5F mais VIDA
A GAZETA
CUIABÁ, DOMINGO, 12 DE MAIO DE 2013
Mundo encantado da instantaneidade
Bia Willcox
“M
BIA WILLCOX É EMPRESARIA QUE DÁ AULAS DE
INGLÊS, ADVOGADA QUE DIRIGE UMA EDITORA E
UMA CURIOSA QUE ESCREVE EM SEUS BLOGS,
ALÉM DE MULHER, MÃE E DONA DE CASA.
[email protected]
WW.FACEBOOK.COM/PAPODENORMAL - CURTAM
andei o e-mail há 3 horas e nada. O
que será que houve. Claro que viu.
Será que não vai rolar? Se incomodou
com alguma coisa?”
Sim, aparentemente trata-se de um pensamento
psicótico-paranoico, pois enviar uma mensagem a
alguém e pensar que pode haver algum problema só
porque não teve retorno poucas horas depois é coisa de
maluco!
Hoje, estamos todos mais ou menos assim. E quem,
ao ter lido isso, disser ou pensar “Eu não sou assim!”
tem os meus sinceros parabéns.
Todo o aparato tecnológico é pensado para
economizarmos tempo (e teoricamente nos sobrar
tempo pra outras coisas), mas o que menos temos hoje é
tempo. E nem paciência.
Como, segundo Tolstoi, tempo e
paciência são eternos beligerantes, vivemos
em guerra espiritual (o que às vezes pode
mesmo detonar uma guerra material!).
Hoje, sabemos se as mensagens escritas
que mandamos foram lidas ou não. Se são
lidas e não respondidas, o pensamento torto
começa a funcionar. “Leu e não respondeu.
Babaca. Ou será que fiz alguma coisa e não
sei?”. Ou ainda, “podia responder qualquer
coisa. Mal educado!” Sim, as pessoas, hoje,
têm seus movimentos tão expostos, são tão cobradas que
acabam sendo mesmo mal-educadas. É muito canal,
muita informação, muita resposta pra dar, acaba não
dando! E se você quiser ser polida e dar respostas
instantâneas o tempo todo, suas tarefas vão ficando de
lado e para trás. É um beco quase sem saída. Se você
recebe um texto e lê, chega a pensar: “Ferrou. Agora, tá
lido, vou ter que responder.” Não tenho certeza se esses
novos aparatos e costumes revelam caráter (ou falta
dele) ou se somente expõem mais uma faceta do ser
humano que sempre existiu: nem sempre somos
transparentes como poderíamos ou deveríamos ser.
A falta de paciência não se revela só nas mensagens
digitais. Ninguém quer mais esperar nada. A ideia de
instantaneidade não vem de hoje: vide os restaurantes
fast food e a câmera Polaroid. Outras são incrivelmente
atuais. Foto tem que ser vista na hora. E editada com os
mais diversos tipos de filtros. Fotografou, postou. Se
não postar logo, como vamos marcar o lugar onde
estamos no momento da foto? E quando o 3G não
funciona e nem há rede wi-fi disponível? Haja
paciência!
Para completar o quadro e provocar ainda mais
impaciência no mundo do instantâneo, tem o trânsito.
Longos engarrafamentos, trânsito que não anda. E a
gente lá, parado, tentando ganhar tempo, possivelmente
falando no celular com fone de ouvido ou bluetooth. É
sempre um teste de paciência ou somos nós que não
sabemos mais esperar por nada?
Fico imaginando o reflexo dessa instantaneidade
compulsória em campos da vida onde não deveria haver
pressa. Será que as preliminares estão com os dias
contados? O Viagra vai passar a ser remédio contra
perda de tempo? Terá o gozo hora marcada, com
contagem regressiva?
Kant afirmou que a paciência é a fortaleza do débil e
a impaciência, a debilidade do forte. Como boa
seguidora da ética kantiana, proponho que, nós que nos
tornamos fortes pelo que pensamos e refletimos,
tentemos exercer nossa paciência nas mais diversas
áreas do cotidiano, a fim de evitarmos a debilidade
generalizada vislumbrada por ele.
FÁBRICA DE IDEIAS
Uma jovem (quase)
como outra qualquer
A não ser o fato de que ela lançou o primeiro livro quando tinha 14 anos
MARIA ANGÉLICA DE MORAES
E
Eduarda Kiame e
o segundo livro
da trilogia Elfos
Urbanos
SUBEDITORA
la tem só 17 anos e dois livros no currículo. Estamos
falando de Eduarda Kiame, a jovem escritora que acaba de
lançar Elfos Urbanos - ATraição, segundo livro da série
Elfos Urbanos. O primeiro se chama A Escolha e foi
lançado em 2010, quando ela tinha apenas 14 anos, ambos
pela editora Íthala.
Tudo começou na infância. “Sempre fui uma criança
muito sonhadora, criativa e dramática”, revela. Durante
uma aula de português, ainda no ensino fundamental, a
professora pediu aos alunos que escrevessem um poema
que seria lido em voz alta. “Quando eu li o meu, a sala
inteira aplaudiu e foi a primeira vez que eu pensei que
poderia ser boa em escrever. Meus primeiros textos foram
poesias e depois escrevi várias histórias inacabadas“, conta
a jovem.
Dar voz ao desejo de ser escritora e lançar um livro não
foi tão fácil. “A experiência de escrever um livro é algo
extremamente surreal porque você nunca sabe que é
realmente capaz. Eu só tive a certeza da minha capacidade
quando conclui o Elfos Urbanos - A Escolha. Logo que
terminei de escrever, eu não fazia a mínima ideia de nada a
respeito de livros, editoras e publicação, então perguntei ao
pai de uma amiga que tinha escrito diversos livros o que eu
deveria fazer e qual
editora procurar. Ele
me indicou a Íthala e
deu certo”.
Os principais
leitores das obras de Eduarda são
adolescentes a partir dos 12 anos,
segundo ela, os melhores porque têm
uma animação insaciável e se
apaixonam de fato pelos livros. “Meus
familiares e amigos me incentivam
muito. Meus pais são a minha grande
base, sempre acreditaram no meu
potencial”.
Eduarda pensa longe. Quando
escrevia A Escolha já sabia que a
história daria uma trilogia. A jovem
demorou, em média, um ano para
escrever cada livro. “Vou confessar que
não dedico tanto tempo assim para a
escrita, já que a faculdade (ela cursa
Direito) e todos os meus outros afazeres
tomam praticamente todo o meu tempo
e me deixam muito cansada. O cansaço
é o que mais me tira a inspiração, então
dedico praticamente todas as minhas
férias a escrever, o que rende bastante”.
Ao contrário do que muita gente
pode pensar, Eduarda leva, segundo ela
Divulgação
mesma diz, uma vida “assustadoramente normal”. “Acho que esse estigma
de que escritores e pessoas do ramo artístico são antisociais ou que não saem
e não se divertem deveria ser quebrado porque não tem nada a ver”.
Fontes de inspiração -As histórias são baseadas na vida cotidiana,
segundo Eduarda, naquelas pequenas coisas. Um casal andando na rua, um
grupo de amigos conversando... tudo pode se transformar em literatura. Mas
as histórias escritas por outras pessoas, grandes autores, também inspiram a
jovem escritora. “Eu amo ler. Meus escritores preferidos de literatura são
Tolkien, Christopher Paolini, Carlos Ruiz Záfon, Clarice Lispector e
Nietzsche. Eu me inspiro no Paolini, pois além de escrever ficção, começou
jovem assim como eu e hoje é um escritor de grande sucesso”.
Eduarda faz parte do time de jovens que está sempre acompanhado de
um bom livro, um número, infelizmente, ainda pequeno no país. “Acho que
os jovens leem pouco, tanto pela falta de acesso quanto pelas outras coisas
fantásticas que existem no mundo de hoje como a internet”, revela. “E
também devido ao estigma que foi criado de que ler é chato. Acho que todo
mundo, no fundo, gosta de ler, quem não gosta só não encontrou o livro
certo”.
Então, para quem tem muitas ideias na cabeça e quer, como Eduarda,
colocar tudo no papel, fica a dica: “A melhor dica que eu posso dar é:
escreva. Deve-se também procurar ler praticamente tudo que já foi publicado
sobre o tema que se tem em mente. É a melhor maneira de se aperfeiçoar,
tanto em estilo e técnica quanto em conteúdo”.
Quando escreveu
A Escolha a autora
já sabia que tinha
muita história
para contar
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FÁBRICA DE IDEIAS