Nº 7
2014
REVISTA DA
ACADEMIA DE LETRAS DO
VALE DO IGUAÇU
Nº07 ISSN 2176-5235
2014
Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)
2000 - 2004
Joaquim Osório Ribas
2004 - 2006
Raulino Bortolini
Presidente
Leni TrentimGaspari
Vice-Presidente
Márcia Marlene Stentzler
Secretária Geral
Roseli Bilobran Klein
Secretária Adjunta
Leda Barcelos
Comissão Editorial
Fahena Porto Horbatiuk
Leni Trentim Gaspari
Márcia M. Stentzler
Roseli Bilobran Klein
Soeli Regina Lima
PRESIDENTES
2013 - 2014
Leni TrentimGaspari
2006 - 2010
Therezinha Leony Wolff
2011 - 2013
Raulino Bortolini
DIRETORIA
Tesoureiro
Joaquim Osório Ribas
2º Tesoureiro
Cordovan Frederico de Melo Junior
Mestres de Cerimônia
AluizioWitiuk
Roberto Domit de Oliveira
Bibliotecária e Diretora de Publicações
Fahena Porto Horbatiuk
REVISTA
Diagramação
Luciane Mormello Gohl
Impressão
Gráfica e Editora Kaygangue Ltda.
Tiragem
300 exemplares
Ficha catalográfica elaborada por Fernando Leipnitz CRB-10/1958
R454 Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI). - N. 1 (2000/2008) União da Vitória, PR: Academia de Letras do Vale do Iguaçu, 2008 Anual
ISSN 2176-5235 a partir do n.2, 2009.
1. Literatura - Periódicos. I. Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI)
CDU 82 (05)
Praça Visconde de Nácar, s/n – Centro – União da Vitória – PR – CEP 84600-000
Email: [email protected] – (42) 3523-4771 - Site: alvi.org.br
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
As informações contidas nos textos são de responsabilidade dos autores.
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Revista da ALVI
Nº07
2014
Sumário
EDITORIAL.......................................................................................................................5
ARTIGOS ................................................................................................ 7
CONSTRUINDO O ESPAÇO ESCOLAR, José Fagundes.......................................................... 9
A FORMAÇÃO DO ETHOS DEMOCRÁTICO, Marilucia Flenik......................................... 17
BREVE ESTUDO SOBRE CARROCEIROS E CARROCEIRAS NAS
“GÊMEAS DO IGUAÇU”, Leni Trentim Gaspari....................................................................... 29
O SONHO SE TORNA REALIDADE, Paulo Horbatiuk e Fahena Porto Horbatiuk............. 49
ESPAÇO ESCOLAR E SEUS OBJETOS: COLÉGIO INTERNO MASCULINO SOB A
COORDENAÇÃO DE FRADES FRANCISCANOS NO INTERIOR DO ESTADO
DE SANTA CATARINA (1940), Roseli Bilobran Klein............................................................. 57
A SAGA DE MIKOŁAJ TOPOROWSKI: LAÇOS DESATADOS, VIDAS PARTIDAS,
Fernando Tokarski e Damaris Ocker............................................................................................ 73
ARTIGOS JORNALÍSTICOS .................................................................... 85
Porto União: Vila Gemma, Arquitetura e História,
Leni Trentim Gaspari...................................................................................................................... 87
HOTEL JOIA – VIVENDO E FAZENDO HISTÓRIA, Fahena Porto Horbatiuk................. 91
HOTEL SAN RAFAEL, Fahena Porto Horbatiuk....................................................................... 95
ÁUREA DE SOUZA CLAUSEN: a primeira vereadora em
União da Vitória (PR), Odilon Muncinelli........................................................................ 99
HOMENAGEM A PORTO UNIÃO – 97 ANOS, Odilon Muncinell................................... 101
HISTÓRIA DO POVOAMENTO E OCUPAÇÃO DE UNIÃO DA VITÓRIA,
Odilon Muncinell.......................................................................................................................... 103
O transporte no Rio Iguaçu, Ulysses Sebben............................................................ 109
A CANOA, Ulysses Sebben.......................................................................................................... 111
E o assunto continua, Therezinha Leony Wolff.......................................................... 115
Tombamento Patrimonial, Therezinha Leony Wolff................................................ 119
Vivendo a 3ª Idade, Therezinha Leony Wolff................................................................... 121
120 ANOS DE UNIÃO DA VITÓRIA, Therezinha Leony Wolff........................................... 125
CRÔNICAS.......................................................................................... 127
Jardim da Minha Infância, Tânia Margaret Ruski.................................................... 129
VÓ OLINDA, Tânia Margaret Ruski.......................................................................................... 131
POEMAS............................................................................................. 133
SOMENTE HÁBITO?, Arlete Therezinha Bordin.................................................................... 135
VALEU A PENA?, Arlete Therezinha Bordin............................................................................ 137
ALMA DE POETA, Therezinha Thiel Moreira.......................................................................... 141
O TEMPO, Therezinha Thiel Moreira........................................................................................ 142
PALESTRA.......................................................................................... 143
IMIGRAÇÃO SIRIO-LIBANESA NO BRASIL, Carlos Guérios............................................ 145
DISCURSOS........................................................................................ 157
DISCURSO CONCLUSIVO DA CELEBRAÇÃO DA MISSA DO 60º ANIVERSÁRIO
DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL DE DOM WALTER, Dom Walter Michael Ebejer..... 159
DISCURSO PELO 14º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI,
Joaquim Osório Ribas................................................................................................................... 163
HOMENAGEM PRESTADA À ENFERMEIRA ZELIR PELEGRINI,
Therezinha Leony Wolff ............................................................................................................... 167
HOMENAGEM PÓSTUMA À SRA. ZELIR PELEGRINI, Dr. Ayrton Martins.................. 171
SESSÃO SOLENE OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE,
Ulysses Reis Teixeira..................................................................................................................... 173
SAUDAÇÃO A ULYSSES TEIXEIRA (31/05/2014) COMENDA PINHÃO DO VALE,
Margareth Ribas............................................................................................................................ 177
DISCURSO PELO 13º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI, Dr. José Fagundes....... 185
DISCURSO EM HOMENAGEM AO DR. JOSUÉ GUIMARÃES,
Joaquim Osório Ribas................................................................................................................... 187
DISCURSO DR. JOSUÉ GUIMARÃES POR OCASIÃO DO RECEBIMENTO
DA COMENDA PINHÃO DO VALE, Josué Guimarães........................................................ 189
DISCURSO SESSÃO SOLENE DE POSSE DAS NOVAS ACADÊMICAS - 2013,
Leni Trentim Gaspari.................................................................................................................... 195
DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013, Soeli Regina Lima................................................. 197
DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013, Marilucia Flenik................................................... 199
DISCURSO DE POSSE DA ALVI - 2013, Margareth Rose Ribas.......................................... 205
SAUDAÇÃO A MARIA TEREZA KRÖETZ BIEBERBACH ENTREGA DA
COMENDA PINHÃO DO VALE – 2003, Therezinha Leony Wolff....................................... 211
RELATOS............................................................................................ 215
Conexão Cultural Brasil X Chicago,
Ladi Tamara Benda Loiacono e Alex de Miranda Silva............................................................ 217
THEREZINHA CARTONERA, Therezinha Thiel Moreira..................................................... 225
BIOGRAFIA......................................................................................... 231
QUEM ERA EUGÊNIO SCHUWALOFF? “DURA VERITAS, SED VERITAS”,
Pedro Carlos Bruno Mrosk........................................................................................................... 233
ACADÊMICOS...................................................................................... 241
Relação de Acadêmicos, Patronos e contatos............................................ 243
COMENDADORES................................................................................ 251
OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE PELA ALVI.........................................253
EDITORIAL
O sétimo número da Revista da ALVI vem consolidar o desejo dos
membros da Instituição em manter a constância de sua publicação. Este
número está ampliando sua proposta, abrindo espaço para veiculação de
artigos científicos, ensaios teóricos, bibliográficos e relatos. Essa abertura
a novas produções permite que a publicação possa inserir-se também nas
discussões acadêmicas e seja reconhecida como fonte histórica, no âmbito
do conhecimento.
Os artigos científicos tratam das questões educacionais, dos espaços escolares, da realidade social, adentrando o campo da Filosofia e a
formação do ethos democrático. Ainda nos textos científicos encontramse estudos sobre história local e regional, abordando história e cotidiano.
Outro artigo destaca-se pela análise da vida de Toporowski e suas relações
com a história dos locais onde viveu.
Os artigos jornalísticos apresentam interessantes esclarecimentos
sobre as cidades, tendo em vista que alguns deles foram escritos como forma de homenagear União da Vitória e Porto União, no aniversário das referidas cidades. Textos informativos, que contribuem muito para o ensino
de história local.
Crônicas, poesias, discursos, relatos e biografias, também enriquecem o conteúdo da Revista da ALVI, salvaguardando a identidade e cultura
dos autores e, para todos, o objetivo é o mesmo: ser fiel aos compromissos
que nortearam a fundação da ALVI e o pensamento de que escrever é uma
arte, não importando a categoria.
Nossos agradecimentos aos Acadêmicos que atenderam nosso chamado enviando seus textos, e à Prefeitura Municipal de União da Vitória
que tornou possível a publicação de mais esta obra, com seu apoio financeiro e aval cultural.
Leni Trentim Gaspari
Presidente
ARTIGOS
CONSTRUINDO O ESPAÇO ESCOLAR
José Fagundes1
Esta reflexão sobre o espaço escolar, apoiada em vários autores
(Nóvoa, Cury, Illich, Bourdieu e Passeron, Saviani, Larrosa, Kosik), busca
identificar suas especificidades, suas limitações, suas possibilidades. Para
responder a essas indagações torna-se necessário situar o espaço escolar no
espaço societal e captar suas interações e seu processo histórico de construção.
A tendência ou a tentação em tomar como natural aquilo que é histórico constitui -se em um dos maiores obstáculos epistemológicos, impedindo uma análise acurada de nossos problemas, especificamente, daqueles
inerentes à escola, como agência responsável pela produção e transmissão
do conhecimento.
Nada mais nefasto para a compreensão da realidade social e educacional do que confiná-la e exauri-la, confundindo o real existente com o
real “tout court” e, com isso, amputando a dimensão possível do real. O real
existente é apenas um aspecto da realidade que, num dado momento e no
jogo da correlação de forças, concretizou-se. Isso significa dizer que o real
existente não esgota as possibilidades da realidade “hic et nunc” e, muito
menos, de forma definitiva.
A pretensão de apresentar a realidade social ou a realidade educacional como o único e definitivo modo de ser da sociedade e da escola tem
um nome: naturalização, ou seja, tomar como natural aquilo que nada mais
é que o resultado de um processo, construído por homens concretos, num
determinado momento histórico.
Os modos de produção que perpassaram a história da humanidade
ilustram, de forma cabal, o acima afirmado. As sociedades, que tinham no
trabalho escravo sua base de produção e sustentação, defendiam o escravismo como a única maneira de os homens se organizarem socialmente, como
algo natural, como a vontade de deuses ou de Deus.
Membro fundador da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI), ocupando
a cadeira n 28, tendo como patrono Hermínio Millis.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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A distribuição dos bens, tanto materiais, como espirituais (culturais, educacionais) era desigual; os indivíduos eram discriminados, por
exemplo, por sua origem social, por sexo.
E hoje? Com qual realidade nos defrontamos? Estaríamos vivendo numa sociedade construída pelos homens, estaríamos participando de
uma escola e da produção de conhecimento feita e gerida pelos homens ou
estaríamos, novamente, às voltas com a tendência que procura naturalizar
o atual estágio da humanidade, fazendo-o passar como o único, como o
último, coincidindo com o fim da própria história?
Sob a égide das leis do mercado, propaga-se uma visão hegemônica, que se apresenta como o único caminho a ser trilhado para o bem-estar
da humanidade, quando, na realidade, conduz à globalização mercadológica, reproduzindo a estrutura social, acentuando a desigualdade.
O ideário neoliberal defende com vigor a liberdade plena do mercado; qualquer intervenção do Estado é ameaça às liberdades econômica
e política. Pressiona o Estado para que se desresponsabilize de funções
sociais: saúde, previdência, educação. O neoliberalismo defende a tese do
Estado mínimo e da desregulamentação. Todavia a questão crucial não se
circunscreve ao tamanho do Estado, mas de qual Estado. Na esteira da globalização vêm os efeitos que são minimizados,
quando não ignorados; entre eles destaca-se o desemprego, que tem como
sequela a exclusão. Uma sociedade que sempre fez a apologia do trabalho é
a mesma que elimina postos de trabalho, que deteriora o presente, que obscurece o futuro, tornando-o incerto para as gerações vindouras, na medida
em que não oferece opções.
Não se pode ignorar, nem seria possível, o fato da globalização, do
poder das ciências, da cibernética, da robótica e do poder do capital, por
meio das leis do mercado, ser capaz de fragilizar e de submeter os Estados
Nacionais e dirigir os destinos da humanidade. O que se impõe é conhecer
a sua dimensão, prever seus desdobramentos, e analisar suas consequências. É dentro desse contexto que se situa o espaço escolar, seus limites e
suas possibilidades.
O ESPAÇO ESCOLAR
Os problemas educacionais só podem ser devidamente entendidos,
quando referidos a um contexto determinado. Isso por uma razão simples:
a educação, assim como a escola, não se constitui num fenômeno isolado,
10
que se explica a si mesmo, descolado da realidade em que se insere. Pelo
contrário, a educação é um dos setores que, juntamente com os demais,
formam a totalidade, ou,para ser mais preciso, consubstanciam uma determinada sociedade.
As expectativas sobre a educação e as funções atribuídas à escola
têm sido, ao longo da história, não somente diversas, mas antagônicas. A
escola já acalentou os sonhos daqueles que a viam como redentora da humanidade, como panaceia para todos os problemas sociais e políticos. No
início do século XX, alimentava-se no Brasil a crença, cunhada por Jorge
Nagle 1974) como ‘entusiasmo pela educação, segundo a qual a educação
seria o principal problema nacional que, uma vez resolvido, conduziria à
solução dos demais.
Na sequência, tivemos com o escolanovismo, na década de trinta,
um surto de ‘otimismo pedagógico’ que, na medida em que se atém ao funcionamento eficiente e à qualidade do sistema de ensino, vem a obnubilar
as relações da educação com a problemática socioeconômica e política da
sociedade.
No lado oposto, encontramos a concepção mecano-economicista,
que reduz a educação a um puro reflexo da infraestrutura. Convém lembrar
ainda algumas tendências meteóricas na década de 70: umas puramente
contestatórias (Contestação Nova Fórmula de Ensino), outras que propugnavam o desaparecimento da escola (ILLICH,1973), outras ainda que
viam a escola como uma agência de reprodução da ideologia dominante
(BOURDIEU & PASSERON, 1975), portanto a escola sem espaço próprio,
impotente.
Postulamos uma postura equidistante, nem tanto ao mar nem tanto
à terra; a educação não tem aquele poder transformador como pretendem
os entusiastas, mas também não se reduz a um papel meramente caudatário
na sociedade, como acreditam os mecanicistas. A educação, bem como a
escola, não são apenas um instrumento de conservação social, embora o
sejam precipuamente, uma vez que elas trazem em seu bojo as contradições da própria sociedade. Tais contradições proporcionam as condições
de possibilidade para que a escola venha a cumprir, juntamente com outros
setores, um papel no desenvolvimento e na transformação da sociedade. Se
a escola não se constitui, por si só, em condição suficiente para o desenvolvimento e mudanças da sociedade, todavia ela é condição necessária. É a
partir desse posicionamento que poderemos identificar o espaço possível
da escola e de seus protagonistas num determinado contexto.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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ESPAÇO ESCOLAR POSSÍVEL
Urge, pois, revisitar a trajetória da escola, para redescobrir seu espaço próprio e possível, a fim de ocupá-lo com competência, para não cairmos em bravatas ingênuas, nem em lamentações estéreis. Impõe-se, então,
identificar e problematizar alguns entraves que dificultam ou impedem a
escola de preocupar-se e ocupar-se com aquilo que lhe é próprio: a produção e a reprodução do conhecimento, a formação e profissionalização dos
professores e dos alunos.
A escola vive uma tensão entre a visão burocrático-centralizadora
(controle, resultados estatísticos) e a visão participativa, que possibilitaria
a emergência de novas instâncias de poder. A tutela político-estatal transmuta-se numa tutela científico-curricular com novos controles, mais sutis,
sobre o docente (NÓVOA, 1995). O fosso existente entre autores e executores leva o professor a economizar esforços, a realizar apenas o essencial
para cumprir suas obrigações, a apoiar-se nos especialistas, esperando que
eles digam o que fazer, depreciando, assim, suas capacidades e experiências
adquiridas.
O trabalho da escola consiste na apropriação do saber pelo aluno
concreto, tendo, pois, como ponto de partida a prática social do aluno, isto
é, prática-teoria-prática. Esse processo não se dá espontaneamente, mas
demanda um método didático que é a forma que o conteúdo adquire. Há
uma relação recíproca entre a forma e o conteúdo: a forma sem o conteúdo
fica vazia e o conteúdo sem a forma torna-se cego, sem rumo. Para completar e dar organicidade e rumo é necessário um terceiro elemento: os objetivos. É preciso questionar não só ‘o quê’ do saber escolar a ser ensinado, mas
também o ‘como’ se pretende ensinar esse ‘o quê’. E mais ainda: é preciso
questionar esses dois polos, em função de quais interesses está servindo o
‘ensinar bem’. Assim o ‘para quê’ (objetivos) preside e determina a relação
entre ‘o quê’ (conteúdo) e o ‘como’ (método).
O método dialético configura-se como o mais adequado para a
apropriação do conhecimento, à medida que segue estas etapas: práticateoria-prática. A educação, aqui, está referenciada à atividade dos sujeitos
do processo e não apenas à lógica dos conteúdos. O ponto de partida é a
prática social (leitura da realidade), que tem como agentes sociais os alunos
e os professores que possuem diferentes níveis de compreensão (conhecimento e experiência) da prática social. A aprendizagem se dá na relação de
alunos e professores com o conteúdo ou o saber escolar. A prática social é
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o ponto de partida, seguida pela problematização (vai levantar as grandes
questões do âmbito da prática social e que conhecimentos são necessários
para resolvê-las), que demanda a instrumentalização, ou seja, a apropriação
das ferramentas culturais e instrumentos teóricos e práticos para enfrentar
os problemas levantados.
Chega-se, então, ao ponto mais importante do processo ensino-aprendizagem, chamado catarse, em que o aluno faz a expressão elaborada
da nova forma de entendimento da prática social; sem a catarse não há
aprendizagem. Por fim, volta-se à prática social, agora como concreto pensado; há conhecimento de suas determinações. O professor ensina como foi
ensinado e não como foi ensinado a ensinar. O aluno, mediante o fazer do
professor, aprende muito mais atitudes e outras maneiras de ser do que ‘o
quê’ o professor ensina.
A realidade da sala de aula, bem ou mal, efetiva-se num plano concreto, daí a importância que deve ser dada ao cotidiano escolar. A cotidianidade tem uma estreita relação com a história, está no centro da história.
A vida cotidiana é a vida do indivíduo como ser particular e ser genérico (fruto das relações sociais). O cotidiano escolar é consubstanciado por
ideias pedagógicas, instituições pedagógicas, agentes pedagógicos, material
pedagógico e ritual pedagógico.
A própria vida dos indivíduos é produto das circunstâncias, por
outro lado, as relações entre os indivíduos tornam-se determinantes no
movimento real da história. A história será a nossa história, à medida que
nós lhe emprestamos um sentido, e não ficamos esperando a realização de
um de um sentido pré-determinado.
CONSIDERAÇÕES
A escola não pode mudar, sem a participação do professor, e este
não pode mudar, sem a transformação da escola. Se não houver articulação, poderão surgir resistências, seja de uma parte, seja de outra. É conveniente lembrar as relações de corresponsabilidade entre os professores dos
diferentes níveis de ensino, uma vez que é no Ensino Fundamental que são
gestadas as condições de possibilidade do trabalho pedagógico nos níveis
posteriores:
-- Assumir coletivamente sua escola como espaço privilegiado (não
único) da produção e da transmissão do conhecimento.
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-- Trabalhar o espaço escolar não apenas em sua dimensão acadêmica e científica, mas em sua dimensão política, voltada para a
autonomia e formação da cidadania, encontrando o sentido político do nosso trabalho de pesquisadores e professores.
-- Examinar as condições que nos oferecemos, uns aos outros, para
vivermos a prática do professor.
-- Trazer para o campo da reflexão nossas práticas, nossas resistências, nossos preconceitos, nossas seguranças, nossas crenças
no senso comum, desfazendo mal entendidos e dicotomias que
separam e opõem, por exemplo, teoria e prática, verdade e erro,
abstrato e concreto (confundindo empírico com concreto), arrancando daí a problemática específica para a prática científica.
-- Para que isso ocorra, faz-se necessário descobrir o espaço possível da escola, que é gestado no ventre da utopia e da ilusão.
Utópico significando o ainda não, todavia possível, o diferente
do real existente. Ilusão, opondo-se a desilusão, enquanto carrega a ideia de jogo, de ação. A escola se configura, assim, como o
espaço da utopia, da ilusão e do possível.
Sem uma utopia capaz de gestar e nutrir um projeto político-pedagógico, compartilhado por todos os autores e atores da vida escolar; sem a
consciência do poder que o nosso saber confere e da nossa união, corremos
o risco de deixar de ocupar e explorar as virtualidades e possibilidades do
espaço escolar, passando de atores a expectadores, agora, sim, do drama
escolar que toma o lugar da escola unitária, pública e democrática.
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. & PASSERON, Jean Claude. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1975.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Ideologia e Educação Brasileira. São Paulo:
Cortez & Moraes, 1978.
ILLICH, Ivan. Sociedade sem Escolas. Petrópolis: Vozes, 1973.
KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1976.
14
LARROSA, Jorge & LARA, Nuria Pérez (orgs). Imagens do Outro. Petrópolis: Vozes, 1998.
NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. São Paulo:
EPU, 1976.
NÓVOA, António (org.). Vidas de Professores. Porto: Porto Editora, 1995.
SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. 2. Ed.
Campinas, SP: Autores Associados, 2008.
VÁSQUEZ, A.S. Filosofia da Praxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.
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A FORMAÇÃO DO ETHOS DEMOCRÁTICO
Marilucia Flenik1
1 INTRODUÇÃO
Este artigo visa provocar a reflexão acerca do despertar das pessoas
para a criação do espaço democrático. A virtude cívica brota da força moral
de cada cidadão que se engaja nas lutas pela emancipação política, e se dispõe a dedicar um tempo de sua vida, a fim de compartilhar interesses que
dizem respeito ao mundo comum.
A palavra “política” é tomada na acepção do referencial teórico de
Hannah Arendt (1905-1975), para quem o poder democrático pertence aos
cidadãos que se reúnem no espaço público, e, mediante palavras e ação, exercitam o dom da liberdade, participando da formação da vontade coletiva.
O Brasil, especialmente, a partir de 1988, com a Constituição Cidadã, é um país democrático em formação. Os brasileiros estão evoluindo no
sentido de lutar pelos seus direitos, ao exigir políticas públicas aptas a reduzirem o fosso das desigualdades econômicas, sociais e culturais. É pressuposto do Estado Democrático de Direito que todo o poder emana do povo2,
verdadeiro ícone que apresenta a “vontade da nação”, tal qual idealizada
por Rousseau, como fator de legitimidade do Direito democrático. A realidade, porém, é outra. Diante do voto obrigatório, grande parte da população brasileira comparece às urnas sem saber por que está votando em determinada pessoa, ignorando o programa político dos partidos em disputa
eleitoral. No âmbito da política da democracia representativa, o cidadão
queda inerte, entretido apenas com seus interesses particulares, deixando
de lado os assuntos políticos aos profissionais que comandam a imensa burocracia governamental.
Diante do tema proposto, - a participação dos cidadãos na construção do espaço democrático -, serão desenvolvidas duas linhas de arguMembro da Alvi, ocupando a cadeira nº 17, tendo como Patrono Paulo Leminski.
1
“Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou
diretamente, nos termos desta Constituição”. (BRASIL. Constituição Federal. art.
1º, parágrafo único).
2
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mentação. A primeira buscará na origem da ética ocidental os traços que
marcam a envergadura moral do cidadão, o que apontará alguns possíveis
valores, ínsitos da criatura humana, necessários para todo aquele que assume a corresponsabilidade pela construção do espaço democrático. Sócrates,
que anunciou ser preferível sofrer o mal, em vez de praticá-lo, e também
descobriu a consciência, com o princípio da não contradição, serve como
exemplo da conduta esperada do cidadão engajado na política.
A segunda linha de argumentação diz respeito à amizade, como
fundamento ontológico da política democrática, e o necessário Amor Mundi, pressuposto da ética cidadã, que se manifesta como cidadania, compreendida como atividade de criação e de experimentação de novas formas
de sociabilidade e solidariedade na esfera política.
No ethos democrático, formado pelos direitos fundamentais da
igualdade, liberdade e fraternidade, os valores compartilhados brotam de
princípios de justiça, por meio dos quais toda e qualquer pessoa que tenha o
sentido do razoável sentir-se-á obrigada a assumir como virtude a amizade
política, que possibilita a formulação de um verdadeiro pacto de convivência.
No encontro dos amigos aparece um vínculo entre criaturas que se
reconhecem como “carne da mesma carne e osso do mesmo osso”. E nesse
momento surge uma “obrigação” mais originária do que o mero “dever”.
Consiste em uma experiência de reconhecimento recíproco indispensável
para a formação dialógica da vontade dos sujeitos morais. A dignidade da
pessoa humana se expressa no simples fato de que toda e qualquer criatura
merece o mesmo respeito.
A esperança de que “as coisas possam se resolver”, no que diz respeito à problemática da existência humana, encontra nesse respeito pelos
outros a garantia da boa conduta. A democracia, para se manifestar como
fenômeno político e social, precisa contar com sujeitos morais aptos para
emitir opiniões fidedignas, contribuindo, dessa maneira, para a formação
da vontade coletiva, que legitima o Estado Democrático de Direito.
2 SÓCRATES, UM EXEMPLO DE CIDADÃO
A fim de articular uma resposta à pergunta – o que nos faz pensar?
– Hannah Arendt3 apresenta Sócrates como modelo do cidadão que unifica
“Em resumo, um pensador que tenha permanecido sempre um homem entre homens, que nunca tenha evitado a praça pública, que tenha sido um cidadão entre
cidadãos, que não tenha feito nem reivindicado nada além do que, em sua opinião,
3
18
o pensamento com a ação, que não pretende ser governante, mas tampouco
se submete docilmente às regras, desenvolvendo uma postura crítica e participativa nos assuntos humanos.
Em oposição a Eichmann4, o militar nazista que não teve discernimento moral, uma vez que “obedeceu às ordens superiores” e articulou
o transporte ferroviário para encaminhar milhões de pessoas aos campos
de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, Sócrates encarna a
figura da pessoa que se envolve profundamente nos assuntos humanos,
preocupada com o bem.
No diálogo Górgias, é anunciado o princípio ético fundamental da
convivência humana. Afirma Sócrates: “Penso, efetivamente, que tu, eu e o
resto das pessoas acreditamos que cometer injustiça é pior do que sofrê-la,
e não ser punido, pior do que ser.”(PLATÃO, 2007. 474B). “O objeto do
diálogo socrático não é nem tu, nem eu, mas o mundo que está entre nós: a
coragem, a justiça, a piedade.” (VALLÉE, 2003. p. 47).
Para Werner Jaeger (2011, p. 562-568), o saber socrático, ou phronesis, tem como objeto o conhecimento do bem, ou seja, os valores supremos da vida, cujo saber parte daquilo que o interlocutor ou os homens
de modo geral aceitam, confrontando-o com outros dados da consciência,
chegando-se ao espírito crítico.
O filósofo grego afirmava que o principal critério para o homem
que diz sua própria doxa como verdade é que ele esteja de acordo com ele
mesmo, que ele não se contradiga. Platão colocou na sua boca as seguintes
palavras:
Prefiro ter minha lira, ou alguma dança com coral que possa oferecer ao público, tocando com dissonância ou cantando desafinado e ter não importa quantas pessoas discordando de mim e
me contradizendo, a ter conflito e contradição dentro do meu
próprio eu (PLATÃO, 2007. 482c).
Esse princípio da não contradição é a pedra angular da lógica e da
ética ocidental. Trata-se de pensar criticamente em meio aos preconceitos,
às opiniões não examinadas, e às crenças, revelando-se a maiêutica socráqualquer cidadão poderia e deveria reivindicar” (ARENDT, 2000a. p. 126).
Ver. ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém. Um Relato sobre a Banalidade
do Mal. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
4
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tica um método para o despertar do ser humano para a problematização
da vida humana em plena praça pública. Sócrates é o fundador do diálogo
político. Ao expurgar tudo o que era mal compreendido, mediante o pensamento crítico, abria-se um espaço para o julgamento. “Sócrates acreditava
que os homens não são meramente animais racionais, mas seres pensantes,
e que prefeririam abrir mão de todas as outras ambições e até sofrer danos
e insultos a perder essa faculdade.” (ARENDT, 1995. p. 157).
Tal questão é da maior relevância política, pois o diálogo de mim
comigo mesmo é a primeira condição do pensamento, que deixa de ser
prerrogativa apenas dos filósofos, para ser qualidade também dos cidadãos.
Para que a pessoa possa compartilhar a sua opinião com os outros, é necessário que a sua doxa seja tida por verdadeira. O medo da contradição vem
do fato de que qualquer um de nós, “sendo um”, pode, ao mesmo tempo,
falar consigo mesmo, como se fossem dois. Eis aí o surgimento da consciência moral, metaforicamente, uma verdadeira testemunha interior, que
julga, vigia, condena, enfim, acompanha a pessoa como a própria sombra.
A conduta moral não é algo natural e depende primeiramente da integridade pessoal de cada um, e tem como padrão a coerência consigo mesmo,
quando palavras e atos não se contradizem5.
Infelizmente, os atenienses acharam a atividade de pensar criticamente subversiva, pois, segundo eles, desestabilizava a cidade, especialmente os jovens. Logo, condenaram Sócrates à morte pela cicuta. Ele não
questionou esse julgamento, em atitude coerente de respeito às leis da polis.
A veracidade, ser fidedigno consigo mesmo implica respeito às regras de
comportamento, por convicção própria, e,não, por simples medo da punição da lei ou do castigo religioso. “Para o homem socrático, a suma e o
compêndio do ‘tudo o que eu tenho’ é a Paideia; a sua forma interior de
vida, a sua existência espiritual, a sua cultura.” (JAEGER, 2011. p. 572). Eis
a grandeza do exemplo. Ser coerente até o fim, com o sacrifício da própria
vida, se necessário, mas nunca se contradizer.
Se julgar é mais do que simplesmente pensar, essa capacidade permite à pessoa se posicionar no mundo, discernir o certo do errado, ratificar
ou questionar os valores de sua cultura e colaborar para a construção do
Segundo Arendt, “Não é certamente uma questão de preocupação com o outro,
mas de preocupação consigo mesmo, não é uma questão de humildade, mas de dignidade humana e até de orgulho humano. O padrão não é nem o amor por algum
próximo, nem o amor por si próprio, mas o respeito por si mesmo.” (ARENDT,
2004. p. 131).
5
20
mundo comum. A base desse relacionamento é a amizade política, que congrega os cidadãos, e faz surgir o poder que legitima o governo democrático.
3 A AMIZADE COMO BASE DA POLÍTICA DEMOCRÁTICA
Na época atual, com a globalização e a justicialização do direito6,
não é utopia apresentar a amizade como o fundamento ontológico da política7. A virtude cívica deixa de ser o “morrer pela pátria”, como no alvorecer
dos Estados modernos, para ser o “viver pela pátria”, estabelecendo-se formas de convivência e compartilhamento dos bens disponíveis, a fim de que
todos possam almejar a “boa vida”. A recuperação da amizade como base
da política significa retroceder ao espaço originário da convivência dos seres que não foram destinados a viver sozinhos8.
Justamente porque existe uma deficiência originária que faz da
criatura humana um ser de necessidade e de desejo, viver juntamente com
os outros é essencial, tendo o bem soberano no horizonte de sua ação. Conforme delineado por Aristóteles, faz parte da natureza humana viver em comunidade, sendo o homem definido como zoon politikon. A philia significa
que os homens juntos constituem uma comunidade. Dois são os caracteres
definidores da ideia de comunidade, em geral: o primeiro diz respeito à
unidade de uma pluralidade, e o segundo, à existência de uma finalidade
comum, a significar a amizade e a justiça que liga os cidadãos entre si, para
formar a polis (ARISTÓTELES, 2000).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 é a base do Direito Internacional, com ênfase na universalidade, indivisibilidade e interdependência dos
direitos humanos. O processo de universalização dos direitos humanos gradualmente está configurando um sistema internacional de proteção desses direitos, integrado por tratados internacionais de proteção que refletem na consciência ética
contemporânea compartilhada pelos Estados. Busca-se a salvaguarda de parâmetros protetivos mínimos, para garantia da dignidade de todas as pessoas humanas,
sem quaisquer discriminações de raça, cor, religião, sexo e outras distinções que
possam ferir os princípios da igualdade, da liberdade e da fraternidade. A relação
amigo/inimigo de Carl Schmitt deverá ser superada pelas pessoas de boa vontade,
que compartilham com Kant o desejo da Paz Perpétua Universal.
6
A relação amigo/inimigo de Carl Schmitt deverá ser superada pelas pessoas de
boa vontade, que compartilham com Kant o desejo da Paz Perpétua Universal.
7
“E disse o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só...” (Gênesis, 2004,
cap.3, versículo 18).
8
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
21
A política é assim uma arte que diz respeito à comunidade e deve
ser decidida por aqueles a quem ela é destinada, os cidadãos, homens livres
e iguais. A polis é, de fato, para o homem o lugar de realização do bem
soberano e da existência autárquica9. A deliberação coletiva permite ao homem compartilhar decisões e atuar no mundo, dizendo quem ele é e sendo
reconhecido como tal pelos outros. A justiça é uma virtude da comunidade,
aquela que regula as relações entre seus membros e a capacidade para deliberar se vale da experiência. A prudência é outra virtude do cidadão que
não apenas delibera, como também julga10.
Ao contrário de Platão, não há uma subordinação da política à
posse de um saber imutável, mas requer a posse da prudência e da experiência, apanágio daqueles que sabem, não, por terem aprendido, mas por
terem vivido. A política é um caso de deliberação que exige a phronesis, que
significa a sabedoria prática, que advém da vivência e repetição dos casos
particulares e não nasce da transmissão de nenhum conceito universal11.
A contingência é inscrita na natureza mesma das coisas e as paixões na própria alma humana. “O elemento político, na amizade, reside no
“Por oposição aos filósofos convencionalistas, para quem o homem passa sucessivamente pelos dois estados, um estado de natureza (original) e um estado civil
(o efeito de uma convenção), para Aristóteles a cidade nasce naturalmente de um
estado original, imperfeito, que tende a se realizar em um estado de natureza perfeito (estado civil). O homem é pois naturalmente político, o que significa que há
na sua natureza uma tendência a viver em cidades, e que ao realizar essa tendência
o homem tende ao seu próprio bem.” (WOLFF, 1991. p. 85).
9
Esclarece Francis Wolff que para Aristóteles: “O homem não pode ser e, portanto, não pode ser homem, se não for pela e na comunidade. A comunidade política, sendo aquela que não carece de nada, é a única a plenamente ser. Portanto, é
somente por ela que o homem é plenamente: é na e pela cidade que o homem é
homem.” (WOLFF, 1991. p 70-71).
10
“A política se opõe não somente à generalidade das leis, mas também à ciência do
especialista e é por isso que ela é um caso de deliberação: esta última exige não um
saber, mas experiência e prudência. O objeto sobre o qual se delibera em política
não é de fato cognoscível mas somente opinável, já que não existe necessariamente,
mas pode ser diferente (caso contrário, não se discutiria a respeito dele) - e depende justamente da decisão dos homens que seja de um ou de outro modo. A assembléia do povo, mosaico de opiniões contraditórias do qual deve emanar uma só
decisão, é o espaço mais bem adaptado à deliberação, que supõe a palavra pública e
a contradição, e visa um futuro que também não passa de um conjunto de possíveis
inconsistentes dos quais um só poderá se atualizar.” (WOLFF, 1991. p. 140).
11
22
fato de que, no verdadeiro diálogo,cada um dos amigos pode compreender
a verdade inerente à opinião do outro.” (ORTEGA, 2000. p. 99). Respeitar
as opiniões que, inevitavelmente, apresentam divergências, significa enriquecer o mundo com outras nuances no seio do caleidoscópio que é a trama do mundo.
De acordo com Arendt, “neste mundo em que chegamos e aparecemos vindos de lugar nenhum, e do qual desaparecemos em lugar nenhum,
Ser e Aparecer coincidem.” (ARENDT, 2000a. p. 17). No que diz respeito a
esse desvelamento da pessoa no espaço público, a faculdade do espírito que
se mobiliza é a vontade. É preciso querer dar início a algo novo, mediante a
ação, e a pessoa sempre decide em função de inúmeras variáveis, manifestando a liberdade também na livre escolha do modo como quer aparecer
no espaço público.
A relação deixa de ser da pessoa consigo mesma, para ser a relação
do cidadão com o mundo. O cidadão responsável é aquele que sabe utilizar
o pensamento, tendo como objeto não apenas o conhecimento, na forma de
mera intelecção, que sabe o que lhe vem pelos sentidos, mas o pensamento
como razão, quando então julga e fornece parâmetros para a ação. Nesse
momento, a vontade decide, em meio à contingência humana, na companhia de quem o cidadão quer ficar. O Amor mundi arendtiano significa
“esta afeição da natalidade pelo mundo, não só como uma promessa que
vincula os seres humanos, mas, sobretudo, como um imperativo à ação.”
(ASSY, 2002. p. 51). Com isso surge uma ética de corresponsabilidade pela
conservação do mundo comum; e que o poder de efetuar “milagres” significa a pessoa deter a capacidade de romper os processos pré-existentes e dar
origem a algo novo, como expressão da sua liberdade.
Os princípios inspiradores dessa ação política são a solidariedade
e a comiseração, ínsitos ao Amor mundi, a significar o desejo de preservar
não apenas o seu meio cultural, mas também o mundo das outras culturas
e um respeito maior pela Humanidade e pelo próprio Planeta. Para vivenciar o Amor mundi, a pessoa precisa experimentar um tipo de sentimento
mais elevado, a compaixão, que brota da noção de humanitas, traçada por
Cícero, bastando ser uma criatura humana, para merecer todo o respeito
e consideração, e nunca ser tida como meio e, sim, como um fim, tal qual
escreveu Kant12.
Ver. KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradutor
Paulo Quintela.Lisboa: Edições 70, [19--?].
12
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23
Afinal, é melhor acreditar que “o homem é um animal naturalmente político”, que alcança na comunidade política a felicidade e a plena realização da sua natureza, como escreveu Aristóteles (2000, 1278 b20), do
que se fixar apenas no lado do conflito, que surge da interação humana
nas complexas sociedades atuais capitalistas, em que predomina a disputa
individualista. Com Arendt, a natalidade é metáfora para tudo aquilo que
é novo, verdadeiro recomeço que nos remete à esperança. “A educação é o
ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos
a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens.” (ARENDT,
1997. p. 247). Dessa forma, é possível manter a esperança de que o nascimento de cada ser humano é sempre um recomeço, e essa metáfora, quando utilizada no campo dos assuntos políticos, significa que, a qualquer momento, o cidadão pode “nascer”, isto é, aparecer no espaço público e fazer
a diferença, porque é ele quem está ali, um sujeito capaz de falar e agir e
participar do debate público.
Isso significa reconhecer a riqueza das opiniões pessoais, emergentes em múltiplas culturas em que surgem pontos de vistas diversos, mas
significativos, pois é o relato do que “aparece” a cada um, o que enriquece o
debate, oportunizando a releitura de hábitos, costumes, tradições e valores.
Arendt propõe o resgate da ação política como uma recuperação do espaço
público, palco de inovação13.
Ao ampliar o espaço público para além do Estado, a ação política
pode acontecer em qualquer lugar, havendo múltiplos espaços públicos que
podem ser criados e redefinidos constantemente pelos cidadãos, sem precisar de suporte institucional. Sempre que as pessoas se ligam por meio do
discurso e da ação, movidos pelo interesse político, ou seja, no exercício da
cidadania, criam laços de amizade.
Esse é o fundamento ontológico da política democrática, uma vez
que diz respeito a todo e qualquer cidadão que se desvela como pessoa
perante os outros, recaindo a ênfase na pluralidade humana. Trata-se do
compromisso de fidelidade consigo mesmo e para com os outros, a significar o hábito de firmeza e de coerência de quem sabe honrar os compromis“O uso do termo espaço público, ao invés de esfera pública, aponta para uma
visão não monista do espaço político. Sua teoria performativa da ação e sua visão agonística da política indicam antes uma política instantânea, múltipla: política como acontecimento e começo, como interrupção de processos automáticos.”
(ORTEGA, 2000. p. 22).
13
24
sos assumidos, mediante uma atuação refletida, representando a atitude de
lealdade, de cuidado e de cooperação na construção da democracia.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se a criatura humana chega ao mundo, vinda de lugar nenhum e
seu corpo desaparece transformado em pó e se reintegra no cosmos, pode-se questionar juntamente com o escritor das Escrituras Sagradas: “vaidade das vaidades! É tudo vaidade. Que vantagem tem o homem, de todo o
seu trabalho, que ele realiza debaixo do sol?” (BÍBLIA, Eclesiastes, 1,2-3).
A vida humana somente adquire significado e relevância perante os olhos
daqueles que têm notícia das palavras e dos feitos da pessoa que realmente contribuiu com um bocado de esperança para a construção do mundo
comum. Os contadores de estórias se encarregam de narrar as proezas daqueles cidadãos que durante a sua vida não se preocuparam apenas com a
mera sobrevivência, mas foram além, ocupando-se também dos assuntos
da coletividade, engrandecendo a figura humana na sua pessoa.
Afinal, os homens do século XXI conhecem os limites do Planeta
Terra e sabem, ou deveriam saber, que a mãe Gaia14 não suporta mais o
nível de fruição que a Humanidade implantou no modelo capitalista, em
termos de exploração econômica. A liberdade democrática significa acreditar na capacidade da pessoa humana de tomar o próprio destino nas mãos
e exercer a prerrogativa de questionar e romper processos existentes, cooperando para surgir algo diferente no espaço da política, cuja motivação
maior é o Amor Mundi. Esse sentimento significa reconhecer que somente
me constituí como criatura humana, e posso usufruir da minha vida pes“A Terra também grita. A lógica que explora as classes e submete os povos aos
interesses de uns poucos países ricos e poderosos é a mesma que depreda a Terra e
espolia suas riquezas, sem solidariedade para com o restante da humanidade e para
com as gerações futuras. Esta lógica está quebrando o frágil equilíbrio do universo,
construído com grande sabedoria ao longo de 15 bilhões de anos de trabalho da
natureza. Rompeu com a aliança de fraternidade e de sororidade do ser humano
para com a Terra e destruiu seu sentido de re-ligação com todas as coisas. O ser humano dos últimos quatro séculos sente-se só, num universo considerado inimigo a
ser submetido e domesticado. Estas questões ganharam hoje uma gravidade nunca
dantes havida na história da humanidade. O ser humano pode ser o satã da Terra,
ele que foi chamado a ser seu anjo da guarda e cultivador zeloso. Ele mostrou que
além de homicida e etnocida pode se transformar em biocida e geocida.” (BOFF,
2000. p.11-12).
14
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25
soal, porque compartilho o legado da cultura que recebi, mediante o processo permanente de aprendizagem que é a vida humana.
A maturidade pessoal implica a responsabilidade de atingir uma
envergadura moral, que tem como pressuposto a autonomia kantiana, ou
seja, significa dar a si mesmo as leis para a própria conduta, às quais todo
e qualquer ser humano, desde que tenha entendimento, pode considerar
como justas. A guinada levada a efeito pelo novo paradigma intersubjetivo
desloca o centro da racionalidade da cabeça do indivíduo, para o âmbito
coletivo do discurso, que caracteriza o fenômeno democrático.
Participar da luta pela emancipação política é o papel dos cidadãos,
capazes de contribuir para a formação do Estado Democrático de Direito.
Democracia e direitos humanos são co-originários. Levanta-se a questão
de que é tempo de transformações na democracia representativa, que se
resume nos votos dos cidadãos, para a escolha da classe política, abrindo-se
espaços de debates para que as pessoas se manifestem na formação racional
da vontade da nação. Trata-se do surgimento de “espaços públicos”, conforme delineados por Arend, arena do “poder” dos cidadãos, livres e iguais,
que escolhem o destino de sua comunidade política e fornecem o seu aval
ao Direito, legitimando o ordenamento jurídico democrático.
REFERÊNCIAS
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Relógio D’ Água Editores, 1995.
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1998a.
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______. A Vida do Espírito. 4 ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2000a.
______. Eichmann em Jerusalém. Um Relato sobre a Banalidade do Mal.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000b.
26
_______. Responsabilidade Coletiva. In: ______. Responsabilidade e Julgamento. São Paulo: Cia das Letras, 2004.
ARISTÓTELES. Política. 15. ed. Tradutor Nestor Silveira Chaves. São Paulo: Escala, 2000.
ASSY, Bethânia. A atividade da vontade em Hannah Arendt: por um êthos
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2002.
Bíblia Sagrada. 3. ed. Tradutor João Ferreira de Almeida. Santo André
(SP): Geográfica, 2004.
BOFF, Leonardo. Dignitas Terrae. Ecologia: Grito da Terra, Grito dos Pobres. 3. ed. São Paulo: Ática, 2000.
BRASIL. Constituição Federal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 13/06/2014.
KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Tradutor Paulo Quintela.Lisboa: Edições 70, [19--?].
______. A Paz Perpétua. Tradutor Anatol Rosenfeld. São Paulo: Perspectiva, 2004.
JAEGER, Werner. PAIDÉIA. A Formação do Homem Grego. Tradução Artur M. Parreira. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
ORTEGA, Francisco. Para uma Política da Amizade. Arendt, Derrida,
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PLATÃO. DIÁLOGOS. Górgias (ou Da Retórica). Tradução Edson Bini.
São Paulo: Edipro, 2007.
VALLÉE, Catherine. Hannah Arendt Sócrates e a questão do totalitarismo. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. p. 47.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
27
WOLFF, Francis. Aristóteles e a Política. 2. ed. Tradutoras Thereza Christina Ferreira Stummer e Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Discurso
Editorial, 1991.
28
BREVE ESTUDO SOBRE CARROCEIROS
E CARROCEIRAS NAS “GÊMEAS DO IGUAÇU”
Leni Trentim Gaspari1
INTRODUÇÃO
Para o historiador Marc Bloch, a História é a ciência do homem no
tempo. A partir desse conceito, entende-se que ela foi construída em torno
das necessidades, dos saberes e fazeres dos diferentes grupos sociais, nos
diferentes espaços e tempos. O objetivo deste estudo é socializar e preservar
esse conhecimento para as gerações futuras. Pensando sob essa perspectiva,
farei, neste texto, uma breve reflexão sobre o trabalho de homens e mulheres que, pela utilização de carroças, desenvolveram atividades de imenso
valor na economia do Estado do Paraná e na vida dos moradores do Vale
do Iguaçu. A carroça, meio de transporte que hoje, pela evolução tecnológica, pode parecer rudimentar, foi no final do século 19 e início do século
20, um recurso valoroso no cotidiano das pessoas. O texto foi elaborado
tendo como base documentos localizados em arquivos locais, no arquivo
da Biblioteca Pública do Paraná, e em fontes bibliográficas, o que nos revela
uma inter-relação entre os fazeres do cotidiano desses trabalhadores e as
determinações legais específicas do período.
CARROÇAS E CARROCEIROS
Segundo Riesemberg (1973, p.124), a carroça foi, para a produção
industrial, uma das contribuições mais interessantes do colono polonês
para a cultura do vale, destinada à condução dos gêneros coloniais. Além
do incremento aos transportes, a introdução das carroças determinou o
traçado das estradas e o aperfeiçoamento do seu leito, preparando a região
para o advento dos veículos motorizados.
O mesmo autor diferencia a carroça polaca da carroça russa. A primeira fazia itinerários curtos, destinando-se principalmente a transportes
entre o lote rural e a sede da colônia ou até vilas próximas. Eram cobertas
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira n.º 19, tendo como Patrona
Edy Santos da Costa.
1
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29
somente em dias chuvosos, ao contrário das russas, que tinham a cobertura
com toldas fixas, pois percorria percursos mais distantes e constituía uma
casa provisória para o carroceiro. Nas palavras de Riesemberg (1969, p.38),
foram os russos-alemães que introduziram à paisagem cultural do Paraná os grandes carroções que rodaram pelas estradas da jovem Província,
criada em 1853, movendo-se com rapidez e percorrendo longas distâncias.
À proporção que o seu uso se generalizava, o carro de boi, lento e pesado,
usado até então, ia sendo excluído.
Existiam as maiores variações possíveis de carroças, e cada etnia
as adaptava às suas necessidades e possibilidades. Martins (1989, p.330)
descreve que os italianos gostavam:
[...] da carrocinha bem menor, com dois varais e um cavalo, com
ou sem tolda: e para o transporte da madeira utilizavam o mesmo tipo de carroça sem, entretanto, as guardas laterais e traseira:
conservou-se o que se poderia chamar de chassis, sobre o qual
as tábuas são empilhadas e solidamente fixadas por um sistema
engenhoso de mola de madeira, pedaço de pau roliço e flexível,
que se mantém tenso como um arco indígena, preso por uma
ponta ao próprio veículo e puxado pela outra, por uma corda ou
corrente.
Outra peculiaridade a salientar é que a carroça fazia parte de todas
as atividades de lazer e recreação dos imigrantes, e apresentava feições pitorescas pois:
Nas festas religiosas, nos casamentos e nos batizados, toda enfeitada de ramos verdes, os animais enlaçados de fitas coloridas,
o comprido chicote do boleeiro a estralejar em salvas sucessivas,
lá ia ela pelas estradas batidas, por entre as searas douradas, ao
claro tilintar dos guizos como uma mensagem de vida nova a se
propagar pelo vale (RIESEMBERG, 1973, p.126).
Carroças e carroções usados pela família e pelos convidados eram
enfeitados com flores e ramos de palmeiras para o acompanhamento dos
noivos à Igreja, sem esquecer os guizos colocados nos cavalos, os quais
anunciavam, com seu tilintar alegre, a aproximação dos noivos e convidados, chamando atenção da comunidade.
Não só aos colonos, ela também favorecia a vida dos homens e mulheres da cidade para deslocamentos em visitas a familiares, idas a missas,
30
festas de igrejas e velórios distantes, tendo em vista o número insuficiente
de outros veículos, dadas as condições financeiras da maioria da população
de União da Vitória e Porto União, lá pelo final do século 19 e início do
século 20. No próprio contexto administrativo da cidade constata-se a prestação de serviços à comunidade pelo uso da carroça, destacado em Edital,
no Jornal O Pharol, de 1919 (Porto União), o qual transcrevemos na íntegra
e em grafia original:
EDITAL l
Fiscalização Geral da Superintendência Municipal
De ordem do snr. Superintendente Municipal e para que não
alleguem ignorância, previno aos snrs. moradores das ruas
Prudente de Moraes, 7 de Setembro, 15 de Novembro, Coronel
Amazonas e Praça Major Mattos Costa que, a contar de hoje ficam expressamente prohibidos de lançar na frente de suas casas
e no leito das ruas, ciscos, cascas de fructas,etc. E para evitar-se
isto, as quartas feiras e aos sabbados a carroça de limpeza publica, percorrerá as ditas ruas e transportará o lixo, que deve estar
collocado em caixões ou latas, nas portas das casas, sob pena de
serem impostas aos seus infractores, as multas de acordo com
a lei. Fiscalização Geral da S.M de Porto União em 1-7-1919.
Fiscal Geral Jaime Correia Pereira (O PHAROL, 20 de julho de
1919, p.3.). (sic)
O Edital refere-se à cidade de Porto União, mas acredita-se que à
época o mesmo sistema fosse utilizado em União da Vitória. Outra notícia
interessante que encontrei, no jornal O Pharol de Porto União, refere-se a
uma grande e bela festa que ocorreu nas duas cidades, em 14 de julho de
1919, chamada a Festa da Paz, em comemoração à assinatura do Tratado
de Versalhes (1919), que foi um tratado de paz assinado pelas potências europeias, que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Entre as
inúmeras festividades acontecidas durante o dia todo, nas duas cidades,
chamou-me a atenção o seguinte relato do jornalista: “[...] às 20 horas foi
organisado, à rua General Bormann, em frente à Sociedade Dante Alighiéri, o grande Prestito Cívico, em que tomaram parte 17 carros, entre elles,
alguns allegóricos,os quaes desde as 19 horas começaram a affluir n’aquelle
local [.. ]” (sic) (O PHAROL, Porto União, 20/7/1919, p.1-2).
Que carros seriam esses? Automóveis? Creio que não, os primeiros
automóveis chegaram em 1923, na Agência FORD e pela descrição feita do
que ia em cima desses carros, não seria possível que fossem automóveis.
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Vejamos por exemplo a descrição do Carro nº1: ‘Banda de Música União
Recreativa’, Cujo carro era armado em forma de coreto e com folhagens,
bandeirolas e lanternas à Giorno”. Os demais carros também levavam muitas coisas a céu aberto, então descarto essa hipótese. Seriam caminhões? Na
época as cidades provavelmente não teriam 17 caminhões para esse desfile,
mas podemos levantar a hipótese de que eles poderiam ter vindo das redondezas? Também creio que não! O exercício do historiador é levantar
possibilidades, e inclino-me a pensar que esses carros seriam carros de tração animal. Encontrei a denominação “carros” em uma Lei de 1928, que
se refere ao imposto sobre carroças e carros de aluguel com tração animal.
Fica a questão para os que gostam de historiar e pesquisar e, quem sabe,
encontrarmos, juntos, algumas respostas.
Com o advento do trem, muitos eram os carroceiros contratados
para transportar as mercadorias que chegavam ou iriam partir pelo caminho dos trilhos, fortalecendo a constância de suas atividades e garantindo uma certa situação de conforto pelo trabalho contínuo, que assegurava
maior poder aquisitivo. Essas novas situações favoreceram maiores oportunidades de trabalho pela utilização das carroças, garantindo certa estabilidade financeira aos carroceiros, podendo ser chamado esse período de
o “tempo das carroças”. Segundo Armando Trentin, em entrevista (2007),
com a chegada dos trens a União da Vitória, os carroceiros eram chamados
para conduzir as mercadorias que chegavam para as casas comerciais da
cidade. Para o Armazém do Sr Petry, eram levados produtos alimentícios
em geral. Os sacos de sal suavam e dificultava o carregamento até as carroças, ferindo os dedos dos carregadores. Para a fábrica de bebidas do Sr.
Manfroni chegavam cervejas, as quais vinham embaladas em palhas para
não quebrar, e à Loja Gabriel Nemes era grande a diversidade de utensílios
transportados.
Considero relevante destacar que, se em algumas cidades o trem
garantiu essa ampliação de trabalho aos carroceiros, em Curitiba, no dia
2 de fevereiro de 1885, quando se iniciava o tráfego comercial via trilhos,
marcando nova fase na economia dos transportes no Paraná, segundo Werner (1985,p.56), uma parte da população protestava em frente à Câmara de
Vereadores, por temer o desemprego dos carroceiros que até então eram
responsáveis pelo transporte de carga, principalmente, da erva-mate na estrada da Graciosa. O temor dos carroceiros tinha fundamento, pois, com
o início dos serviços ferroviários, o trânsito na rodovia da Graciosa ficou
abandonado, sendo restaurada somente 25 anos mais tarde. A estrada da
32
Graciosa foi o primeiro caminho carroçável que ligou Curitiba ao Porto de
Antonina, tornando-se transitável a partir de 1873.
Palú Filho e Moletta (2012, p.144) asseveram que, em 1875, imigrantes italianos que estavam assentados na Colônia Nova Itália, descontentes com a falta de estrutura na Colônia, manifestaram desejo de procurar outro lugar para se estabelecer, motivados pelas noticias que recebiam
pelos carroceiros que transportavam erva- mate, sobre a prosperidade de
outros imigrantes. “O Governo da Província cedeu às ‘pressões’, colocando
à disposição carroças, para que os colonos pudessem subir a serra, pela Estrada da Graciosa, rumo a Curitiba.” A viagem ocorreu em pleno inverno,
com as carroças carregadas com os pertences, com as mulheres e crianças e
os homens seguiram a pé, num período de três dias.
Carroças e carroções foram fundamentais, tanto para transporte
de pessoas como para conduzir cargas, numa época em que havia poucos caminhões e as estradas muito difíceis para transitar. Eram comuns
as viagens dos carroceiros que se deslocavam para Palmas, levando sal e
trazendo charque, para vender nos armazéns locais. Outros produtos foram transportados, como madeira, erva-mate, animais de pequeno porte e
vários tipos de alimentos.
Na sequência apresento uma foto de um carroção com oito cavalos,
muito comum no transporte de produtos de uma cidade para outra.Carroceiro não identificado.
FOTO 1: Carroção do ano 1945. Valões, hoje Irineópolis.
FONTE: Acervo da autora, foto doada por Carlos Guérios.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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O transcorrer das viagens apresentava inúmeras dificuldades que
tornavam o trabalho dos carroceiros desgastante, pelos perigos que enfrentavam pelas estradas. Essa convivência diária com o perigo fez com que
eles se organizassem em grupos para viajar e, assim, se protegessem mutuamente. Ao anoitecer, paravam próximo a uma fonte de água, faziam uma
pequena fogueira e, ao redor dela, refaziam suas energias, da longa viagem,
aqueciam seus alimentos e tinham uma boa “prosa” com os companheiros,
contando suas histórias, fortalecendo os laços de amizade e solidariedade.
Além disso, segundo Bach (2003, p.135), “eram histórias de uma vida dura
mas que ardia no peito deles como as fogueiras de cada parada [...] conversavam sobre os desafios de cada trajeto, a qualidade dos animais e do
espírito de coragem que parecia estar presente em cada chegada e em cada
partida.”
Cleto da Silva (1920, p. 189) comenta em seu livro, o Contestado
diante das Carabinas, que encontrou “no trajeto Horisonte e Taipinha, seis
carroças carregadas de herva matte e couros que se destinavam a União da
Victória. Os condutores sesteavam e os animais estavam largados ao pasto”.
Eram momentos de conversas, descanso, de tocar gaitinha de boca, tomar
um chimarrão e, enquanto os animais descansavam, e se alimentavam, os
trabalhadores lembravam-se da família, cuja saudade apertava, tendo em
vista que as viagens eram demoradas. Destaco a primeira estrofe do poema
Carroceiro Solitário, de Jurandir Bianco, registrado no livro Carroções, de
Arnoldo Monteiro Bach ;
O carroceiro ia faceiro, seguindo pela estrada,
Com sua gaitinha de boca pra tocar lá na pousada
Quando a tarde chegava, todos com muita alegria,
Desengatavam a burrada, pois só saiam no outro dia.
A noite contavam causos, perto do fogo de chão
Tomavam um gole de pura, depois de um bom chimarrão.
(BIANCO apud BACH, 2003, p.7).
Havia alegria, mas também dificuldades tanto nos caminhos carroçáveis quanto nas travessias de balsa. Rockenbach (2006, p.111) escreveu
que o transporte de mercadorias entre Cruz Machado e União da Vitória
era feito por meio de carroças e a travessia no Iguaçu acontecia com a utilização da balsa que existia ao final da Rua Cruz Machado.
34
FOTO 2: Passagem sobre o Rio Iguaçu,
União da Vitória a Cruz Machado.
FONTE: Acervo pessoal da autora.
Essa passagem durava 30 minutos ou mais, dependendo das condições do rio. A balsa era guiada por um cabo de aço. Relata ainda que
acidentes aconteceram várias vezes, dificultando o trabalho dos carroceiros: “[...] a balsa afundou com duas carroças e oito cavalos que estavam
engatados e não puderam nadar porque estavam presos pelo arreiamento
e morreram afogados.” Segundo a autora, os carroceiros e o balseiro foram
salvos por canoeiros que chegaram a tempo.
Outra balsa foi construída nas proximidades da Ponte Férrea, e outro acidente foi registrado, em consequência de grandes chuvas ocorridas,
pois, com o Rio Iguaçu muito cheio, “[...] arrebentou o cabo da balsa e ela
desceu rio abaixo e enroscou num galho do barranco”. (ROCKENBACH,
2006, p111.) O conserto durou quatro dias e, ao reiniciar a passagem, a
balsa carregada arrebentou novamente. Esse fato causou vários transtornos
aos carroceiros, que não podiam atravessar e retornar a Cruz Machado,
tendo que permanecer em União da Vitória, com despesas adicionais com
eles e com seus animais. As cargas nesse período passaram a ser atravessadas por meio de canoas e os carroceiros que aguardavam à beira do rio
faziam o transporte aos locais destinados.
Em consulta ao Contrato de Arrendamento de Balsa sobre o Rio
Iguaçu, datada de 29 de março de 1929, realizado entre o Dr. Rivadávia
Amazonas e a Prefeitura Municipal de União da Vitória, os valores para a
travessia de cargas e pessoas constam no Art. 6º do referido Contrato, da
seguinte forma:
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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O contratante se obriga a cobrar os seguintes preços de passagens dentro do seguinte horário: das 6 as 20 horas no verão e das
6 as 18 horas no inverno:
De pedestres, por pessoa- 300 réis
De cavalheiros (sic) por unidade -500 réis (creio ser cavaleirosnota minha)
De animaes soltos por cabeça – 500 réis sendo bois, 600 réis
De cargueiro carregado pór unidade- 500 réis
De cargueiro vasio por unidade- 500 réis
De carroças a tracção animal com dois animaes, por unidade
1$200 réis
Por animal acrescido na carroça, por cabeça, na carroça além do
preço de 1$20 – 300 réis
De caminhão e automóveis por unidade2$500 réisDe automóveis com ou sem passageiros, por unidade, 2$500 réis
De animaes caprinos, lanígeros, por cabeça 200 réis.
Fora do horário os preços serão o triplo da tabela.
(Registros de Contratos, Livro nº 01, Arquivo Municipal de
União da Vitória, 1897, p.53)
Nessa labuta, os carroceiros ocuparam um papel fundamental, senão insubstituível, por muitos anos, no serviço de transporte de produtos
e passageiros. Rockenbach (2006,p.137) destaca que as cidades de União
da Vitória, São Mateus e Inácio Martins eram, em grande parte, abastecidas pelos produtos vindos de Cruz Machado. Consistiam em linguiças
acondicionadas em cestos de taquara lascada ou caixotes, charque seco ou
prensado em sacos brancos, ovos que eram colocados e protegidos com palha de trigo picada, em barricas. “Traziam banha em latas e galinhas dentro
de engradados, colocados por fora da tampa traseira da carroça para não
serem sufocados”. A viagem demorava aproximadamente uma semana e,
muitas vezes, os carroceiros faziam o serviço de correios, estabelecendo,
assim, pontos de comunicação entre uma localidade e outra.
Marczal, em entrevista concedida a Rockenbach, relata que durante
a Revolução, em 1924 (chamada Revolução Paulista ou Revolução Esquecida), muitos carroceiros foram requisitados para transportar mantimentos
para o exército acampado em Palmas. Depois de Palmas, alguns seguiram
até Pouso Alegre, e outra turma até foz do Iguaçu. Segundo o entrevistado,
também transportaram homens do exército, soldados e armas. Ele destaca
as grandes dificuldades encontradas no transcorrer da viagem, pelo peso
excessivo nas carroças e pelas estradas difíceis de trafegar: “[...] em alguns
36
lugares tivemos de construir bueiros e roçar o mato. A estrada era estreita
cheia de pedras e buracos não conseguíamos passar com as carroças grandes.” (MARCZAL apud ROCKENBACH, 2006, p126.)
Na construção da pesquisa fui percebendo as formas como foram
sendo construídas as relações de trabalho no universo dos carroceiros, os
quais estiveram à frente das inúmeras necessidades das regiões onde estavam fixados. Relendo o livro Raimundinho (1996, p.12), pioneiro do
Maratá, localidade situada no interior do município de Porto União, percebi como as carroças foram fundamentais no interior, pois davam todo
o suporte necessário aos trabalhos agrícolas e aos deslocamentos para as
diferentes atividades. Ele descreve: “fomos pôr os quatro bois no carretão e
levamos as toras à serraria para serem serradas naquela noite mesmo. Durante o dia a sua força era usada na moagem de cereais”. Raimundinho destaca, em suas memórias, as dificuldades enfrentadas com seus amigos carroceiros, nos dias de chuva, e também no período de uma grande enchente
em Porto União, quando tentaram atravessar pela água e tiveram muita
dificuldade em desencalhar o carro atolado. Faz referência à determinação
municipal de cobrança de impostos sobre carroças, em Porto União, o que
não agradou aos carroceiros. Raimundinho afirma que (1996, p.12)”[...] no
ano de 1928 ou 30 foram cobrados impostos de 22$000 réis por carroça,
o que representava muito dinheiro para os pioneiros que vinham praticamente sem nada do Rio Grande.”
Embora os impostos constituíssem dificuldades aos carroceiros,
essa cobrança era necessária, tendo em vista a pequena arrecadação das
duas cidades. No diário Oficial do Estado do Paraná, de novembro de ano
1928, consta a Lei Municipal nº 209, de União da Vitória, que foi assinada
no dia 25 de outubro de 1928, pelo Prefeito Municipal da época, Joaquim
Penido Monteiro, estipulando a cobrança de impostos sobre as carroças, a
qual transcrevo parcialmente, para melhor entendimento do leitor:
O Bacharel Joaquim Penido Monteiro, Prefeito Municipal de
União da Victoria, Estado do Paraná. Faz saber a todos os munícipes que a Camara Municipal decretou e elle sancciona a presente Lei:
Art. 1º - A tabela de preços marcada pela Lei nº 127 de 30 de
Outubro de 1927 para cobrança dos impostos de vehículos fica
assim alterada:
a) Carroças de duas (2) rodas, com molas para uso particular,
tendo os aros das rodas com largura mínima de cinco (5)
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b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
j)
k)
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centímetros - 1$000 por anno; com menos de cinco (5) centímetros de largura, nos aros – 12$500, por anno;
Carroças de duas (2) rodas sem molas, para commercio de
transporte, tendo os aros das rodas com a largura mínima de
cinco (5) centímetros – 15$000 por anno; carroças de duas
(2) rodas sem molas para commercio de transporte, com
aros de largura inferior a cinco (5) centímetros – 25$000.
Carroças de quatro (4) rodas, de uso particular, eixos n.ºs
16 e 17, com molas, aros com largura mínima de quatro (4)
centímetros – 12$500 por anno; com aros de largura inferior
a quatro (4) centímetros – 20$000, por anno.
Carroças de quatro (4) rodas, eixos n.ºs 18 e 19, para uso
particular com molas, aros com largura mínima de cinco (5)
centímetros – 18$000, por anno; com largura de aros inferior a cinco (5) centímetros – 25$000 por anno.
Carroças de quatro (4) rodas, eixos nºs 18 e 19 para commercio de transporte, sem molas, aros com largura mínima
de cinco (5) centímetros – 30$000 por anno; com largura
dos aros inferior a cinco (5) centímetros – 48$000, por anno.
Carroças com quatro (4) rodas, eixos nºs. 31 e 34 com largura de aros mínima de dez (10) centímetros – 40$000 por
anno; com aros de largura inferior a dez (10) centímetros
– 60$000 por anno.
Carroças de quatro (4) rodas, de eixos nºs 50, inclusive, para
cima, com aros de largura mínima de dez (10) centímetros
– 55$000 por anno; com aros de largura inferior a dez (10)
centímetros – 85$000 por anno.
Automóveis para uso particular – 30$000 por anno, automóveis de aluguel e caminhões particulares ou de aluguel
50$000 por anno.
Carros para uso particular puxados a um (1) animal com
duas (2) ou quatro (4) rodas com aros de largura mínima de
cinco (5) centímetros 12$000 por anno; com aros de largura
inferior a cinco (5) centímetros – 15$000 por anno.
Carros para aluguel puxados a um (1) animal com duas (2)
ou quatro (4) rodas, com aros de largura mínima de cinco
(5) centímetros -15$000 por anno; com aros de largura inferior a cinco (5) centímetros – 17$500 por anno.
Carros para uso particular, com molas, puxados a 2 ou 4
animaes, com quatro (4) rodas com aros de largura mínima
de quatro (4) centímetros – 15$000, por anno; com aros de
largura inferior a quatro (4) centímetros 17$500 por anno.
l) Carros para aluguel, de quatro (4) rodas, com molas, puxados a 2 ou 4 animaes, com aros de largura mínima de quatro
(4) centímetros – 17$500 por anno; com aros de largura inferior a quatro (4) centímetros 20$000 por anno. [...] (PARANÁ, Diário Oficial, 1928, p.7).
A referida Lei determina ainda que todos os contribuintes de impostos sobre veículos deveriam pagar também as “chapas” fornecidas pela
Prefeitura Municipal e que o proprietário que registrou seu veículo como
de uso particular não poderia utilizá-lo para comércio, pois, nesse caso,
seria punido com uma multa de cem mil réis (100$000), na primeira vez, e
de duzentos mil réis(200$000), em cada reincidência.
Os artigos 2º e 3º referem-se aos impostos sobre bicicletas e motocicletas. O artigo 4º explica que “todos os contribuintes de impostos sobre
vehículos deverão pagar também o preço das chapas fornecidas pela Prefeitura Municipal.” Constata-se que, à medida que os trabalhadores carroceiros, proprietários de diferentes tipos de carros com tração animal existentes na cidade, utilizavam-nas para distintos fins e os poderes públicos
regulamentavam o seu uso, como forma de garantir um padrão de serviços
e também de contribuições desses trabalhadores aos cofres público. Impostos à parte, outras exigências também faziam-se necessárias. Vejamos o que
Buch Filho (2010, p.34-35) escreve sobre um relato do Sr Rodolfo Brand,
morador de Lança:
[...] quando chegou um dos primeiros automóveis em Porto União/
SC, um Ford, foi colocado em exposição na calçada na frente da
antiga Casa Ferro. Vindo o Sr. Rodolfo de carroça à cidade para
trazer erva-mate e voltar com mercadorias, os cavalos dispararam
na rua Matos Costa e ele não teve como controlar a mesma, a qual
veio a bater em cheio no automóvel. Como pode imaginar, caro
leitor, a carroça desgovernada amassou a porta e também outras
partes do automóvel zero km. O proprietário do carro tratou de
chamar a policia que logo compareceu ao local do acidente.Chegando lá o delegado perguntou ao Sr. Theodoro Kroetz, proprietário do automóvel e da agência Ford: O senhor tem carteira de
motorista? Ele respondeu que não. O policial então indagou ao
dono da carroça: o senhor tem carteira de carroceiro? Sim, está
aqui. O delegado então dirigindo-se ao proprietário do automóvel
proferiu: Então o senhor vai arcar com os prejuízos do seu automóvel e mais os da carroça (BRAND apud BUCH, 2010, p.34-35).
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Trata-se de um pequeno caso, mas que reflete bem a mentalidade
da época sobre a importância de se cumprir a exigência de documentação
necessária para a condução de veículos motorizados ou a tração animal.
As carroças eram emplacadas na Prefeitura e os condutores recebiam o regulamento que norteava o trânsito desse veículo de transporte em Porto
União. Tratava-se de um documento interessante, pelas normas a serem
cumpridas para carroças com dois ou mais cavalos. Também estavam descritas as proibições determinadas para transitar dentro da cidade e conforme registro de Buch Filho (2010, p. 36) “[...] não era permitido trotear nas
ruas Matos Costa, Prudente de Moraes, Sete de Setembro e em algumas
outras centrais.” Revela ainda que se fossem encontrados cavalos cujo lombo estivesse esfolado seria atribuída multa ao carroceiro. Evidencia-se aqui
a preocupação com a proteção e cuidados aos animais, fundamentais para
a vida dos moradores das cidades naquela época.
Tomar contato direto com fontes primárias é gratificante para o
historiador, pela riqueza de informações que se podem apreender sobre os
modos de viver dos grupos sociais de tempos diferentes ao nosso. Tokarski
(2013,p.63) faz uma análise do primeiro Código de Trânsito em Canoinhas, datado de 16 de abril de 1926, e ressalta que o décimo parágrafo do
referido Código definia que, para a condução de carroças e outros veículos
de tração animal, o condutor deveria ter idade mínima de16 anos. O autor
complementa sua análise, explicando que não era permitido o abandono de
veículos de tração animal nas ruas e praças,
[...] mesmo que os animais tenham sido desatrelados, ou ainda
trabalhar com animais feridos, doentes ou excessivamente magros.Também era vedada a utilização de animais em número
além ao do registro do veículo e conduzi-lo fora do passo estabelecido. Coibia-se, ainda,o uso do chicote, com risco de atingir
transeuntes ou estalando, sem moderação, e sem necessidade
justificável (TOKARSKI, 2013, p. 64).
Com base na Lei Nº113, de 26 de novembro de 1925, do município
de Mafra2, constatei em alguns artigos várias semelhanças com os documentos citados anteriormente . Destaco a seguir algumas determinações
Documento obtido por intermédio do Dr. Victor Buch Filho, junto ao seu amigo
Sr Hilson O. Steidel. A eles meus agradecimentos.
2
40
diferentes no que se refere às exigências para obtenção da carteira de habilitação. No art.1º, parágrafo II, letra a , consta que o candidato deverá provar
“que não soffre de moléstia contagiosa nem de mal que ,a possa privar repentinamente do governo do vehículo e que tem os órgãos visuaes e auditivos em perfeito estado de funcionamento, mediante attestado médico”.(sic)
Na sequência da Lei, outras determinações vão surgindo como
forma de prevenir contra acidentes e abusos dos condutores. No artigo 9º
parágrafo VI define que: “a velocidade dos vehiculos de tracção animal e
applicados ao transporte de pessoas nunca poderá ser superior a de um
cavallo a trope largo[...]”. A mesma referência é feita para o transporte de
“cousas” (sic).
Essa preocupação com a segurança dos passageiros também aparece com relação aos transeuntes, quando determina que o “vehiculo deve
ser dirigido com prudência de forma a evitar prejuízos aos transeuntes[...]”.
Percebe-se ainda no texto da lei a preocupação com o tratamento respeitoso que deveria ser dado aos animais.
Pela análise dos documentos constata-se que o os regulamentos
das cidades, em âmbito regional, assemelham-se. Fica evidenciado que os
condutores deveriam ter Carteira de Habilitação para conduzir as carroças
e essa exigência também acontecia nas cidades Gêmeas. Nos documentos
oficiais do Arquivo Municipal de União da Vitória encontrei o Livro de
Termos de Exames de Condutores de Vehículos de 1931-1941, no qual
constatei que, na década de 30 do século 20, foram concedidas 35 autorizações para conduzir carroças a pessoas de União da Vitória, Porto União,
Cruz Machado e Colônia Amazonas.
MULHERES CARROCEIRAS: um grande desafio
No documento mencionado anteriormente consta que das 35 autorizações, trinta e quatro foram para homens e uma para mulher. Vejamos a
pioneira nessa conquista, na transcrição integral e grafia original do Termo
de Exame de Habilitação:
Aos dois dias do mês de Setembro de mil e novecentos e trinta e um, nesta cidade de União da Victoria, Estado do Paraná
no local designado pelo Snr. Dr. Prefeito Municipal e perante o
Snr. José Serafini, Fiscal Municipal, comigo Evaldo Burmeister,
Secretario Interno da Prefeitura, compareceu a senhora Dª Dorothea Scheibe, allemã, com 46 anos de idade, casada, filha de
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Nicolau Scheibe, residente nesta cidade, declarando que queria
se habilitar na forma da lei para condusir carroça. A qual foi examinada e julgada apta pelo que se lhe expediu a competente carteira de habilitação. Do que para constar foi lavrado este termo
que vae assignado. José Serafini.
Apenas uma mulher tinha autorização nesse período, mas é certo
que muitas eram condutoras de carroças, principalmente, as mulheres imigrantes, que vinham do interior, trazendo seus produtos rurais para vender: feijão, verduras,requeijão, manteiga, ovos, pinhão, milho, abóboras e
até lenha. Algumas tinham freguesia certa, em determinadas residências,
mas a maioria se dirigia aos armazéns de secos e molhados.
Faz parte das minhas lembranças o transitar dessas mulheres notáveis, na década de 50, com suas carrocinhas, principalmente às sextasfeiras, quando chegavam ao Armazém do meu progenitor, no Bairro Rio
D’Areia, para estabelecer comércio : vender os produtos rurais e comprar
os que não havia na colônia, tais como querosene, sal, tecidos, café, armarinhos e açúcar, entre outras coisas. A postura dinâmica dessas mulheres que
enfrentavam esse desafio, além de todo o trabalho nas chácaras, mostra que
elas partilhavam, ao lado dos homens, das atribuições cotidianas, deixando,
porém, transparecer certa independência.
Carlos Guérios (2014),pesquisador e estudioso sobre a imigração
sírio-libanesa na região, conta que as mulheres dessa etnia cuidavam da
alimentação, da roupa, das doenças e remédios, além do árduo trabalho da
casa. Quando necessário, faziam costuras e vendas de doces e alimentos,
para atender a pedidos dos clientes. “Muitas delas sofrendo a dor da viuvez, também pegavam malas e carroças e saíam mascatear pelo interior e
arredores das Cidades Gêmeas.” O pesquisador relata ainda que, para ir aos
locais mais distantes, serviam-se do trem e, nos lugares mais próximos, a
carroça “[...] levavam baús com: tesouras, facas, agulhas, dedais, fios, meias,
giletes, elásticos,tecidos, botões, tamancos, canivetes, suspensórios, cintas,
isqueiros, penicos, colares, pulseiras, talheres, entre outras coisas.”
As carroças foram, portanto, recurso necessário para o ganha-pão
de muitas mulheres das nossas cidades, seja mascateando no interior, como
as sírio-libanesas, seja entregando leite nas residências, como as alemãs,
seja trazendo produtos coloniais como as polonesas, ucranianas e italianas,
que realizavam essas funções com altivez e segurança, pelo bem-estar das
sua família, mostrando que, de sexo frágil não tinham nada.
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Relato interessante da minha progenitora, filha de carroceiro, conta
que, em épocas de enchentes, tão comuns em nossas cidades, as carroças
eram utilizadas para transportar mudanças dos lugares próximos ao Rio
Iguaçu, para outros espaços mais seguros, e que, na ausência dos marido
ou filho, as mulheres tomavam para si essa tarefa. Recorda ainda que era
comum, nos anos 40, professoras e parteiras servirem-se das carroças ou
cavalos, para chegar com mais rapidez à escola ou à casa onde estava para
nascer um bebê.
Bach (2002, p.209) registra o caso de uma mulher que residia em
Prudentópolis, conhecida como Maria Carroceira. Desde pequena manifestava o desejo de conduzir uma carroça e, ao tornar-se adulta, com apoio
do pai, realizou esse intento, com muita segurança e habilidade: “Maria
movimentava as rédeas com leveza, conduzindo o carroção como se já tivesse muitos anos de estrada.” O autor relata ainda que sua presença na
estrada era motivo de surpresa aos carroceiros e também, nos lugares por
onde passava, pois ia provocando diferentes reações, chamando a atenção
das pessoas, que ficavam admiradas com a coragem da moça exercendo
essa profissão, considerada trabalho para homem. Aos poucos, ela foi conquistando seu espaço, e os homens carroceiros acostumaram-se com sua
presença nos comboios.
O mesmo autor continua seu relato afirmando que, mediante as
preocupações do pai da jovem Maria, com a vida dura que enfrentavam
nas estradas, pois ele sempre viajava junto, em outro carroção, ela respondia: “Não se preocupe, pai, eu gosto de viajar, de entender como é a vida de
um carroceiro e como é difícil ganhar a vida nessa profissão.” Maria sentia
orgulho por ser a primeira mulher carroceira da região, e imaginava que
outras mulheres se juntariam a ela, para formar um comboio formado por
carroceiras. Assumir profissões consideradas do universo masculino nunca foi fácil para as mulheres, no entanto, aos poucos, as conquistas foram
acontecendo pelo dinamismo e espírito de luta com que elas abraçaram as
dificuldades, para atuar junto aos homens, não como superiores, mas em
situação de igualdade.
Bueno (2004, p.57) revela em sua importante pesquisa sobre as
mulheres imigrantes polonesas no Paraná, no final do século 19 e nas primeiras décadas do século 20, que as mulheres agricultoras foram hábeis na
venda dos produtos trazidos das colônias, lotando suas carrocinhas com
lenha, verduras, requeijão manteiga, ovos e frutas da estação. “Conduziam
suas carroças pelas ruas de Curitiba e após estacionarem suas carroças, parRevista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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tiam para a venda em domícilio nas casas no centro da cidade. Nessas ocasiões aproveitavam também para comprar as mercadorias necessárias para
o consumo caseiro”.(BUENO, 2004, p.58).
A autora aponta que, em 1874, foi construído um mercado em
Curitiba, e havia um detalhado regulamento que organizava o funcionamento desse novo espaço destinado às vendas. As carroceiras tiveram que
adaptar-se às novas normas, e suas carroças só poderiam ser estacionadas
fora da Praça, teriam de pagar impostos e respeitar o espaço de circulação
definido. Em que pesem as dificuldades que foram surgindo, nada impediu
que as carroceiras tivessem um trabalho autônomo. Trindade (1996,p.267)
assegura que “[...] o trabalho da verdureira é um caso típico de complementação de renda familiar, ônus além dos encargos domésticos; e quando
subsidiário aos ganhos do marido, representa uma reserva para as despesas
adicionais ou para os períodos de crise”.
FOTO 3: Ultimas carroças de colonas de Santa Felicidade,
levando seus produtos para Curitiba – 1959.
FONTE: Acervo Cid Destefani, publicado em Gazeta do Povo,
Sessão Nostalgia, 2003.
Essas são nossas mulheres. No passado, atuantes no seu meio, ainda que fosse pelo uso das carroças e, muitas vezes, discriminadas até por
aqueles que registraram a História e omitiram a participação delas. Hoje,
44
em sua maioria, não conduzem mais as carroças, mas estão habilitadas a
dirigir automóveis, motos, ônibus e caminhões, entre outros veículos, para
o exercício das mais diversas profissões. Inseridas na vida pública, e, mais
do que nunca, comprometidas com a sociedade, são valorizadas e suas histórias vão sendo escritas, tirando-as da invisibilidade.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Carroceiros ou carroceiras, nas grandes ou pequenas comunidades, independente dos serviços que prestaram,tiveram seu papel de grande
relevância no desenvolvimento social e econômico de cada espaço por onde
transitaram. A crescente urbanização e os novos meios de transporte que,
aos poucos, tomaram conta das cidades, modificaram os saberes e fazeres das pessoas. A modernidade trouxe benefícios, é verdade, mas também
concorreu para a perda de singularidades e alteraram as relações cotidianas. Encerro tomando emprestadas as palavras da historiadora Wilma de
Lara Bueno (2004,p.127), quando afirma que “[...] os impulsos arrasadores
do progresso relegaram às margens da história os sujeitos anônimos que se
ocupavam da trivialidade diária, e impuseram a todos a força do igual que
a tudo sucumbe e tudo nivela”.
REFERÊNCIAS
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___________ Carroções: outras histórias. Ponta Grossa: UEPG, 2005.
BUCH FILHO, Victor. Meu livro minhas histórias. Florianópolis: Gráfica
Editograf, 2010.
BUENO, Wilma de Lara. Uma cidade bem amanhecida: vivência e trabalho das mulheres polonesas em Curitiba. 2 ed. Curitiba: Aos quatro ventos,
2004.
CLETO DA SILVA. O Contestado diante das carabinas, Curitiba: Gráfica
Paranaense, 1920.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
45
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LERNER, Theobaldo Raymundo. Raimundinho: um pioneiro de Maratá.
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MARTINS, Wilson. Um Brasil diferente: ensaio sobre fenômenos de aculturação no Paraná. 2. ed. São Paulo: T. A Queiroz. (Coleção Coroa Vermelha) Estudos Brasileiros, v. 16.
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história, imigração, genealogia, heráldica. 2. ed. Curitiba: Edição do autor:
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WERNER, Waldemar. Estrada de Ferro Paranaguá - Curitiba - 100 anos
Ferrovia e Ferroviários - Memórias. In: Ferrovia Paranaguá - Curitiba:
1885 -1895 uma viagem de 100 anos. Curitiba: RFFSA, 1985.
FONTES PRIMÁRIAS
Arquivo Municipal de União da Vitória:
REGISTROS de Contratos, livro nº 01, março de 1897.
46
LIVRO de Termos de Exames de Condutores de Vehiculos de 1931-1941
Trentin Armando. Depoimento concedido à autora. União da Vitória,
2007.
Trentin, Erminia. Depoimento concedido à autora. União da Vitória, 2014.
Lei Municipal nº 113, de 26.11.1925, da cidade de Mafra.
Jornais:
O PHAROL. Porto União, Edital. 20 de julho de 1919, p. 03 (Acervo da
ALVI).
___________ Porto União. Festa da Paz. 20 de julho de 1919, p. 01-02.
(Acervo da ALVI).
PARANÁ, Diário Oficial. Lei Municipal n.º 209, 1928, p. 7.
GAZETA do Povo. Sessão Nostalgia, 07 de julho de 2013, p. 20. Curitiba,
Paraná.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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O SONHO SE TORNA REALIDADE
Paulo Horbatiuk 1
Fahena Porto Horbatiuk2
INTRODUÇÃO
Fazer o bem a quem mais precisa, com humildade e alegria. Essa
foi a vontade de Luís Maria Palazzolo, com a criação de condições para o
atendimento de meninos pobres, em Bérgamo, Itália. E, logo depois, de
uma organização feminina – as irmãs dos Pobres – que temos entre nós, no
Instituto Palazzolo, que cuidam das nossas meninas, as mais necessitadas e
em situação de risco. De 1869 a nossos dias, sempre houve pessoas generosas, disponíveis para essa obra beneficente.
Há 25 anos temos representantes dessas irmãs entre nós, alegres,
felizes, em doação integral ao atendimento, educação e zelo de nossas
crianças.
Por isso nossa comunidade, agraciada com essa bênção, precisa conhecê-las, dar-lhes mais apoio e embarcar nessa Onda do Amor de Deus,
cooperando para que as Irmãs possam, realmente, realizar-se, em nosso
meio. E tendo por elas e pelas “suas meninas”, gestos generosos de carinho.
Conhecer melhor essas Irmãs, também pode inspirar algumas jovens a aderirem à causa, num serviço gratuito, do mais puro Amor. Pois no
serviço divino há sempre lugar para mais alguém que se encante em servir
aos pequeninos, ansiosos por afeto, ternura e um pouco de esperança.
Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 06, tendo como Patrono João
Hort.
1
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono
Luiz Wolski.
2
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Foto1: INSTITUTO PALAZZOLO, em União da Vitória.
Fonte: Cedida pelas Irmãs do Instituto (2014).
PADRE LUÍS PALAZZOLO
De família de posses e de cultura, mas de uma região pobre da Itália, em Bérgamo, nasce a 10 de dezembro de 1827, o oitavo filho de Teresa
e de Otávio Palazzolo. Eles haviam perdido já seis filhos: dos restantes um
viveria até os oito anos de idade. Luís Palazzolo, o recém-nascido, passou a
chamar-se Palazzolino.
O pai, Otávio, tinha uma gráfica e o menino nascera forte, porém,
durante a infância, muitas vezes, esteve doente e tornou-se franzino. Como
era muito generoso, desde pequeno, doando as moedinhas que possuía aos
pobres, e que eram muitos, diziam que ele era o Palazolino-Bolso-Furado.
Aos dez anos, o menino perde o pai, e Dona Teresa, muito cristã,
confiou ao Padre Pietro Sironi que o encaminhasse e protegesse. E eles fizeram grande amizade. Fez seus estudos, gostava de língua e de literatura
italiana e de música. Decidiu tornar-se um sacerdote, para poder dedicar-se
completamente aos pobres. Cursou Filosofia e Teologia, estudando bastante, mas não apreciava discussões ou especulações, pensando que o principal era dar testemunho de vida e muito amor aos pobres.
Ia com frequência rezar no oratório da rua Foppa, num quarteirão
miserável de Bérgamo, com sua turma de meninos esfarrapados, porém
adoráveis e a eles depois contava histórias, fazia jogos, teatrinhos, cantos,
que os fascinavam.
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Com o tempo, fez uma salinha ao lado do oratório, para os meninos rezarem. E depois, alugou um terreno anexo, para ter mais pátio, tantas
eram as crianças.
Mas, em dias de chuva e frio, não ficavam acomodados. Eram mais
de cem. Vendeu uma casa que seu pai deixara de herança em San Pellegrino e, lá construíra novas instalações. Inaugura com festa e com as bênçãos
do Mons. Valsecchi, um de seus antigos orientadores espirituais. Palazzolo
fez normas de trabalho com as crianças e buscava a santidade. Instala as
primeiras escolas, pois a maioria era de analfabetos. No início, ele dava as
diferentes disciplinas, depois, os próprios alunos já formados. A escola de
Palazzolo era reconhecida pelas autoridades civis e eclesiásticas.
Em tempos difíceis politicamente, 1859, viu-se forçado a fechar
aquela casa, comunicando, em lágrimas, aos meninos mais chegados. Fez
mais algumas reuniões fora dali, numa barraca, mas o grupo se dispersou e
ele entra em crise. Com sacrifício dos bens, sua mãe arranja-lhe outras casas para seu trabalho com as crianças. A mãe adoenta-se e falece em 1862.
A partir daí, a situação política mudou e a Itália estava praticamente unificada. Padre Luís construiu uma casinha para ele, e acrescentou a seu
oratório um grupo da Sociedade Juventude Católica, movimento surgido
na Itália.
Um dia, Mons. Valsecchi perguntou-lhe sobre as meninas: “Alguém
deveria se interessar por elas. Por que não você?
Então ele iniciou ali uma obra chamada Pia Obra de Santa Doroteia, que funcionava já em alguns locais. E deu certo, mas o trabalho com
elas exigia estrutura especial. Como o Cônego Alesandro Pesenti tinha, nos
feriados, uma pastoral com jovens operárias, em Colonna, e como passava
por dificuldades, Palazzolo ofereceu-lhe o oratório da rua Foppa, que estava fechado. Em 1867, a velha casa passou a viver de novo, o que alegrava
Palazzolo. Faltando catequista, Pesenti pediu-lhe apoio na escola e ele não
hesitou em ajudar.
Em 1869, Palazzolo abre o oratório feminino na sua velha casa da
rua Foppa. Estava com 42 anos e tinha os dois oratórios, o masculino e o
feminino.
Precisava procurar uma pessoa justa para se responsabilizar pelas
atividades das meninas. Pensou então em Teresa Gabrielli, eleita Vice-superiora da Pia Obra de Santa Doroteia, em 1869. Jovem séria, formada professora, livre de compromissos e que pensava em ser religiosa. Ela aceitou
colaborar. Fizeram jejum e vigília, e depois, Teresa Gabrielli fez os votos de
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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pobreza, castidade e obediência, diante de um quadro dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.
Depois Palazzolo funda a segunda casa, em Vicenza (1875), depois
em Brescia (1876). A Constituição das Irmãs dos Pobres (as Palazzolo) é
aprovada em 12 de maio de 1886 e, em 15 de junho desse ano, falece o
Padre Luís Palazzolo, em Bérgamo. Em 1963, o Papa João XXIII proclama
Luís Palazzolo um Bem-Aventurado.
TERESA GABRIELLI
Nascida em Bérgamo (13 de setembro de 1837), em casa modesta,
sexta filha dos oito filhos, de família pobre, família Gabrielli, cheia de fé em
Deus.
A mãe, Luzia Morelli, uma pessoa doce, reservada, prudente. O pai,
José, um hortelão jovial, sensível, simpático. Teresa observava a miséria do
povo, e via a todos com simpatia. Era pobre, mas pôde frequentar escola
primária. Aos 15 anos, já moça, seu pai fica doente e pede à mulher que faça
Teresa continuar os estudos, e autoriza que para isso vendesse a única vaca
leiteira. Ele tinha o sonho de consagrá-la a Deus. O pai falece e ela começa
a frequentar a escola das Irmãs Canossianas, em 1852.
Teresa foi cultivando virtudes, rezava, recebia os sacramentos, e,
aos 17 anos de idade, já estava formada. Voltou para casa e continuou a
ajudar na venda de verduras.
Resolvendo dedicar-se ao ensino, abre uma escola na rua Ósio, 24
(1861). Sua mãe falece em julho de 1863.
Foi aí que Teresa começou a ajudar e tornou-se animadora indispensável na obra feminina do Padre Luís Palazzolo.
Em novembro de 1868, Padre Luís pede a Teresa para cuidar de
uma menina abandonada e doente, o que iluminou sua vocação. Logo vieram outras meninas. Ela, mais duas jovens, Catarina e Mariana, fizeram
uma vigília, oraram muito, e Teresa fez os votos de castidade, pobreza e
obediência e de fidelidade ao Papa e à Igreja, comprometendo-se a doar sua
vida, especialmente, aos jovens pobres e doentes. Padre Palazzolo redigiu
um programa e, no dia 22 de maio, Teresa começou a trabalhar, cheia de
alegria. Logo vieram outras jovens até ela, pedindo para ingressar na Congregação.
Dia 21 de novembro de 1869, Madre Teresa e Judite colocaram,
pela primeira vez, seu hábito marrom, para ir à Missa. Madre Teresa dei-
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xou o ensino na escola e passou a dedicar-se apenas às meninas, que já
eram muitas. Dizia: “Os pobres, as crianças abandonadas, os sofredores são
membros de Cristo.”
A corrente de caridade e de solidariedade foi-se ampliando e, a 21
de novembro de 1876, Madre Teresa abre nova casa, em Brescia.
Dia 15 de junho de 1886, morre o Padre Palazzolo, e Teresa continua seu trabalho com as meninas. Aos 70 anos de idade, doente, ainda faz
penitências e sacrifícios, e dizia, quanto a de todo bem que havia realizado:
“É tudo obra de Deus, é Deus que faz tudo.”
Dia 5 de fevereiro de 1908, teve um derrame e morre no dia seguinte, às 12 horas, junto de suas Irmãs e de seus pobres. Assim realizara o
sonho do pai dela.
DE LONGE VEM ESSE GESTO DE AMOR
Irmã Anna Cancline e Irmã Rita Vezzoli, italianas de berço, recebem-nos com muita alegria e disponibilidade, paz e alegria. São as Irmãs
dos Pobres, congregação fundada em 1869, pelo Padre Luís Palazzolo, daí o
nome do Instituto Palazzolo.
Estão há 25 anos em missão em União da Vitória (1989-2014). A
primeira casa ficava em São Cristóvão, onde hoje funciona a Creche da
Sagrada Família.
Conforme o espírito dos fundadores, Irmã Teresa Gabrieli e Padre
Palazzolo, o carisma dessas irmãs é cuidar de doentes, presos, deficientes,
menores sem amparo familiar...
Nessa casa bonita, localizada na BR 476, km 222, n.º 68, Bairro São
Joaquim, um tanto oculta por um bosque existente em frente, podem ser
atendidas até 28 crianças e adolescentes, mas, atualmente, ela abriga 22,
de cinco a quatorze anos de idade. Doze delas chegaram este ano, conta a
Irmã Rita. Ali residem quatro irmãs: duas italianas, uma congolesa e uma
brasileira.
Pergunto sobre a congregação no mundo:
“Temos casa no Congo, na Costa do Marfim, Burkina Faso, Malawi, Quênia (África); além disso, na Itália e na América Latina.
E a Casa-Mãe?
“Essa fica em Bérgamo, e a Madre Geral chama-se Irmã Bakita.” A
Delegada para a América Latina, segundo as entrevistadas, é a Irmã Mariella Paccani.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Graças a voluntários, elas podem capacitar melhor as crianças e
adolescentes, com aulas de reforço escolar, em contraturno, de bordado,
crochê, tricô, catequese, jardinagem, ... Há ainda os colaboradores pagos.
As irmãs, para darem conta do dia a dia da casa, recebem um pequeno auxílio do Município. Recebiam, até algum tempo, apoio da Itália,
mas, com a crise europeia, muitas pessoas deixaram de mandá-lo. A solução tem sido realizar promoções, como bazar de roupas usadas, e aceitar
doações de alimentos não perecíveis, se alguma instituição oferecer-lhes.
Foto 2: INSTITUTO PALAZZOLO, em União da Vitória – PR
Fonte: Cedida pelas Irmãs (2014).
As irmãs participam de reuniões da Saúde, da Educação, da Assistência Social, do Conselho Tutelar e do Fórum, no que tange ao cuidado
das meninas.
E o fruto desse trabalho de tantos anos já é visível: Uma jovem que
saiu este ano, com 14 anos de idade, vivera com as Irmãs desde os cinco
anos. Agora reside na casa de uma funcionária das Irmãs (que tem duas
filhas) e faz o Magistério. Na festa dos 25 anos de Missão, tiveram a alegria
de receber a visita de quatro moças e dois rapazes que ali cresceram, hoje
adultos responsáveis e bem situados na vida.
No entanto o que vale para elas é viver o amor- serviço, ensinado
pelo Divino Mestre, com confiança e humildade.
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Foto 3: INSTITUTO PALAZZOLO – Irmã Superiora e os pequeninos.
Fonte: Cedida pelas Irmãs do Instituto – União da Vitória – PR (2014).
Padre Palazzolo dizia no seu programa: “Eu procuro e acolho aqueles que os outros desprezam [...].” E a fundadora, Teresa Gabrieli, de origem
humilde, estudou com muito sacrifício, e tornou-se professora. Depois, a
convite de Palazzolo, recebeu uma menina pobre e doente para cuidar. Daí,
aceitou de coração a missão de cuidar dos pobres, fundando uma casa e,
com outras moças, atendia menores abandonados: dava comida, alargou o
ambiente, multiplicou as camas. As outras irmãs a imitavam.
Foto 4: O Instituto Palazzolo em seu dia a dia,
com a Irmã Superiora, Ir. Anna Cancline.
Fonte: Irmãs Palazzolo – União da Vitória – PR.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Foto 5: O Instituto Palazzolo em seu dia-a-dia,
com a Irmã Superiora, Ir. Anna Cancline.
Fonte: Irmãs Palazzolo – União da Vitória – PR.
Como se vê, o amor dos primeiros veio até nós, e se concretiza ali,
naquela casa, discreta e silenciosamente... na ternura de cada sorriso ou
abraço, em cada olhar atento ou palavra calorosa de afeto.
REFERÊNCIAS
LUBICH, Gino; LAZZARIN, Piero. Padre Luís Palazzolo: a misericórdia
continua. Brecia: Queriniana,1986 (trad. Brasileira: Padre Luís Artigas Mayayo).
O SONHO SE TORNA REALIDADE. Irmãs dos Pobres. União da Vitória,
PR
IRMÃS DOS POBRES. Entrevista concedida a Fahena e Paulo Horbatiuk
pelas Irmãs do Instituto Palazzolo de União da Vitória, maio de 2014.
56
ESPAÇO ESCOLAR E SEUS OBJETOS: COLÉGIO INTERNO
MASCULINO SOB A COORDENAÇÃO DE FRADES
FRANCISCANOS NO INTERIOR DO ESTADO
DE SANTA CATARINA (1940)1
Roseli Bilobran Klein2
1 INTRODUÇÃO
O espaço escolar contempla, por um lado, objetos, materiais educativos e a própria arquitetura escolar e sua divisão interna, e, por outro
lado, vai além dessa materialidade, quando há indicadores de significados
sobre a concepção que se tem acerca da natureza e das funções destes. As
representações mentais, valores simbólicos, manifestações não verbais que
representam o espaço escolar constituem um marco para a aprendizagem
cuja função educativa oferece elementos para a formação de uma cultura
escolar. O presente artigo é parte de uma pesquisa histórica de um educandário religioso, que funcionou como colégio interno desde o ano de 1932,
até meados da década de 1960, sob a coordenação dos frades franciscanos:
o Colégio São José, em Porto União, Santa Catarina. Justifica-se a pesquisa
pelo rigor com que as inspeções escolares aconteciam sob a supervisão de
um inspetor de ensino diretamente vinculado ao Departamento Nacional
de Educação no Rio de Janeiro, sendo o mesmo Departamento responsável
por aprovar ou não o espaço escolar destinado ao funcionamento do estabelecimento na época. O objetivo deste estudo é desvendar o espaço escolar, sua materialidade, por meio de objetos, materiais escolares, arquitetura,
contidos no interior da escola, na década de 1940, sob a então denominação
de Ginásio São José, com o intuito de verificar as finalidades a que se destinavam. A metodologia utilizada se concentra numa pesquisa de campo,
mediante catalogação de documentos históricos, atrelada a uma pesquisa
1 Este artigo foi originalmente publicado In: XI Congresso Nacional de Educação.
II Seminário Internacional de Representações Sociais, Subjetividade e Educação
SIRSE. IV Seminário Internacional sobre Profissionalização Docente – SPD/Cátedra UNESCO. EDUCERE, 2013.
2
Membro da ALVI, cadeira no 38, tendo como patrono Estêvão Juk.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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bibliográfica, com base em Frago e Escolano (2001). Como resultado do
estudo apresentam-se fragmentos de documentos históricos, revelando os
espaços escolares existentes e os discursos implícitos referentes à aprendizagem de valores, disciplina, ordem e conteúdos escolares específicos.
A partir de 1930, passada a crise econômica no país, houve um
desenvolvimento industrial, em que as importações foram substituídas, fazendo com que o Brasil requisitasse um processo de modernização. Isso
fez com que novas exigências educativas surgissem. A burguesia apoiou
a política do Estado Novo e, “precisamente como aconteceu com os padrões de consumo, os padrões de educação foram determinados pelo fator demanda. A estratificação social e a herança cultural pesaram como
elementos predominantes na escolha do tipo de educação escolar a prevalecer”. (ROMANELLI, 1999, p. 56). As exigências da sociedade industrial
impuseram modificações significativas na forma de perceber a educação.
A escola expandiu-se para atender às necessidades de formação da população brasileira que participava de um aumento de frentes de trabalho assalariado. Coincide com esse período a forte influência da Escola Nova no
Brasil, implantando novas formas de ensinar com recursos diferenciados
e expandindo a escola pública, favorecendo o processo de democratização
do ensino. A elite, percebendo a aplicação de métodos modernos na escola
pública, requisita-os também para os seus, entretanto desejava que fossem
atrelados ainda à formação de valores tão aspirada por essa classe social, a
qual não os via de forma favorável no interior do ensino público. Para tal, as
escolas confessionais religiosas foram cobiçadas pela burguesia, porque, na
década de 1940, passavam por um momento de reestruturação, devido às
reformas de ensino como as Leis Orgânicas do Ensino Secundário e garantiam uma formação moral e religiosa que perpetuaria o status das classes
sociais mais privilegiadas (ROMANELLI, 1999).
Esse fato forçou as escolas particulares a se adequarem às demandas sociais, adaptando-se a essa nova realidade. Além disso, havia a sugestão do Departamento Nacional de Educação no Rio de Janeiro de que as
escolas a serem construídas deveriam se igualar aos padrões do Colégio
Pedro II, na capital do país (VECHIA; CAVAZOTTI, 2003).
Diante dessa realidade, surgiu o Colégio São José, que iniciou suas
atividades ainda como Escola Paroquial, em 1932, sob a coordenação dos
frades pertencentes à Congregação dos Irmãos Pobres de São Francisco Seráfico, oriundos da Alemanha. Esse pequeno colégio interno ampliou sua
estrutura física e tornou-se o Ginásio São José, no ano de 1940, funcio-
58
nando como colégio interno, e atendendo aos alunos da comunidade. Foi
criado no Município de Porto União, no Estado de Santa Catarina. No dia
17 de maio de 1940 foi concedida a inspeção preliminar ao Curso Secundário Fundamental do Ginásio São José, pela Portaria Ministerial no 91, do
Ministério da Educação e Saúde Pública, assinada pelo Ministro Gustavo
Capanema, nos termos do Art. 52 do Decreto 21.241, de 4 de abril de 1932
(BRASIL, 1932 apud ROMANELLI, 1999).
2 DE ESCOLA PAROQUIAL A GINÁSIO:
UM NOVO ESPAÇO ESCOLAR
Da pequena Escola Paroquial, criada em 1932, em instalações improvisadas, passou a moderno espaço físico, na década de 1940 (Figura 1).
A escola paroquial continuou a oferecer o Curso Primário e o Curso Complementar, e, o novo espaço acolheu alunos do Curso Ginasial.
Figura 1: Ginásio São José, construção de 1940.
Fonte: Acervo do Colégio São José.
O espaço escolhido foi cedido pela Paróquia de Porto União, na
Rua José Boiteux, em frente à Igreja Matriz, próximo ao Hospital de Caridade da cidade, e à Praça principal. A construção segue o mesmo estilo
arquitetônico que formam o Hospital, a Casa Paroquial e o Salão Paroquial,
compondo um conjunto de construções germânicas.
A planta original distribui-se em três pavimentos, distribuindo-se
em salas de aulas e áreas reservadas aos alunos internos e aos frades. Uma
parte anexa foi construída posteriormente, abrigando a capela na parte térrea e, no primeiro pavimento, a residência dos freis.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
59
Uma descrição detalhada do espaço físico consta no Relatório de
Atividades Finais do colégio, no ano de 1946, quando o Inspetor Federal,
Elpídio Caetano da Silva, assim o descreve (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1946, p.
08 - 13):
1ª PARTE - O prédio destinado ao internato compõe-se de dois
pavimentos, os quais se comunicam por uma escada de imbuia
envernizada, composta de dois lances, sendo que, o primeiro dos
lances tem 10 (dez) degraus e o segundo 12 (doze). No pavimento superior está instalado o dormitório, em amplo e confortável
salão, o qual mede 19 X 12,65 e mais uma reentrância medindo
5,20 X 3,70, ou seja, 259,59 m2 com 14 amplas janelas, medindo
1,23 X 1,84 cada uma e mais duas portas, sendo que uma mede
1,40 X 2,60 e a outra 3,32 X 2,95, e que dá uma área de iluminação de 5,77m2, o que corresponde a nota 8 (oito). Ao fundo do
dormitório está instalado o vestiário, numa sala medindo 6,30 X
4,60 e mais uma reentrância com a metragem de 2,05 X 12,65, e
que perfaz um total de 54,90 m2 com três janelas e uma porta,
sendo que duas das referidas janelas medem 1,13 X 1,65 e a outra
0,80 X 1,65 e a porta 2,60 X 0,90, o que dá uma área de iluminação de 7,42 m2, e corresponde a nota 5 (cinco). A porta que se
acha no vestiário dá saída para uma escada de segurança, toda
ela de cimento armado. No dormitório existem 61 camas tipo
PATENTE PAULISTA. Cada cama tem obrigatoriamente um
colchão, um travesseiro, quatro lençóis, quatro fronhas, duas colchas, um cobertor de lã, e um acolchoado com capa (este enxoval
é de propriedade do aluno). No dormitório, à direita de quem
entra, se acha instalado um belíssimo lavatório, todo ele de marmorina, com 16 bacias e respectivas torneiras, sendo o piso de
ladrilhos. No mesmo pavimento está instalado um gabinete noturno, cujo piso é todo ele de ladrilhos, com dois WCs e três
mictórios. Há também nove bacias de marmorina para a lavagem das mãos, tudo com água encanada. Ainda no mesmo pavimento, está instalada a FARMÁCIA, a ENFERMARIA com seis
camas, a SALA DO SUPERIOR, a CAPELA, e a TESOURARIA.
A pintura do dormitório é de cor amarela clara, a altura do pé
direito é de 3 metros. A altura de parapeito das janelas é de 1,05
m. Aproveitando o comprimento do corredor, nele foram instalados 81 armários individuais, devidamente numerados. 2ª PARTE – ELUCIDÁRIO DA FICHA DE CLASSIFICAÇÃO – 1º situação – O edifício está situado na zona urbana, numa colina,
parte Leste da cidade, em terreno amplo e em condições reco-
60
mendáveis pela sua natureza, topografia e vizinhança. Pela sua
altura oferece a ventilação e a insolação, um acesso franco; pela
sua área de 18.660 m2, facilidade de isolamento às futuras construções e uma perfeita situação dos edifícios atuais. Pela quadra
urbana que ocupa, cujo acesso é dado por uma ampla avenida,
tem privilégio pela distância dos cruzamentos e ruas movimentadas, dando livre trânsito aos alunos, abrigando-os dos ruídos e
dos motivos que possam desviar ou perturbar a sua atenção. O
terreno cuja permeabilidade e regularidade lhe dão qualidades
não suscetíveis de fácil contaminação, permissão livre ao escoamento e absorção natural das águas, e uma disposição plana, sem
obstáculos e protegido contra erosões e com área suficiente para
futuros acréscimos. 2º Edifício – construído especialmente para
ginásio, foi inaugurado em 8 de dezembro de 1939. A sua construção é toda ela de alvenaria de tijolos, revestido de argamassa
de cal e areia, coberto com telhas de barro, tipo FRANCESA,
armações de tesouras e vigamentos reforçados de pinho. Tem a
forma de um I, tendo dois pavimentos e mais a parte térrea. Duas
escadas de imbuia envernizada dão acesso ao segundo pavimento. Os pisos são de madeira de pinho, exceto o corredor do primeiro pavimento, o qual é de ladrilhos. No primeiro pavimento
acham-se instaladas as salas de aula da 1ª série A e B, da 2ª série,
da 3ª série, da 4ª série, gabinete de física e química, gabinete de
história natural, sala de geografia e desenho, secretaria, sala do
diretor, gabinete médico-biométrico, sala de visitas, biblioteca e
sala dos professores. No andar térreo estão instalados o refeitório, a cozinha, dispensa, depósito de sapatos, salas de banho,
mictórios e WCs. Existe ainda um prédio de alvenaria onde funciona o Curso Primário e residência dos membros da Congregação. 3º Instalações – existem quatro extintores de incêndio devidamente instalados, um em cada corredor dos pavimentos do
prédio, um no gabinete de química e física e outro no dormitório. A iluminação natural pelas janelas e portas rasgadas, em número, áreas e situação convenientes, supera as exigências prescritas pela higiene escolar. A iluminação artificial é feita por meio
de eletricidade, cuja rede é convenientemente distribuída por
todo o prédio por meio de fios completamente isolados e ainda
colocados em canos de chumbo. A água potável é canalizada,
existindo um reservatório para quatro mil litros (4000). A limpeza diária é feita por meio de varredura a húmido, lavagem bi-semanal e passagem de óleo de linhaça. As instalações sanitárias
compõem-se de 10 (dez) WCs e 9 (nove) mictórios para os alu-
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
61
nos. Ao centro do gabinete das instalações sanitárias para os alunos, existe um grande lavatório de marmorina, com água corrente para a lavagem das mãos. Todo o despejo é feito para uma
fossa céptica geral, com capacidade para 500 (quinhentos) alunos. As lavagens gerais são feitas na sala de banhos, a qual é provida de 10 quartos (dez) cada um com ótimo chuveiro. Existe
também, na mesma sala, um lava pés com água corrente. O piso
da referida sala é todo de cimento e a divisão dos quartos é de
marmorina. Os bebedouros automáticos são em número de 2
(dois). No primeiro pavimento está instalado um WC e um mictório para os senhores professores. 4º Salas de aula – a sala da 1ª
série A, tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor
que 5 (cinco). A sala da 1ª série B - tem uma área de 5 X 7, ou
seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas
janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta
sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A sala da 2ª série,
antiga 2ª série A, tem uma área de 5 X 8, ou seja, 40 m2 e tem a
forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e
uma porta. A sala de línguas vivas, antiga 2ª série B, tem uma
área de 5 X 7, ou seja, 35 m2, e tem a forma retangular, dispondo
de três amplas janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). A
sala da 3ª série tem uma área de 5 X 7, ou seja, 35 m2 e tem a
forma retangular, dispondo de três amplas janelas basculantes e
uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente
menor que 5 (cinco). A sala da 4ª série tem uma área de 5 X 7, ou
seja, 35 m2 e tem a forma retangular, dispondo de três amplas
janelas basculantes e uma porta. A área de iluminação para esta
sala dá um coeficiente menor que 5 (cinco). As salas são todas
pintadas a claro com uma barra à óleo de cor cinza, até a altura
do peitoril. As carteiras são todas individuais. Na 1ª série A, existem 28 carteiras individuais. Na 1ª série B, existem 27 carteiras
individuais. Na 2ª série existem 43 carteiras individuais. Na 3ª
série existem 18 carteiras individuais. Na 4ª série existem 17 carteiras individuais. Na Sala de Línguas existem 22 carteiras individuais. As mesas dos Snrs. Professores são de pinho envernizado, medindo 1 X 1,5. Os quadros negros são fixos na parede,
medindo 1 X 4,80, ou seja, 4,80 m2. 5º Salas Especiais – AUDITÓRIO – tem uma área de 26,50 x 10, ou seja, 265 m2, e tem a
forma retangular, dispondo de 8 janelas e 5 portas. A área de
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iluminação para esta sala dá um coeficiente de 5,24. A altura do
pé direito é de 4,75. O referido auditório possui um ótimo palco,
o qual se acha aparelhado de diversos cenários. BIBLIOTECA
tem uma área de 4,80 X 3,20, ou seja, 15, 36 m2, e tem a forma
retangular dispondo de duas amplas janelas basculantes e uma
porta. A biblioteca já se recomenda pela qualidade dos livros didáticos, dicionários, enciclopédias, livros de literatura e de preparação profissional. A referida sala se acha ornada com móveis
de imbuia envernizada, tais como sejam: um belíssimo armário
todo envidraçado para livros, mesa, cadeira e porta chapéus. GINASIUM – tem uma área de 26 X 10, ou seja, 260 m2, dispondo
de 6 chuveiros e um quarto para guardar o material de desporto.
O Ginasium está provido de todo o material indispensável à prática dos desportos. ÁREA LIVRE – tem uma área de 4.840 m2,
onde vbse acha instalado o campo de futebol. A referida área é
plana, contínua e regular, porém não é gramada nem circundada
de arborização. PISTA – tem uma área de 1.310 m2, toda gramada ao centro onde se acha instalado o pórtico de Educação Física,
e serve para as corridas de velocidade para uma extensão de 100
m. SALA DE GEOGRAFIA e DESENHO tem uma área de 6 X
12,50, ou seja, 75 m2, e tem a forma retangular, dispondo de quatro amplas janelas basculantes e uma porta. Na referida sala existe todo o material necessário para as referidas cadeiras, tais como
sejam: termômetro, barômetro, um globo terrestre, um telúrio,
dois atlas de consulta, bússola, tabuleiro de areia, cartas murais
do Brasil e dos continentes, amostras de produtos nacionais.
Para o ensino de Desenho existe o seguinte material: sólidos geométricos de madeira, réguas, compassos, transferidores, esquadros, pranchetas, uma coleção de doze vasos, 6 modelos de desenho e 6 modelos de frutas diversas. A área de iluminação para
esta sala dá um coeficiente menor que cinco. SALA de FÍSICA e
QUÍMICA tem uma área de 5 X 11,60, ou seja, 58 m2, e tem a
forma retangular, dispondo de 5 amplas janelas e 2 portas. A área
de iluminação para esta sala dá um coeficiente menor que cinco.
Nesta sala se acha instalado o anfiteatro contendo armários,
mesa grande com mármore, pia com água corrente, quadro negro, extintor de incêndio e todo material necessário para o ensino de física e química. O anfiteatro comporta 4º alunos. SALA
DE CIÊNCIAS FÍSICAS E NATURAIS – o ensino desta cadeira
é ministrado no gabinete de física e química onde existe o material e as instalações necessárias. SALA DE HISTÓRIA NATURAL – tem uma área de 10,50 X 5, ou seja, 52,50 m2, e tem a
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forma retangular dispondo de duas amplas janelas basculantes e
uma porta. A área de iluminação para esta sala dá um coeficiente
menor que 5 (cinco). Na referida sala há mesa para microscópio
e para ensaios prognósticos. SALA DO DIRETOR – tem uma
área de 3,70 X 4,80, ou seja, 17,76 m2, dispende de uma ampla
janela basculante e uma porta. GABINETE DO INSPETOR E
SECRETARIA – tem uma área de 4,70 X 4,80, ou seja, 22,56 m2,
dispondo de duas amplas janelas basculantes e duas portas, sendo que uma de comunicação com o gabinete do diretor. A referida sala se acha ornada com móveis de imbuia envernizada, tais
como sejam: uma ampla mesa, cadeiras, tipo poltrona, armário,
máquina de escrever marca CONTINENTAL com carro grande
e respectiva mesa, arquivo, armário fichário, quadros históricos,
e um aparelho de rádio marca RCA VITOR, 9 válvulas com instalação completa de auto-falantes para o pátio. REFEITÓRIO –
tem uma área de 14,20 X 5, ou seja, 71 m2, dispondo de quatro
janelas e duas portas. As pias da referida sala são todas de cimento e as paredes até a altura de 1,75 m, são revestidas de marmorina. O refeitório é provido de 12 mesas de 1,10 X 0,75, com lugares para seis alunos cada uma, e devidamente esmaltadas de
branco. O lavatório está situado em área coberta, logo à saída do
refeitório. COZINHA – está situada em uma ampla sala, tendo o
piso revestido de cimento e as paredes até a altura de 1,75 m são
revestidas de marmorina. Instalação de água quente e fria, duas
pias para lavagem de alimentos. Fogão à lenha, provido de chaminé de exaustão. Armários com tela, latas de lixo, máquinas
para cortar carne, legumes, batatas e fabricar massas. GABINETE MÉDICO – BIOMÉTRICO – tem uma área de 3,90 X 4,80 m,
ou seja, 18,72 m2, dispondo de uma ampla janela basculante e
uma porta. A referida sala está ornada com móveis de pinho laqueado a branco tais como sejam: mesa para o médico, armário
todo envidraçado para a guarda dos aparelhos, cadeiras e mesa
para exame clínico. Possui todo o material exigido, conforme relação anexa a este relatório. SALA DE VISITAS – tem uma área
de 3,70 X 4,80m, ou seja, 17,76 m2, dispondo de ampla janela
basculante e uma porta. A referida sala se acha ornada com móveis de vime, porta- chapéus, mesa de centro, quadros de formaturas e outros. ÁREA COBERTA – tem uma área de 366 m2, e
computada a área de ginasium que é de 260 m2, temos um total
de abrigo para os alunos de uma área de 626 m2. PISCINA – tem
uma área de 14,00 X 8,50 m, ou seja, 119 m2, com água corrente.
A sua profundidade máxima é de 1,60 m. é servida por uma casa
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de madeira medindo 8 X 3 m a qual serve de vestiário. DESPENSA – está instalada em uma ampla sala, tendo o piso revestido de
cimento. É provida de depósito de madeira para gêneros alimentícios, armários com telas, prateleiras, etc. CONCLUSÃO – pelo
presente relatório fielmente organizado conforme os dados por
mim colhidos pessoalmente, concluo que o Ginásio São José,
está à altura dos bons estabelecimentos secundários do país. Porto União, 27 de julho de 1946. Elpídio Caetano da Silva, Inspetor
Federal junto ao Ginásio São José.
Nessa descrição do prédio verifica-se uma constante preocupação
com as questões higiênicas e de saúde: ventilação, lavatórios, chuveiros,
farmácia, enfermaria, permeabilidade do terreno, isolamento de ruídos,
iluminação, ginásio para a prática de educação física, pórtico para as atividades esportivas, cozinha higienizada, despensa para a conservação de alimentos, piscina para a prática da natação. Segundo Frago; Escolano (2001,
p. 19), “o discurso médico higienista configura o espaço educacional e sua
distribuição e usos em função da classe social ou gênero”. A ênfase na construção de uma identidade nacional se intensificou no período republicano,
quando educação e saúde interligaram-se como centro de atenção e preocupação dos intelectuais, tornando-se objetos de intervenção do Estado. A
elite aspirava à construção de uma nação pela modernização, e as reformas
sanitárias e educacionais constituíam-se em estratégias de salvação. Essa
preocupação se prolongou ainda durante o período do Estado Novo.
Quanto às salas-laboratório: Física e Química (Figura 2); Geografia
e Desenho, é possível observar conforme Lourenço Filho (1978), que os
conhecimentos de biologia e psicologia, abrangendo os princípios de explicação evolutiva que se ampliavam, foram de grande importância na organização dos métodos de investigação, resultando na substituição de normas
empíricas por outras, de maior validade técnica, na organização escolar; na
análise dos fins da escola e toda a sua problemática; bem como na elaboração dos métodos e técnicas que favoreciam a aprendizagem inserida numa
escola ativa. Segundo Lourenço Filho (1978, p. 151):
Os alunos são levados a aprender observando, pesquisando,
perguntado, trabalhando, construindo, pensando e resolvendo
situações problemáticas que lhes sejam apresentadas, quer em
relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer
em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicas.
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Essas alterações puderam ser observadas com a construção do
novo espaço físico, moderno para o contexto da época, em que a estrutura
contava com salas-laboratório, aparelhadas com instrumentos atualizados
para aquele período histórico.
Figura 2: Laboratório de Física e Química do Colégio São José,
na década de 1940.
Fonte: Acervo do Colégio São José.
Nos documentos do ano de 1940 (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1940, p.
8), quando iniciaram as atividades do Ginásio do Colégio São José, encontra-se uma lista do material adquirido para o laboratório (Quadro 1):
MATERIAL DIDÁTICO
1 bico de bunsem a álcool, pequeno
1000.0 rolhas de cortiça
1000.0 rolhas de borracha
1 tela de arame com amianto, 16x16 cms
1 suporte de ferro 10 x18 cms
1 pinça de metal para cadinhos
1 metro tubo de borracha para gás
1 caderno papel tronesol azul
1 caderno papel tronesol vermelho
1 balão f/ chato jena, de 750 cc
1 frasco para reativo, de 250 cc. Branco
1 frasco c/ 2 tubuladuras, de 500 cc
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1 regulador de watt, nacional
1 pendulo reversível
1 metrônomo seg. Malz
Tubos capilares
1 barômetro aneróide
1baroscópio (densimetro)
1 cilindro para estudo da ressonância nac.
1 harmonica chimica, c. três tubos diversos
1 sereia savart
1 sonômetro c. 2 cordas e dinamômetro
1 placa vibrante
1 jogo. de 3 espelhos: plano, côncavo e convexo
1 apar. para demonstração de dilatação de líquidos
1 apar. para demonstração de dilatação de sólidos
1 pirômetro de quadrante nac.
1 termômetro de 150 C. americano nitrogênio
1 marmita de painpim
1 funil de vidro de 12 cms
1 crystalisador de 10x10 cms
1000 tubos de vidro em varas nac.
100 tubos de ensaio 160 x 16 mms
1furador de rolhas
1 retorta com tubuladoras, jena, de 250 cc
1 balão de dist. Fracionada Jena, de 100 cc
1 refrigerante de bolas, de 25 cms.
1 pipeta grad. de 10: 1/10cc ncal.
1 balança de precisão, cap. 100 grs. sensib. 2–3 mgr. Sem pesos
1 jogo de pesos nickelados, até 100 grs
1 balança hydrostática, com jogo de pesos de 200 grs
1 monômetro de mercúrio nac.
1 higrômetro
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1 lâmpada de mineiros
1 bastão de vidros
1 bastão de ebonite
1 voltâmetro de peso e volume
1 coleção de 66 mineraes
1 Machina Atwood
1 giroscópio c. pé, modelo de precisão
1 Buba de Leslie, c. 2 termômetros
1 pluviômetro seg. Maurer
1 pendulo elétrico
1 torniquete elétrico
1 condensador de disco
1 garrafa de Leyde desmontável
1 Machina de Whimhurst, de 21 cms.[(?)]
1 pilha de volta pequena
1 acumulador de planté
1 ponte de resistência
1 par. de galvanoplastia
1 ímã girante
1 modelo de dínamo grande
1 microfone
1 telúrio de Lange, estrangeiro
1 esqueleto humano articulado
Quadro 1 – Lista de materiais adquiridos para o laboratório, no ano de 1940.
Fonte: Colégio São José. Caixa Arquivo 001. Documentos Diversos. Porto União;
Santa Catarina, 1940.
A descrição dos materiais contidos na referida sala-laboratório demonstra a modernização dos espaços escolares, mediante influência das
novas ideias pedagógicas inseridas no contexto educacional brasileiro. Nessa perspectiva, a compreensão desses espaços traz à tona o processo de ensino no cotidiano, levando à compreensão de que, à medida que ocorrem
mudanças nos espaços, também ocorrem alterações na maneira de ensinar.
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A descrição do espaço que acolheria os alunos internos revela a ordem: disposição das camas, o enxoval que cada educando deveria possuir;
revela a disciplina: implícita na arrumação, na conservação da limpeza. Observa-se, ainda, a vigilância: a sala do piso superior próxima à dos alunos
e à capela, o que pressupõe a vigilância divina. Frago e Escolano (2001, p.
26) ressaltam a relação entre a materialidade e a corporeidade dos sujeitos:
A arquitetura escolar é também por si mesmo, um programa,
uma espécie de discurso que institui na sua materialidade um
sistema de valores, como os de ordem, disciplina e vigilância,
marcos para uma aprendizagem sensorial e motora e toda uma
semiologia que cobre diferentes símbolos estéticos, culturais e
também ideológicos.
Quanto à localização, o inspetor salienta que a escola situa-se em
amplo terreno, numa colina, oferece ventilação, está livre de ruídos, etc.
Esse fato, segundo Frago e Escolano (2001), diz respeito à localização da
escola e suas relações com a ordem urbana das populações as quais respondem a padrões culturais e pedagógicos que a criança internaliza e aprende.
E reforça, dizendo que “a arquitetura escolar pode ser considerada inclusive
como uma forma silenciosa de ensino”. (FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 27).
A sala de visitas, o gabinete médico, a farmácia, a piscina são espaços que se pressupõe serem destinados à elite. Santos (2008, p. 44-45)
aponta que:
Os espaços construídos pelo homem são expressões das formas
como produzem sua própria história e das relações que estabelecem com o meio. As moradias nos falam sobre aspectos da vida
individual, familiar e coletiva; as edificações para cultos religiosos desvelam formas de vinculação dos indivíduos com elementos que são situados num plano de não materialidade, metafísico; construções com finalidade de produções de bens ou de sua
comercialização revelam dados das estruturas econômicas e das
formas de trabalho. Casa, Igreja, Indústria, armazém, cada lugar
revela elementos da história humana, das existências dos sujeitos.
A preocupação com a ventilação, orientação, iluminação, corredores, pisos, escadas, posição do mobiliário, instalações sanitárias, dimensões
das salas de aula, entre outras, constituíam um ambiente privilegiado. Esses
elementos que pertenceram à escolarização configuraram como um tipo
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específico de formação/organização cultural. Para Frago e Escolano (2001,
p. 26), o espaço escolar não é uma dimensão neutra do ensino, tampouco
um simples esquema formal ou estruturas vazias da educação. Ao contrário, “os espaços operam como uma espécie de discurso que instituiu, em
sua materialidade, um sistema de valores, um conjunto de aprendizagens
sensoriais e motoras e uma semiologia que recobre símbolos estéticos, culturais e ideológicos”. (FRAGO; ESCOLANO, 2001, p. 26). No caso, essa
escola e muitas outras, construídas nesse período histórico, apropriaram-se
de um conjunto de práticas rituais e simbólicas que se disseminaram, exibindo um monumento arquitetônico imponente, que, no seu interior, regulou o comportamento, estabeleceu valores e normas sociais e educacionais
a uma parcela da sociedade, garantindo o status social (VIDAL, 2005).
3 ESPAÇO ESCOLAR, UM TERRITÓRIO NÃO NEUTRO
Julia (2001, p. 10) define a cultura escolar como: “um conjunto de
normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um
conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e
a incorporação desses comportamentos”. Essas práticas que geram a transmissão do conhecimento estão inseridas num determinado espaço escolar.
Quando se trabalha com essas novas fontes, espaços escolares,
desvendados mediante catalogação de documentos, torna-se possível reconstruir a história da educação por diferentes caminhos. Em relatórios
de inspeção escolar, é comum encontrar descrições minuciosas do espaço
escolar. Essa fonte vai retratar toda uma cultura material envolvida, quando descreve as delimitações da sala de aula, o coeficiente de iluminação, o
número de janelas, a altura do pé direito, as dimensões das áreas de lazer,
etc. Frago e Escolano (2001, p. 69) afirmam que o “espaço físico para o
ser humano é uma das suas modalidades de sua conversão em território e
lugar. O espaço não será neutro [...] o espaço educa”. No espaço ocupado
pelo colégio São José é possível verificar a importância das salas-laboratório, atentando-se às suas dimensões, que são superiores às salas de aula;
isso pressupõe um ensino experimental. Quando o inspetor descreve a sala
do diretor, por exemplo, utiliza a seguinte descrição: “ornada com móveis
de imbuia” (COLÉGIO SÃO JOSÉ, 1946, p. 11), nota-se uma decoração
requintada. Com isso verifica-se que os alunos que frequentavam a instituição estavam à altura de tal decoração, e esse espaço escolar simbolizava
a extensão de suas casas. A existência da capela implica a frequência às
70
orações, celebrações, sacramentos, na presença da ideologia católico-cristã
transmitida no interior da escola, na família, e exigida pela sociedade naquele contexto. Ainda, ao descrever a sala do diretor, apresenta “quadros
históricos, e um aparelho de rádio marca RCA VITOR, 9 válvulas, com
instalação completa de autofalantes para o pátio” (COLÉGIO SÃO JOSÉ,
1946, p. 11). O rádio e os quadros históricos revelam o nível cultural dos
educandos. Na década de 1940, as famílias que possuíam um rádio ou que
valorizavam quadros históricos, certamente, tinham um nível social econômico mais elevado e primavam pela cultura de seus filhos. É, portanto,
por isso que se concorda com Frago e Escolano (2001), quando dizem que
os espaços não são neutros. Os espaços, além de conhecimentos científicos,
transmitem elementos de uma cultura, transmitem ideologias, interferem
no modo de pensar e agir na sociedade.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pesquisar o espaço escolar pressupõe um diálogo com a história
das instituições escolares. O colégio interno, sob a denominação de Ginásio
São José, teve origem quando, em todo o Brasil, nesse período, surgiram os
ginásios, ensino secundário público. Essa experiência pode ser notada no
Estado do Paraná, São Paulo e outros. Entretanto a fundação do ginásio de
origem confessional e religiosa se contrapunham às ideologias do governo, no sentido de que além da educação, transmitiam valores, formavam o
caráter e uma vivência religiosa tão almejada pela classe burguesa. Essa foi
a tática utilizada pelas congregações religiosas, para atrair os estudantes,
não sendo diferente com os franciscanos. Desse modo, o Ginásio São José
introduziu, de forma permanente e sistemática, a cultura escolar burguesa
no ensino secundário, no Município de Porto União, em Santa Catarina.
Sua edificação veio confirmar o conceito de cidade próspera, resultante do
forte polo econômico que se solidificou na região; também foi um grande
centro educacional, que trouxe estudantes de todas as localidades, abrangendo o Estado de Santa Catarina e do Paraná. Seus espaços escolares e
objetos materiais nele contidos confirmam esse caráter religioso educativo
que influenciou muitos educandos.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Referências
BRASIL. Ministério da Educação e Saúde Pública. Decreto no 21.241, de
4 de abril de 1932, que consolida as disposições sobre a organização do
Ensino Secundário e dá outras providências. Rio de Janeiro, 1932. In: ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 23 ed. Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
FRAGO, Antonio Viñao; ESCOLANO, Augustin. Currículo, Espaço e subjetividade. A Arquitetura como programa. 2 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
JULIA, Dominique. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista
Brasileira de História da Educação. no 1. Jan./jun. 2001
LOURENÇO FILHO, Manuel B. Introdução ao Estudo da Escola Nova.
12 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1978.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 23 ed.
Petrópolis; Rio de Janeiro: Vozes, 1999.
SANTOS, Ademir Valdir dos. Espaço Educativo da Escola primária Teuto- Brasileira Rural. In: SANTOS, Ademir Valdir dos; VECHIA, Ariclê
(Orgs.). Cultura Escolar e História das Práticas Pedagógicas. Curitiba:
UTP, 2008, p. 43-59.
VECHIA, Ariclê; CAVAZOTTI, Maria Auxiliadora (Orgs.). A Escola Secundária. L’Enseigment Secondaire. São Paulo: Annablume, 2003.
VIDAL, Diana Gonçalves. Culturas Escolares. Campinas; São Paulo: Autores Associados, 2005.
FONTES PRIMÁRIAS
COLÉGIO SÃO JOSÉ. Caixa Arquivo 001. Documentos Diversos. Porto
União; Santa Catarina, 1940.
COLÉGIO SÃO JOSÉ. Caixa Arquivo 007. Documentos Diversos. Porto
União; Santa Catarina, 1946.
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A SAGA DE MIKOŁAJ TOPOROWSKI:
LAÇOS DESATADOS, VIDAS PARTIDAS1
Fernando Tokarski2
Damaris Ocker3
1 INTRODUÇÃO
No conturbado panorama europeu do século XIX, o governo imperial brasileiro promoveu, naquele continente, uma maciça propaganda
institucional destinada ao fomento da imigração ao País. Entre 1890 e 1900,
a “febre brasileira” atraiu milhares de polacos às terras do Sul, notadamente
ao Estado do Paraná. Antes disso, pioneiras levas já haviam desembarcado
em terras brasilianas. Ainda nos primeiros anos do século XX, os polacos
continuaram a onda imigratória ao Brasil, o que se sucedeu inclusive após
a II Guerra Mundial (1939-1945).
Antes, ações empreendidas pelos países invasores à Polônia também contribuíram para que muitos deixassem a nação, aportando no Brasil.
Campanhas de desnacionalização, confisco de bens, deslocamentos populacionais em massa eram frequentes. Os polacos procuram deixar seu país
em direção à América. “Eles partem de uma Polônia que, como os demais
países europeus, enfrenta as consequências do desenvolvimento do capitalismo industrial e tem ao longo de uma história a luta contra o domínio
da Áustria, da Prússia e da Rússia”. (GRITTI, 1999, p.36) O fim do sistema
escravocrata nacional e o interesse pelo adensamento populacional, fomentando as atividades econômicas e as rendas públicas constituíram estratégias governamentais destinadas à atração de sucessivas levas migratórias.
Nesta produção acadêmica optamos por manter as grafias originais dos nomes
polacos por entender que nomes próprios, especialmente de pessoas, não devem
ser traduzidos. Ao adotar a cidadania brasileira, Toporowski assumiu o nome de
Nicolau.
2
Fernando Tokarski, membro fundador da Academia de Letras Vale do Iguaçu,
Cadeira nº 31, cujo patrono é Cyro Elhke.
3
Damaris Ocker, licenciada e especialista em História, professora em Três Barras
(SC), é bisneta de Mikołaj Toporowski.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
73
2 ERVA-MATE, ARAUCÁRIAS, POLACOS
Ao final do século XIX, a erva-mate passou a ser o principal sustentáculo da economia e, em razão disso, a capital paranaense ganhava ares de
um grande centro urbano, atraindo toda a sorte de homens, inclusive os polacos. No rastro da erva-mate, outras indústrias proliferavam, fomentando
a diversidade da oferta de mercadorias à formação de riquezas individuais.
Tokarski explica que, afora aqueles polacos que se estabeleceram
no Paraná e em Santa Catarina antes de 1890, foi a partir das colônias e
vilas paranaenses de Cruz Machado, Fluviópolis, General Carneiro, Mallet,
Nova Galícia, Rio Azul, Rio Claro, São Mateus do Sul e Vera Guarani, além
de outras, que os polacos cruzaram o Iguaçu, o Negro, o Timbó e o Canoinhas, fincando raízes na região do Contestado. Desses novos pontos de
partida os colonos se espalharam, principalmente, pelos atuais municípios
catarinenses de Bela Vista do Toldo, Canoinhas, Irineópolis, Mafra, Major
Vieira, Monte Castelo, Porto União e Três Barras, consistindo até hoje, na
maior parte dos casos, a maioria da população rural de origem européia
(TOKARSKI, 1999, p. 35).
O mesmo autor expõe o cenário enfrentado pelos imigrantes polacos em terras do Contestado e resume a contribuição deles à cultura da
região:
Se ao aportar em terras brasileiras o sonho do paraíso começava
a ser desfeito, o imigrante polonês via na floresta desconhecida
e inacessível o inferno verde, onde sepultava as esperanças da
vida melhor. A inépcia estatal e as brutais diferenças encontradas no novo território deram aos poloneses a sensação de pleno
abandono, sujeitos à própria sorte e às variações políticas de um
Estado incapaz. A presença dos imigrantes poloneses trouxe significativas inovações culturais à nova terra, desenhadas no mosaico étnico-regional (TOKARSKI, 2008, p. 252).
O historiador Wachowicz também apresenta a importância dos
polacos em terras nacionais:
Os imigrantes desta procedência, católicos por excelência, não
demoraram a integrar-se plenamente na vida nacional, como
lavradores, comerciantes (...). Profunda foi sua influência na
caracterização étnica da região sul do Estado, onde formaram
74
grandes e numerosas colônias (...). Foram estes imigrantes os introdutores no Brasil da carroça, responsável por um ciclo rodoviário no sul do Brasil (...), substituindo com grande vantagem
os carros de boi e as tropas de muares, (WACHOWICZ, 1968, p.
114-115).
Na arquitetura, os polacos também alteraram a paisagem do sertão,
introduzindo casas altas e pontiagudas, prevendo a neve que poucas vezes
apareceu, contrariando a expectativa trazida da terra natal. Também edificaram altas torres nas capelas e igrejas que, pela forte fé católica, trataram
de espalhar nos confins, mostrando o forte dogmatismo religioso que até a
atualidade caracteriza os descendentes polacos.
Os polacos eram afeitos ao plantio do trigo, do centeio e da tatarka,
o trigo sarraceno. Porém a má qualidade do solo regional, extremamente
ácido, as dificuldades climáticas, de transporte e de comercialização fizeram com que suas lavouras logo entrassem em decadência. Ainda na agricultura, eles trouxeram ao Brasil a jorna, um primitivo moinho manual, e a
batata inglesa, que ainda hoje cultivam em larga escala. Também incentivaram a apicultura e a criação de aves, como o ganso e o marreco, destinadas à
produção de penas, voltadas à confecção de colchões e cobertas. Ao mesmo
tempo, incorporaram ao falar regional alguns vocábulos ainda persistentes,
sobretudo aqueles voltados à culinária e ao tratamento familiar.
É importante dizer que nem todos os imigrantes polônicos eram
agricultores. Os que vieram do Reino da Polônia eram artesãos urbanos e
não possuíam experiência agrícola. Eram ferreiros, seleiros, alfaiates, açougueiros, sapateiros, operários, industriários e até profissionais liberais. Na
região do Contestado, tornaram-se agricultores, por mera necessidade de
sobrevivência. “...tão logo os polacos foram assentados (...) eles avançaram
aos sertões da região contestada, instalando-se principalmente nos grandes
vazios rurais, onde até hoje estão fincados, sobrevivendo nos minifúndios
do lavradio”. (TOKARSKI, 1999, p. 40).
3 A FERROVIA, O TREM, A LUMBER
Quando nos primeiros anos do século XX a construção da estradade-ferro São Paulo – Rio Grande invadiu a região do Contestado, não foram poucos os polacos que abandonaram a roça e ofereceram mão-de-obra
aos trabalhos ferroviários. Logo em seguida, como já descrevemos, quando
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75
se iniciou o ciclo madeireiro regional, os polônicos continuaram a deserção
da lavoura, integrando-se aos processos do extrativismo e de industrialização madeireiros.
A partir de 1910, quando no povoado de Três Barras foi instalada
a madeireira Southern Brazil Lumber & Colonization Company, centenas
de imigrantes passaram a trabalhar na empresa. A madeireira era subsidiária da Brazil Railway Company, a construtora da ferrovia São Paulo – Rio
Grande e do ramal São Francisco do Sul (SC) - União da Vitória (PR). Em
seu apogeu, a Lumber chegou a empregar mais de 800 trabalhadores diretos, atuando nas mais diversas funções relacionadas à extração da madeira
e da erva-mate. Em média, a empresa serrava 300 m³ de madeira por dia,
uma quantidade inigualável para os padrões regionais marcados por indústrias rudimentares movidas por força hidráulica e equipamentos obsoletos
(THOMÉ, 1980, p. 101-102).
A Lumber transformou o embrionário povoado de Três Barras
numa cidade-empresa, dotando-o das tecnologias inexistentes na região
do Contestado. Era o maior empreendimento madeireiro da América
Latina. Nesse tempo, Três Barras estava sob a jurisdição paranaense, no
território disputado entre Paraná e Santa Catarina, na Questão do Contestado. Vivia-se um momento ímpar de euforia capitalista, num período
de drástica transição entre processos mecânicos rudimentares e máquinas
modernas.
Mas logo em seguida eclodiu a Guerra do Contestado, que regionalmente perdurou entre 1914 e 1917, trazendo insegurança, dificuldades
e toda a sorte de reveses à população. Foi nesse clima, entre a vida agreste
dos sertões, Mikołaj Toporowski chegou a Três Barras.
4 O CONFISCO DOS GANSOS
O povoado de Ruszów, em Kosłow, ao sul da Polônia, estava sob
o domínio austríaco, desde a tripartição da Polônia entre as potências da
Rússia, Prússia e Império Austro-Húngaro. Como a maioria dos polacos,
os Toporowski eram católicos fervorosos, trabalhavam na agricultura e
criavam gansos. Conta a narrativa familiar que quando os cobradores de
impostos chegavam e não havia dinheiro para pagá-los, levavam qualquer
mercadoria. Numa ocasião, os cobradores optaram pelos gansos. Todos os
animais foram confiscados. Ou quase todos. Prevenidos, os Toporowski
ocultaram dois casais de gansos. Descobertos, os Toporowski foram conde-
76
nados a trabalhos forçados. Idoso, Jan Toporowski decidiu poupar os filhos
e se incumbiu do cumprimento da pena4.
Diante de tantas agruras, os filhos de Jan Toporowski começaram a
sonhar com drásticas mudanças de rumo no curso de sua história familiar.
Acalentava-se o desejo de sair da Polônia ocupada e seguir para outro país,
onde houvesse liberdade e possibilidade de uma vida melhor. Deixar a Polônia era uma questão de sobrevivência digna.
5 PRIMEIROS TEMPOS NO BRASIL
Um dos filhos de Jan Toporowski, Mikołaj, nascido em 1883, partiu do porto de Hamburgo, na Alemanha, em 12 de maio de 1914,a bordo
com navio de bandeira alemã, “Capitão Trafalgar”, com destino ao Rio de
Janeiro. Estava com 32 anos.5 Na Polônia deixou a mulher e dois filhos,
Franciszek e Olga. Eles iam embarcar ao Brasil no próximo navio. A família se desfez dos poucos pertences que possuía, inclusive das cobertas
confeccionadas com penas de ganso, pois havia notícia de que no Brasil o
clima era quente e não haveria necessidade delas. Toporowski ficou alojado
na Hospedaria dos Imigrantes, no Rio de Janeiro, enquanto aguardava a
chegada da sua família. Assim, de acordo com o contrato de imigração, poderia receber o seu quinhão de terras e completar um sonho, o de se tornar
um proprietário rural.
6 UMA LONGA AGONIA: LAÇOS DESATADOS
Entretanto, os reveses mal estavam começando. Em 28 de julho daquele ano eclodiu a I Grande Guerra, quando o Império Austro-Húngaro
declarou guerra à Sérvia. As viagens marítimas internacionais foram suspensas. O mundo começou a sofrer o primeiro momento de incertezas do
século XX, num conflito reunindo as novas tecnologias bélicas e o início do
nacionalismo radical.
A guerra logo atingiu o território polaco e Roszow foi arrasada por
bombardeios. Toporowski ficou sabendo do desastre pelos jornais, enquanto em vão esperou a vinda da mulher e dos filhos. Sozinho no Brasil, ele
4
CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fermando
Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.
5
JANCZAK, Leonardo. Disponível em: <[email protected]> Acesso
em: 17 mar. 2009.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
77
teve seu contrato rompido, perdendo o direito de ser um lavrador no Sul do
país. A cada dia os sonhos imaginados se perdiam nas incertezas quanto à
situação reinante na Polônia e o cotidiano no Brasil.
Mas, por compatriotas, logo descobriu que na mesma região brasileira havia a necessidade de trabalhadores para a construção de ferrovias.
Era 1915, quando Toporowski alistou-se para trabalhar nas obras ferroviárias, sem quaisquer notícias dos familiares, imaginou-os mortos na terra
devastada pelos canhões.
Nessa época, no bairro rural de Vera Guarany, no município de
São Mateus do Sul (PR), ele conheceu a também polaca Wictoria Stoklosa e
com ela, canonicamente, constituiu um novo casamento. Wictoria era filha
dos imigrantes Jan e Anna Stoklosa, originários de Varsóvia.6 De acordo
com Maria Toporowski Cândido, filha de Toporowski, na juventude, ainda
em Vera Guarany, Victoria teve um filho natural, Augusto. Por essa razão
“Ela sofreu muitos preconceitos da família, a ponto de ser rechaçada e seus
filhos com Mikołaj não considerados.” Maria também afirmou que no Brasil nunca se soube o nome da mulher que Toporowski deixou na Polônia.
Era um assunto bastante velado. “Naquele tempo as crianças não podiam
participar das conversas e contava-se muito pouco sobre determinados assuntos.”7
Concluída a construção do ramal São Francisco do Sul – União da
Vitória, Toporowski viu-se desempregado. Então, em Três Barras, obteve
na Lumber uma vaga como mecânico. Trabalhava no setor da sepilhadeira.
Residia numa das casas da empresa. Era 28 de junho de 1919, quando os
países aliados sob a tutela dos Estados Unidos impuseram à Alemanha, ao
Império Austro-Húngaro, o Tratado de Versalhes, pondo fim à I Guerra
Mundial.
7 UMA VISITA INESPERADA
Um dia, uma visita inesperada abalou a nova estrutura familiar de
Mikołaj Toporowski. O irmão Lew apareceu na vila de Três Barras. Fugira
num navio cargueiro e contou que tudo fora destruído em Ruszów, mas “a
mulher e os filhos estão vivos!” Toporowski decidiu enviar metade de seus
salários à família deixada na terra natal. Precisava-se economizar ainda
Posteriormente, no Brasil, por alguns esse sobrenome foi alterado para Stokloska.
CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando
Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.
6
7
78
mais os parcos recursos obtidos no trabalho. Wictoria beneficiava penas de
gansos para comercializar. Ao mesmo tempo, produzia toalhas artesanais
decoradas com artes aplicadas, originárias da Polônia.
Em Três Barras, a rotina dos Toporowski se sucedia ano após ano.
Até que um dia uma carta vinda da Polônia quebrou a monotonia familiar. Na carta,o filho Franciszek pedia a Toporowski permissão para casar.
Olga também enviou cartas. Angustiado, Toporowski, sucessivas vezes, leu
as missivas e chorou, olhando os pequenos filhos brasileiros ao seu redor.
Deparava-se com um dilema que o atormentava um dia após o outro: devia
voltar à Polônia ou ficar no Brasil?
Um acidente na fábrica também marcou a vida de Toporowski.
Teve várias fraturas, ficando muitas semanas sem poder trabalhar. Leitor
assíduo, gostava de saber das notícias do mundo, sobretudo aquelas ligadas
ao aparecimento de novas tecnologias. Por volta de 1935, quando o filho
Pedro chegara em casa anunciando que havia visto uma “caixa que fala”,
referindo-se ao rádio, Toporowski retrucou, afirmando que um dia apareceria “uma caixa onde seria possível ver as pessoas falando.”8 A casa de
Toporowski era muito frequentada pelos vizinhos e amigos que gostavam
de ouvir suas interpretações acerca do que ele lera nos periódicos.
Juntando economias, ele comprou um imóvel e nele planejava construir uma casa. Nos fundos do terreno havia um riacho e ali poderia criar
mais e mais gansos! Madeiras foram adquiridas para a edificação da nova
casa. Porém, repentinamente, Toporowski resolveu demitir-se do emprego,
alegando que viajaria para muito longe. Há uma outra versão. Não se sabe
seguramente se ele deixou suas funções na sepilhadeira da Lumber ou foi
demitido, depois que ficara com algumas sequelas do acidente de trabalho.
Quando Toporowski saiu de Três Barras, Wictoria estava grávida
do décimo filho. Antes nasceram Anna, Carlos, Helena, João, Pedro, Maria,
Paulo, Leonardo e Antônio. Anna morreu bem cedo, aos sete meses, por
desidratação. Carlos foi vítima da gripe espanhola, em 1918, aos dois anos.
Helena faleceu aos 19 anos.9
À noite, enquanto chorava pela ausência do marido e pela incerteza
de sua volta, ela preparava as penas de ganso. Depois de seis meses, ToporoCÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando
Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.
9
CÂNDIDO, Maria Toporowski. Entrevista concedida por e-mail a Fernando
Tokarski. Belo Horizonte, 25 abr. 2009.
8
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
79
wski retornou para casa, pouco antes do nascimento da menina Elza. Estava desiludido e alquebrado. O governo brasileiro não permitiu a sua viagem
à Polônia, alegando que no país ele constituíra numerosa família. Os sintomas de insanidade eram perceptíveis. Mikołaj não era mais o mesmo. Por
onde andou e o que fez Toporowski durante seis meses é uma incógnita,e é
um tabu na história familiar.
8 AS PEDRAS DO CAMINHO: VIDAS PARTIDAS
Depois do retorno de Toporowski a Três Barras, ele não trabalhou
mais. Adoecido e cabisbaixo, passava horas e horas contemplando o vazio.
A esquizofrenia se avultava a cada dia. Toporowski preferiu ir viver num
ranchinho, nos fundos da casa onde morava. Dizia que todos queriam envenená-lo. Aos poucos também foi-se tornando agressivo. À medida que a
esquizofrenia de Toporowski se agravava, os amigos foram sumindo.
Enquanto isso, quase sem recursos financeiros, sem casa própria,
sem terra, Wictoria e os oito filhos passavam fome, sofriam humilhações
e dificuldades de toda ordem. Pedro, o quinto filho do casal, narra que “A
pobreza na nossa casa era grande. (...) Me criei quase sem pai e sem mãe.”
Ainda criança, em torno dos dez anos, Pedro às vezes ganhava algum dinheiro carregando malas dos viajantes que desembarcavam na estação ferroviária de Três Barras.10
Todos os dias, Wictoria deixava a casa ainda pela madrugada para
trabalhar nas lavouras de colonos abastados, residentes nas imediações da
vila. Também trabalhava na caiação de casas da vizinhança. Consigo levava
a filha Elza, deixando os demais em casa. Famílias em melhores condições
financeiras desejavam adotar a filha Maria. Ao que Wictoria costumava dizer: “Filho não é cachorro. Filho não se dá!”. (BAUKAT, 1986, p. 29)
Quando chegavam aos 13 anos, os filhos começavam a trabalhar na Lumber. Maria tornou-se empregada doméstica na casa de um dos diretores
da companhia. “Minha avó foi uma heroína diante da humilhação que se
instaurou sobre a família, diante da doença do meu avô e dos filhos a serem
sustentados”, afirma a neta Cristiane Cândido.11
10
TOPOROWSKI, Pedro. Entrevista concedida a Damaris Ocker. Três Barras, 20
set. 2001.
11
CANDIDO, Cristiane. Entrevista concedida por e-mail a Fernando Tokarski.
Belo Horizonte, 17 maio 2009.
80
Durante 20 anos Toporowski permaneceu adoecido, resignado
da vida. Vitimado por síncope cardíaca e arteriosclerose,faleceu em 22 de
agosto de 1951, aos 68 anos.12 Morreu no ranchinho onde, por sua vontade
e por conta da esquizofrenia, permaneceu recluso.
Quando a Lumber foi incorporada ao patrimônio federal,em 1940,
boa parte de seus funcionários foi indenizada, deixando Três Barras. O filho Pedro continuou trabalhando na Lumber até sua aposentadoria. Depois
chegou a exercer dois mandatos como vereador. Alguns dos filhos de Toporowski deixaram a vila, fixando-se em Curitiba (PR) e no Rio de Janeiro.
Maria, casada e mãe de duas filhas, radicou-se em União da Vitória (PR).
Bem mais tarde foi viver em Belo Horizonte (MG). A família de Toporowski desmantelou-se.
9 UMA CARTA NO BAÚ
Uma carta chegou da Polônia, datada de 13 de fevereiro de 1965.
Wictoria estava muito doente e não teve ânimo para lê-la. Preferiu guardá-la num baú. Assim o documento ficou durante 21 anos. Em 1977, Wictoria
faleceu, aos 82 anos. Em março de 1986, regressando a Três Barras, Maria
encontrou a carta, cuja tradução diz:
Não sei se esta carta é recebida, mas cumprimento como é o costume polonês, em primeiro lugar que seja louvado Nosso Senhor
Jesus Cristo. Querido tio Mikołaj, o que vos cumprimenta é o seu
sobrinho Marjan, filho de Adam e Zuzzana. O endereço consegui o de seu filho, não sei se acertei, mas experimento mandar
esta carta para Três Barras, talvez alguém leia e me conte sobre
a sua saúde e sua convivência. E também sobre o tio Leonardo
e ainda vive ou algum de seus filhos; peço mandar o endereço
deles se for possível para que eu possa me comunicar com todos. Não tenho muito a escrever, porque não sei se recebem esta
carta. Mas depois ao responder esta nos comunicamos melhor,
pois faz algum tempo que não temos notícias suas. Na próxima
carta mando fotografia e peço por demais que me respondam
esta carta. Fico aguardando ansioso a sua resposta e mando saudações das melhores. Aqui se despede. Marjan, filho de Adam e
Zuzzana. (BAUKAT, 1986, p. 30)
Cf. certidão de óbito 492, f. 40 do livro 4 do Cartório de Registro Civil de Três
Barras (SC).
12
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
81
10 LAÇOS ESTREITADOS
Maria apressou-se em escrever uma carta aos parentes da Polônia e
logo recebeu resposta, escrita em 1º de abril do mesmo ano:
Caríssima prima Maria. Eu recebi a sua carta bem no sábado de
Aleluia. Até chorei de tanta alegria, que recebi a resposta da carta
depois de longos anos. Maria, você pergunta quem da família
vive: Marcel, filho de Adam e Zuzzana. Eu sou a nora deles; o
sogro Adam e a sogra Zuzzana não vivem mais. E o meu Marjan
que escreveu aquela carta há 21 anos também não vive, faz 25
anos (sic) que faleceu. Procurou muito por vocês e não alcançou
receber a resposta da carta. Eu também me chamo Marja, esposa
de Marjan e tenho três filhos: Piotr, Francizek e Michał. E agora
Maria me escreva de onde você encontrou meu endereço? Tivemos uma Páscoa muito feliz, parecia que você estava entre nós.
Mas ficaríamos muito felizes se você viesse para a Polônia nos
visitar. Por caridade, mande fotos de sua família, esperamos ansiosos a próxima carta. Também envio uma foto. É do meu filho
Michał, sua esposa Genia e o casamento de sua filha (BAUKAT,
1986, p. 30).
Michał esteve no Brasil, visitando os Toporowski de Três Barras.
Na atualidade, há troca de cartas e telefonemas esporadicamente, feitos aos
parentes da Polônia, moradores de Varsóvia. Tudo pela memória de Mikołaj, o imigrante que buscou esperanças longe da Polônia, mas encontrou
tristezas, pobreza, humilhações, desesperanças; a loucura, a morte.
11 CONCLUSÃO
Sob o ponto de vista histórico, o contexto político-econômico foi
preponderante para a migração de Mikołaj Toporowski ao Brasil, dadas as
conjunturas de dominação estrangeira enfrentadas pela Polônia no período
histórico do início do século XX. A I Guerra Mundial representou papel
decisivo na vida de Toporowski, considerando-se que ela impediu a vida
de sua mulher e dos filhos ao Brasil, ocasionando uma ruptura familiar,
cujos reflexos foram capitais para as suas vicissitudes familiares. “Nada do
que aconteceu deve ser perdido para a história”, assinalou Walter Benjamin,
citado por Ginzburg (1987, p. 31). Longe de ser tão somente uma dramática
82
história familiar, a vida de Mikołaj Toporowski e de seus descendentes é o
retrato em preto e branco das vicissitudes do cotidiano, da luta em torno
do labor e da manutenção da própria vida, da fruição dos elementos vitais e
sociais do homem como resultado da sociedade onde está contextualizado.
REFERÊNCIAS
BAUKAT, Eduardo. Página perdida. Os Pioneiros, Três Barras, n. 2, p., 2831 out. 1986.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: O cotidiano e as idéias de um
moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras,
1987.
GRITTI, Isabel Rosa. Edmundo Wós Saporski: O pai da imigração polonesa. In: GOULART, Maria do Carmo R. K. (Org.) Almanaque da vida
polaca. Brusque: Prefeitura de Brusque, 1999, p. 60-65.
THOMÉ, Nilson. Trem de ferro: a ferrovia no Contestado. Caçador: Universal, 1980.
TOKARSKI, Fernando. Os poloneses na região do Contestado. In: GOULART, Maria do Carmo R. K. (Org.) Almanaque da vida polaca. Brusque:
Prefeitura de Brusque, 1999, p. 35-39.
________ Os polacos na guerra do Contestado. In: ESPIG, Márcia Regina; MACHADO, Paulo Pinheiro. (Org.) Guerra santa revisitada: novos
estudos sobre o movimento do Contestado. Florianópolis: Edufsc, 2008, p.
249-282.
WACHOWICZ, Ruy Christovam. História do Paraná. Curitiba: ed. dos
Professores, 1968.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
83
ARTIGOS
JORNALÍSTICOS
Porto União: Vila Gemma,
Arquitetura e História1
Leni Trentim Gaspari2
Minha homenagem a Porto União, pelos seus aniversário,vai no
sentido de valorização do patrimônio arquitetônico dessa linda cidade. A
preservação do patrimônio histórico-cultural de uma cidade contribui para
a formação da identidade de um grupo social e fortalece sua significação
cultural pela preservação desse patrimônio. A arquitetura representa um
elemento da cultura de um povo e reflete o modo de agir, pensar e sentir em
uma determinada época, pelo conjunto de signos que envolvem as construções, fazendo com que cada uma delas tenha uma mensagem.
Minha reflexão neste texto encaminha-se para a casa conhecida
como Vila Gemma, em Porto União, hoje sede do Museu Municipal Prefeito Salustiano Costa Junior, um espaço de história e memória. Para escrever
sobre o assunto, utilizo –me de informações, cedidas gentilmente por Lina
Benghi, neta dos proprietários da antiga residência da família. Seus avós,
Sr. Raphael Benghi e sua esposa, Gemma Balardini Benghi, ambos italianos
emigrados para o Brasil ainda meninos, em 1898.
O projeto arquitetônico da casa foi encomendado a um engenheiro/arquiteto italiano, Carlo Conti, que residiu na cidade por algum tempo,
segundo registros, entre o final da década de 1920 e o início de 1930. Na
avaliação do professor de Arquitetura Brasileira, Key Imaguire Junior3, a arquitetura corresponde ao estilo eclético:“ Do ponto de vista estilístico, apresenta ornamentação totalmente vinculada ao Ecletismo: os vãos têm verga
em arco-pleno com ombreiras colunadas ao sabor neoclássico, assim como
as janelas de vão triplo. Bandeiras, balaústres das sacadas e do guarda-corpo
da escadaria, portão de ferro e demais elementos aplicados, pertencem ao
mesmo momento. Há bastante probabilidade de que, para a sustentação das
Texto escrito como homenagem a Porto União pelos seus 97 anos.
Membro fundadora da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, tendo como patrona Edy Santos da Costa.
3
Parecer sobre a Casa Benghi: texto escrito pelo professor Imaguire a pedido de
Lina Benghi, em 2010.
1
2
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
87
sacadas, como conta a tradição, tenham sido usados pedaços de trilhos, prática construtiva comum no período”.
FONTE: Acervo da autora.
Os documentos originais da Vila Gemma indicam que a área da
construção original era de 400 metros quadrados, aproximadamente. Era
considerada pelos proprietários como a “chácara”, tendo em vista que residiam no Hotel Hotel Internacional, de sua propriedade, localizado na Praça
Hercílio Luz, no centro da cidade, em frente da Estação Ferroviária. Em
1942, o casal Raphael Benghi e Sra. Gemma, depois de aposentarem-se do
trabalho de hotelaria, passaram a ter moradia fixa na Vila Gemma. Nos
anos 50, a construção foi ampliada com o acréscimo no primeiro andar,
junto à rua Jerônimo Coelho, recebendo um banheiro moderno, com azulejos e conjunto sanitário de louça, e a construção de uma saleta para a
confecção das massas que eram consumidas diariamente.
Como residência da família Benghi, a Vila Gemma foi utilizada
por 40 anos, aproximadamente, até início dos anos 80. Seus proprietários,
muito hospitaleiros, rodeados pela família extensa e muitos amigos, promoviam festas, assim como belas comemorações natalinas. A cozinha era o
centro da vida doméstica, com seu grande e belo fogão econômico esmaltado e decorado com flores. A mesa farta de iguarias da culinária italiana
era acompanhada pela música ao piano alemão, muito bem dedilhado pelas
moças da família. No primeiro andar localizavam-se os dormitórios do casal e da filha solteira. Os dois quartos do terceiro piso eram destinados aos
três filhos homens. O piso térreo, por muitos anos, esteve alugado para casa
comercial e atualmente abriga uma loja de artesanato local.
88
Lina volta no tempo, ao relatar pormenores tão significativos da
casa dos seus avós e que lhe trazem lembranças muito felizes. Conta ainda
que a área onde a casa foi construída tinha aproximadamente quatro mil
metros, dos quais uma parte foi vendida ao Clube Aliança, antiga Sociedade Italiana Beneficente “Dante Alighieri”, espaço que congregava os imigrantes dessa etnia, para preservação da sua língua, enfim, da cultura italiana, com escola e clube social. A Sociedade Italiana, portanto, fazia limite
com a propriedade da família Benghi, na esquina da rua Jerônimo Coelho
com a rua XV Novembro, onde hoje está o Clube Aliança.
Vila Gemma, que no passado foi espaço de reuniões sociais e familiares, hoje é um espaço de memória... um espaço cultural, que surgiu pela
manifestação da sociedade local. O interesse em sua preservação manifestou-se no abaixo- assinado, realizado em meados do ano de 2009, momento
em que tornou claro o desejo comum da população de, após a restauração,
utilizá-lo como espaço cultural. Um contrato entre os herdeiros e a Prefeitura da Cidade firmou a ocupação do edifício em regime de comodato, pelo
período de 10 anos, a contar de meados de 2009, com o compromisso do
restauro dele, assim como do seu jardim.
Essa ação da administração pública veio ao encontro das expectativas da comunidade, que espera há tempos pela revitalização do museu
e pela criação de um arquivo histórico. Revitalização, não apenas no sentido de uma estrutura física adequada com um espaço para a “guarda” de
documentos históricos cumprindo a função de preservador e conservador
do patrimônio cultural, mas ser um agenciador no processo de educação
alternativa e valorização do homem e seu meio.
Não há como negar a importância do museu como unidade funcional social, elo entre o passado e o presente, não apenas como um espaço de
“coisas antigas ou de curiosidades”, mas como o local onde a comunidade
expressa seus interesses e encontra sua identidade e referências culturais.
O acervo ali depositado permite essa identificação, a partir de estudos feitos por profissionais conhecedores da cultura material, pois é indispensável
que um museu tenha um sistema de documentação que possa dar conta
dos dados referentes aos objetos ali depositados.
Anteriormente à restauração, a casa fechada guardava lindos e
imponentes móveis marchetados, porcelanas, objetos de decoração (atualmente sob a guarda dos herdeiros), em sua maioria em estilo art-déco. Integrou-se ao acervo, permanecendo na casa alguns móveis, um piano alemão,
algumas pinturas decorativas nas paredes, comuns na decoração da época,
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
89
ao que tudo indica, é de autoria de um imigrante austríaco, Sr. Bieberbach.
Observa-se no espaço a preocupação dos responsáveis pela guarda desses
objetos, a preocupação com a preservação desse patrimônio, bem como
dos demais elementos transferidos do antigo prédio do Museu Municipal.
Tantas lembranças... tantas histórias! Recentemente estive lá visitando esse espaço, com um grupo de professoras, e fiquei admirando, além
da beleza da casa, o espaço dedicado ao jardim que, à época, pelos cuidados
da família, era mantido com muito zelo e os belos canteiros coloridos davam um toque muito especial ao recanto acolhedor. Chamava a atenção dos
passantes uma enorme glicínia, que se debruçava da balaustrada em cima
do muro de pedra, com suas flores lilases cuja beleza e perfume ainda estão
guardados na memória dos habitantes de Porto União da Vitória.
Uma linda casa... como tantas outras em nossa querida Porto
União, que merecem ser preservadas e cuidadas como elemento cultural de
determinada época e mantém o equilíbrio entre crescimento e progresso,
sem desconsiderar o passado.
Quero registrar meu voto de louvor e admiração dos herdeiros da
Vila Gemma pela Cessão em Comodato à Prefeitura municipal de Porto
União, priorizando a manutenção do Patrimônio Histórico-cultural da cidade, em detrimento do lucro imobiliário imediato.
90
HOTEL JOIA – VIVENDO E FAZENDO HISTÓRIA
Boleslau Myszka – um empreendedor nato
Fahena Porto Horbatiuk1
Foto 1: Hotel Jóia
Fonte: Cedida por Boleslau Myszka
Boleslau Myszka, conhecido como Boles, é nascido em Cruz Machado, filho de João e Catarina Myszka. João Myszka veio de Varsóvia, aos
12 anos de idade, e Catarina é natural de Cruz Machado.
Aos 18 anos de idade, Boles, filho de lavradores, vem para União da
Vitória, para assumir algum trabalho: primeiramente, foi servente de pedreiro; depois, funcionário no Hotel Rodoviário de União da Vitória, onde
foi porteiro e, mais tarde, gerente. A seguir, foi trabalhar no Luz Hotel, que
era de Zeno Bernardi, diretor da Reunidas, e de Vilson Gresana, sócio de
Bernardi. Simultaneamente, trabalhava com um táxi, o que rendia muito
bem.
Em 1974, Dona Celita, viúva de Ari Delfino, dona do Rio Hotel,
resolve alugá-lo. Vilson Gresana e Boleslau assumem o negócio.
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono
Luiz Wolski.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
91
Boles, empreendedor que sempre foi, primava pela qualidade. A
primeira providência foi reformar as camas e trocar os colchões de crina
pelos de espuma. Inteligente e dedicado, quando chegava o Estrela Azul, lá
pelas 11 horas, Boles ia de táxi receber os passageiros, e oferecer-lhes seus
préstimos no Hotel Joia.
Para cativar os clientes, era caprichoso. Ele e sua esposa ofereciam
um café da manhã muito especial, com tudo que pudessem do melhor, incluindo frutas. Se o cliente gostasse de chimarrão, era-lhe servida a bebida.
Aos taxistas que lhe traziam os hóspedes oferecia champanha, no final do
ano. A todos tratava bem, por princípio.
Esse hotel ficava em frente à Praça Alvir Riesenberg. Para manter
os hóspedes mais alguns dias na cidade, convidava-os a participar de um
time de futebol amador, o Joia Esporte Clube, que participava de muitos
campeonatos e vencia, com frequência, os demais times de São Cristóvão
ou de municípios vizinhos. Até 11 sargentos que moravam no hotel fizeram
parte do time. Outros jogadores, que vinham de fora, para jogar contra o
Iguaçu, paravam também no hotel. Tudo isso dava ao Hotel mais vida. Ao
anoitecer, os viajantes se reuniam na entrada do hotel e ficavam contando
piadas ou fatos pitorescos. Apesar de comportar apenas até 45 pessoas, era
muito digno e feliz o ambiente.
A cidade daquele tempo, segundo Boles, tinha pouco calçamento,
muitos representantes comerciais e grandes frotas de táxis. Continua como
taxista, após a devolução do hotel (1986) à dona, mas já no ano seguinte,
1987, quando as companhias iniciam a construção da Ponte Domício Scaramella, ele adquire um caminhão com caçamba e começa a fazer frete para
essas companhias. Adquiriu seus próprios caminhões, fez frete para a GR
e para outras empresas, e há 15 anos é autônomo. Conhece bem o material
(areia), ou outros, e zela pela qualidade, pontualidade na entrega, preservando, além da credibilidade, a amizade.
Seu Boles é casado com Dona Teresa Storoz Myszka. Formam um
casal muito simpático, com seus três filhos. Sente-se realizado com sua família, no trabalho e na sociedade. Falando de suas lembranças de taxista,
conta que certa vez conduziu os Trapalhões, Mussum, Dedé e Zacarias, do
Holz Hotel até Curitiba. Foi uma viagem especial.
Como motorista de caminhão, já passou por alguns acidentes, mas
nada grave.
Gerson (Paco, o gaitista), seu filho, segue o exemplo do pai. Formado em Relações Públicas, conduz um caminhão, e, nos finais de semana,
92
alegra os ambientes com sua gaitinha de boca, além de ter alguns trabalhos numa agência de publicidade. Rejane é programadora de softwares,
numa empresa especializada em informática, em Curitiba. E o mais novo
dos filhos, Markus, já publicou seu primeiro livro, aprende piano, e está
concluindo curso de Filosofia. Nas horas vagas, ajuda o pai.
Assim Boles e família vão vivendo sua história e integrando a história de nossa União da Vitória, que festeja seus 124 anos. Este relato é uma
homenagem à cidade que aniversaria, mostrando a ela que seus filhos vão à
luta pelo trabalho e pela alegria de viver.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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HOTEL SAN RAFAEL
Fahena Porto Horbatiuk1
Foto 1: Hotel San Rafael em tempo de Natal
Fonte: Acervo de Lina Benghi
O escritório num local alto, ladeado de flores azuladas e brancas,
perfumadas, recebe-me solícita e serena, a Lina. Pianista, apreciadora de
MPB, praticante de ioga, discreta, toda harmonia.
À vontade, amistosa, põe-se disponível para me atender.
Seus avós? Por parte de pai, os italianos Raphael Benghi e Gemma
Balardini Benghi.
E de sua mãe? Esclarena Franco Maciel Tentardini e Acácio Tentardini (da região das Missões – RS)
Seu pai, Tancredo, é um dos filhos de Raphael e Gemma, que, em
sequência, foram: Alba, Hilário, Ernani, Tancredo e Iracema. Tancredo
nascera a 24 de janeiro de 1917, em União da Vitória, antes do Acordo de
Limites, na atual Porto União. Formou-se em Engenharia Civil, pela Universidade Federal do Paraná, em 1941, e, a 13 de fevereiro de 1942, ainda
em Curitiba, casa-se com Amasília Maciel Tentardini, mãe de Lina, atualmente com 93 anos de idade, residente em Curitiba.
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 08, tendo como Patrono
Luiz Wolski.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Amasília, mãe amorosa, prendada, educadora, contadora de histórias aos filhos pequenos, e também a nós. Legou-nos, por exemplo, Nas
Asas do Tempo (Crônicas); O Pintinho Colorido, O Índio e o Gaúcho, A
Mensagem do Unicórnio, O Cãozinho Cor-de-rosa, A Sombrinha e o Macaco (infantis). Todos maravilhosos.
Tancredo e Amasília são pais de quatro filhos: Yara, Lina, Ivan e
Tânia. Ivan, infelizmente, já falecido. E cada um deles tornaram o mundo
mais belo e bom, com seus rebentos. Da Yara Benghi Soares – Luís Roberto
B. Soares e Luís Rodrigo N. Soares; de Lina Benghi – Patrícia Burmester
Abrão, Roger Benghi Burmester; de Tânia Forte – Domingos Forte Neto e
Bettina Forte Coradim.; de Ivan Benghi – Francis Costa Benghi e Mariana
Costa Benghi.
Foto2: Esposa e familiares de Tancredo Benghi,
e convidadas, no dia da Inauguração do Hotel San Rafael
Fonte: Acervo de Lina Benghi
O nome do hotel, San Rafael, é homenagem de Tancredo a seu pai,
um dos pioneiros da hotelaria na região.
O terreno em que se localiza o hotel, na esquina da rua Prudente de
Moraes com a rua XV de Novembro, fora adquirido, em 1954, das famílias
Hobi (Lina e Kurt), Machado (Neli e Gilberto) e Wichan (Freny Hobi).
O hotel tem também um terreno na rua Prudente de Moraes, que
se constitui em garagem para carros de hóspedes, e onde, aos fundos, está
instalado o pequeno escritório, de que falamos no início deste artigo, (área
onde se localizava a antiga moradia das senhoras Habuba e Rosita Guérios)
e outro, anexo ao hotel, que pertencia a Rosa Dequech.
96
A planta do hotel é do próprio Tancredo, como engenheiro que era,
levado pelo gosto por essa atividade, já iniciada pelos pais dele. A inauguração deu-se a 20 de dezembro de 1969. E foi administrado, desde o começo,
pelos filhos. Primeiro, por Ivan, depois pela Tânia. Atualmente, pela Lina
(há uns seis anos).
Foto 3: Inauguração do Hotel San Rafael. Da esquerda para a direita:
Tancredo Benghi e Josué de Oliveira, pai de Roberto Domit de Oliveira.
Fonte: Acervo de Lina Benghi
Lina diz gostar dessa administração do hotel, por não haver rotina,
bastando ter um bom relacionamento e objetivo nos negócios. E, principalmente, por ser da família que, há 100 anos, trabalha com hotelaria.
Só para se ter ideia do clima organizacional desse hotel, basta saber que há clientes que o frequentam há 37, 17, 15 anos. Também possui
funcionários que ali se dedicam há 20, 17, 15 anos. É um hotel familiar, de
elevado conceito pelo atendimento e conforto, devido ao esforço para oferecer hospedagem de bom padrão, tanto nos apartamentos quanto no café
da manhã, servido no refeitório, ao lado, que também já foi restaurante por
algum tempo.
Reformas necessárias são feitas, quando preciso, para melhor servir, como a criação recente de área para encontros de negócios. Dispõe de
ampla sala para palestras e cursos. O hotel hoje é usufruto de D.Amasília.
Lina aprecia os pensadores modernos da área de Sociologia, Antropologia e História. Lê todos os grandes jornais do Sul do País, além dos
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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locais. Assiste a algumas novelas que retratam um painel da realidade social
brasileira, como também a programas da TV Cultura, Globo News, entre
outros.
Conversando a respeito de pessoas famosas que ali se instalaram,
Lina contou que muitos políticos catarinenses, presidente da OAB Nacional, e artistas foram e são seus clientes. Entre os artistas mencionou: Ângela
Maria, Roberto Carlos, Edson Celulari, Renato Borgetti, Natália Timberg.
Jogadores, músicos, turistas, conforme os eventos maiores promovidos pelas duas cidades ali se hospedam.
A vida? “Ora, é bom viver, apesar das mazelas do mundo e de tantos
sofrimentos.” E a morte? “Já a senti de perto, é tranquila. É natural e leve.”
O modo de ser de nossa entrevistada reflete uma espiritualidade
madura, provinda dos Evangelhos, da reflexão, e observação da vida.
Na despedida, recebo duas florinhas perfumadas, branquinhas, colhidas daquele canteiro de seu coração.
REFERÊNCIA
BENGHI, Lina. Entrevista cedida a Fahena Porto Horbatiuk, em março de
2014.
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ÁUREA DE SOUZA CLAUSEN: a primeira vereadora
em União da Vitória (PR)
Odilon Muncinelli1
Na Educação Local é quase total o domínio das mulheres. Mas na
Política elas são bem poucas. Em Porto União (SC), sete mulheres marcaram o seu nome no exercício da Vereança. Em União da Vitória (PR),
apenas duas. E a professora Áurea de Souza Clausen foi a primeira delas.
Concorrendo à Vereança no pleito municipal de União da Vitória,
pela extinta Aliança Renovadora Nacional (ARENA), a professora Áurea
de Souza Clausen foi eleita e diplomada como vereadora suplente e assumiu esse múnus público em substituição ao titular, nos anos de 1974
e 1975. Observação: Na época, o mandato não era remunerado e, assim
mesmo, era exercido com elevada competência e exemplar zelo. Eram vereadores por amor à causa pública e por mero altruísmo. E a professora
Áurea de Souza Clausen exerceu a Vereança,dotada desses elevados atributos.
Só para confirmar o fato: “... vale lembrar que o legislativo local
teve outra mulher – Áurea Clausen – que foi eleita suplente e chegou a assumir a cadeira em substituição ao titular”. (No dizer do
inesquecível jornalista René Augusto, in Jornal Caiçara).
Mas, quem foi essa mulher?
A jovem Áurea de Souza Clausen realizou o Curso Normal Secundário, no Colégio Santos Anjos, em Porto União (SC). Mais tarde, foi licenciada em Pedagogia, no ano de 1976, pela Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de União da Vitória, atualmente, Universidade Estadual do Paraná
(UNESPAR), campus de União da Vitória.
Como Professora, a senhora Áurea de Souza Clausen sempre esteve à frente de grandes ações e de bons projetos. Trabalhou na Escola de
Aplicação José de Anchieta, na Inspetoria Regional de Ensino (extinta pelo
Decreto no 2.161, de 09 de dezembro de 1983), atualmente, Núcleo RegioMembro fundador, ocupando a Cadeira nº18, tendo como Patrono João Farani
Mansur Guérios. Homenagem a União da Vitória – 124 Anos
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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nal de Educação, e, no Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL),
como Supervisora de Área. Sempre engajada em causas culturais.
Como Vereadora, a professora Áurea de Souza Clausen foi a mulher pioneira, que abriu caminho, que enfrentou um palanque de comícios,
que debateu a boa política, que falou em público dos nossos problemas.
Enfim, que quebrou velhos paradigmas e construiu a sua vida pessoal e
política, fazendo o que melhor sabia fazer, dialogar. Sempre pautada em
posições firmes, ações diferenciadas e muita sensibilidade... Sempre engajada em causas sociais... E fez a diferença.
Pois, “O convívio com pessoas humildes, carentes de estímulo para
uma inclusão social, certamente despertaram-lhe a vontade de reverter todo esse quadro e fortaleceram-na para encaminhar-se na
vida política”. E, “... sempre bem disposta e com um sorriso aberto,
ganha a simpatia de muitos e chega à suplência para exercer o cargo”. (No dizer da cronista e agitadora cultural Therezinha Leony
Wolff, in Pegadas Amigas, página 116).
Concluindo, a professora Áurea de Souza Clausen deixou o seu
nome marcado e assinalado nas páginas da História da Política local e da
Câmara de Vereadores união-vitoriense, com relevantes serviços prestados
em favor da sua terra e da sua gente.
E sempre será lembrada como a primeira mulher eleita Vereadora
em União da Vitória (PR).
Anoto ainda que ela foi casada com Cristiano Clausen, um excelente cantor e festejado jogador do nosso futebol amador.
Morreu num dia 13, sexta-feira.
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HOMENAGEM A PORTO UNIÃO – 97 ANOS
Maria Therezia, a Pioneira
Odilon Muncinelli1
Nascida em Montenegro (RS), no Dia do Professor, dia 15 de outubro de 1925, Maria Therezia Butzen Deboni fez os seus estudos com as
Irmãs Franciscanas no Rio Grande do Sul, onde, na parte da manhã, tinha
aulas em Alemão e, à tarde, em Português. Depois de formada, lecionou no
Colégio São José, no Rio Grande do Sul. Fez ainda o Curso de Administração Escolar (Especialização do Curso de Magistério).
Ainda nos pagos gaúchos, casou-se com Arlindo André Deboni,
com quem teve uma filha, a Helena Deboni.
Depois, veio para União da Vitória (PR), em dezembro de 1952,
e, em março de 1953, começou a lecionar como suplementarista, durante
três anos, na Escola Normal Professora Amasília, de União da Vitória (PR).
Nessa mesma escola, Maria Therezia criou a Biblioteca José de Alencar.
É formada em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUC). Além de uma das fundadoras da FAFI de União da Vitória,
hoje Universidade Estadual do Paraná, lecionou naquela Instituição, apenas as disciplinas de Crítica e Filosofia da História e ainda Introdução ao
Estudo da História, apesar do Conselho Federal de Educação tê-la autorizado a lecionar Lógica, Ética, Estética, Filosofia, História, Educação Comparada e Sociologia.
No ano de 1958, concluiu o Curso de Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). E, posso afirmar, com certeza, que Maria Therezia
Butzen Deboni foi a primeira mulher a exercer a advocacia em Porto União
(SC) e em União da Vitória (PR).
Em que pese uma velada discriminação, imperante na época, ela,
como mulher, não sofreu nenhuma resistência de parte dos seus colegas
homens, quando, cheia de ideal e de esperanças, começou a trabalhar como
advogada. Simplesmente, deu tempo ao tempo e, enquanto isso, ombreouMembro fundador da Academia de Letars do Vale do Iguaçu, ocupando a Cadeira
nº18, tendo como Patrono João Farani Mansur Guérios.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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-se com os colegas mais ativos e experientes, aumentando e aprimorando
o seu conhecimento jurídico. Sem medo de caretas, aprofundou-se nessa
temática. Com modéstia e sem nenhuma subserviência, laborou sempre de
maneira dedicada e, acima de tudo, firme, zelosa e eficiente, para tornar-se,
afinal, uma figura de destaque no meio forense, com uma bela história de
coragem, determinação, galhardia e humildade.
Conheço a Maria Therezia, praticamente, desde os bancos universitários e dedico-lhe o maior respeito, como mulher e como profissional,
porquanto, ela percorre o difícil caminho da seara advocatícia, com bastante independência e operosidade, sem nunca esmorecer no desempenho da
sua nobilitante missão.
Mulher simples, natural, autêntica, de grande riqueza interior e
sem nenhuma postura artificial ou impregnada de vaidade. Extremamente
educada e afável, nunca dispensou as palavras “por favor”, “com licença” e
“obrigada”. A bem da verdade, esses atributos servem de exemplo para todos os advogados e, principalmente, para as advogadas de hoje. Porque ela
fez da advocacia a ciência do justo e do bom.
A vida particular e a correta vida profissional dessa advogada pioneira, hoje aposentada, vieram engrandecer, em muito, a história da advocacia, a história das mulheres advogadas e, por que não dizer, a História
Local.
Ademais, professa um grande apreço pela advocacia, mas, o maior
dos seus talentos é o magistério. Aliás, Maria Therezia “viveu a causa do
Magistério e fala desse assunto com uma vibração jovem”. Publicou algumas pesquisas, entre elas: “Arquivo de Custódia da Prefeitura Municipal de
União da Vitória” (in Anais do V Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, volume II, Portos, Rotas e Comércio, 1971) e “Por
Um Estudo Equilibrado da História” (in Revista Luminária n.o 1, 1972),
além de outros textos de real importância para o estudo e conhecimento
da História.
É severa, implacável, mesmo na cobrança dos deveres essenciais do
advogado e do professor. Prega, com fervor, os valores éticos e morais que
sempre deram suporte e realce à sua respeitável carreira. Personifica, como
é próprio dos pioneiros, a moral, a ética e honradez. Seu nome, certamente,
ficará registrado nas páginas da História Local, pela sua abnegação, coragem e audácia., numa homenagem digna da grandeza da sua personalidade.
Até hoje, Maria Therezia mora no alto da Cidade Nova, em Porto
União (SC), juntamente, com a filha Helena.
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HISTÓRIA DO POVOAMENTO E
OCUPAÇÃO DE UNIÃO DA VITÓRIA1
Odilon Muncinelli 2
1 Como ocorreu o povoamento em União da Vitória?
É sabido que os primeiros povoadores de Porto União da Vitória
(a cidade matriz de União da Vitória e Porto União) foram os bugres, os
índios botocudos e caingangues.
No entanto, no ano de 1769, o desbravador e sertanista Antônio
Silveira Peixoto estabelece o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória (exatamente no local onde hoje está situada Porto União da Vitória), “e continua
a descer o Rio Iguassú, mandando antes fazer derrubadas e grandes roçadas
para abastecimento da sua gente e dos homens que ele deixava no referido
ENTREPOSTO”. (Cleto da Silva, in Apontamentos Históricos de União
da Vitória, página 19).
Aliás, “ali deixou o grosso da sua tropa”. (grifo meu).
Corroborando essas afirmativas, as anotações históricas, de vários
autores, registram ainda que o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória foi
estabelecido a “quatro léguas acima das primeiras cachoeiras, em ampla e
desafogada curva de rio tranquilo e fundo, onde as embarcações passam livremente”.
Nesta razão, salvo melhor juízo, entendo que o povoamento de
Porto União da Vitória teve o seu começo com a Expedição de Antônio
Silveira Peixoto.
Mais tarde, ocorre o Ciclo do Tropeirismo, que a historiografia
oficial define como um simples ciclo econômico. Porém, no meu entendimento, esse conceito foi alterado. Porque, além de ciclo econômico, a saga
tropeira teve uma forte influência histórica, cultural e social, que marcou
profundamente a história, a tradição e os costumes de diversas cidades do
Entrevista concedida à professora Maricler Wollinger Kovalczuk. Homenagem a
União da Vitória– 124 Anos
2
Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 18, tendo como Patrono João
Farani Mansur Guérios.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
103
Paraná e de Santa Catarina, inclusive de Porto União da Vitória (a cidade
matriz de União da Vitória e Porto União). Sem dúvida, um dos momentos
mais românticos e repletos de tradições, na conquista do Paraná e de Santa
Catarina está ligado ao Ciclo do Tropeirismo, um ciclo econômico, cultural
e social, ocorrido nos séculos 18 e 19.
Ademais, a mesma historiografia registra, também, que, partindo
de Viamão, no Rio Grande do Sul, os tropeiros faziam um longo percurso
até Sorocaba, em São Paulo. A viagem era lenta e marcada pelas paradas
e pelos pousos que se foram transformando e dando origem a prósperas
cidades. E não poderia ter sido diferente, porque os tropeiros sempre procuravam um bom pouso, de boas águas, de bons pastos e de boa sombra.
Tanto que, em Porto União da Vitória, a 12 de abril de 1842, o tropeiro e sertanista Pedro de Siqueira Cortes descobriu o “vau” ou o “passo
do Iguassú”, um local de baixa profundidade do rio. A descoberta desse vau,
que está situado entre a Ponte Machado da Costa (a conhecida Ponte de
Ferro) e a Ponte Domício Scaramella, não só veio facilitar a passagem das
tropas que vinham de Palmas rumo a Palmeira, pelo Caminho das Missões,
como também encurtou as distâncias, e, principalmente, deu continuidade
ao povoamento do “lugarejo” que hoje é União da Vitória e Porto União.
Enfim, muita história a respeito dessa gente marcada pela simplicidade, já foi contada em prosa, versos e trovas.
2 Quais as regiões primeiramente povoadas em União da Vitória e de que
forma eram povoadas?
O mestre José Júlio Cleto da Silva, em seu livro “Apontamentos Históricos de União da Vitória 1768-1933”, às páginas 28 a 35, indica e localiza
com riqueza de detalhes “as regiões primeiramente povoadas” em Porto
União da Vitória. Inclusive, indica os moradores, os primeiros comerciantes, et cetera, no período compreendido entre os anos de 1860 e 1876.
Quer dizer, as regiões mais povoadas se localizavam desde o “Alto
da Glória”, compreendendo o Largo Prudente de Brito, a antiga Capelinha
(atual Igreja Matriz), a Praça Nereu Ramos, a Rua Sete de Setembro, em
Porto União (SC), até a Praça Hercílio Luz, em Porto (SC), até a Praça Coronel Amazonas, e, até as proximidades do antigo “Campo do União Esporte Clube” (o atual Estádio Municipal Antiocho Pereira), em União da
Vitória, PR.
104
3 Nessa época já apareciam formas de desigualdade espacial?
Sem dúvida, levando em conta a área central e a periferia.
4 Já existiam bairros? Como eram esses bairros?
Acredito que sim! Por volta de 1842, já existia o “arrabalde” de Tócos (atual Bairro São Pedro), tanto que era a passagem do Caminho das
Tropas, trilhado pelos tropeiros, tropas e tropeadas. Ademais, no ano de
1882, já existia nesse “arrabalde” de Tócos, uma pequena Capela e algumas casas simples, construídas em madeira. As ruas eram de chão batido,
poeirentas e, quando chovia, tornavam-se lamacentas e atoleiros. Não havia
nenhuma iluminação pública. Outrossim, o “arrabalde” possuía uma rica
vegetação, com árvores de pequeno e grande porte, mamonas, inhapindás,
muitos cipós, et cetera. Além do “arrabalde” de Tócos, o outro mais importante era o Bairro de Santa Rosa.
Enquanto isso, em União da Vitória, propriamente dita, os bairros
são mais recentes, porquanto somente pode-se falar da existência deles e
indicá-los, depois da assinatura do Acordo de Limites (1916) entre o Paraná e Santa Catarina. Entre os mais antigos cito os Bairros São Cristóvão,
São Bernardo, Rio da Areia, Ponte Nova, Navegantes e tantos outros. Presumo que essa seja a ordem.
5 Quem morava nas regiões mais nobres da cidade? Ou, que tipo de
construção ocorria no centro da cidade?
Os comerciantes, os industriais, os empresários, os professores,
os médicos, os advogados, os engenheiros, et cetera. As casas residenciais
eram construídas em madeira e alvenaria. Igualmente, as casas comerciais
em alvenaria (predominantes) e em madeira.
6 Na sua concepção de historiador e nobre estudioso no assunto, quais
os fatores que foram determinantes para o desenvolvimento urbano da
cidade de União da Vitória?
Inicialmente, o Ciclo do Tropeirismo (tropeiros, canoeiros e balseiros), o Ciclo do Extrativismo da madeira e da erva-mate (serrarias e barbaquás), o Ciclo da Navegação (vapores, lanchas e chatas), o Ciclo da Ferrovia
e, por fim, o Ciclo da Rodovia.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Na modernidade, o Ciclo da Educação. Aliás, a cidade de União
da Vitória é um verdadeiro polo educacional, porquanto possui quatro
Instituições de Ensino Superior, a saber: Universidade Estadual do Paraná
(antiga FAFI), o Centro Universitário de União da Vitória (antiga FACE),
a Unidade de Ensino Superior Vale do Iguaçu e o Instituto de Filosofia e
Teologia Santo Alberto Magno.
7 O desenvolvimento urbano da cidade de União da Vitória nos dias
atuais segue traços de sua história. Como o senhor vê a cidade de
União da Vitória na questão do desenvolvimento urbano (crescimento e desenvolvimento urbano e social, indústrias, comércio, setor de
serviços)?
Acredito que não! Porque, a área central de União da Vitória, compreendida entre as Ruas Pedro Siqueira Cortes, Avenida Manoel Ribas,
Carlos Cavalcanti, Professora Amasília, Professor Cleto, Rua D. Pedro II,
Cruz Machado, Rua Getúlio Vargas, Praça Visconde de Nácar. Praça Coronel Amazonas, nos primórdios do povoamento, a maioria das casas e
casarões era construída de madeira. Somente, mais tarde, a partir de 1917,
começa a construção dos edifícios comerciais e casas residenciais em alvenaria, que ganharam uma riqueza de detalhes arquitetônicos, nos mais
variados estilos, a exemplo do Grupo Escolar Professor Serapíão, do Hotel
Paraná (destruído em incêndio), da antiga Prefeitura Municipal, do antigo Fórum, da antiga Câmara Municipal e da Igreja Matriz, todos situados
na Praça Coronel Amazonas. Além desses, tem-se a Loja Flor da Vitória
(1920), o Hotel Flórida (1922), a atual Receita Federal (1929), a bonita casa
residencial (ao lado do extinto Clube Operário), a antiga Livraria Cleto
(1930), o Clube Apolo (1931) e tantos outros.
Atualmente, o antigo mistura-se com o moderno, nos mais variados estilos. Donde conclui-se que o desenvolvimento urbano de União da
Vitória não segue os traços da sua história.
8 Por que esses estabelecimentos estão dispostos dessa forma na cidade?
Acredito que pela necessidade de estabelecer e fixar uma ordem
social, residencial, comercial e industrial.
106
9 A cidade de União da Vitória teve a sua origem às margens do Rio
Iguaçu. O senhor pode falar sobre isso como historiador?
Sem dúvida! A cidade de União da Vitória originou-se na margem esquerda do Rio Iguaçu, exatamente, nas proximidades do atual Clube
Concórdia (terra paranaense, antes da assinatura do Acordo de Limites, em
1916), no começo da Rua Prudente de Morais, no sentido leste a oeste, exatamente, onde se estabeleceu o Entreposto de Nossa Senhora da Vitória, no
ano de 1769, por ação do desbravador e sertanista Antônio Silveira Peixoto.
Salvo melhor juízo, a conclusão é minha!
Além disso, vale dizer que “União da Vitória brotou na rota das
monções do Iguaçu, no século XVIII”, no Caminho das Águas, com o trânsito das canoas e das balsas, mais tarde dos vapores, das lanchas e das chatas,
e, por fim, consolidou-se no Caminho das Tropas, com a descoberta do vau
do Rio Iguaçu, em 12 de abril de 1842.
10 Na sua opinião, o Rio Iguaçu influenciou o processo de desenvolvimento urbano na cidade: de que forma?
Assinale-se que, a cidade de União da Vitória começou “junto a
uma encruzilhada: fluvial (canoas e balsas) e terrestre (tropas cargueiras e
xucras) – o Porto da União”.
O Rio Iguaçu foi de real importância para o processo de desenvolvimento urbano de União da Vitória, porque, como disse, anteriormente, o
Rio Iguaçu foi o Caminho das Águas, que atendia o suprimento do sal para
o gado dos Campos de Palmas e demais mercadorias para o consumo dos
união-vitorienses e palmenses.
Via de consequência, aumentou o índice populacional, desenvolveu o nível comercial e industrial, a qualidade educacional, que, certamente, melhorou o desenvolvimento e o ordenamento urbano da cidade de
União da Vitória.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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O transporte no Rio Iguaçu
Ulysses Sebben1
Ulysses e Iolanda em passeio de
lancha pelo Rio Iguaçu, entre Porto
Vitória e União da Vitória
(16 de janeiro de 1954).
Com saudosas lembranças, recordo das agradáveis viagens e passeios realizados entre União da Vitória e Porto Vitória, nas lanchas que
representavam grande importância no transporte de pessoas e de mercadorias, entre as duas citadas localidades.
Pela vez primeira que me foi dado utilizar a lancha, foi no início
do ano de 1945, quando, de Santo Antônio do Iratim, no Município de
Bituruna, onde residia, encontrava-me a caminho de Palmas, para, como
seminarista, estudar no Seminário São João Maria Vianey, daquela cidade.
Por seis anos seguidos utilizei, então, a famosa e mui lembrada lancha.
Recordo de uma ocasião em que, ao chegar de Palmas a União da
Vitória (10 horas de viagem), em ônibus da empresa Kovalevski, estrada
de chão muito ruim, fazendo inúmeras e demoradas paradas, perguntei ao
‘Vodka’ (era seu apelido), proprietário da empresa, se ainda conseguiria alMembro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 01, tendo como Patrono Mário José
Mayer.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
109
cançar a lancha para Porto Vitória. Ele, rapidamente me mandou entrar em
uma pequena van e, foi ‘voando’, pela Rua Cruz Machado, cheia de buracos,
praticamente deserta, até a embarcação, no final daquela rua, que já estava
com seus motores em funcionamento. Fiquei feliz!
Quis a Providência que, no início do ano de 1952, eu deixasse os
estudos em Palmas e me transferisse para União da Vitória, onde continuaria meus estudos, como era desejo. Inicialmente cursei aqui o Artigo 91,
ministrado pelo magnífico mestre Estanislau Novitzki. Foram três anos do
então Ginásio, em seis meses. No final do ano de 1955, já me formava na
Escola Técnica de Comércio Cel. David Carneiro.
Em março de 1953, um fato que determinaria a caminhada futura
de minha vida, aconteceu. Desejava adquirir uma bicicleta. Fui à ‘Casa Estrela’, na Av. Manoel Ribas e lá encontrei, não só a bicicleta desejada, mas
também a vendedora que, pouco mais tarde, seria minha esposa e a mãe de
meus sete filhos, a Iolanda.
Mas que tem a ver esse bonito momento com a história da lancha?
Ocorre que, por várias vezes, no período de nosso namoro (1953/1955),
viajamos – que passeios maravilhosos – pelo nosso amado Rio Iguaçu, na
lancha que, por essa razão maior, nos é, agora, a mim e à Iolanda, de saudosa e grata memória.
110
A CANOA
Ulysses Sebben1
Assim como as lanchas e as balsas, as canoas também tiveram importância fundamental, no início da povoação da antiga Porto da União,
Porto União da Vitória e União da Vitória. Os canoeiros garantiram o
transporte de mercadorias e pessoas até o estabelecimento da navegação a
vapor, em 1882, e a construção de pontes sobre o Rio Iguaçu.
Uma dessas canoas é a que vemos acima. Ela merece destaque especial, pelo fato de ter, por várias décadas, servido, como dissemos, de meio
de transporte, em nossa cidade e localidades próximas.
Essa canoa é feita de um único tronco de imbuia, e mede 8,20 metros de comprimento. Originariamente tinha dois bancos fixos. Pertenceu,
através de seu quase um século de existência, a quatro proprietários, encontrando-se hoje, sem condições de uso, exposta às margens do Rio Iguaçu,
no Bairro Nossa Senhora dos Navegantes.
Existem informações de que a canoa foi fabricada na década de
1920, nas proximidades de Poço Preto, Santa Catarina, às margens do Rio
Iguaçu, localidade conhecida por ‘Volta Grande’. Teria sido feita por um caboclo/índio, conhecido por ‘Velho Sebastião Canoeiro’, para cortadores de
erva-mate que a utilizavam para a passagem do produto de uma lado para
Membro fundador da ALVI, ocupando a cadeira nº 01, tendo como Patrono Mário José Mayer.
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
111
outro do Rio Iguaçu. No início da década de 30, a canoa foi vendida para
uma olaria de Santa Cruz do Timbó, localizada às margens do Rio Timbó, e
servia como único meio de transporte, daquela localidade até Porto União
da Vitória, de tijolos e outros produtos.
Dona Maria e Sr. Geraldo Günther
No final da citada década, o Sr. Geraldo Günther, dentista prático, que residia em União da Vitória e atendia várias localidades próximas,
como Santa Cruz do Timbó, Matos Costa, Porto Vitória e Cruz Machado, que percorria a cavalo, levando seus equipamentos dentários, comprou a canoa. O Sr. Geraldo possuía uma olaria, que adquirira da família
Neubauer. A olaria estava localizada na saída de União da Vitória para Cruz
Machado, local conhecido por ‘Castelinho’, onde hoje é o Bairro Mercedes,
lado oposto, portanto, do Rio Iguaçu e, necessitava de uma canoa para a
passagem do rio e para o transporte de tijolos, mercadorias e pessoas.
A canoa serviu, durante quinze anos, aproximadamente, ao Sr.
Günther, que a utilizou como meio de transporte de seus produtos e de
pessoas, na localidade conhecida por ‘Lagoa Preta’, 500 metros abaixo da
‘Ponte Nova’, até ter sido construída a referida ponte, nos anos quarenta,
pelo então interventor no Estado do Paraná, Manoel Ribas.
Quando teve início a Segunda Guerra Mundial (1940), a canoa foi
retida pelas autoridades locais, por ordem do Governo Federal, pelo fato de
seu proprietário ser alemão. Ficou no cadeado durante toda a guerra, nos
fundos da casa de um senhor conhecido por ‘João Peixeiro’, logo abaixo do
Clube Concórdia.
112
Essa canoa, já de alguma ‘fama,’ serviu para a passagem de importantes autoridades de União da Vitória para o lado oposto ao Rio Iguaçu, quando o senhor Geraldo Günther promovia churrascadas na olaria e
convidava as autoridades de União da Vitória. Entre elas lembramos o Dr.
Francisco de Paula Xavier, primeiro Juiz da Comarca, que dá o nome ao Fórum de União da Vitória; Sr. Joaquim de Oliveira, escrivão e tantos outros.
Desejo concluir dizendo que a ‘CANOA’ de que aqui fizemos breve relato teria, certamente, muitas outras ‘estórias’ a serem registradas. É
por essa razão que ela merece um melhor cuidado. Quem sabe uma restauração e um digno abrigo, já que representa, para nossa cidade, um marco
histórico e um patrimônio cultural.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
113
E o assunto continua...
Therezinha Leony Wolff1
Em 1992, quando iniciado um movimento a fim de conseguir a
atenção dos poderes públicos, desde o municipal até a alta esfera federal,
o grupo de mulheres “Força Feminina do Vale do Iguaçu”, embora hoje
desativado, não deixou esquecida sua proposição e não perdeu a esperança
de um dia resolver, vez por todas, tantos dramas que sofre a população, em
períodos como o de hoje.
Prevenção que deve ser responsabilidade de todos: estejam ou não
diretamente envolvidos nos transtornos da catástrofe das cheias.
Nós que ocupamos este espaço, diversas vezes, para explorar o assunto, nos reportamos hoje para mostrar coisas escritas e já publicadas, que
seriam um alerta a todos os que querem não só o progresso das cidades,
mas tranquilidade, qualidade de vida da população.
Em 6 de maio de 1995, mostramos que é preciso “Sair da Pequena
Jaula”. Foi quando recebemos o relatório parcial nº03, da Corpreri (Comissão Regional Permanente de Prevenção Contra Cheias do Rio Iguaçu). Movimento que envolveu mulheres, nascido na agonia da enchente de 1992,
com o objetivo maior de exigir, a quem de direito, medidas para minimizar
e solucionar os problemas gerados naquela ocasião.
Ofícios e ofícios foram mandados a várias autoridades, mas poucas
foram as que aqui compareceram para um diálogo mais espontâneo, calcado já nos preâmbulos da Corpreri, portal de ingresso às soluções corretas.
Pessoas voluntárias, por inúmeras vezes reunidas, procuraram ajuda
para enfrentar o comodismo irritante e indiferente, que permeia a sociedade.
Voltando à história da“Pequena Jaula”...
Um urso fechado numa pequena jaula do zoológico, que passava os
dias inteiros dando 4 passos para um lado e 4 passos para outro. O zelador
procurou o prefeito, pedindo-lhe um espaço maior para o urso. Ano de
eleições, naturalmente aquele investimento retornaria em votos para o prefeito. No dia da inauguração do espaço, uma grande festa: povo, prefeito,
vereadores, banda de música... E o urso?
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono
Yvonich Furlani.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
115
Ao ser transferido para o novo endereço, grande e com gramado,
continuou, entretanto, a dar 4 passos para um lado e 4 para outro. Repetiu
pelo resto de sua vida esse mesmo comportamento, não aproveitando a
oportunidade de expandir seu espaço.
Infelizmente, em nossas cidades, quantas pessoas mantiveram o
hábito de viver em pequenas jaulas: sem tentar, sem participar, com medo
de experimentar, de aproveitar as oportunidades, de comprometer-se...
A indiferença por parte de alguns políticos, na tentativa de ajudar
na decisão de certas medidas apresentadas, acertadamente, pela Corpreri
era realmente de pasmar.
O conformismo tomou conta da população: é rotina aguardar a
enchente e justificar que as comportas de Foz do Areia deixaram de ser
abertas.
Enquanto isso, lixos e aterros continuaram invadindo o leito do rio
(eu mesma sou testemunha, porque tive que recorrer à promotoria pública
para a retirada de lixo, orgânico e inorgânico, depositados no 2º leito do rio,
frente ao antigo Clube Floresta).
Nessa época, numa das sessões do legislativo de União da Vitória,
infelizmente, alguns dos vereadores acharam mais importante cochichar,
ou até mesmo lixar as próprias unhas, enquanto o presidente da Corpreri,
frente a um mapa, assinalava áreas de risco. Mapa que foi concebido por um
grupo de interessados e profissionais, impresso em Curitiba, gratuitamente.
Mas voltemos ao oficio da Corpreri, que finaliza com o propósito
de um Seminário sobre enchentes e justifica a necessidade de sua realização. Sugestão importante para atingir toda a população, especialmente,
porque o mapa ficaria nas paredes dos prédios públicos, de fácil informação às pessoas.
Se idealizarmos tirar pessoas da “pequena jaula”, devemos procurar
dividir e difundir atividades, incluindo no planejamento a experiência de
pessoas que realmente conhecem a sua cidade. A responsabilidade, repito,
não é apenas de alguns, a incumbência é de todos.
Prosseguindo, no dia 23 de julho de 1995, coloquei nesta coluna
“Uma Proposta de Esperanças”. Por ela reafirmei que a população merece
e precisa saber que é aqui, na região urbana, por muitas razões, tão bem
esclarecidas pela Corpreri, que se instala um lago.
Tudo que foi feito em 1992, clamando pela solução do problema
das enchentes: encontros, passeatas, inúmeras correspondências às autoridades constituídas do país, conscientizou-nos de que ajudas imediatistas
116
são importantes, mas a prevenção é o fator assertivo. Hoje pagamos muito
caro por erros passados, infelizmente, cometidos em nome do progresso.
Novamente lamentando a desconsideração de alguns poderes públicos, aplaudimos a população em geral, e as instituições organizadas, que
tanto contribuem para minimizar o sofrimento de desabrigados.
Hoje, o chavão “não adianta chorar sobre o leite derramado” deve
ser esquecido, para termos a esperança com a vinda de algumas autoridades, e, especialmente, da Suprema Chefe da Nação, na solução de grandes
problemas relacionados ao Rio Iguaçu. Beleza impar da natureza que deu
origem as nossas cidades, fornece-nos a água da vida e que tem uma das 7
maravilhas do Mundo, admirada por turistas durante anos e anos.
Pelo conhecimento que tenho de minha vida (que já não é tão curta), foi a Senhora Presidente a pessoa que, apesar dos compromissos todos
assumidos, veio colocar-se à disposição, e, com alegria, apertar a mão de
quantos pôde. Deixar a mensagem de otimismo que, certamente,“fez levantar doentes da cama”, na surpresa de ver, pela primeira vez, a autoridade
maior do País em nossas cidades, não para passear, mas para ajudar a resolver problemas de uma extensão continental, em que fatalidades acontecem
em todos os cantos, entre elas aquela que recentemente vimos no norte do
Brasil,a cheia do Rio Negro, impedindo até hoje a volta de alunos às aulas.
Obrigada, Senhora Presidente, por nos permitir uma oportunidade, única talvez, já que outros, em sua posição, aqui estiveram de passagem
ou para inaugurações, e não a fim de resolver problemas, in loco: Getúlio
Vargas passou por aqui no dia 16 de outubro de 1930, fez lanche no Hotel
Internacional, foi saudado pelo Deputado Maciel Jr. e, da sacada do prédio
(frente à Praça Hercílio Luz), cumprimentou a multidão. Em seguida partiu
de trem, naquela mesma noite, rumo a Ponta Grossa. O Presidente Afonso
Pena, em 4 de abril de 1909, esteve aqui em curta permanência, e seguiu
para a linha sul, inaugurando a Estação Ferroviária que recebeu seu nome.
Viagem esta que foi financiada pelo Município, segundo Cleto da Silva no
livro Apontamentos Históricos de União da Vitória.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Tombamento Patrimonial1
Therezinha Leony Wolff2
Uma política de cultura, para ser completa, deve levar em conta a
preservação do patrimônio cultural da cidade.
Entre as atividades da Fundação de Cultura de União da Vitória, já
no início desta administração, aquelas relativas à preservação do patrimônio histórico e artístico vêm recebendo especial tratamento.
No último dia 19, às 14h, na sala das sessões da Câmara Municipal
concretizou-se o Tombamento da Estação Ferroviária União, de União da
Vitória, com o Decreto 92/2003 e assentado no Livro do Tombo em 27 de
agosto de 2003, referendado em 11 de novembro de 2003.
Prestigiaram o ato de assinatura, autoridades civis, estaduais e municipais, diretores e professores das instituições de ensino, presidentes de
associações e sindicatos, representantes da imprensa e do rádio e muitos
dos aposentados pela ferrovia.
Tal participação levou a Sra. Maria Luiza Marques Dias, coordenadora do Patrimônio Histórico do Paraná, a declarar, no momento das
assinaturas no Livro Tombo, que se quebrava um protocolo: as assinaturas,
cabíveis somente ao Sr. Hussein Bakri, prefeito Municipal e à Sra. Mônica Rischbieter, Secretária de Estado da Cultura, seriam também acompanhadas de outras, dos demais componentes da mesa: Rodolpho Moser,
representando o Sr. Valdir Rossoni, Deputado Estadual e 1º Secretário da
Assembleia Legislativa do PR, Jair Brugnago, presidente da Câmara Municipal de União da Vitória, Maria Luzia Marques Dias, coordenadora do
Patrimônio do PR, Carlos Henrique Sá de Ferrante, Diretor Geral da Secretaria de Estado da Cultura, Sirlete Stasiak, Presidente da Fundação de
Cultura e Turismo, Albertino Mafra, comandante do Corpo de Bombeiros,
Joaquim Osório Ribas, Presidente da Academia de Letras do Vale do Iguaçu e Wando Sckudlarek, representando a classe dos ferroviários.
1
Publicado na coluna Espaço Cultural do Jornal O Comércio, em novembro de
2003
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Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como patrono
Yvonich Furlani.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Grata surpresa, também esta colunista, então Diretora Cultural da
Fundação de Cultura de União da Vitória, foi convidada a deixar lá a assinatura...
A Estação, obra que podemos considerar consequência do Contestado e do acordo de limites que efetivou a separação de Porto União e
União da Vitória; exemplar significativo de edificação, situado na divisa dos
dois estados, original quanto à finalidade; atender às duas cidades.
Desativada de suas importantes funções ferroviárias, a Estação,
com grandes salas em dois pavimentos, oferece espaço apropriado para atividades artístico-culturais.
A importância do Tombamento reside, então, não só na possibilidade da conservação de uma obra de relevância histórica, ameaçada de destruição pelo abandono a que ficou exposta, como pela futura implantação
de local para atividades culturais acessíveis à população.
A partir do Tombamento, há de ser imenso o esforço dos poderes
públicos, em nível municipal, estadual e federal, por parte dos empresários
e da população em geral, para que se preserve a obra, não apenas por decreto, mas por consciência.
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Vivendo a 3ª Idade1
Therezinha Leony Wolff2
Uma semana de revelações, expectativas e alegrias foi, certamente,
vivida por aqueles que estão na “melhor idade”. Pessoas realizadas como
pais ou avós, donas de casa ou profissionais, hoje encontrando um tempo
merecido para fazerem aquilo de que gostam e podem continuar num trabalho produtivo.
Algumas, mais precisamente dezesseis, voltando às lides dos bancos escolares, concluíram o curso da Faculdade Aberta a Terceira Idade,
oferecido pela FAFI, recebendo o diploma a que fizeram jus.
Outros, participando de grupos que se reúnem periodicamente
para conversar, jogar bingo, para aulas de trabalhos manuais, canto, teatro
ou dança, coordenados pela municipalidade, confraternizaram-se no encerramento do ano, desfrutando ambientes de descontração e alegria.
Outros ainda, juntando palavras com talento e criatividade, colocando experiências vividas ou desejadas, provocando sensibilidade do leitor e despertando-lhe sentimentos, os mais diversos, participaram do Concurso “Poesias da Melhor Idade”, organizado pela Biblioteca Municipal José
de Alencar.
Trinta e quatro poesias e treze autores tiveram o mérito de enfrentar uma competição em que, sabiam, apenas três seriam as escolhidas. Os
membros da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, Nelson Sicuro, Joaquim Osório Ribas, Márcia Stentzler Garcia de Lima e a professora do Curso de Letras da FAFI, Sandra Konell que, individualmente, fizeram suas
avaliações, permitiram um consenso na escolha daquelas consideradas as
de melhor produção literária.
A Sra. Verônica Drosdroski Huryn, com a poesia “Terceira Idade”,
comparada que foi à fase inicial da poeta maior paranaense, Helena Kolody,
obteve o 1º lugar. Aos 75 anos, dona Verônica voltou o tempo para registrar:
Artigo publicado no Jornal O Comércio em 07/12/2001.
Membro fundadora da ALVI, ocupando a cadeira nº 20, tendo como patrono
Yvonich Furlani.
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2
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Somos meninas outra vez.
Não importa a idade,
Temos em nós mocidade.
Entrar na escola outra vez,
sentar no mesmo banco, talvez.
Reler o be-a-bá que esquecemos de apagar
no quadro, onde escrito ficou.
E nem o tempo apagou...”
Tereza Neubauer, reportou-se à “Pescaria”, exercitando a alma com
uma visão da natureza:
“... Chora a espuma na areia
na maré cheia.
As mãos do mar vêm e vão.
As mãos do mar pela areia
onde os peixes estão.
As mãos do mar vêm e vão,
em vão...”
Ledinildo A.L de Melo retratou o drama do nordestino na cidade
grande, com “João da Silva Zé Ninguém”, suscitando a poesia pelo poema:
“... O que vocês sabem fazer?
- De tudo nóis diz Amém!
Somos pau pra toda obra,
Comemos rato e cobra,
“Vivemo” sem água também.
Não é mesmo, João da Silva?
É verdade, Zé Ninguém”.
Se apenas esses poetas foram escolhidos para as honrarias de premiação, todos, passando por uma difícil prova diante da linguagem, estão
incluídos como artesãos da palavra, pessoas que alcançaram a redescoberta do dizer.
Vivemos, felizmente, numa sociedade que se agiliza no processo de
aproveitamento do potencial das pessoas em idade mais avançada, abrindo-lhes espaços para sua realização pessoal e para o benefício social.
122
Há uma mudança no modo de pensar dos mais jovens e isso vem
concorrendo para que aqueles que os precedem percebam não ser a idade avançada um empecilho para acompanhar o ritmo do desenvolvimento
acelerado que ora se opera.
E, como muito bem disse a Sra. Elza Mazepa Nicolak, oradora da
turma diplomada pela FAFI, sua geração estende-se ao domínio de um
computador, e deixa exemplos que permitem maior motivação para a vida
dos jovens.
Como expressa o pensamento incluído no convite das formandas
“A vida vale a pena, quando se vive com amor e se busca sabedoria.”. De
nossa parte,acrescentaríamos: “a vida é pouca, quando a gente é só um corpo que tira e põe a roupa”.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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120 ANOS DE UNIÃO DA VITÓRIA1
Therezinha Leony Wolff2
Nas ribanceiras do grande rio, radioso e de águas claras, quando o
vento sussurra melodias e os pássaros traçam, de déu em déu, por longos
trilhos, casebres de cepos retirados da grande floresta que enverdece esta
região, cobertos de sapé ou taboinhas, vão surgindo entre as ramagens.
Prudente de Brito, conhecido como Prudentão, centrando o coração, tentando trazer o Divino para mais perto dos homens, agradece a Nossa Senhora da Victória erguendo-lhe uma capelinha no “Alto da Glória”.
Uma faísca elétrica a destrói, mas a força e a garra de ainda alguns poucos
moradores, erguem-na novamente.De frente para o rio, como reconhecimento, por ser ele o elo possível com a redondeza.
A mãe natureza, com seu amor entranhado, possibilita uma comunidade que evolui.Hoje, voltando o olhar perdido nas estradas desses
cento e vinte anos de União da Vitória, vislumbramos Caingangues e Botocudos que seguidamente atacavam essa estrada.Os inúmeros imigrantes
que para aqui se deslocaram e ajudaram a construir a história dessa longa
estrada.
Benzedeiras e curandeiros cedem lugar a uma medicina moderna, equipada com recursos humanos e instrumentais. Da escolinha das 1ª
Letras de Mestre Colaço surgem os modernos estabelecimentos de ensino,
profissionalizantes e faculdades com variados cursos. Das canoas e dos remadores chegam os grandes vapores para transportar cargas e passageiros.
E a passagem do grande rio por botes e balsas cede lugar às pontes que
ligam norte e sul do país. Serrarias manuais funcionam com os mais modernos maquinários.
O velho transporte em lombo de mulas e carroções cede lugar aos
vagões ferroviários e as enormes carretas rodoviárias. Recursos monetários
guardados em cofres particulares ou até sob colchões, estão em segurança
1
Texto publicado no folder de programação dos 120 anos de União da Vitória –
março de 2010.
2
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono
Yvonich Furlani
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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nas casas bancárias. As cordas e as manivelas ou as bombas nos poços já
não mais fazem parte dos quintais.
Lampiões, lamparinas e velas dos primitivos casebres servem apenas como adorno, em confortáveis e bonitas residências.As casas baixinhas
de uma porta e uma janela deixaram espaço para os grandes edifícios.
Abrir todas essas páginas do tempo nos leva a reconhecer quão
grandes foram evolução e progresso nesses 120 anos de União da Vitória e
em quanto influenciaram sua vida e sua história.
Com enorme emoção, em nome da Academia de Letras do Vale do
Iguaçu, cumprimos aqui uma tarefa que nos foi solicitada e o fazemos com
o coração transbordante de júbilo e a alma engalanada das melhores emoções e dos mais festivos sentimentos. É grande a honra nesses momentos
de celebrações retomarmos a consciência para salientar quão importante é
o papel que desempenha União da Vitória no Estado e no Brasil.
Rica a história deste povo guerreiro, que a ergueu e a faz crescer
ainda mais.
126
CRÔNICAS
Jardim da Minha Infância
Tânia Margaret Ruski1
Margarida, Violeta, Dália, Malva, Hortênsia, Rosa... Nomes de batismo que fazem parte do jardim da minha infância. O buquê de violetas
do jardim, amarrado com um laço branco de fita de seda, era o que tinha
de mais lindo, marca registrada para aqueles que aniversariavam na época
da sua florada. Singelas e delicadas, a demonstração concreta de um amor
verdadeiro. Extremamente delicadas, eram transportadas debaixo de uma
sombrinha, para que o sol ou a chuva não as castigassem. Um dia, ao chegarmos em casa, encontramos um ramalhete murchinho, no peitoril da varanda dos fundos, pedindo por socorro, denunciando a visita daquela que,
num dia que deveria ser especial, encontrou a casa fechada. Deixou-as em
um cantinho, protegidas. Mensagem de carinho para a aniversariante que
fugiu do abraço...
Dálias... Para elas, um vaso especial: alto o suficiente, estreito na
base e com a boca larga, para um efeito digno delas, coloridas, exuberantes,
lindas! Disputando o espaço na mesa da sala, em cima de uma toalha engomada; saindo e voltando a cada refeição, ocupando o lugar de honra, que
naquela época do ano era seu.
Malva... Parente dos gerânios, decorava nossas unhas, numa
mistura de cores, rosa e vermelho. Coladas com saliva, não ficavam muito
tempo, eram delicadas demais. Tinha um canteiro só para elas.
Hortênsias... Muitas! Pois lá para as minhas bandas, não há jardim em que não more uma hortênsia, fortes e robustas vão-se criando meio
que sozinhas. Quando floresciam, também disputavam o ”lugar de honra”!
Rosas... Ah! As rosas... Em pencas, em cima do portão que fazia
divisa com o pomar. Sempre que eu passava por elas, fechava os olhos e
aspirava seu perfume delicioso, embriagando-me naquelas tardes mornas
de primavera (não custavam um Chanel).
Não posso esquecer-me da “grinalda-de-noiva”. Morava dentro
de uma caixa de areia; arbusto delicado, quando florescia se debruçava em
cima de nós, crianças, protegendo-nos do sol. Como uma cascata de flores
brancas, quando a brisa sacudia, caía em flocos, enfeitando nossas cabeças!
1 Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 26, tendo como patrono Tadeu Krul.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Amor-Perfeito... Seu lugar era especial: luz e umidade na medida certa, tratamento “VIP.” Depois de ocupar o lugar de honra, iam, muitas
e muitas vezes, morar espremidos, dentro dos meus livros escolares, para
que eu pudesse curti-los por mais tempo, enchendo-me os olhos e a alma
de alegria!
Margaridas, estas não podiam faltar, homenagem a minha Oma, a
dona desse jardim. Até hoje, quando as encontro, trago-as para o lugar de
honra!
130
VÓ OLINDA
Tânia Margaret Ruski1
Quem a conheceu sabe que realmente era muito linda! Por fora, e
muito mais, por dentro. Seu nome foi escolhido pelo pai, uma homenagem
à cidade em que ele acabara de ancorar, bem no dia do seu nascimento, 6
de maio de 1901 (hoje mais de um século), segundo ele. Faltavam palavras
que justificassem a beleza da cidade. Tratou de enviar um cabograma: MENSAGEM telegráfica transmitida por meio de cabo submarino, meio de
comunicação na época, escrevendo sobre o desejo de que sua filha se chamasse OLINDA. Assim foi... Cresceu à beira-mar, sua cidade natal, Laguna,
brincando e mergulhando num mar de areias brancas e macias; cercada de
muitos irmãos e muitas histórias contadas a nós, em prosa e verso, tons e
semitons, impostando a voz, quando achava necessário, para dar realidade
aos fatos. Nós, crianças, ouvíamos embevecidas, muitas vezes, com lágrimas dependuradas e um nozinho na garganta. Lembro-me de duas: ”Boneca de Pano” e “O Menino e o Mar”. Só voltou a ver o mar de sua infância e
juventude depois de ter tido seus nove filhos (com certeza nunca teve TPM,
pois chegou à menopausa, parindo), ou seja, 20 anos depois. Matava as
saudades, olhando as nuvens, que ela dizia ser a espuma do mar, e, à noite,
quando as estrelas apareciam, eram as luzes dos barquinhos dos pescadores, que saíam na madrugada, em busca do sustento de sua família. Era na
janela da escada, sentada em seus degraus que levavam ao sótão da casa, em
que ficava a minha amada e querida... Vó Linda!... Era lá que se desenrolavam as cenas, como num filme, por vezes cheias de humor, outras dramáticas; e nós imaginando... Idealizando... Nessa mesma janela, olhando para
o infinito, aprendi algumas orações: a Ladainha, Consagração ao Sagrado
Coração, a Ave Maria, sempre ao entardecer. Aprendi, ouvindo-a rezar, que
as orações mais belas eram as que vinham do fundo do coração: Louvores
de Agradecimento, de Perdão, de Cura, de Súplica. Nunca a vi derrotada,
cuidava de tudo sozinha, cantando dia e noite; arrastando o chinelo, no
verão; e o tamanco, no inverno. Dizia-me, quando lhe perguntava o porquê
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Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 26, tendo como patrono Tadeu Krul.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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do tamanco, que, quando andava, aquelas pancadinhas aqueciam-lhe o pé,
isso num inverno rigoroso! Até hoje nunca ouvi história igual.
Com ela conheci o leite da “barboleta”, isso mesmo, com A, era a
justificativa quando o leite acabava, pois nós crianças não podíamos tomar
café sem leite. Ela tratava de dar um jeito, colocava nosso café na xícara, ia
logo dizendo: - Hoje é leite da “barboleta”! Outro episódio inusitado era
quando cortava a fatia do queijo e, como medida de economia, para que
o queijo fosse suficiente para todos, ela cortava a fatia e punha-a contra a
luz, para ver se estava fina o suficiente, para que pudesse ver LAGUNA!
Nós, crianças, achávamos o máximo! Todos queriam pegar suas fatias,
desmontando os lanches, para ver se enxergavam Laguna. Como isso não
acontecia, ela explicava que só ela podia ver. Na casa da vó Olinda tudo era
mágico, não havia sofás em que não pudéssemos sentar ou cortina rendada e almofadas que nossas mãos empoeiradas não pudessem tocar. Em
compensação, tínhamos uma Janela Cinematográfica; onde muitas vezes
éramos os protagonistas.
Que saudades da minha VÓ LINDA! 132
POEMAS
SOMENTE HÁBITO?
Arlete Therezinha Bordin1
Com o atropelo da vida
atropelamos os amigos,
e não poucas vezes,
as pessoas que amamos.
E daí, o que fazer?
Quando paramos
nos damos conta
do mal feito.
E daí, o que fazer?
Meus pais me ensinaram:
é preciso pedir desculpas.
Fiz sem querer,
não foi de propósito.
Me desculpe.
Estava nervosa,
foi um dia muito difícil.
Me desculpe.
Será que pedindo desculpa
o mal que foi feito,
o sentimento provocado
está desfeito?
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 05, tendo como patrono
Agnelo Banach.
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Talvez... Talvez...
Até o Pai Nosso mudou.
Perdoar o ofensor
até por educação o fazemos.
E as dívidas,
são perdoadas?
Talvez... Talvez...
Conhecendo nossa incapacidade,
por inspiração Divina,
a Igreja mudou.
Me desculpe
quando solicitado
com verdadeiro sentimento
a mudança de atitude
deverá se concretizar.
Se isto não acontecer,
me desculpe,
se torna apenas um hábito.
136
VALEU A PENA?
Arlete Therezinha Bordin1
Quando a vida passa
Relembrando o passado
Nos perguntamos...
Valeu a pena?
No começo há mistério.
Somos levados, muitas vezes,
Pelas circunstâncias
Tanto na vida privada
Como na profissional.
Valeu a pena?
Vemos a família crescer.
Vivemos as emoções
Dos bons e maus momentos.
É a Vida.
Sentimos a alegria
Do primeiro emprego.
Apesar da insegurança
E falta de experiência
Sabemos que somos capazes
É a emoção de sermos úteis
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano
Wagenführ.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Na vida social
Vivemos da emoção
E nos aprimoramos
Aceitando as diferenças.
A família nós recebemos.
Os amigos escolhemos.
A profissão vem do desejo
De sermos úteis
Prestando um trabalho
Na comunidade
Existe a preocupação
Da nossa sobrevivência
E dos familiares, é claro.
Será que valeu a pena?
Há ainda a dedicação voluntária
Sem remuneração.
Muitas vezes nos emprenhamos tanto
Que sacrificamos
Família
Lazer e
Amigos
Será que valeu a pena?
No começo existe mistério,
No final a confirmação
É no meio que reside
Toda a emoção
E faz com que
Tudo o que foi feito
Valha a pena.
138
A manifestação da gratidão.
O reconhecimento
Da família,
Dos amigos,
Da sociedade
Confirma o fato
De que tudo que foi feito
Valeu a pena.
E quando não há
A manifestação da gratidão
E reconhecimento
Será que valeu a pena?
Na realidade
É a nossa satisfação
Do dever realizado
Tendo a certeza
Que fizemos com prazer
Superando as adversidades
Da vida,
É que nos dá a certeza que
Tudo o que foi feito
Valeu a pena.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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ALMA DE POETA
Therezinha Thiel Moreira1
Onde estão as rimas
Com as quais fazia
As mais belas poesias,
Falando de amor, de alegria... ?
Onde estão as palavras
Que davam força e sentido,
Com lindos sons coloridos,
Cantando hinos de amor?
Não há rimas...
Não há palavras...
Onde estão os sentimentos
Que davam, a cada momento,
Novo sentido ao viver?
Que provocavam emoções,
Fazendo pulsar corações,
Sentindo a vida... Vibrar?
Não há rimas...
Não há palavras...
Não há sentimentos...
Não há poe...
Mas eis que dentro de mim
Um grito!... Um alerta!...
É minha alma de poeta
Que de repente desperta
E resolve tudo de uma vez.
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano
Wagenführ.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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O TEMPO
Therezinha Thiel Moreira1
O tempo vem...
O tempo vai...
Depressa passa.
Nem mesmo descansa.
E nunca se cansa
De ir e vir,
Sem jamais parar.
Mas o tempo passa?
O que vai?
O que vem?
Eu vim...
Eu vou...
E continuo passando...
Sem poder parar...
Sou eu que vim.
Sou eu que vou.
O tempo fica.
Já sou passado...
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como patrono Germano
Wagenführ.
1
142
PALESTRA
IMIGRAÇÃO SIRIO-LIBANESA NO BRASIL
Carlos Guérios1
Minha saudação à Academia de Letras do Vale do Iguaçu, na pessoa da ilustre presidente, professora e mestra, Leni TrentimGaspari, e a todos os destacados membros que compõem o seu corpo cultural, altamente
capacitado e eclético. Quase todos, antigos conhecidos de minha infância e
juventude. Elevo minha admiração olímpica, por tudo que fizeram e estão
fazendo pela cultura de Porto União da Vitória, do Paraná, de Santa Catarina e do Brasil.
Autoridades presentes, ilustres senhoras e senhores da plateia, especialmente, aos descendentes de sírio-libaneses, cujo DNA milenar que
corre palpitante em suas veias, nos traz uma emoção indescritível, neste
momento tão importante, em que vamos reviver um pouco da magnífica história de sua vida. Muitos de vocês já são a 6ª geração de imigrantes
históricos e abençoados, que aqui aportaram um dia, para uma nova vida
de trabalho, de luta, e de ajuda ao desenvolvimento cultural, comercial e
industrial de cada município deste gigante, chamado Brasil.
Eu sou um cidadão do mundo. Orgulhosamente, nascido em Porto
União da Vitória, espero ajudar o meu próximo, sempre que for possível e
necessário, ouvindo e ponderando as opiniões e buscando o bem coletivo
acima do individual. Evoluindo como pessoa, alcançando o equilíbrio espiritual, familiar, físico e emocional e contribuindo sempre com o resgate
de nossa história. Eu sou um garimpeiro cultural! Que o orgulho de nossos
antepassados, seja um fator determinante em nossa vida. Muito obrigado
pela energia positiva que todos vocês trazem nesta noite em que apresentarei a vocês parte da minha pesquisa sobre nossos antepassados.
Foram as pequenas histórias contadas por minha avó paterna,
Amene Sfeir Guérios que tocaram fundo meu coração, despertando-me a
curiosidade de seguir em frente, para saber cada vez mais sobre a história
dos sírio-libaneses em nossas cidades. Depois tive meu primeiro trabalho,
junto com o José Carlos Huergo, em 1964, no escritório dos irmãos, João de
Pesquisador, Colecionador e palestrante. Esta palestra foi proferida à Comunidade Sírio Libanesa de União da Vitória e Porto União, membros da ALVI e convidados. Organizada pela ALVI em 22/03/2014.
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Oliveira e do Dr. Josué de Oliveira, com sua mãe Sofia André Domite, por
duas vezes, com seu esposo o Cel. Joaquim Domit. Ficaram intrigados com
minhas perguntas e com o que eu já havia acumulado de informações e, aos
poucos, relataram muitas informações e histórias sobre os sirio-libaneses
da região. Depois mantive contato com a Profª Lilia Yared, Elias Domit,
Prof.Aniz Domingos, Elias Nieman, Farid e Ghassoub Domit e dona Dibe
Ayoub. Aí resolvi fazer o meu primeiro trabalho, que foi o levantamento
das famílias sirio-libanesas de nossas cidades, e com a ajuda de muitas pessoas levantei até 1978, 66 famílias.
Paralelo a isso, já com diversos contatos com libaneses e sírios de
outras cidades do Paraná e de Santa Catarina, resolvi fazer um levantamento dos nomes dos patrícios que foram dados às avenidas, ruas, praças,
escolas, hospitais e estádios, em toda Santa Catarina. Esse árduo trabalho
de pesquisa foi feito em consultas por cartas, listas telefônicas e telefonemas
a todo o Estado e levou oito anos.
Consegui levantar os nomes de 142 pessoas em toda a Santa Catarina, sendo 18 (dezoito) em Porto União e 10(dez) em União da Vitória. E,
por fim, resolvi resgatar a história de todas as famílias imigrantes, em cada
município do Brasil, Estado por Estado, até que, nesses 49 anos, cheguei
ao altíssimo número, sendo hoje superior a 18000 biografias e nomes de
pessoas vindas do Líbano e da Síria para o Brasil, e de seus descendentes
aqui nascidos. É a maior pesquisa do mundo até hoje feita e conhecida.
Além de conseguir, nesse quase meio século, mais de 1800 livros em língua
portuguesa, de escritores sírio-libaneses, sobre os mais diversos assuntos de
todos os municípios do Brasil e mais de 3000 fotos e documentos.
Ressalto do fundo do coração, minha principal homenagem às
matriarcas sírio-libanesas, pois hoje quase esquecidas, foram os alicerces
principais da construção da gigantesca família libanesa e síria, que existe
hoje por todos os recantos do Brasil, pois se não fossem elas, muitos dos
maridos, filhos e irmãos, teriam retornado. Foi pela sua fé numa vida melhor e a perseverança em buscar, em educar seus filhos e em ter a liberdade,
que elas suportaram todas as adversidades. Essas santas matriarcas, muitas
vezes de feição dura e sisuda, quase sempre trajadas de roupa preta, mas
com uma grandeza imensa de amor e de esperança numa vida melhor para
todos, a tudo suportavam, pois tinham uma infinita bondade de coração.
Elas cuidavam de tudo, da educação dos filhos, do alicerce diário e firme
para a edificação de uma boa família, principalmente, dos prestígios morais e religiosos, enquanto, na árdua luta pela sobrevivência, seus pionei-
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ros maridos e filhos deixavam os lares e saíam, na maioria, para mascatear
pelo interior, ficando até três meses fora de casa. E assim, nossas amadas
matriarcas cuidavam da alimentação, da roupa, das doenças e remédios,
além do árduo trabalho da casa. Muitas ainda faziam costuras e vendas de
doces e alimentos feitos na calada da noite, para atender aos pedidos dos
clientes mais diversos. Recordemos que muitas delas, sofrendo a dor da
viuvez, também pegavam malas e carroças e saíam mascatear pelo interior
e arredores de nossas cidades. Para ir aos locais mais distantes, serviam-se
do trem e, nos lugares mais próximos, da carroça. Levavam baús com tesouras, facas, agulhas, dedais, fios, meias, giletes elásticos,tecidos, botões,
tamancos, canivetes, suspensórios, cintas, isqueiros, pinicos, colares, pulseiras, talheres, entre outras coisas.
Enfaticamente repito,nós estamos aqui já na 6ª geração, para saudá
-los e dizer, do fundo do coração, um “muito obrigado”, com todo o louvor,
pelo que fizeram por todos nós. Com todos os seus filhos e filhas, com
quem conversei, da segunda geração, lembram,com muita emoção e lágrimas avulsas, a inesquecível singeleza da bênção noturna da amada mãe,
que colocava na testa de cada filho e filha sua mão doce e firme, e rezava
uma oração a Deus, em árabe, para agradecer aquele dia. Essas queridas
matriarcas, geralmente, traziam junto, quando vinham, o seu dote, que
geralmente eram moedas inglesas libra-ouro, que ficavam guardadas, quase
esquecidas em panos costurados e amarrados na cintura e, eram esses dotes que ficavam para um último momento, servindo de solução para uma
extrema necessidade de saúde da família, ou então, de um sério problema
financeiro, quando algum negócio não ia bem.
Tive uma grande emoção, ao encontrar uma senhora libanesa, com
93 anos, num asilo da cidade de Penha-SC, chamada Nazira Maria Francisco, onde fui conversar sobre sua história de vida e levar-lhe uma Bandeira
e doces do Líbano. Na cabeceira de sua cama, existia um pequeno quadro
com cinco Nossa-Senhoras que me chamou a atenção, e lhe perguntei:“por
que cinco Nossa-Senhoras?” Ela então me respondeu: “foram um presente
de sua mãezinha e que a acompanhou desde os 13 anos e que as Senhoras
eram: Nossa Senhora da Vitória (é dos conquistadores); Nossa Senhora do
Desterro (é dos peregrinos); Nossa Senhora do Carmo (é dos contemplativos); Nossa Senhora da Luz (é dos desencaminhados) e Nossa Senhora
das Mercês (a principal de todas, a luz mais brilhante e que sempre está
prometendo e oferecendo todas as mercês).” Que exemplo de fé admirável
dessa senhora!
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Foram tantas maravilhosas mulheres e relaciono a seguir, o nome
de algumas matriarcas: Barjuth José Guérios casada com Feres Mansur
Guérios, Frucina José Guérios Sfeir, casada com Elias Pedro Sfeir; Elmaz
David Nohra, casada com Abrao Nohra; Rachide Wakin Guérios, casada
com Zacarias José Guérios; Habcheie Sfeir Guérios, casada com Kalil José
Guérios; Sophia Hadad Domingos, casada com Aziz Domingos; Zalfa Sawaya Yared, casada com Salomao Yared; Adelia Schueiri Yared, casada com
Miguel Yared; Amene Sfeir Guérios, casada com Jorge Jose Guérios; Zakie
Fayad Domit, casada com Jamil Domit; Wadia Kassab Khoury, casada com
Salomao Jose Khoury; Habuba Sfeir Guérios, casada com Salim Feres Guérios; Jamile Abdalla, casada com David Abdalla; Angela Mansur Cheden
casada com Josef Cheden; Helena Jaime Kalil, casada com Miguel Kalil;
Malque Guérios, casada com José Mansur Guérios; Helena Nemes, casada
com Nacle Nemes; Nazareth Rezek Farah, casada com Miguel Farah; Adelia
Salomao Chaud, casada com José Elias Chaud; Nagibe Mussi Guérios, casada com Tuffi Feres Guérios; Maria Barbar Abrão, casada com João Nicolau
Abrão.
Em uma foto das matriarcas, encontrei os seguintes dizeres, que
muito me tocaram: “se eu não puder me despedir, minha alma olhará por
você”. Muito obrigado queridas e santas mulheres, por tudo o que fizeram
por nós.
A imigração sírio-libanesa, anterior a 1870, era esparsa. Após a visita do imperador D. Pedro II, em 1876, a Beirut e Damasco, ela começou a
fluir mais fortemente, a partir de 1877. Os motivos: fugas e perseguições sofridas durante as invasões e o domínio turco-otomano (1517-1917) imposto
aos cristãos pelos drusos; lutas internas que deram causa ao grande massacre de 1860, sendo os cristãos discriminados, agredidos e até impedidos de
caminhar pelas calçadas de Trípoli e Beirut; eclosão da 1ª Guerra Mundial
(1914-1918), quando os pacíficos cidadãos libaneses e sírios eram convocados e levados à força para frentes de batalha, servindo de bucha de canhão
e assim preservando a ida dos soldados turcos.E assim foram chegando...
Vinham de todas as cidades e localidades libanesas e sírias, para os
portos de Byblos e Beirut, faziam escala em Gênova, na Itália, e em Marselha, na França, e aportavam, na maior parte, nos portos de Santos e Rio de
Janeiro, depois Paranaguá, São Francisco do Sul, Rio Grande e Recife. Foi
da cidade de Sultan-Yaacub, que partiu, em 1880, a primeira grande leva de
Libaneses e Sírios para o Brasil, aqui no Paraná e em Santa Catarina, entre
1886 e 1890. No início, entre 1871 e 1880, oficialmente, vieram para o Brasil
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1946 imigrantes e,entre 1871 e 1947, vieram mais 79.509. De toda a imigração, 74% vinham do Líbano e 26% da Síria Zahle, foi a principal cidade
fornecedora de imigrantes do Líbano, Homs, da Síria. Uma passagem de
terceira classe de Homs para Santos custava nove libras esterlinas.
Os principais Estados que receberam os imigrantes sírio-libaneses
foram:
1º São Paulo (que recebeu 50% de todo o contingente que veio para
o Brasil); 2º Minas Gerais; 3º Paraná; 4º Rio de Janeiro(que recebeu os pioneiros registrados: Fuade Alexandre Zacarias),5º Mato Grosso; 6º Ceará; 7º
Santa Catarina; 8º Rio Grande do Sul; e 9º Amazonas. Curitiba foi a capital
que mais recebeu imigrantes, depois de São Paulo.
Porto União da Vitória
Ao chegarem, principalmente em Santos, seu primeiro problema
era a língua. Num rápido curso à noite, aprendiam as principais palavras,
cumprimentos, e a matemática do dinheiro. Seus primeiros empregos eram
nas feiras, onde tinha a parte prática de aprender o idioma, cumprimentos
e agradecimentos, o uso do dinheiro, cálculos rápidos para trocos. Trabalhavam de graça e, no final do dia, levavam alguma sobra da feira.Aqui em
Porto União da Vitória, era feito o mesmo, os mais velhos ensinavam os que
iam chegando. Sempre, à noite, todos iam aprender a língua e a matemática, e tudo era anotado em um raro caderno, que sempre traziam consigo,
para tirar qualquer dúvida.
De forma geral, o primeiro trabalho dos homens foi a milenar arte
de mascatear. Mas, em nossa região, foi o de Magarefe, que era o funcionário dos matadouros e charqueadas, que abatiam os animais (bois, vacas,
carneiros, porcos e cabritos) pois os Sírio/Libaneses tinham muita prática
e precisão para matar esses animais, sem lhes causar sofrimento, e tinham
também muita rapidez na esfola. Prática essa adquirida em suas vilas e cidades do Líbano e da Síria, em suas famílias.
O primeiro a chegar em Porto União da Vitória, comprovadamente, foi Felix Mansur Guérios, que, anos depois, mudou seu nome e passou
a assinar Feres Mansur Guérios. Assinou a Ata de Fundação de União da
Vitória, em 27/03/1890, foi buscar sua esposa e prima, Barjuth José Guérios, formando assim a 1ª família de imigrantes Sírio-Libaneses de Porto
União da Vitória. Tiveram os seguintes filhos: Salim Feres Guérios , casado
com Habuba Sfeir; Tufi Feres Guérios , casado com Nagibe Mussi; Jorge
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Feres Guérios - casado com Adelia Bark; Mauricio Feres Guérios , casado
com Hekena Cecy; Georgina Guérios - casada com José Kalil Guérios (primos);Julieta Guerios ,casada com José Patruni; Joana Guérios, - casada com
Pedro Abrão Seleme,que, em 1925, enviuvou e foi morar em Jaguaraíva, no
norte do Paraná, onde constituiu nova família.
Os Domingos, Aziz e Sophia Hadad Domingos, vindos de Trípoli-Hakar, vieram em 1903. Já em 1906 vieram os irmãos Domit (Joaquim,
Neief e Nadim);e os Yared chegaram em 1909, os Patruni em 1910, os Farah, em 1913, junto com Elias Nieman, e, a partir de 1918, foram muitas as
famílias que aqui chegaram. Sobre os Yared, existe um fato muito curioso.
Salomão e Zalfa Sawaya Yared, logo que chegaram, mandaram vir os primos Gabriel e Miguel.Na viagem de vinda para Porto União da Vitória,
viajava no mesmo trem o Presidente Afonso Pena, que vinha inaugurar a
estrada de ferro. Na conversa com Salomão, o Presidente Pena lhe disse,
entre outras coisas, ter uma família grande, com 12 filhos. Coincidência
ou não, Salomão e Zalfa tiveram a maior família de nossas cidades com
15 filhos. Salomão Yared foi o maior dançarino da dança Árabe, chamada
‘Dabque’ e tocava muito bem o Derback, um tambor de batuque árabe. Foi
também grande empresário de cinema de nossas cidades.
Quanto orgulho emanava das palavras do Sr. Farid Domit, quando
narrava, com emoção, que a 1ª conta do Banco do Brasil, foi aberta em
30/11/1942,com Cr$ 8.000,00, em nome de Jamil Domit e Filhos, sempre
aos cândidos e curiosos olhares da pequena Marlizinha Domit.Também
muitas histórias escutei do Seu Farid, sobre as serrarias da família.
José Mansur Guérios e Salim Feres Guérios foram osprimeiros
importadores de Porto União da Vitória: importavam tecidos da França e
Inglaterra. Salim foi um grande industrial e teve sua 1ª serraria em 1920,
na localidade de Santa Maria, e a 2ª no distrito de Adolpho Konder, que foi
comprada de Bechara Dequech, em 1935, sendo também pioneiro de pasta
mecânica. Sua residência, na rua Prudente, foi a 1ª a ter água encanada.
Outro grande industrial foi Pedro Antonio Guérios, que fixou-se
em Palmas – PR, onde construiu a 1ª usina elétrica da região e o 1º moinho
descascador de arroz e de trigo. Os Nemes foram muito fortes no comércio,
com padarias, lojas e bares. Os Bogus tiveram a 1ª alfaiataria de nossas cidades.Os Khury, grandes lojas de armarinhos e exportação de madeiras.Os
Irmãos Farah, Miguel e Alexandre, com suas casas de tecidos e sapataria.
Miguel Farah e Nazareth Farah tiveram cinco filhos médicos.Os Patruni
destacaram-se em diversas atividades comerciais e de erva-mate.Os Che-
150
den tinham uma peixaria de grande fama.Os Kalil, com charqueada, fábrica de banha e açougue.
Em Porto União, existiu uma escola árabe, cujos professores vinham também de São Paulo e Curitiba, geralmente, no mês de julho, e davam aulas paras os filhos e filhas dos sírio-libaneses, cuja despesa era depois
rateada pelos mais abastados. As aulas eram dadas, geralmente, na casa de
Salim Guérios e Aziz Domingos. Mais tarde, várias professoras libanesas
e sírias (ou casadas com libaneses ou sírios) se destacaram e fazem parte da história da educação de Porto União da Vitória: Pequena Guérios
Araújo, Rosita Guérios, Malque Guérios, Alzira Domingos, Aldair Domingos, Deayr Domingos, Alice Domingos, Selmira Mansur, Luíza Gasire Dipp,Marly Trentin Farah ,(casada com o sírio-libanês Orlando Farah), ChaficaYared Favoretto, Luíza Bassan Domit, Orli Domit Rosa, Anália de Paula
Guérios,Aydée Domit, Djanira Amin Pasqualim, Faride Guérios Pedroso,
Guita Guérios Mier, Ivone Charam, Jandira Capriglione Domit, Lilia Yared,
Maria P. Helena Aben Atar,Maria Lúcia Codagnone Hassan (casada com
Chaquibe Hassan), Neusa Domit, Roseli Guérios, Scheila Yared, Terezinha
Muller Seleme, Alice Kalil e Helena Mansur Bona.
Em maio de 1936, tomou posse uma nova e forte diretoria da Sociedade União Siria,de Porto União da Vitória, a mais bem organizada e
ativa instituição Sirio -Libanesa de nossa região. Essa Socieda de era cultural e foi criada para ajudar os sírio-libaneses em dificuldades com a língua,
e encaminhamento comercial, quando era necessário. Estava assim composta: Presidente : Jamil Domit;Vice-Presidente: Habib Cheik; 1º Secretário :Miguel Yared, 2º Secretario: Kalil Chaerk; 1º tesoureiro: Farid Domit;
2º tesoureiro : Nassim Bittar; Oradores :Antonio Domit e Hatim Domit;Comissão de contas : Aziz domingos , Bechara Simão , Jorge Curi , Neief
Domit e Jacob Abdalla; e Bibliotecário : Tamin Domit.
Sempre que era possível era mandado chamar em Curitiba ou São
Paulo um Padre Sírio, que aqui vinha e realizava casamentos e batizados
das famílias sírio-libanesas de Porto União da Vitória. Ficavam por aqui de
sete a dez dias.
Aprendi com o Dr. Domit, entre várias conversas que tivemos, as
seguintes curiosidades que ele havia aprendido com seu pai: cedro-do-Líbano em árabe é: arz ar-rab e Esfiha é o nome sírio e significa folha, em
libanês é “LÁHME BE AGIN” e significa massa com carne; o nome fenícia,
vem do original “fanik”e significa “marinheiro”. Também aprendi que o alfabeto árabe clássico possui três vogais (A - I - U) e vinte e seis consoantes,
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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não existe “pê”(P), por isso a dificuldade dos imigrantes em pronunciar
palavras que tenham a letra “P”, como “Porto União - Borto União”, “Palavra - balavra”,”Peru - Beru” etc.
Trouxe para mostrar a vocês, após a palestra, algumas peças e documentos históricos de meu acervo, conseguidos nesse quase meio século
de pesquisas:
Uma coleção de moedas fenícias, com mais de 2000 anos;
Raríssimo documento da primeira empresa, documentada, estabelecida na rua 25 de março, em São Paulo, em 1894;
Dicionário fenício-português;
a) Livro de 1830, “Viege por Síria”, nos anos de 1783 a 1785, editado em 1830 em espanhol;
b)Coleção de mais de 500 envelopes timbrados de empresas sírio
-libanesas do Paraná e Santa Catarina;
c) Documento do primeiro libanês comprovadamente estabelecido no Brasil, em 1556, Simão Jorge;
d)Passaporte libanês, de 1895, documento de fundação do colégio
sírio-brasileiro de Wadih Yaziji de 1918;
e) Nota fiscal da “Pensão Seleta”SP, onde, de 1895 a 1925 a, maioria
dos imigrantes sírio-libaneses ficavam hospedados;
f) Título de eleitor nº 111, do imigrante Jorge José Gueiros, de
1909, em União da Vitória - PR;
g)Diversas cartas manuscritas, do ano 1905, vindas do Líbano
para os imigrantes estabelecidos em União da Vitória -PR;
h)Guia de importação de empresa libanesa estabelecida na cidade
de Rio Grande – RS, de 1893, em nome de Elias Chediac.
Destaco agora, pelo sobrenome, as 66 (sessenta e seis ) famílias libanesas e sírias encontradas até 1978, em Porto União da Vitória:
A - Abdalla , Abrão,Abbas,Assef,Amin ,Ayoub,Antonio,Adib,Ayub;
B - Baracath, Bechara,Bogus,Bakri,Barbar,Bufrem,Bittar;
C - Chaud,Chaerk,Chami,Charan,Cador,Cheden,Chaibend;
D - Domingos,Dipp,Domit,Dequechf;
F - Farah,Faraj,Feres,Faret,Fenianos,Fadel;
G - Guérios,Guslen, Ghanem;
H -Haddad,Hassan,Haj;
J - Jorge,Jacob;
K - Khalil,Khatib,Kassab,Khury;
M - Mussi,Merheje,Mansur,Miguel;
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N - Nemes,Niman,Nammura,Nora;
P - Patruni,Pedro;
R - Rezek;
S - Sfeir,Sawaya,Saliba,Seleme,Safawi,Savoia,Schueiri,Simão;
T - Tauille;
Y - Yared.
Em nossas cidades, muitos sírio-libaneses foram comerciantes de
erva-mate. Um dos maiores foi Zacarias José Guérios.Também, na região,
tivemos grandes empresários na área comercial e industrial. Vale a pena
destacar, Emiliano Abrão Seleme, de Canoinhas, que em 31/08/1930, fundou o Banco Popular Ouro Verde, que teve duração de quase três anos.
Também em Canoinhas, o Dr. Victor Dequech elaborou a planta cadastral
e o projeto urbanístico das ruas desse município.
Emiliano Abrão Seleme foi o 1º exportador de erva-mate para o exterior, e existe uma placa em sua homenagem, no Museu Marítimo de São
Francisco do Sul. Cel. Joaquim Domit: radicado em Valões e Porto União,
dizia que seu maior feito foi em 1944, onde junto com os amigos Célio
Wolff, Herminio Milis, José Grobe, Frei Libório Lueg e João Guilherme
Russo (Chumbita), liderou duas entrevistas em Florianópolis junto ao Governador, para conseguir o terreno e a ajuda para a construção do Estádio
Municipal de Porto União.Em 1929, o libanês Mansur Sfeir fundou, em
União da Vitória, o Jornal “O Município”, hoje um dos mais difíceis e mais
disputados jornais de coleção.
Ladislau Kowaleski criou a linha de ônibus União da Vitória-Palmas e convidou para ser seu agente o Sr. Mussi Farah. Pelo grande êxito
das vendas das passagens em todo o ano, pediu um salário a mais, pelo
que produziu uma espécie de primeiro 13º salário em nossa região. O Sr.
Kowaleski estranhou o pedido, mas conferiu e reconferiu toda a produção
do Sr. Mussi, e no dia 24 de dezembro, à noite, mandou-lhe entregar o envelope com o dinheiro.
A única arma que os pioneiros sírio-libaneses usavam era um facão tipo meia-lua, chamado klink, que era muito habilmente manuseado.
Não usavam arma de fogo em suas viagens pelo interior. Um fato muito
importante: por serem os sírio-libaneses ótimos negociantes, foram procurados pela Ford do Brasil, para assumirem as principais agências em Santa
Catarina: J. Thome, Rio do Sul; João Buatim, Lages,Joinville e Curitibanos;
Irmãos Amin (Esperidião Amin Helou, Senior Amin Helou e Dahil Amin
Helou) Florianópolis; e Emiliano Abrão Seleme, em Canoinhas.
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Três libaneses fizeram as músicas dos hinos das cidades de: Joaçaba - SC - Letefalia Jacob; Porto União – Felicio Domit;e de Cascavel - PR
- Nedir Salomão.
Encontrei nos arquivos históricos de Blumenau - SC, uma grande
liquidação no bazar árabe, que ficava ao lado da estação telegráfica do Sr.
José Merebe,em data de 23/06/1900.
Destaque para a libanesa Dra.Adma Nasser, nascida em São João
Batista - SC, advogada, professora e jornalista, foi a primeira mulher brasileira a se divorciar oficialmente no Brasil. A lei entrou em vigor em 02/1977
sob o nº 6515/77 e em 11/01/1978 saiu o primeiro divórcio oficial do Brasil.
Muita emoção ao encontrar, de cabelos brancos, em Itajaí -SC, a primeira
libanesa a disputar o concurso de Miss Brasil; Olga Mussi, eleita Miss Itajaí
e Miss Santa Catarina, em 1963.Muito entusiasmo ao encontrar lúcido, e
em plena atividade, o Dr. Francisco Karam, médico em Videira - SC, hoje
com 94 anos, muito ativo na filantropia e contando fatos e histórias inesquecíveis dos sírio-libaneses que conheceu no Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina.
Fatos em destaque: Sírios/Libaneses no Paraná
Aniz Abud: o grande desbravador do norte do Paraná. Fundou em
1940, numa gleba de terras requerida, a cidade de Lupionópolis. Anos mais
tarde, seu filho, Ibrahim Abud Neto,foi seu primeiro prefeito.Também em
1950 Aniz Abud fundou o município de Terra Rica. Já seu filho, que também foi empreendedor, Ibrahim Abud Neto,fundou a cidade de Francisco
Alves, em 1961. O nome dessa cidade deveria ser David Nasser, que, ao ser
consultado, não aceitou e sugeriu o nome do grande cantor Francisco Alves,
de quem era fã. Além dos Abud, foram pioneiros na fundação das seguintes
cidades do Paraná: Margarida Wakin- Campo Mourão – 1943, Jorge Fadel
- Congoinhas– 1931,João Namer - Entre Rios do Oeste – 1959,Alexandre
Nassar - Guapirama - 1918,Pedro e Armando Salomão - Ibaiti – 1927,João
Callil - Itambé – 1948, Gabriel Abdalla e Jorge Abrão - Itaperuçu – 1941,
David Dequech - Londrina – 1935,Salomão Jorge Hauly, casado com Jamile
Ayub Hauly, tiveram uma filha: Nágila Hauly, que foi a primeira registrada
em Londrina 1/1/1935,José Jorge Abrão - Maringá – 1942,Farid Sabaine
- Mandaguaçu - 1948,Jamil Assad Jamus - Mauá da Serra – 1951,Jmail
Sáfadi - Miraselva – 1949,José Felipe Elias - Nova Esperança – 1949,Salim
Zaidan - Nova Londrina – 1950,Nicolau Nasser - Ourizona– 1959,Rajah
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Eid - Fayes Eid e Mamed Kalil Dabien ,foram os fundadores de Paranácity
- 1948,Narciso Simão - Peabiru – 1946, Abdalla Derbli - Santa Cecilia do
Pavão – 1947, Abrão Atem - Santa Mônica-1951,Elias Daher-Santo Antônio do Paraiso – 1950,Joaquim Abrão - São Manoel do Paraná – 1956,Feres
Bechara - Umuarama – 1954.
Visitei, nos anos 80, em Curitiba, o médico, Dr.Rosala Carzuze,e
tive um grande e inesquecível aprendizado. O Dr. Rosala, nascido na Síria
em 1906, veio para o Brasil em 1920,instalando-se em Curitiba e, aos 103
anos, faleceu em 2009. Na sua sala tinha um quadro com a Cruz de Malta, perguntei-lhe então se era vascaíno. Ele me respondeu sorrindo: ‘’Que
nada, meu filho - Malta vem do Fenício Melita, que significa refúgio,”sendo
assim, a cruz de malta: o refúgio na cruz. Falando em Malta, foi o Abade
Francês Barthelemy, quem primeiro conseguiu decifrar a língua dos Fenicios, graças a uma inscrição bilíngue, descoberta na Ilha de Malta.
Que emoção dupla, quando efetuava pesquisas em Curitiba, no inicio dos anos 70, encontrei a Sra. Julie Gibran, vejam só, prima do grande e
famoso poeta e escritor Gibran Khalil Gibran. A Sra Julie Gibran, que morou
por muitos anos na Lapa - Pr, foi casada com o famoso poeta Elias Farhat que,
em 1922, venceu um concurso da colônia Sírio-Libanesa de São Paulo, pelo
centenário da independência, com um poema que está gravado no parque do
Ibirapuera. Elias Farhat faleceu em Belo Horizonte, em 1977, com 86 anos.
Relato a seguir algumas curiosidades interessantes, que foram encontradas durante as pesquisas pelo interior do Brasil; principalmente, São
Paulo. Bauru-SP, foi a cidade no Brasil que mais recebeu imigrantes Sirios/
Libaneses. Em 1928 o libanês João Coube fundou a maior tipografia do
Brasil: a tipografia e livrarias Brasil: Tilibra. Em 28/02/1964, a cidade de
São Sebastião da Borboleta, em São Paulo, passou a se chamar Bady Bassit, nome de um deputado estadual, muito atuante, humanitário, na região
de São José do Rio Preto, que era libanês. O 1° sírio-libanês a ingressar
em uma faculdade de direito no Brasil foi Fares Nicolau Ansarah, em São
Paulo, capital e na magistratura, foi Edmond Acar, de Araraquara – SP. O
1° Clube de futebol fundado no Brasil pelos Sírios/Libaneses foi o Sport
Clube Sírio, em 14/07/1917, em São Paulo,com as cores vermelho e branco.
Depois de muitos anos, deixou o futebol e passou ao atletismo e basquete.O
1° Leão Brasileiro a pertencer ao Lions internacional, é o Libanês Elias Salomão Helou, de Guarajá-Mirim, Rondônia, em 17/03/1952.
Os familiares do pioneiro Rachid Mitre, que fundou a metalúrgica ‘’A Libanesa’’, em 1952, que existe até hoje na cidade de Cláudio-MG,
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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possui o mais bem organizado arquivo e museu familiar do Brasil. Camilo
Dakashi, Libanês vindo de Salvador-BA, construiu na região da Rua 25 de
Março, em 1951, o 1° prédio de apartamentos tipo quitinete, com 30 andares e cada apartamento com 20 m². O edifício Camilo ficava na rua Carlos
de Souza Nazareth. Em 1941, a família Zarzur, fundou o Banco Mercantil
de Descontos- BMD, no Rio de Janeiro.O Famoso Grupo Alfred ,de Caxias
do Sul-RS, foi fundado em 1927, por Kalil Sehbe, e teve mais de 4 mil empregados, no seu auge.
O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a república do Líbano,
em 22/11/1943. Em 1930, foi aberto o primeiro consulado Brasileiro em
Beirute, e o consulado do Líbano, no Brasil, foi em 1946. O 1° cônsul do
Líbano no Brasil foi Hector Klat e o 1° embaixador, Joseph Sauda. A primeira farmácia libanesa no Brasil foi aberta em 1916, em Lençóis Paulista
– SP, por José Khoury. Em 1924, Jorge Suleiman Yazigi abriu uma grande
livraria em S. Paulo, e chegou a cadastrar entre seus clientes, em todo o Brasil, 38000 fichas de famílias sírio-libanesas. Esse rico acervo foi queimado
num incêndio. Foram os libaneses da família Achkar que montaram a mais
importante tecelagem de seda do Brasil. Foi Alberto Fares Achkar e seus
familiares que fundaram a tecelagem de seda Achkar, que depois passou a
se chamar Textilia, que foi vendida ao grupo Vicunha.
As duas grandes sociedades comerciais do Brasil sírio-libanesas
são: UNIVINCO, de São Paulo: União dos Logistas da 25 de Março e a
Sociedade dos Amigos e Adjacências, da Rua da Alfândega - Saara, no Rio
de Janeiro, fundada em 1962, por Charl Habib. A Rua 25 de Março, em homenagem à Primeira Constituição do Brasil, outorgada por D. Pedro I em
25/03/1824. Em 1901 já havia mais de 500 lojas de sírio-libaneses. No ano
1897, nela o padre Mussa Abi Haidar, após rezar a missa num salão de número 115, organizou a 1ª procissão ortodoxa realizada na América do Sul.
Muito mais teria a relatar, mas finalizo, recordando as sábias palavras que o Prof. Aniz Domingos, que me disse um dia, quando lhe fiz uma
entrevista:”Aprendi que quem ensina, aprende duas vezes. A felicidade é
a soma de momentos felizes. E momentos felizes são aqueles em que nos
sentimos vivos, amados, compreendidos, abençoados e acarinhados pelo
bem. Quem morre, não morre, mas deixa sua vida na vida que fica, sob a
forma de história”.
Muito obrigado, que Deus abençoe a todos.
156
DISCURSOS
DISCURSO CONCLUSIVO DA CELEBRAÇÃO DA MISSA
DO 60º ANIVERSÁRIO DA ORDENAÇÃO PRESBITERAL
DE DOM WALTER
Dom Walter Michael Ebejer1
24 de janeiro de 2014
Meus irmãos e minhas irmãs em Cristo,
Com a graça de Deus, e em profundo espírito devocional estamos
a terminar a celebração desta Missa em Ação de Graças pelos 60 anos de
minha vida sacerdotal, para a maior Glória de Deus.
Sim, o grande valor desta Missa não consiste, em primeiro lugar, em
seu caráter comemorativo, menos ainda em seu elemento, quase inevitável,
de louvor ou enaltecimento de personagens e suas façanhas, mas, na oportunidade que tivemos para glorificar a Deus, o Supremo Idealizador Providente, o Guia, o Sustentador e o Impulsionador de todos os planos de agir,
entregues e confiados aos mais fracos e deficientes dos agentes humanos.
Mas antes de me entregar a essas reflexões e elevados devaneios,
gostaria de desincumbir-me da grave obrigação de expressar minha sentida
gratidão para com todos os senhores, autoridades, civis e militares, companheiros das lutas pastorais, arcebispo, bispos, padres e diáconos, religiosas
e leigos, amigos de longa data ou de recentes encontros, conhecidos ocasionais e os prezados fiéis de nossa amada Igreja. Sinto-me profundamente
sensibilizado com essa mostra de amizade e consideração, ao sacrificarem
suas férias, chegando de longe ou de perto, possivelmente, modificando,
com sacrifícios apreciáveis, sua agenda, em plena temporada de verão.
De minha parte, evidentemente, não pude mudar datas e aniversários que aconteceram em pleno inverno, em outro hemisfério do planeta! Que Deus lhes pague e retribua com seus mais seletos bens espirituais.
Deus, que perscruta o íntimo de mentes e corações, saberá valorizar e premiar seus sacrifícios.
Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 09, tendo como patrono
Padre Francisco Salache.
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Gostaria, a esta altura de minha vida, de partilhar com os presentes
certas reflexões sobre minha vida. Com o salmista digo: “já fui jovem, e
sou hoje ancião” (Sl. 36.25). Frequentemente se afirma em ociosas conversações: “A vida é curta; passa muito depressa”. Pessoalmente, e com toda
sinceridade, não penso assim. Rememorando todas as etapas e os meandros de minha vida, fico com a impressão, de que esta vida é longa, muito
variada, com capítulos que falam, distintamente, de épocas diferenciadas.
Quando lembro da série de ambientes, locais e eventos, parece que
estou revisando longínquos capítulos de atividades, e rememorando eventos, personagens, situações que estão sumindo no horizonte do olvido. Bate
a saudade, porque os que eram muito importantes para mim, simplesmente
sumiram no além, não mais nos pertencem.
Um exemplo clamoroso refere-se à minha família; a Irmã Morte
ceifou todos: pais, irmãos, parentes; apenas um irmão, acompanhado por
sua numerosa família (já tem uma bisneta) vive em Perth, Austrália.
Outros sobrinhos, e sobrinhos netos, etc. vivem espalhados em vários países. Não pretendo visitar a amada Pátria de origem, só para visitar
túmulos de familiares e encontrar domicílios vazios.
Minha província dos frades dominicanos, em Malta, praticamente
sumiu, sendo eu e uns poucos os supérstites; os atuais frades são uns desconhecidos. Melhor ficar com as bonitas lembranças do passado, juntamente
com as realidades que me rodeiam hoje, aqui. Praticamente nunca participei de um enterro de um familiar próximo, porque eu estava no Brasil.
Não gostaria de me apresentar, neste último capítulo de minha
vida, como alguém se projetando para atrair elogios, louvores ou aplausos. Como ancião, refletia diariamente, cada dia mesmo dos últimos vinte
e tantos anos, sobre a amiga morte, sob seus vários aspectos. Admito ficar
aborrecido com o aspecto feio da corrupção da carne, aspecto já apontado
por Santo Tomás de Aquino, mas, para os que confiam no Senhor, a morte também representa libertação deste mundo, bonito e caduco ao mesmo
tempo, repleto de lágrimas e sofrimentos, para podermos finalmente encontrarmo-nos com o Pai, em sua mansão eterna. Lembro-me do Beato
João Paulo II, que observando as excessivas curas médicas a ele aplicadas,
pediu que parassem, porque desejava ansiosamente ver o rosto do Pai. Nós,
cristãos, ao menos na fase última da vida, devemos cultivar uma vontade,
esclarecida por uma fé adulta, de, finalmente, encontrarmo-nos com Ele, e
por Ele sermos envolvidos em suas riquezas misteriosamente inebriantes
de eternidade.
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Acreditamos, ou não acreditamos, que a eternidade bem-aventurada é um estado de felicidade suprema, a ser, portanto firmemente almejada? É por isso que uma velhice esclarecida por uma sabedoria acumulada
exige ter uma certa expectativa dos bens que o Senhor nos reservou. Aliás,
a velhice provecta precisa de uma fé mais robusta. Pode-se deixar envolver
em temores, desespero, e abandono de sua fé. O envelhecimento, lento e
sofrido, pode servir, para nós, como grande provação. O livro do Eclesiástico chamou a nossa atenção para que não se façam elogios precipitados dos
homens: ele diz que: “É na sua última hora, que as obras de um homem são
reveladas. Antes da morte não louves homem algum, pois no seu fim é que
se conhece o homem!” (Ecl. 11, 29-30).
Uma comemoração, como essa de hoje, deve-nos fazer lembrar
que os gestos e as façanhas de um evangelizador não são fruto exclusivo
do homem, mas devemos nos lembrar da frase: - “somos servos inúteis”,
e direcionar os bens espirituais realizados, à fonte de toda a Vida, nosso Deus, que usa e direciona os homens e suas atividades conforme Lhe
apraz.
Realmente, os homens, deixados a sós, só sabem, em grande parte,
criar confusão e desordem. O salmo 36,23-24 afirma isso com clareza: “É o
Senhor quem firma os passos dos mortais, e dirige o caminhar dos que lhe
agradam; mesmo se caem, não irão ficar prostrados, pois é o Senhor quem
os sustenta pela mão”. Portanto, “confia em Deus e segue sempre seus caminhos, ele haverá de te exaltar e engrandecer” (Sl. 36,34) – portanto, toda a
Glória seja dada a Deus! Neste discurso não posso esquecer de agradecer às pessoas que
possibilitaram esta celebração de Ação de Graças. Em primeiro lugar, agradeço sensibilizado a Dom João Barbosa de Sousa, DD. Bispo Diocesano,
por deixar à minha disposição a Catedral e este salão de Festas. A certas
perguntas que se me fazem, respondo: “Não, o bispo não está me deixando
morrer de fome!... por enquanto!” Agradeço ao Cura da Catedral, Pe. Ivo
Jablonski, e seu numeroso e zeloso grupo de funcionárias e colaboradores
voluntários que assumiram os preparativos de nossa celebração; ao Movimento Serra que se responsabilizou pelo jantar comemorativo, a seguir,
e de outros itens. Os seminaristas, na execução das cerimônias litúrgicas;
ao Pe. Claúdio Braciak, comentarista e coordenador de todo cerimonial; e
aos cantores que nos animaram e inspiraram com seus cânticos. De novo,
agradeço aos senhores Bispos e padres, religiosas e leigos, que nos enriqueceram com sua presença e orações.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Finalmente, e principalmente, quero tecer uma ladainha de gratidão, a Deus, nesta última etapa de minha vida:
-- Obrigado, Senhor, pelo Dom da Existência, da Vida e da Fé; porque me amastes desde toda a eternidade.
-- Obrigado, Senhor, pela família cristã que me destinastes, especialmente por meu santo pai.
-- Obrigado, Senhor, pela vocação religiosa e sacerdotal, que me foi
dada sem eu merecer, nem desejar, porque foi pura graça.
-- Obrigado, Senhor, pela família dominicana de Malta, que me
acolheu, muito jovem e me acalentou, formou e acompanhou.
-- Obrigado, Senhor, pelos formadores e amigos que colocastes no
meu caminho.
-- Obrigado, Senhor, por meus antigos colaboradores: padres, religiosos e religiosas, diáconos, seminaristas, catequistas e uma
legião de ministros e colaboradores leigos.
-- Obrigado, Senhor, porque me facilitou trilhar o Caminho da
Santidade, proporcionando-me a vivência da pobreza pessoal,
colocando-me, repetidamente, frente a uma série ininterrupta
de paróquias novas e pobres, ainda por construir.
-- Obrigado, Senhor, pelas realizações materiais e espirituais de minha vida, inspiradas e apoiadas por sua Divina Força e Graça,
durante 60 anos de vida sacerdotal.
Finalmente, muitíssimo obrigado, Senhor, antecipadamente, pelo
trecho de vida futura, longa ou curta, que já me destinastes a percorrer,
e pelo trabalho por seu Reino que ainda conseguirei realizar até o fim de
minha vida: “O Zelo da Casa de Deus me Devora”.
Meu Senhor, apenas uma só coisa almejo e peço encarecidamente,
que na hora da minha morte, eu encontre um cantinho qualquer, na mansão divina dos eternamente bem-aventurados, com Maria, nossa Mãe, e os
demais Santos.
Assim seja, Amém!
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DISCURSO PELO 14º ANIVERSÁRIO
DE CRIAÇÃO DA ALVI
MAIO DE 2014
Joaquim Osório Ribas1
Cumpro, neste momento, a honrosa incumbência com que a Academia me distinguiu: a de proferir a oração comemorativa de seu décimo
quarto aniversário de criação. Porém o Criador alterou o nosso protocolo,
chamando a homenageada Zelir Pelegrini para o outro plano da existência humana. Talvez para conferir-lhe uma honra muito maior e definitiva
pelos seus reais méritos. Valeu nossa intenção de homenageá-la em vida e,
por decisão de nossa Presidente Leni, prestamos a homenagem póstuma.
As Academias de Letras tiveram origem na Academia Francesa,
fundada por Richelieu, em 1635, para consagrar pessoas notáveis por trabalhos feitos na área das ciências, da política ou das belas artes.Criou-se
um instituto padrão para imortalizar a pessoa, em vida, pelo valor do que
realizou, como indelével sinal deixado aqui na terra.
A Presidente Leni concedeu a honra de falar sobre a história da
Academia, que comemora mais um aniversário. Distinção decorrente do
fato de ter sido eu o seu primeiro Presidente e que compartilho com a Professora Therezinha Wolff, que esteve ao nosso lado, desde o primeiro momento, no esforço pela criação da Academia. A nossa história começa com a decisão da Academia Paranaense de Letras de implementar um projeto de interiorização das atividades
culturais. O caminho traçado sugeria a criação de academias de letras no
interior do Estado. As cidades de Londrina, Ponta Grossa, Maringá e União
da Vitória foram as primeiras escolhidas.
Como todo o projeto grandioso, no início parecia impossível. A
ideia de criar uma Academia de Letras nos assustava. Seria muita ousadia
pensar em criar um Cenáculo de tamanha envergadura para abrigar o patrimônio literário e cultural local.
Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 03, tendo como patrono Antonio da Lara Ribas
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Porém, passado o impacto inicial, consolidou-se o pensamento de
criar a Academia possível, isto é, reunir uma confraria de devotos da língua nacional, pessoas comprometidas com o processo de construção da
identidade brasileira, que se engajariam no movimento desencadeado pela
Academia Paranaense de Letras.
Aceitamos o desafio, dando início à caminhada que, após um ano
de trabalho, dúvidas e algumas incompreensões, culminou com a instalação da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. A comissão organizadora
composta por Joaquim Osório Ribas, José Fagundes e Therezinha Leony
Wolff foi assistida pela Academia Paranaense de Letras, por meio de seu
confrade, Professor Filipak, e com o integral apoio da Faculdade Estadual
de Filosofia, Ciências e Letras que, inclusive, nos cedeu suas instalações.
Voltando à história da Academia, lembro-me da comissão especial
para estudar os currículos de 46 inscritos, dos quais foram aprovados apenas 28, permanecendo 12 cadeiras vagas. Houve reclamações de preteridos,
protestos por escrito, mas fizemos questão de obedecer às normas estabelecidas e a Comissão Organizadora acatou as escolhas. Para patronos das
cadeiras foram imortalizados nomes de pessoas falecidas que tiveram papel
importante na construção da comunidade local.
Os estatutos fixaram como objetivos da Academia: a defesa da língua nacional; a preservação da identidade brasileira por meio do estudo da
história; a divulgação e crítica de estudos históricos, literários, científicos e
artísticos.
Entre as atividades desenvolvidas pela Academia, nesses quatorze
anos de existência, podemos registrar: o lançamento de livros; publicações de diversos artigos em colunas de jornais e revistas; a revista anual
da Academia; programas culturais na rádio e na TV; seminários sobre o
Contestado e sobre o Tropeirismo; reconstituição do Caminho das Tropas
de Palmas-Palmeira, sessões cívicas por ocasião dos aniversários de nossas
cidades e em datas nacionais. Efetivamos reuniões conjuntas com outras
academias: - uma com a de Palmas e outra com as de Guarapuava, Irati e
Mafra. Em todos os eventos abertos ao público procuramos valorizar os artistas, pintores, músicos, poetas e escritores da cidade, convidando-os para
mostrarem ao público os nossos valores maiores; com a colaboração das
Prefeituras erguemos marcos e monumentos em nossos Municípios, para
assinalar fatos importantes de nossa história.
Instituímos, também, o tradicional chá, realizado no sábado à tarde, uma vez por mês. Nesse encontro um acadêmico ou algum convidado
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especial expõe um tema de filosofia, história ou literatura, para discussão
entre os presentes. Nessas oportunidades tivemos momentos luminosos,
em que ideias foram fertilizadas pelo conhecimento científico. Uma esplêndida conquista da Academia foi trazer de volta para o convívio sociocultural pessoas mais velhas, que estavam acomodadas.
Criamos a comenda “Pinhão do Vale”, para agraciar, anualmente,
duas pessoas que tenham prestado relevantes serviços à sociedade. Uma
no campo literário e outra no campo social. Hoje, para felicidade nossa,
vemos duas personalidades agraciadas: pessoas humildes, desprovidas de
poder econômico ou político: uma que no silêncio do Hospital São Bráz,
Sani, prestou toda a dedicação, durante muitos anos, para amenizar a dor
dos enfermos, e o artista Ulysses, que retratou em seus quadros a história
de Porto União da Vitória. São verdadeiros exemplos de cidadania hoje
colocados em relevo.
Nossa grande preocupação é seguir a unidade de doutrina, da coesão espiritual que norteia a vida das Academias de Letras. Espelhamo-nos
na Academia Paranaense de Letras e em outras Academias, para não fugir
dos elevados objetivos de legítimo órgão de cultura, como deve ser a Instituição.
Parabéns, ALVI! Feliz Aniversário!
Muito obrigado!
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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HOMENAGEM PRESTADA À ENFERMEIRA
ZELIR PELEGRINI
31 DE MAIO DE 2014
Therezinha Leony Wolff 1
Com honrosa incumbência saúdo a Senhora Leni Trentim Gaspari,
Presidente da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, o Senhor Pedro Ivo
Ilkiv, Prefeito Municipal de União da Vitória, e, em seus nomes, as demais
autoridades e os nossos homenageados da noite, o Dr. Ayrton Martins, representando a Senhora Zelir Pelegrini, e Ulysses Teixeira.
Cumprindo o ritual desta solenidade, coube-me apresentar a homenageada, escolhida pelos integrantes da Academia de Letras do Vale do
Iguaçu, por sua devoção de amor ao trabalho em prol da vida humana.
Se Bituruna teve a honra de ser o seu berço, no dia 20 de outubro de
1927, Porto União, desde 1941, tem seu nome projetado na história dos primeiros atendimentos do Hospital São Braz, na enfermagem em geral, nos
serviços de assistência na sala de cirurgia e a parturientes, naquela Casa que
adotou como seu lar. Azelir ou Zelir Pelegrini, para todos apenas um nome
pequenino que corresponde a sua estrutura física, em oposição à grandeza
de sua humildade: Sani. E, completando, como se fora parte do seu nome:
Sani do Hospital São Braz.
Filha de Paulo e Francisca Pelegrini, que por toda sua dedicação,
competência e amor ao próximo, pelo reconhecimento de todos quantos
a conhecem, tornou-se um símbolo na saúde de Porto União da Vitória.
Mas a fama não lhe endurece a alma e nem dela se envaidece. No pequeno
Hospital onde iniciou um trabalho, descobriu-se como necessária em todas
as ocupações.
Com o passar do tempo, consolidou-se o conceito do estabelecimento, havendo necessidade de ampliação das instalações, de adaptação
ao uso de novos equipamentos. Com um volume de mudanças, cresceu a
responsabilidade do Hospital e de sua equipe. Nossa homenageada de hoje
tudo acompanhou, atualizando-se, pela força de vontade e por se curvar
natural e respeitosamente, aos seus superiores.
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como Patrono
Yvonnich Furlani.
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Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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As dificuldades pelas quais passava o Hospital eram também as
suas, a tal ponto que além de cuidar da saúde das pessoas, tantas vezes,
realizou trabalhos da cozinha, de limpeza e alguns cabíveis a profissionais
no ramo: encanadores, carpinteiros, horticultores e jardineiros.
A dignidade de Sani é reconhecida diante de coisas que nobilitam
a essência humana: o sofrimento, a renúncia, a dor, a solidão e a morte. De
compleição franzina, desapegada aos bens materiais, falando pouco, preferindo ouvir para melhor observar. Retraída, não se importando jamais
com seu visual. Avessa a reuniões sociais, sempre teve entre suas grandes
amizades, a de médicos, enfermeiros, funcionários, que no Hospital São
Braz foram, e são, a sua querida família. Era para essa Casa de Saúde que
convergiam pessoas, não só de Porto União da Vitória, mas também do
sul e sudoeste paranaense e norte-catarinense. Pioneiro, principalmente, em trabalhos cirúrgicos, com o Dr. Lauro Müller Soares, médico que
Sani teve como amigo, protetor e professor, pois com ele muito aprendeu.
Tanto que, quando o médico foi tomado pelo fascínio da política e deixava em parte seus compromissos com o trabalho clínico, era Sani quem
se encarregava de dar atenção à sua clientela, principalmente, à menos
aquinhoada.
Por todo seu mérito, reconhecido pela população e poder público,
Sani não se furtou ao convite de receber o título de Cidadã Honorária de
Porto União, por meio do decreto nº 24/95 do Poder Legislativo, em 31 de
agosto de 1995. A sessão de outorga do título foi realizada na Sociedade Beneficente e Recreativa Aliança Operária, cujas dependências da área social
ficaram completamente tomadas.
Sabemos que ter crença faz a esperança do mundo, é da essência
racional do ser humano. Religiosa convicta, Sani aceitou seu trabalho, tal
fosse missionária, a cumprir um juramento.
Conheci mais de perto a nossa homenageada, quando fui mãe pela
primeira vez, em 1956. Primeiro filho, parto sempre um pouco mais demorado, 24 horas de espera num quarto do Hospital. Seguidamente a porta se
abria e lá entrava Sani, trazendo um pouco de alivio. As palavras denunciavam sua descendência italiana: “Tudo bem? Vai tomando esse sazinho
que azuda bastante”. Já no segundo filho, parto rápido, numa madrugada
de dezembro, quando o racionamento da luz elétrica estendia-se das 24h
ao amanhecer, lá estava a decidida Saní, num dos quartos de madeira, ampliação na ala direita do Hospital, apenas com uma lanterna de pilhas, ajudando a vir ao mundo um querido garotão.
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Nunca imaginei que o meu caminho e o meu destino viessem um
dia se encontrar aqui, para homenagear a mulher corajosa, capaz de me
animar e de socorrer nas horas difíceis, de trazer dois filhos ao meu regaço.
Certamente a concessão da Comenda Pinhão do Vale é uma singela homenagem, que, em nome da Academia de Letras do Vale do Iguaçu,
é designada àquelas pessoas que têm uma participação importante, que se
projetam em sua terra natal ou de adoção. Hoje temos orgulhosamente o
prazer de outorgar também essa condecoração ao amigo, artista plástico,
Ulisses Teixeira, que vem levando o nome desta terra, de forma tão bela,
por nosso imenso país e por vários outros. Para Ulisses, os nossos parabéns
e reconhecimento.
Por fim, agradeço aos meus confrades a oportunidade que me deram de particular e publicamente apresentar e homenagear Sani, enaltecendo-a por todos os verões ensolarados, os invernos nevoentos, sem tirar
uma soneca, percorrendo os corredores do Hospital e, de porta em porta,
atender, sem preferências ou preconceitos os que precisavam de alento.
Transcendendo décadas e anos na sublime missão de ajudar a viver,
desejamos-lhe que as bênçãos divinas a encoragem para sempre, na senda
da paz, junto ao nosso Pai Celestial.
Observação : o Diploma e a Comenda Pinhão do Vale foram entregues à Dra. Magali Unterstell Brittes, tendo em vista que a homenageada
faleceu na madrugada do dia 31, exatamente quando receberia a Comenda. Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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HOMENAGEM PÓSTUMA À SRA. ZELIR PELEGRINI
Dr. Ayrton Martins
Presidente da Academia de Letras Vale do Iguaçu, Sra. Leni Trentim Gaspari, componentes da mesa, caros acadêmicos, ilustre homenageado, Sr.Ulysses Teixeira, senhoras e senhores, boa noite.
A homenageada desta noite incumbiu-me de, em seu nome, fazer
o agradecimento pela honraria por ela recebida desta Academia de Letras.
Adoentada há vários dias, aos cuidados dedicados e carinhosos de seu cardiologista, Dr. Cezar Augusto Pinto Lemos, e de seu cirurgião Dr. Daniel
Thadeo Sens, estava em recuperação, até já deambulando pelos corredores
do seu hospital. Quando o Dr. Cezar sugeriu a ela que talvez fosse melhor
que não fosse à cerimônia, ela incisivamente disse, a seu modo: “se toda
esta gente resolveu me homenagear, não sei se mereço: faço questão de ir.”
Estava preparando-se e até a Dra. Magaly cortou seu cabelo.
Zelir Pelegrini, a nossa Sani, chegou ao hospital aos 7 anos de idade, quando foi trazida para consultar, logo após ficou definitivamente ali
morando,e, desde os 13 anos, trabalhando diuturnamente, até há poucos
dias, sempre pensando no seu São Braz. Conta que, quando muito jovem,
na ausência do Dr. Lauro,uma gestante entrou em trabalho de parto e ela,
inexperiente, conseguiu auxiliar e amparar o nenê,colocando-o ao lado da
mãe, e, ao notar aquele cordão, que até então não sabia o que era, foi aos
poucos tracionando até sair a placenta, leva um susto e sai correndo pelo
corredor, encontrando com o Dr. Lauro que retornava e, apavorada, disse:
puxei a bexiga da paciente, sendo de pronto confortada e esclarecida, seguindo, ambos, para dar atenção à gestante. Foi sua iniciação.
Aprendeu, na prática, várias aptidões dentro da área de saúde, culminando por ser responsável pelo setor de material cirúrgico, o que fazia
com extremo esmero, limpando peça por peça, metal por metal, para mantê-los todos bem esterilizados. O baixo índice de infecção hospitalar do São
Braz, um dos mais baixos do Estado, deve-se muito a ela. Não podia ouvir
reclamação de que uma tesoura ou uma pinça não funcionavam a contento,
que, de pronto, ela mesma comprava, com seu dinheiro, e repunha o material, tendo comprado de uma só vez 100 pinças e várias tesouras, compondo vários estojos para suturas, o que motivou a direção a pedir a todos
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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cirurgiões e auxiliares que não manifestassem seu reclame próximo a ela
e, sim, levassem o material a ser substituído para a administração fazer sua
troca ou conserto
Lá pelos anos de 1954/1955, ao passar pelo corredor, foi chamada
pelo Dr. Lauro,que a apresentou a um senhor e disse a ele: aqui você tem
mais um voto garantido. Agradecido, dirigindo-se a ela, perguntou: “Menina, o que você precisa?” E ela respondeu: “Eu nada, mas o hospital precisa
de algumas panelas, e então ele retirou do bolso 50 cruzeiros e entregou à
Sani. Era o Dr. Jucelino Kubitschek de Oliveira, que visitava seu contemporâneo da Faculdade de Medicina da UFMG, Dr. Lauro Müller Soares, que
dali juntos saíram, descendo a Rua Frei Rogério até a esquina da Rua Sete
de Setembro,onde, junto com o Sr. Paulo Ivo Rodrigues, foram tomar uma
pinguinha.
Quis o destino que na noite de ontem a Sani fosse acometida por
um quadro abdominal agudo e submetida a cirurgia de urgência, vindo a
falecer na madrugada do dia de sua homenagem, tendo sido sepultada há
pouco, em Bituruna, junto a seus pais.
O Hospital de Caridade São Braz está de luto, e seu integrantes choram a perda de um pilar da entidade, o mais humilde, o mais modesto, mas
certamente um ENORME pilar, de imensurável valor humano, que marcou
e marcará a história de tantos, pois deu para o hospital uma vida de trabalho, de dedicação. Os médicos que tiveram o privilégio de sua convivência
e, principalmente, de trabalhar ao seu lado, desde quando os cabelos dela
ainda eram pretos, jamais a esquecerão.
Agradecendo a indicação de seu nome pelo acadêmico professor
Aluizio Witiuk e a professora Terezinha Wolff, pelas emocionadas palavras,
também o faço a todos imortais da Academia de Letras do Vale do Iguaçu.
Na frase de John Fitzgerald Kennedy, a nossa Sani nos exige que
jamais perguntemos “o que São Braz pode fazer por mim? Mas, sim, o que
eu posso fazer pelo São Braz”. Obrigado à Sani pela honra de poder representá-la.
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SESSÃO SOLENE OUTORGA DA COMENDA
PINHÃO DO VALE
31 DE MAIO DE 2014
Ulysses Reis Teixeira1
Bem... Boa noite a todos! Primeiramente, quero dizer que é uma
grande honra estar aqui. É uma grande honra partilhar este momento com
vocês, meus queridos amigos, meus amigos de sempre.
A arte me trouxe aqui! Então meus agradecimentos a ela, por me
proporcionar este momento maravilhoso, momento mágico! O Caminho
construído não foi fácil. Foram muitas horas de estudo e trabalho. De riscos e rabiscos, procurando, na linha, a verdade das cores. Procurando, nas
cores, a perfeição das linhas. Procurando, nas tintas, os sentimentos e as
emoções que carrego.
Lembranças de tantas histórias, dos caminhos do Lina Forte. Do
Bairro São Pedro que me viu crescer, daquelas cores, que já tão pequeno,
adivinhava nas manhãs de geada e frio, nos caminhos do Colégio São José,
das minhas primeiras tentativas de ensaios e garatujas. Lembranças daquelas tardes na sala de casa, com meu caderninho de desenho, tentando
copiar um Mickey ou um Pato Donald... depois, bem mais tarde, a paisagem que se descortinava pela janela da sala: a imponente Igreja do Ucraíno,
como chamávamos. Nas longas tardes de inverno, ao lado do fogão de lenha, em riscos desordenados, a paisagem que surgia pelas frestas da janela.
Eu sempre pensei em Arte e em colorir um pouco mais o mundo.
Sempre pensei no trabalho dos artistas, rodeados de modelos, de cavaletes.
Das tintas que se misturavam... desses verdes azulados, amarelos queimados, vermelhos que se mostram tão intensos quanto as tardes de outono. Então, a Escola de Música e Belas Artes. Finalmente, o sonho realizado. Com os olhos de um jovem pintor, pelas correntezas do rio Iguaçu,
desci barrancas, com lápis e caderno, riscando, quando menino, essa paisagem que se abre em esplendoroso arco –íris de cores matizadas. No Rio
da Areia, sentei em gramados de charco e pintei um quadro a óleo, de que
gosto muito, sentindo a brisa que perpassava e o doce balançar daqueles
aguapés: Rio da Areia dos meus tempos de piá.
1 Ulysses Reis Teixeira, artista plástico e Comendador da ALVI.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
173
Tingi pedaços de pano, dessas cores esverdeadas, dessas cores
azuladas que se misturam tão lindamente com ocres e vermelhos, numa
deliciosa ciranda de águas que descem para Porto Vitória. Lindas tardes
de poesia e tintas. Escorrem em minha memória o Campinho de futebol
que havia na fábrica do Gugelmin. Aqueles domingos de bater bola com os
amigos que, depois, em casa, tentava reproduzir incansavelmente. Sempre
perdido entre riscos e rabiscos!
Despertada a arte em mim, tudo se transformou em inspiração.
Orientado pela minha primeira mestra, Dona Sônia Bortolon, que com sua
paciência e dedicação, ordenou em mim, o traço e as cores que estavam
espalhados em minha alma e que ajudou, enormemente, a ser o artista que
hoje sou. Pelas suas mãos, adentrei nesse mundo mágico das tintas escolhidas e do desenho afinado. Meus agradecimentos a ela. Agradecimentos eternos aos meus pais, Affonso Reis Teixeira Filho e a minha mãe, Nilce da Silva Reis Teixeira, que souberam fazer aflorar
em mim o gosto pela arte. E que não mediram esforços para a minha formação pessoal e artística. Aos meus amigos queridos, aos meus queridos
irmãos, Virgínia, Siomara e Marcos de saudosa lembrança, que tiveram a
paciência necessária para que posassem, vez ou outra, para meus estudos
e trabalho. À minha esposa, Joana Smikaluk, pela imensurável paciência e
a minha querida filha, Danyelle, que me acompanhou em muitas tardes e
noites, no silêncio do Atelier. Viajando pelos corredores do tempo, visualizo a tragédia que se
abateu sobre nossas queridas cidades no ano de 1983: a Grande Enchente.
Fiz dessa besta, visões para o meu trabalho. Mesmo tomado de profunda
tristeza, tive que, como um repórter de pincéis e tintas, retratar tudo aquilo,
para que pudesse fixar no tempo, e mostrar a comoção que senti. Assim nasceu a obra a “ GRANDE ENCHENTE “, que mais tarde,
em 1994, em Curitiba, ganharia importante prêmio nacional. Criei paisagens de barro, dessa profunda tristeza que se abateu sobre a cidade. Tive
que retratá-la em quadros Surrealistas, pois as cores que me vieram foram
tão fortes, como fortes eram aquelas imagens aterradoras que via. Meus
caminhos encharcados pela água do rio, a lua que caía por trás do azul
prussiano dos morros. Mas antes disso, vieram os Murais de 1989. Numa iniciativa do
nosso querido e inesquecível artista, Amadeu Bona, um grande amigo de
conversas e paleta, pude realizar, junto com artistas locais, os trabalhos nos
Muros da FAFIUV. Trabalhos esses que resistem até hoje. Assim nasceram
174
os murais “ A GRANDE SERPENTE “ e o “ JOÃO MARIA “, o monge das
visões de tudo aquilo. Cenas fantásticas que povoaram meu imaginário e
nas quais pude mostrar a dor e a tristeza que moravam nos olhos e no coração de todos. No Jornal Gazeta do Povo, uma das maiores críticas de Arte do
País e já falecida, Adalice Araújo, chama-me de “BOSCH TROPICALISTA”, num paralelo ao artista holandês Hieronimus Bosch e seu trabalho fantástico.
Nesses meus caminhos, sempre procurei levar e elevar o nome da
cidade em que nasci: Porto União da Vitória, dos meus sonhos de menino;
das minhas primeiras garatujas. Hoje minha arte cruzou continentes, tornou-se conhecida e admirada em vários idiomas. Do Inglês ao Russo, do Árabe ao Holandês. Minha
cidade de Porto União da Vitória sempre caminhou junto comigo por essas
conquistas, e está adormecida sob cada linha que traço, sob cada mancha
que faço, no meu trabalho de Arte.
Obrigado, mas muito obrigado mesmo, pela presença de todos. Foi
uma grande honra compartilhar com todos essa grande honraria: A COMENDA PINHÃO DO VALE DO IGUAÇU. Continuarei, se Deus assim o
permitir, com meu projeto de Colorir um pouco mais o mundo, trazendo
aos olhos de todos o que o meu coração sente e os meus olhos contemplam. Meu muito obrigado à Acadêmica Margareth Rose Ribas, pela indicação a essa grande honraria. Obrigado, professora Lení Trentím Gaspari, Presidente da Alvi, e a todo o Colegiado de Acadêmicos, por terem
aprovado por unanimidade o meu nome. Agradecimentos aos meus queridos amigos, aos meus amigos de uma vida inteira, por terem vindo até
aqui, para que, como já disse, participarem comigo deste momento mágico.
Sintam-se abraçados! Deus nos abençoe! Boa Noite! Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
175
SAUDAÇÃO A ULYSSES TEIXEIRA (31/05/2014)
COMENDA PINHÃO DO VALE
Margareth Ribas1
Professora Leni Trentim Gaspari, presidente da ALVI, demais autoridades já nominadas, Ulysses Teixeira, homenageado desta noite, senhoras e senhores, boa noite. Uma reverência especial para a senhora Zelir
Pelegrini, que homenageamos in memoriam.
Coube a mim apresentar o renomado artista plástico, ULISSES LUÍS
ANTÔNIO REIS TEIXEIRA, grande merecedor da Comenda Pinhão do
Vale. Ulysses é nosso conterrâneo e tem levado o nome de União da Vitória
para o mundo, no meio da sua arte. Nasceu em União da Vitória, Paraná, segundo filho de Nilce da Silva Reis Teixeira e de Affonso Reis Teixeira Filho.
Ulysses passou toda a sua infância e adolescência em União da Vitória. Em 1965 iniciou seus estudos na Escola Lina Forte, no Bairro Rio
D’areia. Em 1970 ingressou no Colégio São José, em Porto União. A partir
daí começou o seu gosto pela literatura, principalmente, por Vinícius de
Moraes e Augusto dos Anjos. Também começou a ter contato com a pintura e com o desenho. A paixão por essas disciplinas o levou, mais tarde, a
formar-se na Escola de Belas Artes do Paraná, em Curitiba. Em 1971 participou de um curso de pintura das Tintas Acrilex, na Livraria Giza. Essa experiência incentivou-o a alçar voos mais altos como artista. Nesse mesmo
ano ingressou no Atelier de Pintura de Sônia Will Bortolon, tendo recebido
grande incentivo para o seu destino. Sempre dedicado aos estudos, passava
horas e horas dos seus dias a rabiscar folhas e mais folhas de papel. Desenhava, criava, inventava, copiava e reproduzia incansavelmente.
Ulysses também era muito solicitado pelos colegas de turma, para
que desenhasse, atendendo-os prontamente. No Colégio São José, circulava
o jornalzinho “Dinamite”, e os leitores se deliciavam com as caricaturas dos
professores e colegas feitas por você... Eu era uma dessas leitoras. O jovem
Ulysses praticava seus desenhos e escrevia seus primeiros versos baseados
em Casimiro de Abreu e em Vinícius de Moraes. Romântico... Lia os poemas com prazer, diariamente. Em 1975, publicou seus primeiros versos no
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 40, tendo como patrono João Túlio
Marcondes de França.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
177
Jornal Caiçara. Do conselho editorial do jornal, da família e dos amigos
recebeu grande incentivo para que continuasse escrevendo seus versos, publicou-os em 1977. Paralelamente com a pintura e com os poemas, abraçou
a carreira de atleta no karatê.
Dedicou-se a esse esporte, com a mesma determinação dedicada à
pintura e à poesia. Sonhou em ser campeão do Estado e realizou esse sonho, por várias vezes. Integrou também a seleção do Estado do Paraná, em
campeonatos importantes pelo país.
Em 1978 concluiu o Ensino Médio no Colégio São José. Seguiu
para Curitiba, para fazer cursos de preparação para o vestibular. Seu grande
sonho sempre foi a Escola de Belas Artes do Paraná, mas primeiro tentou,
sem obter sucesso, os vestibulares para Educação Física, Engenharia Civil e Arquitetura. Deus havia reservado outro caminho para você, amigo
Ulysses... Então ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná
(EMBAP) e tornou- se Bacharel em Pintura, em 1981.
Estudo, treino, pintura e poesia... Essa era a vida do jovem Ulysses
na capital paranaense. Ulysses continuou escrevendo seus versos e realizando seu trabalho como pintor e desenhista, e, para sobreviver, começou
a trabalhar em agências de publicidade.
Em 1986 casou-se com Joana Smykaluk, passaram a residir em
Curitiba e, dessa união, nasceu Danyelle. Em 1988 voltou a morar em
União da Vitória e junto com pintores locais, como Amadeu Bona, Renato
Ruschel e Beatriz Bolbuck, entre outros, fundaram a Associação de Artistas
da cidade. Pintou murais sobre as enchentes, e um, muito especial, que passou a fazer parte da história das Cidades Gêmeas: o painel do monge João
Maria, pintado na parede lateral da FAFI, atraindo até hoje a atenção dos
munícipes e de turistas. Ulysses passou a ser considerado pela imprensa
local como o introdutor do modernismo na cidade, influenciando vários
jovens artistas locais com a sua pintura original e livre.
Amante das paisagens de sua terra natal, dedicou pinturas a elas,
também a pinturas de flores e de animais. Depois do ano 2000, abandonou
a propaganda e começou a pintar incessantemente. Seus motivos são inteiramente de atelier. Fazendo arranjos de flores, esculturas, pássaros empalhados que, com o seu talento e inspiração, parecem vivos.
É emocionante acompanhar os seus trabalhos postados no ‘facebook’, querido amigo, primeiro surgem os esboços, seguem explicações das
luzes colocadas, música ao fundo, no vídeo, enquanto trabalha, e, quando
apresenta a obra, uma linda poesia faz-nos viajar diante de tanta beleza.
178
Como estas sobre as telas:
CAMPEIRO
“Nesse olhar de caminhos infinitos, segui por essas montanhas e
fiz do pincel meu baio gateado. Gostei da pergunta que ficou estampada
na composição final: que caminho seguir? Nesses misturados de amarelos
abraçados, desses ocres rosados, arderam azuis profundos de tão verdes,
num silencioso trotear de gaúcho e cavalo, riscados desse minuano queimando orelhas. Gracias, João Batista Brandão, pela imagem forte, desse seu
solitário caminho de seguir, de versos e campereadas.”
DARTANHÃ
“Particularmente, gostei do avermelhado do pelo. Da crina solta em desalinho, como que soprada por um minuano andarilho. Gostei muito desse azulado de crina, que vai se perdendo em avermelhados laranjas, até terminar em ouro. O pincel correu nervoso, pelo dorso,
em claros amarelos de arreios. Trabalho terminado num final de tarde,
com um sol colorado deitando em serras azuis da minha imaginação.
Saudades do meu Rio Iguaçu, descendo em curva, por entre os pilares da
Ponte Nova...”
FREI DIONISIO VERONESE
“Nos delicados tons perolados,
a imagem de um certo Dionísio Frei,
que andou por essas estradas do Rocio.
Trabalhei nas várias nuances
por luares que escolhi,
entre transparências de marrons, em suavidade de ocres.
Criei em tons de porcelana e mel
a doce imagem desse santo homem que caminhou calçadas, abençoou gentes, em extraordinário percurso
de desapego e louvor.
Nesse toque de pincel fiz degradês, criei réstias de sol em semblante de santo.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Resultado esperado em iluminado de palheta,
de róseos tons aos verdes apagados,
vermelhos intensos que terminaram
em suave curva de batina.
Adeus que nos deu, cansadas pernas de caminhar e lida.
Céu de União que se fez
de azulado, em entardecer de emocionar.
Memória que me traz doce Dionísio,
em calmo caminhar de abençoado
em silêncio de rezar.”
GALO
“Canto madrugador em terreno de barro
de ocres e amarelos, misturados terras,
bailado de chuvarada em respingado de cinzas,
dourados carmins em palheta de tons.
Lembranças da antiga casa em voos delicados sobre parreiral
de bandos desorganizados,
salpicado céu em voo de pombinhas.
Gramados que pisei quando menino
pelo Bairro São Pedro,
atrás de bola e pandorga.
Galo do quintal de casa, tão bem cuidado
pelas mãos de um certo menino que partiu.
Mano que com mãos de acariciar,
embalava em colo de criança, coelhos e porquinhos.
Gostei do resultado dessas tintas bem cuidadas,
da fineza dos retoques em delicado passeio de pincel,
desses intensos vermelhos em rugosa tez.
Em tela de pano estampado
o galo engalanado de ondulada crista.
Orgulhoso tenor daquelas madrugadas,
de sangrar horizontes de amanhecer
em canto jovial de trovador.”
180
GURIA
“Longas horas de esboços em pontão de lápis, riscados verdes de
pincel, encantados azuis. Planos definidos, retoques entrando madrugadas.
Cavalos e peões, feitura de borrões em sutis toques de cerda. Ricos amarelos em distância de morro, que se mostrava em semicírculo delicado. Vento
acariciador de lenço e cabelo. Imagem que embalei, em trabalho de arco-íris de paleta. Trabalho findo, surge a perfeita estampa da mulher campeira.
Ensolarado dia de cavalgar: no vagaroso trote do cavalo “ DKP “, imagino
estradas que não andei, mas que estampei na delicadeza da linha, no colorido da forma. Gracias Camila por emprestar « muy buena « imagem para
os olhos encantados desse pintor.”
RETRATO DA MÃE
“Sobre o cavalete a tela ficou repousada, desenhada a lápis de ponta
fina...longas semanas de contemplação. A primeira camada recebida, foi
por transparente carmin, aguado, em longas pinceladas de pelo largo. Depois, as outras, em intervalos de secagem,aproveitando as tardes de calor e
aquele vento morninho. Os Suaves efeitos de fundo, foram feitos com tons
claros de azul, como moldura, em ocres misturados, num arredondado de
manchas. Trabalhei muitos dias na feitura da roupa e nestes reflexos de
meios tons rebaixados...matizados prussianos, esverdeado cobalto em tecido de cetim. Gostava de pintá-lo ao amanhecer, pois nessas horas a luz que
entrava pela vidraça, se debruçava no branco amarelado da tela e se perdia
num crescente degradê de tons suaves. Dei ênfase ao sorriso que cativa,
pelo avermelhado do lábio e se perde pelo olhar em castanho de contemplação e cuidado.
Pintura de minha mãe em retrato de parede
eternizado em vermelho de rosas dúzias perfumadas de tinta e pincel
em queimado buquê de amarelo.”
RETRATO DE PALHAÇO
“O retrato tinha que ser fiel ao espírito do carnaval. Então, pincéis
carregados de tinta, encorpados vermelhos, alaranjados no doce balanço
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dos carmins. Finíssimas passagens de tons, formas geométricas num fundo indefinido, como papel picado erguido pelo vento. No desenho original
eram confetes, que depois de alguns estudos, pousaram suavemente na roupa branquíssima e larga, como manchas. O riscado da gola, descrevendo a
curva sinuosa e frágil da serpentina que cai, em movimento ritmado. Retrato de Palhaço! Lembranças das noites de Aliança e Concórdia. Da folia que
se fazia e daquelas manhãs de sol, no azul turquesa dos morros...”
Ulysses é membro da Academia de Cultura Precursora da Expressão de União da Vitória e de Curitiba; da Academia Niteroiense de Belas
Artes, Letras e Ciências de Niterói - Rio de Janeiro; da Confederação Brasileira de Letras e Artes. Embaixador da Paz da Confederação Brasileira
de Letras e Artes em 2013. Participou de várias exposições coletivas e individuais em União da Vitória - PR, Florianópolis - SC, Telêmaco Borba
- PR, Porto Alegre - RS, Guarapuava - PR e várias em Curitiba- PR. E em
exposições internacionais no Reino Unido, na Flórida e várias na Rússia.
Recebeu prêmios em Curitiba, em 1990; na Holanda em 2011 e
2013; no Rio de Janeiro recebeu 3 prêmios, em 2012 e 01 prêmio em 2013;
Nova Iorque em 2012; Flórida 2 prêmios, em 2012 e 01 prêmio em 2013;
Destaque Brasil, em 2012 e em 2013 – Prêmio Destaque Brasil, em Taubaté – SP; em Leipzig – Alemanha, em 2012; Califórnia, em 2013; 11º lugar
em 2013, 3º lugar, em 2014, numa Competição Internacional pela internet com a tela “Solito”, também “Solito” ganhou 1º lugar, em Istambul, em
2014.
Seus trabalhos foram publicados no “Internacional Art Book (volume IV)” de Eve Lemonidou – Nova Iorque; “Prospero Internacional Art
Book” de Antonio Dulcidio e Aristides Meneses – Portugal; « 42 Masters
of Realistic Imagery” publicado em Leipzig – Alemanha; “Entrevistando a
Arte” de Ivanira Tereza Dias Olbertz – União da Vitória.
Ulysses, com uma biografia tão linda, com um currículo tão rico,
divulgando o nome das nossas cidades no mundo, é com muito orgulho
que a ALVI lhe concede a Comenda Pinhão do Vale, como reconhecimento
por seu talento e por sua arte maravilhosa!
O professor Nelson Antonio Sicuro me fez crer que a missão da
arte é melhorar o ser humano através do Belo, sentimento universal! E
lembro as palavras de Heitor Villa-Lobos: “...se todas as pessoas do mundo
ficassem juntas um minuto em êxtase pela Arte, neste minuto o mundo estaria em PAZ. Não haveria guerra, maldade, crime ou violência de qualquer
espécie.”
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A arte e a cultura não são para burgueses! Os verdadeiros políticos
e governantes investem e acreditam nelas como benefício para o Ser Humano. Enquanto nossos governantes não investirem seriamente na educação e
na cultura, estaremos fadados a não evoluirmos como seres humanos. Poderemos subir no ‘ranking’ econômico, mas continuaremos a ser Terceiro
Mundo. Temos como exemplo a Alemanha, cujo espaço físico foi totalmente destruído, mas não conseguiram destruir a CULTURA daquele povo,
verdadeiro patrimônio imaterial e indestrutível, por isso se reorganizaram
econômica e humanamente, sendo um belo exemplo para a humanidade!
Para encerrar, Ulysses, vamos trocar as nossas posições, sempre
aprecio suas telas com as suas poesias, hoje eu vou recitar uma poesia sobre
minha tela favorita!
SOLITO
A primeira vista foi de emoção
Lembranças da minha infância
E do nosso amado rincão!
Cedo começava a lida
Indo a gurizada pro galpão
Uma folia à procura dos apeiros...
Cavalo certo pra cada campeiro!
Campeando... subindo a coxilha
Voava a imaginação!
Depois da lida, na volta pra casa
O cavalo sempre troteia mais ligeiro
Então parávamos bem de ‘ansim’,
O baio, o zaino e o alazão...
‘Inguarzinho’ a você Solito!
Prá deixá os animais mais faceiros!
Amados e companheiros
De todo peão!
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184
Essa paisagem lembra meu pai
Quantas vezes, você pai,
Assim pilchado...
Parou seu cavalo?
Também imagino
Meu filho seguindo esse caminho
Aprendido desde menino
a perpetuar a tradição!
E eu aqui te pergunto Solito
-Onde é que você se meteu?
Estados Unidos ou Alemanha?
Turquia ou Holanda?
Eita cabra valente
Varou pra outro continente!
DISCURSO PELO 13º ANIVERSÁRIO DE CRIAÇÃO DA ALVI
MAIO DE 2013
Dr. José Fagundes1
Há treze anos, na noite de 30 de maio do ano de 2000, nascia, no
Salão Nobre da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União
da Vitória (PR), a Academia de Letras do Vale do Iguaçu – ALVI. A agora
adolescente segue sua trajetória, procurando cumprir a missão para a qual
foi concebida e criada, qual seja, a de guardiã da língua-pátria e propulsora
da produção literária, nesta vasta região do vale do Iguaçu, desconhecendo
fronteiras físicas, sejam estaduais, sejam municipais, tendo como chão e
como horizonte a salvaguarda e o desenvolvimento dos valores que sedimentam a cultura de uma nação.
Como não existe geração espontânea, eu gostaria, nesta ocasião,
de fazer um breve retrospecto do processo de gestação da ALVI, resultante
de uma política de interiorização das Academias, levada a efeito pela Academia Paranaense de Letras (APL), sob a presidência do Dr. Túlio Vargas.
Menção especial merece o Prof. Francisco Filipak, membro designado pela
APL, que incentivou, apoiou e acompanhou o desenrolar dos trabalhos de
organização da nova Academia.
É assim que, em 1º de novembro de 1999, ocorreu a primeira reunião, sob sua presidência, neste mesmo recinto, ocasião em que ele informou aos participantes os objetivos da Academia e as normas para o
preenchimento das vagas. Na sequência, nomeou uma comissão “ad hoc”,
composta pelos seguintes nomes: Joaquim Osório Ribas, Leni Trentim
Gaspari, Therezinha Leony Wolff, José Fagundes, Fahena Porto Horbatiuk,
Paulo Horbatiuk, Sandra Regina de Moura Konell, Lilian Maria Bresciani
Heinen. Essa comissão encarregou-se de organizar a futura Academia, assim como analisar os currículos das pretendentes a ela. Por fim, foi eleita
por aclamação a Diretoria Provisória da ALVI, assim constituída: Joaquim
Osório Ribas – Presidente, Leda Barcelos – Secretária, José Fagundes – Tesoureiro, Dago Alfredo Woehl – Orador.
1 Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 28, tendo como patrono
Hermínio Milis.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Após meses de muito trabalho e reuniões, a Academia de Letras do
Vale do Iguaçu era fundada, em 30 de maio de 2000, e seria instalada no dia
10 de novembro de 2000. Vinte e oito das quarenta cadeiras tiveram como
primeiros ocupantes-fundadores os seguintes acadêmicos: Ulysses Antônio Sebben, Ghassoub Domit, Joaquim Osório Ribas, Michel Kobelinski,
Arlete Therezinha Bordin, Paulo Horbatiuk, Eloy Tonon, Fahena Porto
Horbatiuk, Walter Michael Ebeger, Neli de Oliveira Melo Sicuro, Sueli de
Souza Pinto, Irene Rucinski, Armindo José Longhi, Odilon Muncinelli,
Leni Trentim Gaspari, Therezinha Leony Wolff, Ivahy Detlev Will, Cordovan Frederico de Melo Júnior, Ladi Tamara Benda Witiuk, Fídias Telles de
Carvalho, Alexandre Drabik, Helena Klotz, José Fagundes, Dago Alfredo
Woehl, Yeda Cordeiro Ramires, Fernando Luiz Tokarski, Leda Barcelos,
Nelson Antônio Sicuro.
Desses primeiros companheiros de jornada, sete nos deixaram –
Alexandre Drabik, Francisco Filipak, Ghassoub Domit, Helena Klotz, Yeda
Cordeiro Ramires, Neli de Oliveira Melo Sicuro, Nelson Antônio Sicuro. A
eles nossas homenagens pelas marcas que aqui deixaram e nossa solidariedade na caminhada que continuam em outra dimensão. Até breve!
186
DISCURSO EM HOMENAGEM
AO DR. JOSUÉ GUIMARÃES
Joaquim Osório Ribas1
Saudações à mesa, aos homenageados e seus familiares, aos confrades e confreiras.
Saudações especiais.
O cenáculo desta Academia de Letras vive um momento de singular beleza, engalanado pela seleta plateia que comparece, para consagrar
seu reconhecimento aos mais notáveis exemplos de cidadania.
Por deferência da Presidente, Leni TrentimGaspari, coube-me
a honrosa missão de saudar o Dr. Josué Guimarães. Trata-se de uma das
mais ilustres personalidades da história contemporânea de nossa região.
Legítima expressão de nossos valores culturais. Um homem que, apesar de
seus 93 anos de idade, permanece na atividade agropecuária, lutando com
todo vigor, e participando ativamente da dinâmica da sociedade. Começou
como peão de tropa e relevantes postos como prefeito de Palmas, prefeito
instalador do município de General Carneiro, advogado atuante na área
comercial, tributo notável pela coragem e eloquência, assessor jurídico da
Secretaria de Saúde do Paraná e, acima de tudo, uma rica personalidade,
com nobres atributos de humildade, simplicidade e generosidade.
Seguindo padrão das Academias de Letras, esta instituição, da qual
tive a oportunidade de ser o primeiro presidente, escolhe, todos os anos,
duas pessoas reconhecidas como exemplos para a sociedade, tornando-as
apoteóticas em si, em vida, pelo valor de sua ação no campo social. Por
decisão de nosso Colegiado, nesta jubilosa noite, a Academia entrega esse
galardão, sentindo-se valorizada pelo brilho dos nomes homenageados: Josué Guimarães e Zélia Nascimento Sell.
Esta homenagem é mais significativa, numa fase crucial, em que
uma abominável crise moral domina a sociedade brasileira. Estamos vivendo um momento histórico em que o homem cientifica e intelectualmente é
um gigante, mas, moralmente, é um pigmeu. Está na hora de se valorizarem
Membro fundador da ALVI, ocupando a Cadeira nº 03, tendo como patrono
Antonio da Lara Ribas
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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aqueles que pautaram seu comportamento dentro da ética e do respeito ao
bem comum.
Sou testemunha, com absoluta segurança, de que Josué Guimarães,
em sua longa e profícua trajetória de vida, desde o vigor da mocidade até
os atuais cabelos brancos, orientou seus atos dentro do legado sociocultural
que herdou de seus pais.
O Dr. Zuzu, como é conhecido, sempre foi presença agradável. Voz
suave, afirmativa e, às vezes, categórica. Talentoso, dotado de características
marcantes como: amor ao trabalho, simplicidade e humildade. Como homem do campo, não vive sem o ar da coxilha. Precisa do frescor do vento,
do murmúrio dos arroios, da sinfonia composta pelo mugido da res, do
tilintar do cincerro e da revoada das curucacas, com seus sons estridentes.
Montado a cavalo, ostentando a tradição dos antigos tropeiros, reina com
galhardia, como verdadeiro monarca da coxilha.
Querido amigo Zuzu, tenho em você o maior exemplo de dignidade, de ética e de patriotismo. Vejo em você o mais ilustre descendente
do bandeirante paulista Joaquim Mendes de Souza, que, em 1839, fundou
a fazenda que até hoje você conserva com o maior carinho. Você honra a
nossa história pelo exemplo de vida.
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DISCURSO DR. JOSUÉ GUIMARÃES POR OCASIÃO DO
RECEBIMENTO DA COMENDA PINHÃO DO VALE
NOVEMBRO DE 2013
Josué Guimarães1
Exma. Sra. Leni Gaspari, Presidente da Academia de Letras de
União da Vitória. Cumprimentando a senhora, estendo meus cumprimentos aos demais membros da mesa de honra e aos membros da ALVI.
Quero saudar, em especial, Zélia Maria Sell, que tão gentilmente
já nos recebeu em Curitiba. Sinto-me orgulhoso por estar a seu lado nesta
noite solene, em que somos contemplados com a Comenda Pinhão do Vale.
Saúdo, ainda aos amigos que aqui compareceram: de Guarapuava,
Palmas, General Carneiro e União da Vitória, formando uma só família,
com o mesmo coração, o mesmo sentimento. Agradeço aos meus familiares, aos representantes de jornais e TV, e ao Cleiton e à Vanderléia, que me
acompanham hoje. Enfim, agradeço a todos que deixaram seus lares, seus afazeres e
vieram nesta noite, para mim maravilhosa, para prestigiar-nos, valorizando
a comenda que receberemos.
Jamais sonhara ser hoje um Comendador, mas estou feliz e elevo
minha gratidão a Deus.
Peço permissão, senhora Presidente, para homenagear o Colégio
São José, onde estudei por algum tempo, e às duas cidades que me acolheram, quando aqui vivi. Aprendi a admirá-la, nos anos que aqui passei, muitas vezes, batendo de porta em porta, vendendo rifas, para ajudar a bancar
a aquisição do Órgão da Matriz de Porto União.
Estou muito emocionado, ante as palavras do amigo Nivaldo Krüger dos Passos e do professor Joaquim Ribas, que se excederam ao exaltar a
minha pessoa, o que atribuo ao fato de nossa amizade.
Quando o professor Joaquim foi à minha residência, levando o
convite para essa solenidade, pedi-lhe: - Você tem que arranjar alguém de
cultura para redigir o meu discurso perante a Academia de Letras. Depois
refleti que, se outra pessoa escrevesse para eu ler, poderia ser o texto uma
1
Comendador da ALVI em 2013.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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bela peça de oratória, mas talvez não a expressão dos sentimentos de minha alma. E decidi, apesar da idade centenária, da memória já desgastada
pelo tempo, com problemas de audição e dicção, tentar proferir palavras
nascidas do coração, colhidas à beira dos caminhos, na longa jornada, encostados à árvore da vida.
Assim, 83 anos já se passaram, ou seja, 30.927 dias, em que aos dez
anos de idade, já percorria a Rua Coronel Amazonas, descia com o caminhãozinho da família Scheid, trazendo um mundo de recordações, vendo
a beleza romântica dos campos de Santa Rita, batidas pelas patas do cavalo
Guarani. Veio comigo o gosto de um camargo tomado na mangueira, ao
sabor do leite de uma vaca vira-lata. Vieram também os sons que conhecia:
o mugido da vaca, o grito monótono do vaqueiro, ecoando nas quebradas
das coxilhas o som nascido do cantar dos pássaros, agradecendo a Deus a
beleza e o encanto do raiar de um novo dia.
Vim de uma família estruturada segundo os rígidos preceitos de
honra, dignidade e respeito, exímio cavaleiro, já hábil no manejo do laço,
porém analfabeto. Decidido a conhecer a cidade grande e a freqüentar a
escola Paroquial São José.
Aqui, Senhores, procurarei unicamente durante meu pronunciamento, evidenciar como uma boa escola pode influenciar na vida de uma
pessoa. Numa vertiginosa corrida contra o tempo, vou tentar descrever, de
imediato, minha ascenção cultural e social, afinal, como tornei-me quem
sou.
De imediato, esse jovem demonstrou que possuía também competência e habilidades com lápis e caneta. Assim, na formatura do primário, já
sonhava com a formatura ginasial e com a sequência dos estudos.
Mas, senhores, a vida apresenta surpresas e aqui quero prestar minha homenagem ao meu pai, José Frederico Teixeira Guimarães, seu Juca
do Cedro. Homem simples, com seu progresso, passou a ser procurado
como fiador, em caso de empréstimos ou compra de imóveis.
Instalou-se com uma loja aqui, na Rua Carlos Cavalcante, e, com o
tempo, multiplicaram-se os avais, e multiplicaram-se também os que deixaram de cumprir os compromissos, vendo-se ele com todo seu patrimônio
comprometido.
Desesperado, procurou um advogado que lhe apontou como solução:
- O senhor só tem uma saída, passar tudo o que tem para o nome
de outra pessoa. 190
E meu pai respondeu:
- Vivi e envelheci como homem honesto, e não morro como velhaco. E cumpriu todos os compromissos. Lá se foram nossos imóveis, nossas
economias; lá se foi o rebanho de gado da fazenda, e, o pior ainda, a terça
parte da fazenda Santa Rita. Tudo bem, ao menos estava salvo o maior patrimônio que um pai pode deixar para um filho: um nome honrado, cercado de respeito.
O sonho daquele jovem que esperava continuar os estudos, filho de
pai desesperado, não teve outra solução, mesmo adolescente teve de voltar
à Santa Rita e procurar atividades naquilo que sabia fazer.
Chegando lá, encontrei a figura respeitável de um homem condutor de tropas na região. Ele abastecia a produção do sudoeste e oeste de
Santa Catarina, de Ponta Grossa, Palmeira e Curitiba. Era uma figura sempre lembrada de Silvio M. de Araújo, que me convidou para fazer parte de
seus projetos.
Daqui junto com seu avô, Emílio Santana de Morais, levamos anos
trilhando esse caminho, mas, com o correr dos anos, cheguei aos 17, 18, 19,
20 e tinha que cumprir o meu dever com a pátria. Serviria o exército. Outra
vez, meu pai procurou as autoridades aqui em União da Vitória, tentando
a minha dispensa, mas ela não aconteceu. Recebi a comunicação que devia
apresentar-me urgente, na unidade militar de Palmas. Apresentei-me para
os exames médicos e fui aprovado para a Força Expedicionária Brasileira,
licenciamento suspenso até terminar a guerra. Mas o soldo que Exército
pagava ao soldado era irrisório, teria de encontrar mais algum rendimento,
para dar conta das despesas. Nisso, ocorre um curso de preparação, para
preencher uma vaga para Cabo. Procurei inscrever-me, e, ao fazer a inscrição, fui advertido de que eram 30 soldados engajados e que eu era apenas
um recruta, o que não me impedia de participar do certame. Iniciado o
curso, tendo sido aluno do São José, cheguei a ser o primeiro colocado.
Depois veio o curso para Sargento, quantas vagas? Uma apenas. E o recruta
vindo do São José ocupou.
Assim descobri meu potencial. Agora, mais experiente, com diploma de contabilidade, mesmo que feito por correspondência, assumi a
administração das indústrias de Pedro Scheid e Moisés de Araújo. Nessa
época, já casado com um anjo de mulher, agraciada por Deus de todas as
virtudes.
Era época do apogeu da madeira em União da Vitória, embarques
de vários vagões. Tinha que residir aqui e viajar até Lança, Valões, para
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abastecer os navios em Itajaí, e em São Francisco. Depois, fechou a exportação da madeira, e nós ficamos desempregados. Restou o quê? Voltar a Santa
Rita. Deixo União da Vitória, mas vou agora, com União da Vitória e
Porto União no meu coração, lembrando os versos do professor Serapião,
em homenagem à passagem da primeira locomotiva da estrada de ferro.
“Selvagem qual bugre nu:
Banhada pelo Iguassú
A beira dele nascestes,
Linda cabocla indolente
A dormir em mata indigente,
Entre colinas crescestes!”
Assim, volto a referir-me a Santa Rita, ali chegando, coloquei um
armazém à beira da estrada de rodagem, com auxílio de amigos de Porto
União, de União da Vitória e de Palmas. Quis denominar essa casa como
“Novo Horizonte”, mas prevaleceu o nome dado pelo povo: “A Bodega do
Zuzu”. Coisa certa, no lugar certo e na hora certa. O progresso foi indescritível.
O Juíz de Direito, Dr. Francisco de Paula Xavier e seus amigos advogados iam fazer suas caçadas todos os anos, saborear um churrasco à
beira de um riacho qualquer. Certo dia comentei com eles sobre a mágoa
de não ter podido estudar. Sensibilizaram-se e começaram a me incentivar,
ao que eu respondi: “mas eu não tenho ginásio.” Eles contaram que havia o
Art.91 em Porto União, no Colégio Ruy Barbosa, que preparava os alunos.
Chegando o lá o diálogo foi mais ou menos, assim:
- O senhor mora na fazenda? Não pode estudar. Vai faltar muito, e
vai reprovar!
- Mas foi o Dr. Xavier que me mandou vir aqui!
- Então eu lhe dou a matéria, o programa e depois, mais tarde, virá
se inscrever para as provas.
No dia das provas, vieram examinadores de Curitiba e as provas
foram realizadas no Salão da Igreja Matriz de União da Vitória. Somente
dois alunos foram aprovados, e um deles, o provindo do Colégio São José.
Depois disso, abriram-se as portas ao curso de contabilidade e ao ingresso
na faculdade de Direito, em Curitiba. Logo a seguir, tive breve passagem
com Secretário na Prefeitura de Palmas. Na corrida do tempo, eleito o Go-
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vernador do Paraná, Paulo Pimentel, sendo Secretário da Saúde, Arnaldo
Buzatto, fui convidado a exercer o cargo do Diretor Administrativo da Secretaria do Estado do Paraná. Vejam a mudança, tive que fazer curso de
Saúde Pública, para conhecer a dinâmica da Secretaria. Havia 16 hospitais e
cursos integrados à essa área. O Deputado Buzzato assume a presidência da
Campanha Nacional de Saúde nas escolas da comunidade, e eu assumi uma
das diretorias. Assim passei a conhecer esses dois setores tão importantes:
educação e saúde.
Nessa época o lema era: “saúde não é privilegio, é direito humano.”
Foi grande a movimentação impressa no Paraná. A uma reunião visando
a construção da usina de Itaipu, compareceu um jovem secretário, que fez
um belo pronunciamento. Era a figura do ex-senador, inspetor, historiador,
Nivaldo dos Passos Kruger.
Mas, ao conhecer os setores de Educação e da Saúde, notamos que
era preciso mudar a forma de os governos tratarem esses temas, principalmente o Governo Federal, “onde são amarrotados os milhões de reais
que recolheram com nossos impostos, mas que, para a Educação e Saúde,
vinham migalhas”.
Aprendi que Educação e Saúde são responsabilidades, ser professor não é profissão, é missão. Trabalhar na saúde não é emprego, é doação,
porque esses setores sobrevivem do idealismo, da abnegação, do desenvolvimento dos que exercem essas atividades. Por isso, ao encontrar um professor, o que se pode fazer é inclinar a cabeça e respeitar, porque são eles
que traçam o caminho da vida.
Aqui se foram 26 anos da minha existência, que reconto como
os mais importantes. Cansado já da aposentadoria e minha esposa Djanira também da escola em que trabalhava como professora e secretária,
em Curitiba, filhos criados, netos quase todos formados, voltamos a nossa
Santa Rita, onde Deus deu a vida que todos pedem a ele, não sem compromisso, pois a Djanira não se havia afastado das atividades com crianças
carentes do centro espírita Casa do Pobre de Curitiba. Era fim de maio,
começo de junho, era sua vez de coletar leite, nos deslocamos para Curitiba. Uma semana de muito trabalho e, depois de visita aos filhos, duas netas
foram as últimas a sair, já passava das 10h da noite, quando busquei um
departamento médico: Djanira não passava bem. Aos trinta minutos do
dia três, sobreveio uma parada cardíaca fatal. Nessa hora ruiu o castelo. Foi
embora a mão que, por 63 anos, deu segurança e iluminou o meu caminho
e, aí, perdi a companhia.
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Volto ao ninho que juntos construímos: a minha Santa Rita, onde
me impus isolamento voluntário, tendo saído raramente, quando o Prof.
Joaquim e o amigo Antônio Costa, na luta por manter viva a história e me
manter feliz, organizam cavalgadas e eventos relacionados a esse período
da história. Ou em atividades relacionadas à educação, em General Carneiro, onde sempre sou convidado.
Agora, nesta solenidade, recebo a Comenda Pinhão do Vale, e
agradeço emocionado. É tão difícil definir, apenas digo: “Recebo esta homenagem, não por mérito; recebo como um gesto de afeto, como um gesto
de carinho de mãe a um filho adotivo, que educou e ensinou os caminhos
da vida.”
E, para tanto, não tem-me faltado o apoio dos amigos, o zelo dos
filhos e filhas, o doce carinho dos netos e bisnetos. Aguardo dos céus a
derradeira chamada, não sem antes pedir a Deus força para fazer ecoar, aos
quatro ventos, minha terna despedida.
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DISCURSO SESSÃO SOLENE DE POSSE
DAS NOVAS ACADÊMICAS - 2013
Leni Trentim Gaspari1
Presidente da ALVI
Fala inicial da Presidente
A todos que aqui estão, autoridades já nominadas e demais convidados, pelo privilégio de sua honrosa presença, os saúdo, com votos de
boas-vindas e amizade. Esta é uma Sessão Solene, mas também uma sessão
festiva, uma sessão de alegria, pela certeza de que a ALVI, nestes 13 anos,
vem cumprindo seus objetivos, pelo incentivo à Arte e à Cultura. Invocando a Proteção Divina, declaro aberta esta Sessão Solene da Academia de
Letras do Vale do Iguaçu, que hoje se reúne para comemorar seu 13º ano de
Instalação, e ampliar seu contingente de Acadêmicos.
Palavras Finais
Antes de me dirigir às novas confreiras, quero agradecer a presença
de todos que vieram nos prestigiar. A vocês, o abraço carinhoso e fraterno
de todos os membros da Academia de Letras, por sua presença querida ao nosso coração, e participem sempre conosco.
Agradeço as pessoas que contribuíram de alguma maneira com
a realização deste evento, em especial, ao Diretor da FAFI, Bel. Valderley Garcias Sanches, que sempre estende as mãos para a ALVI, o que
muito me alegra, pois minha alma e coração ainda estão aqui nesta casa
de ensino, onde trabalhei por 25 anos. Meu agradecimento também aos Acadêmicos, Aluízio e Márcia, sempre ao meu lado, e também aos demais confrades e confreiras, que me auxiliam de forma tão prestativa e carinhosa. Muito obrigada a todos!
Membro fundadora e presidente da ALVI, ocupando a Cadeira nº 19, tendo como
patrona Profª. Edy Santos da Costa.
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Queridas Confreiras Soeli, Marilúcia e Margareth,
Quando comecei a escrever este texto, fiquei a pensar sobre o que
diria a vocês, que acabam de assumir, como novas integrantes do Colegiado da ALVI. Pensei e concluí que minha fala não poderia ser outra a não
ser falar do nosso ofício ligado às artes: à arte de pesquisar e historiar…
Habilidade da confreira Soeli, minha ex-aluna e hoje afilhada, convite que
muito me honrou; a arte de filosofar sobre a ética e o Direito refletindo
sobre uma sociedade que pode ser melhor, como faz, com tanta convicção, a Confreira Marilúcia, e a arte de emocionar e encantar a todos com
a magia da música, privilégio da Confreira Margareth.
Cada uma de vocês vem percorrendo caminhos, com as habilidades e saberes que conquistaram, de forma tão linda, em sua vida, como
mulheres íntegras, inteligentes e de muita sensibilidade.
Mas não é só por isso que vocês foram admitidas por unanimidade
em nossa Confraria, pelo Colegiado de Acadêmicos… Mas porque, além
da ligação com as artes, que já mencionei, estão conectadas, também, com
a “arte de escrever”, como falava nosso querido confrade Nelson Sicuro, que
já se encontra no Plano Celestial. Sim… dizia ele: “escrever é uma arte” … e fico pensando que, se escrever é uma arte, somos “Artesãos das Letras “, e constatamos isso, percebendo a diversidade de caminhos que o “Artesão
das Letras” percorre para escrever sobre a História dos homens, sobre o
Direito e a Filosofia, e sobre os músicos, como vocês já fizeram tão lindamente, e publicaram.
Sejam bem-vindas à ALVI… Temos orgulho de tê-las conosco, e gostaria de ressaltar a valorosa oportunidade que terão aqui, no contato estreito, no convívio com autores experientes, ativos e consagrados de nossa
cidade e de outras também… Esta é uma experiência de estimado valor, e
nosso desejo é proporcionar a vocês um espaço em que possam expressarse, expondo e debatendo suas ideias, trocando informações e interagindo
com um grupo que tem objetivos comuns. Para finalizar, quero pedir que
tenham sempre em mente nosso lema: Nulla dies sine línea: nenhum dia
sem uma linha. Muito Obrigada!
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DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013
Soeli Regina Lima1
Boa noite!
É com muito orgulho que assumo, na Academia de Letras Vale do
Iguaçu, a cadeira de número 2, do escritor e artista plástico, Dirceu Marés
de Souza.
Ele nasceu na localidade de Estácio, Município de Paula Freitas,
Paraná, em dezembro de 1920, e faleceu em Curitiba, em janeiro de 1994.
Como político, exerceu o mandato de vereador, na Câmara Municipal de
União da Vitória. Na pintura, procurou retratar cenas da História regional, sendo a mais famosa tela a que reproduz a “Batalha do Irani’, alusiva à
Guerra do Contestado.
O primeiro ocupante dessa cadeira foi Jayme Ayres da Silva, nascido no ano de 1958. Ele era graduado em Ciências Biológicas, pela Faculdade
Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho, FAFIJ; Especialista
em Metodologia e Didática do Ensino Superior, UNOESTE; com estudos
em Ecologia, UNICENTRO; Meio Ambiente e Gestão Ambiental, UNIPAR
e Mestrado em Engenharia da produção: Gestão Ambiental, UFSC.
Pretendo, neste momento, relatar de forma breve, a trajetória pela
qual estou aqui hoje a ocupar uma cadeira na Academia de Letras Vale do
Iguaçu. Em primeiro lugar, ingressar na ALVI representa a coroação do trabalho de pesquisadora e escritora. O primeiro momento em que senti que
poderia escrever, foi no ano de 2001, por ocasião da correção de um texto,
pelo professor, historiador, Dr. Eloy Tonon. Na época, eu era sua aluna de
Especialização em História do Brasil. Ele fez o seguinte registro: “Parabéns!
Você está no caminho certo. Escreve muito bem e poderá enveredar no caminho da pesquisa”.
Passados alguns anos, percebi que gostava de escrever, e de pesquisar quando a professora Doutora Olga Firkoviski, da UFPR, orientadora
do Mestrado, apontava caminhos metodológicos, de análise das fontes, de
autores, e a partir daquele momento, despertou-se, em mim, a paixão por
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 02, tendo como patrono Dirceu Marés
de Souza.
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pesquisar, escrever, comprovando os fatos, buscando compreender a realidade vivida por determinada região.
Devo muito ao Senhor Francisco Farias. Ele foi presidente da Câmara Municipal de Três Barras, o qual depositou confiança em oficializar
o convite para um trabalho de pesquisa sobre a trajetória política do município. Sabemos que contratar um profissional para elaboração de um livro
requer que ele tenha créditos de produção e, na época, eu não os tinha.
Assim à Câmara Municipal de Três Barras os meus agradecimentos por
ter-me aberto as portas para a pesquisa, possibilitando a produção do meu
primeiro livro.
Quero destacar a importância da Instituição de Ensino Superior, a
FAFIUV. Nos seis anos em que atuei como docente tive oportunidade de
pesquisar, produzir artigos, participar de eventos, sempre com o apoio da
faculdade.
Pesquisar e escrever dependem da personalidade dos indivíduos; e
a personalidade vai sendo construída ao longo da trajetória de vida. A escolha de Leni Trentim Gaspari, presidente da ALVI, como madrinha, deve-se
ao fato de sua fundamental importância em minha vida. Com ela, como
professora e colega de trabalho, aprendi a valorizar a disciplina, o respeito
e a humildade.
Para escrever é necessário paixão e tempo. A paixão eu a tenho e o
tempo e condições necessárias para produção escrita, devo a minha mãe.
Sem ela, com certeza, eu não poderia estar aqui hoje.
Gostaria ainda de deixar uma mensagem para o meu filho, sobre
este momento que sua mãe está vivendo, que ele sirva também para você
refletir. Quando o ser humano tem um sonho, deve lutar por ele, para poder concretizá-lo. Que você lute por seus sonhos e possa realizá-los.
Devo dizer da importância e do compromisso de fazer parte da
ALVI, e assumo publicamente o compromisso de auxiliar para que a academia atinja seus objetivos.
Para encerrar, vou usar das palavras de Joaquim Nabuco, político,
diplomata, historiador, jurista e jornalista, um dos fundadores da Academia
Brasileira de Letras, em 20 de julho de 1897: “Privar um poeta de sua língua
é roubar-lhe a metade da alma.” E digo que para mim: “Privar o ato de escrever é roubar a metade de minha alma”.
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DISCURSO DE POSSE NA ALVI - 2013
Marilucia Flenik1
Prezada Profa. Leni Trentim Gaspari, prezados componentes da
Academia de Letras do Vale do Iguaçu, autoridades presentes, Senhoras e
Senhores.
Com elevada honra ocupo a Cadeira nº 17 da Academia de Letras
de União da Vitória, cujo patrono é o poeta paranaense Paulo Leminski
Filho, e o seu fundador, o Prof. Armindo José Longhi.
O Prof. Armindo é gaúcho de Vacaria, filho de José Longhi e de
Lidia Boff, nascido no ano de 1959. Mestre em Filosofia pela Universidade
Federal de Santa Maria e Doutor em Educação pela UNICAMP. Filósofo
e educador. Tais palavras marcam a sua biografia e por si só estampam a
grandeza de sua pessoa.
O amor à sabedoria, o taumatzhen originário de quem se confronta
com os acontecimentos e os interroga, sempre foi a mola propulsora da
filosofia. Por sua vez a educação é a mais nobre das tarefas, pois toma a si
o encargo de compartilhar a cultura, tanto no que diz respeito à evolução
da pessoa ao longo de sua vida, quanto ao acolhimento das novas gerações
que precisam apropriar-se desse extenso cabedal cultural, que é o mundo
em que vivemos.
A obra literária do Prof. Armindo tem sido de valiosa contribuição
para a arte cotidiana do aprender. Além da sala de aula, participa como
pesquisador, orientador e coordenador de projetos de pesquisas.
É autor de livros e artigos, uma produção literária dedicada à educação
e às letras, que muito engrandece a Academia de Letras do Vale do Iguaçu.
Acerca de nosso patrono, Paulo Leminski Filho, devo dizer que
nasceu em Curitiba, no dia 24 de agosto de 1944, e morreu no dia 7 de
junho de 1989, com apenas 44 anos de idade. Neto de colonos poloneses,
tinha ascendência negra, por parte da mãe. Seu pai era militar, e talvez por
esse motivo tenha passado parte de sua infância no interior de Santa Catarina. Leminski foi seminarista da Ordem dos Beneditinos e ali iniciou seus
estudos de latim e grego.
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 17, tendo como patrono Paulo Lemninski.
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Exerceu o magistério em várias cidades do Paraná, especialmente
em Curitiba. Foi professor de História e redação em cursos pré-vestibulares, diretor de criação e redator de publicidade. Escrevia para o Folhetim
da Folha de São Paulo, e resenhava livros de poesia para a revista Veja. Seus
primeiros poemas foram publicados na revista Invenção, em 1964, então
porta-voz da poesia concreta paulista.
Retrato dos valores contraculturais e libertários da década de sessenta, Leminski tinha prazer em provocar polêmicas. Sua autodefinição
diz:
O pauloleminski é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhadaputa
de fazer chover
em nosso piquenique
E escreve:
quando eu tiver setenta anos
então vai acabar essa adolescência
vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência
vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito
vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito
então ver tudo em sã consciência
quando acabar essa adolescência.
Parodiando Braz Cubas, o personagem de Machado de Assis, Leminski poderia dizer no seu réquiem: não concluí o Curso de Direito, abandonei diversas vezes o Curso de Letras, não fui o que os meus pais queriam
que eu fosse.
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Mas, diferentemente de Braz Cubas, por ter sido poeta, escritor,
professor, compositor, publicitário, Paulo Leminski Filho nos deixa um
legado de valor inestimável. Uma obra volumosa e plural, que domina a
norma culta, mas sabe usar o linguajar do cotidiano, chegando às vezes a
ser desbocado.
Faixa preta de judô, Leminski foi um aficionado das artes orientais.
Dali a disciplina, a precisão, a competência de quem usa a linguagem como
um mestre; mas, ao mesmo tempo, ele apresenta a sagacidade do malandro
brasileiro, capaz de surpreender, numa gingada, e dizer o inusitado.
Leyla Perrone-Moisés bem o definiu:
“Samurai e malandro, Leminski ganha a aposta do poema, ora por
um golpe de lâmina, ora por um jogo de cintura. Tão rápido que nos pega
de surpresa; quando menos se espera, o poema já está ali. E então o golpe
ou a ginga que o produziu parece tão simples que é quase um desaforo.”
A forma breve concretiza a poesia e a faz uma obra de arte no papel.
Como publicitário, soube como ninguém distribuir as palavras de forma
gráfica, fazendo da poesia o instante em que o dito está além das palavras e
expressa a pura emoção.
Também escreveu romances e a prosa experimental de Catatau chamou a atenção dos tropicalistas Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Moraes Moreira, com quem Leminski passou a ter um contato estreito. Glauber
Rocha, cineasta, e Jorge Mautner, escritor e compositor, fizeram questão de
conhecê-lo pessoalmente. A casa onde morava com Alice Ruiz, em Curitiba,
passou a ser parada obrigatória de todos esses artistas, quando em viagens
pelo sul do país. Esse contato com compositores da MPB fez crescer seu entusiasmo por compor letras e canções, atividade que já desenvolvia junto ao
grupo Chave, de Curitiba. Quem não conhece os versos desta canção:
um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante
carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisas que os valha
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ópios edens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra
Em 1984, Leminski lançou o seu segundo romance: Agora é que são
elas. Muito criticado na época, o livro prenuncia uma nova narratividade,
ligada aos meios de expressão contemporâneos. Criou um gênero literário,
diferente do conto e do romance da época moderna. Leminski, como todo
gênio, esteve adiante do seu tempo.
Viveu com a poeta Alice Ruiz, por vinte anos, com a qual teve um
filho e duas filhas. A morte de seu filho Miguel, de leucemia no ano de 1977,
fê-lo voltar a beber, no ano seguinte, o que acabaria abreviando a sua vida.
Finalmente, a separação conjugal fê-lo mudar-se para São Paulo,
em 1988. Trabalhou como colaborador do Jornal de Vanguarda, na Rede
Bandeirantes, e, em um breve momento de reconciliação com Alice Ruiz,
selecionaram juntos os poemas que seriam publicados postumamente sob
o título de La vie en close.
Morreu no dia 7 de junho de 1989, após uma vida intensa, que
pode ser lembrada com os seus versos:
minhas 7 quedas
minha primeira queda
não abriu o paraquedas
daí passei feito uma pedra
pra minha segunda queda
da segunda à terceira queda
foi um pulo que é uma seda
nisso uma quinta queda
pega a quarta e arremeda
na sexta continuei caindo
agora com licença
mais um abismo vem vindo
202
A respeito de Marilúcia Flenik, posso dizer que tenho o mesmo
espírito inquieto do poeta Leminski, porém, aliado à disciplina e ao amor
pelo estudo do Professor Armindo Longhi.
Nenhuma genialidade. Apenas o amor pela Sabedoria e pelo trabalho.
Desde a minha infância tive o privilégio de contar com um professor, o Prof. José Nicolas, que abriu a sua biblioteca particular para a pequena polaquinha, que levava o litro de leite a sua porta, todos os dias.
Ali me deparei com as obras completas de Machado de Assis, José
de Alencar, e demais autores, cujos livros, com capas de couro e papel de
arroz, nunca mais esqueci. O mundo encantado da literatura a minha disposição. Com doze anos curti ler Os Sertões de Euclides da Cunha e Casa
Grande e Senzala de Gilberto Freire. Nunca mais parei. Quando cursei Pedagogia, nos anos de 1970, descobri a Filosofia e me encantei. Li escondido
o Capital de Karl Marx. Eram os anos sombrios da ditadura e, se alguém
ousasse falar em socialismo estaria preso no dia seguinte, no 5º Batalhão de
Engenharia e Combate.
Das muitas coisas que fiz na vida, em termos profissionais, ser professora é a minha maior vocação. Compartilhar saberes. Poder dizer com
Rubem Alves, que o professor é aquele que, de repente, aprende. Somos
eternos aprendizes e, enquanto perdurar a curiosidade, estaremos mantendo a vitalidade e a alegria de viver.
Agradeço aos nobres pares a escolha que fizeram pela minha pessoa para ocupar a cadeira nº 17 da Academia de Letras do Vale do Iguaçu.
Neste espaço poderei cultivar o meu amor pelas letras, pela cultura, pela
história, e estarei entre amigos.
O ser humano se realiza quando deixa atrás de si um traço digno
de ser lembrado. Somos pó e ao pó voltaremos. No entanto, ao viver, cada
um assume a tarefa de potencializar em si mesmo, a criatura humana. As
escolhas que cada um faz na sua vida são os seus fios que entram na composição da trama do mundo.
A vida segue o seu curso normal e nós nos eternizamos nos nossos
filhos e netos. A minha família é o meu porto seguro. Nossa morada está
construída sobre a rocha, no sentido bíblico.
“Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude, e ainda que
os montes se transportem para o meio dos mares. O Senhor dos Exércitos
está conosco: o Deus de Jacó é o nosso refugio.” Estas palavras do Salmo 46
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estão presentes em minha vida, desde o momento em que deixei a casa de
meus pais e formei a minha própria família.
O Deus de meus pais, a significar os valores que herdei e que são o
norte de minha vida, e que vivencio em âmbito familiar, entre os amigos,
nas salas de aula e nos tribunais.
Nestes meus sessenta anos de idade, aprendi a conviver com as vicissitudes da vida. Tal qual o super homem de Nietzsche, sou uma mulher
viajante, que sabe esperar pelo sol, ainda que em meio das maiores tempestades. Escalar, escalar, subir, subir, sempre seguir adiante...
No seu livro, Assim falou Zaratustra, Nietzsche escreve:
“Eu sou um viajante e um escalador de montanhas. Cada qual vive
unicamente a si mesmo. O meu próprio ser está, enfim, de regresso, e quanto dele próprio andou durante muito tempo por estranhas terras e disperso
entre todas as coisas e todas as contingências.
Agora preciso seguir o meu caminho mais rigoroso! Começou a
minha viagem mais solitária.’ Segue o teu caminho de grandeza, o que veio
agora a ser o teu último refúgio, que até aqui se chamou o teu último perigo! Segue o teu caminho de grandeza: a tua melhor animação agora é não
existirem caminhos atrás de ti!... E se, mais adiante, te faltarem todas as
escadas, será preciso saberes subir sobre a tua própria cabeça; senão, como
quererias seguir adiante? Sobre a tua própria cabeça e por cima do teu próprio coração. [...]
Tu, Zaratustra, que querias ver todas as razões e o fundo das coisas, precisas passar por cima de ti mesmo, e ascender, ascender até as tuas
próprias estrelas ficarem abaixo de ti! ‘Sim! Ver-me a mim próprio, e até as
minhas estrelas, olhando para baixo! Só isso chamo o meu cume; é esse o
último cume que me falta escalar.’”
Assim é a vida. Como afirmou Leminski,
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino
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DISCURSO DE POSSE DA ALVI - 2013
Margareth Rose Ribas1
Boa noite, professora Leni, presidente da ALVI, assim cumprimento todos os meus confrades e confreiras, demais autoridades e todos os presentes.
Ocupo a cadeira número 40, que tem como patrono o doutor João
Túlio Marcondes de França, nascido em União da Vitória, em 1888, e falecido em Guarapuava, em 1931.
João Túlio Marcondes de França foi formado em Direito, professor,
poeta e escritor.
Foi promotor público em União da Vitória. Exerceu o cargo de Juiz
de Direito nas comarcas de União da Vitória, Palmas, Lapa, Foz do Iguaçu
e São José dos Pinhais, e o cargo de juiz da 3ª Vara Criminal de Curitiba.
Publicou “As Quatro Cidades do Vale do Iguaçu”, trabalho que focaliza diversos aspectos socioeconômicos do sul do Paraná. Em 1924, publicou “Decisões”, sentenças e despachos jurídicos. A Coleção Vale do Iguaçu,
da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória,
publicou, em 1974, sua obra inédita de versos, intitulada “Flores de Inverno”. Em 1947, o Ginásio Estadual de União da Vitória (fundado em 1945),
passou a chamar-se Ginásio Estadual Túlio de França em sua homenagem.
O acadêmico fundador e primeiro ocupante dessa cadeira foi o
professor Nelson Antonio Sicuro.
Nasceu em Bateias de Baixo, município de Campo Alegre, Santa
Catarina, em 1936, e faleceu em Curitiba, no dia 28 de novembro de 2011.
Formado em Filosofia Pura, Direito, Letras – Português e Francês,
Língua e Literatura Francesa, pela Université de Nancy, pós-graduado em
Língua Portuguesa pela Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Professor do Colégio Estadual Túlio de França, Colégio Cid Gonzaga, professor e diretor da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e
Letras de União da Vitória, da Faculdade de Ciências Administrativas de
Canoinhas, Santa Catarina, da Fundação Universitária do Planalto Norte
Catarinense – FUNPLOC, atual Universidade do Contestado.
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 40, tendo como patrono João Túlio
Marcondes de França
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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•
•
Suas publicações:
Antologia do Vale do Iguaçu, juntamente com o professor
Francisco Filipak.
• Grafia Fonêmica da Língua Portuguesa do Brasil.
• Esboços de uma Ortografia Fonêmica.
• Explicação de Textos – autores brasileiros.
• Prismas – volumes 1 ao 7.
• Gramática & Gramática.
• A (evoluída) gramática caipira. In: Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu.
• Grafia fonética da língua portuguesa no Brasil. In: Revista da
Academia de Letras do Vale do Iguaçu.
O professor Nelson acreditou que “...Dentre os valores permanentes
da humanidade, destacam-se as obras de arte. Talvez porque estas colaboram
com o despertar e elevação da consciência humana pela percepção da beleza,
sentimento universal que ultrapassa todas as fronteiras geográficas, políticas,
raciais, filosóficas, ideológicas e religiosas.”
Dizia o professor Nelson: “...a música, como as demais artes, pode
elevar e aperfeiçoar o espírito humano pela percepção do Belo. Quanto mais
alta a inspiração da música e quanto mais apurado o nível artístico da composição, orquestração e interpretação... mais a música tem o poder de levar
as pessoas à percepção da Beleza e, com isso torná-las melhor.” Foi um verdadeiro amante da música e participou de vários grupos musicais, incentivando jovens músicos, liderando e formando orquestra.
Sinto-me honrada em participar da Academia de Letras do Vale do
Iguaçu, e compreendo muito bem a importância da ALVI perante a comunidade. Tive a honra de participar da Academia, mesmo não sendo ocupante de cadeira, desde o início da sua implantação. Lembro do primeiro
telefonema que o doutor Túlio Vargas deu ao meu pai, Joaquim Osório
Ribas, que foi o primeiro presidente desta Academia.
Acompanhei todos os passos, todas as reuniões que eram feitas
nesta casa, para esclarecer o funcionamento, o objetivo, a filosofia e o idealismo da Academia. Incentivar a escrever... escrever e escrever.... contos,
fatos históricos, poemas, poesias, artigos. Pesquisar e divulgar!... e o doutor Túlio Vargas disse que a Academia deveria andar sempre junto com
as artes, que em todas as sessões solenes deveria ter uma apresentação
artística!... e a ALVI tem colocado números artísticos em todas as sessões
solenes!
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Durante um ano foram muitos contatos, reuniões com um grupo
de intelectuais das nossas cidades, meus confrades e confreiras fundadores
da ALVI.
Em nossa casa, na hora do almoço o assunto diariamente era a
Academia. A minha filha, então com 7 anos de idade, adorava atender o
telefone, sentia-se a secretária do avô, e certo dia, toda orgulhosa, chamou:
“vô... o Getúlio Vargas está no telefone...” riso geral, sabia que era um
telefonema muito importante! Noutra feita, também na hora do almoço,
disse prá avó: “agora o vô e os amigos dele só pensam em academia, a
senhora pode imaginar eles fazendo tanta ginástica? E começou a fazer
alongamentos e flexões.....”
Sim, era o que tinha nos pensamentos da minha pequena, mas quero dizer que ainda hoje muitos não sabem o que é a Academia de Letras e
qual a sua função na sociedade! “Nulla dies sine línea” – Nenhum dia sem
uma linha!!
Sou uma privilegiada por pertencer a este grupo e sei que vou
aprender muito com vocês e aproveitar a oportunidade para continuar divulgando a arte musical, que é a minha missão!!
Quero parabenizar os confrades e confreiras fundadores da ALVI,
e principalmente, o meu pai e a Therezinha Wolff, que foram os grandes
líderes na realização deste ideal que hoje está consolidado, com a ajuda de
muitas mãos!
Encerro com a poesia Mãos:
MÃOS
Mãos se tocam... Trocam carícias
Tornando deliciosos momentos
Os inocentes ou os com malícia
Motivando o nascimento...
De um belo rebento!
Com todo cuidado... Movimentos bem treinados.
As mãos do médico são as primeiras
A tocar naquele tesouro, mais valioso que o ouro.
Entregando à mãe altaneira!
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Que o segura com desvelo... Ajeitando o bico do seio.
Mãos cuidadosas pegando no colo...
Segurando com carinho as mãos do pequenino
Seja na cama macia ou no áspero solo
Sabe como ninguém tratar do menino
Mãos dedicadas acompanhadas de receios...
Zela com esmero como se fora um paladino
Mãos ajeitando o lápis nas mãos do seu garoto
Sonhando para ele um lindo destino!
Educando para que não seja maroto
As mãos crescem...
Tornam-se altaneiras ou traiçoeiras
Independentes ganham a estrada
Nesta vida passageira!
Vemos braços esticados com mãos abertas
Dedicação, entrega da mãe sempre alerta!
Mãos suadas e calejadas... Pelo trabalho pesado
Insensível a qualquer dor...
Mãos batalhando pelo pão... Com muito amor!
Mãos molhadas de suor frio
Pelas emoções... Tensões... Arrepios...
Mãos finas, delicadas... Que seduzem.
Com unhas rubras que reluzem!
Mãos que julgam... Condenam ou absolvem.
Na simples caneta de um juiz!
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Mãos unidas em oração
Implorando ajuda em momentos de desespero e aflição!
Mãos pequenas esticadas ao relento
Pedindo para que saciem a sua fome
Fruto da crueldade do homem!
Mãos solidárias nas calamidades
A enxugar as lágrimas derramadas
Nas catástrofes e imprevistas fatalidades
Doenças a pessoas dizimadas
Que assolam a humanidade!
Mãos de artistas
Pintando, escrevendo e tocando.
Despertando emoções infinitas!
Tantas mãos, tantas missões...
Mãos das minhas confreiras e confrades
Com seus dedos e segredos
Abençoadas sejam todas
Mãos corajosas e sem medo
Registrando a História da nossa comunidade!
Obrigada!
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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SAUDAÇÃO A MARIA TEREZA KRÖETZ BIEBERBACH
ENTREGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE – 2003
Therezinha Leony Wolff1
Dois anos após o Acordo de Limites entre Paraná e Santa Catarina,
tempo em que o charque de primeira era vendido a mil reais, e o leite a
tostões, aqui chegavam Maria Vier Kröetz e Theodoro Kröetz Sobrinho.
Renomado comerciante, fundava uma grande loja de ferramentas, louças e
presentes, a Casa Ferro e a 1ª Concessionária Ford-Central de Automóveis
e Oficinas, “Cenauto”. Concessionária que por mais de 60 anos permaneceu
com a família, tendo recebido, por esse motivo, uma homenagem especial
da Ford do Brasil S/A.
Com o casal Kroetz chegava, ainda menininha, a filha, Maria Tereza, gaúcha de Santa Maria do Herval, município de São Leopoldo, Rio
Grande do Sul. Destinada a receber uma educação esmerada, aos 9 anos,
passa a ter aulas de piano com Frau Meta Wakers e com o professor Walter
Hostffeld. No colégio Santos Anjos, passa toda a sua vida escolar: desde
as primeiras letras até a Escola Normal. Recém-diplomada, deixa aqui a
família e segue para lecionar em Rio Bonito (Tangará), município de Campos Novos. Nomeação feita pelo então Governador de Santa Catarina, Dr.
Nereu Ramos.
Ano seguinte, volta a nossas cidades e cupido a apanha de surpresa.
Corre o ano de 1938. Maria Tereza contrai núpcias com Ernesto Alfredo
Bieberbach, cidadão Joinvilense, também admirador da arte musical, descendente de Ernest Bieberbach, pintor artístico de várias obras, entre as
quais, residências, como a do Castelinho, em Porto União. Logo após o casamento, a jovem senhora leva arte para o Externato Santa Terezinha, com
aulas de canto orfeônico, dança e teatro. Vieram os filhos: Ronald James,
Normam Wilmar, Maria Líris, Roger Luiz, Relindes Celeste e Leacir Mildred. Com tão grande família para atender, embora a coragem e o espírito
forte, difícil conciliar o trabalho fora de casa ou dedicar-se aos estudos de
piano.
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 20, tendo como patrono
Yvonnich Furlani.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Católica praticante, religião e música fazem parte de sua vida. Integrando o Apostolado da Oração, exerce também sua presidência. Juntamente com a Sra. Ofélia Feijó, funda a Liga das Senhoras Católicas de
União da Vitória tendo, inclusive, conseguido o registro da Irmandade em
cartório. Participando do Sagrado Coração de Jesus e, posteriormente, regendo o Coro feminino Stela Maris, abrilhanta, por muitos anos, as missas,
procissões, festas religiosas, cívicas e cerimônias de casamento. O coro, sob
sua regência, se fez presente em vários concursos, deu uma colaboração
importantíssima aos Festejos do Cinquentenário de Emancipação de Porto
União, tendo também gravado um disco.
Com a instalação do Instituto Raul Mensing, em União da Vitória,
Maria Tereza pôde ali concluir seus estudos e, por anos seguidos, lecionar
teoria musical e piano. Quando o Instituto é transferido para Curitiba, Maria Tereza permanece em União da Vitória, como sua supervisora.
O nome de nossa homenageada está tão intimamente ligado à história da música em nossas cidades, que falar de uma é mentalizar outra. Seu
vasto currículo nas participações e realizações, inclui:
-- cursos Internacionais de Verão – de Música, em Curitiba;
-- curso de Canto Pastoral e 1º Concurso de Corais de Porto União
da Vitória;
-- participação no IV Festival de Corais do Vale do Iguaçu, no I,
II e IV Encontro com a Música, promovido pelo SESI de Porto
União da Vitória;
-- participação na II Semana da Cultura- Educação Musical, promovida pelo Centro de Cultura, Arte e Pesquisa e Departamento
de Educação da FAFI;
-- organização do desfile de carros alegóricos da I Semana Vocacional de nossas cidades e da noite “Prata da Casa”, realizada no
Centenário de União da Vitória, e mais tantas outras participações e realizações que levaríamos muito para enumerar.
Seu conhecimento musical reconhecido, levou-a a integrar muitas
comissões julgadoras, nos vários concursos de música e canto, inclusive
quando realizados fora, como os que ocorreram em Francisco Beltrão, para
escolher o Hino do Município; em Lages, para escolher os melhores do
Concurso Novos Intérpretes, e em Monte Negro – Rio Grande do Sul, no 5º
Seminário de Jovens Instrumentistas.
Empresária, por cinco anos, dirigiu e gerenciou a Casa Ferro. Professora, ministrou aulas de canto, em curso de férias, para professoras, no
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Programa de Aperfeiçoamento do MEC, do serviço de Supervisão da Secretaria de Educação e Cultura do Paraná.
A alegria de possuir sua própria Escola de Música aconteceu em
1979. Apoiada pela compreensão e incentivo do esposo, ganhou a clã dos
filhos Ronald e Leacir, de um grupo de leais professores e fundou a Escola
de Música Maria Tereza. Reconhecida pelo Instituto Nacional de Música
e pela Secretaria de Educação e Cultura do Paraná, oferecendo cursos de
piano, violino, flauta, teclado e acordeom, a Escola oportunizou aos alunos
participação em audições musicais promovidas pela Associação das Escolas de Música do Paraná, em Curitiba.
A vida que, para Maria Tereza, tem sido como disse o poeta, “manso lago azul, e algumas vezes, mar fremente”, não a esmoreceu.
Quando todos pensavam que essa mulher guerreira, com nove netos e cinco bisnetos, ao atingir mais ³/4 de século de vida, iria descansar,
maldizendo a velhice que a alcançara, ela, trilhando os caminhos da grandeza cristã, vivenciando princípios de cidadania, foi colaborar com a FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS de União
da Vitória (FAFI), regendo o coral da 3ª Idade. E fez mais: levou-o para
apresentações nas festas natalinas, juninas e missa da Catedral, nas programações artísticas, e com fundos beneficentes.
Maria Tereza, a professora de música, orgulha-se de ter iniciado
os estudos de piano para muitos, hoje cidadãos bem sucedidos em diferentes profissões, como Dr. James Yared, Dr. Célio Waldraff, Dra. Magali
Unterstell Brittes, Dra. Silvia Regina Fagundes, Dr Ari Carneiro, Dra. Ester
Farah, Sra. Neli Sicuro, Sra. Elenara Hirsch, Sr. João Carlos Côas, Sr. Jeffersson Bernardon, Sra. Maristela Corrêa, entre outros. Teve seu empenho
e dedicação reconhecidos em 1996, homenageada que foi com o Troféu
Hermínio Milis.
Hoje, cabe à Academia de Letras do Vale do Iguaçu reconhecer-lhe o mérito, entregando-lhe o Pinhão do Vale. Condecoração instituída
para simbolizar o respeito e a admiração àqueles que muito realizam pela
cultura em suas diversas áreas. E embora cada Comenda deva ser conferida
a uma só pessoa, nos permitimos aqui estendê-la ao casal Maria Tereza e
Ernesto Bieberbach, que unidos pelo amor e a família, por 65 anos sempre
se complementaram nas realizações artísticas e sociais. Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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RELATOS
Conexão Cultural Brasil X Chicago
Ladi Tamara Benda Loiacono1
Alex de Miranda Silva2
Uma das mais significantes mudanças na história das relações do
Brasil e Estados Unidos começou nos anos 80, quando cidadãos brasileiros
migraram para os Estados Unidos. Esse fato, acompanhado pelo aumento
de turistas brasileiros que visitam os Estados Unidos, anualmente, por diversas razões e, a principal delas, o turismo comercial. É estimado que mais
de 1.5 milhões de brasileiros visitaram os EUA em 2013. Em se tratando
de moradia permanente, segundo o Itamaraty, a população brasileira nos
Estados Unidos é de acima de 1 milhão de habitantes. A maioria reside
nos estados de Massachusetts, New York, New Jersey, Flórida e Texas. De
acordo com a Terceira Secretária, Marianne Martins Guimarães, do Consulado-Geral do Brasil, em Chicago, cerca de 50 mil pessoas é a população de
brasileiros que residem nos dez estados da jurisdição que abrange: Illinois,
Indiana, Iowa, Michigan, Minnesota, Missouri, Nebraska, North Dakota,
South Dakota e Wisconsin.
Há 42 anos, foi fundado por Jota Alves, em New York, o jornal The
Brasilians, distribuído mensalmente, para promover e reportar a voz do
Brasil no exterior. Outro jornal de publicação mensal e gratuita é o jornal
Nossa Gente, expedido em Orlando, na Flórida, e tem como seu editor,
Paulo de Souza. São os nossos jornais brasileiros nos EUA. Já em Chicago,
o jornal online Chicagoano, foi fundado por Sérgio Barreto, em agosto de
2011, para destaca a cultura, a arte e a história brasileira. Em seu projeto
mais recente, chamado Brazilophilis, o editor incorporou o Chicagoano
como sessão de notícias locais. O novo veículo visa abranger os acontecimentos brasileiros em todo o território americano.
A participação brasileira na dança e na música é muito significativa.
No verão, acontece o “Chicago Summer Dance”, evento patrocinado pela
prefeitura da cidade, para promover o lazer e as diferentes culturas que a
1
Membro fundadora da ALVI, ocupando a Cadeira nº 23, tendo como Patrono
José Júlio Cleto da Silva.
2
Graduado em Comunicação Social pela UMESP e Vice-Presidente do Partners of
the Americas Capítulo Illinois.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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cidade acolhe. O local vira uma escola de dança a céu aberto. Então, no
dia especial do Brasil, não só brasileiros, mas pessoas de outras nacionalidades, reúnem-se e se divertem no Grant Park, para aprender a dançar
samba, seguindo as orientações da dançarina, cantora e atriz Dill Costa, que
já interpretou diversas personagens em novelas e seriados da Rede Globo e
também foi passista de várias Escolas de Samba, no Carnaval da Marquês
da Sapucaí, no Rio de Janeiro. Do mesmo modo, destacam-se os grupos
musicais, e cantores formados por brasileiros residentes em Chicago, como
o Copacabana Trio, o Chicago Sambae, o mineiro Paulinho Garcia, que foi
agraciado com o prêmio da Imprensa Brasileira de “Melhor Vocalista Brasileiro Internacional de 2013”. Em 2010, na categoria Jazz, recebeu o prêmio
de “Chicagoan of the Year”, pelo Chicago Tribune, o maior e mais tradicional
jornal da região. Continuamente, o grupo “Chicago Samba” também anima
as festas de Carnaval e outras atividades sociais, como o Brasil Fest, que teve
a sua primeira edição apenas em 2012, reunindo vários artistas brasileiros.
Carnaval nos EUA passa despercebido pelos nativos, mas os brasileiros não
deixam passar. A Evanston Escola de Samba se reúne todos os anos, com
carro alegórico e fantasias, para animar, principalmente a criançada, e não
deixar morrer essa cultura de festa durante essa época do ano.
A Capoeira, misto de esporte e dança, também tem espaço em Chicago. O Gingarte, representado pela Mestra Marisa, foi fundado em 1991 e,
além de oferecer aulas, faz apresentações em eventos. Ainda no ramo dos
esportes, o Brasil exportou para Chicago um jogador de baseball, André
Rienzo, um paulistano de 26 anos que foi contratado como arremessador
do time “White Sox”. Em 2013, o total de 567 brasileiros vieram competir
na Maratona de Chicago, um crescimento impressionante comparado com
os 440 atletas que competiram em 2012.
Um dos grupos mais fortes da comunidade se chama “Mães Brasileiras de Illinois,” com pouco mais de 350 mães, que se reúnem eventualmente, para que seus filhos, nascidos nos EUA, cresçam falando a língua
portuguesa e conheçam a cultura brasileira por meio de várias atividades e
eventos, como: contar histórias de livros infantis brasileiros, participar das
festas juninas e de carnaval, futebol para crianças, etc.
No campo da educação, Chicago abriga uma única escola exclusivamente para o ensino do português brasileiro, a Brazil in Chicago, fundada
em 2006, por Marcelo Jarmendia. O local e seu fundador tornaram-se referência de cultura brasileira na região. Marcelo que é formado em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo, foi frequentemente convidado
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para opinar sobre questões que envolviam o Brasil em programas de rádio,
TV e jornais, enquanto residia em Chicago. Além da escola, Marcelo também fundou a primeira Casa de Cultura Brasileira, da qual também fazemos
parte, promovendo nossa cultura por meio de eventos sem fins lucrativos.
Aos domingos, numa das emissoras de rádio FM local, o locutor
e apresentador Scott Adams toca músicas brasileiras, tanto para ouvintes
brasileiros como também para os ouvintes americanos que gostam da nossa melodia.
Entre os meses de junho e julho deste ano, durante a Copa do Mundo, cerca de 21 mil americanos se inscreveram diariamente, em todos os
consulados dos Estados Unidos, para adquirir o visto brasileiro. A demanda para conhecer o Brasil continua após a Copa do Mundo, porque os americanos sentiram-se atraídos pelas imagens das belezas naturais do Brasil,
mostradas durante os jogos de futebol, pela Internet e pelas emissoras de
TV. Veremos o número de turistas crescer consideravelmente nos próximos
anos, ponto positivo para o Brasil nesse quesito. Juntamente com todos esses esforços de não deixar morrer a nossa cultura entre os compatriotas,
o Brasil conta com um poderoso aliado estadunidense, a instituição não
governamental, Partners of the Americas.
A conexão dos Parceiros das Américas (Partners of the Americas)
com o Brasil vem de longa data, desde 1964, quando o então presidente
John F. Kennedy idealizou o projeto “Aliança para o Progresso”, uma iniciativa de cooperativismo, para desenvolver os países sul-americanos. Esse
plano consistia em parcerias políticas entre estados americanos e estados
brasileiros e outros países da América do Sul. Com o passar dos anos, a
“Aliança para o Progresso” cresceu e se transformou de estratégia política
internacional na organização sem fins lucrativos Partners of the Americas,
que este ano completa 50 anos de existência. Seu lema é conectar, servir e
mudar vidas. Tal missão reflete-se em seus projetos culturais, de agricultura, sustentabilidade, arquitetura e urbanismo, entre outras atividades de
responsabilidade social.
Cada estado brasileiro possui um parceiro, como, por exemplo, a
contraparte do Estado do Paraná é Ohio; já a de Santa Catarina é Virgínia.
Aqui, em Illinois nós somos membros do capítulo que é coligado com o Estado de São Paulo, e nos últimos anos, temos participado ativamente dessa
organização, como voluntários, mais precisamente na “Mostra de Filmes
Brasileiros em Chicago”, dito como um dos projetos de maior sucesso de
toda a instituição atualmente.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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A “Mostra de Filmes Brasileiros em Chicago” é um projeto educacional, fundado por Ariani Friedl, uma gaúcha que vive na cidade, há
mais de 50 anos. Seu objetivo principal é trazer filmes que possuam temática sociocultural e que dificilmente serão exibidos nos cinema dos
EUA. Em 2010, o evento começou com pouco mais de 5 filmes e uma
audiência tímida de 20 pessoas em cada exibição; já em 2013, houve um
aumento de aproximadamente 300% em cada apresentação, em comparação com a primeira edição.Mais de 200 pessoas assistiram aos filmes
das noites de abertura e encerramento. Durante os 13 dias do evento do
ano de 2013, mais de 25 filmes, entre ficções, documentários e animações
longas e curtas-metragens foram exibidos nos 14 locais de exibição, que,
em sua maioria, são grandes e renomadas universidades, consideradas as
mais importantes do país. Além de recebermos a visita de ilustres diretores, produtores e críticos de cinema, que desempenham papel exemplar
na atual indústria do cinema brasileiro. Para citar um desses convidados
especiais, escolhemos Franthiesco Ballerini, jornalista e mestre em comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo, autor de dois livros:
Diário de Bollywood – Curiosidades e Segredos da Maior Indústria de
Cinema do Mundo e o mais recente título: Cinema Brasileiro no Século
21. Ballerini foi peça fundamental na última mostra de filmes brasileiros,
pois proporcionou verdadeiras aulas sobre a história e a evolução do cinema nacional, deixando o público mais cativado e curioso para conhecer
o maior país da América Latina. Inclusive, em um dos jornais locais de
circulação gratuita, o Chicago Reader, seu jornalista especialista em cinema, Ben Sachs, dedicou três colunas, em diferentes dias, para reproduzir
toda a entrevista com Ballerini. Um documento para ficar guardado na
história.
Não só os Parceiros das Américas, mas também o Consulado-Geral do Brasil em Chicago considera hoje a “Mostra de Filmes Brasileiros
em Chicago”um dos projetos culturais mais importantes em toda a jurisdição, pois além dos filmes que ensinam sobre o Brasil, de forma prazerosa,
os departamentos de português e estudos latinos das faculdades transformam o dia de exibição do filme em uma verdadeira experiência brasileira,
oferecendo comidas e bebidas típicas. Muitos alunos, apaixonados pelo
Brasil, também fazem shows, sempre com músicas brasileiras. É gratificante e uma honra imensa ver como americanos e tantos outros povos
apreciam nossa cultura, tentam esforçadamente aprender nossa língua,
cantar nossas músicas, e amam nosso jeito de tratar o próximo.
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Considerada uma cidade modelo para a arquitetura mundial, Chicago recebeu recentemente a arquiteta paulista, Cristina Ortega, via intercâmbio patrocinado pelos Partners of the Americas, para um seminário
exclusivo sobre a renomada designer e arquiteta italiana, radicada no Brasil,Lina Bo Bardi, famosa mundialmente pelo seu reconhecido trabalho realizado em São Paulo.
Ainda no campo da sétima arte, o ano todo, alguns filmes brasileiros são exibidos em festivais internacionais de cinema, como o “Chicago
International Film Festival”e o “Chicago Latino Film Festival”. Este último
reúne filmes de toda América Latina em um evento consagrado, que em
2014 comemorou seu 30º aniversário.
Outras formas de expressão artística passam por aqui casualmente.
Em 2013, o dramaturgo Felipe Sant’Angelo, de São Paulo, foi convidado para
participar do projeto “International Voices Project”, com sua peça: Artista
– Um Drama Pequeno Burguês. Seu texto foi traduzido e interpretado por
atores americanos. No campo das Artes Plásticas, a artista contemporânea
e ativista ambiental, Denise Milan, expôs sua coleção, “Mist of the Earth”em
uma das galerias do Chicago Cultural Center, que é um marco da cidade e
ocupando um edifício centenário. Um misto de fotografias e colagens que
retratam a beleza natural do Brasil e sua cultura miscigenada expressam o
olhar de Denise, deixando todos os visitantes encantados e curiosos sobre a
nossa terra.
Chicago é a quinta cidade que mais recebe brasileiros nos EUA. Todos os dias centenas de brasileiros desembarcam na “cidade dos ventos”, em
voos que saem diretamente de São Paulo e do Rio de Janeiro. Tal fato chamou a atenção do atual governador de Illinois, Pat Quinn, que em setembro
de 2012 visitou alguns estados, como: Recife, Brasília e São Paulo, em uma
missão diplomática de negócios e intercâmbio cultural. A iniciativa de estreitar os relacionamentos com o Brasil, provou-se acertada e cheia de sucesso.
Contratos foram fechados com agências de turismo e também com universidades. Esse acordo entre as duas nações reservou aproximadamente U$
155.000 em bolsas de estudos,especialmente para brasileiros, o que de fato
resultou em um aumento considerável de nossos alunos no Estado de Illinois.
Para alimentar a alma e o espírito, existem as mais variadas formas
de expressar a fé. A mais popular de todas é o catolicismo, assim como no
Brasil. Duas vezes por mês, a Paróquia de St Charles Borromeo, localizada
no município de Melrose Park, reza missas em português, para os brasileiros católicos.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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Já, para alimentar o corpo, existem tanto famosas churrascarias
brasileiras, como: Texas de Brasil, Fogo de Chão, quanto restaurantes especializados em nossa culinária. Entre eles estão: Taste of Brasil, Sabor
Express, Brasil Legal e Sinhá Elegant Cuisine. Este último, é um dos mais
solicitados nos eventos mais importantes da cidade. Sua bem sucedida
proprietária, Jorgina Pereira, possui uma elegante cozinha brasileira, com
fino sabor internacional, que se tornou uma referência de nossa culinária.
Com o Brasil sediando a Copa do Mundo, é notável que nossa
cultura veio a ser centro das atenções, em todo o mundo, e por aqui não
foi diferente. Em 2014, recebemos desde o “Primeiro Simpósio Internacional de Candomblé”, uma religião pouco conhecida entre os americanos,
porém igualmente respeitada, quanto diversas empresas brasileiras, que
participaram de feiras e convenções de negócios, fazendo com que nosso
país aparecesse com mais frequência nos noticiários locais.
Quando sentimos falta da nossa terra natal, começamos a dar valor às pequenas coisas, e um dos grandes prazeres que temos, é quando
estamos caminhando pelas ruas da cidade de Chicago e de repente, ouvimos alguém falando português, ou quando entramos em uma loja ou
restaurante, e está tocando alguma melodia da inconfundível bossa nova.
Ao nos depararmos com Gisele Bündchen estampando uma grife de roupas, ao dobrar uma esquina. Quando vamos ao cinema, teatro ou museu e
prestigiamos nossa cultura, é uma quebra de rotina que revigora. É a mais
pura e plena adição simplória ao cotidiano, que nos leva de volta ao Brasil,
de forma nostálgica; uma sensação que se assemelha àquela quando revisitamos nossa infância.
Referências
http://brazilophiles.com/
http://brazilophiles.com/blog/2013/10/14/brazil-chicago-marathon/
http://www.chicagoreader.com/Bleader/archives/2013/11/14/a-conversationhttp://www.denisemilanstudio.com/assets/files/denise-milan-press-release-mist-of-the-earth-pt.pdf
222
http://gingartecapoeira.org/
http://www2.illinois.gov/gov/exports/Pages/Brazil.aspx
http://thebrasilians.com/
http://www.nossagente.net/
http://www.partners.net/partners/History.asp
http://www.parishesonline.com/scripts/hostedsites/org.asp?ID=5467
http://www.paulinhogarcia.com/who-is-paulinho-garcia
http://www.chicagoreader.com/Bleader/archives/2013/11/14/a-conversation-with-brazilian-film-critic-franthiesco-ballerini-part-one
http://pt.wikipedia.org/wiki/Andr%C3%A9_Rienzo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Lina_Bo_Bardi
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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THEREZINHA CARTONERA
Therezinha Thiel Moreira1
O Professor Dr. Caio Ricardo Bona Moreira, em viagem a Buenos
Aires, teve a oportunidade de conhecer o Projeto Eloisa Cartonera. Voltando a União da Vitória, trouxe consigo a ideia do Projeto Cartonera para o
Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu, criando, assim, a Editora de
Livros Artesanais Therezinha Cartonera.
O Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu foi criado em 2010,
um projeto cujos objetivos são: mapear, investigar e divulgar a produção
literária local; ofertar oficinas poéticas para as escolas públicas da região,
tendo em vista o incentivo à leitura e à produção literária em sala de aula.
Projeto esse que faz parte do PIBID (Programa Institucional de Iniciação à
Docência), promovido pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior).
Em maio de 2013 foram distribuídas, extraoficialmente, algumas
dezenas de livros, já da edição Therezinha Cartonera, em Curitiba, no
evento do PIBID-UNESPAR.
Em Minas Gerais, no ENALIC (Encontro Nacional de Licenciatura), já haviam sido distribuídos alguns exemplares da coleção, inclusive,
para alunos de outros estados.
Dia 28, às 20 horas, quando do 13º Aniversário da ALVI, aconteceu
a lançamento oficial do Projeto Therezinha Cartonera, no Salão Nobre da
Fundação Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória,
contando com a presença de acadêmicos do Curso de Letras, bolsistas, confrades e confreiras da Academia, parentes e amigos da professora homenageada. Na ocasião foram entregues dezenas de exemplares de livros da
coleção.
Participantes do primeiro momento do projeto:
• Coordenador Professor: Dr. Caio Ricardo Bona Moreira.
• Professoras Supervisoras: Bernardete Dolinski, Eliane Afonso
Smykaluh e Jerri Cristina Renner. Acadêmicos bolsistas: Amos
Ribeiro, Ana Carolina Kostesk, Eunice Siemiatkoski, Fernanda
Membro da ALVI, ocupando a Cadeira nº 13, tendo como Patrono Germano
Wagenführ.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
225
Carolina de Almeida Andrucho, Flávia Thais Carneiro, Gabrieli
Margarida Zanella, Giliandra Aparecida da Cruz Weisshaar, Gilmar Pereira de Souza, Guido Rafael Ressel, Jessé Antônio Maciel, Jéssica Correia da Luz Azeredo, Jéssica Margarida Zanella,
Josiele Scheuer, Juciele Gemniczak, Juliana Savi, Katia Emanoeli
Campos Grobe. Lais Silva, Mariane Gomes, Rafael Horácio Rodrigues dos Santos, Valquíria Amanda Cordeiro.
Foto 1: Professora Therezinha Thiel Moreira, com a participante
do Projeto Jessica Magarida Zanella, quando do lançamento do
Projeto momento em que a professora e poetisa recebe o volume
de nº 01 da Coleção Therezinha Cartonera, com a assinatura
de todos os participantes do projeto.
Fonte: Acervo próprio.
Em 31 de março de 2013, os integrantes do Projeto promoveram
a 1ª Intervenção Poética em União da Vitória, quando foram distribuídos
pela cidade 600 exemplares do 1º volume da coleção Therezinha Cartonera
distribuídas. Em seguida, reunidos na Praça Alvir Riesemberg, promoveram uma série de atividades culturais com a população que por ali transitava. Seguem duas fotos desse evento.
226
Fotos 2 e 3: Intervenção Poética
Fonte: Acervo projeto
Uma segunda edição da Coleção Therezinha Cartonera (edição
especial) em contos, de escritores locais dará sequência às atividades com
novos bolsistas do Projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu- 2014.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
227
Quem é Therezinha Cartonera?
“Nascida em Santa Catarina
Em um lugar: Uruguai
Que nem no mapa está.
Nasceu Therezinha Thiel.
Moça, veio ao Paraná.
Deixando de ser solteira
Acrescentou ao seu nome, Moreira.
Anos...se passaram...
Não mais Therezinha Thiel...
Não mais Therezinha Thiel Moreira...
Conhecida será por muitos...
Lembrada será nos tempos por
Therezinha Cartonera”.
Foto 4: Therezinha Thiel Moreira.
Fonte: Acervo próprio.
Como fiquei sabendo da homenagem?
Em fevereiro de 2013, mais precisamente, no dia 15, o Professor
Caio me envia a seguinte mensagem, via facebook:
Olá, professora Therezinha, escrevo esta mensagem para comunicar à senhora que estamos organizando um livro artesanal,
com capa de papelão e capa a guache, com poemas inéditos de
poetas da cidade, a ideia e que os alunos de nossas oficinas ilustrem a capa. O livro será distribuído gratuitamente na cidade.
É uma publicação inspirada na coleção Eloisa Cartonera, de
Buenos Aires, e na coleção Catarina Cartonera de Florianópolis.
Decidimos, em homenagem à senhora, intitular a nossa coleção
de Therezinha Cartonera. Espero que a senhora fique feliz com a
homenagem do Projeto Memórias Poéticas...
O Dr. Odilon Muncinelli, em sua coluna Milho no Manjolo, do
Jornal O Comércio, no dia 22 de fevereiro de 2013, faz também alusão, com
um comentário do qual extraímos alguns trechos:
228
Poetas do Iguaçu- Sob a liderança do Professor Caio Ricardo
Bona Moreira está-se organizando um livro artesanal [...], em
homenagem à poetisa Therezinha Thiel Moreira, membro da
Academia de Letras do Vale do Iguaçu [...] O livro será distribuído gratuitamente nas escolas, praças, pontos de ônibus, restaurantes, bares, hospitais... O nome Therezinha foi escolhido para
homenagear uma das poetisas regionais, por seu talento e por ser
muito querida pelos integrantes do projeto.
Não resta a menor dúvida de que, ao dar início ao Projeto Therezinha Cartonera, o Professor Caio imaginou a dimensão que ele alcançaria.
Com ele, a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de União da Vitória, a
Academia de Letras do Vale do Iguaçu, a Cidade de União de Vitória, e meu
nome, cruzaram as fronteiras do país e do continente.
Quando olhamos o lado pedagógico do projeto, vemos que atinge
vários níveis de escolaridade, desde o fundamental até o mestrado; senão
vejamos: primeiramente com seus alunos no Curso de Letras, depois estes
com alunos do Ensino Fundamental, e professores cursando mestrado, trabalhando com essa temática.
FotoS 5 e 6: Aplicação do projeto em nível universitário
e em nível fundamental.
Fonte: Acervo projeto
Podemos perceber quantas habilidades e atitudes poderão ser desenvolvidas quando da aplicação do projeto: socialização, parceria, responsabilidade, compromisso, criatividade, organização, persistência, alegria,
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
229
dinamismo. Quantos objetivos poderão ser atingidos? Quantas metas poderão ser alcançadas? Quantos poetas floriram ou poderão florir em meio
a esse festival de atividades?
Foto 7: Visita da Professora Therezinha à
turma de alunos do Projeto PIBID 2014, em 16-05
Ao Professor Caio Ricardo Bona Moreira todos os louros desse
projeto vitorioso que, com muita honra, leva meu nome.
Sua criatividade não tem limites. além da coleção, formou agora
uma seleção: Therezinha Cartonera Futebol Clube. Seleção essa onde ele
é o técnico e os poetas locais os jogadores. Seleção para ninguém colocar
defeito!
Agradeço de todo o coração.
REFERÊNCIAS
BONNA, Caio Ricardo Moreira. Facebook – 15.02.2013
MUNCINELLI, Odilon. Coluna Milho no Monjolo. Jornal O Comércio –
22.02.2013
ZANELLA, Jessica Margarida; Conversas eventuais.
http://therezinhacartonera.blogspot.com.br/
https://maps.google.fr
www.eloisacartonera.com.ar
230
BIOGRAFIA
QUEM ERA EUGÊNIO SCHUWALÓFF?
“DURA VERITAS, SED VERITAS”
Pedro Carlos Bruno Mrosk1
Existem verdades e verdades, umas que agradam e outras de que
poucos gostam. Muitas vezes, as que custam a ser descobertas e aceitas, são
as que demoram a vir à luz do dia, mediante provas e testemunhos.
Enfim, chegou o dia que vai abrir a porta que, cerrada por longos
anos, deixará cair luz sobre um assunto que pode ser classificado como
vergonhoso para a arte, uma família, e as Cidades Gêmeas.
É bem possível que aqui, hoje, eu seja um dos poucos ainda vivos
que conheceram Eugênio Schuwalóff, pois há quase meio século que o PAI
DA PINTURA DO VALE DO IGUAÇU despediu-se deste mundo.
Neste momento, podemos buscar na lembrança, na memória, as
palavras do Divino Mestre ante os “Juízes-de-plantão” que estavam prontos
para apedrejarem a pecadora: “Entre vós, quem não tiver pecado, que lance
a primeira pedra!” Um atrás do outro, saíram quietinhos todos eles.
Meus amigos - é tão fácil fazer justiça, principalmente, quando o
“pecado” chegou pelos ventos e não se tem certeza qual é, e se tem mesmo
algum pecado ou um pecador a ser punido. No caso, logo no começo, Eugênio Schuwalóff foi visto na rua, andando com dificuldade, e foi logo julgado
“alcóolatra”. Assim, nem era bem conhecido ainda.
Caso esteja aqui presente alguém que o tenha conhecido o suficiente e se considere habilitado, ou seja, habilitado a algum julgamento,
mas falando, porque conheceu Eugênio Schuwalóff como ninguém, e como
co-partícipe em termos de conhecimento e vivência. Chegou a hora de limpar - para assim dizer - o nome de Schuwalóff. Para começar, para poder
dar continuação às narrações que apresentarei, comecemos com o nome
dele: é Iewguên Schuwalow.
Vou justificar, ou melhor dizendo, explicar: citarei nomes e mais
nomes, de pessoas, de localidade, de paisagens e outros, e não é correto
eu querer abrasileirar tudo isso, se todos nós já criticamos quando lemos,
onde quer que seja, o nome BRASIL com “Zê”.
Pintor e escritor, ver obra: Livro Entrevistando a Arte, Ed. 2014, autora Ivanira
Tereza Olbertz.
1
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
233
Pela mesma razão, não chamarei o imperador da Rússia de “Quezar”, pela seguinte razão: escrito com “CZ”, o mundo instruído lerá como
“TSCHAR”, o que é ridículo. O pior é que está assim até nas enciclopédias
- fui buscar. Na língua russa é TZAR, escrito com o“ZÊ” do alfabeto cirílico.
Perdoem-me a corrigenda, pois há quem inventou a palavra “presidenta”,
possivelmente virá “presidento” etc...
A hora chegou, e coube a mim, porque, além da amizade que nos
unia, passei por situações parecidas: uma guerra não menos violenta e destinos parecidos. Falávamos a mesma língua e enfrentamos os mesmos inimigos. Só isso é o suficiente - e necessário - para alguém poder avaliar o
peso que o próximo carregou e soube vencer.
Imaginem um jovem, com cerca de quinze anos, ser expulso da
terra em que nasceu, e levar anos para, singrando pelos sete mares, encontrar uma nova pátria. Não foi bem este meu destino, mas, de resto, nossos
caminhos foram parecidíssimos.
Para melhor entendimento, convido a todos os presentes a recuarem comigo no tempo e no espaço, para conhecer quem era, na verdade, o
homem de nome Iewguên Schuwalow, brasileiro por opção e Pai da Pintura
do Vale do Iguaçu.
São Petersburgo, na língua russa “Petrograd”, assim batizada e criada à margem do rio Neva, que inicia no lago Ladoga e deságua no golfo da Finlândia, obra do Tzar Pedro o Grande, que procurava uma saída
marítima, já que existentes para pouco serviam: Murmansk, praticamente
no Polo Norte e servindo dois ou três meses por ano; Wladiwostok, praticamente no outro lado do mundo, situado à beira do Mar do Japão, quase
inútil; e no sul, Odessa, na Ucrânia, no Mar Negro, e praticamente fechado
pelos turcos, no Bósforo, Estreito de Constantinopla. Para sair de Moscou,
então a Capital, só pelo rio Volga, que deságua no Mar Cáspio, onde, no
outro lado, encontram-se as costeiras do Iraque e do Irã. Impossível.
O lago Staraia Ladoga (Velha Ladoga), ou Ladoga, simplesmente,
e emissário do Rio Neva, quando chega o inverno, fica coberto de gelo de
tal espessura que permite que os trilhos, que circundam o lago para chegar
até a Finlândia, sejam fechados ao trânsito e substituídos por trilhos de aço
sobre suportes de aço que acabam implantados no gelo, por onde as locomotivas - munidas de equipamentos limpa-trilhos - trafegam normalmente
sobre o lago, só que, então, pela metade da distância.
Seria aí a saída sonhada e convocando engenheiros de quase toda
a Europa, criou sua nova Capital que, unindo tudo o que deve conter, foi
234
então a mais moderna de todas, contando com a experiência desses engenheiros, toda essa área era coberta de florestas, rios, lagos e pântanos.
Estamos agora em São Petersburgo, em honra de São Pedro, e como
o nome soa bem ante os europeus, pois para estes a Rússia era conhecida
como terra dos tártaros.É o ano de 1904, e nas florestas de Bielosansk, nas
proximidades da Capital, o pálido sol da tarde ilumina os troncos preto-e
-branco das bétulas - árvore típica do leste europeu, e vemos uma troica
(carruagem de três cavalos) se aproximando, já ao final do passeio de um
casal, ainda jovem, conduzido pelo “mujik” Grigori Mikhailówitsch.
Este, cantarolando baixinho as estrofes do “UtchiórnuiZwon”, a
canção dos sinos, na hora do anoitecer, e que significa “Soam os Sinos”, se
traduzido para a língua portuguesa.Pouco se importando com o casal no
banco de trás, conduzia os animais muito bem. Já estavam próximos da
ponte do rio Neva- logo estariam em casa.
George Schuwalow só tinha olhos para Lídia, sua esposa, e que esperava o primeiro filho do casal. George, jovem tenente da Marinha Imperial, tinha certeza de que viria um varão, pois assim desejava, para dar
continuidade à tradição de sua família, nobre, e sempre servindo no Almirantado de Petrograd. Com experiência de “embarcado”, preparava-se para
sua primeira Comissão de Comando. A majestosa frota do Mar Báltico era
orgulho de oficiais e marinheiros, do Tzar e do povo.Naquele ano, em 1904,
começara a guerra russo-japonesa, e a saída da base do porto de Wladiwóstok era quase impossível para a frota russa do Mar do Japão. Assim a frota
do Mar Báltico estava para sair em socorro daquele porto, então comandado pelo Almirante Rojdestwénski, que certamente venceria os nipônicos.
O Tenente Schuwalow não participaria da batalha distante - o Conde Von Stottnagel, amigo da família e oficial influente nos círculos do Almirantado, conseguiria sua permanência junto à esposa, nesse período. O
Conde, velho oficial técnico, conhecia muito bem as deficiências da Marinha
Imperial e temia a derrota russa na batalha que, de fato, foi o triste fim imposto pela armada japonesa do Almirante Togo, no estreito de Tsushimá, em
1905: depois de seis navios russos afundados, o resto da frota entregara-se.
Graças ao Conde, longe da guerra, terminaram os Schuwalow o
passeio, atravessando a ponte e seguindo pelo Newski Prospekt (espécie de
Avenida Beira-mar); logo chegaram à casa onde Olga Iefímowa, a governanta, já os aguardava. Após o jantar, Lídia recolheu-se ao Pequeno Salão,
onde delicado cavalete sustentava uma pequena tela, e começou esboçar as
impressões colhidas durante o passeio.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
235
Lídia chegara a frequentar a Academia de Belas Artes de Paris, na
França, mas pintava unicamente para seu próprio prazer. Largou o pincel,
quando George entrou para comentarem o passeio. Falavam em Francês por duas razões: as famílias nobres usavam essa língua mesmo no dia a dia,
pois a língua russa ficava para o povão, os ‘’tártaros’’, como os russos europeus queriam ainda que fossem; e havia ainda a conveniência de poderem
comentar qualquer assunto na presença da criadagem. Enquanto isso, em
um canto do salão, o samovar (máquina de fazer chá, mediante aquecimento, usando querosene, da água) fervia a água para o chá.
Aguardavam eles a visita de Sofia Andréiewna Schuwalowa, prima
rica e elegante, para o dia seguinte. Agente da Ochrana (Serviço Secreto
da Rússia) com sede no Newski Prospekt, também era prima bailarina do
Ballet Imperial, onde fora nomeada pelo próprio Tzar, e ainda amiga de
Anna Pawlówa - a mais famosa bailarina e conhecida como Anúschka. Tal
como em toda parte - falavam - sempre convinha estar nas proximidades
da Família Imperial. Naqueles dias, duplamente conveniente, por que lá
estava mudando o Stáretz Raspútin (Staretz = espécie de título dos magos),
um Sibíriak, cujo nome verdadeiro era Grigori Definóvietz.
Em 1914 estourou a Primeira Guerra Mundial, que foi fatal para o
Exército Imperial Russo, depois da derrota em Tannenberg, Prússia Oriental, pelas divisões alemãs do Marechal Von Hindenburg. O fiasco de todas
as tropas e instituições russas abriu o caminho para a revolta bolchevique
que, em outubro de 1919, acabou tomando conta de uma vez, inclusive São
Petersburgo, sede da Escola Naval do Império Russo, e onde estudava um
cadete de nome Iewguên Schuwalow, então com quinze para dezesseis anos
de idade.
Os cadetes formando uma verdadeira tropa de elite, comandada
pelos seus instrutores, tentaram a defesa da Academia, mas tiveram que
se movimentar na direção sul, combatendo sempre, via Nóvgorod e Kiew,
até boa parte do efetivo conseguir alcançar Odessa, cidade portuária da
Ucrânia, onde ainda havia mando imperial. Foi aí o “Motim do Encouraçado Potémkin, em 1905, e a vitória definitiva dos “Soviéticos” (Soviet =
conselho), que fez com que todos os cadetes procurassem obter vagas nos
navios ancorados em Odessa, mesmo como simples marinheiros, porém de
formação superior, para procurarem nova pátria. Além deles, incontável foi
o número de fugitivos russos pelo mundo afora, principalmente, na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá.
236
Eugênio Schuwalóff passou pela Alemanha, Bélgica, França e outros países, sem maior motivo, e acabou ancorando no Brasil, de que gostou, e resolveu ficar.
Começou como técnico em máquinas a vapor, nas fazendas, no
Estado de São Paulo. Naquele tempo, todos os equipamentos e máquinas
eram movidos por rodas d’água ou máquinas a vapor. No fim chegou a
Pomerode, Santa Catarina, onde conheceu a jovem Berta, com quem teve
a filha Tamara; e acabou em Porto União - então Família Schuwalóff - alugando uma casa na Rua Padre Anchieta.
Ele, como teve uma mãe que estudou Belas Artes em Paris, com
quem, naturalmente, aprendeu alguma coisa, optou pela profissão de pintor
- na França, Messieur Le Paintre. Pintou também na Bélgica e em Berlim,
na Alemanha. Aqui chegou para ficar, gostou das Cidades Gêmeas e tratou
de conhecer nossa gente, nossos costumes e adaptar-se.
Se fosse só isso, tudo iria bem, só que ele não sabia - e nem poderia
saber, que a época ainda era de jeitinho interiorano, onde a maior parte das
nossas famílias desconheciam quadros a óleo, e as paredes da sala eram enfeitadas com fotografia do casal, em molduras ovais e coloridas a mão; um
retrato do Santo da casa; outro do Presidente Getúlio Dorneles Vargas, e a
Folhinha do Ano, com ilustrações, e ganho no armazém mais próximo. Os
mais abonados ostentavam ainda mais um: da Santa Ceia. Tentemos imaginar como alguém consegue vender, nessas condições, quadros em tela pintados a mão, com tinta a óleo, considerados muito caros e ainda exigindo
a colocação de uma moldura - igualmente cara, uma despesa a mais. Era
sorte mesmo, vender um quadro. Teve um comerciante, um só, bem mais
esperto, que comprou uma tela e fez dela quatro telinhas, com a tesoura.
Quando soube, Schuwalóff queria morrer, no mínimo...
Tentemos imaginar novamente, um ser humano com família para
alimentar e aluguel para pagar, além de outras despesas, e voltar para casa
com as mesmas telas debaixo do braço, o peso do desânimo, da decepção e,
para apimentar, o rancor! Quando havia conseguido uma venda, uma “zinha” de telas, uma festinha? Que festinha!... uma pinguinha para não chorar...
A Medicina é unânime em confirmar falta de resistência ante bebidas alcoólicas de grande parte de pessoas de origem eslava, mesmo “uma
só” pinguinha. Isso me faz perguntar: o “pecado” de uma só dose vale uma
justiça só para o mundo ver, como aquela do apedrejamento da mulher
pecadora? Vale lembrar, isto sim, que nem um só de nós tem o nome de
Pilatos para errar e depois lavar as mãos...
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
237
Com o tempo, Schuwalóff “encarou” e “bateu o bom combate”, isto
é, lutou e conseguiu comprar uma boa casa e abriu um atelier pequeno mas
convidativo. Certo dia apareceram religiosos dos Estados Unidos, viram
nele o valor artístico e humano, e todos eles (vinham sempre de dois, e
quando iam embora, outros dois apareciam) - foram seus “Duble-Effe” fregueses e fãs.
Lamentavelmente, com todas as melhoras, e havendo assumido a
maneira e a vivência brasileira de coração, nunca faltavam os “beatos” para
apontar-lhe o dedo e afirmar> “O Schuwalóff só pinta bem quando bebe”,
e até hoje ainda tenho ouvido essa afirmação leviana que pesa... Ainda há
pessoas que não o conheceram, e entendem que ele só pintava quando a
pinga o inspirava.
Ora, desde quando a pinga inspira a arte e o artista?
Cansado de ouvir todas estas maldades, que, na verdade, nada mais
são do que rebentos da inveja, da incompetência, resolvi buscar e achar
uma prova para poder dizer, de alto e bom tom, que eu sei porque vi. Eu já
o conhecia havia alguns anos, e como meu caminho do serviço para casa
n fim do dia passava defronte à casa dele, tive honra e a alegria de poder
visitá-lo e conversamos como bons amigos.
Agradeço a todo instante as oportunidades que Deus me concedeu
de estudar algumas línguas com que, além de terem sido utilíssimas na vida
profissional, obtive condições de poder entender melhor e saber mis da
vida deste meu colega, amigo e - por que não? - irmão. Ele dominava além
do russo, igualmente bem o português, o alemão, o francês, como também alguns conhecimentos de outros idiomas, podendo assim expressar-se
usando vários idiomas em uma só frase, escolhendo os termos que mis se
coadunavam com o seu pensamento, buscando e mantendo assim as afinidades dele com outras culturas.
Era um gênio este Eugênio. Querem saber os assuntos que lhe despertavam o interesse? A resposta só pode ser: tudo o que existe neste mundo, e que conhecia como poucos, e podia-se perceber o interesse com que
perguntava ou respondia, sempre “ligado”.
É óbvio, que demonstrasse prazer em recordar os assuntos que tratavam da sua terra natal, um tanto porque eu entendia (naquele tempo!) o
que era falado no seu idioma de origem. Falava, e também entoava os cânticos da Rússia, sobre o rio Volga, as estepes, os cossacos e, naturalmente, da
“Stáraia Mátuschka Rossía”, a Velha Mãe Rússia. Vez por outra, Dona Berta
trazia alguma coisa para beliscar, ou convidava para jantar, interrompendo
238
o papo. Ele perguntava: “Vais jantar comigo, aceitas?” Claro que eu aceitava
o jantar, geralmente original russo, como, por exemplo, arenque com pão
e chá. Ele apreciava as oportunidades de recordar os hábitos do passado: o
chá, “tchai’s molokóm”, que é chá com leite, costume milenar (importado
- o costume! - do antigo Tibet) na Velha Rússia, e o arenque, que é o peixe
que mais ocorre no Mar Báltico. Com pão de centeio e manteiga, por mais
que frugal, é um manjar dos deuses para quem conheceu ou viveu na “Stáraia Mátuschka Rossía”.
Nessas ocasiões, à moda européia, chamava-me pelo sobrenome e
então surgiam os fragmentos de sua vida. Tudo isso sem uma única bebida.
Uma vida riquíssima desfilava diante da minha mente, e quase tudo permanece perpetuado assim até hoje. Vale captar-lhe a grandiosidade, a dimensão e o conteúdo para, em um dia como hoje, transmiti-la a todos aqueles
que conheceram Schuwalów, sem conhecê-lo, e também a todos que não
o conheceram, que lhe sabem o nome apenas, e que, na santa ignorância,
comentam o que ouviram.
Foi em uma ocasião dessas que percebi o ponto de partida para
uma empreitada que, de antemão, eu sabia que não iria ser muito fácil, mas
que a gratidão se me impõe, pois foi Eugênio Schuwalów que me iniciou
na filosofia da vida, na filosofia vivida de cálices cheios de ostracismo, de
nostalgia e de frustração, mas também de realização plena, de riquezas internas e de saber.
Decidi “encarar” - não de imediato, pois toda realização requer seu
amadurecimento para alcançar o resultado. Deixar o tempo ensinar-me,
como se faz ser valioso para todas as partes, poder ser compreendido pelos
que não compreendiam, porque uns diziam que ele bebia para poder pintar
se, na realidade, gostava de tomar chá.
Tinha prazer de oferecer uma bebida, curtida com ameixas ou outras frutas, aos que o visitavam, e então acompanhava o amigo com um
gole. A era de uma “pinguinha” já pertencia ao passado remoto. Ele estava
ciente de que não podia, pois que a mão então não dominava o pincel.
Fiz uma experiência, que só Dona Berta sabia que a faria, e ainda
com uma dose relativamente fraca, e pedi a ele que me mostrasse como se
pinta determinado tema - um retrato. Ele anuiu e o resultado foi um fiasco.
Não entrarei em detalhes, porque nada mudam. Para mim foi prova bastante, e que seja também para todos.
Ele mesmo não se abalou, e sim, comentou que com bebida ingerida o ser fica por ela escravizado, um inútil.
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
239
Hoje, passados mais de quatro decênios do dia em que Schuwalów,
então em apartamento de hospital, pediu uma xícara de chá que queria tomar, sem a presença de visitantes, e chegou ao Mundo Maior, com a xícara
na mão. Chegou lá feliz, porque reencontrou os seus, onde havia, em um
canto, um samovar...
Os poucos objetos que os “herdeiros de plantão” não quiseram, pois
já estavam locupletados, Dona Berta nos entregou, dizendo que eu saberia
lhes dar o destino. Assim fiz, entreguei-os ao museu. Espero que existam.
O que interessa é a realidade, sem pôr nem tirar, apenas faltava
alguém devolver, ao Vale do Iguaçu, seu dileto filho adotivo. Brasileiro por
opção, amou sua terra natal e a terra que o cobriu - a matéria! - pois a alma
de Eugênio Schuwalów sempre amou o mundo.
240
ACADÊMICOS
Relação de Acadêmicos, Patronos e contatos
ACADÊMICOS FUNDADORES E EFETIVOS
Cadeira n.º 01 - Patrono: Mário José Mayer
Acadêmico: Ulysses Antônio Sebben, Fundador
Telefone: (42) 3523-9197
Endereço: Rua Barão do Cerro Azul, 142 - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira nº 02 - Patrono: Dirceu Marés de Souza
Acadêmico fundador: Ghassoub Domit
Jayme Ayres da Silva - 1º ocupante
Acadêmica: Soeli Regina Lima - 2ª ocupante
Telefone: (47) 9645-7203
Endereço: Rua João Pacheco de Miranda Lima, 348
89.490- 000 - Três Barras - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 03 - Patrono: Antônio da Lara Ribas
Acadêmico: Joaquim Osório Ribas, Fundador
Telefones: (42) 3522-2115 / 9913-8395/ (46)4055-9046
Endereço: Praça Cel. Amazonas, 56 - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 04 - Patrono: Didio Augusto
Acadêmico Fundador: Michel Kobelinski.
Atualmente vaga.
Cadeira n.º 05 - Patrono: Agnelo Banach
Acadêmica: Arlete Terezinha Bordin, Fundadora
Telefones: (47) 9222-0817
Endereço: BR 476, 1663, bairro São Joaquim - UVA - PR
Cadeira n.º 06 - Patrono: João Hort
Acadêmico: Paulo Horbatiuk, Fundador
Telefone: (42) 3522-3153
Endereço: Rua 13 de Maio, 363 - PU - SC
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
243
Cadeira n.º 07 - Patrono: Frederecindo Marés de Souza
Acadêmico: Eloy Tonon, Fundador
Telefone: (42) 3524-2138 / 9975-7122 / 3522-4711
Endereço: Rua Augusto Lima, 93
Bairro Sagrada Família - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 08 - Patrono: Luiz Wolski
Acadêmica:Fahena Porto Horbatiuk, Fundadora
Telefone: (42) 3522-3153
Endereço: Rua 1° de Maio, 363 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 09 - Patrono: Padre Francisco Salache
Acadêmico: Dom Walter Michael Ebejer, Fundador
Telefone: (42) 3522-7528
Endereço: Rua Francisco Paes Carneiro, 48
Bairro Jardim Brasília - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 10 - Patrono: Abílio Heiss
Acadêmico: Raulino Bortolini - 2º ocupante
Telefone: (42) 3522-3159 / 9103-1097
Endereço: Rua Castro Alves, 555 - UVA - PR
Cadeira n° 11 - Patrono: Ermindo Francisco Roveda
Acadêmica fundadora: Neli de Oliveira Melo Sicuro
Acadêmico: Roberto Domit de Oliveira - 1º ocupante
Telefone: (42) 3522-6987/ 9975-1409
Endereço: Rua Prudente de Morais, 515 ap. 102 - PU -SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 12 - Patrono: Lamartine Augusto
Acadêmico: João Darcy Ruggeri - 1º ocupante
Telefone: (41) 3242-5356 / 9979-9732 / (41) 3242-2875
Endereço: Rua Nestor Victor, 315/227
Bairro Água Verde - 80.620-400 - Curitiba - PR
E-mail: [email protected]
244
Cadeira n.º 13 - Patrono: Germano Wagenführ
Acadêmica: Therezinha Thiel Moreira - 1ª ocupante
Telefone: (42) 8867-2433 / (42) 9982-8710
Endereço: Rua Benjamim Constant, 55 Apto 01 - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 14 - Patrono: Frei Rogério Neuhaus
Acadêmica: Márcia Marlene Stenzler Garcia de Lima - 1ª ocupante
Telefones: (42) 3521-9100 / 9103-8758
Endereço: Rua Cel. Amazonas, 868 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 15 - Patrono: Ari Milis
Acadêmica fundadora: Sueli de Souza Pinto, Fundadora
Acadêmico: Willy Carlos Jung - 1.º ocupante
Telefone: (42) 3522-4888 / 3522-4490
Endereço: Rua Prudente de Moraes, 130 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 16 - Patrono: Alvir Riesemberg
Acadêmica: Irene Rucinski, Fundadora
Telefone: (42) 3522-5841
Endereço: Avenida João Pessoa, 1912 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira nº 17 - Patrono: Paulo Leminski
Acadêmico fundador: Armindo José Longhi
Acadêmica: Marilucia Flenik - 1ª ocupante
Telefone: (42) 3522-2264 / (42) 9975-0792
Endereço: Rua Max Metzler, 71 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 18 - Patrono: João Farani Mansur Guérios
Acadêmico: Odilon Muncinelli, Fundador
Telefones: (42) 3522-3620 / 3522-4291
Endereço: Rua Voluntários da Pátria, 131 - Caixa Postal 45 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
245
Cadeira n.º 19 - Patrona: Profª. Edy Santos da Costa
Acadêmica: Leni Trentim Gaspari, Fundadora
Telefones: (42) 3522-4561 / 3521-9100
Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto, 395
84.600-000 - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 20 - Patrono: Yvonnich Furlani
Acadêmica: Therezinha Leony Wolff, Fundadora
Telefone: (42) 3522-2927 / 8809-4170/ 3523-9280
Endereço: Rua Cel. Belarmino, 367 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 21- Patrono: Jorge Will
Acadêmico: Ivahy Detlev Will, Fundador
Telefone: (41) 3324-6511
Endereço: Rua Visconde de Guarapuava, 3748/51
80.250-220 - Curitiba - PR
Cadeira n.º 22- Patrono: Cordovan Frederico de Melo
Acadêmico: Cordovan Frederico de Melo Junior, Fundador
Telefone: (42) 3522-4820 / 9975-8473
Endereço: Rua Castro Alves, 92 - UVA - PR
Cadeira n.º 23- Patrono: José Júlio Cleto da Silva
Ladi Tamara Benda Loiacono, Fundadora
Endereço: 54 W Lake Street- Oak Park, Illinois 60302- USA
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 24 - Patrono: João Guilherme Russo
Acadêmico: Ivan Vidal Portela, Fundador
Telefone: (41) 3274-2939 / 3522-9933
Endereço: Rua Angela Ganz, 218
80.740-240 - Campina do Siqueira - PR
E-mail: [email protected]
246
Cadeira n.º 25 - Patrono: Wolfgang Ammon
Acadêmico: Fídias Telles de Carvalho, Fundador
Telefone: (48) 9991-4010
Endereço: Caixa Postal 220, Central
88.010-970 - Florianópolis - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n° 26 - Patrono: Tadeu Krul
Acadêmico Fundador: Alexandre Drabik
Francisco Filipak - 1º ocupante
Acadêmica: Tânia Margaret Ruski - 2ª ocupante
Telefone: (42) 3522-0204
Endereço: Rua Sete de Setembro, 608 - apto 502 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 27 - Patrono: José Pacheco Cleto
Acadêmica fundadora: Helena Lima Klotz
Acadêmica: Maria Genoveva Bordignon Esteves - 1ª ocupante
Telefone: (42) 3522-1837 / 3523-6195 / 9900-2020
Endereço: Rua Tancredo Benghi, 33
Bairro São Basílio Magno - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 28 - Patrono: Hermínio Milis
Acadêmico: José Fagundes, Fundador
Telefone: (42) 3522-2424 / 3522-4433
Endereço: Avenida João Pessoa, 2131 - PU - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 29 - Patrono: Ernesto Ulrich Breyer
Acadêmico: Dago Alfredo Woehl, Fundador
Telefone: (42) 3523-1515 / 9945-0238
Endereço: Rua Francisco de Paula Dias, 672
Bairro Santa Rosa - PU - SC
E-mail: [email protected]
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
247
Cadeira n.º 30 - Patrono: Joaquim Serapião do Nascimento
Acadêmica fundadora: Yeda Cordeiro Ramires
Acadêmico: Aluízio Witiuk - 1º ocupante
Telefone: (42) 3522-3920
Endereço: Rua João Savi, 157
89.400-000 Porto União - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 31 - Patrono: Cyro Ehlke
Acadêmico: Fernando Luis Tokarski, Fundador
Telefones: (47) 3622-3102 / (47) 3621-7742 / (47) 9918-5052
Endereço: Rua Marechal Rondon, Alto das Palmeiras, 1.081
89.460-000 - Canoinhas - SC
E-mails: [email protected] / [email protected]
Cadeira n.º 32 - Patrono: Frei Libório Lueg
Acadêmico: Pedro Alberto Skiba - 1º ocupante
Telefones: (47) 3633-1230 / 9986-0258 / 3634-1536
Endereço: Rua Osni Roberto Turek, 26 - Caixa Postal 450
89.290-000 - São Bento do Sul - SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 33 - Patrona: Amasília Pinto de Araújo
Acadêmica: Lili Matzenbacher, Fundadora
Telefone: (42) 9910-8282
Endereço: Rua 7 de Setembro, 148 - PU - SC
Cadeira n.º 34 - Patrono: Pedro Margarido Maciel de Araújo
Alcides Rodrigues de Almeida - 1º ocupante
Acadêmica: Maria Rosa Gaiovicz - 2ª ocupante
Telefones: (42) 3552-1257/ 8813-6557
Endereço: Presidente Kennedy, 130
84.660-000 - General Carneiro - PR
Cadeira n.º 35 - Patrono: Mário Riesemberg
Acadêmica: Leda Barcelos, Fundadora
Telefones: (42) 9927-8698 / 9144-1915
Endereço: Cruz Machado, 401 - UVA - PR
248
Cadeira n.º 36 - Patrono: Cícero Marcondes de França
Acadêmico: Célio Horst Waldraff - 1º ocupante
Telefones: (41) 9154-7926 / (41) 3016-7926
Endereço: Rua Vicente Machado, 147
80.420-010 - Curitiba - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 37 - Patrono: Ladislau Romanowski
Acadêmico: Acir Mário Karwoski - 1º ocupante
Telefones: (34) 9115-5528 / 3318-5032 / 3318-5049
Endereço: Avenida Leopoldino de Oliveira, 579
Residencial Jardim Europa, apto 202, bloco 23
Bairro Parque do Mirante - 38.081-000 - Uberaba - MG
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 38 - Patrono: Estevão Juk
Acadêmica: Roseli Bilobran Klein - 1º ocupante
Telefone: (42) 3522-5794
Endereço: Rua Vereador Otto Eggers, 201- PU- SC
E-mail: [email protected]
Cadeira n.º 39 - Patrono: Raimundo Colaço
Acadêmico: Ivo Dolinski - 1º ocupante
Telefones: (42) 3522-4671 / 9975-0039 / 3522-0950
Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 560 - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Cadeira nº 40 - Patrono: João Tulio Marcondes de França
Acadêmico fundador: Nelson Antônio Sicuro
Acadêmica: Margareth Rose Ribas - 1ª ocupante
Telefone: (42) 3522-2630 / 9103-8545
Endereço: Praça Coronel Amazonas, 56 - centro - UVA - PR
E-mail: [email protected]
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
249
COMENDADORES
OUTORGA DA COMENDA PINHÃO DO VALE PELA ALVI
A iniciativa desta homenagem nasceu em 2003, de uma proposição
dos Acadêmicos Odilon Muncinelli e Ivo Dolinski, a qual foi prontamente
acolhida pelo Colegiado, por se enquadrar nos objetivos desta Academia. A
indicação e escolha das pessoas a serem agraciadas é feita pelos membros
integrantes da ALVI, levando em conta, como critério de merecimento, todo
e qualquer trabalho trazido a público, de reconhecido e expressivo valor literário, histórico e artístico, ou relevantes serviços prestados à comunidade,
na área de abrangência da nossa Academia. Esta instituição privilegia todos
os anos, dois exemplos maiores, um no campo das Letras e Artes e outro, no
campo Social. A homenagem consiste na outorga de uma medalha de forma
ovalada, em dourado, com presilha para fita, contendo um pinhão dourado
em alto relevo, sob um fundo de textura espiralada em azul-marinho. Medidas: 6 cm de altura, contando com a presilha e 3,5 de largura no ponto mais
largo. Acompanha um Diploma de Comendador pela ALVI.
Receberam a Comenda Pinhão do Vale:
2003 - MARIA TEREZA BIEBERBACH
Maria Tereza,filha de Maria Vier Kroetz e Theodoro Kroetz. Destinada a receber uma educação esmerada, aos 9 anos, passa a ter aulas de
piano com Frau Meta Wakers e com o professor Walter Hostffeld. No colégio
Santos Anjos, passa toda a sua vida escolar: desde as primeiras letras ate a
Escola Normal.Recém-diplomada, segue para lecionar em Rio Bonito (Tangará) município de Campos Novos. Em1938, Maria Tereza contrai núpcias
com Ernesto Alfredo Bieberbach, cidadão Joinvilense, também admirador
da arte musical. Leva arte para o Externato Santa Terezinha, com aulas de
canto orfeônico, dança e teatro Religião e música fazem parte de sua vida.
Integrando o Apostolado da Oração, exerce também sua presidência. Participando da Paróquia Sagrado Coração de Jesus e, posteriormente, regendo
o Coral feminino Stela Maris, abrilhanta, por muitos anos, as missas, procissões, festas religiosas, cívicas e cerimônias de casamento. Com a instalação do Instituto Raul Mensing, em União da Vitória, Maria Tereza pôde ali
concluir seus estudos e, por anos seguidos, lecionar teoria musical e piano.
Quando o Instituto é transferido para Curitiba, Maria Tereza fica como sua
supervisora. A criação de sua própria Escola de Música aconteceu em 1979.
Reconhecida pelo Instituto Nacional de Música e pela Secretaria de Educação e Cultura do Paraná, oferecendo cursos de piano, violino, flauta, tecla-
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
253
do e acordeon, a Escola oportunizou aos alunos participação em audições
musicais promovidas pela Associação das Escolas de Música do Paraná, em
Curitiba, e em outras inúmeras atividades culturais coordenadas por ela, nas
Cidades Gêmeas (Therezinha Leony Wolff).
2003 - MANOEL CLARO ALVES NETO
Manoel Claro Alves Neto, nascido em Curitiba, 1937, foi militar, mecânico, professor na Face/Uniuv. Viveu muito tempo em União da Vitória.
Agora reside em Ponta Grossa, onde exerce sua nova profissão - a medicina.
Pretende, em breve, fazer um trabalho como médico na África. Escreveu, em
União da Vitória, 13 obras poéticas, ricas em valores existenciais, cujos nomes apontam claramente: Bom Senso, Bom Ânimo, Linha Divisória, Desafio
Cristão, O Vale Mágico, Esquina do Tempo, Como fazer poesia, Relíquias,
Poemas Escolhidos, Velho, Velho, Eterno Tema..., Meus Balões Coloridos,
Novas Trovas, Últimos Versos. Todos esses livros foram compilados no livro
De um pastor de estrelas: poemas da vida inteira, publicado pela Juruá, em
2007.Seu curriculum vitae já diz como é o Manoel: incansável - na vida e
na arte - inseparáveis. Seu olhar brilha, seu mistério sobressai, e vai adiante, pondo em prática, na mais bela forma, sua existência. Agora, prepara-se
para publicar: “Fábulas de um Monge Taoísta”. A fábula é um gênero literário
que os animais, em geral, dialogam, às voltas com seus problemas, mas cujas
atitudes se aplicam a comportamentos humanos. Ao final, costuma aparecer, em destaque, a Moral da História. É um gênero breve, com tempo indeterminado, e cujo título não antecipa o conteúdo.São misteriosas as origens
da astrologia chinesa, com seus animais: Rato, Boi, Tigre, Coelho, Dragão,
Serpente, Cavalo, Carneiro, Macaco, Galo, Cão e Porco. Esses 12 animais
são os signos da astrologia chinesa, e são por eles considerados o espelho
do Universo. Com base na sabedoria taoísta, e nesses animais, Manoel Claro
desenvolveu suas fábulas, encontrando uma forma de repassar valores humanizantes, como fez nas obras anteriores (Fahena Porto Horbatiuk).
2004 - GUERINO MASSIGNAN
Nasceu em Nova Balsa no Rio Grande do Sul, em 15/09/1919, filho
de agricultores, mudando-se, ainda criança, com a família, para a Colônia
Barra Verde, em Herval, hoje Herval d’Oeste, onde adquiriram uma área de
terras rurais e se estabeleceram. Com 17 anos, foi procurado por uma comissão de moradores, para ser professor na escola de Barra Verde, permanecendo nessa função por três anos. Alistou-se como voluntário no 15o Batalhão de
Caçadores, em Curitiba, participando logo de seleção para cabo, tendo sido
254
aprovado e promovido. Nessa época, conheceu Antônia, com quem se casou,
em 29 de maio de 1943, e continuou suas atividades de professor na escola de
Barra Verde, agora auxiliado pela esposa. Com desejo de melhorar de vida,
em 1945, vieram para Porto União, onde iniciaram sua vida comercial, com
um armazém, na Rua Matos Costa, próximo ao Açougue Catarinense, uma
atividade muito bem sucedida. Pouco tempo depois, veio seu irmão Severino, passando a empresa a chamar-se Irmãos Massignan. Seu pai, José Massignan, associa-se, igualmente, passando a empresa a ser Irmãos Massignan &
Cia. Os negócios foram crescendo, adquiriram um engarrafamento de bebidas, na Rua Prudente, em União da Vitória. Logo, arrendaram uma serraria,
em Santa Maria, próximo à cidade. Pouco depois, permutam o imóvel da
Rua Prudente por uma serraria, com a empresa Bohrer, situada em Horizonte. Deixam, então, o comércio a varejo e o engarrafamento, dedicando-se às
serrarias e à compra de cereais, por atacado.Em 1954, adquirem um moinho
de trigo, em Pato Branco, transferindo-o, em 1957, para União da Vitória,
onde funcionou por quase 50 anos. Com sua esposa, constituiu uma família
exemplar, com seus filhos Sérgio, Nelson e Léa, que lhe trouxeram muitos
netos e bisnetos. Guerino Massignan sempre foi uma pessoa empreendedora,
honesta, correta e generosa, participando ativamente da vida em sociedade,
também como membro do Lions, colaborando sempre com as campanhas
beneficentes. Foi vereador, de 1968 a 1972, e presidente da Câmara Municipal de União da Vitória por dois anos. Participou da fundação do Regional
Hospital, do qual foi, por muitos anos, vice-presidente. Católico praticante,
um dos responsáveis pela vinda dos padres Capuchinhos (Romano Berejuk).
2004 - JOSÉ KRETSCHEK
Em 2004, José Kretschek, recebia de União da Vitória por meio da
Academia de Letras do Vale do Iguaçu, a Comenda Pinhão do Vale, “pelos
serviços prestados à sociedade e pelos seus méritos no campo da Música e
Memória Social”. Nascido em Florianópolis, em 1914, construiu em Porto
União a sua vida. Enquanto estudante, atleta, ator, músico, membro da Igreja Luterana e comerciante (Casa Renner, de artigos masculinos), participou
ativamente da vida social e cultural da região. Como músico - primeiro violino - participou de diversas orquestras: Sociedade Rio Branco (Curitiba/PR),
SCAHJO (Joaçaba/SC e, em União da Vitória, da Sociedade Filarmônica
União, da Elite e do Grupo Orquestra Vivaldi. Pela sua dedicação, do Decreto Legislativo de Porto União que lhe concedeu, em 1996, o título de Cidadão
Honorário, consta: “não são poucos os corações que guardam com carinho
os sons de sua música, que embalou casamentos, batizados, formaturas”.Ca-
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
255
sou em 1941, com Gerda Alice Winter. Tiveram três filhos. Faleceu em 2008.
Sua trajetória em nossas cidades lembra a de muitas pessoas igualmente empenhadas na promoção da cultura de Porto União da Vitória, muitas delas
lembradas no acervo que construiu ao longo de sua vida, hoje, conhecido
como Acervo do Seu José (Dago Alfredo Woehl e Irene)Rucinski).
2005 - FRANCISCO FILIPAK
Francisco Filipak nasceu em Araucária, a 7 de agosto de 1924. É
filho de Antônio Filipak e Maria Gawlak Filipak. Em 1943, prosseguiu os
estudos no Seminário Maior Imaculada Conceição, em São Leopoldo, Rio
Grande do Sul, onde, em 1949, concluiu os cursos de Filosofia e Teologia. Em
22 de dezembro de 1949 foi ordenado sacerdote por Dom Antonio Mazzarotto, na igreja matriz de Nossa Senhora da Luz, em Irati. No início de 1950,
foi nomeado coadjutor da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em União da
Vitória. Em 1956, foi nomeado Pároco de União da Vitória. No período de
1956 a 1967, Filipak preparou a base para a criação da Diocese de União da
Vitória, concretizada em 1976. Atuante, íntegro e respeitado pela comunidade, recebeu o título de Primeiro Cidadão Honorário de União da Vitória.
Professor fundador da FAFI, fez mestrado, e ocupou na FAFI o cargo de Diretor, no quadriênio 1968-1972. Lançou-se ao estudo das Letras Regionais,
delas resultando a Antologia do Vale do Iguaçu, de sua co-autoria, publicada
pela FAFI, em 1976. No mesmo ano, publicou Helianto Outonal, poemas
líricos de sua lavra. Foi estudioso dos problemas linguísticos dialetais, publicando em 1977, o Glossário do Vale do Iguaçu. Esses trabalhos lhe deram
notoriedade estadual, sendo por isso, admitido como sócio nos sodalícios
literários da Capital, bem como no Centro Letras do Paraná, Academia de
Letras José de Alencar, Instituto Histórico, Geográfico e Etnográfico Paranaense, mais tarde passou a integrar também a Academia de Letras do Centro-Sul
- Irati e Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Publicou Mosaico, poemas de
Dante Jesus Augusto e Flores de Inverno, de Túlio de França, ambos de União
da Vitória. O Livro Centenário no Brasil da Família Filipak, foi fruto de cinco
anos de pesquisas. Foi co-autor de Poetas do Brasil. Pesquisou as variantes
linguísticas das diversas regiões do Paraná, e publicou o Dicionário Dialetológico Paranaense (Leni Trentim Gaspari).
2005 - JOSÉ NELSON DISSENHA
Homem de negócios da mais larga visão, que percorreu os caminhos da vida sempre mirando horizonte além de suas atividades profissionais, preocupando-se também com os problemas da sociedade. Personali-
256
dade engrandecida pelos mais nobres atributos de humildade, simplicidade
e generosidade. Nelson veio de Curitiba, liderado por se pai João Batista
Dissenha, em busca de negócios no setor da madeira. Acreditou no projeto
nascido com a pequena serraria, em 1947, lá na Colônia Mendes. Agregou
valor na produção, evoluindo para o fabrico de lâminas, daí para compensados culminando com a moderna indústria de papel. Seu parque fabril ocupa
55.000m² de área coberta e abriga 600 empregos diretos.O trabalho da empresa não absorveu seu tempo todo. Reservou espaço suficiente e recursos
financeiros, para ajudar na construção de abrigo para crianças de rua, asilo
para velhos, hospitais de caridade, igrejas, escola profissional e Universidade.
É um plantador de árvores e ideias (Joaquim Osório Ribas, 2005).
2006 - IVETTE MAZZALI
Nascida em Curitiba, em 1919, veio para Porto União aos três anos
de idade, fazendo o primário, ginásio e Escola Normal, no Colégio Santos
Anjos, onde começou a lecionar, antes mesmo de formada no Magistério.
Depois de fazer um curso de especialização, chamado Escola Normal Superior Vocacional, no próprio colégio, passou a lecionar nesse curso por
mais oito anos. Lecionou no Grupo Escolar Serapião (PR), fez a faculdade de
Pedagogia em Curitiba, em 1956, começou a lecionar na Escola Professora
Amazília, já em 1955. Foi a fundadora do Serviço de Orientação Educacional, no Colégio Estadual Túlio de França. Lecionava, portanto, no Túlio de
França e na Escola Normal Professora Amazília. Trabalhou aproximadamente dez anos na Comissão da Reforma de Ensino, com os padrões da Escola
Normal Professora Amazília e da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e
Letras de União da Vitória, na qual foi fundadora. Como membro atuante da
Fafi, participou de vários congressos nacionais de Ensino Superior e Médio.
A Escola Normal Professora Amazília, graças à Prof. Ivette e seus colegas,
era atuante na comunidade, tanto quanto hoje são as universidades. D. Ivette
foi multiplicadora de cursos de aperfeiçoamento, e aosentou-se da Fafi, em
1986, após 44 anos em prol da Educação. É lembrada como símbolo do Magistério em nosso meio (Lili Matzenbacher).
2006 - PE. OSVALDO SANTONI
Nasceu em Fiavé, cidade de Trento, na Itália em 26 de março de
1940.Aos 12 anos entrou para o Seminário Piamartino,fazendo a 1ª profissão
religiosa em 1959, e profissão perpértua em 1965.Foi ordenado sacerdote da
Congregação Sagrada Família de Nazaré, em 1968, em Bréscia, na Capela do
Instituto Artigianelli, construído pelo Pe. João Piamarta Chega ao Brasil e
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
257
atua como Pároco na Igreja de S. Rosa de Lima no período de 1973 a 1978.
Vem para União da Vitória, onde inicia um belo trabalho voltado às crianças, com apoio da Itália, para construir o o Instituto Piamarta, que abrigaria
meninos necessitados. Nesse local os meninos, além de estudar, participam
de atividades esportivas, e das atividades cotidianas dentro do Instituto, com
objetivo de fortalecimento da conduta moral e personalidade íntegra. Com
responsabilidade, os jovens vão se tornando adultos resgatando sua autoestima, sua dignidade de ser humano, pelo trabalho, estudo e oração. Alguns
já cursando Faculdade, casando e sendo úteis à sociedade. O trabalho desse
sacerdote, envolvido sempre com seus “filhos do coração”, faz dele uma pessoa exemplo de amor ao próximo.Planeja e age, sempre rompendo barreiras
e tornando possível aquilo que para muitos seria utopia (Fahena Horbatuik).
2007 - WILHELM HEINRICHS (FREI JOÃO)
Wilhelm Heinrichs nasceu em 1º de novembro de 1931, na aldeia
de Kueckhoven, município de Erecklenz, Renania, na Alemanha. Em 10 de
agosto de 1952, Wilhelm entrou como postulante na Congregação dos Irmãos Pobres de São Francisco, os quais dedicavam-se à educação de jovens
abandonados. Em 1953, foi admitido no noviciado, recebendo o nome de
Frei João Evangelista. Em 1955, Frei João emitiu seus primeiros votos. Veio
ao Brasil em 1956, e logo veio a Porto União, auxiliando no Juvenato. Em
1958 foi para São Paulo, e fez seus votos perpétuos. Foi para Alemanha em
1962,estudou em regime de internato, sendo diplomado com a Missio Canônica e autorizado a dirigir casa de assistência social. Dedicou-se ao atendimento de marginalizados da sociedade moderna. Em 1965, recebeu convite
para retornar ao Brasil, aceitando com muita alegria e veio para Porto União,
no Colégio São José. Iniciou como professor, assumiu a Secretaria e depois
a administração financeira do Colégio, que passava por uma situação financeira difícil. Assumindo a direção, inúmeras foram as modificações feitas
por ele: entre elas, a introdução 2º. Ciclo Secundário; de curso misto; criou
cursos profissionalizantes, combinados com uma formação geral; reabriu as
primeiras séries do primário e introduziu o pré-escolar. Firme e dedicado,
mas também generoso, auxiliou alunos carentes e a comunidade. Além de
professor, administrador e Diretor Geral do Colégio,Frei João orientou o
Colégio São José para os sucessos que o foram engrandecendo, transformando-o num empreendimento vitorioso de que Porto União, com justas razões,
se orgulha. Em 1984 recebeu da Câmara Municipal o Título de Cidadão Honorário de Porto União, pelos relevantes serviços prestados à comunidade
(Cordovan F de Mello Junior- Livro: Historia do Colégio são José - 1973).
258
2007 - JOÃO SLIWINSKI PRIMO
João Sliwinski Primo, nascido em 24 de junho de 1951, é o primeiro
dos sete filhos do casal Waldomiro e Verônica Sliwinski Primo, pertencente
à segunda geração de ucranianos no Brasil. Participa ativamente da comunidade ucraniana, junto à Paróquia de São Basílio Magno, e também do Clube
Ucraniano, como Presidente e membro das diretorias. O espírito de liderança é uma marca indelével da vida de Sliwinski. Em 1969 ajudou a fundar o
Grupo Folclórico Ucraniano de União da Vitória, que mais tarde passaria
a denominar-se Folclore Ucraniano Kalena. O Kalena é um dos orgulhos
de João Sliwinski Primo; conquistou as muitas vitórias, como o Festival de
Joinville, o reconhecimento do Governo Ucraniano ao convidar o Kalena
para comemorações dos 1500 anos da Capital Kyiev, centenas de apresentações do grupo pelo Sul e Sudeste Brasileiro, tudo isso, são motivos para
reconhecer que todo o esforço valeu a pena. Em 1981, a convite do Sr. Miguel
Kalinoski, diretor da Rádio União, cria programa ‘’Saudades da Ucrânia’’, estando ao ar até os dias de hoje. Primo é técnico óptico, e há trinta e sete anos
é funcionário (e atualmente, proprietário) da Ótica Iguaçu de Porto União.
Atualmente, é o Vice-Presidente da Comissão Administrativa da Matriz São
Basílio Magno, Relações Públicas do Folclore Ucraniano Kalena, Diretor de
Patrimônio do CDL, Diretor Cultural do Clube Apolo, faz parte do Conselho Superior da SUBRAS (Sociedade Ucraniana do Brasil), com sede em
Curitiba. No primeiro dia de julho de 2004, Sliwinski recebeu do Governo
da Ucrânia uma MOÇÃO HONROSA, através do Presidente para Assuntos Exteriores, o Sr. Genedij Moskalhal, reconhecimento oficial do Governo
Ucraniano, pelo seu empenho em ajudar o consolidar e preservar a Cultura
Ucraniana no Brasil (Dago Alfredo Woehl).
2008 - WALFRIDO DELLA BARBA KÜRTEN
Nasceu em 23 de julho de 1908, no Bairro de Tocos, hoje, Porto
União, na época, União da Vitória, Paraná. Naquele logradouro era a entrada das tropas que percorriam o caminho de Palmas à Palmeira. Walfrido, na
companhia de seus contemporâneos, acorria para a beira do antigo caminho,
para ver a passagem das tropas. A família Kürten mantinha laços intensos de
comércio e amizade com os fazendeiros e tropeiros daquela época. Germano
Kürten e Dona Olinda Della Barba Kürten, seus pais, tinham armazém de
secos e molhados, para abastecer de sal e outros gêneros de consumo os ruralistas. A sua atividade comercial estendia-se até Palmas e Clevelândia. Na
década de 1930, a família Kürten passou à atividade extrativista, instalando
serrarias em São João dos Pobres e no Palmital. Coube a Walfrido a função
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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de perito contador, que desempenhou com lisura e critério, no registro da
documentação da empresa. Espargindo amor, Walfrido viveu mais de um
século. A família, seus pares do comércio e os irmãos na doutrina espírita,
fizeram de sua vida uma fascinante aventura, no aprendizado do sentido da
existência humana. Como espírita, sempre esteve presente nos eventos, para
ajudá-las nos momentos de angústia. Transmitia a paz. Como dizem seus
filhos e netos: “A luz que emanava dele é mais forte que a do sol, mais bonita
que a lua e tão verdadeira quanto à das estrelas mais brilhantes” (Joaquim
Osório Ribas).
2008 - MÁRIO RENATO ERZINGER, O SOLDADO EDUCADOR
Filho da prestimosa Iracema Marschalk Erzinger e do inesquecível
Emílio Erzinger, Mário Renato Erzinger nasceu na cidade de Canoinhas, Estado de Santa Catarina, no dia 30 de agosto de 1964. Começou a sua Educação Primária no Colégio Sagrado Coração de Jesus, e realizou o Ensino
Médio no Colégio Estadual Santa Cruz, ambos na cidade de Canoinhas (SC).
Amealhou a sua formação Acadêmica Militar na Academia da Polícia Militar
da Trindade, em Florianópolis, realizando o Curso Superior de Formação de
Oficiais, com graduação em Segurança Pública, em 1986; o Curso de Especialização em Psicotécnica Militar, em 1988; e o Curso de Aperfeiçoamento
de Oficiais, em 1999. Realizou também os Cursos de Prevenção e Repressão
às Drogas e à Violência, da Secretaria Nacional Antidrogas, em Florianópolis
- 1996 e Blumenau - 1998, e Cursos de Instrutor PROERD - Séries Iniciais,
Quarta e Sexta Séries e Pais. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale no dia 8 de
novembro de 2008(Odilon Muncinelli).
2009 - ALDAIR WENGERKIEWICZ MUNCINELLI
No dia 30 de dezembro de 1945, na querida e amada Porto União,
Estado de Santa Catarina, nasceu Aldair Wengerkiewicz Muncinelli, filha do
casal Wenceslau Albino Wengerkiewicz e Ilda Tarlombani Wengerkiewicz,
ele ferroviário e ela de afazeres domésticos. A sua formação escolar e profissional foi amealhada, a tempo e modo, - completou o Curso Normal Secundário, no Colégio Santos Anjos, e é Pedagoga pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória (PR), atualmente Universidade
Estadual do Paraná. Além de educadora, foi Supervisora Local de Educação,
em Porto União (SC). Foi Vereadora em Porto União (SC), por dois mandatos, e também Suplente, por duas legislaturas. Foi Conselheira do Conselho
Estadual de Educação, em Santa Catarina, por 12 anos; a primeira e única
mulher Presidente desse Conselho, por um mandato. É Sócia Fundadora da
260
Associação de Pais e Amigos do Excepcional (APAE). É Conselheira Fundadora do Centro de Integração Empresa Escola de Santa Catarina (CIEE/
SC). É Conselheira da Federação das APAEs de Santa Catarina (no Planalto
Norte). Ademais, dedica-se voluntariamente às lides sociais e comunitárias,
na Casa de Apoio “Amor Fraterno”, no Centro Espírita “Amor e Caridade” e
no Albergue Noturno “Onofre Brittes”. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale
no dia 6 de dezembro de 2009 (Odilon Muncinelli).
2009 - ALTAMIRO LISBOA
Recebeu a Comenda Pinhão do Vale em 6 de novembro de 2009,
em Sessão Solene da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, no Auditório
da Câmara de Vereadores de União da Vitória. Foi homenageado, na Sessão Solene pela Acadêmica Therezinha Leony Wolff. Nasceu em 09/06/1943
em Major Vieira - SC. Ferroviário aposentado,exerceu os cargos de Agente
de Estação, Chefe de Estação e aposentou-se como Supervisor de Estação
Após aposentar-se realiza trabalhos voluntários, dando atendimento à Estação Ferroviária, sem nenhuma remuneração. Executa serviços de limpeza no
recinto da Rede, como forma de manter esse espaço organizado e aprazível
para a comunidade e estudantes que sempre surgem no local. Oferece, de
forma atenciosa, informações às pessoas que transitam nas calçadas da Rede
Ferroviária.Acionou a Justiça para que fossem retiradas pessoas que acampavam na Estação, sujavam, faziam algazarras e incomodavam a comunidade
com a solicitação que lhes dessem outro espaço para ficarem. Realiza serviços como troca de lâmpadas, telhas e outros necessários para a Estação Ferroviária, sem cobrar nada.Sempre disposto a ajudar, teve muita importância
no meio ferroviário, como profissional e como pessoa, e continua dando sua
contribuição, em forma de cuidados com esse espaço que lhe é caro, por
tantos anos de profissão de ferroviário (Leda Barcellos).
2010 - DJANYRA AMIN PASQUALIN
Nascida em Joinville, filha de Cezar Amin Ghanen e de Helena Amin
Ghanen. Casada com Francisco Pasqualin Sobrinho. Atuou como professora no Grupo Escolar Professor Balduíno Cardoso, como pianista, regente
de corais e, na filantropia, seu nome é uma bandeira de devoção a integrar
educação e cultura. Incansável trabalhadora em prol da arte musical, formou
um grupo de pessoas que gostavam de tocar e cantar para se apresentarem
em eventos sociais da comunidade. Foi esse amor pela arte, particularmente
a música, que fortificou no trabalho canto coral. Esse seu trabalho foi, sem
dúvida, um esteio para que Ivonich Furlani (membro do grupo de artistas)
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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poetizasse a letra e ganhasse a a harmonia musical do maestro Felicio Domit e nascesse o Hino Oficial do Município de Porto União: Cidade Amiga.
Educadora, artista e pessoa maravilhosa, digna da honraria que ora recebe
(Therezinha Leony Wolff).
2010 -MOACIR DE MELO
Vindo à luz na cidade de Curitibanos, ainda menino Moacir mudou-se para a Fazenda Santo Agostinho, nos campos de Palmas. O seu currículo escolar começa no Colégio Diocesano de Palmas, onde fez o primário,
passando para o ginasial no Ginásio Aurora de Caçador e no Internato Paranaense em Curitiba. O segundo grau no Internato Paranaense e no Colégio
Túlio de França. Cursou Direito da UFPR e História da FAFI de União da
Vitória. Destacamos entre os relevantes serviços prestados à causa pública,
a sua ação como fundador e primeiro Diretor da FACE, hoje Cenro Universitário.Professor da FAFI. Fundador e Presidente do Sindicato Rural de
União da Vitória. Fundador e Presidente do Regional Hospital de Caridade.
Fundador e Presidente da SIMAE, que antecedeu a Sanepar no fornecimento
de água tratada às nossas cidades. Cidadão Benemérito de Palmas e Honorário de União da Vitória. Exerceu todos os cargos da OAB-União da Vitória.
Líder rural. Foi um dos fundadores e coordenador da Feira de Bezerros de
União da Vitória e da Associação Brasileira dos Criadores da Raça Caracu,
com sede em Palmas. O seu nome é um paradigma da sociedade local. Aqui
apeia com sua nobre bagagem de ideais, tantas vezes colocada em benefício
desta cidade (Joaquim Osório Ribas).
2011- CLÁUDIO ZINI
Filho de descendentes de Italianos, vindos de Marcelino Ramos,
Lino e Olga Zini, viveu em Bituruna até seus 10 anos de idade. Depois fez o
ginásio no colégio São José e o curso científico no Colégio Túlio de França.
Posteriormente fez Engenharia Civil em Curitiba, na Universidade Federal
do Paraná. Sua profissão de Engenheiro, com especialização em estradas,
exerceu-a apenas por dois anos.Volta a União da Vitória e, desde então, vive
mergulhado nos assuntos da PORMADE, há 34 anos, em meio a quase 500
colaboradores. Em 1988, Cláudio foi ao Japão, e ali viu a novidade do crescimento empresarial, orientado por Peter Drucker, e, dali em diante, com suas
próprias palavras: ‘’pôs um pé no acelerador e não soltou mais’’. A partir de
2001, a conselho do amigo João Ademir, começou a participar dos rankings
nacionais. Sua empresa promove muitos projetos, cursos, treinamentos, em
todos os níveis: programas escolares para Ensino Fundamental e Médio, pro-
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grama de Inclusão Digital para funcionários e familiares, subsídio aos estudos, teatro educativo ambiental, para crianças de escolas, bairros, associações e comunidades carentes. Igualmente, teatro sobre higiene bucal, cursos
que ensinam a comer bem, cursos para as esposas dos colaboradores, cursos
de empreendedorismo para as mesmas senhoras que aprendem alguma forma produtiva de trabalho, aulas de qualidade de vida e de esporte. Para tudo
isso a equipe da Pormade instituiu a Universidade Corporativa Pormade
(Unicop), cuja moeda de retorno é o respeito, credibilidade, reconhecimento, paixão pelo trabalho e orgulho do que fazem (Fahena Horbatiuk).
2011 - JOSÉ LEONIDAS GASPARI
Nascido em Porto União, Santa Catarina, a 1o de fevereiro de 1936,
José Leônidas cursou o Ensino Primário na Escola Professor Serapião, o Ginasial no Colégio Estadual Túlio de França, o Científico no Colégio Estadual
do Paraná, em Curitiba. E o Superior na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná, onde se graduou em Direito com a Turma de 1959.
Porém não exerceu a nobre profissão. Apenas serviu-se dela para dar cumprimento aos encargos do Ofício Notarial. Começou no 1o Tabelionato de
Notas, em União da Vitória, no ano de 1956, como Escrevente Juramentado
do Ofício, dirigido por seu próprio pai, o inesquecível Ivanové Gaspari, o
compadre Vaninho, como era tratado pelos mais chegados. No ano seguinte
(1957), assumiu a função de Oficial Maior. No ano de 1961, prestou concurso para a Comarca de Palmas e, no ano seguinte (1962), foi removido
para União da Vitória, como Titular do 1º Tabelionato de Notas, onde se
aposentou no ano de 1995. Um dos fundadores da FAFI de União da Vitória,
atualmente, Universidade Estadual do Paraná. Recebeu a Comenda Pinhão
do Vale, no dia 03 de dezembro de 2011(Odilon Muncinelli).
2012 - IRMÃ DIONÍSIA -UMA PEQUENA GRANDE MULHER
Dionísia Ladika, ou simplesmente Irmã Dionísia, filha dos falecidos
Basílio Ladika e dona Maria Waurik Ladika, nasceu a 6 de maio de 1953,
em Prudentópolis, Estado do Paraná, mais exatamente na comunidade de
São João do Rio Claro, vinculada à Paróquia de São Josafat, onde ela é tida
e reconhecida como a sua representante religiosa. (Aproximadamente 45 famílias fazem parte dessa comunidade. Todos são pequenos agricultores, e
uma boa parte lida com feijão, milho e erva-mate). Sob sua profissão de fé, a
Irmã Dionísia pertence à Congregação das Irmãs Catequistas de Sant’Anna,
que se dedica à assistência em hospitais, asilos, orfanatos e pensionatos. Decorre daí, que ela é uma atenciosa enfermeira e uma abnegada cuidadora de
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idosos, pois, com mãos e braços fortes, acolhe e atende mulheres e homens
idosos, com palavras, gestos e atitudes que revelam uma atenção efetiva e
diária, apesar de sua constituição física mostrar uma “freirinha”, aparentemente frágil. Recebeu a Comenda Pinhão do Vale no dia 19 de outubro de
2012, (Odilon Muncinelli).
2012 - ENÉAS ATHANÁZIO
O nome de Enéas, que é advogado e promotor público, expande-se
por todo o Brasil, por meio de seus contos, artigos em revistas e jornais, por
sua vasta coleção de obras, 54 livros contos, crônicas, ensaios e pelo relacionamento humilde com todas as pessoas que amam a arte e a ciência. Nascido
em Campos Novos, é filho de um médico, José Athanázio, quase lendário
por sua bondade e dedicação aos doentes. Tem sido premiado por inúmeras
Associações Culturais. É colunista do Jornal Página 3, de Balneário Camboriú, onde reside. Também é colunista do Site Coojornal - Revista Rio Total.
Manteve o jornal literário, jornal do Enéas por dez anos, circulando por todo
o país, com a descoberta de muitos escritores, dando-lhes um grande incentivo. Em suas publicações, Enéas revela o interior Catarinense. São algumas
de suas obras: Peão Negro, O Cavalo Inveja e a Mula Manca, José Athanázio,
Meu Pai, e, O Pó da Estrada (Fahena Horbatiuk).
2013 - ZÉLIA MARIA NASCIMENTO SELL
Nascida em Curitiba - Paraná, filha de Ney Regatierri e Luíza Grein,
Zélia é casada com Luiz Carlos Sell e possui três filhos, dois dos quais também jornalistas.Estudou no Colégio Sion, formou-se em Inglês pelo Centro Brasil - Estado Unidos e Tradução pela Universidade Federal do Paraná,
Francês pela Alliance Française e em Jornalismo pela UFPR. Pós-raduou-se
em Administração, com ênfase em Planejamento Governamental pela PUC/
PR.Trabalhou em vários jornais e revistas na Prefeitura de Curitiba. É membro efetivo e assíduo do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, e desde
1999, tem exercido cargo de diretora de pesquisa, e a partir de 2002 produz e apresenta o programa “Nossa História”, transmitido pela rádio Paraná
Educativa AM 630. No ano de 2009, escreveu e publicou o livro “Altdeuts
Altdeutschen - A História que não foi contada”, sobre os pioneiros alemães
de 1829. Por causa do programa de rádio e do livro, recebeu vários prêmios,
como a “Cruz Honorífica da Freguesia Nova” no grau de Cavaleiro Maior
pelo Instituto Histórico e Geográfico da Cidade de Palmeira, Paraná, “Votos de Congratulações e Aplausos das Comunidades Luso-Brasileiras”, “Voto
de Louvor e Congratulação da Câmara Municipal de Curitiba” e “Votos de
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Louvor, Aplauso e Congratulações pelos Relevantes Trabalhos Prestados à
Cultura Paranaense”, pela Assembleia Legislativa do Paraná (Leni Trentim
Gaspari- com base no Currículo da jornalista).
2013 - Dr. Josué Guimarães
Trata-se de uma das mais ilustres personalidades da história contemporânea de nossa região. Legítima expressão de nossos valores culturais.
Um homem que, apesar de seus 93 anos de idade, permanece na atividade
agropecuária, lutando com todo vigor, e participando ativamente da dinâmica da sociedade. Começou como peão de tropa e relevantes postos, como
prefeito de Palmas, prefeito instalador do município de General Carneiro,
advogado atuante na área comercial, tributo notável pela coragem e eloquência, assessor jurídico da Secretaria de Saúde do Paraná e, acima de tudo,
uma rica personalidade, com nobres atributos de humildade, simplicidade e
generosidade. Exemplo de dignidade, de ética e de patriotismo. Ilustre descendente do bandeirante paulista Joaquim Mendes de Souza, que, em 1839,
fundou a fazenda que até hoje conserva com o maior carinho. Foi aluno da
primeira turma de alunos do Colégio São José, em Porto União, (Joaquim
Osório Ribas).
2014 - ZELIR PELEGRINI
Se Bituruna teve a honra de ser o seu berço, no dia 20 de outubro
de 1927, Porto União desde 1941, tem seu nome projetado na história dos
primeiros atendimentos do Hospital São Braz, na enfermagem, em geral, nos
serviços de assistência, na sala de cirurgia, e a parturientes, naquela Casa que
adotou como seu lar. As dificuldades pelas quais passava o Hospital eram
também as suas, a tal ponto que além de cuidar da saúde das pessoas, tantas
vezes realizou trabalhos da cozinha, de limpeza e alguns cabíveis a profissionais de outros ramos: encanadores, carpinteiros, horticultores e jardineiros.
Por todo seu mérito, reconhecido pela população e poder público, Saní recebeu o título de Cidadã Honorária de Porto União, por meio do decreto nº
24/95 do Poder Legislativo, em 31 de agosto de 1995. Transcendendo décadas e anos na sublime missão de ajudar a viver, desejamos que as bênçãos
divinas a encorajem para sempre na senda da paz, agora no Plano espiritual,
junto ao nosso Pai, tendo em vista seu falecimento na madrugada de 31 de
maio de 2014, data em que receberia esta homenagem e a Comenda Pinhão
do Vale (Therezinha L. Wolff).
Revista da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI) - nº 7 - 2014
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2014 - ULYSSES TEIXEIRA
Nasceu em União da Vitória, Paraná, segundo filho de Nilce da Silva
Reis Teixeira e de Affonso Reis Teixeira Filho.Em 1970 ingressou no Colégio
São José, em Porto União. A partir daí começou o seu gosto pela literatura,
principalmente por Vinícius de Moraes e Augusto dos Anjos. Também começou a ter contato com a pintura e com o desenho. A paixão por essas disciplinas o levou mais tarde a formar-se na Escola de Belas Artes do Paraná em
Curitiba. Ingressou na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (EMBAP)
e tornou- se Bacharel em Pintura em 1981. Em 1986, casou-se com Joana
Smykaluk. Passaram a residir em Curitiba e, dessa união, nasceu Danyelle.
Em 1988, junto com pintores locais, como Amadeu Bona, Renato Ruschel e
Beatriz Bolbuck, entre outros, fundaram a Associação de Artistas da cidade.
Pintou murais sobre as enchentes, e, um muito especial que passou a fazer
parte da história das Cidades Gêmeas, o painel do monge João Maria, pintado na parede lateral da FAFI, Ulysses passou a ser considerado pela imprensa
local como o introdutor do modernismo na cidade, influenciando vários jovens artistas locais, com a sua pintura original e livre. É membro da Academia de Cultura Precursora da Expressão de União da Vitória e de Curitiba;
da Academia Niteroiense de Belas Artes, Letras e Ciências de Niterói - Rio
de Janeiro; da Confederação Brasileira de Letras e Artes. Embaixador da Paz
da Confederação Brasileira de Letras e Artes, em 2013. Seu trabalho é conhecido e respeitado internacionalmente, tendo recebido inúmeros prêmios no
Brasil e em outros países (Margareth Rose Ribas).
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