UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química Janaina I. Corrêa INSERÇÃO DE NOVOS ÓLEOS ESSENCIAIS NO MERCADO: IMPORTÂNCIA DO USO DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS NA AGREGAÇÃO DE VALOR Florianópolis 2010 Livros Grátis http://www.livrosgratis.com.br Milhares de livros grátis para download. Janaina I. Corrêa INSERÇÃO DE NOVOS ÓLEOS ESSENCIAIS NO MERCADO: IMPORTÂNCIA DO USO DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS NA AGREGAÇÃO DE VALOR Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química. Orientador: Prof. Ariovaldo Bolzan, Dr. Co-orientador: Lia Krucken Pereira, Dr. Florianópolis 2010 Janaina I. Corrêa INSERÇÃO DE NOVOS ÓLEOS ESSENCIAIS NO MERCADO: IMPORTÂNCIA DO USO DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS NA AGREGAÇÃO DE VALOR Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia Química no Programa de PósGraduação em Engenharia Química da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 26 de Março de 2010. Prof. Leonel Teixeira Pinto, Dr. Coordenador do CPGENQ / UFSC Banca Examinadora: Prof. Ariovaldo Bolzan, Dr. Orientador Prof. Ricardo Machado, Dr. Prof. Lia Krucken Pereira,Dr. Co-orientadora Iguatemi Melo Costa, Dr. Á minha família. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. À Universidade Federal de Santa Catarina. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo incentivo a pesquisa. Ao professor orientador Ariovaldo acompanhamento sempre competente. Bolzan, pelo À co-orientadora Lia Krucken por toda a ajuda intelectual. Aos professores dos Cursos de Pós-Graduação em Engenharia Química, Engenharia de Produção e Engenharia e Gestão do Conhecimento. Às empresas ao qual este trabalho foi desenvolvido; suas experiências foram essenciais para a construção desta pesquisa. A Sérgio Gallucci e Iguatemi Melo Costa, Manoel Teixeira Simões e Marina Kobayashi, Marilda Tonetto, Paulo Adam, Giovana Palhano, Luciana Marques, Sandra Mara Scheffer, que me receberam tão gentilmente nas empresas que visitei. A Fuad Samir Cury da empresa Destilaria Três Barras e Simone do blog “Mais Q Perfume”. Ao perfumista Olivier Paget que gentilmente emprestou seu “nariz” para as análises olfativas. A todos aqueles que, de alguma forma, apresentaram-me algum tipo de resposta as minhas limitações. Aos amigos pelo apoio. A Alex Copetti de Araujo, com carinho. “Uma descoberta, seja feita por um menino na escola ou por um cientista trabalhando na fronteira do conhecimento, é em sua essência uma questão de reorganizar ou transformar evidências, de tal forma que se possa ir além delas assim reorganizadas, rumo a novas percepções” Jerome Bruner SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................1 1.1 JUSTIFICATIVA ......................................................................... 1 1.2 OBJETIVOS ............................................................................... 4 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................. 4 1.2.2 Objetivos Específicos ....................................................... 4 1.3 ESTRUTURA DA PESQUISA ........................................................ 5 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................7 2.1 O SETOR DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS .................................................................................. 7 2.2 MATÉRIAS-PRIMAS NATURAIS NO SETOR DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS ......................... 16 2.3 ÓLEOS ESSENCIAIS ................................................................. 21 2.3.1 Propriedades dos óleos essenciais ................................ 23 2.3.2 Óleo essencial de Patchouli .......................................... 24 2.3.3 Características e classificação dos óleos essenciais ..... 26 2.3.4 Critérios para inserção de novos óleos essenciais no mercado .................................................................................. 30 2.3.5 Sistema de comercialização dos óleos essenciais nos setores de HPPC..................................................................... 33 2.3.6 Produção ....................................................................... 40 2.3.6.1 Características e Tendências da produção de óleos essenciais ..................................................................................... 40 2.3.6.2 Consumo dos óleos essenciais e suas aplicações ............. 44 3 METODOLOGIA DA PESQUISA ..........................................49 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................ 49 3.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ..... 51 3.3 ANÁLISE DOS DADOS .............................................................. 56 4 RESULTADOS: ANÁLISE DE VALOR DOS ÓLEOS ESSENCIAIS ..............................................................................57 4.1 ANÁLISE JUNTO A EMPRESAS E ESPECIALISTAS ...................... 57 4.2 ANÁLISE ECONÔMICA ............................................................ 62 4.3 ANÁLISE TECNOLÓGICA ......................................................... 65 4.4 RESULTADOS DO ESTUDO DE CASO APLICADO: ÓLEO ESSENCIAL DE PATCHOULI.............................................................................. 69 4.5 SÍNTESE DOS RESULTADOS ..................................................... 77 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...................................................................................91 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................95 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA....................................... 105 APÊNDICE A - INFORMAÇÕES SOBRE AS ENTIDADES CONSULTADAS ...................................................................... 109 ANEXO A - DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES .............................................................................. 115 ANEXO B - RELATÓRIO DE ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS. .......................................................... 123 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1. CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS INDUSTRIAIS E TAMANHO NO MERCADO GLOBAL EM 2001. .............................................. 10 FIGURA 2. PARTICIPAÇÃO DAS EMPRESAS NO MERCADO BRASILEIRO DE HIGIENE PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS. ............... 16 FIGURA 3. PLANTA DE PATCHOULI, ESPÉCIE [POGOSTEMON CABLIN (BLANCO) BENTH.]. ................................................................ 26 FIGURA 4. SISTEMA DE COMERCIALIZAÇÃO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS: PRINCIPAIS ATORES E RESPECTIVAS ATIVIDADES. .................... 35 FIGURA 5. CRITÉRIOS IMPORTANTES PARA ESCOLHA DE DETERMINADA INDÚSTRIA FORMULADORA. ............................ 40 FIGURA 6. ATRIBUTOS IMPORTANTES NA ESCOLHA DE DETERMINADO AGENTE COMERCIAL. ............................................................... 59 FIGURA 7. CUSTOS DE PROCESSAMENTO VERSUS VALOR NO MERCADO, PARA O ÓLEO DE PATCHOULI OBTIDO POR EXTRAÇÃO SUPERCRÍTICA. ........................................................................ 64 FIGURA 8. COMPARAÇÃO ENTRE OS CROMATOGRAMAS DE ÍONS TOTAIS REFERENTES ÀS AMOSTRAS 1,3,4,5 E 6. ....................... 72 FIGURA 9. CROMATOGRAMA DA AMOSTRA 1 COM OS 12 PICOS IDENTIFICADOS. ....................................................................... 72 LISTA DE QUADROS QUADRO 1. CLASSES, CARACTERÍSTICAS E USO DOS ÓLEOS ESSENCIAIS. ............................................................................. 30 QUADRO 2. APLICAÇÕES DOS ÓLEOS ESSENCIAIS NAS INDÚSTRIAS. .. 46 QUADRO 3. QUADRO SINÓPTICO: FATORES QUE INFLUENCIAM A ENTRADA DE NOVOS ÓLEOS ESSENCIAIS NO MERCADO. ........... 78 LISTA DE TABELAS TABELA 1. MERCADO MUNDIAL DE HIGIENE PESSOAL, PERFUMARIA E COSMÉTICOS: RANKING DOS 10 MAIORES MERCADOS (2008). 11 TABELA 2. TOP 20 – PRODUÇÃO MUNDIAL DE ÓLEOS ESSENCIAIS EM 2007. ....................................................................................... 19 TABELA 3. ÓLEOS ESSENCIAIS PRODUZIDOS NO BRASIL EM 2007 ..... 20 TABELA 4. CARACTERÍSTICAS DO ÓLEO ESSENCIAL DE PATCHOULI. . 25 TABELA 5. COMPARAÇÃO DE PREÇO E RENDIMENTO DO ÓLEO DE CRAVO E GENGIBRE PARA DUAS TECNOLOGIAS DE EXTRAÇÃO.67 TABELA 6. COMPOSTOS IDENTIFICADOS NA ANÁLISE EM CG-EM REFERENTES A CADA PICO. ...................................................... 73 TABELA 7. COMPARAÇÃO DOS PERCENTUAIS RELATIVOS ÀS AMOSTRAS 1,3, 4, 5, E 6. .......................................................... 74 RESUMO CORRÊA, Janaina Indianara. Inserção de novos óleos essenciais no mercado: importância do uso de tecnologias avançadas na agregação de valor. 2010. 122 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Química, UFSC, Florianópolis. Os óleos essenciais fazem parte do cotidiano das pessoas em diversos produtos: alimentos, cosméticos, perfumes e medicamentos. São ingredientes naturais, obtidos a partir da extração de matérias-primas vegetais, amplamente utilizados em diversos setores industriais. Muitas vezes são elementos que diferenciam e agregam valor aos produtos no mercado. Este trabalho tem como objetivos entender a dinâmica de inserção de novos óleos essenciais no mercado e avaliar a importância do uso de tecnologias avançadas de extração na agregação de valor destes óleos. A estratégia de investigação adotada nesta pesquisa foi a de múltiplos métodos consistindo de: análise documental; entrevistas direcionadas com profissionais de pequenas, médias e grandes empresas, e com especialistas da área que atuam em associações e universidades; estudo de caso do óleo de patchouli, extraído por hidrodestilação e extração supercrítica com dióxido de carbono. Os óleos obtidos foram analisados por cromatografia gasosa acoplada a espectrometria de massas e avaliados olfativamente por um perfumista profissional. O estudo de caso do patchouli mostrou que nem sempre os especialistas consideram que uma inovação tecnológica de processo possa ser fator determinante para desencadear uma inovação de produto ao consumidor. Os resultados demonstraram que somente o aporte tecnológico não é suficiente para a inserção de um novo óleo essencial no mercado. No entanto, ficou claro que a tendência destes setores é valorizar produtos que possam apresentar algum indicador valioso nos dias atuais, como sustentabilidade nos processos envolvidos no cultivo de plantas e nos processos produtivos e ausência de elementos contaminantes. Nesse sentido, destaca-se o potencial do processo de extração com fluido supercrítico na obtenção de produtos de alta qualidade. Palavras-chave: óleos essenciais, tecnologias avançadas, agregação de valor ABSTRACT CORRÊA, Janaina Indianara. Inserção de novos óleos essenciais no mercado: importância do uso de tecnologias avançadas na agregação de valor. 2010. 122 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Química) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Química, UFSC, Florianópolis. Essential oils are part of everyday life in various products: foods, cosmetics, perfumes and medicines. They are natural ingredients, derived from the extraction of raw vegetables, widely used in various industrial sectors. Often are elements that differentiate and add value to products on the market. This research aims to understand the dynamics of adding new essential oils on the market and evaluate the importance of the use of advanced extraction technologies in the aggregate value of these oils. The strategy adopted in this research consists of multiple methods: document analysis; targeted interviews with professionals in small, medium and large companies and experts who work in associations and universities; a case study of oil of patchouli, extracted by hydrodistillation and carbon dioxide supercritical extraction. The oils were analyzed by gas chromatography-mass spectrometry and evaluated by professionals. The patchouli case study showed that not always the experts believe that a technological innovation process can be a determining factor to trigger an innovation of product. The results showed that only the technological support is not enough for the insertion of a new essential oil on the market. However, it became clear that the trend in these sectors today is to value products that can provide some valuable indicator, such as sustainability in the processes involved in growing plants and the production process and the absence of contaminants. In this sense, we highlight the potential of the supercritical fluid extraction (SFE) to obtain high quality products. Keywords: essential oils, advanced technologies, added value 1 INTRODUÇÃO Este capítulo está dividido em: Justificativa; Objetivos: Geral e Específicos; Estrutura da Pesquisa. 1.1 Justificativa Os óleos essenciais têm grande potencial de agregar valor e definir características de muitos produtos, como as fragrâncias e aromas. Os óleos são parte integrante de muitos produtos e podem ser o fator diferenciador de qualidade. As indústrias de cosméticos, de alimentos e farmacêutica são as maiores beneficiadas pelo uso dos óleos essenciais e podem ter seus produtos diferenciados em função dos óleos que utilizam. É possível obter óleos essenciais com maior valor agregado por meio de tecnologias avançadas de extração, é o caso da extração por fluido supercrítico. Porém esta valorização do produto nem sempre é percebida pelo mercado e consequentemente este produto não é absorvido. Existe uma discrepância entre tecnologia e expectativa de consumo, assim, um produto de alta tecnologia não necessariamente é sinônimo de sucesso no mercado e foi o que se percebeu com os óleos essenciais. Neste trabalho foi analisado o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos que se utiliza de óleos essenciais para desenvolver seus mais variados produtos. Identificaram-se alguns dos fatores que determinam o acesso de novos óleos essenciais nestes setores e como eles são comercializados. Avaliou-se a importância do uso de tecnologias avançadas na agregação de valor destes óleos e como este aporte tecnológico é percebido pelo mercado. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) existem no Brasil mais de 1.600 empresas atuando nestes setores, sendo que 15 empresas de grande porte representam 70% do faturamento total e possuem faturamento líquido acima dos R$100 milhões. O Brasil está entre os três primeiros colocados no rol dos países que mais valorizam a beleza. Conforme dados do Euromonitor de 2008, citado pela ABIHPEC, o Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos do mundo, ficando atrás somente dos Estados Unidos e Japão. Dentre os fatores que contribuem para o excelente crescimento do setor está a participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho; o desenvolvimento acelerado da tecnologia de ponta, favorecendo lançamentos constantes de novos produtos e ainda o aumento do poder aquisitivo da população em geral. Os óleos essenciais ocupam vários espaços na vida das pessoas não somente nos setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, mas também nas áreas de alimentos e medicamentos e sua aplicação vem crescendo no setor de aromaterapia. Os óleos podem estar presentes no café da manhã, nos chás de camomila e erva-doce, nos produtos de higiene pessoal, seja no creme dental, com mentol, ou nos sabonetes, perfumes e cosméticos. Nas refeições, mais uma vez aparecem os óleos essenciais na composição de aromas, que embora não possuam nenhuma qualidade nutritiva desenvolvem papel essencial na aceitação do produto. O efeito terapêutico de alguns produtos deve-se aos princípios ativos de alguns óleos essenciais, como o óleo de candeia, cujo princípio ativo é o alfa-bisabolol de propriedades antibacterianas, que é empregado em máscaras faciais. O óleo de eucalipto, por exemplo, pode ser usado na formulação de medicamentos, para contusões ou dores de garganta. Alguns exemplos de plantas que são fontes de óleos essenciais e as indústrias que as utilizam são (GOMES, 2005): a. Pau-rosa (Aniba roseodora) zizanoides) utilizados na perfumaria; e vetiver (Vetiveria b. A indústria cosmética utiliza, dentre vários, a camomila (Chamomilla recutita); c. Limão (Citrus limon, citrus aurantifolia l. swingle), laranja (Citrus simensis) e mandarina (Citrus reticulata blanco) utilizados como aromatizantes para a indústria alimentícia. d. A indústria farmacêutica utiliza, por exemplo, eucalipto (Eucalyptus globulus), menta (Mentha arvensis, Mentha piperita) e camomila (Chamomilla recutita). Cabe citar a erva-baleeira (Cordia verbenácea) uma planta nativa da Mata Atlântica que é a base de um antiinflamatório que já recebeu o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). e. Produtos de Domissanitários: eucalipto (Eucalyptus citriodora), pinus (Pinus sp) e citronela (Cymbopogon nardus); O óleo essencial de Patchouli [Pogostemon cablin (Blanco) Benth.], que será estudado com mais ênfase neste trabalho, é usado na perfumaria constituindo uma nota de base importante para acordes amadeirado e de raízes. Nas indústrias de fragrâncias e aromas desempenha papel importante, pois é um bom agente de “mascaramento” de cheiros e gostos indesejáveis (HOLMES, 1997). As informações e os conhecimentos sobre os setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, bem como sobre os óleos essenciais, não estão disponíveis de forma sistêmica, e nota-se a carência de dados consistentes. Trata-se de setores altamente competitivos, onde há muitas variáveis envolvidas, muitos agentes econômicos e uma série de inter-relações entre estes agentes que não são de fácil entendimento. Grande parte das informações não é de acesso público e são tratadas como estratégicas. Na literatura científica encontram-se muitos estudos sobre os óleos essenciais, mas abordam principalmente os conhecimentos técnicos relacionados aos métodos de cultivo e colheita de plantas, formas de extração, métodos para isolar compostos, análise de seus princípios ativos, dentre outros. Questões relacionadas à agregação de valor aos óleos essenciais por meio de técnicas avançadas e de que forma essa tecnologia é percebida pelo mercado ainda não encontram respostas na literatura de forma definida e consolidada. Com vistas a aprofundar e ilustrar a investigação, esta dissertação explorou o óleo essencial de patchouli, que foi extraído por meio de duas tecnologias de extração, a supercrítica e a hidrodestilação, e as análises cromatográficas e olfativas dos óleos trouxeram mais subsídios para entender como eles são percebidos pelo mercado. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo Geral O objetivo fundamental deste trabalho é: Compreender a dinâmica de inserção de novos óleos essenciais na indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, e avaliar a importância do uso de tecnologias avançadas na agregação de valor desses óleos, usando como exemplo o óleo essencial de patchouli. 1.2.2 Objetivos Específicos 1. Incorporar contribuições de especialistas na análise de mercado dos óleos essenciais; 2. Analisar o mercado atual de óleos essenciais e entender o sistema de comercialização dos óleos essenciais nos setores de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. 3. Identificar as características de inserção de novos óleos essenciais nos setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos; 4. Avaliar como tecnologias avançadas podem agregar valor aos óleos essenciais e como este aporte tecnológico é percebido pelo mercado. 1.3 Estrutura da Pesquisa Este documento está organizado em capítulos assim distribuídos: No Capítulo 2 é apresentada uma revisão bibliográfica sobre os setores de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) e sobre os óleos essenciais. No Capítulo 3 é apresentada a metodologia de pesquisa, enquanto que no Capítulo 4 apresentam-se os resultados da pesquisa. Por fim, no Capítulo 5 estão as considerações finais. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Apresenta-se a seguir uma revisão bibliográfica abordando os seguintes aspectos: o setor de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (HPPC); matérias-primas naturais no setor de produtos de HPPC; óleos essenciais: propriedades dos óleos essenciais; óleo essencial de patchouli; características e classificação; critérios para inserção de novos óleos essenciais no mercado; sistema de comercialização dos óleos essenciais; características e tendências da produção e de consumo. 2.1 O setor de produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos Por que estudar as indústrias de perfumes, cosméticos e de higiene pessoal? A resposta é simples: é uma indústria significativamente vital, não necessariamente em termos de sua contribuição para o PIB mundial, mas pela sua notável influência na vida social dos seres humanos em nível mundial. (KUMAR, 2005). O uso de cosméticos remonta há, pelo menos, 30 mil anos. Muitos cosméticos se originaram na Ásia, mas os primeiros registros de seu uso estão no Egito. Mais ou menos no ano de 180 d.C., na era Romana, um médico grego chamado Claudius Galen realizou sua própria pesquisa na manipulação de produtos cosméticos, iniciando, assim, a era dos produtos químicofarmacêuticos. A Resolução RDC nº 211, de 14 de julho de 2005, da ANVISA, estabelece a definição e Classificação de Produtos de higiene pessoal, Cosméticos e Perfumes e outros com abrangência neste contexto. Nesse sentido, de acordo com o Anexo I dessa Resolução, foram definidos: Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes, são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. A definição harmônica adotada pelo MERCOSUL, por meio da Resolução nº 110 de 1994 é essencialmente a mesma definição de cosmético adotada pela União Européia (UE): Produtos para a higiene pessoal, cosméticos e perfumes aquelas preparações constituídas de substâncias naturais e sintéticas ou suas misturas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, e órgãos genitais externos ou nos dentes e nas membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, mudar sua aparência e/ou corrigir odores corporais e/ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. Esta definição passou a ser utilizada pelos diversos agentes envolvidos com o setor, e é de grande importância, pois procura convergir com as definições adotadas em todo o mundo, trazendo implicações importantes para a dinâmica do setor, por exemplo, na classificação dos produtos comercializáveis internacionalmente (GARCIA E SALOMÃO, 2008). Ainda de acordo com a Resolução RDC nº 211, de 14 de julho de 2005, da ANVISA, os produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes são classificados em dois tipos: Produtos de Grau 1: são produtos que se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto. Incluem-se neste grupo produtos como: água de colônia, perfume, batom, creme, desodorante axilar (exceto os com ação antitranspirante); dentre outros. Produtos de Grau 2: são produtos que possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso. Neste grupo estão produtos como: brilho labial infantil, bloqueador solar/anti-solar, lenços umedecidos para higiene infantil, maquiagem com fotoprotetor, dentre outros. Segundo a Resolução, os critérios para esta classificação foram definidos em função da probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados devido ao uso inadequado do produto, sua formulação, finalidade de uso, áreas do corpo a que se destinam e cuidados a serem observados quando de sua utilização. Esta resolução completa é apresentada no Anexo A deste trabalho. A indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC) é um segmento da indústria química cuja atividade básica é a manipulação de fórmulas e pode ser dividida em três segmentos segundo Capanema et al.(2007): a. Higiene pessoal: composto por sabonetes, produtos para higiene oral, desodorantes, absorventes higiênicos, produtos para barbear, fraldas descartáveis, talcos, produtos para higiene capilar, etc.; b. Cosméticos: produtos de coloração e tratamento de cabelos, maquiagem, protetores solares, cremes e loções para pele, depilatórios etc.; c. Perfumaria: água de colônia, perfumes, produtos pósbarba etc. Segundo Kumar (2005), a estrutura das indústrias de HPPC em termos de classificação de produto e o tamanho no mercado global, é ilustrada na Figura 1. Figura 1. Classificação dos produtos industriais e tamanho no mercado global em 2001. Fonte: Elaborado por Kumar (2005). De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC - existem no Brasil 1.694 empresas atuando neste mercado, sendo que 15 empresas de grande porte, com faturamento líquido de impostos acima dos R$ 100 milhões, representam 70% do faturamento total. A maior empresa nacional do setor, a Natura, atingiu faturamento de US$ 2,4 bilhões em 2007, e O Boticário, segunda maior empresa nacional, atingiu vendas de US$ 470 milhões. O sudeste é a região onde se concentra o maior número de empresas, totalizando 1.079 delas, seguida da região sul com 336 empresas. O Brasil ocupa a terceira posição em relação ao mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, conforme dados do Euromonitor de 2008, citado pela ABIHPEC, ficando atrás somente dos Estados Unidos e Japão. É o primeiro mercado em desodorante; segundo mercado em produtos infantis, produtos masculinos, higiene oral, produtos para cabelos, proteção solar, perfumaria e banho; quarto em cosmético cores; sexto em pele e oitavo em depilatórios. A Tabela 1 traz uma comparação entre os dez maiores mercados de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos em 2008. Tabela 1. Mercado mundial de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos: Ranking dos 10 maiores mercados (2008). País 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Mundo Estados Unidos Japão Brasil China Alemanha França Reino Unido Rússia Itália Espanha Top 10 US$ Bilhões 2008 333,50 52,14 33,75 28,77 17,73 16,86 16,23 15,72 12,38 12,25 10,64 216,47 Crescimento (%) 9,13 -0,05 11,92 27,46 22,10 8,04 6,8 -3,54 14,51 7,97 10,69 9,17 Participação (%) 15,6 10,1 8,6 5,3 5,1 4,9 4,7 3,7 3,7 3,2 64,9 Fonte: Elaborado com base em dados da Euromonitor, extraído de ABIHPEC, 2008. Vários fatores contribuem para o crescimento do setor brasileiro, dentre os quais se destacam: 1. Participação crescente da mulher brasileira no mercado de trabalho, exigindo maior conveniência e praticidade dos produtos; 2. A incorporação de tecnologia de ponta e o consequente aumento da produtividade pelas empresas favorecendo os preços praticados pelo setor, que tem aumentos menores do que os índices de preços da economia em geral; 3. Lançamentos constantes de novos produtos atendendo cada vez mais às necessidades do mercado; 4. Aumento da expectativa de vida, o que traz a necessidade de conservar uma impressão de juventude. Como resultado do envelhecimento da população a indústria cosmética está focada em uma maior gama de produtos para este nicho de mercado; 5. Aumento do poder aquisitivo da população em geral que passa a consumir mais cosméticos. As mudanças na renda da população brasileira também contribuem para manter a robustez deste setor e como a classe popular ganhou força no consumo acaba beneficiando o mercado da beleza. 6. Aumento significativo do consumo de produtos cosméticos masculinos. Segundo relatório do SEBRAE (2008), todas essas variáveis mudam o perfil de consumo e aumentam o poder de compra. Mudanças climáticas e no estilo de vida também criam oportunidades para novos nichos de produtos. As restrições legais exercem impacto positivo no setor ao aumentar a confiança do consumidor e estabelecer bases para o comércio internacional. Neste contexto, surgem também oportunidades para utilizar os avanços tecnológicos visando aumentar a eficácia e a qualidade do produto. Na indústria de HPPC, os principais atores mundiais do setor são as grandes empresas mundiais, fabricantes de produtos cosméticos e detentoras de capacidades tecnológicas e, sobretudo, detentoras de ativos comerciais que as permitem comandarem a cadeia de produção, distribuição e comercialização de mercadorias (GARCIA e FURTADO, 2003 apud SALOMÃO, 2008). Garcia (2005) destaca os principais atores da indústria internacional de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos e como estas empresas estão organizadas. Nesse sentido, são identificadas duas formas básicas de organização das grandes empresas internacionais. A primeira forma de organização são as grandes empresas diversificadas, que atuam na indústria de cosméticos, higiene pessoal, perfumaria, farmacêutica e até alimentos. Neste modelo de organização citam-se: 1. Unilever, empresa anglo-holandesa, que é talvez a mais diversificada das empresas que atuam no setor, já que está presente nos segmentos de higiene pessoal, produtos cosméticos, alimentos, higiene e limpeza, entre outros; 2. A estadunidense Procter & Gamble, fortemente concentrada em produtos de higiene pessoal; 3. Johnson & Johnson, estadunidense, que agrega as atividades de cosméticos e higiene pessoal (personal care); 4. Colgate-Palmolive, outra empresa dos EUA, com forte atuação nos segmentos de produtos para higiene bucal e higiene pessoal. Nestas empresas as estratégias voltadas para um determinado setor, como cosméticos, podem ser de grande valia também para os setores de higiene pessoal ou farmacêutico. Ao desenvolver novos produtos pode-se chegar a aplicações para os diversos setores correlatos. A segunda forma de configuração, segundo o mesmo autor, são as empresas com atuação concentrada na indústria de cosméticos e, por vezes, perfumaria. Dentre as empresas internacionais que atuam desta forma, encontram-se: 1. O grupo francês L’Oreal que é proprietário (ou licenciado) de mais de 19 marcas internacionais, entre elas L´Oreal Paris, Giorgio Armani, Laboratories Garnier e Lancôme. 2. O grupo japonês Shiseido que tem suas operações concentradas em cosméticos, produtos para banho e outros ligados ao setor (produtos para salões de beleza, alimentos para saúde e beleza); 3. A estadunidense Estee Lauder; 4. Revlon, também norte-americana exclusivamente na indústria de cosméticos. que atua Nestas empresas o foco das suas atividades produtivas e tecnológicas é a indústria de cosméticos. São produtos geralmente mais sofisticados, onde a escala de produção é menos importantes em relação a outros atributos do produto relacionados à diferenciação. Num cenário de grande concorrência a agregação de valor aos produtos através da incorporação de essências e fragrâncias diferenciadas bem como a embalagem, são fatores chave para o sucesso de uma empresa. Cada vez mais as Casas de Aromas e Fragrâncias estão sendo chamadas para contribuir com o conceito de marketing e trabalhar com as equipes de design na criação de novos produtos destaca Smith (1998). Garcia (2005) analisa a estratégia das empresas que comercializam seus produtos por meio das vendas diretas (doorto-door) ou vendas porta-a-porta, que seria uma variação da estratégia concentrada. Os casos mais importantes dessa variante são as norte-americanas Avon, Mary Kay e Nu Skin. As cinco maiores empresas do setor, segundo dados do Euromonitor International, citadas por Kumar (2005), são: L'Oreal, que continua sendo a líder global em cosméticos, com uma quota de mercado de 16,8% e faturamento bruto de cerca de US$ 4 bilhões, seguida da Estée Lauder (10,9%), Procter & Gamble (9,3%), Revlon (7,1%), e Avon (4,7%). Shiseido (4,2%), Coty (3,3%), Kanebo (2,1%), Kose (2%) e Chanel (1,7%) estão entre as 10 maiores. Em conjunto, estas empresas representam 62,1% ou US$ 15,15 bilhões de um total de US$ 24,4 bilhões do mercado global de cosméticos. No Brasil, as principais empresas são a Natura e O Boticário, que consolidaram suas marcas no mercado brasileiro e, com isso, conquistaram uma posição de destaque, estando até mesmo na liderança em alguns segmentos. As estratégias adotadas por estas empresas são bastante diferenciadas. Enquanto a Natura optou pela venda direta como principal meio de comercialização de seus produtos, O Boticário se destaca por comercializar seus produtos por meio de lojas exclusivas em sistema de franquia. Atualmente é detentora da maior rede mundial de franquias de perfumaria e cosméticos e fechou o ano de 2006 com mais de 2.300 unidades. A participação das empresas, no mercado brasileiro, em 2005 é apresentada na Figura 2. Outros J&J 2,5% 6,50% Procter Unilever 2,9% Gillette 13,2% Natura 5,0% O Boticário 11,3% 5,9% Avon 7,5% L'Oréal 6,1% Colgate 7,4% Figura 2. Participação das Empresas no Mercado Brasileiro de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos. Fonte: Dados de Euromonitor (2004) extraído de Capanema et al. (2007). Dentro do setor global de cosméticos, o mercado dos cosméticos naturais (sem ingredientes e aditivos sintéticos), embora ainda pequeno, cresce de maneira rápida ultrapassando até mesmo o mercado cosmético tradicional. Este nicho de mercado continua a se beneficiar da crescente preocupação mundial com a saúde e a crescente ênfase da mídia nestas questões. Esta tendência se reflete de diferentes formas em diversos produtos existentes no mercado, notadamente nos setores cosmético e de alimentos. 2.2 Matérias-primas naturais no setor de produtos de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos A demanda da indústria cosmética por matérias-primas e ingredientes de origem vegetal, substâncias com comprovados efeitos biológicos, antioxidantes e antienvelhecimento, formadas por princípios ativos, extratos de polpas de frutos, extratos de pétalas de flores, raízes e de folhas, vem aumentando no mercado nacional e mundial. Para Guerra e Nodari (2003), os componentes da biodiversidade podem fornecer uma ampla gama de produtos de importância econômica. A diversidade da flora brasileira revela ótimas oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos seja nos setores de perfumaria, cosméticos, higiene pessoal ou ainda no setor de produtos medicinais. Segundos os autores, a biodiversidade brasileira pode ser entendida como uma preciosa biblioteca genética mantida em seus ecossistemas naturais, na qual apenas uma pequena parte de seus componentes foi adequadamente estudada e cujos benefícios futuros ainda não são conhecidos. Para Ehlrich e Wilson (1991) apud Simões et al (2003), é fundamental estabelecer programas de conservação da diversidade biológica uma vez que a humanidade já recebeu inúmeros benefícios advindos diretamente da biodiversidade na forma de alimentos, produtos industriais e medicamentos e ainda pode obter mais benéficos no futuro. O Brasil é o país com a maior diversidade genética vegetal do mundo, contando com mais de 55.000 espécies catalogadas, e neste sentido as plantas são uma fonte importante de produtos naturais biologicamente ativos. Em termos de números, a Amazônia possui 30.000 espécies vegetais, o que representa 23% do total de espécies do planeta, onde apenas 5% foram estudadas e 1% é usada como matéria-prima para a indústria. Essas tendências e oportunidades impulsionam as líderes globais do setor a saírem na frente nas pesquisas de desenvolvimento de novas tecnologias e novos conceitos. Morais (2009) cita como exemplo a Avon, que lançou no mercado brasileiro a primeira fragrância completamente natural. A fragrância mistura óleos essenciais de flores e extratos de pepino e melão, as notas de saída são cítricas e reúnem óleos essenciais de bergamota italiana e grapefruit. As notas de corpo são florais e constituídas de óleos essenciais de flores como rosa absoluta, jasmim absoluto, gerânio e petitgrain, enquanto vetiver do Haiti, sândalo australiano e cedro branco marcam as notas de fundo. Outras empresas como The Body Shop (Inglaterra), Aveda (EUA), Yves Rocher e L’Occitane (França) e a linha Ekos da Natura (Brasil) também incorporam o conceito de cosméticos naturais. No caso de cosméticos à base de produtos naturais, as matérias primas desempenham papel fundamental no desenvolvimento e no sucesso de uma empresa desse segmento. Neste sentido, ressalta-se a importância de uma atenção maior a estes insumos naturais e o papel estratégico da biodiversidade brasileira no setor. A Natura já utiliza em seus produtos diversas matérias-primas de origem vegetal, na forma de extratos, óleos ou compostos. Segundo Gallucci (2009), a escolha de fornecedores de insumos desenvolvidos com espécies brasileiras ou exóticas é feita levando em conta um rigoroso processo de rastreabilidade e sustentabilidade, ou seja, considerando os critérios econômicos, sociais e ambientais. Alguns exemplos de substancias naturais utilizadas na indústria cosmética e suas ações são descritas a seguir, conforme Moraes (2009): 1. Aloe Vera – Composta por aloína, minerais, elastina, colágeno, vitaminas e enzimas, confere emoliência, umectação, adstringência e cicatrização, ativando também o crescimento dos cabelos. 2. Bergamota – Substâncias encontradas em sua casca apresentam propriedades tonificantes, anti-sépticas, cicatrizantes e desodorantes. 3. Camomila – Óleos essenciais, vitamina C, flavonóides e bisabolol conferem propriedades calmantes, cicatrizantes, antisépticas e emolientes. 4. Cacau – Os óleos de suas amêndoas promovem proteção labial e hidratação corporal. 5. Ginseng – Vitaminas, pectina e óleos essenciais encontrados em sua composição promovem ação estimulante e tônica. Segundo relatório do SEBRAE (2008), alguns dos ingredientes naturais mais procurados para a fabricação de cosméticos naturais, são: Óleo de sementes de Maracujá (Passiflora); Óleo de Andiroba (Carapas guianensis); Óleo de Buriti (Mauritia venifera); Óleo de Castanha-do-pará (Bertholletia Excelsa H. B. K.); Óleo de Copaíba (Copaífera offi cinalis. Jacq.); Óleo de Pracaxi (Pentaclethra filamentosa); Manteiga de Cupuaçu (Theobroma grandifl orum); Manteiga de Muru-Muru (Astrocarium murumuru); Manteiga de Ucuúba (Virola sebifera); Mel e derivados. Em virtude do crescente interesse do mercado por produtos naturais houve uma valorização dos óleos essenciais. Segundo relatório da ITC (1998) citado por Krucken (2005) estima-se que 3000 óleos são conhecidos, dos quais aproximadamente 10%, ou seja, 300 são considerados de importância comercial e os que representam perspectivas mais promissoras são: óleos cítricos, vetiver, patchouli, sândalo, mentas, cedro, noz-moscada e cravoda-índia. Na tabela 2 apresentam-se os 20 óleos essenciais mais produzidos mundialmente em 2007, segundo Lawrence (2009). Tabela 2. Top 20 – Produção mundial de óleos essenciais em 2007. Óleos essenciais V (ton.) Óleos essenciais V (ton.) 1. Laranja 51.000 11. Patchouli 1.200 2. Menta Arvensis 32.000 12. Scotch spearmint 1.040 3. Limão 9.200 13. Eucalyptus citriodora 1.000 4. Eucalipto 4.000 14. Cedro China 800 5. Hortelã Pimenta 3.300 15. Litsea cubeba 760 6. Citronela 1.800 16. Native spearmint 750 7. Cravo-da-índia 1.800 17. Cedro Texas 550 8. Sassafrás Chinês 1.800 18. Anis estrelado 500 9. Lima 1.800 19. Mandarina 460 10. Lavandim 1.300 20. Cedro Virginia 300 Fonte: Elaborado a partir de Lawrence, 2009. Na tabela 3 a seguir, encontram-se os óleos de maior produção no Brasil em 2007, segundo o mesmo autor. Tabela 3. Óleos essenciais produzidos no Brasil em 2007 Produção de óleos essenciais brasileiros (toneladas) Laranja 34.000 Cabreúva 10 Eucalyptus citriodora 500 Laranja Petitgrain 10 Lima-da-pérsia 200 Eucalyptus stigeriana 5,0 Sassafrás 50 Palmarosa 5,0 Copaíba 50 Capim limão 3,0 Eucalipto 45 Ylang ylang 2,0 Laranja amarga 40 Caboré 0,5 Mandarina 40 Carqueja 0,2 Lima 40 Cedrela odorata 0,2 Citronela 30 Ayou 0,2 Pau-Rosa 30 Phoebe 0,2 Vetiver 15 Lantana camara 0,2 Hortelã Pimenta 10 Fonte: Elaborado a partir de Lawrence, 2009. O Brasil por sua imensa diversidade biológica torna-se assim um potencial gerador de conhecimento. Neste sentido o acesso ao patrimônio genético, ou seja, a obtenção de amostra de componente do patrimônio genético para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico ou bioprospecção, visando a sua aplicação industrial ou de outra natureza (Orientação Técnica nº 1 do CGEN) é de suma importância para o desenvolvimento de novos produtos, embora algumas normas dificultem a pesquisa devido a questões burocráticas 2.3 Óleos essenciais Segundo a Resolução RDC nº 2 de 15 de janeiro de 2007 da ANVISA, que dispõe sobre o Regulamento Técnico sobre Aditivos Aromatizantes, os óleos essenciais estão compreendidos na classe de “Aromatizantes Naturais” sob a seguinte definição: “São produtos voláteis de origem vegetal obtidos por processo físico (destilação por arraste com vapor de água, destilação a pressão reduzida ou outro método adequado). Os óleos essenciais podem se apresentar isoladamente ou misturados entre si, retificados, desterpenados ou concentrados. Entende-se por retificados, os produtos que tenham sido submetidos a um processo de destilação fracionada para concentrar determinados componentes; por concentrados, os que tenham sido parcialmente desterpenados; por desterpenados, aqueles dos quais tenha sido retirada a quase totalidade dos terpenos”. “Óleos essenciais são óleos aromáticos concentrados encontrados nas várias partes das plantas como as flores, sementes, cascas, raízes e cascas de algumas frutas”. (Food and Agriculture Organization of the United Nations – FAO, 1995). De acordo com a Nomenclatura Comum do Mercosul – NCM (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC, 2008) 1, os óleos essenciais estão classificados dentro do Capítulo 33 – “Óleos essenciais e resinóides; produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações cosméticas” e, mais especificamente, sob a NCM 3301, que segue: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008, NCM 3301, seção VI, Capítulo 33: “Óleos essenciais (desterpenados ou não), incluídos os chamados “concretos” ou “absolutos”; resinóides; oleorresinas de extração; soluções concentradas de óleos essenciais em gorduras, em óleos fixos, em ceras ou em matérias análogas, obtidas por tratamento de flores através de substâncias gordas ou por maceração; subprodutos terpênicos residuais da desterpenação dos óleos essenciais; águas destiladas aromáticas e soluções aquosas de óleos essenciais”. As designações são amplas e possibilitam a comercialização de produtos significativamente diferentes sob a mesma codificação, recaindo sobre alíquotas de tributação semelhantes. Ou seja, o valor de tributação pode ser o mesmo, na 1 A NCM tem por base o Sistema Harmonizado de designação e de Codificação de Mercadorias – SH, método internacional de classificação de mercadorias que apresenta uma estrutura de códigos e respectivas descrições. Este Sistema foi criado para facilitar o desenvolvimento do comércio internacional, assim como aprimorar a coleta, a comparação e a análise das estatísticas, particularmente as do comércio exterior. Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2008. exportação de um óleo essencial bruto, de baixo valor agregado, e de um óleo essencial refinado, com alto valor agregado, pois ambos estarão enquadrados na NCM 3301 (KRUCKEN, 2005). Este é um dos fatores que dificulta a obtenção de dados representativos do setor. 2.3.1 Propriedades dos óleos essenciais A composição química da maioria dos óleos essenciais é muito complexa. Embora possa haver apenas um ou poucos compostos majoritários que são predominantemente compostos de terpeno, podem existir outros em menores teores e alguns em baixíssimas quantidades (traços). Por exemplo, o 1,8-cineol (ou eucaliptol) é o principal composto do óleo de eucalipto e, geralmente, seu teor é em torno de 80%. Entretanto, esta mesma substância foi detectada no óleo de bergamota num teor próximo de 0,002%. Nesses casos, diz-se então, que este composto é um constituinte-traço do óleo de bergamota (SIMÕES e SPITZER, 2003). Para Green (2002) estes compostos traços, ainda que em baixas concentrações, podem modificar fortemente a percepção do aroma. Uma vez que o nariz humano e a língua são órgãos estreitamente inter-relacionados, os óleos essenciais também conferem um gosto e isto é importante na aplicação dos sabores. Na temperatura ambiente os óleos essenciais são líquidos móveis, mas alguns podem cristalizar parcialmente abaixo de 0°C. Todos os óleos essenciais são inflamáveis devido ao seu caráter volátil. Por isso alguns óleos apresentam riscos à saúde e à segurança, que incluem irritações na pele e olhos ou efeitos tóxicos, e estes óleos devem ser manuseados com cuidado. 2.3.2 Óleo essencial de Patchouli Patchouli [Pogostemon cablin (Blanco) Benth.] é uma planta da espécie da família das Lamiaceae e segundo Di Stasi e Lima (2002), trata-se de uma importante família, do ponto de vista medicinal, pois nela se concentra um grande número de plantas referidas e citadas como medicinais em todo o mundo. Conforme Holmes (1997), a planta é originária do sudeste da Ásia e agora cresce principalmente na Indonésia, China, Filipinas, Malásia, Índia, Seychelles e Brasil, sendo a planta uma erva tropical perene. No Brasil, a região de Votuporanga tem a maior área de cultivo de Seringueiras, e as enormes sombras das árvores proporcionam ótimas condições para o crescimento do patchouli. Seu óleo essencial é um líquido viscoso âmbar, produzido por destilação com arraste a vapor, ou outros processos apropriados, como a extração supercrítica. É um óleo usado em perfumaria sendo uma nota de base importante para acordes amadeirado e de raízes. Nas indústrias de fragrâncias e aromas desempenha papel importante, pois é um bom agente de “mascaramento” de cheiros e gostos indesejáveis (HOLMES, 1997). Por ser composto principalmente por sesquiterpenos, que são compostos pesados e por isso de difícil volatilização, o óleo essencial de patchouli é considerado um excelente fixador pela indústria de perfumaria. O óleo de patchouli tem a propriedade rara de melhorar seu aroma com o tempo. Ele é de um marrom-avermelhado profundo e seu aroma tem sido comparado com o de sótãos mofados e casacos velhos, tendo um odor pungente e persistente. Tem um sabor acre, indicando um uso possível em distúrbios do processo digestivo. A Tabela 4 apresenta algumas características do óleo essencial de patchouli. Tabela 4. Características do óleo essencial de patchouli. Nota Doce-amadeirado Sabor Amargo, Pungente e Doce Efeitos Estimulante, relaxante, digestivo Toxicidade oral Nenhuma Irritação da pele Não irritante Sensibilização Nenhuma Fonte: Adaptado de HOLMES, 1997. São atribuídas várias propriedades benéficas tanto à planta quanto ao seu óleo essencial, principalmente por parte dos adeptos de medicina alternativa. Holmes (1997) destaca algumas destas propriedades: estimulante gastrointestinal; antiinfeccioso; antiinflamatório; analgésico; regenerador de tecidos (cicatrizante); repelente e desodorante. Pode ser estimulante em pequenas quantidades e sedativo se usado mais generosamente. É ainda antidepressivo, afrodisíaco e adstringente. A Figura 3 mostra uma fotografia da planta de patchouli, espécie [Pogostemon cablin (Blanco) Benth.], cultivada na cidade de Santo Amaro da Imperatriz – Santa Catarina – e utilizada neste trabalho para extração do óleo essencial de patchouli. Figura 3. Planta de patchouli, espécie [Pogostemon cablin (Blanco) Benth.]. Fonte: Araujo, 2008. O óleo essencial de patchouli será abordado ainda no capítulo 5 (Resultados) deste trabalho, onde foi extraído por hidrodestilação e extração supercrítica. Sua composição foi analisada por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM) e seu perfil organoléptico foi avaliado pelo perfumista francês Olivier Paget. 2.3.3 Características e classificação dos óleos essenciais Os componentes aromáticos de um óleo essencial podem determinar o seu aroma ou a sua fragrância, da mesma forma que a presença de princípios ativos determinará o efeito terapêutico de certos produtos Para Hunter (1996), os óleos essenciais são considerados commodities o que não significa que eles pertençam a um grupo homogêneo de produtos. O mercado de óleo essencial tem sua própria cultura e estratégias de negócio. Krucken (2005) destaca que cada óleo essencial possui especificidades em relação à: 1. características organolépticas (perfil aromático ou perfil odorífero); 2. aplicação industrial; 3. composição química e conteúdo das substâncias de interesse; 4. princípios ativos e propriedades terapêuticas; 5. estabilidade; 6. variações no rendimento e composição do óleo resultante de processos de cultivo e de colheita; 7. qualidade resultante do processo de obtenção; 8. potencial de fracionamento, dentre outros. Possuem ainda, especificidades relacionadas ao comportamento de mercado, à organização dos atores econômicos, à dinâmica de determinação de preço e inserção no mercado e aos objetivos de produção. Hunter (1996), baseado em trabalhos de Naf, Petrzilka and Ehret (apud HUNTER, 1996), propôs uma classificação para os óleos essenciais que pode ser usada para identificar o uso e as características de mercado de cada óleo. Esta classificação é mostrada a seguir: Grupo 1: O perfil organoléptico dos óleos essenciais deste grupo são dominados por um ou poucos constituintes principais. A produção destes óleos essenciais exige alto investimento de capital e mecanização como chave para a vantagem competitiva. O preço destes óleos é relativamente baixo devido à disponibilidade de substitutos (outros óleos essenciais ou aromas sintéticos). Grupo 2: Os óleos essenciais deste grupo são produzidos em plantações com baixo custo de mão-de-obra como uma fonte de vantagem competitiva. As flutuações nos preços ocorrem quando há uma discrepância entra a oferta e a demanda no mercado mundial. Existem poucos substitutos disponíveis para a indústria de aroma e fragrância neste grupo permitindo assim, que os produtores ganhem retornos ligeiramente maiores comparados aos óleos essenciais do grupo 1. Grupo 3: Neste grupo estão os óleos essenciais usados na perfumaria. Estes óleos são avaliados por sua qualidade, complexidade e riqueza do perfil organoléptico. Os custos de produção destes óleos em países desenvolvidos estão aumentando, por isso sua produção está sendo incentivada em países em desenvolvimento, sob o patrocínio de grandes empresas. Estes materiais estão se tornando caros para uso na perfumaria funcional onde podem ser substituídos por reconstituintes. Grupo 4: Como no grupo 3, os óleos deste grupo são avaliados pelo seu perfil organoléptico. A disponibilidade de bons reconstituintes para estes óleos essenciais tem limitado seu uso em aplicações na perfumaria fina. O Quadro 1 exemplifica esta classificação. Grupo 1 Perfil organoléptico dominado por um ou poucos constituintes principais. Características Exemplos Razão volume/preço do produto: alto/baixo à médio; Menta, eucalipto, alguns óleos cítricos, cravoda-índia. O nível dos constituintes químicos é fator importante na sua comercialização; Perfil organoléptico devido a um ou poucos constituintes principais. Razão volume/preço do produto: médio à alto/médio; Compostos de aromas e perfumes; Alguns óleos cítricos usados para solventes de limpeza; Usados em aromas onde se deseja fidelidade ao natural. Óleo facilmente reconstituído. 2 Usos Vetiver, patchouli, sândalo. Compostos de perfumes e aromas tanto na perfumaria fina como na perfumaria funcional. Óleo de rosa, absoluto de jasmim. Perfumaria fina, reconstituições usadas na perfumaria funcional; Óleos herbáceos usados em aromas e começam a ser usados em fragrâncias. Absoluto de mimosa. Perfumaria fina (geralmente são óleos muito caros para uso em Características de aroma e olfato são mais importantes na tomada de decisões; O óleo não é facilmente reconstituído. 3 Estes óleos são caracterizados por constituintes principais, mas a riqueza e a complexidade são devido a constituintes menores. 4 Nenhum dos principais constituintes Razão volume/preço do produto: baixo/alto; As características de olfato são importantes na tomada de decisão e no preço; Em alguns casos estes óleos podem ser reconstituídos eficientemente. Razão volume/preço do produto: baixo/alto; O perfil olfativo é determina o perfil desejado de olfato/aroma importante na tomada de decisão; produtos funcionais. Em muitos casos pode-se produzir bons reconstituintes. Quadro 1. Classes, Características e uso dos óleos essenciais. Fonte: Elaborado a partir de Hunter (1996) e Krucken (2005). Os óleos essenciais dos grupos 1 e 2 tendem a ser tratados como pseudo-commodities, mas a forte diferenciação de produto, baseada nos níveis do constituintes químicos ainda existe, destaca o autor. Já os óleos essenciais dos grupos 3 e 4 são tratados como especialidades e produtos de química fina onde a qualidade desempenha papel importante na determinação do preço. 2.3.4 Critérios para inserção de novos óleos essenciais no mercado O mercado potencial de um novo óleo essencial depende do seu uso e sua aplicação na indústria de aromas e fragrâncias. Hunter (1996) cita uma série de critérios para novos óleos essenciais, baseado no valor percebido por um consumidor final a este novo óleo: a. A novidade de um novo óleo essencial O fator mais importante que caracteriza a novidade de um óleo essencial é a percepção única do seu perfil organoléptico. Desta maneira, o grau de novidade é limitado pela facilidade de se encontrar um substituto. b. O uso potencial e aplicações de um novo óleo essencial Os novos óleos essenciais permaneceriam na curiosidade não fossem os perfumistas e aromistas percebendo as suas aplicações potenciais. É necessário tempo, esforço e imaginação por parte destes profissionais para descobrir aplicações de uso para os novos óleos essenciais. A maioria deles será avaliada sobre estes critérios para que se possa encontrar aceitação como um novo material aromático. c. A facilidade de substituição de um novo óleo essencial É difícil encontrar um óleo essencial que não possa ser duplicado por reconstituição. Um óleo com substituto próximo tem baixo valor para indústria de aromas e fragrâncias, a menos que ele possa oferecer um custo significativo ou a vantagem da estabilidade. A única exceção é quando um novo óleo essencial é uma fonte de um aroma natural. d. A estabilidade de um novo óleo essencial Um dos maiores problemas associados aos óleos essenciais é a estabilidade nos produtos finais. As bases cosméticas frequentemente contêm ácidos graxos livres, mesmo após a neutralização. Óleos essenciais que contêm alto nível de terpenos tendem a polimerizar quando expostos à luz e ao ar, descolorir produtos finais ou não serem estáveis em meios altamente alcalinos ou ácidos. Aromas sintéticos geralmente são mais estáveis do que óleos essenciais e são usados mais extensivamente na área de perfumaria. e. Razão preço de custo/desempenho de um novo óleo essencial A razão preço de custo/desempenho é importante para o potencial de aplicação de um novo óleo essencial. Se o óleo não oferece um aroma/olfato perceptível a baixas concentrações, então seu valor para a indústria de aromas e fragrâncias é gradativamente diminuído a não ser que ele seja muito barato. Um baixo desempenho neste critério fará com que sua aplicação na indústria de cosméticos seja limitada. f. A toxicidade de um novo óleo essencial O custo de experimentar um novo material em compostos de aromas e fragrâncias é a maior barreira para o desenvolvimento de novos materiais aromáticos. A maioria das casas mundiais de aromas e fragrâncias não aceita usar um novo óleo essencial, a menos que ele se encontre nas recomendações de segurança e toxicidade da IFRA2 (International Fragrance Association) e esteja incluído na lista FEMA GRAS3. g. A consistência da qualidade e do fornecimento Materiais naturais variam na qualidade de acordo com a origem geográfica, tipo de solo, nível de nutrientes no solo, clima e tempo, precipitação atmosférica, tempo de colheita, estação, métodos de extração, altitude e etc. O fornecimento contínuo destes materiais pode ainda, ser prejudicado devido a mudanças políticas e a inexperiência de novos produtores. Lançar novos produtos requer alto investimento por parte das indústrias. As Casas de Aromas e Fragrâncias não querem ser rotuladas como incapazes de fornecer a um fabricante um perfume ou fragrância pela indisponibilidade de uma matéria-prima. h. O nível atual de tecnologia Os novos avanços na tecnologia influenciam no valor das matérias-primas aromáticas existentes para as industrias que as utilizam. O desenvolvimento de novas reconstituições de óleos essenciais é interessante para eliminar problemas de toxicidade de alguns óleos. As reconstituições são geralmente mais baratas e estáveis. 2 IFRA (International Fragrance Association) – é o grupo que representa oficialmente a indústria mundial de fragrância. Sua principal finalidade é garantir a segurança dos materiais de fragrância, ajudando ambos, consumidores e meio ambiente. 3 FEMA (Flavor and Extracts Manufacturers Association) e GRAS (Generally Regarded As Safe). A designação FEMA GRAS significa que a substância que recebeu esta classificação foi testada utilizando certos padrões e foi considerada segura para o uso pessoal. O autor sugere ainda que, antes de começar a desenvolver novos óleos essenciais, devem-se levar em consideração algumas questões específicas, tais como: a. Foram identificados usos e aplicações específicos para o novo óleo essencial? b. O novo óleo essencial cumpriu e satisfez uma necessidade particular? c. Estas aplicações e usos são importantes? d. Que materiais são atualmente usados para estas aplicações identificadas? e. Qual deveria ser o preço apropriado deste produto? f. Qual o volume de produção necessário? g. Os consumidores se identificarão com este novo produto? O desenvolvimento de novos óleos essenciais é um processo demorado, caro e a participação de profissionais da indústria de aromas e fragrâncias bem como dos consumidores finais pode trazer incentivos necessários para a motivação continua em longos programas de pesquisa e desenvolvimento. Estes atores desempenham papel cada vez mais importante, podendo comentar e fornecer o feedback das amostras do óleo essencial, podendo exprimir opiniões valiosas à respeito do olfato e auxiliar no desenvolvimento de aplicações. 2.3.5 Sistema de comercialização dos óleos essenciais nos setores de HPPC Entender como os óleos essenciais são comercializados nos setores de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos e como está estruturado este mercado não é trabalho simples e é uma das motivações desta pesquisa. Os principais elos da cadeia de comercialização dos óleos essenciais, que ligam desde os produtores até o consumidor final, são carentes de informações técnicas, científicas e principalmente de mercado. Baseado em trabalhos de Verlet (1993) e Krucken (2005), propõe-se uma organização dos atores econômicos e suas respectivas atividades envolvendo óleos essenciais, que pode ser dividida em sete níveis principais: 1. Produtores de matéria-prima: cultivo e coleta de plantas aromáticas. 2. Indústria processadora: beneficiamento inicial da matéria-prima (extração do óleo bruto). 3. Negociantes: aquisição de óleos em todo o mundo ou em áreas geográficas específicas. 4. Indústria formuladora: compra e processamento das matérias-primas antes de vendê-las para as indústrias transformadoras. As “Casas de Fragrâncias”, por exemplo, utilizam óleos essenciais para criarem fragrâncias que serão posteriormente usadas, pela indústria transformadora, na fabricação de perfumes e cosméticos. 5. Indústria transformadora: aplicação do produto intermediário (fragrâncias, aromas) em produtos finais (cosméticos, perfumes, produtos alimentícios, produtos medicinais). Nessa etapa são obtidos os produtos como eles são encontrados pelo mercado consumidor. 6. Distribuidores: comercialização e distribuição dos produtos finais aos atores que se ocupam da venda em varejo. 7. Consumidores e usuários finais: escolha, compra e utilização dos produtos. É o ponto final da comercialização constituído por grupos de consumidores. Vale ressaltar que, além destes atores envolvidos diretamente na cadeia produtiva dos óleos essenciais, existem os profissionais que trabalham de forma indireta, como profissionais dos setores de legislação e fiscalização, controle de qualidade e ainda as universidades com seus trabalhos de pesquisa. Estes níveis não foram contemplados no contexto da pesquisa, pois não são o enfoque deste trabalho, não diminuindo sua importância na cadeia. Um esquema simplificado do sistema de comercialização dos óleos essenciais dentro dos setores de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos é proposto na Figura 4. Figura 4. Sistema de comercialização dos óleos essenciais: principais atores e respectivas atividades. Legenda: O símbolo do cifrão ($) na figura 4 representa a agregação de valor ao produto em cada nível. Como pode ser observada na figura 4, a cadeia de valor dos óleos essenciais inicia-se a partir da fonte de matérias-primas (plantas aromáticas) e se consolida com o produto final vendido ao consumidor (cosméticos, produtos alimentícios e medicinais e fitoterápicos). Neste percurso cada ator específico corresponde a uma atividade econômica, podendo ser produtores, empresas de pequeno, médio e grande porte, que se articulam nos diversos níveis descritos acima. As linhas pontilhadas evidenciam que, os produtores de matéria-prima e a indústria processadora, por exemplo, podem pertencer a uma mesma organização, assim como a indústria processadora e transformadora podem pertencer a um mesmo grupo. Krucken (2005) faz uma análise interessante da cadeia produtiva dos óleos essenciais: a partir das necessidades e dos desejos do consumidor final, se definem as características do produto final, que consequentemente determinarão a demanda de produtos intermediários e, portanto das matérias-primas. Considera-se que o consumidor final seja, na verdade, o ponto de partida para se iniciar este fluxo de atividades e então a sequência de níveis pode também ser analisada no sentido inverso, como mostrado pelo sentido das setas. Ainda segundo a autora, uma indústria transformadora também pode iniciar o fluxo quando decide investir no desenvolvimento de um determinado produto intermediário, seja com base em uma competência específica que possui ou vislumbrando uma situação de mercado. Neste caso cria-se uma demanda de matéria-prima e consequentemente estimula-se o consumo deste produto. No esquema apresentado observa-se o valor agregado em cada fase da produção de um produto que utiliza óleo essencial em sua composição, ilustrado pelo símbolo do cifrão. Aumentamse os custos, que são facilmente entendidos e medidos, e o valor, que é mais complexo e refere-se ao valor de um produto para o consumidor final. O conceito de valor é muito mais difícil do que a estimativa de custos (KAPLINSKY e MORRIS, 2001). Muitos fatores vão agregar valor ao óleo essencial à medida que ele avança na cadeia produtiva tais como: tecnologias de extração; expertise dos profissionais; design; embalagem; marketing. Os produtores de matérias-primas em geral, entregam produtos “in natura”, com pouca ou nenhuma agregação de valor muitas vezes por falta de conhecimento e equipamentos adequados e nem sempre o produto tem qualidade certificada. Para Fachini et al. (2007), os agricultores familiares brasileiros têm muita dificuldade em compreender que estão sujeitos a um mercado exigente e que se torna imprescindível que observem as características impostas pela demanda. É importante, não só para os produtores, mas para todos os agentes comerciais envolvidos, que eles tenham uma visão do contexto em que estão inseridos para assim, se sentirem parte de um processo e terem uma noção mais bem definida de suas responsabilidades. É interessante que o produtor saiba qual será o destino (cosméticos, perfumes, alimentos, medicamentos) da sua produção, por exemplo. Em relação aos negociantes, eles possuem entre outras funções: a compra dos óleos nos mercados mundiais e a análise e controle da qualidade do mesmo (CBI, 2002). Podem, eventualmente, fazer a retificação dos óleos para adaptá-los às normas comerciais, e ainda podem revender às indústrias formuladoras. Estes negociantes são especialistas em óleos essenciais e alguns integram alguns aromáticos de síntese em sua oferta. Estes atores desempenham papel importante, pois irão definir alternativas mais viáveis entre oferta e demanda de óleos essenciais pela indústria de perfumaria e cosméticos. A distância geográfica dificulta a relação dos atores econômicos envolvidos e faz com que a gestão destas relações torne-se um fator importante para o sucesso no sistema de produção, comercialização e criação de valor dos óleos essenciais. Scheffer (2009) ressalta que pequenas empresas, por consumirem pequenas quantidades de óleos e outros ativos, têm dificuldade de acesso às empresas formuladoras. Estas indústrias, comercialmente conhecidas como “Casas de Aromas e Fragrâncias”, geralmente exigem a compra de uma quantidade mínima de óleo, que para muitas empresas de pequeno porte significa muito em termos de custo e estocagem. A indústria de aromas e fragrâncias, neste trabalho definida como indústria formuladora, é a principal consumidora de óleos essenciais, e é dominada por um número reduzido de empresas multinacionais, que produzem e comercializam fragrâncias e aromas mundialmente. As 10 maiores empresas no segmento de fragrâncias e aromas, em 2008, segundo relatório da Leffingwell & Associates (2008) são: Givaudan, Firmenich, IFF (International Flavors and Fragrance), Symrise, Takasago, Sensient Flavors, T. Hasegawa Co., Frutarom, Mane S.A. e Robertet S.A. Estas empresas detinham aproximadamente 70% do mercado total, avaliado em US$ 20 bilhões em 2008. Deste valor, em torno de 12 % referemse ao mercado de óleos essenciais e extratos naturais (resinóides, concretos e absolutos) e 35% ao mercado de fragrâncias. As seis principais casas de fragrâncias estão na Grande São Paulo e combinadas, representavam em 2001, 90% das vendas no mercado interno em perfumaria e 60% das vendas de aromas (Dierberguer, 2001). Para Jackets (1998), nos últimos anos, houve um movimento rumo a uma consolidação global da indústria de aromas e fragrâncias. As seis empresas líderes aumentaram a lacuna entre elas e as demais indústrias. A lacuna entre essas seis empresas e as próximas quatro, que estão entre as dez primeiras, está aumentando ainda mais e acredita-se que continuará a crescer a menos que haja um investimento significativo ou uma consolidação do grupo das empresas de médio porte ao longo dos próximos anos. O autor destaca ainda a formação de um número de pequenas empresas com faturamento anual inferior a US$ 10 milhões e que criaram unidades de produção com ênfase na experiência inovadora de uma forte equipe técnica. A meta destas empresas é estabelecer um nicho de mercado e sua flexibilidade deu-lhes uma vantagem considerável sobre as maiores empresas. O fundamental é que estas empresas visam não somente o preço, mas estão fortemente orientados para capacitação técnica. Os clientes das indústrias de aromas e fragrâncias estão cada vez mais exigentes em ralação às novas formulações desses produtos. Smith (1998) aponta que os clientes esperam que as fragrâncias tragam benefícios ao produto por meio de uma vasta gama de atributos e características. Isto gera grandes desafios à indústria formuladora em relação à criatividade e maior funcionalidade na criação de novas fragrâncias. O cheiro deve se adaptar ao perfil do produto e à imagem perfeita, mas isso é apenas o começo. Ainda segundo o autor, o cliente pode exigir a inclusão de ingredientes específicos para realizar determinados benefícios funcionais ou de marketing. Esperam-se também serviços de alto nível, inovação e integração com seus fornecedores além do esforço para reduzir custos. A pressão é constante para encurtar prazos de entrega, reduzir o capital de giro e melhorar a relação custo/desempenho dos produtos exigidos. Não há dúvida de que estas exigências têm um efeito profundo sobre essa indústria. Mas, o que permeia a escolha de uma determinada indústria formuladora (Casas de Aromas e Fragrâncias) pelas indústrias transformadoras? A figura 5 ilustra tal questão, onde atributos como confiança, credibilidade, expertise, parcerias, preço entre outros, contribuem para tomada de decisão. Figura 5. Critérios importantes determinada indústria formuladora. para escolha de Estes critérios irão contribuir para a escolha de determinada empresa e sua proposta e ganhará aquela que conseguir demonstrar da melhor forma suas qualidades. 2.3.6 Produção 2.3.6.1 Características e Tendências da produção de óleos essenciais Estimar com precisão o valor da produção mundial de óleos essenciais não é simples. Fatores como mudanças climáticas, má organização do setor e distância geográfica dificultam esta avaliação. A produção de cada óleo essencial deve ser considerada um negócio único devido às especificidades de cada óleo, suas diferentes características e usos. As práticas e padrões de produção mundial de óleos essenciais estão passando por algumas transformações. Segundo Green (2002), a indústria global tem sido caracterizada por realocações periódicas das principais áreas de produção em resposta às mudanças nos custos de produção e desenvolvimento sócio-econômico local. Neste sentido, os países em desenvolvimento tem sido alvo para a produção de alguns óleos essenciais. Os mercados para a grande maioria dos óleos essenciais são muito competitivos tanto para as empresas processadoras quanto para um novo produtor, que tem os desafios de gerar interesse dos compradores e ter um preço altamente competitivo. Além disso, as indústrias processadoras devem produzir uma quantidade mínima de um determinado óleo para expedição e, desta forma, é necessário que se tenha capacidade de aporte para grandes investimentos iniciais. O desenvolvimento tecnológico também tem impacto na produção dos óleos essenciais. As indústrias percebem a necessidade de otimização dos processos de extração para se manterem competitivas. É importante que os óleos essenciais não tenham traços de solventes, indesejáveis para aplicações tanto em aromas como em fragrâncias. Isto se reflete no uso de métodos de extração alternativos – como extração com fluido supercrítico, que possibilita manter as qualidades originais dos óleos essenciais e alta definição no fracionamento. Por outro lado, estas tendências estão aumentando as barreiras para entrada de novas indústrias devido às necessidades de tecnologia e alto investimento. A produção de óleos essenciais no Brasil é caracterizada por contrastes. Embora se tenha riqueza de recursos biológicos e vocação natural para agricultura, existem poucas iniciativas bem sucedidas em converter o potencial em riqueza de fato e, consequentemente, melhoria na qualidade de vida da população local e nacional (KRUCKEN, 2005). A produção brasileira de óleos cítricos vem progressivamente se desenvolvendo desde a década de 1960 e é, sem dúvida, o setor de óleo essencial mais importante no Brasil. A maioria destes óleos são subprodutos da indústria de sucos e consequentemente, sua produção anual dependerá do total da área plantada, das variações anuais das safras e o comportamento do mercado internacional de suco (DIERBERGUER, 2001). O Brasil responde por cerca de 55% de toda a produção de suco de laranja comercializado no mundo. No caso do óleo de laranja, conforme Hahn (2009), o Brasil produz em torno de 45 mil t/ano de peel oil, contido em vesículas localizadas na casca e que são rompidas durante o processo de extração. O rendimento varia ao longo da safra (de junho a dezembro, no Brasil), cerca de 3kg/t pode ser tomado como valor típico. Do total, cerca de 70% é exportado. A produção brasileira de óleo de laranja doce (Citrus sinensis) é a maior do mundo e o estado de São Paulo responde por 85% da produção. Outros óleos produzidos comercialmente no Brasil, segundo Dierberguer, 2001, são: menta (Mentha arvensis), citronela (Cymbopogon flexuosus), capim-limão (Cymbopogon citratus), palmarosa (Cymbopogon martinii), vetiver e patchouli (Pogostemon patchouly). Hoje, a citronela e palmarosa são cultivados nos estados de São Paulo e Paraná e como são culturas de ciclo curto, a área plantada é facilmente aumentada ou diminuída dependendo da procura do mercado e dos preços. O autor destaca ainda que, dos óleos obtidos por extrativismo os mais importantes em termos de volume de exportação são: o óleo essencial da madeira de pau-rosa (Aniba roseodora Ducke) e o óleo essencial de sassafrás (Ocotes pretiosa). O extrativismo provém da colheita de árvores silvestres como matéria-prima para extração de óleo essencial, seria a retirada do produto diretamente do seu ambiente natural. Dos óleos essenciais que são sub-produtos da produção Florestal, Dierberguer (2001) destaca a produção do óleo de eucalipto. Existe uma tendência em usar frações do óleo ao invés do óleo propriamente dito. Os óleos essenciais geralmente contêm muitas substâncias. Se a substância necessária para o produto for superior a 70/80% do conteúdo do óleo então, o óleo em si será geralmente utilizado. Caso contrário, os usuários querem a fração (substâncias aromáticas naturais) que dá um cheiro particular. Por exemplo, o citral a partir do Litsea cubeba e acetato de vetiver do óleo de vetiver. A indústria de perfumes e aromas está principalmente envolvida na extração de óleos essenciais de alto valor, ou na extração onde uma tecnologia específica é necessária. A indústria tem investido na extração de plantas em áreas de produção, estabelecendo acordos com parceiros locais (CBI, 2006). Nota-se grande investimento no desenvolvimento de substitutos sintéticos, cada vez mais competitivos em relação a custo e mais próximos dos componentes naturais. No entanto, existem exigências legais quanto à segurança de produtos sintéticos (e não sintéticos) que atuam como barreiras à entrada dos mesmos. Segundo Krucken (2005), os principais desafios relacionados à produção e à comercialização dos óleos essenciais no diversos níveis, entre outros, são: 1. Dificuldade de garantir fornecimento e gerir a sazonalidade e o estoque de óleos essenciais (tanto por parte do produtor, como do agente comercial e das indústrias); 2. Oscilação e instabilidade do preço de mercado, muitas vezes controlado por grandes indústrias ou grandes agentes comerciais e influenciado pela entrada de novos produtores concorrentes; 3. Dificuldade de desenvolver relações estáveis e de confiança entre produtor e indústria: o setor é consideravelmente fechado para novos entrantes, que devem seguir as regras impostas pelos atores dominantes, muitas vezes não explícitas; 4. Especificidade dos diversos padrões de qualidade em prática, que são determinados pela legislação e/ou pelos compradores, assim como a especificidade e a tecnologia requerida para as análises físico-químicas necessárias; 5. Acesso restrito à informação sobre o mercado nacional e internacional; 6. Complexidade da cadeia de valor, exigindo grande articulação entre os atores para que todo o sistema seja competitivo. Estes fatores evidenciam a importância da articulação e do desenvolvimento de relacionamentos de confiança entre os atores econômicos, do monitoramento sistemático do mercado, da capacidade de investimento em longo prazo, aplicados de forma estratégica e coordenada. 2.3.6.2 Consumo dos óleos essenciais e suas aplicações Um dos pontos positivos dos óleos essenciais é sua versatilidade, ou seja, inúmeras aplicações de um mesmo óleo em vários setores, por exemplo, alimentício, fitoterápicos e cosméticos. E isso o torna ainda mais interessante. Os óleos essenciais podem ser classificados por sua forma predominante de uso conforme destaca Green (2002): Óleos de aromas: são aqueles cuja aplicação principal é a incorporação em produtos aromatizados - refrigerantes e outras bebidas, alimentos processados, confeitaria, tabaco, etc. Este grupo incluem os óleos cítricos, hortelã, óleos herbáceos para culinária. Alguns óleos deste grupo devem ser submetidos a um re-processamento pela indústria especializada em aromas antes de serem incorporados ao produto final. Óleos medicinais: são empregados, por definição, na farmácia. Hoje, este grupo é comparativamente pequeno em termos de volume de uso. O óleo essencial de eucalipto é o exemplo mais conhecido, mas ele também entra no grupo dos aromas. Óleos de perfumaria/fragrância: estes óleos são empregados por suas propriedades aromáticas agradáveis em aplicações que vão desde a incorporação em perfumes de alto valor até detergentes, sabões e aerossóis. Óleos essenciais usados em perfumes incluem patchouli, vetiver e gerânio. Em produtos de consumo de baixo custo é usado, por exemplo, óleo de capimlimão. Óleos industriais: são os óleos usados para subsequente transformação química. Principiais exemplos, em termos de volume, são os óleos de sassafrás e Litsea Cubeba, fontes respectivamente de safrol e citral. Óleos de dupla finalidade: podem ser empregados tanto como fonte de isolados para indústria química quanto como ingredientes de fragrâncias em produtos baratos como sabões e detergentes. Exemplos cita-se a citronela e Eucalyptus citriodora. Segundo o autor, o aumento crescente do consumo de produtos a base de óleos essenciais nos países menos industrializados (mercados emergentes) também é uma forte tendência. O desenvolvimento econômico e o aumento de poder aquisitivo resultaram em aumento da demanda de produtos que incorporam fragrâncias e aromas naturais. Tanto nos mercados industrializados quanto nos novos mercados emergentes, o crescimento real no consumo, em longo prazo, será marcado com óleos usados para fins de fragrância, embora estes enfrentem forte concorrência com as formulações sintéticas mais baratas. As principais aplicações dos óleos essenciais nas indústrias são apresentadas no Quadro 2. Quadro 2. Aplicações dos óleos essenciais nas indústrias. Indústria Cosméticos e produtos de uso pessoal Perfumaria fina Funções e Aplicações Fragrâncias e indicações terapêuticas Exemplos de óleos essenciais usados Camomila, alecrim Aplicações: cremes para tratamentos específicos, preparações para barba, creme dental e óleos para banho Fragrâncias e indicações terapêuticas Lavanda, vetiver, pau rosa, gerânio Aplicações: perfumes e derivados, aromatizadores Componentes isolados Farmácia Fontes de substâncias com propriedades específicas: aromáticas, odoríferas, farmacológicas e/ou terapêuticas Eucalipto, litsea cubeba, capim-limão, citronela, menta, cravo-da-índia Aromas e indicações farmacológicas e terapêuticas Cravo-da índia, Noz-moscada, valeriana, eucalipto Aplicações: preparações para tratamentos específicos e tratamento veterinário, anestésicos Detergentes, refrescantes, Fragrâncias e indicações terapêuticas citronela domossanitários e inseticidas Aplicações: sabonetes e detergentes, repelentes, aromatizadores de ambiente, desinfetantes Aromas e conservantes Alimentos Aplicações: bebidas, alimentos de conveniência Outras Aplicações: adesivos, tintas, plásticos e borrachas, tabaco Menta, cítricos, pimenta preta Cítricos, Mentas Fonte: Elaborado por Krucken (2005) a partir de Bauer, Garbe e Surburg (1985) e Verlet (1995). Nota-se crescente conscientização do consumidor e valorização de produtos “sustentáveis”, “naturais” – que contenham aromas, princípios ativos e perfis olfativos autênticos, originais – e que representaria menor impacto ao meio ambiente em comparação com os produtos convencionais – biodegradabilidade, renovação dos recursos ambientais. O próximo capítulo apresenta a metodologia adotada na pesquisa. 3 METODOLOGIA DA PESQUISA Este capítulo está dividido em: Caracterização da pesquisa; Instrumentos e procedimentos de coleta de dados; e Análise dos dados. 3.1 Caracterização da pesquisa A pesquisa é um modo organizado e sistemático de encontrar respostas para perguntas. É sistemático porque há um conjunto determinado de procedimentos e etapas que o pesquisador seguirá e organizado porque existe uma estrutura ou método de como fazer pesquisa. Método científico é o conjunto de processos ou operações mentais que se deve empregar na investigação. É a linha de raciocínio adotada no processo de pesquisa (SILVA e MENEZES, 2005). A metodologia vai guiar o pesquisador no caminho a ser percorrido na pesquisa, portanto é fundamental a escolha do método em função do objetivo da pesquisa. Como o escopo da presente pesquisa é amplo e há muitas variáveis envolvidas, é difícil encontrar regras rígidas a serem seguidas ao fazer a pesquisa. Para orientar um plano de investigação, foi analisado um conjunto de parâmetros descritos por Henrichsen et al. (1997). Segundo o autor, estes parâmetros são independentes, pois podem ser considerados separadamente, mas estão interligados porque a escolha de um parâmetro irá influenciar a escolha dos outros. Os seguintes parâmetros foram analisados: a) Abordagem Geral: A abordagem sintética analisa a questão ou tema de pesquisa de um ponto de vista holístico, ou seja, o pesquisador tenta entender as partes do problema, olhando para o todo. Já na abordagem analítica o pesquisador tenta compreender todo o fenômeno, olhando para as partes separadas. b) Objetivo de pesquisa: A abordagem dedutiva é impulsionada por uma hipótese particular. O pesquisador tem em mente uma declaração específica e focada e seu objetivo é comprovar ou refutar essa hipótese específica. Em contrapartida, a abordagem heurística inicia-se com poucas hipóteses preconcebidas sobre o foco da pesquisa, desta forma o pesquisador observa um fenômeno, a fim de gerar questões ou hipóteses para pesquisas posteriores. c) Controle sobre o contexto da pesquisa: O baixo grau de controle existe em uma situação onde o pesquisador afeta pouco o contexto em que a pesquisa é realizada, ou seja, ele não apresenta qualquer tipo de tratamento para o grupo de testes. Em um estudo com alto controle, o pesquisador manipula o contexto da pesquisa de várias maneiras, ou seja, ele pode escolher e organizar os grupos a serem testados, ou pode fazer um tratamento específico aos sujeitos. d) Clareza nos procedimentos de coleta de dados: Baixo: Muitos tipos de dados são coletados por pesquisadores e às vezes, os procedimentos ou instrumentos de coleta de dados são relativamente "frouxos" ou abertos, e desta forma os indivíduos têm mais liberdade nas respostas. Além disso, há mais espaço para as decisões pessoais do pesquisador. Alto: Outros procedimentos ou instrumentos de coleta de dados são muito explícitos. Eles seguem procedimentos cuidadosamente controlados e objetivos que permitem pouca variação nas respostas dos sujeitos ou interpretações dos pesquisadores. Ao analisar estes parâmetros e em vista dos objetivos que se pretende alcançar com esta pesquisa chega-se a uma abordagem qualitativa que tende a ser sintética e não analítica. A pesquisa qualitativa é geralmente heurística e tem como objetivo gerar hipóteses com o intuito de descobrir, entender e interpretar o que está acontecendo no contexto da pesquisa. Ela analisa o comportamento que ocorre naturalmente, assim, os métodos de investigação são os menos intrusivos possíveis, ou seja, o grau de controle sobre o contexto da pesquisa é baixo. Portanto, o efeito do pesquisador sobre os temas e os dados é mínimo. E finalmente, o nível de clareza nos procedimentos de coleta de dados também é baixo, ou seja, os dados são mais impressionistas e interpretativos do que numéricos. Considerando ainda que o entendimento do fenômeno de agregação de valor aos óleos essenciais por meio de tecnologias avançadas é incipiente e ainda não consta na literatura de forma definida e consolidada, adotou-se a estratégia de estudo de múltiplos métodos que consistiram de: estudo documental; entrevistas com especialistas do setor e estudo de caso aplicado (óleo essencial de patchouli). Portanto, esta pesquisa é de natureza qualitativa e foi conduzida por múltiplos métodos, tanto para a coleta de dados quanto para a análise e apresentação dos mesmos. Os multimétodos permitem analisar uma questão sob vários pontos de vista. 3.2 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados O objetivo do instrumento é obter os dados para um determinado estudo. Alguns instrumentos utilizados nesta pesquisa foram: entrevistas com especialistas, documentos, relatórios, questionários. Durante a pesquisa foram realizadas entrevistas não estruturadas, o que permite explorar mais amplamente algumas questões, com especialistas de setores diversos como: a) setor acadêmico e pesquisa; b) setor industrial; c) associações dos setores. A presente pesquisa utilizou-se das características, opiniões e conhecimento de especialistas para entender questões da pesquisa. Na definição da amostra das empresas o nível de faturamento das mesmas não foi levado em consideração. Este trabalho tem o interesse de analisar os diferentes pontos de vista das empresas, principalmente em relação aos óleos essenciais. Procurou-se incluir tanto grandes empresas, com níveis de faturamento mais elevados, como também empresas de médio e pequeno porte. No processo de agendamento das entrevistas, no entanto, algumas empresas se recusaram a receber a pesquisadora responsável pelo estudo. Para obter êxito neste processo de agendamento de entrevistas, duas qualidades foram fundamentais: a paciência e a persistência. Além disso, procurou-se inserir na amostra empresas que utilizam diferentes configurações produtivas e de comercialização. Desta forma, foram incluídas: a) empresas diversificadas com atuação na indústria de cosméticos; b) empresas especializadas; e ainda, c) empresas que utilizam formas específicas de comercialização, como franquia e venda direta. Com isto, incorporaram-se na amostra as empresas que utilizam diferentes configurações organizacionais encontradas na indústria de cosméticos. Assim, chegou-se a seis empresas nacionais, a saber: 1. Natura Cosméticos 2. Akakia Cosméticos 3. Alquimia do Banho 4. Ariége Cosmetics 5. Aroma da Terra 6. Extratos da Terra O produtor e proprietário da empresa Destilaria Três Barras, líder nas exportações do óleo essencial de Eucalyptus citriodora no Brasil, Fuad Samir Cury também contribuiu na elucidação de questões desta pesquisa por meio de um questionário enviado por e-mail. Entrevistou-se ainda, o Diretor Executivo e a Coordenadora de Assuntos Econômicos ambos da Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC. O perfumista Olivier Paget, da empresa Mane do Brasil, foi peça fundamental nas análises olfativas dos óleos essenciais extraídos e ainda no entendimento de questões da pesquisa. No contexto deste estudo, as empresas visitadas representam alguns dos atores econômicos envolvidos na comercialização de produtos de higiene, pessoal, perfumaria e cosméticos e muitas desenvolvem produtos que utilizam óleos essenciais em sua formulação. Estas entrevistas nortearam questões como comercialização dos óleos essenciais, dificuldades das empresas para comprar óleos essenciais; características para inserir no mercado novos óleos; importância das tecnologias de extração entre outras questões. As entrevistas foram conduzidas individualmente e pessoalmente e sua duração variou conforme disponibilidade e interesse do entrevistado. Quando permitido pelo mesmo, as entrevistas eram registradas em gravador e através de anotações. O registro dos dados por meio de gravador, melhora a precisão para uma análise posterior. À medida que se foi observando a dificuldade de inserir um novo óleo essencial no mercado, sentiu-se a necessidade de avaliar um óleo utilizado comercialmente e um óleo extraído por um método de extração alternativo e assim analisar suas diferenças e entender porque um óleo está estabilizado no mercado e o outro tem tanta dificuldade de ser inserido. Desta maneira estudou-se o óleo de patchouli cultivado na cidade de Santo Amaro da Imperatriz em Santa Catarina, que foi extraído por meio de duas tecnologias de extração: extração supercrítica e hidrodestilação (comercialmente utilizada). A planta de ESC utilizada neste trabalho está localizada no Laboratório de Controle de Processos da Universidade Federal de Santa Catarina - LCP/UFSC, onde todos os experimentos e procedimentos foram realizados. A planta de extração supercrítica (PESC) do LCP possui os seguintes elementos: a. Compressor de ar (CP) (CSL 20 BR, Schulz, Brasil); b. CO2 (CL) (99,9% de pureza, AGA, Brasil); c. Bomba ou booster Technologies, Alemanha); (BO) (DLE-15, Maxpro d. Tanque pulmão (TP): construído em aço inox 316L, encamisado, com aproximadamente 0,60 m de comprimento e 0,05 m de diâmetro interno; e. Extrator (EX): construído em aço inox 316L, encamisado, com aproximadamente 0,50 m de comprimento e 0,021 m de diâmetro interno; f. Separador de óleos (SO): construído em aço inox 316L, encamisado, com aproximadamente 0,15 m de comprimento e 0,075 m de diâmetro interno; g. Separador de ceras (SC): construído em aço inox 316L, encamisado, com aproximadamente 1,00 m de comprimento e 0,02 m de diâmetro interno; h. Válvula de controle com acionamento pneumático (VC) (807, Badger Meter, EUA); i. Válvula redutora de pressão (VR) (SR-AL, Victor, EUA); j. Válvulas de agulha (VA): construídas em aço inox 316L, 344 bar de pressão e 38ºC de temperatura (SS1VS4, Swagelok, EUA); k. Válvulas de esfera (VE): construídas em aço inox 316L, 344 bar de pressão e 38ºC de temperatura (SS-43S4, Swagelok, EUA); l. Válvula micrométrica (VM): construídas em aço inox 316L; usada para regular a vazão de solvente supercrítico (SS-21RS4, Swagelok, EUA); m. Medidor de fluxo (MF) (PV500LPM0CC, Key Instruments, EUA); n. Banho termostático (BT): construído em alumínio com controle de temperatura (InControl, Brasil); o. Banho termocriostático Microquímica, Brasil); (BC) (MQBTC, p. Transdutores de pressão (TP) (RTP12/BE53R, AEP, Itália); q. Manômetros (MN) (MTR, Brasil). A pressão utilizada na ESC foi de 100 bar e temperatura de 32°C. A extração foi realizada por 180 minutos, tempo estático de 60 minutos e coletas a cada 15 minutos. Para extração dos óleos por hidrodestilação utilizou-se um equipamento de aço inox com controladores de temperatura. A extração foi realizada com 30 kg de massa sólida (patchouli) por um período de 3 horas com temperatura de 105°C. Para comparar os compostos presentes em cada um dos óleos, estes foram analisados por cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM), análises estas conduzidas no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de Blumenau – IPTB, em Blumenau, Santa Catarina. Para tanto foi utilizado um cromatógrafo a gás (CP-3800, Variant) acoplado a um espectrômetro de massas (2000, Saturn) para a identificação e fracionamento dos compostos presentes no óleo essencial de patchouli. Foi utilizada a coluna CP-Sil 8-CB Low Bleed/MS (30m de comprimento x 0,25mm de diâmetro x 0,25µm de espessura do filme). O hélio (He) foi o gás de arraste utilizado a fluxo constante de 1 ml/min. A temperatura do injetor manteve-se em 250°C e a temperatura do forno foi mantida a 50°C por um minuto e, em seguida, aumentada até 240°C a uma taxa de 3°C/min. As seguintes temperaturas foram utilizadas no espectrômetro de massas (MS): temperatura de ion trap (220°C), temperatura do manifold (80°C) e temperatura do transferline (190°C). O software de gerenciamento utilizado no MS foi o Workstation 5.51 (Saturn). A cromatografia gasosa (CG) constitui um processo físicoquímico e serve para separar componentes a partir de misturas de compostos voláteis. Nas aplicações analíticas, é possível o acoplamento com um sistema de espectrometria de massas (CG/EM), que é de grande utilidade na separação e identificação de compostos, como por exemplo, de componentes de óleos essenciais. Os óleos foram ainda, avaliados por um especialista que descreveu os óleos olfativamente e deu um parecer sobre a qualidade e especificidades de cada óleo. As extrações, suas análises, e a avaliação do perfumista trouxeram mais subsídios para entender algumas questões e ainda complementar e enriquecer a pesquisa. 3.3 Análise dos dados Uma vez obtido os dados, deve-se analisá-los. Existem diferentes maneiras de se analisar os dados, podendo ser simples ou complexas. É importante escolher um método que esteja em harmonia com os parâmetros que foram definidos e com o tipo de dados que foram coletados. Após cada entrevista era redigido um relatório para que, posteriormente, fosse feita uma análise cruzada dos dados para então compreender algumas questões da pesquisa. O Capítulo 4 a seguir apresenta os resultados da pesquisa. 4 RESULTADOS: ANÁLISE DE VALOR DOS ÓLEOS ESSENCIAIS Os resultados deste trabalho estão estruturados em 3 partes: a) análise junto a empresas e especialistas; b) análise econômica e tecnológica dos óleos essenciais; c) análise do óleo essencial de patchouli e no último item deste capítulo apresentase uma síntese da pesquisa. As entrevistas realizadas durante este trabalho, juntamente com a literatura pesquisada, e o estudo de caso do óleo de patchouli, trouxeram subsídios para que fossem levantados e discutidos alguns pontos importantes. Os resultados conjuntos de todas as informações coletadas e analisadas são apresentados no item 4.5 - “Síntese dos resultados”. 4.1 Análise junto a empresas e especialistas Uma breve contextualização das entidades consultadas é apresentada a seguir: a. Natura Cosméticos – Cajamar/SP A Natura é uma empresa que atua no mercado de cosméticos, vendendo produtos inovadores essencialmente produzidos com elementos naturais tipicamente encontrados na flora brasileira. Utiliza como matérias-primas, entre outras, os óleos de Castanha-do-Brasil, Priprioca (raiz), Andiroba, Cupuaçu, Breu Branco (resina), Murumuru e Buriti. A empresa utiliza a venda direta (porta-a-porta) como meio de comercializar seus produtos, contanto com mais de 800 mil consultoras e consultores. Considerando a presença em todos os mercados em que atua, a empresa possui atualmente mais de cinco mil colaboradores envolvidos diretamente com sua produção. Nos últimos quatro anos, a Natura aumentou significativamente o seu marketshare e hoje é líder no seu ramo de atuação no Brasil. Neste trabalho, a empresa entraria na definição de “indústria transformadora” (assim como a maioria das empresas entrevistadas), ou seja, ela se utiliza de produtos intermediários (fragrâncias) para posterior aplicação em produtos finais (cosméticos e perfumes). b. Akakia Cosméticos – Palhoça/SC A empresa foi fundada em 2005 e vem conquistando rapidamente o mercado nacional, possuindo em seu portfólio mais de 300 itens entre femininos, masculinos e infantis. Diferentemente da empresa Natura, a estratégia adotada pela Akakia para comercializar seus produtos é por meio de franquias. Em apenas dois anos foram abertas mais de 120 franquias, tornando a Akakia a franquia de cosméticos que mais cresceu no Brasil em 2007. c. Aroma da Terra – São José/SC A Aroma da Terra é uma empresa que fabrica e comercializa sua própria linha de cosméticos. O laboratório, localizado em Mem Martins, no Concelho de Sintra, Portugal, garante a produção, investigação e desenvolvimento dos seus produtos, exclusivos e de alta qualidade, para atender as necessidades do consumidor europeu. A empresa apostou no seu desenvolvimento na América Latina fundando o seu segundo laboratório de produção e investigação no Brasil, localizado em São José, Santa Catarina. A Aroma da Terra tem uma linha de aromaterapia que utiliza óleos essenciais, muitos deles importados. Existe ainda a área de aromatizadores de ambientes que utilizam em média 16 óleos essenciais em sua composição. Por não possuírem todos os equipamentos necessários para avaliação da qualidade do óleo adquirido, a confiança na hora da compra é um quesito importante, entre outros atributos que são levados em consideração, como ilustrado pela Figura 6. Figura 6. Atributos importantes na escolha de determinado agente comercial. d. Ariége Cosmetics – São José/SC A Ariége Cosmetics é detentora das marcas Fitoessence e Bioscience e tem em seu portfólio produtos para diversas necessidades como: shampoos, condicionadores, creme para as mãos, esfoliantes corporais e faciais, sabonetes líquidos, aromatizantes bucais, entre outros. Na área de perfumaria, a empresa utiliza como inspiração para desenvolver seus perfumes o chamado “contra-tipo”, que é um perfume já conhecido e que é tendência no momento. Esta é uma prática comum na maioria das empresas de pequeno porte, que se utiliza deste tipo de estratégia tornando mais fácil a venda do produto. As empresas apresentam um briefing às Casas de Fragrâncias sobre o que desejam e solicitam que ela chegue o mais próximo da essência conhecida. De acordo com a faixa de preço estabelecida pela empresa cosmética serão selecionadas as matérias-primas utilizadas, que poderão ser óleos essenciais naturais, sintéticos, nacionais ou importados. e. Extratos da Terra – Palhoça/SC A empresa “Extratos da Terra” surgiu da necessidade de se trabalhar com produtos naturais em virtude de uma carência de mercado nesse aspecto. Levando em consideração essa necessidade a empresa passou a desenvolver produtos nas linhas capilar, corporal, de higiene e facial. A limitação de recursos da empresa para pesquisa e desenvolvimento, assim como para muitas empresas de pequeno porte, dificulta o desenvolvimento de novos produtos. Desta maneira, as parcerias com fornecedores de matérias-primas trazem o suporte necessário para o lançamento constante de novos produtos. Estes fornecedores apresentam relatórios de tudo o que foi lançado em um determinado período de tempo. Apresentam os conceitos de inovação de produto. A Extratos da Terra tem parceria, por exemplo, com a multinacional alemã Cognis, recebendo tanto o suporte da Cognis alemã, quanto da brasileira, chilena e argentina. A própria empresa fornecedora apresenta relatórios do que é tendência, na Europa, EUA, América do Sul. Com isto a Extratos da Terra analisa as tendências e traz para a realidade brasileira. A empresa adapta seus produtos a fatores como o clima local e o tipo de pele da população. Estas parcerias surgem do interesse das próprias empresas fornecedoras no intuito de vender seus produtos. f. Alquimia do Banho – São José/SC A Alquimia do Banho é uma empresa nova no mercado, fundada em maio de 2005 com o objetivo de produzir uma linha de cosméticos diferenciada e acessível. Iniciou com uma pequena linha de produtos, tendo como principal produto seus sabonetes artesanais, e hoje oferece uma linha completa de cosméticos para o uso diário, higiene pessoal, acessórios para banho entre outros produtos. Toda a linha é formulada com produtos naturais, extratos de flores, frutas, sementes e óleos vegetais. A empresa cita como empecilho na aquisição de óleos essenciais o preço dos mesmos, o que encarece muito o produto final. Existe ainda o difícil acesso às empresas formuladoras ou Casas de Aromas e Fragrâncias, que muitas vezes não se interessam pelas pequenas empresas, pois estas consomem pequenas quantidades. A distância geográfica também é levado em consideração, pois se soma aí o custo com transporte, mais uma vez encarecendo o produto final. g. Destilaria Três Barras – Torrinha/SP A Três Barras é uma empresa familiar, que está a mais de 50 anos no mercado produzindo e comercializando óleos essenciais, sendo líder nas exportações do óleo essencial de Eucalyptus Citriodora no Brasil. A empresa extrai óleo de patchouli pelo processo de hidrodestilação a mais de quatro anos e aponta as dificuldades de inseri-lo no mercado. h. Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos – ABIHPEC – São Paulo/SP A Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos - ABIHPEC é a entidade que representa, nacional e internacionalmente, empresas relacionadas à produção, promoção e comercialização de produtos acabados e insumos destinados aos cuidados pessoais. Estas associações são de vital importância, pois dão maior credibilidade especialmente quando se lida com os órgãos governamentais. Um trabalho coeso e harmônico entre as associações, órgãos governamentais e ainda as comunidades locais traz benefícios para a indústria. Mais informações sobre estas empresas encontram-se no anexo II desta pesquisa. 4.2 Análise Econômica É notável o crescente interesse do mercado por produtos naturais, o que estimula o crescimento de indústrias cosméticas e de perfumaria focadas neste nicho. Neste sentido, os óleos essenciais exercem papel fundamental e sua utilização cresce nestes setores a ainda nos produtos de aromaterapia e aromatizadores de ambiente, sem contar a indústria farmacêutica que também usufrui dos seus benefícios. Os óleos essenciais trazem à tona o que o Brasil tem de mais precioso - a sua riqueza aromática, a maior do planeta, fazendo com que o país seja a fonte mais promissora de aromas e fragrâncias naturais do mundo. Apesar disso, o setor de óleos essenciais no Brasil ainda é desarticulado e falta interação no sentido de fortalecer os elos da cadeia de produção de matériaprima, extração de óleo, industrialização do produto final e comercialização. Para Krucken (2005) existe a necessidade de estimular ações que contribuam para a reorganização e consolidação da cadeia produtiva dos óleos essenciais, com envolvimento de políticas públicas para o desenvolvimento do setor agroindustrial. Para a autora, a origem do óleo essencial brasileiro não é comunicada e não se observa a existência de uma ação coordenada para promover a imagem e a origem da matéria-prima (made in Brazil). “O potencial do óleo essencial brasileiro não é convertido de forma sistemática em valor (econômico, cultural, ambiental) para o local/nação”. Essências, extraídas de flores, frutos, raízes, sementes, folhas e cascas de plantas nativas da Amazônia, ajudam a formar, embora de maneira tímida, a imagem e a identidade do Brasil em perfumaria no exterior. Na Amazônia, o maior reservatório de plantas do mundo, há mais de 300 mil espécies aromáticas identificadas. O Brasil apesar de comercializar grandes volumes de óleos essenciais, a oferta é limitada e os óleos são de baixo valor agregado (principalmente óleo essencial de laranja, outros óleos cítricos, óleo essencial de eucalipto), o que caracteriza o país como produtor. O óleo de origem brasileira é exportado em forma bruta, como commodity, e importado na forma de mercadorias processadas, em vários níveis (óleos essencial padronizado, isolado, blendings para aromas e fragrâncias e produtos finais) e na maioria das vezes com alto valor agregado. O processo de extração do óleo essencial é uma das maneiras de agregar valor ao produto obtido e neste sentido o processo de extração por fluido supercrítico se destaca pelas características do seu processo e que serão discutidas a seguir mais detalhadamente. A Figura 7 apresenta uma comparação entre os custos de processamento (cultivo da planta, moagem, secagem, extração) e o valor que o óleo de patchouli (extraído pelo processo de extração supercrítica) pode chegar ao mercado em função da concentração de patchoulol, por exemplo. Figura 7. Custos de processamento versus valor no mercado, para o óleo de patchouli obtido por extração supercrítica. Nota: Figura meramente ilustrativa. Os valores não são reais, visto a dificuldade de obter dados representativos neste setor, mas dão uma idéia do potencial de valor que se pode agregar ao produto por meio de uma tecnologia de extração. Analisando a Figura 7 e fazendo-se uma simulação de valores, pode-se notar que enquanto os custos de processamento, por quilograma de carga, aumentam de US$ 1,00 para US$ 3,5 quando a concentração de patchoulol aumenta de 5 para 20 vezes, o valor do óleo no mercado pode aumentar de US$ 10,00 para US$ 100,00. Assim como afirmaram Donelian (2004) e Araujo (2008), a qualidade do óleo essencial de patchouli é determinada, entre outros atributos, pela presença do composto patchoulol, responsável pela nota característica deste óleo essencial e de sua capacidade fixadora de aromas. Para aumentar sua concentração podem-se controlar melhor as condições do processo de extração e ainda alterar as condições ambientais. Estes são custos relativamente baixos se comparado ao valor que este óleo pode chegar ao mercado. 4.3 Análise Tecnológica A transformação do material vegetal para um produto tecnologicamente elaborado, que pode ser intermediário ou acabado, implica na utilização de operações de transformação tecnológica (SONAGLIO et al, 2003). Existe hoje uma maior exigência em relação à segurança tanto de produtores quanto de consumidores, para o desenvolvimento de novos produtos ou processos. Desta maneira, a regulamentação sobre o uso de solventes perigosos, cancerígenos ou tóxicos, assim como os altos custos de energia tornaram-se pontos importantes a serem discutidos. Na área das pesquisas vem ocorrendo um maior esforço para agregar valor aos óleos essenciais de plantas tradicionalmente cultivadas, e as tecnologias de extração são um dos meios para se atingir este objetivo. As metodologias alternativas de extração que surgem como meio de suprimir a vantagem competitiva dos materiais sintéticos, devem satisfazer tanto as preferências dos consumidores quanto o controle regulamentar e, obviamente, devem ser rentáveis. Umas dessas importantes tecnologias que surgiu nas últimas duas décadas, como uma alternativa à extração tradicional de produtos naturais por solventes, é a técnica de extração por fluido supercrítico. A extração supercrítica (ESC) surge como uma alternativa para suplementar e até substituir os sistemas de separação convencionais (destilação ou extração com solventes orgânicos líquidos) já que seu rendimento energético e efetividade de separação são bons (GÓMEZ e OSSA, 2002). A ESC utiliza um solvente limpo, seguro, de baixo custo, não inflamável, não tóxico, tal como o dióxido de carbono. Além disso, os custos energéticos associados a esta técnica de extração são inferiores aos custos em relação ao tradicional método de extração por solvente, ressalta Mukhopadhyay (2000). A tecnologia de extração por fluido supercrítico vem cada vez mais ganhando importância em relação às técnicas convencionais de extração de produtos naturais, podendo obter extratos com alta pureza. Para Hunter (1996) a composição de um óleo essencial pode ser alterada, modificada ou quimicamente mudada durante o processo de extração. Esta mudança pode ser mínima, mas um especialista da área perceberá o efeito desta mudança no aroma. Portanto, qualquer extrato aromático natural nunca capturará o mesmo aroma da fonte original. O objetivo do processo de extração, com raras e notáveis exceções, é isolar o material aromático da fonte com a mínima interferência e modificação do odor possível. Isto influencia o método de extração selecionado. Quando se trata de obter óleos essenciais, a escolha de um método de extração adequado é fundamental, a fim de não comprometer suas propriedades. Os solventes orgânicos utilizados nos processos de extração e purificação de ingredientes ativos de plantas podem ser perfeitamente substituídos por outras formas de extração e purificação de moléculas, conforme se tornou viável pelo emprego da tecnologia de fluidos supercríticos, possibilitando obter produtos de maior qualidade. O calor usado no ato da extração por solvente também pode interferir na qualidade final do óleo essencial, pois no momento da extração pode haver a degradação de compostos termo sensíveis e ainda deixar traços de solvente tóxico no óleo obtido. Contaminações do próprio solvente também podem alterar a qualidade do óleo obtido. O desenvolvimento de um método de extração mais efetivo exige conhecimentos da estrutura celular da planta e a composição do aroma dentro da mesma, e a aplicação destes conhecimentos para aperfeiçoar o processo de extração requer repetidas modificações no equipamento de extração e contínuos refinamentos do método usado. Existem várias vantagens para se optar pelo uso da extração supercrítica na indústria cosmética em substituição ao uso de solventes como hexano, éter de petróleo e metanol. O óleo essencial obtido pelo processo de extração supercrítico não contem nenhum resíduo do fluido supercrítico e possui aroma muito similar à planta viva. Considera-se este método como sendo o que permite obter os óleos essenciais de melhor qualidade e que apresentam o perfil organoléptico mais natural, mas por causa do custo do equipamento, normalmente tem um preço superior. Moyler (1998) faz uma comparação do preço e rendimento do óleo de cravo e óleo de gengibre para duas tecnologias de extração, como mostrado na Tabela 5. Tabela 5. Comparação de preço e rendimento do óleo de cravo e gengibre para duas tecnologias de extração. Processo de extração Óleo de cravo Rendimento Preço Hidrodestilação 16 % $30/kg – óleo puro Extração com CO2 18 % $50/kg Hidrodestilação 2% $140/kg – óleo puro Extração com CO2 3% $170/kg Óleo de gengibre Fonte: Adaptado de Moyler, 1998. Na tabela 5 observa-se que os rendimentos de extração com CO2 são muito similares àqueles obtidos por processos de extração convencionais, mas isto requer conhecimento do processo e certa combinação de pressão e temperatura de operação. Para Moyler, as seguintes considerações são importantes para quem quer utilizar a tecnologia de extração por CO2: 1. Fazer uma comparação do preço de extratos obtidos por este método; 2. Comparar os rendimentos, e como este varia com a pressão do CO2 utilizada para a extração, 3. Alguns produtores deixam água e ceras nos óleos, que posteriormente devem ser removidos e, portanto, trazem custos adicionais e diminuem a quantidade de ingrediente útil; 4. Comparar a solubilidade do produto; 5. Verificar a solidez de fornecimento em longo prazo. A extração supercrítica apresenta vantagens em relação a outras técnicas de extração: o processo é flexível devido à possibilidade de modulação contínua do poder solvente; seletividade do fluido supercrítico; não há a necessidade de utilizar solventes orgânicos poluentes e assim eliminam-se os altos custos com pós-processamento dos extratos para purificação. Segundo Grossman (2005), o CO2 retira de forma seletiva o óleo essencial e a fração mais leve das resinas, rejeitando proteínas, ceras, carboidratos, pigmentos e clorofila, extraindo precisamente o aroma e o sabor que o processo de destilação muitas vezes não consegue fazer. Durante o processo de destilação, há degradação de material celular, incluindo proteínas e outros componentes, gerando quantidades de nitrogênio e compostos sulfúricos que se traduz em notas de mau odor. Ao selecionar um extrato de produto natural para inclusão em uma fragrância, a escolha da técnica de extração adequada, com base na análise do produto final, faz com que muitas vezes evitem-se problemas em uma fase posterior do desenvolvimento de produtos. Hunter (1996) destaca que o desenvolvimento de novos óleos essenciais pode tornar-se inviável, pois é caro, demorado e demanda recursos. Antes de se fazer qualquer pesquisa ou desenvolvimento deve-se definir o escopo e os limites do projeto. É importante criar objetivos de desenvolvimento claros para o projeto, identificar os recursos necessários e definir os limites de custo. 4.4 Resultados do estudo de caso aplicado: óleo essencial de patchouli Um dos objetivos desse estudo é identificar os fatores que determinam o acesso de novos óleos essenciais no mercado de aromas e fragrâncias e avaliar a importância do uso de tecnologias avançadas de extração na agregação de valor destes óleos e analisar se este aporte tecnológico é percebido pelo mercado. O que se observou com os óleos essenciais é que um produto de alto valor tecnológico não é imperativo de sucesso nem quer dizer que será um produto absorvido pelo mercado. Para atingir tal objetivo foi realizado um estudo da presença de importantes compostos no óleo essencial de patchouli [Pogostemon cablin (Blanco) Benth.] extraído por meio de duas tecnologias de extração: hidrodestilação e extração supercrítica, e desta forma avaliar a qualidade de cada óleo essencial obtido. Para identificar os compostos presentes em cada um dos óleos, foram feitas análises em cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (CG-EM) e análises olfativas realizadas por um perfumista também foram fundamentais. Foram analisadas cinco amostras de óleo essencial de patchouli 4. Duas delas são de óleos extraídos por extração supercrítica (amostras 4 e 5); duas amostras são óleos extraídos por hidrodestilação (amostras 1 e 3) e a amostra número 6 é do óleo essencial de patchouli comercialmente usado (extraído por hidrodestilação). As plantas de patchouli, estudadas neste trabalho, são cultivadas na cidade de Santo Amaro da Imperatriz, no estado de Santa Catarina, e de forma orgânica, apresentando o mesmo genótipo. As diferentes condições ambientais a que foram expostas tornam seus fenótipos diferentes, portanto com características diferentes. Depois de cultivadas, as plantas foram colhidas na mesma época do ano e da mesma forma, e passaram pelo mesmo processamento (moagem, secagem) antes de se fazer a extração do óleo. Um dos compostos de interesse presentes no óleo essencial de patchouli é o patchoulol principal composto responsável por ser fixador de aromas e mascarar odores desagradáveis e indesejáveis. Porém, a qualidade do óleo não depende somente do teor de um princípio ativo e sim da ação simultânea de vários compostos, entre eles o α-patchouleno, β-patchouleno e αguaieno. Para identificar e definir um óleo essencial geralmente se estabelece um teor mínimo de determinadas substâncias. A ISSO3757 (2002) estabeleceu que para ser reconhecido como um óleo essencial de patchouli, entre outros critérios, o mesmo deve conter no mínimo 27% de patchoulol. Mas isso não é suficiente para garantir a qualidade de um óleo, visto que se consegue extraí-lo com até 42% de patchoulol e ainda assim este produto apresenta dificuldades de ser inserido no setor. A Figura 8 traz uma comparação entre os cromatogramas de íons totais referentes às amostras de óleo de patchouli. RODAPÉ - 4 A amostra de número dois foi um experimento à parte do trabalho e não entra no contexto da pesquisa, mas está contida nos cromatogramas apresentados no Anexo B deste trabalho. Uma vez que todas as amostras foram analisadas pelo mesmo laboratório optou-se por permanecer a numeração 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Desta forma a numeração das amostras coincide com a numeração das figuras presentes no Anexo B. Figura 8. Comparação entre os cromatogramas de íons totais referentes às amostras 1,3,4,5 e 6. Pela observação da figura 8 fica nítido que os cromatogramas de todos os óleos, tanto os obtidos por hidrodestilação quanto os óleos obtidos por ESC e o óleo utilizado pelo mercado, são muito semelhantes. Para melhor visualizar os compostos correspondentes a cada um dos picos, a figura 9, a seguir, traz o cromatograma da amostra número 1 com os respectivos picos identificados. Figura 9. Cromatograma da amostra 1 com os 12 picos identificados. A Tabela 6 traz os compostos identificados referentes a cada pico. Tabela 6. Compostos identificados na análise em CG-EM referentes a cada pico. Pico Tempo de retenção (min) Constituinte sugerido 01 26,045 β-patchouleno 02 26,292 β-elemeno 03 27,304 tujopseno-cis 04 27,541 β-cariofileno 05 28,344 α-guaieno 06 28,800 seicheleno 07 29,292 α-patchouleno 08 29,392 allo-aromadendreno 09 29,525 β-guaieno 10 30,708 valenceno 11 31,056 α-bulneseno 12 37,535 patchoulol A Tabela 7 mostra os percentuais relativos de cada composto encontrado para cada uma das amostras de óleo. Tabela 7. Comparação dos percentuais relativos às amostras 1,3, 4, 5, e 6. Pico % Relativo amostra 1 % Relativo amostra 3 % Relativo amostra 4 % Relativo amostra 5 % Relativo amostra 6 01 4,35 3,43 2,71 2,37 3,26 02 1,06 0,91 0,85 0,82 1,13 03 1,03 0,92 0,87 0,77 0,81 04 4,29 3,53 3,53 3,24 3,33 05 16,36 14,67 14,91 13,23 13,00 06 8,80 8,05 7,51 6,65 7,27 07 6,22 5,68 5,23 4,84 5,11 08 2,48 2,14 1,94 1,70 1,91 09 1,80 1,69 1,58 1,46 1,49 10 4,19 3,73 3,38 3,49 3,29 11 16,18 14,09 13,99 13,55 13,80 12 24,15 30,42 29,88 27,55 29,94 Total 90,91 89,26 86,38 79,94 84,34 Legenda: Amostra 1: óleo de patchouli extraído por hidrodestilação – lote 1 Amostra 3: óleo de patchouli extraído por hidrodestilação – lote 2 Amostra 4: óleo de patchouli extraído por extração supercrítica – lote 1 Amostra 5: óleo de patchouli extraído por extração supercrítica – lote 2 Amostra 6: óleo de patchouli utilizado comercialmente (extraído por hidrodestilação) O relatório completo das análises cromatográficas está no anexo B - Relatório de Análises Cromatográficas. Analisando-se os resultados e considerando-se a variação na proporção de cada componente, pode-se assumir que todos os óleos são muito semelhantes. Os compostos obtidos por ESC são os mesmos que os do óleo obtido por hidrodestilação. Este resultado já era esperado como se pode observar em outros trabalhos científicos (ARAUJO, 2008; DONELIAN, 2004). Destas análises, poder-se-ia dizer que se trata do mesmo óleo. No entanto, análises olfativas demonstraram uma diferença enorme entre eles. Dos 12 picos que aparecem nas análises, os mais fortes e característicos do patchouli, segundo perfumista consultado, são os de número 1 (β-patchouleno), 7 (α-patchouleno) e 12 (patchoulol). Mas podem existir traços de compostos químicos muito potentes, que não aparecem, pois podem estar presentes em baixas concentrações. Ainda assim, estes compostos influenciam muito no aroma do óleo e um perfumista perceberá, o que leva a concluir que um olfato bem treinado pode ser mais sensível que uma analise cromatográfica ou que o olfato do ser humano é mais específico para determinados compostos. As notas de saída, avaliadas nas primeiras 6 horas de evaporação, foram assim qualificadas: para as amostras 4 e 5 (óleos obtidos por extração supercrítica), a avaliação do perfumista foi a seguinte: “Fica longe do referencial do Patchouli de uso comercial, longe da nota conhecida de Patchouli”. Para a amostra 4, o aroma do óleo essencial lembra a essência de Lavandula stoechas e depois de 5 horas, cheiro próximo da essência de Copaíba e incenso. A amostra 5 lembra cheiro de folhas secas, até de grama seca. Para as amostras 1 e 3 (óleos obtidos por hidrodestilação), as avaliações foram: amostra 1: “cheiro de folhas secas tipo chá”. Para o perfumista, as notas de saída, não se aproximam da qualidade comercial, mas com o decorrer da evaporação, se aproxima de um patchouli comercial faltando alguma nota do lado terroso. A amostra 3, “tem bom cheiro de patchouli, com o “cheirinho” das folhas de cultivo que passaram pelo processo de hidrodestilação, lembrando folhas de espinafre”. A amostra 6, que é o óleo de patchouli utilizado comercialmente, foi avaliada e teve as seguintes considerações: “potente, levemente defumada, não é tão próximo do referencial habitual de Patchouli”. Depois de cinco dias, as amostras foram novamente analisadas, agora para avaliar as notas de fundo, e a conclusão foi a seguinte: “o cheiro típico amadeirado e “mofo” de patchouli esta bem presente em todas as fitas sendo que na amostra 1 o cheiro é mais fraco”. As amostras 3,4,5 e 6, segundo perfumista, são similares, com preferência para a n.o 5, que é a mais rica e reproduz o cheiro forte de patchouli. Na amostra 5, os picos 1(β-patchouleno), 6 (seicheleno), 7 (α-patchouleno), 8 (allo-aromadendreno) e 9 (β-guaieno) são os mais baixos da tabela, mas conforme análise olfativa é a melhor essência de corpo e fundo, mesmo possuindo baixo teor de Patchoulol (27,55%). É curioso, porque se espera que um óleo de patchouli com maior teor deste composto tenha um aroma mais característico. O óleo de patchouli usado na perfumaria e reconhecido pelos perfumistas é o óleo que vem da Indonésia e geralmente é extraído por hidrodestilação. Este processo utiliza alta temperatura, capaz de quebrar ou volatilizar moléculas termosensíveis durante o processo de extração. Então, o óleo obtido por tal processo pode ter seu aroma alterado, pois moléculas importantes podem não estar mais presentes. O óleo obtido por ESC por sua vez, é mais puro uma vez que não deixa resíduos do fluido supercrítico, não possui resíduos de solventes e apresenta um perfil organoléptico superior por não haver degradação de compostos pelo efeito de temperaturas elevadas. São vantagens que o tornaria mais interessante e, portanto requisitado pelo mercado. Não é o que se observa, pois existe uma série de outros fatores que irão determinar se um novo óleo será ou não absorvido pelo mercado, conforme apresentado na síntese dos resultados. 4.5 Síntese dos resultados A partir das três abordagens utilizadas nesta pesquisa entrevistas, análise documental e estudo de caso do óleo de patchouli - chegou-se a síntese final, ilustrada pelo Quadro 3 e discutida posteriormente, de forma mais detalhada. Fatores que influenciam a entrada de novos óleos essenciais no mercado Padronização do óleo Capacidade de atender a demanda do mercado Qualidade da matéria-prima vegetal Critérios de qualidade do óleo essencial Gestão da relação fornecedor-comprador Influência das grandes empresas Percepção dos perfumistas Óleo “comercial” A importância do “novo” Importância das tecnologias de extração Papel do consumidor final Quadro 3. Quadro sinóptico: Fatores que influenciam a entrada de novos óleos essenciais no mercado. a. Padronização do óleo A variação inerente da qualidade dos produtos naturais e as flutuações de sua qualidade organoléptica tornam sua padronização uma tarefa árdua. No caso dos óleos essenciais, suas especificidades exigem estudos mais detalhados. Para o produtor de um novo óleo entrar no mercado, é necessário, antes de tudo, que ele tenha condições de fornecer o seu óleo com o mesmo padrão de qualidade. Óleos essenciais são produtos naturais e, portanto, sofrem interferências das condições edafoclimáticas, ou seja, tem suas características alteradas em função de fatores como o clima, relevo, temperatura, umidade do ar, radiação, tipo de solo, vento, e a precipitação pluvial. Isso quer dizer que, plantas cultivadas em regiões diferentes, ou mesmo na mesma região sob diferentes técnicas, ou colhidas em momento distinto, também se traduzem em óleos essenciais diferentes. É imprescindível que o produtor tenha um controle rigoroso do processo de extração e que os parâmetros de qualidade sejam bem estabelecidos, para que desta forma possa haver uma reprodutibilidade do seu produto. As Casas de Aromas e fragrâncias não podem correr o risco de terem flutuações nas características de um mesmo óleo. Isso certamente trará complicações no processo de formulações de aromas e fragrâncias e acabará refletindo na qualidade do produto final. Com uma gama enorme de matérias-primas à disposição de perfumistas, se um novo produtor não conseguir ter padrão de fornecimento do seu óleo essencial, mantendo sempre a qualidade, é provável que as Casas de Fragrâncias eliminem seu produto do portfólio. Embora atributos como preço, disponibilidade, relação custo/desempenho também sejam necessários para um novo óleo se manter no mercado, eles não são suficientes. b. Capacidade de atender a demanda do mercado Uma vez que um produtor não tenha condições de fornecer seu óleo em nível mundial torna-se difícil seu acesso a este mundo de fragrâncias e aromas, a menos que este óleo seja um produto único, uma especialidade, e que seu valor seja percebido por especialistas. Isso, se ele conseguir transpor as barreiras de entrada a este desafiador mercado e se conseguir, antes de tudo, cair nas graças dos perfumistas. Os óleos essenciais são matérias-primas importantes para a indústria de aromas e fragrâncias, que não podem parar uma linha de produção por falta delas, assim, acabam comprando de fornecedores tradicionais, que já possuem um histórico de fornecimento. Neste sentido é importante o produtor ter a capacidade de perceber se sua escala de produção é viável para atender a demanda e para se adaptar às exigências do mercado. c. Qualidade da matéria-prima vegetal Visto que a qualidade do produto final está diretamente ligada à qualidade da matéria-prima selecionada, a produção de óleos essenciais deve estar baseada na qualidade de todo seu processo. Dependendo da procedência do material vegetal (origem geográfica, condições de colheita, processo de secagem) poderá haver variações na composição química, na pureza e até mesmo nas características organolépticas do óleo obtido, e isso será percebido por especialistas da área. Daí percebe-se a importância da rastreabilidade da matéria-prima, ou seja, manter os registros necessários para identificar os dados relativos à origem da planta, que muitas vezes fica em segundo plano em relação ao preço. O caminho percorrido pelas matérias-primas, que vai desde o produtor até a indústria transformadora, é longo e existe uma série de intermediários (indústria processadora e formuladora, negociantes) que vão dificultando as inter-relações e as informações necessárias para manter os registros. Empresas como a Natura, utilizam matérias-primas de origem vegetal, na forma de extratos, óleos ou compostos e a escolha de fornecedores de insumos é feita levando em conta um rigoroso processo de rastreabilidade. d. Critérios de qualidade do óleo essencial O que se observou nas entrevistas com profissionais das indústrias cosméticas, é que o primeiro critério utilizado para avaliar a qualidade da fragrância ou de um óleo essencial é por meio do olfato. É comum as empresas usarem este critério como primeira avaliação do produto em questão, já que uma das características mais evidentes de um óleo, ou mesmo de uma fragrância, é o seu aroma, portanto, a análise organoléptica seria um modo simples e rápido de se verificar a sua qualidade. É desta maneira que um perfumista fará sua primeira avaliação e é sobre este critério que um novo óleo essencial será julgado. Outros critérios podem ser utilizados para analisar a qualidade do produto, como a análise do sabor e cor. São critérios que irão defini-lo e o distinguirá dos demais. O critério da cor foi um dos observados para os óleos de patchouli, que apresentam cores distintas e perfis organolépticos bastante diferentes. Análises organolépticas são subjetivas, e estão sujeitas a percepções e opiniões pessoais de avaliadores e perfumistas das mais variadas origens, podendo variar de indivíduo para indivíduo. Ainda assim, o nariz do ser humano é uma ferramenta importante para análises de amostras odoríferas, podendo ser mais sensível que os métodos instrumentais. Um “nariz treinado” pode perceber compostos traços que não aparecerão em análises como CG-EM por exemplo. Um perfumista tem à disposição cerca de 3000 matérias-primas, entre naturais e sintéticas, e as especificidades de cada uma delas torna a classificação olfativa uma tarefa complexa. Se um óleo essencial ao ser analisado, sob estes critérios, apresentar alguma diferenciação em relação a cor, consistência, sabor ou aroma comparado ao óleo estabelecido e utilizado pelo mercado e pelos parâmetros já conhecidos dos especialistas, considera-se que ele não preenche os requisitos necessários, sendo rejeitado. Em tese, uma análise olfativa deveria ser feita por comparação direta do óleo essencial em questão com a planta da qual o óleo foi extraído, isso a tornaria mais fidedigna. E neste sentido, um óleo essencial obtido por extração supercrítica apresenta vantagens. Não havendo degradação de compostos neste tipo de processo, o perfil organoléptico deste óleo é o que chegaria mais próximo de planta de origem. E isso foi constatado pelo perfumista Olivier que, avaliando o óleo de patchouli extraído por ESC (amostra n.o 5), concluiu que é o mais rico e reproduz o cheiro forte de Patchouli. Grandes indústrias de perfumaria e cosméticos realizam internamente os testes de qualidade dos óleos essenciais que o mercado (indústrias processadora, negociantes) oferece. São fornecidas amostras para posteriormente continuar a negociação. É um procedimento necessário já que existe uma ampla variação de padrões de qualidade e especificações técnicas existentes para as diversas categorias de óleos essenciais. Empresas de menor porte, porém, não dispõe de equipamentos necessários para avaliar a qualidade do óleo essencial, nem contam com perfumistas, por isso a credibilidade destes agentes no mercado, pelo menos em princípio, impera na hora de fechar contratos. É uma situação comum entre empresas de pequeno porte como a empresa Aroma da Terra, que utiliza óleos essenciais principalmente na linha de aromaterapia. e. Gestão da relação fornecedor-comprador Quanto maior o número de fornecedores maior a dificuldade de fazer a gestão da relação fornecedor-comprador. Um número menor de fornecedores torna mais fácil a relação de confiança em longo prazo, desta forma, o número de fornecedores-chave é um fator importante. A segmentação do mercado (higiene pessoal, perfumes, cosméticos) também dificulta esta relação, pois cada segmento tem características distintas e muitas especificidades. Do mesmo modo, a grande proporção destas indústrias e a velocidade de mudança corroboram para a complexidade da gestão. É importante identificar as preferências do mercado, dos especialistas, perfumistas, negociantes, dos compradores de um óleo essencial em geral. Eles precisarão ter confiança não só no óleo apresentado, mas principalmente no produtor e acreditarem que terão maiores benefícios ao utilizar seu óleo. É preciso congruência de idéias e interesses, entre produtor e comprador, para que desta forma possa haver uma relação embasada em confiança e durabilidade. f. Influência das grandes empresas As grandes empresas desempenham papel importante na entrada de novos produtos no mercado. As Casas de Aromas e Fragrâncias, que consomem grandes volumes de óleos essenciais, certamente irão definir as regras que regem a incorporação de novos óleos no mercado. Quanto maior a empresa maior sua influencia no mercado e na cadeia produtiva destes produtos. Elas são empresas-chave no sistema de comercialização dos óleos e têm um grande poder de compra no mercado que operam, podendo eventualmente favorecer determinados países, regiões, comunidades ou produtores específicos. Desta maneira, é importante que o novo produtor identifique as preferências destes potenciais compradores antes mesmo de começar o seu cultivo. Num mundo cada vez concorrência é cada vez maior, produtos já estabilizados no protegerem-se da concorrência, novos produtores. mais globalizado em que a as empresas que tenham seus mercado, como forma de criam barreiras à entrada de Seria interessante que os grandes compradores de óleos essenciais, ao visualizar um potencial num produtor e no seu produto, investissem na sua melhoria, que fornecessem subsídios para o seu aperfeiçoamento, o que traria benefícios para ambos. Atitudes como esta podem ser observadas em empresas como a Natura, onde esforços são despendidos em várias comunidades a fim de compartilhar o conhecimento local trazendo benefícios a todos. A empresa desenvolve um forte papel como coordenadora de diversos projetos com comunidades produtoras. E neste sentido, seus produtos possuem um valor agregado não só em função do conteúdo tecnológico, mas também em função do conteúdo ambiental, cultural e social. Muitas vezes os produtores mudam seu mix de atividades em função de uma nova oportunidade e até mesmo em função do posicionamento da indústria. Estas empresas podem fomentar o desenvolvimento ajudando “novos” produtores a entrarem neste mercado global, o que acaba invariavelmente, fortalecendo a marca e ainda reforçando a relação fornecedor-comprador. g. Percepção dos perfumistas O aroma não é função de um só composto e sim, uma sinergia de muitos constituintes. A diferença de aroma percebido pelos perfumistas em relação aos óleos de patchouli estudados pode ter inúmeras explicações e um estudo mais aprofundado é necessário para elucidar tal questão. Além da degradação de compostos por efeitos de temperatura, os constituintes que dão o aroma característico de um óleo podem não aparecer em análises cromatográficas; pode haver sobreposição de picos nos cromatogramas o que dificulta a análise. Enfim, são questões que podem ser estudadas com mais detalhe em trabalhos futuros. No caso do óleo extraído por ESC, ainda que ele apresente vantagens frente a óleos extraídos por outros processos, ele ainda não consegue encontrar seu lugar no mercado. A grande dificuldade é mostrar aos especialistas da área que, acostumados com o óleo de patchouli obtido por hidrodestilação, estão diante de um óleo totalmente puro, que não sofreu nenhuma degradação e que, portanto, não tem as mesmas características organolépticas do “padrão” que conhecem. Os aromas que agora sentem são, talvez, de algum composto que não é percebido no óleo obtido por hidrodestilação, pois este composto pode ter sido degradado pela temperatura empregada no processo. Essas qualidades somente serão valorizadas quando os agentes comerciais inserirem esses produtos no mercado. Neste sentido, destaca-se a importância dos perfumistas e aromistas que percebem as aplicações potenciais de novos óleos essenciais. A maioria deles será avaliada sobre estes critérios para que se possa encontrar aceitação como um novo material aromático. São estes profissionais que definem os óleos essenciais padrões que serão usados nas formulações de fragrâncias para cosméticos. h. Óleo “comercial” Como já foi dito, existe uma série de fatores que podem modificar um óleo essencial, podendo existir desta maneira, uma ampla variação para um mesmo óleo. Comercialmente, isto se torna um desafio e surge a necessidade de se definir padrões de qualidade. Ao mesmo tempo, afirmar que existe um padrão é ignorar os inúmeros parâmetros e formas de extração que podem alterar a qualidade de um óleo. O padrão pode ter sido estipulado sem levar em conta a variabilidade da planta no mundo e as variações intrínsecas de um material aromático natural. Desta forma torna-se difícil para o produtor comercializar um óleo essencial dentro do modelo estipulado. Diversas entidades estabelecem padrões de qualidade para estes produtos, como a ISO (International Organization for Standardization) e as farmacopéias de vários países. É claro que o padrão é importante uma vez que desta forma pode-se fazer comparações de produtos que utilizam em sua composição óleos essenciais e assim poupar esforços de adaptação dos produtos para cada nova safra do óleo. Os óleos essenciais comprados pelas empresas formuladoras e utilizados nas mais variadas formulações de produtos em todo o mundo são os “definidos” como óleo padrão. No caso do óleo de Patchouli, o óleo reconhecido pelo mercado é obtido por hidrodestilação. Sabe-se que a alta temperatura utilizada neste processo pode degradar algumas moléculas e assim alterar o aroma do óleo essencial. No caso do óleo de patchouli, que tem a propriedade de melhorar seu aroma com o tempo, é difícil dizer se o seu padrão, quando estipulado, levou esta questão em consideração. O óleo de patchouli padrão pode ter sido deixado por um tempo descansando e depois disso ter sido comercializado. O modo de armazenamento de um óleo essencial também influenciará suas propriedades terapêuticas e aromáticas. Sabe-se que os óleos se não armazenadas corretamente podem oxidar e começam a perder suas características. Estes fatores também podem explicar a razão do perfumista não ter reconhecido o óleo de patchouli utilizado comercialmente como o padrão que conhece. É difícil entender como existe um óleo “padrão”, porque mesmo que se tenha um rigoroso processo de processamento e extração ainda assim haverá variações no óleo, pois são inerentes a um produto natural. Também é pouco provável que exista um único produtor que possa atender toda uma demanda de mercado. O que pode acontecer é que as Casas de fragrâncias tenham alguns potenciais produtores para um mesmo tipo de óleo essencial, que certamente terão características diferentes. E como lidar com tais diferenças? Uma maneira seria usar estes óleos para “formar um novo óleo” e então termos um produto “padrão”. À medida que se misturam os óleos vai se encontrando àquele que fica mais harmônico para uma determinada aplicação. i. A importância do “novo” A indústria cosmética caracteriza-se por ser um setor inovador e por estar sempre buscando alta tecnologia. Essa inovação pode ser percebida nas embalagens, no desenvolvimento de novos princípios ativos, novas essências. Ainda assim, existe uma resistência a novas matérias-primas, como no caso de um novo óleo essencial. É paradoxal que, embora esteja falando-se de um setor que sempre remete ao novo existe certo “conservadorismo” na base da cadeia produtiva. De acordo com as entrevistas realizadas, esta resistência pode ser explicada, em partes, pela possibilidade de se inovar com o que a indústria já possui de matérias-primas. Como observado em outras literaturas, um fator importante que caracteriza a novidade de um novo óleo essencial é a percepção única do seu perfil organoléptico, ou seja, uma percepção nova, nunca antes sentida. O óleo essencial de patchouli obtido por ESC, e avaliado por perfumistas, possui um perfil organoléptico diferente do óleo de patchouli encontrado no mercado (extraído por hidrodestilação). Logo, de maneira indutiva, pode-se dizer que se tem um “novo” óleo, ainda que extraído da mesma planta. Uma maneira de inserir este óleo essencial extraído por ESC seria introduzi-lo no mercado como um “novo produto”, com outro nome, para que realmente o mercado o visse como algo inovador. Quem está acostumado com o “padrão” acredita que não há a necessidade do novo, ainda mais para um produto que já está consolidado. Então de alguma maneira, ao introduzir um mesmo óleo, sob outro nome, o mercado aceite testá-lo e introduzi-lo neste meio. j. Importância das tecnologias de extração As empresas podem adotar diversas estratégias com vista a agregar valor a um produto. Seja por meio da eficiência dos processos internos, diminuindo os prazos de entregas; seja pela melhoria de produtos antigos, por meio das matérias-primas utilizadas e ainda em função das tecnologias de extração que, se escolhidas de forma conveniente, podem minimizar o impacto ambiental. O processo de extração supercrítica ainda é visto como um processo oneroso. É preciso quebrar paradigmas, pois se criou um “pré-conceito” principalmente em relação aos custos de implementação de uma planta industrial, embora trabalhos que refutam esta idéia já estejam surgindo. Algumas literaturas já demonstraram que é possível obter óleos essenciais por meio deste processo de maneira rentável, segura e limpa, como pode ser observado em Araujo (2008). Empresas cosméticas também começam a perceber as vantagens de tal processo e começam a incorporá-lo na sua produção, ainda que de maneira tímida. Nota-se que novos processos que, eventualmente, agregam um adensamento tecnológico ao produto, nem sempre conseguem demonstrar essas qualidades para os agentes do mercado. Os processos de extração com fluido supercrítico agregam ao produto qualidades que não estão presentes nos produtos obtidos por outros métodos de extração, como arraste a vapor, que introduz efeitos de degradação térmica para alguns componentes presentes no óleo essencial que está sendo obtido. Em contrapartida, percebe-se que a tendência destes setores é valorizar produtos que possam apresentar algum indicador valioso, como sustentabilidade e ausência de elementos contaminantes. Nesse sentido o processo de extração com fluido supercrítico tem um potencial enorme que permitirá a sua utilização num futuro próximo. k. Papel do consumidor final Cada vez mais o consumidor final esta “guiando” a cadeia produtiva de muitos produtos e sua participação é de fundamental importância. As empresas lançam seus produtos muito em função de uma necessidade do consumidor. Há uma exigência maior por produtos com maior valor agregado, inovadores e que agridam menos possível o meio ambiente. As tendências de consumo por produtos naturais exercem considerável influência na indústria cosmética, ao longo de toda a sua cadeia de produtos, em relação às milhares de matérias-primas utilizadas. Mas será que a agregação de valor num produto é realmente percebida pelo consumidor final? No caso dos óleos essenciais, um óleo extraído de forma mais adequada e que tenha um perfil organoléptico superior aos demais, fará diferença para um consumidor que não tem um “nariz treinado” para perceber tal diferença de aroma num óleo ou numa fragrância, por exemplo? Para exemplificar, podemos citar a empresa O Boticário, que lançou em 2004 e 2008 os perfumes Barolo e Malbec cujas fragrâncias foram envelhecidas em barris de carvalho. São fragrâncias inspiradas em vinhos, e com a introdução de uma técnica inédita, a destilação do álcool vínico, que ajuda a acentuar as características das notas de vinho. Esta tecnologia e agregação de valor ao produto de fato é percebida pelo consumidor final? Outro exemplo, que foge dos setores desta pesquisa, mas é bem interessante, é a cerveja Antarctica Sub Zero (tipo pilsen - a mais popular do mundo) lançada pela AmBev. É uma cerveja voltada para o mercado de massa e segundo a empresa, o diferencial do novo produto é a combinação de um líquido elaborado para ser mais suave e refrescante. Para ser produzida, a Antarctica Sub Zero passa por um sistema de dupla filtragem a frio, realizada a uma temperatura de -2° C. Trata-se de uma inovação e está agregando valor ao produto. Mas o consumidor final entende tal inovação? A avaliação da qualidade por parte do consumidor final é subjetiva e sua percepção por meio dos atributos organolépticos do produto pode ser pobre e não perceber alterações que só um profissional detectaria. Em contrapartida, atributos como a origem da matéria-prima, o modo de produção, ingredientes ativos e segurança tanto de produto quanto de processo podem ser referências importantes e fazer a diferença na escolha de determinado objeto de desejo. É importante comunicar o consumidor sobre tais questões. No caso de um óleo extraído por determinado processo que mantenha melhor suas propriedades organolépticas talvez não seja percebido pelo consumidor final ao avaliar uma fragrância, mas explorar que tal processo é ambientalmente vantajoso e sustentável do ponto de vista econômico, cultural e ecológico, pode tornar este produto qualificado e, portanto pretendido pelo mercado. Afinal de contas, um produto só terá valor se o mercado percebê-lo e se atender as expectativas do consumidor. Além do mais um produto diferenciado e o “novo” por si só já atraem o consumidor ávido por novidade. Ou seja, todos os aspectos citados, se somados, irão contribuir para definir a qualidade do produto final. Resumindo, o mercado de óleos essenciais é complexo e existe uma confluência de fatores que determinarão a inserção de novos óleos no mercado. 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS Neste capítulo são apresentadas as conclusões da pesquisa contemplando os objetivos gerais e específicos. Os resultados propiciaram algumas considerações em relação aos setores de HPPC e aos óleos essenciais: i. O mercado de produtos de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, assim como o de óleos essenciais é fechado e isso foi constatado já no processo de agendamento de visitas as empresas. Muitas delas não aceitaram receber a pesquisadora e isso ficou mais evidente nas grandes empresas onde as informações são relevantes e vistas como estratégicas; ii. No sistema de comercialização dos óleos essenciais, o grande número de agentes econômicos (produtores, indústria processadora, formuladora e transformadora, negociantes), dificulta a obtenção de informações tanto técnicas quanto científicas e principalmente de mercado em relação aos principais elos da cadeia de comercialização dos óleos essenciais, que vai desde o produtor até o consumidor final; iii. A apresentação destas informações de forma inteligível tornaria o mercado menos concentrado e promoveria uma maior integração entre produtor-indústria tornando mais transparentes as relações de mercado; iv. É preciso que todos os envolvidos na cadeia de valor dos óleos essenciais tenham uma visão clara e objetiva do seu papel dentro do sistema, fortalecendo assim os elos da cadeia e promovendo o desenvolvimento de produtos de qualidade cada vez maior; v. A coesão de idéias e interesses por parte dos agentes econômicos traria benefícios a todos, o que acaba por refletir, de maneira positiva, nos produtos entregues ao consumidor final; vi. Percebeu-se que a entrada de um novo óleo essencial no mercado enfrenta diversas barreiras, que vão desde questões técnicas (toxicidade, estabilidade, relacionamentos entre os agentes; etc.) até questões de vii. Uma vez que um produtor não tenha condições de fornecer seu óleo em nível mundial torna-se difícil seu acesso a esse mundo das fragrâncias, a menos que este óleo seja um produto único, uma especialidade, e que seu valor seja percebido por especialistas; viii. A padronização de um óleo também é fator decisivo no momento de apresentar-lhe ao mercado. É imprescindível que o óleo tenha as mesmas características, independente da safra; ix. No entanto, devido aos diversos fatores que podem modificar a característica de um óleo, é difícil que um único produtor consiga ter reprodutibilidade do seu óleo e ainda consiga atender a demanda de mercado. Daí conclui-se que as Casas de Fragrâncias para resolver tal situação façam uma combinação de alguns óleos para chegar num “novo óleo” padrão e mais harmonioso para determinada aplicação; x. Os processos de extração vêm no sentido de agregar valor ao produto obtido e neste sentido destaca-se o processo de extração supercrítica que cada vez mais tem chamado a atenção das grandes indústrias tendo em vista seus benefícios; xi. Ainda que os extratos naturais obtidos por extração com fluido supercrítico tenham maior valor agregado e ofereçam benefícios notáveis do ponto de vista comercial, ambiental, e de saúde, seu valor ainda não é percebido por especialistas e consequentemente o produto obtido por tal processo não é absorvido pelo mercado; xii. Ressalta-se a importância do consumidor final no desenvolvimento de novos produtos na indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Cada vez mais exigentes, os consumidores estão mais preocupados com questões como sustentabilidade, segurança de produtos e processos e isso interfere nas decisões das empresas; xiii. É importante comunicar o consumidor sobre o produto que ele está adquirindo. Processos sustentáveis do ponto de vista ambiental são bem vistos e geram interesse; xiv. Existem perspectivas de crescimento de consumo de óleos essenciais usados para fins de fragrância, pois são matériasprimas que diferenciam e agregam valor ao produto final, embora enfrentem forte concorrência com as formulações sintéticas mais baratas; xv. O produtor de um novo óleo essencial deve ser perspicaz no sentido de perceber as necessidades dos grandes compradores de óleos essenciais, estando ciente das dificuldades que vai encontrar e das exigências cada vez maiores do mercado; xvi. Os perfumistas têm papel importante na avaliação de novos óleos, uma vez que são eles que descobrirão novas utilidades e vislumbrarão oportunidades de uso em aromas e fragrâncias, por exemplo. Os óleos essenciais passarão por este crivo e é provável que uma vez transposta esta barreira, entre tantas outras, encontrem seu lugar no mercado; xvii. É de se esperar que, num setor altamente competitivo (HPPC, aromas e fragrâncias e óleos essenciais) criem-se barreiras à entrada de novos atores econômicos. Um número elevado de novos fornecedores de matérias-primas pode dificultar a gestão da relação fornecedor-comprador. xviii. Para trabalhos futuros sugere-se estudar mais profundamente como as informações fluem entre produtores, indústrias transformadoras e seus profissionais envolvidos; estudar a parte comercial da inserção de novos produtos no mercado, especificamente óleos essenciais de alto valor agregado; estabelecer parâmetros quanti e qualitativos de padronização dos produtos inovadores, de modo a facilitar a identificação dos mesmos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAM, P. O mercado de óleos essenciais. São José, 07 abr. 2009. Entrevista pessoal. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Resolução RDC nº 2, de 15 de janeiro de 2007. Aprova o Regulamento Técnico sobre Aditivos Aromatizantes. 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Relatório de Acompanhamento Setorial (Volume I): Cosméticos. Projeto: Boletim de Conjuntura Industrial, Acompanhamento Setorial e Panorama da Indústria. Convênio: ABDI e NEIT/IE/UNICAMP. Campinas/SP: Maio de 2008. HIRATUKA, C. (2007) (coord.). Relatório de Acompanhamento Setorial (Volume II): Cosméticos. Projeto: Boletim de Conjuntura Industrial, Acompanhamento Setorial e Panorama da Indústria. Convênio: ABDI e NEIT/IE/UNICAMP. Campinas/SP: Dezembro de 2008. INTERNATIONAL FRAGRANCE ASSOCIATION – IFRA. Homepage institucional. Disponível em: <http://www.ifraorg.org/>. Acesso em: 04 mar. 09. JORJE, C. Aceitação dos insumos naturais obtidos no Brasil é maior no exterior. Revista Química e Derivados, São Paulo, n. 471, mar. 2008. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd471/cosmeticos/cos meticos01.html>. Acesso em: 04 maio 08. JÚNIOR, C. C.; GRAÇA, L. R.; SCHEFFER, M. C. Complexo agroindustrial das plantas medicinais, aromáticas e condimentares no Estado do Paraná: Diagnóstico e perspectivas. 1. ed. Curitiba: Embrapa Florestas, 2004. 272 p. KRUCKEN, L. O processo de valorização de produtos alimentícios através das denominações de origem e qualidade: um estudo exploratório. Florianópolis, 2001, 179 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, 2001. MARTINS. J. P. The South American market for Essential oils, fragrances and flavours - With special reference to: Argentina, Brazil, Chile, Paraguay and Uruguay. Proceedings of IFEAT International Conference on Essential Oils and Aromas. London, p.189-207, Nov. 1998. MIGUEL, L. M. Uso sustentável da biodiversidade na Amazônia Brasileira: experiências atuais e perspectivas das bioindústrias de cosméticos e fitoterápicos. 2007. 160 f. Dissertação (Mestrado em Geografia Humana) – Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. MORAES, R. Biotecnologia e ativos naturais fundamentam recorde de vendas. Revista Química e Derivados, São Paulo, n. 477, set. 2008. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd477/cosmeticos/cos meticos01.html>. Acesso em: 04 nov. 08. ------. Espécies vegetais da Amazônia podem abrir mercados sofisticados para a produção local. Revista Química e Derivados, São Paulo, n. 466, out. 2007. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd466/cosmeticos1.ht ml>. Acesso em: 05 fev. 08. MORAES, R.; JORJE, C. Terceirização reduz custos e libera mais recursos para inovar. Revista Química e Derivados, São Paulo, n. 465, set. 2007. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd465/cosmeticos/cos meticos01.html>. Acesso em: 05 fev. 08. POEHLMANN, K. The significance of South and Central America as a source of fragrance and flavor oils. 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Com sede em Cajamar, no estado de São Paulo, a empresa possui “instalações verdes”, ou seja, construídas levando em consideração práticas ambientalmente corretas, que abrigam um moderno centro integrado de pesquisa, produção e logística. As atividades da empresa são guiadas por uma forte cultura organizacional e por uma política sócio-ambiental bem consolidada, que prima pelo desenvolvimento sustentável e pela manutenção de um bom relacionamento com a sociedade. Como os seus produtos são fabricados com matérias-primas naturais extraídas em grande escala, a Natura possui inúmeros programas, que têm como objetivo a minimização dos impactos negativos causados à natureza, dentre os quais se destaca a manutenção de uma grande área de reflorestamento da qual boa parte de seus insumos são retirados. Akakia Cosméticos Site: www.akakia.com.br Comentário: A Akakia Cosméticos é uma empresa preocupada com a sustentabilidade do planeta e que busca, em todas as suas ações, contribuir com a preservação do meio ambiente. A empresa foi fundada em 2005 e vem conquistando rapidamente o mercado nacional. Em apenas dois anos foram abertas mais de 120 franquias, tornando a Akakia a franquia de cosméticos que mais cresceu no Brasil em 2007. Tem uma linha de aproximadamente 300 itens entre femininos, masculinos e infantis. A marca faz sucesso com os consumidores principalmente pela alta tecnologia, qualidade e preços acessíveis dos produtos. Aroma da Terra Site: www.aromadaterra.com Comentário: A Aroma da Terra é uma empresa que fabrica e comercializa sua própria linha de cosméticos. O laboratório, localizado em Mem Martins, no Concelho de Sintra (fábrica 1), Portugal, garante a produção, investigação e desenvolvimento dos seus produtos, exclusivos e de alta qualidade, para atender as necessidade do exigente consumidor europeu. Depois do grande sucesso e aceitação dos fantásticos produtos no espaço Europeu, a Aroma da Terra apostou no seu desenvolvimento na América Latina fundando o seu segundo laboratório de produção e investigação no Brasil (fábrica 2) localizado em São José, Santa Catarina. A empresa seleciona sempre o melhor da natureza e através de seus princípios ativos proporciona transformações; formulações especialmente desenvolvidas com a pureza e suavidade das mais belas plantas, flores, frutos e madeiras. A essência da natureza convertida em produtos conceituados e de qualidade internacional. Ariége Cosmetics Site: www.ariege.com.br Comentário: O desenvolvimento dos produtos da Ariége é com base no aperfeiçoamento da produção e exigência dos clientes. Formalizando assim o compromisso que a empresa tem em oferecer produtos com o mais rigoroso controle de qualidade. A Ariége Cosmetics é detentora das marcas Fitoessence e Bioscience. Tem em seu portfólio produtos para diversas necessidades como shampoos, condicionadores, cremes para pentear, creme para as mãos, esfoliantes corporais e faciais, sabonetes líquidos, aromatizantes bucais, entre outros. Extratos da Terra Site: www.extratosdaterra.com.br Comentário: A empresa “Extratos da Terra” surgiu da necessidade de se trabalhar com produtos naturais em virtude de uma carência de mercado nesse aspecto. Levando em consideração essa necessidade e pensando no bem-estar do cliente, a Extratos da Terra passou a desenvolver produtos nas linhas capilar, corporal, de higiene e facial. Alquimia do Banho Site: www.alquimiadobanho.com.br Comentário: A Alquimia do Banho é uma empresa nova no mercado, fundada em maio de 2005 com o objetivo de produzir uma linha de cosméticos diferenciada e acessível. Iniciou com uma pequena linha de produtos, tendo como “carro chefe” seus sabonetes artesanais, os quais tiveram grande aceitação pelos clientes. Hoje, a Alquimia do Banho oferece uma linha completa de cosméticos para o uso diário, higiene pessoal, acessórios para banho entre outros produtos. Toda nossa linha foi formulada em produtos naturais, extratos frutais e essências exclusivas, dando a certeza de confiabilidade e respeito ao consumidor. Essências exclusivas, toque diferenciado, visual colorido e atrativo em embalagens criativas. Os produtos Alquimia do Banho unem a força vital das plantas e dos minerais, com sua formulação concentrada no uso de extratos de flores, frutas, sementes e óleos vegetais,que limpam, nutrem e amaciam a pele. Destilaria Três Barras Ltda Site: http://www.tresbarras.com/empresa.htm Comentário: A Três Barras é uma empresa familiar, que conta com um sistema de gestão de negócios desenvolvido com seriedade e comprometimento e que está a mais de 50 anos no mercado produzindo e comercializando óleos essenciais, sendo atualmente a em exportações do óleo essencial de Eucalyptus citriodora no Brasil, consolidando-se cada vez mais como uma empresa respeitada e reconhecida pela qualidade de seu produto e seus serviços. Associação Brasileira das Indústrias de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos - ABIHPEC Site: www.abihpec.org.br Comentário: ABIHPEC é a sigla para Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, entidade que representa, nacional e internacionalmente, empresas relacionadas à produção, promoção e comercialização de produtos acabados e insumos destinados aos cuidados pessoais. ANEXO A - DEFINIÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES Resolução RDC nº 211, de 14 de julho de 2005. Ficam estabelecidas a Definição e a Classificação de Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes, conforme Anexos I e II desta Resolução. ANEXO I DEFINIÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES 1. Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes, são preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado. ANEXO II CLASSIFICAÇÃO DE PRODUTOS DE HIGIENE PESSOAL, COSMÉTICOS E PERFUMES 1. Definição de Produtos Grau 1: são produtos de higiene pessoal cosméticos e perfumes cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta Resolução e que se caracterizam por possuírem propriedades básicas ou elementares, cuja comprovação não seja inicialmente necessária e não requeiram informações detalhadas quanto ao seu modo de usar e suas restrições de uso, devido às características intrínsecas do produto, conforme mencionado na lista indicativa "LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1" estabelecida no item "I" deste Anexo. 2. Definição de Produtos Grau 2: são produtos de higiene pessoal cosméticos e perfumes cuja formulação cumpre com a definição adotada no item 1 do Anexo I desta Resolução e que possuem indicações específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso, conforme mencionado na lista indicativa "LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 2" estabelecida no item "II" deste Anexo. 3. Os critérios para esta classificação foram definidos em função da probabilidade de ocorrência de efeitos não desejados devido ao uso inadequado do produto, sua formulação, finalidade de uso, áreas do corpo a que se destinam e cuidados a serem observados quando de sua utilização. I) LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1 1 Água de colônia, Água Perfumada, Perfume e Extrato Aromático. 2 Amolecedor de cutícula (não cáustico). 3 Aromatizante bucal. 4 Base facial/corporal (sem finalidade fotoprotetora). 5 Batom fotoprotetora). labial e brilho labial (sem finalidade 6 Blush/Rouge (sem finalidade fotoprotetora). 7 Condicionador/Creme rinse/Enxaguatório capilar (exceto os com ação antiqueda, anticaspa e/ou outros benefícios específicos que justifiquem comprovação prévia). 8 Corretivo facial (sem finalidade fotoprotetora). 9 Creme, loção e gel para o rosto (sem ação fotoprotetora da pele e com finalidade exclusiva de hidratação). 10 Creme, loção, gel e óleo esfoliante ("peeling") mecânico, corporal e/ou facial. 11 Creme, loção, gel e óleo para as mãos (sem ação fotoprotetora, sem indicação de ação protetora individual para o trabalho, como equipamento de proteção individual - EPI - e com finalidade exclusiva de hidratação e/ou refrescância). 12 Creme, loção, gel e óleos para as pernas (com finalidade exclusiva de hidratação e/ou refrescância). 13 Creme, loção, gel e óleo para limpeza facial (exceto para pele acnéica). 14 Creme, loção, gel e óleo para o corpo (exceto os com finalidade específica de ação antiestrias, ou anticelulite, sem ação fotoprotetora da pele e com finalidade exclusiva de hidratação e/ou refrescância). 15 Creme, loção, gel e óleo para os pés (com finalidade exclusiva de hidratação e/ou refrescância). 16 Delineador para lábios, olhos e sobrancelhas. 17 Demaquilante. 18 Dentifrício (exceto os com flúor, os com ação antiplaca, anticárie, antitártaro, com indicação para dentes sensíveis e os clareadores químicos). 19 Depilatório mecânico/epilatório. 20 Desodorante antitranspirante). axilar (exceto os com ação 21 Desodorante colônia. 22 Desodorante corporal (exceto desodorante íntimo). 23 Desodorante antitranspirante). pédico (exceto os com ação 24 Enxaguatório bucal aromatizante (exceto os com flúor, ação anti-séptica e antiplaca). 25 Esmalte, verniz, brilho para unhas. 26 Fitas para remoção mecânica de impureza da pele. 27 Fortalecedor de unhas. 28 Kajal. 29 Lápis para lábios, olhos e sobrancelhas. 30 Lenço umedecido (exceto os com ação anti-séptica e/ou outros benefícios específicos que justifiquem a comprovação prévia). 31 Loção tônica facial (exceto para pele acneica). 32 Máscara para cílios. 33 Máscara corporal (com finalidade exclusiva de limpeza e/ou hidratação). 34 Máscara facial (exceto para pele acneica, peeling químico e/ou outros benefícios específicos que justifiquem a comprovação prévia). 35 Modelador/fixador para sombrancelhas. 36 Neutralizante para permanente e alisante. 37 Pó facial (sem finalidade fotoprotetora). 38 Produtos para banho/imersão: sais, óleos, cápsulas gelatinosas e banho de espuma. 39 Produtos para barbear (exceto os com ação antiséptica). 40 Produtos para fixar, modelar e/ou embelezar os cabelos: fixadores, laquês, reparadores de pontas, óleo capilar, brilhantinas, mousses, cremes e géis para modelar e assentar os cabelos, restaurador capilar, máscara capilar e umidificador capilar. 41 Produtos para pré-barbear (exceto os com ação antiséptica). 42 Produtos pós-barbear (exceto os com ação antiséptica). 43 Protetor labial sem fotoprotetor. 44 Removedor de esmalte. 45 Sabonete abrasivo/esfoliante mecânico (exceto os com ação anti-séptica ou esfoliante químico). 46 Sabonete facial e/ou corporal (exceto os com ação antiséptica ou esfoliante químico). 47 Sabonete desodorante (exceto os com ação antiséptica). 48 Secante de esmalte. 49 Sombra para as pálpebras. 50 Talco/pó (exceto os com ação anti-séptica). 51 Xampu (exceto os com ação antiqueda, anticaspa e/ou outros benefícios específicos que justifiquem a comprovação prévia). 52 Xampu condicionador (exceto os com ação antiqueda, anticaspa e/ou outros benefícios específicos que justifiquem comprovação prévia). 3. Observação: As exceções mencionadas no item "I) LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 1" caracterizam os produtos de Grau 2. II) LISTA DE TIPOS DE PRODUTOS DE GRAU 2 1 Água oxigenada 10 a 40 volumes (incluídas as cremosas exceto os produtos de uso medicinal). 2 Antitranspirante axilar. 3 Antitranspirante pédico. 4 Ativador/ acelerador de bronzeado. 5 Batom labial e brilho labial infantil. 6 Bloqueador Solar/anti-solar. 7 Blush/ rouge infantil. 8 Bronzeador. 9 Bronzeador simulatório. 10 Clareador da pele. 11 Clareador para as unhas químico. 12 Clareador para cabelos e pêlos do corpo. 13 Colônia infantil. 14 Condicionador anticaspa/antiqueda. 15 Condicionador infantil. 16 Dentifrício anticárie. 17 Dentifrício antiplaca. 18 Dentifrício antitártaro. 19 Dentifrício clareador/ clareador dental químico. 20 Dentrifrício para dentes sensíveis. 21 Dentifrício infantil. 22 Depilatório químico. 23 Descolorante capilar. 24 Desodorante antitranspirante axilar. 25 Desodorante antitranspirante pédico. 26 Desodorante de uso íntimo. 27 Enxaguatório bucal antiplaca. 28 Enxaguatório bucal anti-séptico. 29 Enxaguatório bucal infantil. 30 Enxaguatório capilar anticaspa/antiqueda. 31 Enxaguatório capilar infantil. 32 Enxaguatório capilar colorante / tonalizante. 33 Esfoliante "peeling" químico. 34 Esmalte para unhas infantil. 35 Fixador de cabelo infantil. 36 Lenços Umedecidos para Higiene infantil. 37 Maquiagem com fotoprotetor. 38 Produto de limpeza/ higienização infantil. 39 Produto para alisar e/ ou tingir os cabelos. 40 Produto para área dos olhos (exceto os de maquiagem e/ou ação hidratante e/ou demaquilante). 41 Produto para evitar roer unhas. 42 Produto para ondular os cabelos. 43 Produto para pele acneica. 44 Produto para rugas. 45 Produto protetor da pele infantil. 46 Protetor labial com fotoprotetor. 47 Protetor solar. 48 Protetor solar infantil. 49 Removedor de cutícula. 50 Removedor de mancha de nicotina químico. 51 Repelente de insetos. 52 Sabonete anti-séptico. 53 Sabonete infantil. 54 Sabonete de uso íntimo. 55 Talco/amido infantil. 56 Talco/pó anti-séptico. 57 Tintura capilar temporária/progressiva/permanente. 58 Tônico/loção Capilar. 59 Xampu anticaspa/antiqueda. 60 Xampu colorante. 61 Xampu condicionador anticaspa/antiqueda. 62 Xampu condicionador infantil. 63 Xampu infantil. ANEXO B - RELATÓRIO DE ANÁLISES CROMATOGRÁFICAS. A amostra número dois não foi considerada nesta pesquisa, pois foi um experimento realizado à parte. 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