EM DEFESA DA DEMOCRACIA E DAS POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO Nós, conselheiros e conselheiras da Sociedade Civil do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (CONDRAF), reunidos e reunidas em sua 63ª Reunião Ordinária, viemos a público nos manifestar em defesa da democracia e da manutenção das políticas de desenvolvimento rural sustentável e solidário. O Brasil se desenvolveu nos últimos doze anos como nunca em nossa história. E foi um Estado forte, construído em diálogo com a sociedade civil que possibilitou que avanços sociais fossem conquistados por aqueles e aquelas que nunca antes tinham sentido a força do Estado a seu favor. Por isso, não podemos admitir que, em nome de uma crise política, provocada por aqueles que nunca se conformaram com o fim das senzalas, as conquistas desse último período sejam colocadas em risco. Não podemos, em nome das chantagens orquestradas pela grande mídia e por quem não se conforma com a vontade popular, aceitar retrocessos em direitos conquistados pelo povo brasileiro. É necessário que o Governo Federal continue acreditando na política democrática e de valorização dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, das florestas, das águas, e da cidade que vem sendo construída ao longo dos últimos doze anos, para que possamos superar os ataques recorrentes de ódio de classes, às organizações, movimentos sociais, partidos políticos, sindicatos e suas lideranças, que defendem esse projeto popular e democrático. Consideramos que a atual política econômica do governo compromete o desenvolvimento social do país. A crise econômica não pode ser desculpa para um ajuste fiscal que penaliza os trabalhadores e trabalhadoras. Por isso, defendemos que os ricos, que produzem suas crises, paguem por ela. Os ajustes fiscais adotados pelo Governo Federal neste ano de 2015 estão impactando negativamente no orçamento das políticas públicas imprescindíveis para o desenvolvimento rural. Como conquista da opção do governo pelos mais pobres, o semiárido é um bom exemplo: atravessamos o quinto ano seguido de seca e não vivenciamos mais a realidade dos saques, nem o êxodo rural. Mas esse avanço está em risco com o ajuste fiscal. Não concordamos com a reforma ministerial anunciada recentemente pelo Poder Público, que extinguiu Ministérios e Secretarias que desenvolvem políticas para a população do campo, da floresta e das águas. Ainda considerando a reforma ministerial, também destacamos nosso inconformismo com a perda de status de Ministério das Secretarias Especiais da Presidência da República, a saber: Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM/PR), Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR) e Secretaria de Direitos Humanos (SDH/PR), especialmente em face da onda conservadora que estamos enfrentando no Congresso Nacional e na sociedade. Ressaltamos que tais medidas colocam em risco a dignidade e a vida de todas as mulheres, povos e comunidades tradicionais e dos demais segmentos de nosso país. Não aceitamos a extinção do Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA e sua incorporação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, por considerarmos essa política de grande importância para as populações das águas, que tem sido historicamente invisibilizadas e secundarizadas. Além disso, as/os pescadoras e pescadores artesanais e extrativistas costeiros e marinhos se identificam como parte da agricultura familiar, considerando que estão mais próximos/as das ações e políticas públicas desenvolvidas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário- MDA. Ressaltamos que o crescente conservadorismo do Congresso Nacional afeta o cotidiano da população brasileira, estancando conquistas sociais históricas e, assim, diminuindo a qualidade de vida de cidadãos e cidadãs. A perda de direitos e de garantias legais para mulheres, indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais e demais segmentos solapa nossa democracia. Democracia não é apenas um sistema político em que são eleitos por maioria os representantes e as representantes do povo. Democracia é o sistema político em que se busca a justiça, a igualdade, a fraternidade e a ampliação de direitos para aqueles e aquelas que foram historicamente marginalizados e excluídos. Diante do exposto, manifestamo-nos: Em defesa intransigente da democracia e do respeito aos direitos legitimamente garantidos em nossa Constituição Federal; Em defesa de que as pautas e as estruturas da pesca artesanal e do ordenamento pesqueiro artesanal sejam incorporadas às políticas do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA, em conformidade com o posicionamento dos movimentos de pescadores e pescadoras artesanais e extrativistas costeiros e marinhos do Brasil; Em defesa do reconhecimento das mulheres como trabalhadoras da pesca, garantindo os direitos e benefícios deste segmento; Em defesa da manutenção e fortalecimento do Programa de Aquisição de Alimentos – PAA; Em defesa da universalização da ATER pública, gratuita e agroecológica; Em defesa da ampliação da educação no Campo, em especial dos Centros Familiares de Formação por Alternância e do PRONERA, que garante educação do campo em todos os níveis; Em defesa da ampliação e fortalecimento do Programa Minha Casa Minha Vida Rural; Em defesa da política de juventude e pela manutenção da Secretaria Nacional da Juventude; Em defesa da Política Nacional de Participação Social (PNPS) e da permanência do diálogo junto aos movimentos sociais no âmbito da Presidência da República; Pela taxação das grandes fortunas; Em defesa da continuidade de todos os programas sociais voltados para o Semiárido, em especial da garantia do orçamento anteriormente previsto para os Programas de Captação e Armazenamento de Água para Consumo Humano e para Produção de Alimentos (P1 + 2 e P1MC) e Operação Carro Pipa; Em defesa da continuidade da Política de Inclusão Digital, em especial dos programas com ações voltadas para o campo, reservas extrativistas, povos e comunidades das florestas e águas. Em defesa da demarcação das terras indígenas e contra o genocídio dos povos e comunidades tradicionais e a aprovação da PEC 215; Em defesa da manutenção no escopo do MDA de todas as políticas pelo fortalecimento da agricultura familiar e da reforma agrária. Brasília/DF, 08 de outubro de 2015.