II – São Paulo, 122 (101)
Diário Oficial Poder Executivo - Seção II
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Geraldo Alckmin - Governador SEÇÃO II
Volume 122 • Número 101 • São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2012
www.imprensaoficial.com.br
Hospital Dia da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto
completa 50 anos tratando
de casos de depressão,
transtorno bipolar e de
personalidade
De forma pioneira no País, em outubro de 1961 foi fundado o HD para atender
pacientes psiquiátricos graves e em crise, com
condições de assistência ambulatorial. Desde
então, a rotina é a mesma: o doente chega
ao HD às 7 da manhã, toma café, almoça e
recebe tratamentos – psicoterapia, socioterapia (ressocialização) e psicofarmacoterapia
(medicamentos) – conduzidos pela equipe
multiprofissional (médico, assistente social,
educador físico, psicólogo, terapeuta ocupacional e enfermeiro). O paciente aprende a
lidar com os próprios sintomas, bem como a
evitá-los, contorná-los ou eliminá-los.
Ensino, pesquisa e assistência
– Integrantes dessa equipe também auxiliam a família, que recebe informações
sobre conceitos da doença, como é o tratamento, como melhorar a percepção da vida,
como eliminar o estigma da doença e perceber como colaborar. “Oferecemos total
atenção ao familiar porque sua colaboração
repercute na melhora da condição de saúde
do doente”, frisa o doutor Contel.
Ele diz que o modelo de assistência, inovador na época, mostrou à sociedade que era
possível oferecer cuidados médicos e ressocializar o paciente psiquiátrico: “Em vez de
interná-lo por longa data, com o sistema de
HD o paciente reaprende a ter suas próprias
responsabilidades no tratamento, como disposição pessoal de ir ao hospital, voltar para
casa e se sociabilizar – falar, escutar, etc.”.
Equipe multidisciplinar (médico, assistente social, educador físico, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro) garante sucesso no tratamento
O tratamento dura em média dois
meses, mas pode haver crises e reincidências
ou necessidade de internação integral numa
unidade do próprio HC de Ribeirão Preto.
Desde a fundação, o HD preocupa-se com
pesquisa, ensino e assistência. A cada ano oferece estágio de especialização para 30 médicos
residentes em psiquiatria. É especializado em
atendimento terciário de paciente psiquiátrico
grave e em crise, encaminhado pelo Sistema
Único de Saúde (SUS) da região de Ribeirão
Preto (27 municípios). Recebe em média 16
pacientes em hospitalização parcial, de segunda
a sexta-feira, e seguimento da assistência de 60
pacientes por semana no pós-alta. Em média,
realiza 600 atendimentos por ano. “Número
suficiente para desenvolvermos o tripé ensino,
pesquisa e assistência”, frisa o primeiro diretor.
Simpósio comemorativo – O atual
coordenador do HD do HC da FMRP-USP,
psiquiatra e professor Mario Juruena, foi professor da Universidade de Londres por sete
anos, onde trabalhou com novas pesquisas
nas áreas de depressão, transtorno bipolar,
transtorno de personalidade. Ele trouxe essas
descobertas para o Brasil e as aplicou na rotina do HD, já que essas são as principais doenças tratadas na instituição.
Juruena, que também é coordenador
do Programa de Assistência, Ensino e Pesquisa em Estresse e Doenças Afetivas do
HC-FMRP-USP, explica que esses problemas são causados por estresse precoce. Ou
seja, na infância ou adolescência, a pessoa sofreu abuso físico, emocional, sexual, maus-tratos e negligência de cuidados.
“Setenta por cento dos pacientes do HD
sofreram esses traumas e, na fase adulta,
desenvolvem problemas de saúde mental e
clínica, sendo mais resistentes ao tratamento. Alguns casos levam à depressão grave,
refratária e tentativa de suicídio”, informa.
“Diante desse quadro, adotamos a
abordagem terapêutica com psicoterapia
e medicamentos específicos. Com a psicoterapia cognitiva, o paciente e sua família
mudam a percepção e redimensionam o
trauma e o estresse precoce, resultando em
melhora dos quadros mentais, o que ajuda
na reinserção social”, conta o coordenador.
O alerta sobre os malefícios dos maus-tratos e abusos na infância e adolescência
e a importância da presença da equipe multiprofissional no sucesso do tratamento de
doentes mentais foram os principais temas
abordados no simpósio, realizado especialmente para comemorar os 50 anos da instituição. O evento também celebrou os 60
anos da FMUSP de Ribeirão Preto.
JOÃO NEVES
O
Hospital Dia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da USP Ribeirão Preto (HD-HCFMRP) completa 50 anos e é considerado a
primeira instituição de hospitalização parcial do Brasil, vinculada a uma universidade pública, especializada em saúde mental.
O psiquiatra José Onildo Betioli Contel, que dirigiu a unidade por mais de 30
anos desde sua fundação, conta que o HD já
oferecia internação parcial antes mesmo da
legislação federal, que limitava a internação
psiquiátrica integral a casos graves com risco
de morte. “Antes da legislação, do final da
década de 1980, pacientes com deficiência
mental eram internados sem necessidade,
superlotando os hospitais. Era possível tratálos em casa, mas a família não tinha orientação apropriada”, lembra o médico, que foi
professor da FMRP-USP de 1969 a 2009.
DIVULGAÇÃO FMRP/USP
Um pioneiro em saúde mental
Dado novo – “A descoberta de que
70% de nossos pacientes foram abusados na infância e adolescência é um dado
novo de pesquisa, algo muito grave no País
e no mundo. Esse comportamento agrava a saúde da população, pois pode provocar até mesmo outros problemas de saúde
como doenças cardiovasculares”, alerta
Juruena.
O médico defende a importância de
formar novos profissionais em saúde mental e a presença de instituições como o HD
para tratar e reabilitar o doente. Informa
que entre 35 e 40% da população brasileira sofre algum tipo de doença mental, que
inclui tabagismo, alcoolismo, dependência
de drogas, ansiedade, depressão, psicoses,
transtorno bipolar e outras.
Viviane Gomes
Da Agência Imprensa Oficial
O Hospital Dia preocupase com pesquisa, ensino e
assistência ao doente
mental e seus familiares
Download

Baixe aqui o texto na íntegra da ICMS/SP – IVA-ST