para seus funcionários. Uma medida totalmente paliativa, ineficaz e bastante hipócrita, na medida em que não ataca as verdadeiras raízes do problema: as insuportáveis condições de trabalho que os mesmos patrões que, hoje, oferecem terapias criaram no capitalismo globalizado. Uma situação que, é importante lembrar, está longe de ser uma “novidade”. Há quase dois séculos, em 1846, Karl Marx escreveu um pequeno estudo – a partir de casos policiais relatados por Jacques Peuchet, diretor dos Arquivos da Policia de Paris – intitulado “sobre o suicídio”, destacando que a prática é uma expressão extrema de uma sociedade doente, de um sistema que necessita de uma transformação radical para resolver não só questões políticas e econômicas, mas também relacionadas a opressão. Nas palavras de Marx, “o suicídio deve ser considerado um sintoma da organização deficiente de nossa sociedade, pois, na época da paralisação e das crises da indústria, em temporadas de encarecimento dos meios de vida II. Conjuntura Internacional e Nacional 1) Internacional 1.1) Todo apoio ao povo líbio contra Kadafi, mas não à intervenção da Otan É impossível encontrar neste momento um país árabe que não esteja sendo sacudido por revoltas ou mobilizações. Neste sentido, os acontecimentos na Líbia desencadearam uma polêmica em toda a esquerda, difícil e muito dura O surpreendente neste debate é que, quando não existe um só país do mundo árabe que tenha ficado livre das revoltas populares, se negue a ligação deste processo com o líbio. Para quem procurou desde o início diferenciar o levantamento na Líbia do processo geral no Oriente Médio e no mundo árabe, a razão mais utilizada é que essa mobilização é dirigida pela “Frente Nacional pela Salvação da Líbia [NFSL na sigla em inglês] uma organização financiada pela CIA que chama o povo líbio a reiterar um juramento de lealdade ao rei Idris el-Senusi como líder histórico do povo líbio”. Esta forma de explicar os fenômenos políticos ou sociais está sem dúvida muito próxima da proliferante teoria da conspiração. No entanto, coloquemo-nos por um momento nesta tese e aceitemos que a situação da Líbia se explica como parte de um plano traçado pela CIA. Surgem então várias dúvidas. Kadafi era o homem do imperialismo na Líbia desde 2003 e, especialmente a partir de 2006, as multinacio6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 19 nais faziam o que queriam; o FMI, oito dias antes do levantamento popular, felicitou publicamente o governo líbio pelos planos que estava aplicando. Kadafi foi fotografado com todos os presidentes do mundo e convidado especialmente por Obama para a Cúpula do G8. Apoiou com entusiasmo Ben Alí, o ditador tunisiano, e Mubarak, quando os dois estavam sendo questionados pelos levantamentos populares, e lhes ofereceu refúgio na Líbia. Kadafi é o homem que dispõe das chaves de ouro de Madri e é amigo declarado de José María Aznar. É sócio de Berlusconi, e o governo líbio é acionista do grupo aeronáutico e de defesa Finmeccanica, controlado pelo Estado italiano; acionista da empresa de petróleo ENI; da têxtil Olcese e do clube de futebol Juventus, entre outros. Inclusive o governo líbio participa como acionista do grupo Quinta Communications, cujo acionista majoritário é Berlusconi. A pergunta inevitável é: por que a CIA organizaria um complô contra um homem com semelhante currículo? Kadafi também opina que é uma conspiração, mas, segundo ele, trata-se de um complô da Al Qaeda e da Otan, que a apóia: “Enfrentamo-nos com o terrorismo da Al Qaeda por um lado e, por outro, com a Otan, que agora apóia a Al Qaeda”. Historicamente, as intervenções da CIA se caracterizam pelo impulso de golpes militares, mas surpreende que na Líbia a CIA tenha provocado e siga provocando uma revolta popular, principalmente no meio de uma ebulição como a do mundo árabe, sacudido por revoltas em toda parte. Pareceria um bombeiro louco jogando gasolina ao redor de um enorme incêndio. Onde ficam nesta teoria conspiratória as classes sociais, o caráter de classe dos Estados, as contradições internas de cada classe, as contradições entre os próprios Estados imperialistas, e entre os grupos multinacionais, as contradições entre os movimentos sociais e suas direções? Os critérios de Lênin para “descobrir a verdadeira essência de uma guerra” Diante das guerras, contra os pacifistas que condenavam toda guerra por princípio, e frente aos oportunistas que capitulavam aos governos e aos Estados burgueses, Lênin exigia determinar a natureza da guerra, antes de definir uma posição política. 20 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Lênin, que certamente dedicava horas e horas para ler todo jornal burguês que caísse em suas mãos, dizia: “Como descobrir a ‘verdadeira essência’ da guerra, como determiná-la? A guerra é a continuação da política. É preciso estudar a política que precede a guerra, a política que leva e levou à guerra”. Lênin continua: “O filisteu não compreende que a guerra é a ‘continuação da política’ e, por isso, se limita a dizer que ‘o inimigo ataca’”. Com mais veemência, Lênin continua a polêmica: “Se não fizéssemos assim, esqueceríamos a exigência principal do socialismo científico e toda a ciência social em geral e, além disso, nos privaríamos de compreender a guerra atual. É possível explicar a guerra sem relacionála com a política precedente deste ou daquele Estado, deste ou daquele sistema de Estado, destas ou daquelas classes? Repito mais uma vez: esta é a questão principal, que sempre se esquece e cuja incompreensão faz com que, de dez discussões sobre a guerra, nove resultem numa vã disputa, em mero palavreado. Nós dizemos: se vocês não estudaram a política praticada se não demonstraram a ligação desta guerra com a política precedente, não entenderam nada desta guerra”. Os fatos da realidade Além das conclusões políticas que se queira tirar, o dado objetivo é que assistimos a uma onda revolucionária em todo o mundo árabe e no Oriente próximo. Na Líbia Kadafi, o homem das multinacionais do petróleo, que garante o espólio imperialista, se depara com protestos e lutas que culminaram em 17 de fevereiro com um levantamento popular. Como no resto da região, a mobilização põe o centro de suas exigências na luta contra o aumento dos preços e na demanda pelas necessidades mais elementares, contra o governo corrupto e por liberdades democráticas básicas. A revolta de 17 de fevereiro se espalha pelas principais cidades do país e se fortalece na região de Cirenaica, de velha tradição opositora a Kadafi. O ditador responde reprimindo a ferro e fogo os protestos, o que, longe de pará-los, gera um enfrentamento armado. A utilização do exército contra os protestos, longe de resolver o problema, abre uma profunda crise de regime. Setores do exército desertam, ministros, diplomatas e “homens de negócios” deixam as fileiras do regime e passam para a oposição. Os rebeldes assaltam quartéis e arsenais de armamento. Assim, os fatos constatam que, ao con- trário do Egito e da Tunísia, o regime é incapaz de reconduzir institucionalmente a revolta e se divide. Kadafi apela aos batalhões de elite e a mercenários para sufocar os protestos que, longe de sucumbir, se generalizam e os acontecimentos se transformam assim em uma guerra civil. A transformação de um levantamento popular em guerra civil é o fato objetivo e a diferença qualitativa, no momento, da Líbia em relação ao Egito ou à Tunísia. Voltando às exigências de Lênin antes de definir uma política, qual é a natureza desta guerra? É preciso dizer que a intervenção da Otan na Líbia, a guerra imperialista, se produz sobre a existência de outra guerra prévia, a guerra civil. Assim, na Líbia estamos em meio a duas guerras. Os defensores da teoria da conspiração negam de fato a existência da primeira e reduzem o conflito líbio a uma só guerra “o imperialismo ataca”, negam o levantamento popular e acabam objetivamente sendo os defensores confessos ou inconfessos de Kadafi. O movimento insurgente e sua direção Para todos os defensores da teoria da conspiração da CIA, a diferença da Líbia com o Egito e a Tunísia está precisamente na direção do processo. Para todos eles, a direção do levante e a mobilização são iguais, o que dá à insurreição um caráter reacionário, contra-revolucionário, insubordinado. Definir a natureza de um movimento por sua direção é um erro tão comum entre alguns setores da esquerda como alheio ao marxismo. Setores desta esquerda que hoje diferencia a Líbia do resto do processo revolucionário árabe participaram desde o primeiro momento das manifestações de apoio ao levante na Tunísia e no Egito, e quem era a direção nesses processos? As massas egípcias protagonizaram um levante exemplar contra o governo de Mubarak, a Praça da Libertação foi o símbolo mas, à frente dela, se colocaram dirigentes burgueses e reacionários como a Irmandade Muçulmana ou os partidários do pró-imperialista El Baradei. O exército egípcio, a instituição chave do regime, assessorada e legitimada pelo imperialismo, desarmava os manifestantes enquanto deixava entrar na praça bandos de Mubarak para fazer estragos. As massas que clamavam contra o governo e conseguiram tirar Mubarak acabaram aplaudindo o exército. Por que participamos então com entusiasmo da revolta no Egito, quando à frente tinham semelhante direção pró-imperialista e na praça se clamava pela intervenção do exército egípcio? A explicação não é outra: nós jamais confundimos o movimento com sua direção. Sobre o impulso objetivo da ação das massas atuam esses elementos conscientes, que representam interesses de classes diferentes, para reconduzir o processo em um e outro sentido, dotando-o de um programa. Para os marxistas esse processo, longe de ter um caminho linear, está cheio de tensões, contradições e enfrentamentos entre as distintas forças que vão disputar essa direção. Trava-se assim uma luta viva, audaz, cujo resultado não é predeterminado por nenhum conspirador nem força alguma do destino. Qual é então a natureza dos protestos contra Kadafi? O fato concreto que desencadeia as mobilizações, primeiro, é a repressão do regime, depois, é fartamente conhecido. Os protestos na Líbia começaram, como em outros tantos países árabes. No dia 17 de fevereiro, as manifestações contra Kadafi, encabeçadas pelos familiares das vítimas do massacre ocorrido na prisão de Abu Salim, em Trípoli, há 15 anos (onde foram assassinados 1.200 presos e foi detido o advogado dos familiares desses presos), foram respondidas a tiros pelas forças de Kadafi. Foram desencadeados assim os atuais acontecimentos. É um movimento progressivo, objetivamente revolucionário e antiimperialista, pois enfrenta o governo títere do FMI e do imperialismo. Uma pergunta fundamental que toda a esquerda deveria fazer é o que fariam se estivessem lá. Se estivéssemos na Líbia, nós estaríamos sem duvidar um minuto ao lado dos que saíram às ruas contra Kadafi, apoiando esse movimento, independentemente de sua direção. E, quanto mais reacionárias são essas direções, mais obrigados estamos a intervir para impedir que elas tomem a direção do movimento. Desde os acontecimentos de 17 de fevereiro, se espalham por todo o país comitês populares. Onde as tropas de Kadafi foram expulsas, esses comitês eram encarregados de assegurar os alimentos e a eletricidade; obter o petróleo para abastecimento de combustíveis para as plantas elétricas; assegurar a distribuição de água. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 21 A ausência de instituições nos lugares liberados foi substituída por esses comitês. Não é nada difícil adivinhar o que todo este processo significa, porque todo processo revolucionário, quando derruba o Estado e sua coluna central, o exército, se divide, se vê obrigado a substituir todo este maquinário, a improvisá-lo, neste caso. Quem é a base de todas essas milícias e do movimento de insurreição? Como em muitos outros países árabes, são jovens, homens e mulheres, que encabeçaram o levante contra o tirano. Os dados conhecidos indicam que se generalizaram os conselhos municipais, e começou a coordenação entre eles em algumas zonas. Inicialmente todos os dados apontam para um papel relevante da chamada “coalizão revolucionária de 17 de fevereiro”, cujo porta-voz é Abdelhafed Ghoga, jurista e defensor dos direitos humanos. A conformação do chamado Conselho Nacional aparece como a resposta “necessária” tanto para “colocar ordem” nas fileiras de insurgentes como para estabelecer um interlocutor com o regime e o mundo. A formação do Conselho Nacional reflete as tensões internas e os objetivos diferentes de seus próprios componentes. As diferenças geracionais e políticas entre eles são notáveis. “O conselho foi útil para manter a coesão. É normal que no início existam diferentes pontos de vista. Não é fácil que todos aceitem a autoridade do conselho. O mais difícil é controlar esses jovens”, declarava Mohamed Gheriani, um de seus mais significativos porta-vozes. Não apenas essas declarações confirmam as contradições entre o Conselho Nacional e a base rebelde. No mesmo dia em que a ONU aprovava a resolução autorizando a intervenção na Líbia, milhares de pessoas manifestavam em uma praça central de Bengasi para festejar a notícia. As imagens, retransmitidas pela Al Jazeera, mostram na praça uma enorme faixa muito difundida em fotos, com um lema em inglês: “Não à intervenção estrangeira, o povo líbio pode agir sozinho”. Integrado por 31 membros, a maioria clandestinos, o Conselho Nacional é composto por representantes das distintas cidades, por figuras de prestígio na luta pelos direitos democráticos e por um núcleo duro de homens procedentes do regime de Kadafi. Para citar alguns exkadafistas, cabe mencionar Abdul Fatah Younis, ex-chefe do Ministério de Governo, que passou para o bando da sublevação nos primeiros dias da revolução; Ali Aziz Al Issawi, que foi ministro da Economia e se demitiu de seu posto de embaixador na Índia; o ex-ministro da Justiça 22 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Mustafá Abdel Yalil, que deixou este posto em fevereiro. O imperialismo se apressou em reconhecer esse conselho, em primeiro lugar para ajudá-lo a colocar “ordem” e disciplina nas indisciplinadas milícias e, em especial, como eles mesmos reconhecem, nos mais jovens. A conformação do Conselho Nacional, longe das teorias da conspiração, mostra numa revolução as contradições internas e o combate entre o caráter objetivo anti-ditatorial e antiimperialista que expressa o levante das massas e a ausência de uma direção revolucionária, o que permite a homens do velho regime e setores burgueses situar-se à frente para reconduzir esse levante para uma transição acordada com o imperialismo e o que consigam salvar do regime de Kadafi. Aqueles que dizem “Otan não, fora Kadafi”, longe de neutralismo, deixam clara nossa posição: estamos contra a intervenção imperialista e a favor de que a inssurreição derrote Kadafi. Deixamos claro que estamos contra a intervenção imperialista, mas não somos neutros na guerra civil aberta, queremos que os rebeldes líbios não deixem nem rastro do regime pró-imperialista e tirano de Kadafi. 1.2) Haiti precisa de ajuda para combater a fome e a miséria, não de tropas militares No dia 12 de janeiro de 2010, um forte terremoto devastou o Haiti. A maior tragédia da história do paíis provocou 250 mil mortes, levando uma onda de comoção pelo mundo. A resposta “humanitária” organizada pelos governos Lula e Obama foi um evidente fracasso. No final de janeiro, pouco mais de 130 pessoas foram resgatadas com vida dos escombros. Isso mostra que não foi somente o terremoto que matou todas essas pessoas. Grande parte dos que sobreviveram foram retiradas dos escombros pelos próprios haitianos com as mãos. Dezenas de milhares poderiam ter sido salvos se houvesse socorro. Como se não bastasse, a falta de recursos e de ajuda e a não remoção dos escombros e dos mortos, que permanecem ate hoje em ruínas amontoadas, propagaram as doenças e provocaram mais mortes. As falsas palavras de solidariedade dos governantes foram desmascaradas. Após o terremoto de janeiro, o país enfrentou o abandono da chamada comunidade internacional, que apenas enviou mais soldados para ocupar, em vez de medicamentos, médicos e enfermei- ros. Na verdade, a dita operação humanitária serviu para encobrir a reocupação do país pelas tropas norte-americanas. Foram enviados 16 mil marines, uma das tropas mais bem treinadas do mundo em combate militar, mas não treinada para salvamento. Alem disso, o governo brasileiro, que lidera a ocupação militar da ONU, optou por reforçar os efetivos militares, ao invés de enviar ajuda medica, alimentos, etc. O Sindjus/DF deve impulsionar uma campanha para exigir que o governo Dilma retire os soldados brasileiros do Haiti. A presença dos soldados só serve aos interesses das multinacionais, oprimindo o povo haitiano. 1.3) A crise na economia mundial e suas conseqüências na luta de classes A crise da economia capitalista é a crise de um sistema que só visa o lucro. Ela entra em crise porque há baixa da taxa média de lucro e há superprodução. Para manter esse sistema insano e tirá-lo da crise, os capitalistas (e seus governos) jogam a crise nas costas dos trabalhadores. Para aumentar sua taxa média de lucro, vão buscar aumentar ainda mais a exploração (rebaixar salários), destruir forças produtivas (fechar fábricas e demitir trabalhadores) e avançar na recolonização dos países semicoloniais (arrancar daí mais recursos através da dívida externa e outros mecanismos). As medidas capitalistas contra essas crises, sejam “liberais” ou “keynesianas”, atacam profundamente os trabalhadores. Portanto, contra a crise, devemos debater um programa dos trabalhadores, que jogue a crise nas costas de quem a criou, a burguesia, os ricos. Uma saída dos trabalhadores, uma saída socialista. E há a possibilidade de que vejamos uma nova rodada e um novo período de grandes comoções sociais e políticas em todo o mundo. 2) Nacional 2.1) – Avaliação dos cem primeiros dias de governo de Dilma e dos últimos três anos do governo Lula Dilma completou cem dias de governo. Os trabalhadores deveriam observar este início para descobrir o que espe- rar dela. Afinal, a petista está sendo apoiada no início de mandato mais do que qualquer outro presidente na história, com 47% de avaliação de seu governo como boa e ótima. Mais do que Lula no início do primeiro e do segundo mandato. Muito mais do que FHC. Os trabalhadores pensam que governam através de Dilma. Que é um governo “seu”, como achavam que era o de Lula. Esse foi um engano que se manteve durante os oito anos de mandato de seu antecessor. O longo período de crescimento econômico (e a saída rápida da crise no final de 2008 – início de 2009) foi a base material desse erro. A figura de Lula, com o apoio de CUT, PT e MST, completa a explicação para essa falsa consciência. E agora Dilma dá continuidade, com algumas características particulares. Como não é figura construída no movimento de massas, é mais discreta, sem a onipresença de mídia e as frases de efeito de Lula. E aponta para um governo ainda mais à direita. Dilma fez o maior corte de orçamento da história: R$ 50 bilhões. Os efeitos já são percebidos nos gastos sociais como saúde e educação, além da redução no programa Minha Casa, Minha Vida. O reajuste do salário mínimo foi menor que o aumento da inflação pela primeira vez nos governos do PT. Já existem sinais de reformas mais duras que as feitas nos governos de FHC e Lula, como a trabalhista, anunciada como proposta do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Agora Dilma está se enfrentando com outro teste: as greves, em particular do funcionalismo público federal e da construção civil. O funcionalismo está se chocando com a decisão do governo de impor um congelamento salarial à categoria. Na construção civil, houve greves e levantes em obras do PAC, como em Jirau. Na cabeça desses trabalhadores, os patrões são uma coisa e Dilma é outra. Não é assim. Como são obras financiadas pelo governo, a presidente poderia determinar as condições de trabalho e salário. Não faz isso porque defende os lucros das empreiteiras. Quando explodiram as greves, o governo convocou uma comissão com as centrais sindicais. CUT, Força Sindical e outras pelegas participam com a mesma postura própatronal e de apoio ao governo. A CSP-Conlutas participou para defender os interesses dos trabalhadores, apresentando exigências ao governo e às empreiteiras, como a efetivação de todos (contra a terceirização) e a proibição das demissões, além de 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 23 reajustes salariais e melhoria das condições de trabalho. O anúncio de demissões no Jirau mostra que o governo está novamente ao lado dos patrões. A CSP-Conlutas já denunciou essas demissões, ao contrário da CUT e da Força, que mais uma vez mostram seu caráter pelego. Agora, os operários da construção civil de Fortaleza, dirigidos pela CSP-Conlutas, estão em greve. Vão tirar suas conclusões sobre os patrões e também sobre o governo Dilma. Os trabalhadores, em greve ou não, devem aprender com essas primeiras experiências com Dilma. Ao contrário do que pensa a maioria, é um governo burguês, que apóia as grandes empresas e usa seu prestígio com os trabalhadores para travar as lutas. Por isso, é necessário exigir de Dilma que evite qualquer demissão nas obras do PAC e garanta os reajustes do funcionalismo, deixando de pagar a dívida pública. A avaliação que fazemos destes três últimos anos deve, obrigatoriamente, levar em consideração diversos aspectos da luta de classes sob pena de cairmos no abstracionismo típico dos analistas de mercado e do governo. Tivemos poucas vitórias protagonizadas pela categoria, muito mais derrotas e omissões. Sem dúvida alguma, a maior vitória dos servidores do judiciário foi o envio do PCS ao final de dezembro de 2009. Não se pode acusar o Sindjus/DF (principalmente a sua base), muito menos a FENAJUFE, de não se engajarem na luta contra política de “reajuste zero para os servidores” do governo Lula. Não obtivemos êxito, é bem verdade, no entanto, não fugimos à luta! Fizemos passeatas, greves, assembléias, agitação, etc. Podemos, desta forma, dizer que todos os atores envolvidos neste processo cumpriram o seu papel? As derrotas que a categoria teve nesses três anos estão associadas, também, ao caráter precário de funcionamento interno dos órgãos deliberativos do Sindicato. O Conselho de Delegados de Base, instaurado em meados de 2002, tem reuniões esvaziadas e desestimulantes (pouca participação da base). Sem dúvida alguma, o caráter meramente consultivo do Conselho de Delegados, com as decisões mais importantes sendo previamente proclamadas pela Diretoria do sindicato, deverá levar a uma extinção natural do referido fórum. Precisamos reverter isto! 24 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 2.2) O Governo Lula e a recolonização econômica do Brasil O Brasil e peca chave na nova divisão internacional do trabalho, junto com a China, a India e a Rússia (os BRIC`s) Capitaneando a América do Sul, ele está se especializando em fornecimento de matérias-primas, alimentos e fontes de energia. O Brasil já e o maior fornecedor de minério de ferro do mundo e um dos maiores produtores de alimentos do planeta. Em breve se tornará grande produtor de petróleo. Enquanto isso, a China foi montada como a “fábrica do mundo”, cujo mercado foi dominado pelas grandes corporações transnacionais. De produtora de “bugigangas”, em 1990, a China chegou, em 2010, como grande exportadora de manufaturas. Os quatro países que compõem os BRIC’s são utilizados como “plataformas” pelas corporações transnacionais para dominar o mercado mundial. Este afã de expansão dos negócios imperialistas nos países pobres é o motor da crise econômica internacional em duas velocidades. A nova orientação dos países ricos de acelerar a exportação e frear as importações se chocará com a nova arquitetura mundial, baseada nas exportações da China para o mundo. O mercado dos BRIC’s não é suficiente para absorver o excedente mundial de mercadorias, porém, seus amplos mercados consumidores permitem às multinacionais respirarem com o pescoço fora d`água, enquanto fazem o “ajuste” nas suas matrizes. Reprimarizacão e desindustrializacão no Brasil O Brasil se especializou em produção e exportação de commodities, dependente de recursos naturais, produção em larga escala e monocultivo para exportação: um retrocesso em direção a uma economia de cunho colonial, dependente do capital estrangeiro. O recente boom exportador da América do Sul foi essencialmente centrado nas commodities destinadas aos mercados globais. Houve um retrocesso frente ao Brasil industrializado e produtor de manufaturas. A economia brasileira nasceu como primária exportadora, avançou entre 1950 e 1980 para uma economia produtora de manufaturas, e retornou, sob o neoliberalismo, a uma economia primária-exportadora. O domínio da economia brasileira pelas grandes corporações transnacionais O movimento de industrialização do Brasil foi patrocinado pelos EUA, logo após a Segunda Grande Guerra, que moldou o Brasil como sub-metrópole. Este modelo de sub-metrópole determinava que o setor de ponta da indústria (automobilístico) ficasse nas mãos das multinacionais, enquanto o Estado montava estatais para garantir a infra-estrutura desta indústria. Coube à burguesia nacional a produção auxiliar da grande produção multinacional, que determinou sua fragilidade histórica. Quando caiu a ditadura militar, as estatais estavam endividadas, pois vendiam para as multinacionais abaixo do valor, gerando déficits permanentes. Hoje, mais da metade das empresas brasileiras estão nas mãos de estrangeiros. Os setores de ponta como automobilístico, aeroespacial, alimentos e bebidas, eletro-eletrônico, farmacêutico, digital, petroquímica, telecomunicações, comércio e agronegócio, são controlados por estrangeiros. A crise das estatais foi aproveitada pelo imperialismo para adquiri-las a preço de banana. A alienação das estatais representou um novo salto na desnacionalização da economia brasileira. Desta forma, o Brasil ingressou na década de 1990 com uma dupla cara: exportador de manufaturas para o Mercosul e exportador de matérias-primas para o mundo. Enquanto a indústria em geral perdia peso na economia, as empresas de mineração e alimentos cresciam com médias de dois dígitos anuais. O salto das exportações de bens primários é o elemento novo da economia brasileira nos últimos 10 anos. O governo Lula incentivou e dirigiu o processo de reprimarizacão da economia brasileira. Em 2010, pela primeira vez desde 1978, o Brasil exportou mais commodities que manufaturados. Reprimarizacão não é sinônimo de desindustrializacão, pois o agronegócio, a mineração, a siderurgia, o petróleo e a petroquímica, são setores industriais. Pode-se usar o termo “desindustrialização” somente de forma relativa, já que a indústria de transformação no Brasil perdeu espaço para o setor industrial primário. Mirando a economia brasileira no seu conjunto e em dinâmica, existe um processo de desindustrializacão, já que a indústria perde peso para o setor de serviços no conjunto da economia. Essa desindustrializacão é relativa porque não se trata do fechamento e destruição física da indústria brasileira (ainda que milhares de indústrias que não conseguem concorrer com a China, estão falindo), mas de perda de peso da indústria na produção nacional. Em 1985, toda a indústria aportou 48% ao PIB brasileiro, em 2009 se reduziu a apenas 25%. As vendas das 1.200 maiores empresas brasileiras (Revista Exame) representaram 62% do PIB brasileiro em 2008. 40% destas empresas são de propriedade estrangeira e 60% de capital nacional. Porém, este dado só vê o peso das empresas com controle estrangeiro. Não mostra o peso dos capitais estrangeiros (quando “minoritários”) nas companhias nacionais. Alguns exemplos para ilustrar: A Petrobras em 2008 tinha 47% das ações em mãos de acionistas estrangeiros e boa parte dos 37,5% das ações pulverizadas foram adquiridas por estrangeiros. Em 2010, a Petrobras arrecadou por volta de U$ 70 bilhões de dólares com venda de ações na Bolsa, alienando cerca de 30% do seu valor. Vale: cerca de 65% das ações são de estrangeiros. Os grandes acionistas estrangeiros da Vale são o Citibank, HSBC, J.P. Morgan Chase, Barclays, Fidelity Management, Vanguard Emerging Markets, Morgan Stanley, Templeton e Black Rock. Usiminas, que é apresentada como “capital nacional”, na verdade é controlada pela Nippon Steel, que possui 27% das suas ações. O setor bancário brasileiro ainda tem maioria de capitais nacionais, porém com avanço dos bancos estrangeiros que já dominam 36% do mercado financeiro e detêm participação nos bancos privados nacionais (25% do Bradesco, por exemplo). Segundo o censo do capital estrangeiro no Brasil, realizado pelo Banco Central em 2005, as 17.605 empresas que tinham participação estrangeira tiveram uma receita bruta de 63% do PIB. Uma grande consultoria internacional (Roland Berger) estudou os 100 maiores grupos industriais do Brasil e concluiu que 49% tinham origem de capital nacional e 51% estrangeiro. Nos últimos 30 anos, se revelaram cinco períodos diferentes de incorporação do Brasil ao mercado internacional de capitais. O primeiro vai de 1975 ate 1982, cujo 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 25 centro foi os empréstimos dos grandes bancos norteamericanos ao Brasil. O segundo período vai de 1983 a 1990, marcado pela exclusão do Brasil. De 1990 a 1994 predominou o investimento estrangeiro especulativo em compra de ações e títulos. O quarto período (1995 a 2000) foi o período do investimento estrangeiro direto (IED), destinado em boa parte à compra de estatais e o quinto período, a partir de 2001, onde o peso fundamental do financiamento externo passa a ser a elevação do saldo comercial e se inicia um período de boom das exportações, que coincide com a nova localização do Brasil na divisão internacional do trabalho, como fornecedora de matérias-primas e alimentos para a China e o mundo. Portanto, a fração da burguesia brasileira beneficiada foi a que se acoplou diretamente aos mercados financeiros internacionais. A burguesia brasileira, desde há muito tempo, abdicou de exercer um papel independente na historia. A privatização e a posterior desnacionalização do parque industrial brasileiro nos últimos 20 anos selaram o destino desta classe.. sua absorção como administradora dos negócios imperialistas. Estamos no meio deste processo de transformação. Hoje, ela ainda é uma “sócia minoritária”. As perspectivas econômicas do Brasil A localizacão do Brasil, priorizando os rentistas e especuladores, determina seu fraco desempenho econômico. A subordinação do Brasil é tanta que optou não pelo modelo chinês de crescimento e sim pelos juros altos e crescimento baixo para atração de capital externo. Comparação do Brasil com BRIC’s entre 1990 e 2010: a China cresceu a taxa média de 9%, Índia de 7%, Rússia 7% e Brasil 2,5%. Se pegar os últimos quatro anos de Lula, cresceu a taxa media de 4%. 26 pode absorver parte do excedente mundial de mercadorias, goza de crédito internacional abundante. Contraditoriamente, a crise dos países imperialistas está favorecendo a economia dos BRIC’s, que galvanizam os investimentos imperialistas. O que dificultará o crescimento dos BRIC’s é a orientação protecionista que os paises imperialistas estão desenvolvendo, turbinando suas exportações como forma de sair da crise. Esta briga vai debilitar os países pobres, que começarão a ter déficits comerciais e financeiros com os países ricos, elevando as dívidas e importando a crise dos ricos para seu interior. As exportações de mercadorias do Brasil Bateram novo recorde em 2010, porém demonstrando uma queda continuada do saldo comercial e do saldo das transações correntes. Este déficit alcançou a cifra de U$ 47,5 bilhões, sendo 30 bilhões de remessas de lucros. Há um aumento preocupante nas importações. A economia dependente de exportações de matérias-primas e alimentos prejudica a população brasileira: comparando os preços de dezembro de 2009 com os de dezembro de 2010, houve uma alta de 37% para o café, de 34% para a carne bovina, de 29% para o óleo de soja, de 27% para o milho e de 25% para o açúcar, produtos onde o Brasil já é grande produtor. 2.3) Oito anos de governo Lula: as “reformas” da social-democracia no poder Caso não haja uma nova queda recessiva na economia mundial ou uma queda do crescimento econômico da China, o Brasil pode continuar crescendo ainda que a custa de intensificar suas contradições internas. Segundo dados do IBGE, havia no Brasil em 2009, 8,4 milhões de desempregados. O crescimento do emprego durante os governos de Lula só foi suficiente para absorver esta mão-de-obra nova que entra no mercado. O governo Lula manteve inalterada a quantidade de oito milhões de desempregados no Brasil, mesma quantidade que havia em 1998. O Brasil será um dos países privilegiados na recepção de investimentos externos produtivos e especulativos. Tem um parque exportador produtivo que cresce dois dígitos por ano e está surfando um boom de altos preços das commodities. Dentro de alguns anos, o Brasil será o celeiro do mundo. Tem um mercado interno amplo que Além disso, o governo incentivou o emprego precarizado: quase a metade dos empregos gerados nos dois mandatos (8.204.592 empregos) foram na faixa de até 1 salário-mínimo e meio. Neste mesmo período, se fecharam 1.850.152 empregos com remuneração entre 3 e 20 salários mínimos. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Se considerada a despesa acumulada pela União entre 2000 e 2007, nota-se que o pagamento de juros com o endividamento público respondeu por 8% do PIB ao ano, o dobro do que o governo gastou com educação, saúde e investimentos sociais. Apesar de haver uma melhora nos índices de pobreza e indigência, a partir do programa Bolsa Família, segundo a PNAD 2009 do IBGE, 13,4 milhões de brasileiros eram indigentes. Esta mesma pesquisa indicava que ainda havia 39,6 milhões de pobres no país. Em 31 de dezembro de 2009, a dívida externa atingiu a marca de U$ 282 bilhões e a dívida interna R$ 1,9 trilhão. O governo Lula transformou a dívida externa em dívida interna. A dívida interna bateu recorde no governo Lula e alcançou quase 60% do PIB em 2010, segundo o Banco Central. No primeiro mandato do governo Lula, a remessa de lucros para as matrizes das transnacionais cresceu 139% frente ao governo FHC. Durante os oito anos de governo Lula, as multinacionais enviaram U$ 155 bilhões de dólares para suas matrizes, enquanto investiram no Brasil U$ 205 bilhões. As multinacionais automobilísticas investiram no Brasil entre 2000 e 2009 cerca de U$ 13 bilhões, enquanto remeteram para suas matrizes U$ 14 bilhões. Os lucros das 500 maiores empresas do Brasil tiveram uma media de U$ 10,7 bilhões ao ano durante o segundo mandato de FHC e de U$ 41,7 bilhões no primeiro mandato do governo Lula, representando um crescimento de 290%. De cada dois trabalhadores no Brasil, um trabalha sem carteira assinada, isto é, sem direitos trabalhistas: férias, 13º, aposentadoria. Apesar do crescimento real do salário mínimo sob o governo Lula, ele chegou somente a 42% do que era em 1940, quando foi instituído. A pequena recuperação do salário mínimo no Brasil nos últimos oito anos só garantiu que voltasse ao que era em 1989. O governo de Frente Popular se arvora de ter melhorado a renda do trabalhador brasileiro, porém, segundo o PNA do IBGE de 2009, houve uma queda do rendimento médio do trabalhador ente 1996 (R$ 1.144,00) e 2009 (R$ 1.111,00). A jornada de trabalho semanal subiu de 42 horas semanais em 1998 para 43 horas semanais em 2007, segundo o DIEESE. Os acidentes de trabalho passaram de 400 mil em 2003, para 514 mil em 2007. São quase oito mortes por dia em acidentes de trabalho, no Brasil. Sobre o Programa Bolsa Família: em 2009, os gastos com o programa alcançou a cifra de R$ 13 bilhões, atendendo um público de 53 milhões de pessoas. O governo Lula manteve a mesma proporção de gastos com a Saúde que realizou o governo de FHC (por volta de 3% do PIB). A Saúde é uma mercadoria no Brasil já que 66,4% do sistema de saúde brasileiro é privado. Sobre a Educação, basta a conclusão do IPEA (Instituto ligado ao governo) no livro “O Estado da Nação” de 2007: “Os altíssimos níveis de reprovação, evasão e repetência escolar constituem uma verdadeira chaga nacional, pois além de implicar desperdício de recursos, também, e principalmente, jogam por terra oportunidades de superação da pobreza, redução das iniqüidades sociais e, em última instância, comprometem o processo de desenvolvimento do pais”. O governo Lula manteve o latifúndio, que detém 80% das terras do Brasil. Segundo a CPT, durante os dois mandatos do governo Lula, foi assassinado um trabalhador rural a cada 10 dias em conflitos pela terra. Por todos estes serviços prestados aos empresários, a campanha da Dilma em 2010 gastou R$ 135 milhões de reais e recebeu R$ 111 milhões dos grandes empresários: construtoras, agronegócio, bancos e mineração garantiram o grosso dos “investimentos” na candidata petista. Repete o que foi a contribuição dos empresários para a reeleição do Lula: os bancos financiaram 10%, a construção com 15% e o setor primário exportador financiou mais 10%. Estes três setores conformam a base de sustentação do governo. É impossível reformar o capitalismo Depois de 20 anos de polêmica, é hora de realizar o balanço da orientação reformista do PT e da CUT. Apesar de conseguir pequenas melhoras para os setores mais pobres da sociedade, o PT no governo manteve inalterado o quadro de exploração e opressão da classe trabalhadora. Os ricos continuam mandando na sociedade. A CUT e o PT foram cooptados pelo sistema e hoje gerenciam o capitalismo brasileiro. O governo Lula trabalhou habilmente o excedente econômico conseguido com o período de alta da economia mundial e distribuiu uma pequena parcela para os setores mais pobres da sociedade, para criar uma ilusão de que é “o pai dos pobres”: pequeno aumento do salário-mínimo, ampliação generalizada do crédito e ampliação da assistência social aos setores mais pobres. Em um país miserável, pequenas migalhas foram suficientes 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 27 para angariar amplo apoio popular e gerou um sentimento de “bem-estar” do país. A economia brasileira hoje está muito mais vulnerável que há 20 anos. Tem uma dependência extrema dos capitais internacionais, das exportações de commodities para ter saldos comerciais e cobrir seu déficit estrutural, além de gerar uma dívida pública que cresce R$ 20 bilhões por mês como forma de atrair capitais estrangeiros. Lula no governo optou pela forma neoliberal de gerir o capitalismo. Desta forma, foi incapaz de realizar reformas estruturais da economia brasileira, que havia prometido ao povo, antes de chegar ao poder. Para quem governou Lula? Para o capital financeiro internacional que controla mais da metade da economia brasileira, Itaú, Bradesco, Construção Civil, Mineração, Siderurgia, Etanol, Papel e Celulose, Petróleo e Gás, Energia Elétrica e Agronegócio são os setores produtivos fundamentais em que se apóia o governo de Frente Popular. Notadamente, foram estes setores que mais contribuíram tanto na campanha do Lula quanto da Dilma em 2010. O corte de R$ 50 bilhões no orçamento do governo para 2011, pré-anuncia um período de turbulência da economia brasileira, aonde suas contradições internas vão se intensificar. Significa que os países ricos já iniciaram o movimento de sair da crise exportando-a para os países coloniais e semi-coloniais. Contribuição crítica. Texto II. Brasil: subimperialismo ou sub-metrópole ? Um debate que está surgindo no interior da esquerda brasileira é a visão de que o Brasil é um país subimperialista. A principal defensora desta tese, a professora Virginia Fontes, diz que: “... transformações sócio-políticas internas ao Brasil, que me levam a considerar que o Brasil integra hoje um grupo de países que ascendeu a uma tal concentração de capitais que os impele – ainda que de maneira subordinada – a incorporar-se ao conjunto dos países imperialistas”. E conclui: “Assim de maneira propositalmente provocativa, considero que o Brasil hoje integra o grupo desigual dos países capitalimperialistas, em posicão subalterna.” (Virginia Fontes, O imperialismo brasileiro, Expressão Popular, 2009). Essa visão compreende o Brasil como um país imperialista intermediário, tipo a Espanha. Esta visão se apóia em um pressuposto falso: que a propriedade das multinacionais brasileiras é de origem nacional. 28 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Esta tese é falsa, ainda que parta de uma premissa correta: o papel do Brasil no mundo e sua liderança na América Latina. O domínio colonial que o Brasil adquiriu na América do Sul, o faz não por seu próprio enriquecimento e sim como instrumento das multinacionais que utilizam o Brasil como plataforma para dominar o mercado latinoamericano. A dubiedade do pensamento de Virginia Fontes não está no reconhecimento da subalternidade da burguesia brasileira. Para nós, a definição do Brasil como sub-metrópole, localiza o país como uma semi-colônia privilegiada, em vias de colonização. Portanto, para a revolução brasileira, as tarefas de liberação nacional e antiimperialistas assumem o primeiro lugar, junto com as tarefas socialistas. A visão de Virginia Fontes perde a centralidade da luta pela independência nacional no decorrer da revolução socialista brasileira. O Brasil é uma sub-metrópole em vias de colonização. Preferimos utilizar o termo sub-metrópole no lugar do termo subimperialismo, porque este induz ao erro de que, com o tempo, estes países (tipo os BRIC’s) se tornarão imperialistas. Ou que poderia acumular domínios coloniais próprios. Tais países atuam como plataformas do verdadeiro imperialismo, que domina a economia destes países. As multinacionais utilizam a China, o Brasil, a Índia, o México e outros países como bases de expansão. As grandes empresas destes países, ditas multinacionais emergentes, ou são ou foram monopólios estatais que atuam em determinados setores econômicos (nichos), subsidiários da grande produção transnacional. III. O papel dos sindicatos 3.1) Contribuição crítica A financeirização da burocracia sindical no Brasil Aproximam-se as eleições para o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. Trata-se, não apenas do maior sindicato da categoria do país, e isso já bastaria para que o pleito atraísse a atenção de todo o movimento sindical brasileiro. Mas essa eleição também tem um alcance maior que deve ser levado em consideração: o de definir os rumos de uma entidade que cumpre atualmente um papel estratégico na ordem política atual. Afinal, desde a eleição de Lula da Silva, em 2002, a relação do sindicalismo brasileiro com o aparelho de Estado modificou-se radicalmente. Nunca é demais rememorar alguns fatos. Em primeiro lugar, a administração de Lula da Silva preencheu aproximadamente metade dos cargos superiores de direção e assessoramento – cerca de 1.300 vagas, no total – com sindicalistas que passaram a controlar um orçamento anual superior a R$ 200 bilhões. Além disso, posições estratégicas relativas aos fundos de pensão das empresas estatais foram ocupadas por dirigentes sindicais. Vários destes assumiram cargos de grande prestígio em companhias estatais – como, por exemplo, a Petrobrás e Furnas Centrais Elétricas –, além de integrarem o conselho administrativo do BNDES. O governo Lula promoveu, ainda, uma reforma sindical que oficializou as centrais sindicais brasileiras, aumentando o imposto sindical e transferindo anualmente cerca de R$ 100 milhões para estas organizações. Tudo somado, o sindicalismo brasileiro elevou-se à condição de um ator estratégico no tocante ao investimento capitalista no país. Esta função, não totalmente inédita, mas substancialmente distinta daquela encontrada no período anterior, estimulou Francisco de Oliveira a apresentar, ainda no início do primeiro governo de Lula da Silva, sua hipótese acerca do surgimento de uma “nova classe” social baseada na articulação da camada mais elevada de administradores de fundos de previdência complementar com a elite da burocracia sindical participante dos conselhos de administração desses mesmos fundos. Na opinião de Oliveira, a aproximação entre “técnicos e economistas doublés de banqueiros” e “trabalhadores transformados em operadores de fundos de previdência” serviria para explicar as convergências programáticas entre o PT e o PSDB e compreender, em última instância, o aparente paradoxo de um início de mandato petista que, nitidamente subsumido ao domínio do capital financeiro, conservou o essencial da política econômica estruturada pelos tucanos em torno do regime de metas de inflação, do câmbio flutuante e do superávit primário nas contas públicas. Ao mesmo tempo em que Oliveira avançava a tese da “nova classe”, apresentamos a hipótese de que o vínculo orgânico “transformista” da alta burocracia sindical com os fundos de pensão poderia não ser suficiente para gerar uma “nova classe”, mas seguramente pavimentaria o caminho sem volta do “novo sindicalismo” na direção do regime de acumulação financeiro globalizado. Apostávamos que essa via liquidaria completamente qualquer possibilidade de retomada da defesa, por parte desta burocracia, dos interesses históricos das classes subalternas brasileiras. Chamamos esse processo de “financeirização da burocracia sindical”. Assim como várias análises críticas do governo do Partido dos Trabalhadores o problema da hipótese da “nova classe” era explicar como se chegou até esse ponto. Não foram poucos os analistas que acreditaram que a Carta ao Povo Brasileiro, na qual Lula da Silva garantia a segurança dos operadores financeiros, teria modificado de modo radical o curso seguido até então pelo PT e mesmo pelo seu candidato. A hipótese da “financeirização da burocracia sindical” enfrentava esse problema e localizava sua origem em uma burocracia sindical presente no partido desde seus primeiros passos no ABC paulista e que ao longo dos anos 1990 associou-se gradativamente ao capital financeiro. A trajetória do PT só surpreendeu quem não quis ver ou ouvir. A história recente da burocracia do Sindicato dos Bancários de São Paulo é exemplar. Como muitas entidades filiadas à CUT, a dos bancários de São Paulo alinhou-se com a administração Lula da Silva e se transformou em portavoz do governo na categoria. Em todas as situações nas quais os trabalhadores enfrentaram o governo, a diretoria dessa entidade procurou colocar-se na condição de amortecedor do conflito social, papel desempenhado pelos tradicionais pelegos sindicais. No jornal e nas revistas do Sindicato a propaganda do governo dá o tom. O “Sindicato cidadão” deu lugar ao “Sindicato chapa-branca”. Este não é, entretanto, um caso de simples adesismo. É possível dizer que a cúpula dos bancários de São Paulo foi o principal meio de ligação da aliança afiançada por Lula da Silva entre a burocracia sindical petista e o capital financeiro. Na verdade, como previmos, o cimento desse pacto foram os setores da burocracia sindical que se transformaram em gestores dos fundos de pensão e dos fundos salariais. O Sindicato dos Bancários de São Paulo forneceu os quadros políticos para essa operação. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 29 Enquanto os sindicalistas egressos das fileiras dos metalúrgicos do ABC ocupavam-se da política trabalhista e Luiz Marinho tomava assento no Ministério do Trabalho, os bancários de São Paulo voavam em direção ao mercado financeiro. Esse vôo era um desejo antigo. Gilmar Carneiro, presidente do sindicato entre 1988 e 1994, declarou quando ainda era diretor do Sindicato dos Bancários, que ao fim de seu mandato poderia ser diretor do Banco do Estado do Rio de Janeiro do qual havia sido funcionário. Seu sonho não foi realizado, mas logo a seguir, Carneiro transformou-se em diretor de um dos braços financeiros do Sindicato, a Cooperativa de Crédito dos Bancários de São Paulo. Seu predecessor Luiz Gushiken, presidente de 1985 a 1987, foi mais longe. No começo dos anos 2000, Gushiken mantinha a empresa Gushiken & Associados, juntamente com Wanderley José de Freitas e Augusto Tadeu Ferrari. Com a vitória de Lula da Silva a companhia mudou de nome e passou a se chamar Globalprev Consultores Associados. O ex-bancário retirou-se da empresa e coincidentemente esta passou, logo a seguir, a fazer lucrativos contratos com os fundos de pensão. Tornou-se, assim, eminência parda dos fundos de pensão estatais sendo decisivo para a indicação do comando do fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, a Previ, da Petrobras, a Petros, e da Caixa Econômica Federal, a Funcef. O sucessor de Gushiken e Carneiro, Ricardo Berzoini, tem também sólidos laços com o sistema financeiro. Foi ele o promotor da reforma da previdência, que além de retirar direitos dos trabalhadores abriu o caminho para instituição da previdência complementar. Os fundos de pensão estatais e privados foram os grandes beneficiados por essa medida. Berzoini tem sido recompensado. Levantamento feito pelo jornal Folha de S. Paulo em 2009 constatou que 43 diretores de fundos de pensão têm vínculos com partidos políticos, a maioria deles com o PT. Desses diretores 56% fizeram doações financeiras a candidatos nas últimas quatro eleições e o então presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, recebeu quase um terço delas. A conversão de dirigentes sindicais em gestores financeiros tem um caso exemplar: Sérgio Rosa. Este gestor começou sua carreira como funcionário do Banco do Brasil, integrando a diretoria do Sindicato dos Bancários de São Paulo na gestão de Luiz Gushiken. Em 1999, du- 30 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 rante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Rosa assumiu um cargo de diretor da Previ, representando os funcionários do banco. Com a posse de Lula da Silva, passou à posição de presidente da Previ, comandando o maior fundo de pensão da América Latina e o 25º do mundo em patrimônio. Após o final de seu mandato assumiu o comando da Brasilprev, a empresa de previdência aberta do Banco do Brasil. Em janeiro de 2011, aos 50 anos, Rosa aderiu “programa de desligamento de executivos” do BB e se aposentou. A financeirização da burocracia sindical é um processo que divide fundamentalmente a classe trabalhadora e enfraquece a defesa de seus interesses históricos. Na condição de gestores dos fundos de pensão, o compromisso principal deste grupo é com a liquidez e a rentabilidade de seus ativos. Muitos têm argumentado que os fundos teriam um papel importante na seleção de investimentos ecologicamente sustentáveis e geradores de empregos. Pura enganação. Os fundos de pensão brasileiros têm atuado como uma linha estratégica do processo de fusões e aquisições de empresas no país e, consequentemente, estão financiando o processo de oligopolização econômica com efeitos sobre a intensificação dos ritmos de trabalho, o enfraquecimento do poder de negociação dos trabalhadores e o enxugamento dos setores administrativos. Isso sem mencionar sua crescente participação em projetos de infra-estrutura, como a usina de Belo Monte, uma das principais fontes de preocupação dos ambientalistas brasileiros. Tendo em vista a natureza semi-periférica de sua estrutura econômica, o Brasil apresenta importantes dificuldades relativas ao investimento de capital. A taxa de poupança privada é historicamente baixa e a solução para o investimento depende fundamentalmente do Estado. Os fundos de pensão atuam nesta linha, buscando equacionar a relativa carência de capital para investimentos. O curioso é que, no período atual, a poupança do trabalhador, administrada por burocratas sindicais oriundos do novo sindicalismo, está sendo usada para financiar o aumento da exploração do trabalho e da degradação ambiental. Por tudo isso, a atual eleição no Sindicato dos Bancários de São Paulo tem repercussões nacionais e efeitos amplos na vida política do país. Na realidade, o que está em questão é o processo de aprofundamento da finan- ceirização da burocracia sindical cutista e a preservação de um dos pilares de sustentação dos governos petistas. Para a oposição de esquerda não são pois questões de tática sindical as que devem prevalecer e sim questões estratégicas, pois esta não é simplesmente mais uma eleição sindical; trata-se de uma escolha entre projetos político-estratégicos antagônicos que tem lugar em um Sindicato. IV. Plano de lutas e plataforma de reivindicações A plataforma de reivindicações que propomos para a luta é, na verdade, uma sistematização das bandeiras que temos levantado neste último período: 4.1) Lutas gerais (internacionais) • Não ao pagamento da Dívida. • Não à entrega do Pré-Sal; *Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas. **Professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo 3.2) Sobre o conselho de delegados sindicais O Conselho de delegados sindicais de base foi criado no ano de 2002 e, de lá pra cá, vem mudando, paulatinamente, sua forma de atuação. Sem dúvida alguma, tal fórum deliberativo já desempenhou um papel muito importante nas lutas da categoria, portanto, merece um estudo rigoroso e responsável sobre sua forma de funcionamento. Os membros do Conselho – diferentemente da Diretoria do sindicato – estão bem próximos dos trabalhadores e dos problemas do seu setor de trabalho (foco das demandas) e, portanto, não deveriam ter apenas um papel secundário (consultivo) nas decisões tomadas. Entendemos que assuntos conjunturais podem ser melhor deliberados pelo Conselho de Delegados de Base, enquanto que à Diretoria ficariam assuntos de ordem estrutural e estratégica. Uma sugestão para melhorar o trabalho desenvolvido pelo Conselho seria o de colar os delegados na base da categoria, estimulando-os a fazer a distribuição dos informativos do sindicato e colhendo sugestões para o seu funcionamento. Devemos acabar com a terceirização desnecessária de distribuição das revistas e boletins do sindicato. Os delegados devem mostrar sua cara, apresentar-se como referência para a categoria, levando as reivindicações para as assembléias e repassando as informações do fórum deliberativo para o local de trabalho. • Unidade da luta dos trabalhadores e povos em defesa da soberania nacional e contra qualquer intento de intervenção imperialista nos países do norte da África e Ásia, ou qualquer outro país do mundo • Fora Obama do Haiti! Pela imediata retirada das tropas brasileiras do Haiti! 4.2) Lutas gerais (nacionais) • Retirada do PLP 92/07, que cria as fundações estatais/privadas; • Reestabelecimento do Regime Jurídico Único baseado na Lei 8.112/90; • Ruptura com a política ditada pelo agronegócio e o famigerado Código Florestal • Restauração imediata da paridade entre ativos e aposentados. • Reforma Agrária sob controle dos trabalhadores. • Direito de sindicalização e de negociação coletiva. • Igualdade de remuneração entre homens e mulheres. • defesa do emprego / redução da jornada de trabalho sem redução dos salários; • aumento geral dos salários e salário mínimo do Dieese; • defesa dos direitos trabalhistas e sociais, contra a flexibilização • contra as reformas neoliberais: (abaixo a reforma da Previdência, Sindical, Trabalhista, Universistária ) • contra o pagamento da divida interna • estatização sem indenização do sistema financeiro • moradia / reforma urbana, já! • redução da tarifa de energia elétrica • contra a criminalização e a repressão aos trabalhadores e movimentos sociais; pleno direto de greve • contra toda forma de discriminação racial. 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 31 4.3) Lutas gerais dos servidores públicos • combater o PLP 549/09, que limita, por dez anos, os gastos com os servidores públicos federais e estaduais; • atuar decisivamente junto com a CNESF nas lutas dos servidores públicos. 4.4) Lutas específicas dos servidores do judiciário e MPU • Pela concessão das funções unicamente a servidores efetivos dos órgãos, e não a terceirizados, pessoas sem vínculos e requisitados; • Pelo estabelecimento de critérios objetivos para funções, para que seja organizado uma forma de concurso interno nas repartições, que considere o tempo de trabalho, a qualificação dos servidores, etc; • jornada de trabalho dos servidores do Judiciário e MPU compatíveis com suas atribuições (carga horária de 30 e 35 horas semanais); • criação de berçários nas principais dependências/ unidades do MPU e Tribunais; • Pela participação dos servidores através de voto na formação das listas tríplices dos membros indicados para Procuradores-Gerais, diretores-gerais, secretários-gerais, chefe de cartório, diretor de secretaria, em todos os ramos do Judiciário e MPU; • Pelo direito à greve, sem cortes de ponto e retaliações; • Pela realização de campanhas em todo judiciário e MPU contra assédio moral e sexual, culminando um código de ética; • Pela instauração do orçamento participativo no MPU e Judiciário, bem como outras formas de planejamento e gestão participativa; • Pelo estabelecimento de creches, berçários e lactários nos locais de trabalho; • Pela valorização dos técnicos judiciários e administrativos (MPU) que ficaram prejudicados no último PCS e teve ampliada a diferença salarial com os analistas; • Contra as reformas governistas, especialmente a trabalhista, a sindical, a judiciária, a universitária, a tributária e a política; • Pelo engajamento da FENAJUFE nas campanhas pela democratização dos meios de comunicação; • Pelo direito de sindicalização dos servidores da AGU e Defensoria Pública aos sindicatos unificados ligados à FENAJUFE, por exercerem funções essenciais à Justiça, assim como o MPU; • Que todos os Congressos da FENAJUFE sejam realizados em Brasília, por reduzir custos (maior delegação) e facilitar o acesso dos delegados (o DF está na região central do Brasil); • Que a FENAJUFE e os sindicatos filiados invistam de forma efetiva na formação política dos sindicalizados por meio de cursos, palestras, seminários, dentre outros. • Construção de um movimento unificado, unindo trabalhadores de outros setores, contra o PAC, as reformas de Lula, as privatizações e pela revogação da reforma da Previdência. • Organizar o Judiciário Federal e o MPU para participar da construção da campanha salarial unificada dos servidores públicos federais em 2007, pela reposição das perdas, respeito à data-base e garantia do direito de greve. • Elaborar e lutar por um plano de carreira que valorize o servidor, combata as terceirizações, o assédio moral, garanta a jornada de 6 horas, estabeleça condições do servidor avançar na carreira e privilegie o salário-base. • Propor à Administração do MPU a criação de um núcleo de acompanhamento à readaptação aos servidores e membros e prevenção à doenças laborais potencializadas por doenças oriundas do próprio ambiente do trabalho; V – A Independência de Classe dos Trabalhadores frente à Burguesia • Pela participação paritária dos servidores nos conselhos dos planos de saúde; 5.1) “A libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores” • Contra qualquer forma de catraca ou ponto eletrônico, inclusive na FENAJUFE e nos sindicatos associados; • Pela implantação da lista tríplice para a escolha do 32 Procurador Geral da República, com a participação dos servidores do MPU, tal como ocorre com os reitores das universidades públicas; 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 Não é possível defender os trabalhadores em aliança com a burguesia. As organizações que se atrelam à burguesia, seus governos e ao Estado (inclusive financiando suas atividades com recursos daí) abandonam os trabalhadores, suas lutas e a estratégia socialista. Dentro de uma perspectiva revolucionária e socialista, precisamos desenvolver a nossa organização e a nossa luta em total independência em relação à qualquer setor da burguesia, seus governos e seu Estado. Devemos educar os trabalhadores nesse princípio e no recurso à luta direta para atingir seus objetivos. Vejam o exemplo da Conlutas que, ao contrário das demais Centrais, rejeita o imposto Sindical e se orgulha disso. Pois, o imposto sindical é um dinheiro tirado compulsoriamente do bolso dos trabalhadores e repassado pelo Estado aos sindicatos, com o objetivo de controlar as organizações dos trabalhadores e torná-las dependentes do Estado burguês. A Conlutas não confunde a necessidade e possibilidade de fazer negociações com a classe dominante e seu Estado como resultado das lutas e de determinada correlação de forças, com políticas de colaboração de classes e de alianças com a burguesia, como pactos, câmaras setoriais e fóruns tripartites, onde os trabalhadores perdem sua independência e seus interesses são sacrificados. Dívida pública: um mal que precisa ser combatido 1. O Brasil hoje é tão ou mais colônia do que era na época do descobrimento. Se antes os colonizadores nos saqueavam com a extração do ouro, prata, pedras preciosas, madeira, hoje, o saque acontece por meio do pagamento da Dívida Pública que consumiu, apenas em 2009, 36% do Orçamento da União. 2. A transferência das riquezas do Brasil para o Mercado Financeiro já ocorre há muito tempo e isso precisa acabar. Ano após ano se deixa de investir em educação, transporte, saúde, saneamento básico e outras políticas sociais para pagar juros da dívida pública, que beneficia principalmente os banqueiros internacionais. Temos uma das mais altas taxas de juros do mundo tanto na macro como na micro economia. Esses juros abusivos servem apenas para enriquecer os especuladores. 3. Em troca o país tem que conviver com péssimos indicadores sociais: • Saúde Pública – Filas, falta de médicos, salários baixos, falta de condições de trabalho A defesa da independência de classe dos trabalhadores aplica-se também no terreno das eleições. Devemos nos posicionar contra aliança com a burguesia nas eleições. • Déficit Habitacional – 8 milhões de moradias, além de 11,2 milhões de domicílios inadequados • Pobreza: 46,2 milhões de pobres 5.2) Praticar a Democracia e Organizar pela Base A base é que deve decidir! A democracia e efetiva participação dos servidores é vital para o nosso projeto de organização e para nossa estratégia de sociedade. Nos sindicatos, todas as coisas importantes devem ser decididas em assembléia. Os trabalhadores devem ser permanentemente consultados, a base deve ser estimulada a se auto-determinar. As instâncias de base das entidades devem ser estimuladas e terem poder de decisão acima das diretorias: os congressos, conselhos de representantes de base, plenárias abertasampliadas, etc. Nas lutas, além das assembléias, deve ser estimulada a constituição de comandos de base e de greve. Coletivo de servidores do Judiciário e MPU no DF – construindo a Conlutas e Movimento Lutafenajufe • Fome: 10,7 milhões de famintos (Fonte IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, 2007) É preciso romper com esse processo de espoliação 4. O Brasil é um país rico. Não há dúvidas disso. No entanto, essa riqueza não se reverte em favor do povo brasileiro e sim para o capital financeiro. 5. É preciso mudar essa lógica perversa e fazer com que a riqueza do nosso país pare de ser extorquido pelo capital financeiro e se reverta em políticas sociais. 6. O Brasil ao seguir os ditames impostos pelo Banco Mundial e o FMI tem que fazer as “reformas” impostas com a desculpa prioriza o pagamento dos juros da dívida pública e deixa o Brasil e a maior parte do povo brasileiro 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 33 numa situação caótica. 53 milhões de miseráveis, 28 milhões de famintos, alta taxa de desemprego, analfabetismo, saúde pública aos frangalhos e muita violência. 7. O pagamento dos juros da dívida é um ciclo que não tem fim, pois é baseado no anatocismo, isto é, juros sobre juros. O anatocismo é totalmente ilegal e faz com que praticamente não haja amortização do saldo devedor. Por mais que se pague, o saldo devedor continua aumentando. 8. Consequências da dívida • O volume do endividamento é assustador • Ritmo de crescimento da Dívida é cada vez mais acelerado • Recordes de arrecadação, com a tributação injusta • Não há recursos para investimentos sociais efetivos • Injustiça social e concentração de renda, desemprego • Reformas de cunho neoliberal (Ex: Previdência); • Liberalização comercial e financeira, privatizações • Modelo agrícola exportador, impeditivo da necessária reforma agrária • Enfraquecimento do Estado e grave ameaça à soberania. (Fonte: Auditoria Cidadão da Dívida) 9. O Brasil vive há muitos anos sangrando suas riquezas que vai direto aos especuladores internacionais. Ano após ano se deixa de investir em educação e saúde para pagar juros da dívida, que só beneficia banqueiros internacionais. 10. Temos uma das mais altas taxas de juros do mundo tanto na Macro como na Micro economia. Que só servem para enriquecer os especuladores. 11. Temos mitos de todos os tipos: o Deus mercado; cuidado com o risco país; metas de superávit primário, etc, que só servem para enriquecer os banqueiros e especuladores e assim manter a maior concentração de renda do mundo, numa pequena camada da elite burguesa. 12. O Brasil não normatiza e nem regulamenta as concessões de rádio e TV, que só servem aos interesses do capital. 13. Não realiza a Reforma Agrária, onde temos o absurdo de ter proprietários de terras em áreas maiores que alguns países da Europa. 14. Não combate a corrupção, que neste país bate recordes absurdos em relação aos outros países. 34 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 15. Não protege sua juventude e a infância, entre outras demandas reprimidas importantíssimas. 16. Os economistas Sérgio Mendonça e Ademir Figueiredo, técnicos do Dieese, destacam a importância da redução dos juros e do superávit primário para o desenvolvimento nacional, sublinhando o significado de ambas as medidas para o fortalecimento do mercado interno, geração de emprego e renda, e combate à crise que sopra com força desde os países centrais. 17. Deixamos na miséria milhares de brasileiros: “Cada ponto reduzido da Selic representa uma economia de R$ 15 bilhões na dívida pública”. 18. Poderíamos ter um país mais justo se assumíssemos a oportunidade histórica de deixarmos de ser o país dos rentistas, trazendo os juros para os patamares internacionais de 1 a 2%, contra os 13,75% atuais da taxa Selic. Ressaltamos que a taxa Selic tem forte impacto sobre a dívida pública brasileira. 19. Cortar os juros pela metade representaria uma economia de mais de R$ 100 bilhões na dívida pública, recursos que poderiam ser aplicados em políticas sociais. 20. Entre as prioridades do momento, avaliam os técnicos do Dieese, deveriam estar os investimentos no setor da construção civil, pelo número de empregos que gera e pela perspectiva que tem de dar respostas imediatas, priorizando moradia popular e construções de baixa renda. 21. Criticando a ação daninha do Banco Central, “que trata tudo na horizontal”, os economistas do Dieese defenderam que é preciso encontrar saídas específicas para cada setor. A redução dos juros, frisaram, representaria uma melhora para todos. 22. Crise econômica: é hora de auditar a dívida, não de cortar gastos sociais 23. Os governos anunciam cortes de orçamento, anuncia a suspensão de concursos públicos, o adiamento da contratação dos já aprovados, e a possibilidade de não honrar os acordos de reajustes do funcionalismo, firmados no ano passado. Tal medida se deve à forte queda na arrecadação, causada pela diminuição da atividade econômica. Ao mesmo tempo, mantém intocado o pagamento de uma dívida repleta de ilegitimidades, e que deveria ser auditada, conforme prevê a Constituição Federal de 1988. O PLP 549/PLS 611 é mais uma imposição do FMI e deve ser combatida com prioridade pelas entidades dos trabalhadores. 24. Estão previstos R$ 234 bilhões para juros e amortizações da dívida, sem computar os gastos com a chamada “rolagem”, ou seja, o pagamento de amortizações por meio da emissão de novos títulos. Se computarmos a “rolagem”, os gastos com a dívida chegarão a R$ 756 bilhões, o que significa a metade de todo o orçamento. Enquanto isso, para toda a folha de pessoal estão previstos somente R$ 169 bilhões, incluindo todos os professores, médicos, e demais servidores ativos, aposentados e pensionistas. 25. Ou seja: o Brasil é um país no qual se gasta mais com a dívida do que com o pagamento de todos os seus funcionários! E quando ocorre uma queda na arrecadação, os servidores públicos é que pagam a conta! Outra grave conseqüência da crise é a queda nas transferências da União a estados e municípios, o que já está levando governadores e prefeitos a realizarem pesados cortes orçamentários. 26. Diante dessa situação de crise e desemprego, a saída mais óbvia seria o aumento significativo nos gastos sociais, de modo a fomentar a economia e gerar muitos empregos, com a construção de casas, obras de saneamento básico, reforma agrária massiva, etc. Porém, a dívida pública impede que estas medidas sejam tomadas. 27. Diante da crise, é fundamental que os bancos ofereçam empréstimos a juros baixos, e prazos longos, para que sejam criados novos postos de trabalho. Porém, os bancos têm preferido aplicar a poupança dos brasileiros nos títulos da dívida pública, que rendem os maiores juros do mundo, sem risco algum, ao invés de emprestar ao setor produtivo. 28. Em suma: a crise torna claro como a dívida pública é o centro dos problemas nacionais, e que precisa ser enfrentada, para que os trabalhadores não tenham de pagar a conta. É possível enfrentá-la, e a maior prova disso vem do Equador, onde o governo chamou a sociedade para participar da auditoria oficial da dívida e, respaldado nas conclusões do relatório da auditoria e nos documentos que comprovam inúmeras ilegalidades, tomou a decisão soberana de suspender pagamentos aos bancos privados internacionais dos juros dos “Bonos Global”. brasileiras, não é justo, razoável ou aceitável que o Brasil continue aceitando pagamentos absurdos e inacetáveis de juros aos banqueiros internacionais. 30. Temos que urgentemente inverter a lógica perversa de sangrar o país, o povo, a nação brasileira, e sim investirmos em educação, saúde, ciência, tecnologia, agricultura familiar, geração de emprego e renda, isto sim, é planejar o futuro e fazer o crescimento econômico do Brasil. 31. Solidarizamos-nos com os servidores públicos brasileiros para reforçar o convite à participação da luta pela auditoria da dívida, que agora pode se tornar oficial também no Brasil, tendo em vista que houve a CPI da Dívida na Câmara dos Deputados. 32. Temos que ir fundo na investigação do processo de endividamento brasileiro, medida fundamental especialmente para apurar as razões de nossa falta de desenvolvimento, crescimento econômico e justiça social. 33. O Sindjus-DF deve combater a sangria da dívida publica 34. O Sindjus-DF deve participar do Fórum de Nacional Entidades da Campanha da Auditoria Cidadã da Divida Pública 35. O Sindjus-DF deve combater qualquer iniciativa governamental de concentração de renda, majoração de tributos e arrocho salarial 36. O Sindjus-DF deve combater PLP 549/ PLS 611 - MAIS UMA IMPOSIÇÃO DO FMI Autor Marcos Ronaldo Freire de Araújo 29. Aconteceu na Câmara dos Deputados a CPI da Dívida Pública, que teve todo apoio das entidades sindicais 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 35 Sindjus-DF e o Sistema Judicial Brasileiro 1. O Sindjus-DF - Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no Distrito Federal, pode e deve rediscutir seu papel de atuação classista para muito além das questões econômicas das categorias que representa. 2. O Sindjus-DF deveria nos próximos anos se aprofundar na discussão sobre a Justiça no Brasil, assim como faz a Unafisco em relação à questão tributária, o Andes, em relação à educação e o Sinait sobre as condições de trabalho no Brasil. 3. A Justiça no Brasil é formada pelo Poder Judiciário e pelos órgãos essenciais à Justiça, que são o Ministério Público da União, a Defensoria Pública da União e a Advocacia Geral da União. 4. Hoje o Sindjus-DF representa apenas o Poder Judiciário da União e o Ministério Público da União. 5. Por isso, apresentamos proposta de reforma estatutária para ampliação da base do Sindjus-DF para contemplar todos os trabalhadores dos órgãos essenciais à justiça. Ou seja, além do MPU, o Sindjus-DF deve ampliar suas bases para a Defensoria Pública da União e a Advocacia Geral da União. 6. Além do MPU, a DPU e a AGU também foram criadas pela Constituição de 1988. 7. A DPU foi regulamentada pela Lei Complementar n° 80, de 12 de janeiro de 1994, que organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá outras providências. 8. A Lei Complementar n° 132, de 7 de outubro de 2009, ampliou os poderes da Defensoria Pública da União e seguiu o modelo da LC 75, que regulamentou a carreira dos membros do Ministério Público da União. Nessas mudanças, a Defensoria Pública da União ganhou autonomia administrativa e financeira, como o MPU, e ampliou suas competências. 9. A DPU tem um papel social importantíssimo pois atende os cidadãos e cidadãs carentes, que não tem como contratar advogado. Não existe justificativa para que esses trabalhadores ganhem menos que os trabalhadores do Judiciário Federal e do MPU. 36 6º Congresso do Sindjus | Brasília-DF, 27 e 28 de maio de 2011 10. Já a AGU foi regulamentada pela Lei Complementar n° 73, de 10.2.1993 e tem o papel de defender o patrimônio público e as contas públicas. 11. Os trabalhadores da AGU também estão desamparados, sem representação sindical que lute ou defendam seus interesses classistas e reivindicações. 12. O Sindjus-DF não deve se omitir e negligenciar estes dois importantes segmentos do serviço público. O Sindjus-DF só terá o que ganhar com isso, pois ficará muito mais forte e seu alcance dentro da Justiça Brasileira será muito maior. 13. Por terem similaridades com Judiciário e com o MPU, não justifica que a DPU e a AGU tenham salários dispares e rebaixados. O ideal seria campanhas salariais unificadas para todos segmentos essenciais à justiça e o Poder Judiciário. 14. O papel destes segmentos num país tão desigual socialmente, com alta concentração de renda e com índices corrupção enormes por si só já justifica a entrada destes dois segmentos a somar no sindicato. Sendo assim, propomos: 15. Que o Sindjus-DF, em mudanças estatutárias, amplie sua base de atuação política e classista. 16. Que o Sindjus-DF passe a atuar qualificadamente nos conselhos institucionais destes órgãos pleiteando um atendimento de excelência e qualidade e a população. 17. Que o Sindjus-DF realize seminários que discutam organização dos trabalhadores da DPU e AGU; 18. Que o Sindjus-DF passe a discutir com mais profundidade a Justiça Brasileira como faz por exemplo a Unafisco em relação às questões tributárias.