ATUALIZAÇÃO DE NORMAS DO RAVEN AVANÇADO: DISCUSSÃO DE
MODELOS NORMATIVOS E DESENVOLVIMENTO DO MODELO PONDERADO
DE NORMATIZAÇÃO DE ESCORES VIA TRI
Prof. Msc. Igor Gomes Menezes
Profa. Dra. Sonia Regina Pasian
Prof. Dr. José Humberto da Silva Filho
Departamento de Psicologia
RESUMO: A realidade brasileira na área de avaliação psicológica exige contínuos
esforços no sentido de revisão técnica de seus instrumentos, considerando a
insuficiência de estudos nesta direção, apesar das inúmeras aplicações dos testes
psicológicos. Neste contexto, o presente trabalho objetiva apresentar estratégias
técnicas utilizadas para se compor amostra significativa e representativa de
universitários da região de Ribeirão Preto (SP), a fim de subsidiar a elaboração de
novas normas para a Escala Avançada das Matrizes Progressivas de Raven. Este
estudo se justifica tendo em vista a flagrante defasagem temporal entre as normas
disponíveis sobre este teste psicológico (elaboradas em 1962) e a realidade sóciocultural contemporânea. A presente exposição focaliza as estratégias para
composição da referida amostra de universitários, a partir de suas características
sócio-demográficas, considerando a meta de elaboração de novas normas. Para
tanto, buscou-se incluir significativo número de participantes, representando a
diversidade de universitários existentes na região em foco, almejando atingir 1% da
população de universitários, índice considerado bastante satisfatório para o trabalho
proposto. Planejou-se amostra com cerca de 200 universitários, voluntários,
saudáveis, de 18 a 30 anos, de vários cursos das três áreas científicas (Exatas,
Biológicas e Humanas) de universidades públicas e particulares da região de
Ribeirão Preto (SP), excluindo-se os seguintes casos: a) condições clínicas
psicopatológicas; b) uso atual ou pregresso de medicação psicotrópica; c) limitação
cognitiva (resultado no Raven Avançado inferior ao percentil 50, conforme normas
de 1962); d) sinais intensos de depressão ou de ansiedade (a partir dos inventários
de Beck para depressão ou ansiedade). Foram visitadas instituições de ensino
superior de Ribeirão Preto (SP), solicitando-se autorização para a pesquisa,
expondo-se seus objetivos aos alunos na própria sala de aula. Aderiram a esta
pesquisa, inicialmente, 490 voluntários, sendo que apenas 261, efetivamente, dela
participaram. Deste conjunto, foram excluídos 38 universitários, por preencherem um
ou mais critérios de exclusão da amostra, a saber: 13 voluntários por acentuada
depressão; 21 por elevada ansiedade; c) 22 por uso de psicotrópico; d) quatro por
limite cognitivo. A amostra ficou composta por 223 universitários, representando 1%
da população universitária de Ribeirão Preto (SP), previamente delineada para
atender, proporcionalmente, aos estratos existentes em relação às variáveis: sexo
(masculino 43,5% X feminino 56,5%), origem escolar (pública 30,5% X particular
69,5%) e turno de estudo (diurno 41,3% X noturno 58,7%). A amostra contempla
representantes de 23 cursos universitários, distribuídos, equitativamente, nas
Ciências Biológicas e da Saúde (35,9%), Ciências Exatas (34,5%) e Ciências
Humanas (29,6%), com média de 14,6 anos de escolaridade. Os participantes da
amostra também estão distribuídos, igualmente, entre os anos iniciais e finais de
formação universitária (31,8% do primeiro ano, 24,2% do segundo ano, 23,3% do
terceiro ano e 20,1% a partir do quarto ano). Estes diversos critérios e cuidados
técnicos, na composição da amostra do presente trabalho, garantiram bases
adequadas e suficientes para o objetivo maior de elaboração de normas de
desempenho de universitários no Raven Avançado, alcançando-se resultados
seguros e com efetiva distribuição normal. A normatização é um dos parâmetros
psicométricos mais importantes para a garantia da qualidade psicométrica de uma
medida e se mostra, particularmente, significativa a uma devida interpretação dos
escores obtidos por um sujeito no teste. Baseadas nos modelos de uma distribuição
normal, grande parte das técnicas de normatização estão respaldadas em
procedimentos derivados da Estatística Clássica, representada na Psicometria pela
Teoria Clássica dos Testes (TCT). São escassos os testes psicológicos, que
baseiam seus métodos de normatização em princípios mais modernos, como os da
Teoria da Resposta ao Item (TRI), capazes de fornecer informações mais precisas
pela derivação de modelos logísticos mais sensíveis à variabilidade dos dados. O
método de normatização pela TRI, de maior emprego na atualidade, busca realizar
uma transformação do nível de aptidão do sujeito (teta) no escore verdadeiro da
Psicometria Clássica. Basicamente, tal modelo calcula as probabilidades de acerto
do conjunto de itens do teste em função dos diferentes níveis de aptidão de todos os
sujeitos que fizeram parte da amostra normativa. As faixas percentílicas são assim
determinadas pela proporção entre os valores médios da probabilidade associada a
cada faixa de desempenho na escala teta e a quantidade total de itens. Os
procedimentos de normatização pela TRI promoveram uma avanço substancial nas
formas de normatização, visto que agora poderiam ser considerados o nível de
aptidão de cada indivíduo e os valores de probabilidade de acerto ao item em função
do teta. Será demonstrado que, quando comparados, paralelamente, os modelos de
normatização da TCT e da TRI, verifica-se uma significativa diferença nas normas
por elas estabelecidas. Cada modelo irá alocar o desempenho dos indivíduos em
faixas diagnósticas do RAVEN, em geral, diferentes, resultando em informações
interpretativas, significativamente, também, diferentes. Isto se dá pelo fato da TCT
desconsiderar o nível de dificuldade de cada item na produção da norma, enquanto
nos modelos mais modernos da TRI verifica-se uma maior susceptibilidade em
superestimar a distribuição das faixas percentílicas, por atribuir, diretamente, valores
de probabilidade desde o menor nível de aptidão encontrado na amostra normativa.
No entanto, as tabelas normativas a partir da TRI, apenas estimam a posição
percentílica de um indivíduo associada ao nível de aptidão em diferentes faixas da
escala teta, o que pode ocorrer de um dado número de itens acertados mudar de
ordem a depender dos valores individuais das aptidões ou, ainda, se situar em
intervalos percentílicos limítrofes, gerando uma dificuldade na definição precisa das
posições percentílicas em função do número de acertos. O que faz pensar que uma
norma que também considere a ponderação de cada item, a partir do tratamento já
desenvolvido pela própria TRI, pode trazer ainda maior precisão da medida,
ampliando o poder discriminativo dos resultados em sua interpretação. Dentre os
distintos tipos de normatização de escores de testes, as normas intragrupo são de
grande relevância para a atribuição de faixas diagnósticas, dado que o desempenho
do indivíduo é avaliado em termos do desempenho do grupo normativo. A forma
mais comum de comunicação das normas intragrupo são por meio de percentis, que
correspondem à divisão de um conjunto ordenado em cem partes iguais, e mediante
os escores-padrão, conjunto de processos que comparam as notas brutas
individuais com a média do grupo, sendo a média avaliada em unidades de desviopadrão. Não obstante a técnica da divisão por percentis seja um dos recursos mais
utilizados para a comunicação das faixas diagnósticas, a obtenção dos valores
percentílicos pode ser obtida a partir de diferentes métodos que, em Psicometria,
derivam-se fundamentalmente, da Teoria Clássica dos Testes (TCT) e da Teoria de
Resposta ao Item (TRI). Largamente empregadas em testes de aptidão e de
inteligência, de um modo geral a TCT desenvolve as normas de um teste com base
na quantidade total de itens acertados, desconsiderando, na criação da norma, os
parâmetros de dificuldade e discriminação de cada item, isto é, o peso de cada item
na avaliação geral do construto. Já a TRI, ao estudar os parâmetros individuais dos
itens busca encontrar valores percentílicos mais bem ajustados aos diferentes níveis
de aptidão dos sujeitos, embora possa, por vezes, maximizar os percentis
correspondentes aos valores extremos das aptidões dos sujeitos. À luz das
insuficiências explicativas dos procedimentos de normatização de testes que vêm
sendo empregados para a criação de normas intragrupo. Buscou-se desenvolver um
novo modelo, denominado Modelo Ponderado para Normatização de Escores via
TRI. O presente trabalho tem, assim, como objetivos comunicar o desenvolvimento
desse novo modelo de normatização, o qual está fundamentado nos princípios da
TRI e, demonstrar a eficácia desse modelo frente aos demais métodos,
correntemente, empregados. Para a consubstanciação dos testes empíricos entre os
modelos foram utilizados os 36 itens do teste de inteligência Raven (Escala
Avançada), o qual foi submetido a 223 sujeitos. Inicialmente, ao considerar os
valores da probabilidade distribuídos ao longo da escala teta, buscou-se ponderar
tais valores de acordo com a representatividade na escala de aptidão. Em um
segundo momento foi extraída uma média geral das probabilidades para os valores
da escala teta para cada um dos 36 itens do teste. A esse valor da média foi
subtraída uma constante de valor 1, que corresponderia ao escore bruto do sujeito
ao acertar um determinado item. A partir desse modelo, aos itens com maior
probabilidade de acerto são atribuídos os valores ponderados inversos, que
representariam o escore do sujeito no item. Finalmente, encontra-se o escore médio
final do conjunto das médias das probabilidades de todos os itens. Esse valor médio
da probabilidade, ao ser comparado com o valor mais elevado obtido na amostra
normativa, forneceu as faixas percentílicas ou, mais, especificamente, as normas do
Raven Avançado, que puderam ser consideradas, sensivelmente, mais precisas do
que as obtidas pelos procedimentos tradicionais da TCT e a TRI.
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