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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL
LEONARDO MATHEUS ALVES
VALORIZAÇÃO DO PREÇO DE MERCADO DAS AÇÕES DA
BRASIL FOODS S/A NA BOVESPA APÓS A FUSÃO DA
SADIA S/A E DA PERDIGÃO S/A – 2008/2012
(ESTUDO DE CASO)
Ijuí (RS)
2012
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LEONARDO MATHEUS ALVES
VALORIZAÇÃO DO PREÇO DE MERCADO DAS AÇÕES DA
BRASIL FOODS S/A NA BOVESPA APÓS A FUSÃO DA
SADIA S/A E DA PERDIGÃO S/A – 2008/2012
(ESTUDO DE CASO)
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em
Economia, do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação
(DACEC), da Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel em
Economia.
Orientadora: Ms. Marlene Köhler Dal Ri
Ijuí (RS)
2012
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A Banca Examinadora abaixo-assinada aprova a Monografia:
VALORIZAÇÃO DO PREÇO DE MERCADO DAS AÇÕES DA
BRASIL FOODS S/A NA BOVESPA APÓS A FUSÃO DA
SADIA S/A E DA PERDIGÃO S/A – 2008/2012
(ESTUDO DE CASO)
elaborada por
LEONARDO MATHEUS ALVES
como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel em Economia.
Ijuí (RS), 11 de julho de 2012.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Ms. Marlene Köhler Dal Ri
Orientadora
_______________________________________
Prof.
Examinador Titular
4
RESUMO
O mercado de capitais é constituído pelas bolsas de valores, sociedades corretoras e
outras instituições financeiras autorizadas. É por meio da abertura de capital proveniente da
adesão de novos sócios – nesse caso os acionistas – que uma empresa adquire novos recursos
não exigíveis em contrapartida à participação no seu capital. Com esses novos recursos, as
empresas têm condições de investir em equipamentos ou no desenvolvimento de pesquisas,
melhorando seu processo produtivo, tornando-o mais eficiente e beneficiando toda a
comunidade. Dessa forma, o investidor em ações contribui para a produção de bens, dos quais
ele também é consumidor. Como acionista, ele é sócio da empresa e se beneficia da
distribuição de dividendos sempre que ela obtiver lucros. O mercado de capitais é uma peça
importante para a consolidação do desenvolvimento econômico brasileiro recente. Por ele
transitam inúmeras atividades capazes de fomentar uma estratégia bem sucedida de
crescimento da economia, diminuição da desigualdade de renda e construção de bem-estar
social. O objetivo da presente pesquisa é verificar o impacto da fusão das empresas Sadia e
Perdigão no mercado acionário. Para tanto, utilizou-se o software de análise gráfica
denominado Grafix para representação do comportamento das ações dessas empresas ao
longo do período em estudo. A pesquisa se caracteriza por ser descritiva, utilizando critérios
relacionados aos fins, bem como pesquisa bibliográfica, pois serão utilizados como fonte de
informação estudos já realizados e publicados sobre o tema pesquisado, além de informações
das próprias empresas Sadia S/A e Perdigão S/A. Também pode ser considerada estudo de
caso, pois é feita com base no estudo de uma fusão específica entre as empresas Sadia e
Perdigão, originando a Brasil Foods S/A. Com a realização do estudo pode-se verificar o
impacto do preço das ações da Brasil Foods no mercado mobiliário. Tendo em vista a
realização do estudo verificar o impacto no preço de marcado das ações da no mercado
Palavras-chave: Mercado de capitais. Fusão. Ações. Análise gráfica. Índices
estatísticos.
5
LISTA DAS FIGURAS
Figura 1.
Figura 2.
Figura 3.
Figura 4.
Figura 5.
Figura 6.
Figura 7.
Etapas do processo de subscrição de novas ações.....................................
Razões para abertura de capital..................................................................
Custos e obrigações da abertura de capitais...............................................
Representação das fases da negociação dos ativos no mercado acionário
Comparação entre as escolas de análise de ações......................................
Produtos que terão venda suspensa no Brasil ............................................
Valor de mercado das ações da Sadia S/A e Perdigão S/A na Bovespa...
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6
LISTA DOS GRÁFICOS
Gráfico 1.
Gráfico 2.
Gráfico 3.
Gráfico 4.
Gráfico 5.
Gráfico 6.
Gráfico 7.
Gráfico 8.
Gráfico 9.
Gráfico 10.
Gráfico 11.
Gráfico 12.
Gráfico 13.
Gráfico 14.
Gráfico 15.
Gráfico 16.
Gráfico 17.
Gráfico 18.
Exemplo de gráfico de linhas.....................................................................
Exemplo de gráfico de barras.....................................................................
Exemplo de gráfico de candlestick.............................................................
Média móvel de 20 períodos.......................................................................
Representação comum de um GAP............................................................
Representação de corte num GAP..............................................................
Representação da continuidade de um GAP...............................................
Representação de exaustão em um GAP....................................................
Comportamento das ações da Sadia S/A no mercado imobiliário no
período em análise......................................................................................
Operações diárias no mercado acionário da Sadia S/A..............................
Operações diárias no mercado acionário da Perdigão S/A.........................
Evolução da cotação das ações da Perdigão S/A e Sadia S/A de maio a
setembro/ 09 ...............................................................................................
Oscilações no valor das ações da Sadia S/A e da Perdigão após anúncio
da fusão.......................................................................................................
Comportamento das ações da Brasil Foods de 10/12/09 a 30/04/12..........
Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a julho/11.......
Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a abr/12..........
Comparativo das ações da Sadia (SDIA3), Perdigão (PRGA3) e Brasil
Foods (BRFS3) no período de agosto/09 a fevereiro/10............................
Evolução da cotação diária dos pregões na Bovespa das ações da Brasil
Foods S/A – dezembro/09 a abril/12..........................................................
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ......................................................................... 11
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DA QUESTÃO DE ESTUDO ....... 11
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 12
1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................. 12
1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................................................... 12
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 14
2.1 MERCADO DE CAPITAIS ............................................................................................... 14
2.1.1 A importância do mercado de capitais para o crescimento e desenvolvimento
econômico ................................................................................................................................ 14
2.2 MERCADO DE AÇÕES .................................................................................................... 15
2.2.1 A importância do mercado de ações no desenvolvimento econômico das
empresas .................................................................................................................................. 17
2.3 MERCADO PRIMÁRIO.................................................................................................... 18
2.4 MERCADO SECUNDÁRIO ............................................................................................. 19
2.5 MERCADO DE CAPITAIS ............................................................................................... 20
2.5.1 Limitação do poder de mercado: a legislação antitruste ........................................... 25
2.5.2 Importância das fusões de empresas para o crescimento econômico ....................... 26
2.6 MÉTODOS DE ANÁLISE DO MERCADO DE AÇÕES ................................................ 29
2.6.1 Análise fundamentalista ................................................................................................ 30
2.6.2 Análise técnica ............................................................................................................... 32
3 METODOLOGIA................................................................................................................ 40
3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................................... 40
3.2 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 41
3.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS .............................................................. 41
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS .................................................. 42
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA SADIA S/A ............................................................................ 42
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA PERDIGÃO S/A .................................................................... 48
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA BRASIL FOODS S/A ............................................................ 54
4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS ....................................................................................... 58
4.4.1 Análise do comportamento das ações da Sadia S/A no mercado acionário ............. 58
8
4.4.2 Análise do comportamento das ações da Perdigão S/A no mercado acionário ....... 60
4.4.3 Reflexos da fusão entre Sadia e Perdigão no mercado acionário .............................. 62
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 67
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72
OBRAS CONSULTADAS ..................................................................................................... 74
9
INTRODUÇÃO
A problemática da economia brasileira tem sido objeto de discussão por economistas e
pela população em geral, preocupados com o desenvolvimento de diferentes áreas em que tem
repercussão. A crise é apontada com base em políticas organizadas a regulamentar os
procedimentos ligados a investimentos, gerando lucros ou prejuízos. Diante desse quadro cabe
apontar o que tem sido realmente indicador da economia. Ocorre que o mercado de capitais
vem, a cada dia, adquirindo importância crescente no cenário internacional. Assim, os países
em desenvolvimento abrem seus mercados para receber investimentos externos, e quanto mais
ativo o mercado de capitais, maior o desenvolvimento da economia.
O desenvolvimento econômico depende da expansão contínua da capacidade de
produção. Este se acelera quando os investimentos se direcionam para as alternativas com
maiores retornos econômicos e sociais. O mercado de capitais, especificamente o mercado
acionário, tem papel fundamental, pois viabiliza o aproveitamento das oportunidades em toda
a economia. Permite o fluxo de quem poupa para quem necessita de recursos para
investimento produtivo e cria condições que incentivam a formação de poupança e a direciona
para melhores alternativas.
A função básica dos mercados financeiros é aproximar os dois agentes no mercado: o
poupador, que tem excesso de recursos, mas não tem oportunidade de investi-los em
atividades produtivas, e o tomador, que está em situação inversa. É desse modo que os
mercados viabilizam o aproveitamento das oportunidades em toda a economia.
O mercado de capitais, parte integrante do mercado financeiro, proporciona o aumento
de sua eficiência. Conforme a Bovespa, quando uma empresa assume compromissos de longo
prazo com terceiros, partilha seus riscos com um grande número de investidores e obriga-se a
fornecer informações detalhadas sobre seu desempenho. Já na órbita dos investidores, estes
10
acompanham a atividade da empresa, identificam falhas e premiam acertos. É nesse sentido
que ocorre a eficiência no mercado de capitais.
O presente estudo tem como tema avaliar o impacto no valor das ações no mercado
mobiliário com a fusão entre as empresas Perdigão S/A e Sadia S/A, passando a se chamar
Brasil Foods S/A, no período de janeiro de 2008 a abril de 2012.
Nesse sentido, para análise do comportamento das ações das referidas empresas, são
utilizados métodos de análise de ações que visam descrever e representar o desempenho dos
ativos ao longo do período em estudo.
Tanto a análise fundamentalista como a análise técnica ou gráfica são formas de
analisar o desempenho das empresas na Bolsa de Valores, com o propósito de gerar subsídios
para fundamentar as decisões dos investidores no mercado de ações.
Este estudo está estruturado em quatro tópicos principais. Inicialmente, na
contextualização do estudo apresenta-se o tema e formula-se o problema e os objetivos, bem
como a justificativa do estudo.
O segundo tópico constitui-se na revisão de literatura sobre o problema, buscando os
fundamentos teóricos que embasaram a análise dos dados coletados junto à empresa, de forma
a alcançar os objetivos previamente delimitados.
Os procedimentos metodológicos são apresentados no terceiro tópico, onde estão
descritos o tipo de pesquisa realizada, a coleta e a análise dos dados para o desenvolvimento
deste estudo.
O quarto tópico faz a apresentação dos dados e a análise dos resultados. Neste
momento são descritas as empresas que se constituem no foco deste estudo e, em seguida, fazse a análise proposta inicialmente, verificando o desempenho do valor das ações da Brasil
Foods S/A no mercado mobiliário da Bovespa após a fusão da Sadia S/A e da Perdigão S/A
ao longo de 2008 a 2012.
Seguem as considerações finais a que se chegou com o estudo e as referências que
fundamentaram o estudo.
11
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
1.1 APRESENTAÇÃO DO TEMA E FORMULAÇÃO DA QUESTÃO DE ESTUDO
O processo de globalização tem, sem dúvida alguma, levado a um sistema mais
complexo de interdependência entre economias nacionais. Esse complexo sistema de
interdependências, no entanto, continua significativamente assimétrico, de tal forma que se
pode falar em “vulnerabilidade unilateral” por parte da grande maioria de países do mundo
que têm uma capacidade mínima de repercussão em escala mundial.
Um país que tem vulnerabilidade unilateral é muito sensível frente a eventos externos
e sofre de forma significativa as consequências de mudanças no cenário internacional,
enquanto o evento doméstico desse país tem impacto nulo ou quase nulo sobre o sistema
econômico mundial. De um modo geral, os países em desenvolvimento têm como atributo a
vulnerabilidade externa que tem sido parte integrante do processo histórico desses países,
inclusive aqueles que se livraram formalmente de laços coloniais há mais de um século.
Nos últimos anos, o mercado de capitais assumiu um papel de fundamental
importância na sua evolução como agente financiador das companhias brasileiras. A abertura
de capital e a consequente captação de recursos assumem papel fundamental no
desenvolvimento das empresas, contribuindo em última instância para a criação de emprego e
crescimento econômico. Esse fenômeno acabou acarretando um processo de consolidação de
diversos segmentos da economia. As companhias perceberam que precisavam se modernizar e
investir para crescer e se tornar mais competitivas em seus mercados.
Um indicador fundamental para refletir o comportamento médio do mercado de ações
negociadas na bolsa de valores de São Paulo (Bovespa) é o índice Ibovespa.
Este estudo, portanto, tem como tema avaliar o comportamento do mercado acionário
da empresa Brasil Foods S/A após a fusão da Sadia S/A e da Perdigão S/A, utilizando a
análise técnica, no período compreendido entre janeiro de 2008 e abril de 2012.
Nos tempos atuais, numa economia globalizada, há uma tendência de concentração de
capitais e segmentos de produtos nas mãos de grupos empresariais. Esta tendência ocorre
devido à concorrência de mercado e pela necessidade de reduzir custos operacionais na
empresa como forma de manter o produto competitivo no mercado consumidor. Para manter a
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competitividade de seus produtos e serviços, e ampliar a distribuição dos mesmos, muitas
empresas lançam mão de estratégias econômicas.
Um tipo de estratégia econômica seria a fusão de empresas, em que o controle
administrativo da nova empresa resultante da fusão ficaria sob responsabilidade daquela que
representa maior participação financeira e produtiva. A fusão propicia redução de custos
operacionais, otimização na produção, mas põe o mercado sob o risco de ações monopolistas,
apesar de mantida a individualização das marcas dos produtos já presentes no mercado.
Neste contexto define-se como problema ou questão de estudo desta monografia: é
possível verificar os impactos no mercado acionário quanto ao preço das ações da Brasil
Foods S/A, resultante da fusão da Sadia e da Perdigão, utilizando uma análise gráfica?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
Verificar o desempenho do valor das ações da Brasil Foods S/A no mercado
mobiliário da Bovespa após a fusão da Sadia S/A e Perdigão S/A.
1.2.2 Objetivos específicos
− Fundamentar teoricamente o mercado de ações;
− descrever e caracterizar as empresas Sadia S/A e Perdigão S/A e da Brasil Foods S/A;
− fundamentar as metodologias de análise técnica (gráfica) de ações;
− realizar a análise gráfica da empresa e interpretar os resultados dos indicadores
econômicos e da análise gráfica.
1.3 JUSTIFICATIVA
Devido ao processo de globalização e consequente reestruturação econômica, o
interesse pelo mercado de capitais vem se concretizando nos últimos anos, tanto por
investidores individuais pessoa física como no âmbito das organizações.
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O mercado de capitais, por meio da compra e venda de ações, tem propiciado aos
investidores uma importante opção de aplicação de seus recursos e obtenção de rendimentos
frente a outras opções existentes no mercado, gerando retornos maiores para seus
investidores.
As bolsas de valores são o principal meio para negociação das ações dos agentes
econômicos no mercado. É com elas que esses ativos são especulados e acompanhados por
seus investidores, que podem observar seu comportamento no mercado, sua cotação e a sua
tendência por meio do desempenho das empresas no mercado.
A abertura de capital e o fortalecimento do mercado acionário é resultado da
necessidade de as empresas atenderem às exigências do mercado e de se autofinanciarem
frente às novas mudanças da ordem econômica. A negociação de capital através da Bolsa de
Valores é um importante procedimento encontrado pelas organizações para reagir à
competitividade cada vez mais acentuada e garantir sua permanência no mercado, canalizando
recursos para sua expansão.
No decorrer do curso de Economia, o acadêmico manteve contato com o componente
curricular Finanças e Mercado de Capitais, onde conheceu melhor o mercado de capitais e
teve uma noção do que se trata esse importante mercado para a economia. Diariamente são
noticiados acontecimentos relacionados à Bolsa de Valores, seu fechamento, suas oscilações,
a cotação das ações das empresas e os fatos econômicos que afetam as empresas e refletem
nas negociações efetuadas em bolsa de valores. Foi procurando compreender a dinâmica de
funcionamento desse mercado de capitais e por ser um assunto latente na atualidade que se
interessou a aprofundar o tema.
No mundo profissional onde todos buscam seu espaço, a cada dia que passa o mercado
de trabalho necessita mais de profissionais capacitados para atender suas exigências e para
desempenhar suas funções de forma eficiente e qualificada. A competitividade profissional é
crescente devido ao aumento do número de pessoas que buscam o aperfeiçoamento
profissional a fim de galgar melhores colocações no mercado de trabalho. O objetivo do
estudo do mercado de capitais, com enfoque na Bolsa de Valores, pode ser motivado pela
intenção do acadêmico em se aprofundar no assunto para fins profissionais de atuação nesse
segmento de mercado.
14
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 MERCADO DE CAPITAIS
O mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários que tem o
objetivo de proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo
de capitalização. Nesse mercado os títulos de médio e longo prazo, como ações e títulos de
dívida, são comprados e vendidos com o objetivo de atender as necessidades dos agentes
econômicos por meio de diversos tipos de financiamento de médio e longo prazo para capital
fixo e capital de giro das empresas.
O financiamento do capital de giro das empresas também pode ser obtido através de
outros instrumentos de mercado, como: commercial paper, operações de repasses,
arrendamento mercantil, oferta pública de ações e debêntures, securitização de recebíveis,
mercado de bonds, rating das dívidas e os bonds de alto risco, warrants e títulos conversíveis.
Quando as operações são de financiamento de capital fixo, os bancos de investimento,
de desenvolvimento e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
são os agentes do processo de intermediação dos recursos Nesse mercado os principais títulos
negociados são as ações e os representativos de empréstimos tomados por estas empresas.
Segundo Pinheiro (2007, p. 131), o sistema de mercado de capitais é constituído de
sociedades corretoras de valores mobiliários, sociedades distribuidoras de valores mobiliários,
bancos de investimento e bancos de desenvolvimento.
O mercado de capitais auxilia para que as empresas direcionem seus recursos para
ampliação de sua capacidade produtiva através da circulação do capital com o aumento do
nível de investimentos. Por intermédio das instituições financeiras autorizadas as empresas
podem adquirir linhas de financiamento que auxiliam na obtenção de capital de giro e
aquisição de bens de capital, contribuindo para a expansão de seus negócios.
2.1.1 A importância do mercado de capitais para o crescimento e desenvolvimento
econômico
De acordo com Pinheiro (2007), todas as economias necessitam de crescimento e
desenvolvimento para proporcionar aos seus agentes um nível melhor de vida. Para que haja
essa expansão, é preciso que as empresas façam investimentos para acumulação de capital
produtivo e aumento de sua produtividade.
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Os investimentos ocorrem quando os recursos são alocados para o crescimento
econômico, de modo eficiente, a fim de atingir a máxima produtividade com o mínimo de
custos. Além dos recursos serem direcionados aos investimentos, devem ser usados de
maneira correta para obtenção de sua máxima potencialidade, evitando ociosidade e
desperdício, o que elevaria os custos do investimento com a manutenção, por exemplo.
Conforme Pinheiro (2007), os intermediários financeiros têm como função viabilizar
os recursos da economia por meio do elo entre agentes superavitários, que têm excesso de
recursos, mas que não estão sendo direcionados para fins de investimento, e os agentes
deficitários, que carecem de recursos para investimentos.
Ainda conforme Pinheiro (2007), o mercado de capitais, em especial o primário de
ações, é importante alternativa de investimento com riscos controláveis, sendo umas das
principais vias de desenvolvimento econômico. O ponto fundamental do mercado de capitais
é a existência de investidores dispostos a investir e empresas interessadas em abrir capital,
sem os quais o mercado não se sustenta.
O desenvolvimento de uma economia se dá pela estruturação de seu mercado de
capitais, sendo que o bom funcionamento do mercado faz com que a economia também
caminhe para o desenvolvimento mediante o uso produtivo dos capitais. Quanto mais sólido e
avançado for o mercado de capitais de um país, maior será seu nível de desenvolvimento, bem
como sua capacidade de poupança para posterior canalização.
A capacidade de uma economia gerar poupança e dispor de instrumentos eficientes de
captação e canalização dos recursos para o setor produtivo está ligada ao estágio de
desenvolvimento do país. O alto índice de poupança e a estabilidade do mercado de capitais
são características dos países desenvolvidos. Já o baixo índice de poupança e a instabilidade
do mercado de capitais são características dos países subdesenvolvidos.
2.2 MERCADO DE AÇÕES
Segundo Assaf Neto (1999), à medida que a economia se expande mais relevante se
apresenta o sistema de distribuição de valores mobiliários como fator multiplicador da riqueza
nacional. O sucesso dos investimentos produtivos está cada vez mais dependente da
participação dos acionistas, cujos interesses de participação nos resultados impulsionam o
crescimento das empresas.
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Ainda segundo Assaf Neto (1999), a função básica do mercado de capitais é a de
promover a riqueza nacional por meio da participação da poupança de cada agente
econômico. Nesse mercado, os principais ativos negociados são as ações, representativos do
capital das empresas.
Para que as ações sejam negociadas existem riscos inerentes ao processo, que
influenciam no valor das ações. Existe o risco econômico, ligado à atividade que a empresa
exerce, ou seja, as próprias perspectivas de mercado para o ramo no qual a empresa está
inserida, e a ameaça de outras empresas do setor em busca de maior fatia do mercado. Quando
as tendências do mercado não são boas os acionistas tendem a recuar, ou quando o setor está
em crise, o valor de mercado de suas ações tende a diminuir.
Outro risco importante é o financeiro, que diz respeito à liquidez da empresa, à
capacidade de a mesma saldar suas dívidas, pois quanto maior o endividamento, maior será o
risco da empresa. O aumento da desconfiança com a sua instabilidade fará com que os
acionistas deixem de comprar ações da empresa.
Conforme Assaf Neto (1999), as ações têm rendimentos e resultados distribuídos pela
própria companhia, ou seja, benefícios propiciados a seus acionistas sob a forma de proventos
(dividendos, bonificações) ou de direito de preferência na aquisição de ações (subscrição); e
outros decorrentes dos movimentos de preços dos mercados organizados.
Quanto à rentabilidade do investimento, independente da valorização (ou
desvalorização) das ações nas bolsas, as ações podem proporcionar benefícios aos seus
possuidores ligados aos Resultados da Companhia e à Comercialização das Ações (lucro e
venda).
Com o aumento do capital, quando os negócios vão bem e a rentabilidade cresce, a
empresa tem condições de emitir novas ações para o mercado e aumentar a distribuição dos
dividendos entre seus acionistas. Quando a empresa faz abertura de seu capital por meio da
emissão de ações, os seus compradores tornam-se proprietários de uma parcela do patrimônio
da empresa. Com a emissão das ações, a empresa tem o objetivo de atrair novos sócios que a
auxiliem na expansão de sua rentabilidade com o aumento do valor de mercado de suas ações.
Segundo Taylor (2007 p. 483), as ações das empresas podem ser negociadas
rapidamente no mercado a qualquer hora do dia. Quando se trata de empresas de médio e
grande porte, há sempre alguém interessado em comprar ou vender. Ao ouvirem que
determinada empresa fez uma descoberta que deverá aumentar seus lucros, as pessoas correm
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a comprar ações da companhia. Se de repente ficam sabendo que houve uma queda nos lucros
da empresa das quais possuem ações, correm a vendê-las. A pressa em comprar ou vender
altera os preços instantaneamente, de modo que eles se ajustam rapidamente às boas ou más
notícias. Esse ajuste rápido significa que raramente existem oportunidades inexploradas de
lucros para investidores que não contam com informações internas ou com um talento
especial para antecipar as novidades, boas ou más.
A diversificação no investimento em ações reduz os riscos inerentes ao processo, pois
quando uma ação sofre perda de preço, esse efeito pode ser compensado pela reação positiva
de outro ativo que ameniza ou estabiliza os efeitos negativos da ação em questão.
Os riscos não podem ser totalmente evitados, mas sim amenizados mediante análise de
mercado e acompanhamento do panorama econômico e da cotação das ações na bolsa de
valores. Quanto maior o conhecimento na área, maior pode ser a oportunidade de sucesso com
a compra e venda de ações. Uma boa dica é direcionar os fundos para carteiras com duas ou
mais ações distintas a fim de correr menos riscos no processo de negociação e diminuir ao
máximo o risco sistemático que transpassa o mercado de ações e depende das condições
econômicas do mercado.
2.2.1 A importância do mercado de ações no desenvolvimento econômico das empresas
A emissão de ações representa um dos mais eficazes instrumentos de atração de
recursos de longo prazo para as empresas. Quando a atividade econômica está em alta implica
no aumento do valor das ações e do seu respectivo retorno para os acionistas, sendo que o
inverso é verdadeiro.
As ações, sendo um título de renda variável, estão sujeitas a oscilações no seu valor,
sendo que estas são influenciadas pela análise dos investidores quanto às perspectivas do
mercado, ou seja, a visão de futuro.
O investidor analisa dois pontos primordiais, que são: o risco e o retorno, ambos
fundamentais para sua tomada de decisão. O acionista, no uso de sua racionalidade
econômica, busca no mercado acionário as ações que, de acordo com seu conhecimento,
oferecem o menor risco com a maior rentabilidade, o que se dá de acordo com suas
expectativas futuras.
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Segundo Pinheiro (2007, p. 131), o surgimento do mercado de capitais ocorreu quando
o mercado de crédito deixou de atender às necessidades da atividade produtiva, no sentido de
garantir um fluxo de recursos nas condições adequadas em termos de prazos, custos e
exigibilidades.
Diante disso, no âmbito das empresas, é vantajosa a abertura do capital quando se
busca novos horizontes para o empreendimento, com alcance de maior mercado para seu
produto, aperfeiçoamento do processo operacional, aumento da qualidade de seus produtos,
de sua eficiência e produtividade.
2.3 MERCADO PRIMÁRIO
O mercado primário é o local onde o ativo é emitido pela primeira vez, sendo que todo
o ativo necessariamente passa por este setor. É nessa etapa que ocorre a primeira transação de
ações entre vendedores e compradores.
É nesse momento que as empresas buscam o levantamento de recursos para financiar e
alavancar seu crescimento econômico, pois elas têm o ingresso imediato de recursos em seu
caixa.
Segundo Gitman (2005, p. 30), para comercializar seus títulos no mercado primário,
uma empresa tem três opções: (1) fazer uma oferta pública, oferecendo seus títulos para venda
ao público em geral; (2) ofertar direitos mediante novas ações a acionistas existentes em base
pro rata; ou (3) uma colocação privada, vendendo novos títulos diretamente, sem registro na
SEC, a grupos selecionados de investidores, como companhias de seguro e fundos de pensão.
No final dos anos 90 era evidente a crise de grandes proporções pela qual passava o
mercado de ações no país. A título de exemplo, o número de companhias listadas na Bovespa
tinha caído de 550 em 1996 para 440 em 2001. O volume negociado após atingir US$ 191
bilhões em 1997 recuou para US$ 101 bilhões em 2000 e US$ 65 bilhões em 2001, segundo
dados do portal do investidor. Além disso, muitas companhias fechavam o capital e poucas o
abriam.
A partir de 2004, a maior parte das empresas voltou a ingressar no mercado, ano que
marcou a retomada das emissões de valores mobiliários.
Devido à ineficiência da regulamentação fiscal os acionistas tinham receio quanto ao
funcionamento do mercado de capitais, pois existiam outros fatores que iam além do âmbito
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da empresa. Esses fatores faziam com que o valor de mercado das ações caísse e,
consequentemente, o capital da empresa era desvalorizado, aumentando o custo do capital da
empresa.
No item que segue faz-se um breve apanhado do mercado secundário, o qual é uma
evolução do mercado primário, fundamental para a compreensão deste estudo.
2.4 MERCADO SECUNDÁRIO
O mercado secundário é onde são feitas as renegociações dos ativos inicialmente
lançados no mercado primário. Nessa etapa as transações são feitas via Bolsa de Valores.
É através das bolsas que a ações de uma empresa adquirem maior visibilidade, sendo
que investidores do mundo inteiro têm acesso às informações das ações. Com isso,
dependendo das expectativas dos investidores e de sua demanda, o volume das transações
tende a aumentar ou diminuir, evidenciando os resultados da abertura de capital da empresa.
É nas Bolsas de Valores que os investidores podem resgatar os recursos captados no
mercado primário, sendo que o seu crescimento dependerá do bom funcionamento do
mercado secundário. Quando o investidor adquire a ação no mercado primário, sua intenção é
vendê-la no futuro para o mercado secundário, transferindo sua propriedade para o comprador
em busca do retorno de sua aplicação.
O nível de transações em Bolsas de Valores retrata a condição de desenvolvimento de
uma nação, sendo uma das imagens do sistema capitalista vigente no mundo. As Bolsas de
Valores oportunizam a participação de mais pessoas e empresas na realização de transações
financeiras que acentuam o crescimento econômico do país.
Com a necessidade cada vez maior de investimentos, fruto do sistema capitalista
fortemente concorrencial que visa sempre o lucro máximo, o volume de transações vem
crescendo a cada ano.
Segundo Pinheiro (2007, p. 203), o número total de negócios efetuados na Bolsa de
Valores de São Paulo, em 1995, era de 2.132.185 operações, cinco anos mais tarde esse
número já era maior que o dobro, e em 2005 o montante era de 15.499.536 operações. O autor
afirma ainda que o mercado brasileiro é muito concentrado, sendo que de oito a 10 ações
representam 50% do volume negociado no mercado.
20
No que diz respeito à distribuição da negociação por grupos de investidores, as
instituições financeiras reduziram o volume negociado em 3,6%, enquanto que sua
participação caiu de 42,4%, em 2010, para 38,1%, em 2011, mas permanecendo como o
grupo com a maior participação nos volumes do segmento BM&F. Já a participação dos
investidores institucionais cresceu de 29,6% para 32,5% e a dos investidores estrangeiros
ficou praticamente estável (de 22,4% para 23%), segundo dados da BM&F.
Apresentados os mercados primário e secundário, o item que segue adentra no
mercado de capitais propriamente dito, e apresenta as limitações do poder de mercado, a
legislação antitruste e a importância das fusões de empresas para o crescimento econômico.
2.5 MERCADO DE CAPITAIS
O lançamento de ações no mercado constitui uma das formas de obtenção de recursos
para o crescimento da empresa e ocorre tanto no mercado primário como no secundário.
A distribuição dos dividendos fica condicionada aos resultados apresentados pela
empresa com a decisão de abrir seu capital. No momento em que a empresa opta pela abertura
de capital para a viabilização dos recursos, além do objetivo do retorno financeiro o processo
envolve o risco do investimento presente no mercado de capitais.
Assaf Neto (1999, p. 201) afirma que o mercado competitivo é cada mais exigente em
termos de investimento, e revela a importância da abertura de capital como uma fonte
permanente de recursos para as empresas. Esse processo de democratização do capital vem se
tornando mais interessante à medida que a economia se abre a investimentos externos e reduz
os subsídios ao crédito, tornando os custos financeiros das empresas mais elevados.
A abertura de capital da empresa começa com o registro de “Companhia Aberta” na
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tendo que constar na sua forma jurídica a expressão
“Sociedade Anônima”.
Segundo a BM&F, o processo de abertura de capital envolve três ações:
1. Análise preliminar: a empresa deve fazer uma análise global dos custos e oportunidades
da abertura do capital, traçando um planejamento para execução das atividades.
2. Escolha do intermediário financeiro: a abertura de capital deve ser feita mediante
contratação de uma instituição financeira. A mesma coordenará as operações financeiras
da empresa.
21
3. Adaptação a estatutos e outros procedimentos legais: envolve a formulação do estatuto
social da nova sociedade, o firmamento do contrato contendo as disposições legais entre a
empresa e a instituição financeira, entre outras questões jurídicas.
A figura 1, a seguir, apresenta as etapas do processo de subscrição de novas ações.
Figura 1. Etapas do processo de subscrição de novas ações
Fonte: Assaf Neto (1999, p. 211).
Com a abertura do capital a empresa ganha maior visibilidade do mercado, sendo que
precisa estar bem estruturada e organizada para atender os anseios dos investidores.
Dentro deste contexto, segundo Pinheiro (2007, p. 153), a decisão das empresas em
abrirem seu capital deve ser entendida não somente como um meio de autofinanciamento,
mas também de preparação para o futuro mediante pequenas operações no mercado primário e
no mercado da Bolsa de Valores, buscando conhecimento e segurança no mercado para
operações futuras de maior porte.
A abertura de capital é uma importante alternativa para empresas que buscam recursos
financeiros e que não desejam recorrer aos bancos em busca de financiamento para suas
atividades. Com o processo de abertura de capital, e em função das exigências para operar no
mercado de ações, as empresas passam por uma reestruturação em sua organização. Assim,
elas passam a se relacionar com investidores e órgãos que regulamentam sua atuação,
devendo prestar informações e esclarecimentos de seus dados.
As empresas que lançam suas ações no mercado tendem a sofrer transformações
estruturais na sua organização, bem como na composição de seu capital e na distribuição de
seus resultados. Por um lado esse processo pode ser visto com bons olhos, pois promove
mudanças internas na empresa no que diz respeito à qualificação de seu quadro funcional,
visando a sua adequação ao mercado.
22
Com a abertura de capital das empresas, informações como lucro, volume de venda,
faturamento, custos de produção e preço, que antes eram tratadas de forma sigilosa, são
levadas a público para conhecimento dos sócios que transacionam as ações da empresa no
mercado e que necessitam saber das mesmas para a tomada de decisão.
Essa situação pode ser positiva no que diz respeito à ética e à transparência com que a
empresa atua visando ao bom relacionamento com seus clientes, fornecedores, acionistas,
funcionários, enfim todos aqueles com quem a empresa mantém relações. A consolidação
desse relacionamento pode trazer maior credibilidade à empresa no mercado e, assim, maior
confiança de seus participantes.
Na figura 2, a seguir, Casagrande Neto et al. (2000) apresenta sete razões para uma
empresa abrir seu capital em forma de ações para investidores.
Figura 2. Razões para abertura de capital
Fonte: Casagrande Neto et al. (2000, p. 40).
O processo de abertura de capital também pode desencadear pontos negativos caso a
publicação das informações for entendida como uma necessidade de readaptação da política
da empresa, podendo ser distorcidas ou ocultadas. Com a distribuição dos resultados, a
administração do capital da empresa pode ser dificultada por estar também nas mãos de
terceiros e os mesmos possuírem direitos sobre suas ações.
23
A presença de órgãos reguladores e de fiscalização que acompanham a empresa no
mercado e que, em certos casos são contrários às decisões da empresa, também pode ser visto
como um empecilho quanto a sua legalidade.
Os custos com a qualificação dos funcionários e a reorganização da sua estrutura
administrativa e financeira também são questões que podem afetar de forma negativa a
empresa. Isso envolve a criação de departamentos que passam a existir como exigência da
CVM.
Casagrande Neto et al. (2000) apresentam na figura 3, a seguir, os custos e obrigações
provenientes da abertura de capitais. Itens como transparência, custos legais, distribuição de
resultados, necessidade de profissionalização e auditoria externa são alguns indicadores que
formam este rol de obrigações.
Figura 3. Custos e obrigações da abertura de capitais
Fonte: Casagrande Neto et al. (2000, p. 41).
A captação de recursos por meio de fontes externas aumenta o nível de endividamento
e, consequentemente, reduz a capacidade de a empresa reobtê-los, conforme observa Pinheiro
(2007). Assim, quando a empresa não obtém a rentabilidade esperada além do pagamento de
seus funcionários e a remuneração de seus acionistas, o pagamento dos fornecedores e do
governo através dos tributos fica prejudicado. Ao se perceber em dificuldades, a empresa
tende a recorrer a fontes externas buscando capital de giro juntos aos bancos e, quanto mais
ela se torna dependente desse tipo de recurso, maior se torna o seu endividamento.
24
Assim, de acordo com Pinheiro (2007), as fontes próprias de recursos melhoram o
nível de endividamento da empresa, pois reduzem sua condição de tomadora de crédito junto
às instituições financeiras, oportunizando novas alternativas de atração de recursos. Isso pode
ser feito através do mercado primário quando os recursos são direcionados para o
investimento com a busca de novos investidores.
No mercado de capitais existem dois tipos de ações: as ordinárias e as preferenciais.
Os acionistas ordinários têm direito de voto sobre as decisões da empresa. Já as acionistas
preferenciais têm direito de participação dos lucros da empresa, como nome já diz, com
preferência sobre as ações ordinárias, caso ocorra o fechamento da empresa.
As ações ordinárias possuem liquidez e valor de mercado menor que as preferenciais,
sendo explicado pelo fato de que estas ações são pouco negociadas em comparação às ações
preferenciais. Assim, elas ficam nas mãos dos seus proprietários que buscam o controle
acionário da empresa.
Em economias desenvolvidas, que possuem um mercado de capitais atuante, o
controle da empresa pode ser feito com reduzido controle acionário de até 5% em
determinados casos, tornando os preços competitivos devido à maior disputa pelo controle da
empresa. Em mercados menores o controle da empresa é obtido com percentual superior a 5%
do capital acionário, sendo que os preços são pouco atraentes por não oportunizarem a
distribuição de dividendos pela propriedade das ações.
A figura 4, a seguir, mostra as fases de negociação no mercado acionário, objetivando
ilustrar o processo das transações de ações no mercado primário e secundário.
25
Figura 4. Representação das fases da negociação dos ativos no mercado acionário
FASES DA NEGOCIAÇÃO COM AÇÕES
Mercado secundário
Mercado primário
Companhia
aberta X
Ação X
Ação X
Público A
$
$
Público B
MERCADOS SECUNDÁRIOS DE BALCÃO E DE BOLSA
Normalmente, as negociações do mercado secundário podem ser realizadas por meio de dois
locais distintos, que representam os m ercados secundários de balcão e de bolsa de valores.
Mercado de balcão
Investidores
Investidores
Mercado de bolsa de valores
Fonte: material disponibilizado na disciplina Mercado de Finanças e de Capitais (DAL RI, 2008).
2.5.1 Limitação do poder de mercado: a legislação antitruste
Truste é o resultado típico do capitalismo que forma um oligopólio. O processo ocorre
mediante a fusão e incorporação de empresas de um mesmo setor de atividades, as quais
abrem mão de sua independência legal para constituir uma única organização com o intuito de
dominar determinada oferta de produtos e/ou serviços. O resultado desse tipo de concorrência
é normatizado pela Lei Antitruste.
A Lei Antitruste, criada por Shermann Antitrust, no ano de 1890, foi um ato de
regulação que visava garantir uma concorrência justa entre as empresas nos Estados Unidos,
evitando que qualquer uma delas se tornasse suficientemente grande para ditar as regras do
mercado em que atuava. Esta lei se destina a punir práticas que não estejam de acordo com a
sua finalidade, aumentando preços e restringindo a produção para eliminar a concorrência. É
possível dizer então que a Legislação Antitruste surgiu para atender os anseios da sociedade
26
quanto à limitação do poder de mercado das empresas, evitando que o mesmo seja usado de
forma anticompetitiva.
A política da Lei Antitruste tem por objetivo proteger e assegurar a existência de
concorrência em qualquer mercado. Em termos práticos as pessoas consideram que o uso da
legislação antitruste prejudica o desempenho das empresas, fazendo com que as mesmas
sofram perda de competitividade com mercados internacionais. Esses fatos, contudo, devem
ser relevados e considerados os benefícios decorrentes da política antitruste.
Conforme afirmam Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 360), “as leis antitruste têm sido
cruciais para a manutenção da competição, e a competição é essencial para a eficiência e o
crescimento econômico”.
Quanto a sua aplicabilidade, a legislação antitruste é considerada vaga devido ao fato
de não definir com clareza as situações em que é usada. A legislação possui maior vigor e
efetividade nos Estados Unidos do que na maioria dos países.
Definida a legislação antitruste, o item que segue demonstra a importância das fusões
de empresas para o crescimento econômico.
2.5.2 Importância das fusões de empresas para o crescimento econômico
Como resultado da reação estratégica das empresas ao fenômeno da globalização e,
consequentemente, da necessidade de reestruturação e racionalização, cabe destacar a onda de
importantes fusões que têm ocorrido na última década. Recentemente, a título de exemplo,
ocorreu no Brasil a união entre o Banco Itaú e o Unibanco. Naturalmente, a aceleração do
programa de unificação europeia e o movimento de desregulamentação financeira nos EUA
foram determinantes e importantes fatos dessa onda de fusões.
A fusão é uma operação societária que envolve duas ou mais empresas que juntam
seus patrimônios para formar uma nova sociedade comercial, o que faz com que passem a não
existir mais individualmente. Do ponto de vista teórico, é diferente da incorporação, que é
quando os patrimônios de uma empresa passam para o controle de outra.
Tal mecanismo, segundo Mansfield (1996), tem como motivação principal uma
reorientação da estratégia concorrencial por parte das empresas. Esta estratégia concorrencial,
no entanto, procura não somente a redução de custos via reestruturação e racionalização das
27
estruturas de produção e comercialização, mas também um processo de expansão transnacional, diversificação, busca de complementaridade e consolidação das posições de mercado.
Para o autor supracitado, esse processo faz com que a nova empresa exista sem a
predominância de nenhuma das empresas antigas, o que na prática nem sempre acontece, já
que muitas das fusões são uma compra ou incorporação de grupos empresariais.
Pode-se citar como fatores que determinam o processo de fusão a racionalização da
produção, no qual o objetivo é cortar custos e manter a qualidade dos produtos; a adoção de
processos tecnológicos novos para ajudar no processo produtivo; e a reorganização da
estrutura e o fortalecimento para a concorrência no setor de atuação.
As fusões podem ser vistas como uma estratégia de inserção no mercado daquelas
empresas que buscam o fortalecimento e a eficiência de sua atuação. Essa estratégia
corresponde a fatores como gerenciamento, racionalização do processo produtivo e segurança
no que diz respeito à estruturação e solidez da empresa frente a acontecimentos e variáveis
macroeconômicas que venham a acarretar o seu desempenho no cenário econômico.
Mansfield (1996) afirma ainda que as fusões podem trazer bons resultados para as
empresas envolvidas no processo, mas ao mesmo tempo podem afetar outras que atuam no
mesmo segmento e que perdem espaço no mercado. Para o crescimento econômico como um
todo o processo pode ser considerado vantajoso, pois tende a haver uma maior dinamização
do mercado, com homogeneização do processo produtivo, reunindo técnicas de ambas as
empresas que passarão pela fusão.
Apesar dos benefícios para a empresa, que passa a ter mais recursos para seu
crescimento, existe um lado negativo, principalmente para o consumidor destes produtos.
Com o poder econômico cada vez mais concentrado nas mãos de grandes grupos, a
concorrência no setor tende a diminuir, o que pode motivar o aumento de preços e até mesmo
a queda na qualidade do produto ou serviço, já que não restam muitas opções no mercado.
Grande parte do crescimento das empresas ocorre por meio de expansão interna, que
acontece quando divisões de uma empresa crescem mediante atividades normais de
investimento de capital. As fusões são meios legais para as organizações gerenciarem o
ambiente. Geralmente reduzem a incerteza ambiental, atenuando a competição e a
dependência entre organizações.
28
Trata-se, por conseguinte, de procedimento diferenciado com maiores exigências e
com elevado custo de realização. Por esse motivo, ocorre principalmente entre grandes
corporações, que possuem condições de arcar com os altos valores financeiros e técnicos
envolvidos. Destaca-se ainda que o processo de fusão costuma ocorrer entre “iguais” ou
empresas de magnitude semelhante, caso contrário bastaria uma simples aquisição ou mesmo
a incorporação.
Tais modos de presença são utilizados para a realocação de recursos na economia
global e execução de estratégias corporativas. Podem se tornar benéficos para os empresários
e ruins para a economia, caso criem monopólios, prejudicando os consumidores. Nota-se, no
entanto, que os ganhos reais provocados pela eficiência na produção, gerando preços mais
baixos e elevando a qualidade dos produtos, auxiliam a economia, tornando-a mais rica e
próspera.
Segundo Mansfield (1996), existem vários motivos pelos quais as empresas buscam
realizar fusões e aquisições. Tais motivos podem ser reunidos em três contextos: crescimento
e diversificação, sinergia e aumento da capacidade.
Numa aquisição internacional ocorre uma transferência de conhecimentos e
habilidades entre duas organizações. O conhecimento do mercado, do ambiente político,
econômico e cultural, por parte da empresa adquirida, entretanto, tende a diminuir o risco da
empresa adquirente, tornando a aquisição um procedimento com menor risco que um
investimento direto (transferência de uma empresa por meio direto e sem ajuda de parceiros).
Dentre as diversas formas de fusão, as mais importantes são: fusão horizontal, fusão
vertical e fusão de conglomerados. Na fusão horizontal as empresas atuam na mesma linha de
negócio, visando as economias de escala e a redução de custos. Em uma fusão vertical, as
empresas estão em etapas diferentes de determinado processo de produção. A fusão por
aglomerados é a combinação de empresas em negócios não relacionados.
Mansfield (1996) afirma ainda que uma aquisição nem sempre é satisfatória para o
investidor. Transações boas e fáceis são muito raras, sendo que as transações de grande êxito,
realizadas de maneira altamente disciplinada, são vinculadas, muitas vezes, a um grande golpe
de sorte. Assim, existem estudos que demonstram as expectativas quanto à futura transação
(ex ante) e, consequentemente, a comparação daquilo que foi esperado após a implantação dos
programas de fusão (ex post).
29
Estrategicamente, as aquisições, fusões e joint ventures tornam-se opções viáveis na
diversificação de mercados por se utilizarem de empresas e negócios já existentes. Com isso,
conseguem diminuir consideravelmente o risco do negócio. Mas, para que a transação possa
ser bem sucedida é necessário que o valor a ser pago por uma empresa seja um preço real, ou
pelo menos justo. Um preço ilusório, que não corresponde às reais capacidades de geração de
riqueza da empresa pode levar ao insucesso uma transação, pelo fato das sinergias não
suportarem as expectativas esperadas.
2.6 MÉTODOS DE ANÁLISE DO MERCADO DE AÇÕES
Na avaliação do mercado de ações, duas técnicas são mais conhecidas: a análise
fundamentalista e a análise técnica (gráfica). Os tipos de análise podem ser comparados na
figura 5, a seguir.
Figura 5. Comparação entre as escolas de análise de ações
ITENS
Idade
Origem
Usuário
Pergunta
Análises
Hipóteses básicas
Objetivos
FUNDAMENTALISTA
30 anos
Acadêmica
Administradores de fundos e
investidores no longo prazo
Por quê?
Econômico-financeira
Existe um valor real ou intrínseco
para cada ação que está
diretamente correlacionado com o
desempenho da empresa.
O objetivo da análise
fundamentalista é determinar o
real valor de uma ação.
TÉCNICA
100 anos
Profissional
Especulador
Quando?
Gráfica
Os preços das ações se movimentam em
tendências e existe uma dependência
significativa entre as oscilações dos preços
que se sucedem.
O objetivo da análise técnica é determinar a
tendência de evolução das cotações no curto
prazo, a fim de se aproveitar das rápidas
oscilações para auferir ganhos de capital
(vender as ações por um preço superior ao
da compra).
Fonte: Pinheiro (2007, p. 316).
É difícil encontrar no mercado analistas de investimento que se utilizem
exclusivamente de uma ou outra escola, conforme afirma Pinheiro (2007). Em geral, elas são
utilizadas simultaneamente, sendo que a análise fundamentalista serve para escolher ações nas
quais serão investidos os recursos, enquanto a análise técnica serve para determinar o
momento mais favorável para o investimento.
30
Enquanto a análise fundamentalista recorre ao desempenho da empresa para calcular o
valor de suas ações por meio de levantamento de dados econômicos e financeiros, a análise
técnica recorre aos gráficos para representação prática das oscilações e tendências, da cotação
das ações da empresa no mercado, ou seja, das negociações dos ativos efetivamente.
Embora a análise técnica seja a mais utilizada, principalmente pelos investidores de
curto prazo, mais especificamente pelos especuladores deste mercado, estes avaliam apenas a
hora de comprar e a hora de vender.
A partir de agora faz-se um estudo pormenorizado dessas duas análises: a
fundamentalista e a técnica, tendo como base estudos de teóricos da área.
2.6.1 Análise fundamentalista
A análise fundamentalista tem seu embasamento no valor da ação. Segundo essa
análise cada ação tem seu valor de acordo com os resultados apresentados pela empresa. São
analisadas variáveis internas e externas que influenciam o comportamento da empresa no
mercado. Procede-se inicialmente um levantamento de dados econômicos e financeiros da
empresa com posterior aplicação de modelos sobre esses dados, os quais servirão de
comparativo para a decisão de compra e venda das ações pelos investidores.
A análise busca todas as informações disponíveis no mercado para determinar o valor
de ação com a finalidade de analisar a condição de negociação de determinada ação. Esse
método procura prever o comportamento futuro de uma empresa no mercado, estudando as
oscilações no preço das ações com base em variáveis quantitativas.
Conforme Pinheiro (2007, p. 262), a justificativa para o uso desse tipo de análise é
antecipar o comportamento futuro de uma determinada empresa no mercado. Para isso devese partir da hipótese básica de que o mercado não é eficiente no curto prazo, mas sim no longo
prazo. Sendo assim, podem ocorrer distorções nos preços das ações no curto prazo, mas que
ao longo do tempo são corrigidas pelo mercado.
Conforme o autor, essa técnica estuda o cálculo do valor hipotético da empresa, que
corresponde a seu “preço justo” em determinado momento do mercado, sendo selecionada a
ação de menor valor da empresa relacionada ao valor atribuído pelo mercado.
O desenvolvimento do trabalho da análise fundamentalista passa por três etapas:
pesquisa, transformação da informação em ideia, comunicação das ideias.
31
1) Pesquisa: nessa etapa é realizada a coleta de dados com base em documentos da empresa,
como balanços, demonstrativos, publicações e contato com pessoal responsável. Os dados
podem ser obtidos através da Internet, bolsas de valores e corretoras de valores.
2) Transformação da informação em ideia: essa etapa é de manipulação das informações
coletadas, utilizando os conhecimentos do analista para proceder o desenvolvimento do
objeto em estudo. Para isso, o analista necessita de habilidades, chegando a conclusões e a
projetar a situação financeira da empresa mediante orientações quanto ao investimento.
3) Comunicação das ideias: não basta ter a ideia desenvolvida se essa não puder ser passada
ou se for passada sem clareza. Essa etapa é muito importante para a divulgação do
trabalho desenvolvido. O público-alvo pode atingir duas esferas de cliente: o cliente
institucional, que gerencia vários investidores e tem necessidade de informações relativas,
e os clientes particulares, que gerenciam seus recursos próprios e necessitam de
informações absolutas. A forma de comunicação pode ser direta, por meio do contato
pessoal, ou indireta, através de publicações e campanhas.
A análise fundamentalista permite identificar as principais variáveis que influenciam o
desempenho da empresa, refletindo no preço das ações. Para tanto, são estudados os
demonstrativos financeiros da empresa, que permitem avaliar seus resultados operacionais e
sua condição financeira. Com esses resultados é possível fazer algum julgamento, sendo uma
fonte de informação fundamental para a tomada de decisão do investidor, pois leva em conta
o risco e o retorno. O balanço patrimonial, a demonstração de resultados e a demonstração de
fluxo de caixa são os três tipos de demonstrações financeiras que ilustram os resultados
operacionais obtidos pela empresa.
De acordo com Pinheiro (2005), existem diferentes enfoques de uma análise
fundamentalista, os quais ele chama de: análise de cima para baixo e de baixo para cima.
A análise de cima para baixo parte do âmbito macroeconômico para explicar as
variáveis que afetam a bolsa no longo prazo, sendo esta um reflexo da economia. Já a análise
de baixo para cima parte do âmbito microeconômico que exige uma análise de cada empresa
para detectar qual delas oferece melhores oportunidades de investimento.
Segundo Assaf Neto (1999), os indicadores financeiros buscam avaliar as influências
do desempenho da empresa no valor de mercado de suas ações. A evolução das cotações das
ações no mercado é representada por indicadores de análise financeira, que podem também
estabelecer tendências futuras.
32
Valor Patrimonial x Valor de Mercado: Não há nenhuma relação visível
entre o valor patrimonial e o preço de mercado de uma ação. Enquanto o valor
patrimonial é definido estritamente por critérios contábeis, o valor de mercado é
obtido pela interação das forças de oferta e procura da ação nas bolsas de valores,
correlacionando-se com os resultados esperados da empresa emitente e outros
fatores decisivos na formação dos preços dos ativos, como desempenho esperado da
conjuntura, liquidez do mercado, forma de tributação dos rendimentos, tipo da ação
etc (ASSAF NETO, 1999, p. 185).
Os resultados obtidos com a aplicação dos indicadores financeiros refletem o
comportamento da empresa no mercado e a possibilidade de detectar expectativas futuras. A
partir dessa apreciação os investidores tomam conhecimento dessas informações para tomar
sua decisão de investimento de acordo com a situação da empresa e as tendências do mercado.
O valor da ação da empresa como parte do patrimônio líquido não é a mesma que será
negociada no mercado, pois essa ação sofre as influências externas de variáveis
macroeconômicas que provocam oscilação no preço das ações na Bolsa de Valores.
2.6.2 Análise técnica
A análise técnica ou gráfica busca construir previsões do comportamento das ações a
partir de acontecimentos do mercado, sendo observados fatores como oferta e demanda e o
preço das ações no mercado.
A fundamentação teórica nos remete ao início do século XX, quando
Charles Dow estudou o histórico de índices que refletiam o comportamento médio
diário das bolsas. Ele observou que o mercado não é aleatório, que há uma lógica
nos seus movimentos; e constatou que ele se move segundo tendências. Elas podem
ser identificadas por meio de gráficos, que contêm toda a informação relevante. Para
se dar bem no mercado, o investidor os utiliza para identificar uma tendência e
investir a seu favor, até que apareçam evidências contrárias (MATSURA, 2007, p.
1).
Esse tipo de análise busca, por meio de gráficos, auxiliar os investidores a escolher o
melhor momento para a negociação das ações, possibilitando-lhes maior segurança para traçar
sua estratégia de compra e venda de ações.
A análise técnica tem a preocupação com a evolução histórica da oscilação nos preços
das ações sem considerar questões inerentes à empresa, como sua situação financeira. Para
isso a análise é feita com base em tendências observadas no mercado, de acordo com o
comportamento apresentado pelo ativo.
33
Para Matsura (2007), o fator relevante para explicação da oscilação dos preços é saber
como isso ocorre, sem ter importância o motivo que o provoca. As oscilações nos preços das
ações podem ser consequência de diversos fatores políticos ou econômicos de complexa
explicação, mas o preço é o fator determinante no comportamento das ações e nele está
contida toda a informação necessária para sua explicação. O autor parte de três enfoques:
a) o fator relevante é o preço;
b) o comportamento das ações reflete tendências do mercado;
c) a repetição de acontecimentos aumenta a previsibilidade do mercado.
Os analistas da análise técnica orientam sua tomada de decisão segundo o
comportamento passado dos ativos com base em seu histórico de oscilação. Se esse
comportamento for repetitivo, ou seja, se ocorrer de maneira semelhante ao longo do tempo,
pode ser criado um padrão que venha a facilitar o diagnóstico de seu comportamento futuro.
Sendo assim, podem ocorrer maiores chances da decisão de investimento ser acertada no
futuro.
Conforme Matsura (2007), existem três formas de representar o gráfico de preços:
gráfico de Linha, gráfico de Barras e o Candlestick.
− Gráfico de linhas: composto pelo preço de fechamento diário, é um gráfico simples, de
fácil visualização e suficiente para a identificação de alguns padrões gráficos. Segue
exemplo.
Gráfico 1. Exemplo de gráfico de linhas
Fonte: Software Grafix, versão 1.9.3.0.
34
−
Gráfico de Barras: mostra o preço máximo e o preço mínimo da ação no dia. Nesse
gráfico o preço é identificado ao longo de uma barra, com o preço mínimo na parte
inferior da barra e o preço máximo na parte superior. Já o preço de abertura é indicado por
um traço horizontal à esquerda da barra, e o de fechamento, à sua direita. Segue exemplo
de gráfico de barras.
Gráfico 2. Exemplo de gráfico de barras
Fonte: Matsura (2007).
− Gráfico Candlestick: como no gráfico de barras, o gráfico Candlestick representa os
preços de abertura e de fechamento, e os preços máximo e mínimo de uma ação no dia.
Quando o corpo for vazio, o candle é de alta, ou seja, o preço de fechamento está acima
do preço de abertura. Quando o corpo do candle está preenchido, significa que o mercado
fechou em baixa, ou seja, o preço de fechamento está abaixo do preço de abertura. Segue
o exemplo do gráfico de Candlestick.
Gráfico 3. Exemplo de gráfico de candlestick
Fonte: Matsura (2007, p. 6).
35
Os analistas técnicos conseguem obter uma visualização aprimorada das tendências
das ações no mercado com a utilização dos gráficos de barras e candlestick, por meio dos
quais é possível analisar com maior eficiência o comportamento dos ativos ao longo de um
determinado período. A partir das diferentes técnicas de análise gráfica pode-se conseguir um
aparato sofisticado para o estudo da oscilação dos ativos no mercado.
Uma técnica bastante utilizada pelos analistas gráficos é o cálculo da média móvel
simples que nada mais é que uma média aritmética simples. A média móvel simples é
calculada pela soma dos preços dividida pela quantidade de preços.
A seguir é apresentada a fórmula para o cálculo da média móvel para determinado
período:
Onde:
− P = preço
− n = período
Com isso, os períodos mais utilizados na elaboração de médias móveis simples e
exponenciais para acompanhamento dos preços dos ativos são:
− Curto prazo: 3 a 21 períodos
− Médio prazo: 50 a 100 períodos
− Longo prazo: 100 a 252 períodos
Os analistas técnicos recomendam que o momento da opção de compra de ativos é
quando o preço está acima da média e a opção de venda quando o preço está abaixo dela.
Às vezes encontramos flutuações das ações produzidas por problemas de
estabilidade, e para eliminá-las utilizamos as médias móveis, que proporcionam a
identificação da tendência e suas reversões de direção. As médias móveis são
indicadores técnicos que possibilitam a análise dos movimentos dos preços de uma
ação. Graças a sua simplicidade de construção e a objetividade de seus resultados, a
média móvel de preço de ações tornou-se um dos mais objetivos e versáteis
indicadores de tendência (PINHEIRO, 2007, p. 337).
De acordo com Matsura (2007), a média móvel tripla é desenvolvida mediante a
utilização de três diferentes médias móveis juntas. A primeira delas é uma média mais rápida
36
que se refere somente a períodos de curto prazo; a segunda é uma média intermediária que
reage a longos períodos de tempo, mas não tão longos quanto ao da média final; e a terceira
média é a mais lenta a reagir, porque considera a média do período de tempo mais longo.
Esta média não indica nenhuma diferença até que os preços tenham se movido
significativamente. As médias móveis de curto prazo, por serem mais sensitivas às mudanças
dos preços, seguem a tendência de perto. A média intermediária segue a tendência de longe e
a terceira média tende a ser menos sensitiva às mudanças dos preços.
De acordo com a média móvel tripla, sinais de compra são produzidos quando as três
médias se movem numa tendência ascendente. Sinais de venda, ao contrário, são produzidos
quando as três médias se movem numa tendência de queda. A tendência ascendente aparece
quando a média móvel mais rápida (a de curto prazo) é maior que as outras duas médias,
quando a média intermediária está acima da mais lenta (a de prazo mais longo), e quando a
média de prazo mais longo está abaixo de todas.
As médias móveis colocam-se sempre do lado correto da tendência do mercado, mas a
opção de compra e venda pode ser afetada pela volatilidade do mercado como fator de risco,
pois com sua interferência os resultados da análise da média móvel podem não condizer com
a realidade.
Após a explicação supracitada, a seguir é apresentada a forma gráfica da média móvel
de 20 períodos, a fim de proporcionar uma melhor compreensão do tema.
Gráfico 4. Média móvel de 20 períodos
Vender
Comprar
Fonte: Software Grafix, versão 1.9.3.0.
37
Segundo Matsura (2007, p. 71), a análise decorrente da média móvel indica que o
melhor momento para se posicionar é no cruzamento das duas curvas: comprar quando o
preço cruzar a média de baixo para cima; vender quando o preço cruzar a média de cima para
baixo.
Na análise gráfica pode-se encontrar movimentos em que há uma descontinuidade dos
preços: o preço dá um salto ou uma queda, formando um intervalo em que não houve negócio,
sendo esses movimentos denominados de GAPS.
Segundo Matsura (2007), essa situação acontece, muitas vezes, em função de algum
fato inesperado, divulgado após o fechamento do pregão, quando não existe a possibilidade de
negociação imediata. Os investidores têm mais tempo para digerir o fato novo e,
eventualmente, concluir que o nível de preço se deslocou para um novo patamar.
Dependendo do contexto e das suas consequências, pode-se classificar os GAPS em
quatro tipos:
− Comum (Área): aparece em movimento de congestão, seja de acumulação ou de
distribuição. Normalmente, isso não implica aumento de volume; os GAPS comuns são
fechados rapidamente, ou seja, o preço retorna ao seu patamar anterior.
Gráfico 5. Representação comum de um GAP
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
− Corte: sinaliza o início de uma tendência e/ou rompimento de uma congestão. Rompe o
padrão do comportamento vigente, indicando um novo padrão de movimento.
38
Gráfico 6. Representação de corte num GAP
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
− Continuidade: sinaliza a continuidade de uma tendência. Diferentemente do GAP de
corte, ele ocorre quando a tendência já está definida.
Gráfico 7. Representação da continuidade de um GAP
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
− Exaustão: sinaliza o final de uma tendência; é o esforço derradeiro dos investidores que
estão posicionados a favor da tendência. O mercado está supercomprado (ou supervendido), os compradores (ou vendedores) já estão perdendo força, e é eminente o final da
tendência. Depois de um período de oscilações, normalmente o GAP é preenchido.
39
Gráfico 8. Representação de exaustão em um GAP
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
− Ilha de Reversão: é caracterizado por dois GAPS, sendo que o primeiro é de exaustão.
Após o primeiro GAP, os preços entram em uma faixa de congestão e, em seguida, ocorre
o segundo GAP, invertendo a tendência anterior. Esse padrão é um forte sinalizador de
reversão de tendência, ele também é conhecido como Ilha de Reversão.
40
3 METODOLOGIA
A metodologia tem por objetivo classificar o tipo de estudo que foi desenvolvido,
ressaltando suas características que contribuíram para o alcance dos objetivos propostos no
projeto. Minayo (1994) descreve a metodologia como sendo a descrição formal dos métodos e
técnicas a serem utilizados no desenvolvimento do estudo.
3.1 TIPO DE PESQUISA
Com relação aos procedimentos técnicos, o presente trabalho pode ser caracterizado
como pesquisa bibliográfica, pois foram utilizados como fonte de informações estudos já
realizados e publicados sobre o tema pesquisado, além de informações sobre as empresas
Sadia S/A e Perdigão S/A. Trata-se também de uma pesquisa documental, na medida em que
foram consultados documentos fornecidos pela direção das organizações, tais como relatórios
demonstrativos de resultados e balanços.
A monografia tem como principal método de pesquisa a investigação documental,
sendo também utilizada a pesquisa bibliográfica. Para tanto, foram utilizadas diversas fontes
de pesquisa, como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Bolsa de Valores de São
Paulo (Bovespa), sites eletrônicos, relatórios contábeis e balanços patrimoniais das empresas
ao longo do período analisado.
Pinheiro (2007) define mercado financeiro como o lugar em que ocorre a
comercialização de ativos financeiros e onde se determinam o seu preço. Segundo o autor, o
mercado financeiro tem dois atores: os agentes superavitários, ou seja, empresas que têm um
excedente de renda em relação ao consumo e que dispõem de capital; e a poupança, como são
chamados os agentes deficitários, que são aqueles que têm o seu consumo maior ou igual a
sua renda.
Os agentes superavitários desejam maximizar sua poupança e recorrem ao mercado
financeiro em busca de investimentos para receberem um ganho ao final de um determinado
período. Este capital disponibilizado pelos superavitários irá financiar as necessidades dos
deficitários que buscam exatamente o mercado financeiro para obter crédito e cobrir a sua
diferença entre receita e consumo.
Desta forma, observa-se que o mercado financeiro transfere o capital disponível dos
agentes superavitários para os agentes deficitários, tomadores de capital.
41
3.2 COLETA DE DADOS
A coleta de dados consiste em combinar técnicas e métodos de análise de indicadores,
bem como seus respectivos numéricos junto à Sadia S/A, à Perdigão S/A e a Brasil Foods
S/A, no período de janeiro de 2008 a abril de 2012.
Os dados foram coletados por meio de referências bibliográficas e em meio eletrônico.
Foram usados dados estatísticos como a média móvel e o desvio padrão para análise do
comportamento das ações.
Também foram utilizadas referências bibliográficas como livros, jornais e revistas
para levantamento do referencial teórico, e meio eletrônico em sites da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), das empresas Sadia S/A e Perdigão S/A, do Banco Central do Brasil
(Bacen), da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e os demonstrativos e balanços das
empresas, a fim de analisar as ações no mercado financeiro e para interpretar os resultados da
empresa no cenário econômico.
Também foi feita a coleta de dados por meio de pesquisa junto aos bancos de dados
disponíveis por meio eletrônico, utilizando o software livre GRAFIX 21, que originou as
cotações dos ativos da empresa estudada e do índice Ibovespa.
3.3 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
Após a realização do levantamento bibliográfico e documental previstos para a
obtenção dos dados necessários, procedeu-se o tratamento e interpretação das informações.
Os dados foram analisados a partir do ordenamento dos valores encontrados, por meio
de planilhas (planilha eletrônica Excel) com construções gráficas e uso de modelos
estatísticos, comparando indicadores econômicos com o preços das ações, fazendo um elo
entre o mercado financeiro e econômico para posterior interpretação dos resultados obtidos
com uso destas ferramentas.
Com o uso do software gráfico Grafix2 foi possível obter dados do valor monetário
diário das ações a serem analisados ao longo do período em questão, o comportamento das
ações das empresas, podendo assim verificar o seu comportamento neste mercado.
Grafix 2: software livre que apresenta diariamente a oscilação no mercado acionário, bem como de todos os
dados referentes a cada ativo negociado ao logo de vários períodos na Bovespa.
42
4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Como já destacado, o objetivo da presente pesquisa é verificar o desempenho do valor
das ações da Brasil Foods S/A no mercado mobiliário da Bovespa após a fusão da Sadia S/A e
da Perdigão S/A.
Parte-se, inicialmente, da caracterização dessas empresas, a fim de permitir um melhor
conhecimento do contexto analisado. Em seguida são apresentados os indicadores econômicos
e o preço das ações, fazendo-se a interpretação dos dados.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA SADIA S/A
Os dados da empresa Sadia S/A, ora apresentados, foram colhidos no site eletrônico da
organização, e revelam a sua trajetória histórica de mais de meio século de atividades.
Na década de 40, o mundo passava por grandes transformações e o cenário industrial
brasileiro era promissor. A região de Concórdia, em Santa Catarina, começava a se tornar um
importante centro produtor. A criação de suínos e o cultivo de alguns produtos agrícolas
posicionavam o município entre os 10 mais prósperos do Estado.
Foi neste contexto que Attilio Fontana criou a Sadia em 1944. No começo, ele só
tinha um pequeno moinho e um frigorífico inacabado. O retorno dos investimentos aplicados
no moinho permitiu completar a construção do frigorífico. Em 1946 ele já abatia mais de 100
suínos por dia.
Com o avanço industrial do País, os padrões de consumo começaram a mudar e a
empresa precisou ajustar-se ao mercado. Em 1947, a Sadia virou marca registrada e abriu uma
distribuidora em São Paulo. Foi o passo inicial para conquistar o mercado nos anos 50.
Na década de 50, a região de Concórdia dava um importante passo para tornar-se um
pólo de criação e industrialização de suínos no país. Esse processo teve total influência da
43
Sadia, que ajudou a fundar a Associação Rural de Concórdia a fim de congregar os colonos e
oferecer orientação técnica na criação de suínos e no cultivo agrícola.
Em 1952, a empresa arrendou um avião da Panair para levar produtos para as duas
grandes capitais do Sudeste. Era a época do slogan “Pelo ar, para seu lar”, que ajudou a
impulsionar as vendas e popularizou os produtos Sadia. Cada vez mais a empresa investia no
aprimoramento da matéria prima e nas iniciativas para firmar-se comercialmente na grande
rota consumidora, o eixo Rio-São Paulo.
Em 1953, com apenas nove anos de existência, a Sadia inaugurou seu front industrial
na capital paulista – o Moinho da Lapa S/A, a primeira unidade fora de Concórdia. Foi com
essa iniciativa estratégica que a empresa passou a projetar sua visibilidade e credibilidade
empresarial.
Na década de 60, o Brasil atravessou diversas dificuldades. As incertezas políticas e a
inflação davam indícios de que a época não seria favorável aos empreendimentos.
Contrariando os prognósticos, a Sadia decidiu investir em tecnologia, reestruturação de
vendas e expansão das atividades.
Em 1961 institucionalizou o sistema de Fomento Agropecuário com base na parceria
entre o produtor suinícola e a indústria.
Em 1964 inaugurou, em São Paulo, a Frigobrás – Companhia Brasileira de
Frigoríficos, primeira indústria de carnes e derivados fora de Concórdia. O projeto já existia
há alguns anos, mas só então foi concretizado. A partir daí diversos produtos passaram a ser
produzidos em São Paulo: salsichas, almôndegas, quibes e o famoso Hambúrger Sadia. Foi o
ingresso do negócio no segmento de alimentos semiprontos congelados.
Em 1967, com depósitos em toda a Região Sul e escritórios comerciais em diferentes
cantos do País, a empresa criou a Sadia Comercial Ltda, responsável pela venda e distribuição
dos produtos no Brasil.
Crescimento, avanço tecnológico, pesquisas em genética animal, lançamentos inéditos,
distribuição capilar dos produtos, imagem de marca de qualidade, ingresso nas exportações,
além de outras conquistas, fizeram a história da Sadia na década de 60.
Na década de 70 um panorama econômico favorável começou a se desenhar no País, o
chamado “Milagre Econômico”. Aproveitando os bons ventos, a Sadia empenhou-se em abrir
fronteiras produtivas e criar novos empreendimentos, inclusive no mercado internacional.
44
Em 1971, a Assembleia Geral Extraordinária aprovou a abertura do capital da empresa
com o lançamento de ações na bolsa e a mudança da razão social. A antiga S/A Indústria e
Comércio Concórdia deu lugar à nova Sadia Concórdia S/A – Indústria e Comércio,
controladora de um grupo de cinco empresas do setor agroindustrial e comercial.
Em 1973 entrou em operação a Sadia Avícola S/A, em Chapecó, SC, especializada na
produção e abate de perus. Em 1974 nasceu o Peru Temperado Sadia, um dos produtos de
maior sucesso na história da empresa, consolidando sua liderança em vendas de carne de peru.
No ano seguinte a empresa começou a exportar frango para o Oriente Médio e assumiu a
liderança entre os exportadores nacionais.
No final da década de 70 a empresa atingiu um extraordinário crescimento, com
diversas operações, plantas industriais nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, além de uma
vocação exportadora consolidada.
Do ponto de vista econômico, os anos 80 foram considerados “a década perdida”, com
altos índices de inflação e a sucessão de três planos econômicos fracassados. Todas as
empresas foram afetadas por esse contexto.
Apesar do ambiente desfavorável, a Sadia conseguiu crescer, ampliando sua
produtividade e eficiência, transformando o lucro de investimentos anteriores em
industrialização e acelerando as exportações.
Em 1980 nasceu a Sadia Trading, responsável pelas vendas no exterior. No mesmo
ano as exportações ultrapassaram os US$ 100 milhões, e conquistaram o Extremo Oriente,
Japão e Hong Kong, passando o quibe Sadia a ser consumido pelos árabes.
Em 1982 dois acontecimentos marcaram a sua história: a criação do SIC – Serviço de
Informação ao Consumidor Sadia, primeiro canal direto com o consumidor na indústria
alimentícia, e o reconhecimento da marca Sadia pelo Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, como Marca Notória.
Ao longo da década diversas unidades de produção entraram em operação. Em 1988 a
empresa ultrapassou US$ 1 bilhão de faturamento, sendo responsável por 16,7% da produção
brasileira de aves e liderando o segmento. No ano seguinte, a Sadia perdeu seu fundador,
Attilio Fontana, um dos grandes empreendedores do século 20.
A companhia fechou a década exportando para 40 países e posicionou-se entre os
maiores exportadores brasileiros.
45
No início dos anos 90 o Brasil ainda sofria as consequências do descontrole da
inflação. A Balança Comercial estava em desequilíbrio e os números da produção industrial
se encontravam no mesmo patamar dos anos 80.
Diante dos desafios e da demanda nacional e internacional, a Sadia optou por oferecer
ao consumidor produtos práticos e que atendessem às mais diversas necessidades. Implantou
o programa de Qualidade Total: TQS – Total Qualidade Sadia, e experimentou novos
métodos gerenciais e produtivos, além de realizar uma significativa expansão fora do País. Foi
uma época que se destacou por grandes transformações no rumo da companhia.
Já no começo da década, a empresa abriu filiais comerciais em Tóquio, Milão e
Buenos Aires. Um ano depois, visando estabelecer um posto de observação no mercado
chinês, inaugurou em Pequim a Churrascaria Beijing Brasil. Em 1996, com os olhos no
Mercosul, abriu uma central de armazenagem e distribuição em Buenos Aires.
Em 1994 a companhia comemorou seu cinquentenário, fechando o ano com um
faturamento de US$ 2,9 bilhões e uma receita de exportação de mais de meio bilhão de
dólares. Dos cerca de 60 funcionários de 1944, ano da sua fundação, ela empregava agora
cerca de 32 mil pessoas. Ainda nesse ano iniciou um processo de sucessivas incorporações,
dentro de um projeto de racionalização e reestruturação societária. O objetivo era atingir uma
economia de escala, reduzir custos, simplificar as operações e oferecer maior transparência
para o mercado de capitais. Quatro anos depois, esse processo culminou na criação da Sadia
S/A, que consolidava todas as atividades operacionais em uma única organização.
Os anos 2000 foram a década em que o Brasil comemorou os seus 500 anos. A
economia estava estabilizada, os índices de inflação mais baixos e as instituições
democráticas consolidadas. A globalização é um fato e novas tendências ganham corpo:
fusões, joint ventures, parcerias, alianças estratégicas, e-commerce, logística integrada,
governança corporativa, responsabilidade social e outros temas importantes.
A Sadia entrou no ano 2000 com o perfil de uma empresa de alto valor e sua marca
absolutamente consolidada. Sua presença é cada vez mais competitiva no mercado interno e
estratégica no mercado externo. Já possui filiais na Argentina, Uruguai e Chile, escritórios na
Itália, Inglaterra e Emirados Árabes e representações no Paraguai, Bolívia e Japão.
Logo no início da década, em 2001, a Sadia lançou na Bolsa de Nova York seus ADRs
- American Depositary Receipts – para aumentar sua visibilidade e permitir que investidores
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estrangeiros pudessem adquirir seus títulos. No mesmo ano também aderiu ao Nível 1 de
Governança Corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo.
Em 2001 e 2003 a empresa foi eleita a marca mais valiosa do setor de alimentos no
Brasil pela consultoria inglesa Interbrand. No ano seguinte iniciou a comemoração dos seus
60 anos de fundação com uma grande campanha publicitária – “Sadia 60 anos. Uma história
de Amor” – que colecionou inúmeros prêmios.
Para contribuir com o desenvolvimento sustentável, em 2004 a empresa fundou o
Instituto Sadia, que hoje atua com o Programa de Investimento Social e o Programa de
Suinocultura Sustentável Sadia (Programa 3S).
Em 2005 foi a vez de retomar o abate de bovinos, aumentando sua oferta de produtos.
Entre os lançamentos, um dos grandes destaques foi o Hot Pocket, que rapidamente tornou-se
um sucesso de vendas. Nesse mesmo ano, a Sadia criou também a linha Sadia Soja e
reformulou a marca Rezende. Pela quarta vez consecutiva, foi eleita a marca de alimentos
mais valiosa do Brasil.
Já em 2006 aconteceram profundas transformações na companhia e ela tornou-se mais
preparada para enfrentar os desafios do mercado. Criou um Comitê de Sustentabilidade para
avaliar suas atividades e inaugurou uma diretoria de Relações Internacionais que,
posteriormente, deu início a um projeto de instalação de uma fábrica na Rússia.
No mesmo ano, iniciou as obras da Unidade Agroindustrial de Lucas do Rio Verde. O
projeto é um dos maiores da companhia e compreende a construção de um abatedouro de
aves, uma unidade de abate e industrialização de suínos, além de uma fábrica de rações.
Em 2007, o Hot Pocket foi eleito “O Melhor do Brasil” por uma das mais importantes
feiras de alimentos do mundo: a SIAL, em Paris. Foi nesse ano também que a Sadia realizou a
primeira venda de créditos de carbono, obtidos com a captação de gases do efeito estufa. E
antes mesmo do Protocolo de Quioto, foi pioneira ao desenvolver projetos para a captação de
metano da atmosfera, contribuindo para amenizar o aquecimento global.
Neste mesmo ano a Sadia entrou para o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE),
criado pela BMF&Bovespa para analisar e reconhecer as empresas sustentáveis.
Ainda em 2007, anunciou um plano ambicioso de investimentos para dobrar o
faturamento da companhia em cinco anos. Modernizou também o armazém-frigorífico do
Porto de Paranaguá, responsável por armazenar grande parte dos produtos exportados para
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mais de 60 países. De 3,1 mil toneladas, o armazém aumentou sua capacidade para 8,5 mil,
representando um crescimento de 170%.
Outra iniciativa fundamental foi o patrocínio às delegações olímpicas brasileiras que
participaram dos Jogos no Rio 2007. O acordo, assinado com o Comitê Olímpico Brasileiro
(COB), garantiu à Sadia exclusividade na categoria de alimentos e foi até os Jogos Olímpicos
de Pequim, em 2008. Em paralelo, a Sadia revitalizou um dos símbolos mais fortes da marca,
com a nova versão do Mascote Sadia em 3D, e lançou uma grande campanha institucional da
marca com o slogan “Para uma vida mais gostosa”.
O ano de 2008, por sua vez, foi marcado por um programa ainda mais agressivo de
investimentos. A Sadia iniciou a construção de sua primeira unidade no Nordeste do Brasil.
Com capacidade de produção de 150 mil toneladas de embutidos, a fábrica recebeu
investimentos de R$ 300 milhões. A operação começou em março de 2009 e será uma
referência em termos de sustentabilidade. Além de autossuficiente em água, será a primeira
fábrica do Brasil a neutralizar 100% de suas emissões de gases de efeito estufa por meio do
plantio de 3,5 milhões de árvores nativas.
Outra conquista socioambiental foi entrar para o relatório “Criando Valores para
Todos: Estratégias de Negócios com os Pobres”, lançado pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento. Isso ocorreu graças ao Programa de Suinocultura Sustentável Sadia,
o Programa 3S, que vem envolvendo 3,5 mil suinocultores na redução das emissões de gases
do efeito estufa e na comercialização de créditos de carbono, através do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) previsto no Protocolo de Kyoto.
Todas essas ações cooperaram para a permanência da Sadia no ISE Bovespa em 2008,
um reconhecimento pelo trabalho que a empresa vem desenvolvendo, tornando-a referência
no mercado como empresa sustentável.
Entre os prêmios conquistados pela Sadia ao longo de 2008, destacam-se:
− 5º lugar no ranking “As 100 empresas de maior prestígio do Brasil” (Época Negócios e
Troiano Consultoria de Marca) e eleita a indústria de alimentos que mais gera empregos
no Brasil: cerca de 60 mil colaboradores (ABIA).
− Melhor Gestão de Marca (Prêmio APEX Brasil de Excelência em Exportação):
Margarina Qualy: líder pelo segundo ano consecutivo (Top of Mind, Datafolha/Folha
de São Paulo) e vencedora pela quarta vez do Marcas de Confiança (Revista Seleções
e Ibope).
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Hambúrguer grelhado e margarinas saborizadas: eleitos produtos mais inovadores do
mundo (Sial - Paris).
Neste mesmo ano de 2008, a Sadia anunciou que liquidou antecipadamente operações
realizadas no mercado financeiro relacionadas à variação do dólar, em razão “da severidade
da crise internacional e da alta volatilidade da cotação da moeda norte-americana”. Com isso,
se tornou a primeira empresa brasileira não financeira a admitir perda ligada diretamente à
crise nos mercados financeiros. Analistas esperavam perdas similares em outras empresas.
A decisão representou perdas de R$ 760 milhões à empresa, o que significou prejuízo
no ano. Na estimativa de Denise Messer, analista do banco Brascan, o prejuízo líquido da
Sadia no ano será de R$ 224 milhões, contra lucro líquido de R$ 689 milhões do ano passado.
Antes do anúncio, o Brascan projetava lucro de R$ 536 milhões para a Sadia em 2008.
4.2 CARACTERIZAÇÃO DA PERDIGÃO S/A
A exemplo da Sadia S/A, os dados da Perdigão S/A foram colhidos no site eletrônico
da organização, e mostram a importância da empresa para o desenvolvimento da região.
Nos primeiros anos da década de 30, no meio-oeste de Santa Catarina, descendentes
de duas famílias de imigrantes italianos – os Ponzoni e os Brandalise – estabeleceram um
pequeno negócio, um armazém de secos e molhados, inaugurado em Vila das Perdizes, às
margens do Rio do Peixe, com o nome de Ponzoni Brandalise & Cia, cujo crescimento
originou a Perdigão S/A.
No ano de 1939 a empresa iniciou suas atividades industriais com um abatedouro de
suínos. Dois anos mais tarde criou sua identificação visual com um novo logotipo que traz um
casal de perdizes. O abate de suínos cresceu e alcançou a marca de 100 animais/dia, exigindo
melhorias tecnológicas dos equipamentos do frigorífico.
Em 1943 a empresa iniciou a expansão de suas atividades com a compra da Sociedade
Curtume Catarinense (mais tarde passou a se chamar Curtume Perdigão), processando peles
de suínos próprias e de terceiros.
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No ano de 1945 os negócios com comércio, indústria e curtume foram agrupados em
uma Sociedade Anônima, passando a denominar-se Ponzoni Brandalise S/A Comércio e
Indústria.
Seguindo o processo de expansão dos negócios foi realizado em 1947 o primeiro
investimento no setor madeireiro, com a aquisição de serrarias.
No ano de 1954 a empresa consolidou a atividade comercial e de processamento de
suínos, direcionando seus investimentos para a agropecuária, com a construção da Granja
Santa Gema, em Videira (SC), voltada à produção de animais de alta linhagem. No ano
seguinte iniciou o abate de aves, realizado de forma artesanal nas dependências do frigorífico
de suínos.
Em 1958 a empresa recebeu a denominação de Perdigão S/A Comércio e Indústria, e
quatro anos mais tarde alcançou a marca de 500 aves abatidas por dia, comercializadas e
resfriadas em São Paulo.
No ano de 1964 foram instalados laboratórios para o controle microbiológico e físicoquímico dos produtos nas unidades industriais, os quais foram os embriões das áreas de
controle da Qualidade e de Pesquisa & Desenvolvimento da empresa. Naquele mesmo ano
ocorreu a criação do time de futebol profissional da Perdigão e a fundação da Sociedade
Esportiva Perdigão (SEP) para administrar esta equipe.
Dois anos mais tarde foi implantado o inovador sistema de criação integrada de aves,
com a engorda de lotes experimentais de 1,2 mil pintinhos por produtores parceiros. Também
em 1966 o time profissional da Perdigão consagra-se campeão catarinense.
O ano de 1968 é marcado pelo início da automação do processamento de aves. A
capacidade de abate atingiu 1,5 mil aves/dia. E três anos mais tarde a empresa expandiu a
atividade de curtume com a aquisição do Empório Couros S/A que, após a fusão com o
curtume Perdigão, tornou-se Perdigão Couros S/A.
Em 1972 a Perdigão dissolveu o time de futebol profissional e a SEP transforma-se em
Sociedade Esportiva e Recreativa Perdigão (SERP), cujas instalações foram destinadas para o
lazer dos funcionários e familiares.
No ano seguinte a empresa investiu na infraestrutura da cidade de Videira (SC),
construindo um hotel e instalando um supermercado. Também ampliou os negócios na área da
fruticultura da maçã, com a compra de fazendas produtoras na região de Friburgo (SC).
50
Ainda com a estratégia de expansão dos negócios, em 1974 foi construída a Perdigão
Rações S/A – Comércio e Indústria, responsável pelas fábricas produtoras de ração animal,
mais tarde denominada Perdigão Alimentos S/A.
Em 1975 foi construído o primeiro abatedouro exclusivo para aves, em Videira (SC),
tornando-se nesse mesmo ano uma das pioneiras na exportação de carne de frango do Brasil
para a Arábia Saudita.
Ainda neste ano a Perdigão Alimentos S/A, que já produzia rações, passou a
industrializar soja e derivados com a construção, em Videira (SC), de uma unidade para
esmagamento do grão, refino de óleo e produção de farelo, matéria prima usada na produção
de ração.
Em 1977 foi incorporada a União Velosense de Frigorífico – Unifrico S/A, uma
empresa de abate e industrialização de suínos, em Salto Veloso (SC), e que no ano seguinte
passou a se chamar Perdigão Veloso S/A.
No final da década de 70 a Perdigão Alimentos S/A incorporou a Rações Pagnocelli
S/A, fábrica localizada em Catanduvas (SC). E com a finalidade de oferecer ao mercado uma
alternativa diferenciada de consumo de carne de aves, a Perdigão importou dos Estados
Unidos as primeiras matrizes da espécie Gallus gallus, dando início a um programa de
melhoramento genético com o objetivo de desenvolver uma ave especial com 70% de suas
carnes concentradas no peito e nas coxas. Nascia aí a marca Chester®, pioneira em produtos
industrializados com baixo teor de gordura, desenvolvida e registrada pela Perdigão S/A.
Durante os três primeiros anos da década de 80 foram incorporadas a Agropecuária
Confiança Ltda e a Comércio e Indústria Saulle Pagnocelli S/A, em Herval D’Oeste (SC),
compreendendo uma unidade de abate e industrialização de suínos, granjas e uma hidrelétrica.
Foi incorporada ainda a Indústria Reunidas Ouro S/A, em Capinzal (SC), composta
por um abatedouro de aves, uma unidade de industrialização de suínos e granjas. Também fez
parte desta unidade o complexo agropecuário da produção e industrialização da ave Chester®.
Esse período é marcado expressivamente pela abertura de capital da Perdigão S/A
Comércio e Indústria, passando a comercializar ações na Bolsa de Valores.
A segunda metade da década de 80 é marcada pela aquisição de outras empresas por
parte da Perdigão S/A, como o Frigorífico Borella e sua marca em Marau (RS), cujas
instalações foram ampliadas e modernizadas. Também foi adquirida uma fábrica de rações em
51
Gaurama (RS) e a Sulina Alimentos S/A, em Serafina Corrêa (RS), que foi mantida como
empresa independente do grupo Perdigão.
Nesse mesmo período a Perdigão S/A formou um time de futebol de salão
profissional, cuja trajetória vitoriosa serviu como um importante veículo de promoção da
empresa. Até 1991, quando foi dissolvido, conquistou 19 importantes títulos em eventos no
Brasil e no exterior, dentre eles, o de bi-Campeão Brasileiro, o de tri-Campeão Sul Americano
e o de Vice-Campeão Mundial.
Com a passagem de Saul Brandalise para o Conselho de Administração, Flávio
Brandalise, seu filho mais velho, assumiu a Presidência, dando início à atuação da segunda
geração na administração dos negócios.
No último ano da década de 80 foi lançada a linha Turma da Mônica, pioneira no
Brasil no segmento de produtos industrializados de carnes com baixa condimentação.
Ainda nesse período foi firmada parceria com a Mitsubischi Corporation, do Japão,
objetivando o acesso a recursos e tecnologia para fortalecer a presença da empresa no
mercado internacional.
Na década de 90 a Perdigão S/A tem os abatedouros de aves de Capinzal (SC) e Marau
(RS) aprovados para exportar produtos para a União Europeia.
A empresa iniciou seu programa de tecnologia ambiental, realizando investimentos
para o aperfeiçoamento dos sistemas de proteção ao meio-ambiente em suas unidades
industriais. Ao longo da década de 90 foram aplicados neste programa aproximadamente US$
7 milhões.
Saul Brandalise, um dos fundadores da Perdigão, faleceu em 1991, em Videira (SC).
Ângelo Ponzoni, outro fundador da Perdigão, faleceu no ano seguinte, no Rio de Janeiro (RJ).
Na metade da década de 90, o controle acionário foi adquirido por um grupo de
Fundos de Pensão, encerrando a fase da administração familiar. Iniciou então um período de
profissionalização na administração da empresa, sendo realizadas reestruturações societária e
organizacional.
Em 1995, a empresa recebeu o Prêmio Mauá, outorgado pela Bolsa de Valores do Rio
de Janeiro, Jornal do Brasil, Associação Comercial do Rio de Janeiro e Associação Brasileira
de Companhias Abertas, pela qualidade e transparência de suas informações ao mercado de
capitais. Pela primeira vez este prêmio distingue uma indústria de alimentos.
52
Em reconhecimento às suas ações voltadas à valorização de seus recursos humanos, a
Perdigão recebe, nos anos 90, o Prêmio SESI de Qualidade de Vida no Trabalho.
Na segunda metade da década de 90 foi inaugurada em Marau (RS), a mais moderna
fábrica de ração da América Latina, com capacidade para produzir 33 mil toneladas por mês.
Nesse mesmo período é concluída a reestruturação societária, que resultou numa única
empresa de capital aberto – a Perdigão S/A, e uma única empresa operacional – a Perdigão
Agroindustrial S/A.
Pioneira na implantação da inseminação artificial em suínos, a Perdigão, em 1998,
investiu em mais dois novos Centros de Difusão Genética: em Videira (SC) e em Rio Verde
(GO). Ambos constituem-se individualmente nos maiores centros de inseminação artificial do
Brasil. No ano seguinte a empresa ampliou seus negócios, entrando no mercado de massas
prontas congeladas com a Linha Toque de Sabor.
Em 2000, a Perdigão S/A compra 51% do controle acionário do Frigorífico Batávia e
o mantém como empresa independente. O investimento marca a entrada da Perdigão no
mercado de carne de peru, dando início a uma parceria com a Parmalat na área de distribuição
na América do Sul.
Naquele mesmo ano, o complexo agroindustrial de Rio Verde entrou em fase préoperacional com o abate e processamento de suínos no mês de julho, e o de aves em outubro.
E pelo segundo ano consecutivo a empresa foi consagrada pela Revista Exame como uma das
100 melhores empresas para se trabalhar.
O quadro efetivo da empresa ultrapassou 20 mil funcionários no ano de 2001.
Adquiriu ainda os 49% restantes do controle acionário do Frigorífico Batávia e o incorporou à
Perdigão Agroindustrial S/A, mantendo a marca Batavo no mercado.
As operações no complexo de Rio Verde aumentaram e a unidade passou a exportar
seus produtos para países da Europa e do Oriente.
Ainda em 2001, a empresa aderiu ao nível I de Governança Corporativa da Bolsa de
Valores de São Paulo (BOVESPA), o que deu maior destaque aos esforços da companhia na
melhoria da relação com investidores, elevando o potencial de valorização de seus ativos.
Em 2002 a Perdigão deu mais um importante passo em seu processo de internacionalização com a abertura de um escritório em Dubai, nos Emirados Árabes, ampliando a
presença da empresa e das marcas – Halal, Unef e Borella – em países do Oriente Médio.
53
A empresa inovou mais uma vez ao entrar no segmento de sobremesas prontas
congeladas, pizza doce, tortas e folhados Perdigão.
E ainda reestruturou o atendimento no mercado europeu, transformando o escritório de
representações de Londres em uma unidade de negócios que coordena a unidade da Holanda.
Em 2003 foi inaugurada a Unidade de Industrializados de Marau, no RS, que naquele
ano produziu 122 mil toneladas de industrializados de carnes de aves e suínos destinadas para
os mercados interno e externo. E a fim de desenvolver novos produtos, a empresa investiu na
modernização do seu Centro de Pesquisa, inaugurando, em Videira (SC), o novo Centro de
Tecnologia de Carnes.
No ano em que comemorou 70 anos de atividades a empresa inaugurou escritórios de
vendas em Cingapura e Tóquio, os quais ampliaram a participação da Perdigão no mercado
local e fortaleceram o projeto de internacionalização da empresa.
Na segunda metade da primeira década do século 21, a empresa continua se
destacando em suas atividades a nível mundial, recebendo prêmios de revistas e instituições.
Ainda assim amplia cada vez mais seus horizontes por meio da ampliação de suas unidades e
da fusão com outras empresas, como ocorreu no ano de 2006, quando a Perdigão S/A adquiriu
51% do capital social da Batávia S/A Indústria de Alimentos e entrou no mercado de lácteos.
Já em 2007 a empresa adquiriu um frigorífico de bovinos em Mirassol D’Oeste, no
Estado do Mato Grosso, atendendo metas de ampliação da sua atuação na área de bovinos. E
em novembro de 2007 a Perdigão passou a deter o controle total da Batávia, totalizando o
valor de R$ 155 milhões nesse negócio.
E, por fim, a empresa adquiriu a Eleva (antiga Avipal). Esta operação iniciou em
outubro de 2007 e se concretizou em fevereiro de 2008, envolvendo o montante de R$ 1,7
bilhão. O empreendimento formou um dos maiores conglomerados de alimentos da América
Latina, com forte atuação na exportação de carnes e lácteos.
Com a aquisição, a Perdigão atingiu marca histórica, ultrapassando a arqui-rival Sadia
em faturamento, tornando-se a maior empresa brasileira de alimentos. Em 2008 as receitas da
Perdigão e da Eleva atingiram 8,2 bilhões de reais, enquanto a Sadia faturou 7,9 bilhões.
Com a crise financeira da Sadia, após anos de tentativas de união e meses de negociações, em 20 de maio de 2009 houve a tão esperada notícia da fusão das duas maiores empresas da indústria alimentícia de aves e massas congeladas brasileira: a Sadia e a Perdigão.
54
4.3 CARACTERIZAÇÃO DA BRASIL FOODS S/A
Os dados da Brasil Foods S/A doravante apresentados foram igualmente originados no
site eletrônico da organização, e revelam o resultado da fusão dessas duas grandes empresas.
Em 2009, quando a Perdigão completou 75 anos, a mesma anunciou sua fusão com a
Sadia, dando início ao processo de associação para unificar as operações das duas
companhias, resultando na criação de uma nova empresa, a BRF – Brasil Foods S/A. A
nomenclatura das ações da Brasil Foods no Bolsa de Valores – a BRFS3 –, teve sua primeira
negociação no mercado acionário na data de 10/12/2009, depois da extinção das
nomenclaturas PERG e SDIA em 10/09/2009, quando houve a última negociação dessas
ações na Bolsa de Valores, respectivamente relacionadas às ações da Perdigão e da Sadia.
Nesse mesmo ano entra no ar a nova campanha institucional da Perdigão. Criada para
reforçar o conceito de “comida de verdade”, a nova comunicação leva a assinatura “Se é de
coração é de verdade”. A campanha faz parte da estratégia de reposicionamento da marca
prevista para 2009, que reforça a Perdigão como um dos principais players do setor. Orçada
em R$ 15 milhões, a campanha foi produzida pela agência Y&R.
A marca Perdigão ingressa nas 10 mais valiosas do mundo, segundo estudo realizado
em parceria pela revista Dinheiro e pela Brand Analytics/Millward Brown. O levantamento
apurou que o valor da marca é de R$ 1,1 bilhão, o maior entre as empresas de alimentos e o
suficiente para garantir o 10º lugar entre as companhias pesquisadas.
A BRF, nova denominação da Perdigão S/A, realiza oferta pública de ações para
aumento do capital da companhia. A companhia informou ao mercado em 27 de julho de
2009, a transferência de R$ 950 milhões à Sadia S/A, a título de Adiantamento para Futuro
Aumento de Capital (AFAC), como parte do processo de saneamento financeiro da sua nova
controlada, conforme informado no Prospecto Definitivo de Oferta Pública de Distribuição
Primária de Ações Ordinárias de emissão da Companhia.
55
Segundo informações do Estadão, Nildemar Secches, presidente da Perdigão S/A, os
acionistas da Perdigão S/A ficarão com uma fatia de 68% da Brasil Foods, enquanto os
acionistas da Sadia S/A terão participação de 32%. Segundo o executivo, a presidência do
Conselho será compartilhada entre ele e o presidente da Sadia S/A, Luiz Fernando Furlan.
A Companhia é uma das maiores empresas de alimentos da América Latina, ocupa o
terceiro lugar em abate de aves e está entre as 10 maiores em abates de suínos no mundo,
sendo também uma das principais companhias brasileiras na captação de leite. É uma empresa
de escala internacional, sendo que seus produtos chegam a mais de 110 países.
Cabe ressaltar que mesmo tendo o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) aprovada a incorporação da Sadia pela Brasil Foods para que o processo se efetivasse,
o órgão antitruste determinou providências a serem adotadas pela Brasil Foods no que tange
à concretização da operação.
Nesse contexto, a Brasil Foods fechou acordo com a Marfrig, dona da marca Seara,
para ceder à empresa os ativos dos quais teve de se desfazer por determinação do Cade para
concluir a fusão entre Sadia e Perdigão.
Segundo informações reveladas pela empresa em 08/12/2011, houve permuta entre
marcas e instalações das duas companhias. Para aprovar a fusão entre Sadia e Perdigão, o
Cade obrigou a Brasil Foods a passar para a Marfrig as marcas Rezende, Wilson, Texas,
Tekitos, Patitas, Fiesta, Escolha Saudável, Light Ellegance, Freski, Confiança, Doriana e
Delicata. Além disso vendeu suas 10 fábricas, quatro abatedouros, 12 granjas, quatro fábricas
da ração, dois incubatórios de aves e oito centros de distribuição.
A Marfrig também vai ceder parte dos ativos da marca Paty, na Argentina, líder no
mercado de hambúrguer no país; as marcas das linhas de processados Paty, Barny e Estancia
Sur; granjas de suínos e propriedade rural no Mato Grosso; operações comerciais da Paty, no
Uruguai e no Chile, além de pagar R$ 200 milhões adicionais.
O acordo formalizando as exigências apontadas pelo Cade foi assinado no dia 20 de
março de 2012, e prevê a permuta dos seguintes ativos da BRF para a Marfrig: oito centros de
distribuição, uma planta industrial de suínos por meio de contrato de arrendamento, e a
totalidade da participação acionária da Sadia (64,57%) na Excelsior Alimentos.
Em troca, a Marfrig repassou à BRF sua participação acionária de 90,05% no capital
social da empresa argentina Quickfood, além de um pagamento adicional de R$ 350 milhões.
56
A Marfrig ainda terá que pagar R$ 188 milhões caso opte por exercer a opção de compra da
planta industrial de suínos arrendada.
O Termo de Compromisso de Conduta (TCD) estabelecido pelo órgão antitruste como
contrapartida para a aprovação da compra da Sadia pela Perdigão, estabelece que a BRF terá
que se desfazer de uma série de ativos para garantir a concorrência no setor.
O TCD lista mais de 20 ativos que deveriam ser alienados pela BRF, entre eles
granjas, unidades de abate e de ração animal, além de marcas como Rezende e Confiança.
Todos esses ativos foram transferidos à Marfrig.
Cabe destacar que o processo de fusão iniciado em maio 2009 não considerava o
processo de integralização acionário, somente em termos patrimoniais, sendo que o período
de fusão também no mercado de capitais com transações em bolsa de valores foi realizado no
período anteriormente descrito. Nesse período o processo de fusão para composição acionária
pode ser assim sintetizado:
− 1ª etapa (reorganização societária da Sadia): na primeira etapa, acionistas detentores de
no mínimo 51% do capital votante da Sadia migram para uma sociedade denominada HFF
Participações S/A (“HFF”), tornando essa empresa acionista controladora da Sadia.
− 2ª etapa (incorporação de ações da HFF pela Perdigão): feita a reorganização
societária da Sadia, a Perdigão incorpora as ações de emissão da HFF, que se torna sua
subsidiária integral, fazendo com que a Perdigão, por consequência, passe a ser a
controladora indireta da Sadia. Nessa etapa a Perdigão altera a sua denominação social
para BRF Brasil Foods S/A (“BRF”). Adicionalmente, a BRF pode, a seu critério,
incorporar a HFF, o que fará com que passe a ser controladora direta da Sadia.
− 3ª etapa (incorporação de ações da Sadia): concluída a segunda etapa, a BRF, já na
qualidade de controladora direta ou indireta da Sadia, realiza a incorporação das ações da
Sadia que remanesceram em poder do público, momento em que a Sadia passa a ser sua
subsidiária integral.
Sendo assim, a figura 6, a seguir, ilustra o acordo firmado entre o Cade e a Brasil
Foods S/A, apresentando os produtos que terão sua venda suspensa nos próximos anos.
57
Figura 6. Produtos que terão venda suspensa no Brasil
Fonte: G1 – O portal de notícias da Globo (2012).
Como pode ser constatado no quadro anteriormente apresentado, existem produtos que
deverão sair de linha nos próximos anos, ou seja, terão suas vendas suspensas. É importante a
decisão de uma reorganização produtiva da empresa, visando manter sua dinâmica de
mercado mediante um reposicionamento estratégico com vistas a atender as perdas
ocasionadas pela suspensão dos produtos relacionados.
Conforme divulgado pela empresa Brasil Foods S/A, o impacto da suspensão da venda
dos referidos produtos apontados no quadro, bem como a alienação das fábricas equivalem a
13% da receita da empresa. Isso sem considerar o valor de mercado da venda dos ativos não
calculados no processo.
Para o presidente da companhia, o acordo atende as preocupações antitrustes, protege
os consumidores, e abre espaço para mais um concorrente. Com o processo definido a
empresa pode dar prosseguimento a sua ampliação de investimentos, unindo o mercado de
ativos reais com o mercado de ativos financeiros.
58
4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS
Com a apresentação dos dados das empresas em estudo, pode-se ter noção da
dimensão da Brasil Foods S/A, formada por meio de fusão da Sadia e da Perdigão.
Considerando a abrangência de mercado alcançada pela gigante do segmento de alimentos, é
de suma importância analisar o panorama do mercado acionário das ações da Sadia S/A e da
Perdigão S/A no período que antecedeu a fusão, antes da integralização do capital que
originou a nova empresa.
4.4.1 Análise do comportamento das ações da Sadia S/A no mercado acionário
A Sadia S/A sempre foi respeitada nos seus produtos de venda, configurada como uma
empresa de conceito no mercado, oferecendo produtos de qualidades aos seus clientes, o que
lhe assegura uma boa aceitação diante do mercado consumidor e a consolidação da sua
solidez no mercado. Tendo conhecimento dessa situação procurou-se observar o
comportamento dos resultados alcançados pela Sadia no âmbito do mercado acionário, o que
será demonstrado a seguir.
Conforme divulgação da imprensa escrita e falada, na crise mundial de 2008 a
empresa apresentou um prejuízo de 2,48 bilhões de reais, o primeiro nos 64 anos de sua
história. O prejuízo foi causado pelas operações cambiais da empresa, que apostava na baixa
do dólar. Mesmo que a empresa tenha encerrado o ano de 2008 como a maior empresa
brasileira exportadora de proteína animal e a maior produtora do setor de carnes, isso não
modificou o comportamento do investidor.
No gráfico 9, a seguir, pode-se verificar a grande oscilação no valor das ações no
mercado mobiliário, e a queda do preço das ações, a qual foi mais expressiva a partir de
25/09/2008. No dia 02/01/2008 o pregão da Bovespa fechou o preço das ações em R$ 9,85, e
no último pregão da Bovespa de 2008, seu preço fechou em R$ 4,35. A partir deste período as
ações pouco reagiram, mesmo já sendo anunciada a fusão com a Perdigão S/A.
Graficamente pode-se verificar que o aplicador financeiro nesta modalidade de
investimento é ágil e rápido, reagindo imediatamente a qualquer informação prestada e/ou
ações de gestão que venham lhe prejudicar.
59
Gráfico 9. Comportamento das ações da Sadia S/A no mercado mobiliário no período em
análise
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
O gráfico 10, a seguir, apresenta os últimos meses em que a Sadia S/A teve suas ações
negociadas na Bovespa, e revela as operações diárias no mercado acionário. Pode-se constatar
também que a partir das operações referentes à fusão da empresa com a Perdigão, muito
divulgadas pela imprensa, o mercado começou a reagir, porém com muitas oscilações. Estas
geralmente ocorrem pela incerteza do aplicador, como também pelos especuladores deste
mercado.
Gráfico 10. Operações diárias no mercado acionário da Sadia S/A
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
60
No mês de junho de 2009 as ações da Sadia S/A no mercado mobiliário apresentavam
o menor valor monetário de suas ações, porém observou-se o comportamento das médias
móveis2, que informam o lado correto da tendência do mercado. A teoria recomenda que o
momento para a opção de compra de ativos deve ser quando o preço estiver acima da média e
a opção de venda quando o preço estiver abaixo dela, não deixando de observar a volatilidade
do mercado como fator de risco, pois com sua interferência os resultados da análise da média
móvel podem não condizer com a realidade.
Um dos motivos prováveis da valorização das ações neste período, embora seu preço
ainda estivesse depreciado em relação há um ano, era a expectativa do novo mercado em que
a Sadia S/A estava se inserindo com a fusão com a Perdigão S/A. Mesmo assim investidores e
especuladores esperavam decisões mais rápidas da Cade, e as divulgações na imprensa
deixavam muitos receosos, pois o mercado se encontrava em grande volatilidade.
4.4.2 Análise do comportamento das ações da Perdigão S/A no mercado acionário
Neste mesmo período, o mercado acionário da Perdigão S/A manteve comportamento
diferente da Sadia S/A, embora também tenham ocorrido oscilações que em alguns períodos
provocaram a perda do seu valor. O mercado, porém, já sinalizava a fusão das empresas, e o
preço de mercado das ações começava a reagir, o que pode ser constatado no gráfico 11.
Gráfico 11. Operações diárias no mercado acionário da Perdigão S/A
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
2
Médias móveis: M3 cor vermelha; M8 cor amarela; M20 cor azul.
61
Como todo ato de concentração de mercado precisa passar pela análise do Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (Cade), as empresas prosseguiram separadas até que a
aprovação fosse feita. Havia riscos de a operação não ser aprovada da forma prevista pelas
empresas, já que em setores como o de congelados, a concentração no mercado brasileiro
passaria dos 80%, o que dificulta a livre concorrência e cria possibilidades de aumento no
preço dos produtos.
Verificando o comportamento acionário no mesmo período, ou seja, de maio a
setembro de 2009, percebe-se que a trajetória no preço das ações da Perdigão pouco se
diferenciou do comportamento da Sadia S/A, basta observar as médias móveis, conforme
gráfico 12, a seguir.
Gráfico 12. Evolução da cotação das ações da Perdigão S/A de maio a setembro/09
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
Quando se encontram flutuações de ações produzidas por problemas de estabilidade,
as médias móveis são indicadores técnicos que possibilitam a análise dos movimentos dos
preços de uma ação. Conforme teorias apresentadas, com simplicidade de construção e
objetividade de seus resultados, a média móvel de preço de ações torna-se um dos mais
objetivos e versáteis indicadores de tendência.
62
4.4.3 Reflexos da fusão entre Sadia e Perdigão no mercado acionário
Com a incorporação da concorrente Sadia, as duas empresas formaram a Brasil Foods,
maior empresa no setor de alimentos processados do país e a 10ª maior do continente
americano. A operação não envolveu dinheiro e as ações da Sadia passaram para as mãos de
acionistas da Perdigão, que tiveram participação de 68% da nova empresa. Como todo ato de
concentração de mercado precisa passar pela análise do Conselho Administrativo de Defesa
Econômica (Cade), as empresas prosseguirão separadas até que haja a aprovação.
Graficamente pode-se verificar que o aplicador financeiro nesta modalidade de
investimento é ágil e rápido, reagindo a qualquer informação prestada e/ou ações de gestão
que venham lhe prejudicar.
Comparando as oscilações ocorridas no período em análise, o gráfico 13, a seguir,
mostra que as ações da Sadia S/A sofreram maior impacto em termos de desvalorização já que
com o processo de fusão a empresa ficou com a menor parte do controle da nova empresa
originária.
Gráfico 13. Oscilações no valor das ações da Sadia S/A e Perdigão S/A após anúncio da fusão
F
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
Comparando estes dois mercados, as ações da Sadia S/A tiveram uma queda em
percentuais expressivamente maiores que as da Perdigão S/A, conforme pode ser verificado
na figura 7, a seguir.
63
Figura 7. Valor de mercado das ações da Sadia S/A e Perdigão S/A na Bovespa
Data
2/1/2008
30/12/2008
9/12/2009
SDIA3
9,85
4,35
6,42
%
100,00%
-55,84%
47,59%
PRGA3
42,40
34,48
39,80
%
100,00%
-18,68%
15,43%
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).
Tomando por base os meses de janeiro de 2008 a dezembro de 2009 constata-se que a
Sadia S/A teve uma desvalorização de 34,82% em suas ações no mercado acionário, enquanto
que a Perdigão sofreu uma desvalorização de 6,13%.
Analistas grafistas analisam o quadro como uma situação de mercado muito nervoso e
inseguro devido à instabilidade na cotação das ações, principalmente da Sadia S/A, que
obteve uma desvalorização acentuada no período em análise, intensificando-se a partir do
início do processo de fusão anunciado em março de 2009.
No dia 10 de dezembro de 2009 as ações da BRFS3 (fusão da Sadia e Perdigão)
tiveram seu primeiro lançamento na Bovespa, cujo fechamento da cotação da ação no dia foi
de R$ 19,61. Observa-se que no processo da formação desta ação foi considerado que 68% do
total das ações da Perdigão e 32% da Sadia formariam a nova empresa com a denominação
BRFS3.
Durante o período em análise constata-se que ocorreram poucas oscilações e, embora
iniciando com preços bem menores que os da Perdigão S/A (praticamente a metade), houve
ganhos igualados ao da Perdigão no período.
Observa-se que enquanto a consolidação da fusão ainda não tinha sido concretizada
ocorreram leves oscilações em função do receio dos aplicadores financeiros diante do impasse
da Brasil Foods com o Cade e das transações que a empresa se viu obrigada a realizar para
concretizar a fusão.
O gráfico 14, a seguir, apresenta a evolução da oscilação das ações no mercado
acionário no período de 10/12/2009 a 30/04/2012, sendo que nesta data as ações da Brasil
Foods tiveram sua primeira transação no mercado.
64
Gráfico 14. Comportamento das ações da Brasil Foods de 10/12/09 a 30/04/12
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
As ações da Brasil Foods tiveram sua primeira negociação na data de 10/12/2009,
sendo que nesta data as ações da empresa estavam cotadas a R$ 19,61. No término do período
em análise, passados praticamente dois anos e quatro meses, na data de 30/04/2012, as ações
da empresa já estavam cotadas a R$ 34,85. Esta evolução ocorrida no preço das ações da
empresa representa um crescimento médio de 2,07% ao mês e de 71,72% durante todo o
período analisado.
Em maio de 2009 a Sadia e a Perdigão anunciaram a fusão das empresas, criando uma
gigante dos alimentos, e até dezembro do mesmo ano essas negociações foram acordadas,
quando uma nova nomenclatura entrou no mercado – a BRFS3.
O período da análise partiu de janeiro de 2008, ano em que ocorreu a crise na Sadia
S/A, a primeira de sua história. Para recuperar sua saúde financeira, a empresa resolveu
vender alguns de seus ativos para a Perdigão S/A. Esse período de janeiro de 2008 a março de
2009 foi crítico para a empresa, culminando na sua insolvência, pelo fato de que seu valor
patrimonial estava bastante deteriorado nas vésperas no anúncio da fusão.
Em maio de 2009 a fusão foi anunciada e, com isso, o primeiro ativo da Brasil Foods
somente foi negociado em dezembro daquele ano. A fusão foi autorizada em julho de 2011,
com observância das determinações do Cade, que determinou a venda de alguns produtos e
alienação de fábricas. O processo só foi concluído em março de 2012, mediante assinatura do
acordo entre as partes.
65
O gráfico 15, a seguir, apresenta estes resultados e mostra claramente o
comportamento do investidor frente às decisões do mercado.
Gráfico 15. Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a julho/11
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).
Em tempos de crise, a desconfiança se torna uma das maiores vilãs da economia. A
princípio não é racional quanto aos setores mais afetados ou empresas melhor preparadas para
enfrentar turbulências. No desespero, medo e insegurança todas se tornam igualmente
perigosas para a maioria dos investidores.
Após a confirmação do Cade referente à fusão das empresas, as ações a preço de
mercado começaram a crescer, ainda com algumas oscilações, mas já trouxe maior segurança
para o investidor. O gráfico 16, a seguir, mostra que este mercado não desvalorizou seu preço,
considerando o início das operações da Brasil Foods na Bolsa de Valores. A queda mais
acentuada ocorreu em agosto de 2011, um mês após o voto contrário do relator do Cade e a
retomada das negociações com a Brasil Foods, o que gerou temor entre os investidores.
66
Gráfico 16. Evolução da cotação das ações da Brasil Foods de dez/09 a abr/12
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).
Deve-se ainda ressaltar que toda organização é conceitualmente entendida como
sistema aberto, isto é, interage com o meio no qual está inserida. Desse modo, sua saúde
financeira está exposta a solavancos e crises econômico-financeiras, como o caso da “crise de
2008”, quando empresas que não tinham situação saudável no curto prazo e não estavam
preparadas para o longo prazo em termos financeiros, não puderam resistir à catástrofe
econômica e provaram que não eram sustentáveis.
67
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo verificar o desempenho do valor das ações da
Brasil Foods S/A (BRFS3) no mercado mobiliário da Bovespa após a fusão da Sadia S/A e da
Perdigão S/A. De maneira geral as análises apresentadas responderam às questões propostas
nos objetivos específicos.
Todo o investidor e/ou especulador sempre faz comparações gráficas em períodos
distintos. Analisando o desempenho das ações da Sadia percebe-se que com antecedência de
dois meses da fusão, esta já havia perdido força no mercado acionário, em grande parte
devido ao trabalho de divulgação da imprensa falada e escrita. A Perdigão, embora ainda com
um valor de seu patrimônio elevado, também viu as suas ações oscilarem muito no mercado
imobiliário, que se encontrava nervoso e volátil.
Tomando por base a rentabilidade dessas ações em cada pregão da Bovespa, e
comparando-a com a nova e gigantesca empresa Brasil Foods S/A, observa-se que nos dois
primeiros meses do lançamento da nova empresa, o mercado não reagiu com muito
entusiasmo, ou seja, a rentabilidade no período de transição manteve-se praticamente nos
mesmos patamares.
Várias são as considerações que podem confirmar este comportamento no preço de
mercado acionário, sendo um dos mais relevantes a confiabilidade que o investidor e/ou
especulador tem a respeito do futuro da empresa. Também são consideradas as decisões
necessárias para os ajustes finais deste mercado, tomando por base informações tanto da
empresa como do contexto macroeconômico, pois o investidor, ao entrar neste mercado
sempre busca a otimização de três aspectos básicos: retorno, prazo e proteção e, ao analisá-lo,
realiza um projeção de sua rentabilidade, liquidez e grau de risco.
68
O gráfico 17, a seguir, mostra um comparativo do desempenho das ações da Sadia, da
Perdigão e da Brasil Foods (BRF) no período de agosto de 2009 a fevereiro de 2010.
Gráfico 17. Comparativo das ações da Sadia (SDIA3), Perdigão (PRGA3) e Brasil Foods
(BRFS3) no período de agosto/09 a fevereiro/10
1,080000
1,020000
0,960000
0,900000
03/02/10
03/01/10
PRGA3
03/12/09
03/11/09
03/10/09
03/09/09
03/08/09
SDIA3
BRFS3
Fonte: elaboração própria a partir dos dados da pesquisa (2012).
Em primeiro lugar, o que pode ser observado em relação ao comportamento do valor
de mercado das ações BRFS3 (Brasil Foods) desde seu início até a confirmação final da fusão
é que ocorreram oscilações e pouca valorização. Esta metodologia de análise é possível
quando se analisa o contexto econômico no qual as empresas estão inseridas, as variáveis e os
acontecimentos que afetaram o comportamento das ações. Através deles pode-se verificar a
tendência do mercado, tendo como base a provável ascensão do valor de mercado de suas
ações na Bovespa. É provável que essa ascensão ocorra mais precisamente a partir da
consolidação total desta fusão, já que alguns produtos e/ou marcas de produtos (conforme
apresentado) devem sair do mercado, como também os ajustes a serem feitos como resultado
do processo de fusão.
Em segundo lugar foi diagnosticada a formação de um GAP no mês de agosto de
2011, que demonstra a influência do acordo entre as empresas na tomada de decisão dos
investidores. Graficamente pode-se perceber a reação do mercado, ora para mais ora para
menos, como mostra o gráfico 18, a seguir, onde pode ser visualizada a formação de um GAP
no período acima referido.
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Gráfico 18. Evolução da cotação diária dos pregões na Bovespa das ações da Brasil Foods
S/A – dezembro/09 a abril/12
Fonte: Software Grafix, versão 2.3.4.0.
Segundo Matsura (2007), na análise gráfica esses movimentos denominados GAPs,
que são movimentos que revelam uma descontinuidade dos preços, o preço dá um salto ou
uma queda, formando um intervalo em que não houve negócio. A situação acontece, muitas
vezes, em função de algum fato inesperado, divulgado após o fechamento do pregão, quando
não existe a possibilidade de negociação imediata. Os investidores têm mais tempo para
digerir o fato novo e, eventualmente, concluir que o nível de preço se deslocou para um novo
patamar.
Uma das análises prováveis deste ocorrido pode ter sido motivado pelo fato
antecedente e pelas várias informações escritas e faladas a respeito das divergências existentes
sobre a fusão das empresas, já que esse fato corresponde à data de 8 de junho de 2011, quando
o relator do Cade votou contra a fusão das empresas. Em 12 de julho do corrente ano, porém,
véspera da retomada do julgamento, BRF e Cade buscaram um acordo para permitir a
operação das ações da empresa na Bolsa de Valores. O investidor, sabedor desse impasse,
preferiu preservar suas aplicações.
A gigante Brasil Foods S/A tornou-se uma empresa de referência mundial no ramo de
alimentos de origem animal, sendo a maior exportadora de carne de frango do mundo. Com
inegável importância no ramo de carnes e frios a empresa consolidou-se no mercado com os
recentes resultados obtidos em termos de produção, exportações, faturamento e lucro.
70
O sucesso obtido pela empresa deixou os investidores seguros, confiantes na
perpetuação da posição da empresa no mercado devido à solidez e estrutura conquistadas
junto ao mercado consumidor, bem como no tipo de produto com que a empresa trabalha, no
caso a alimentação humana, que se configura em uma necessidade básica de todos.
No contexto da análise são evidentes os impactos causados pelo processo de fusão no
âmbito do mercado conquistado pela Brasil Foods, o que prova o impulso originado pela
fusão e o crescimento que a empresa vem obtendo no cenário mundial. É possível verificar
também o comportamento da empresa na dimensão do mercado financeiro para se obter
informações sobre o assunto proposto.
Observa-se que durante o período analisado, o comportamento do mercado acionário
com os resultados alcançados pela Brasil Foods S/A e as perspectivas de tendência do
mercado tornaram o país mais confiável para investimentos estrangeiros.
Desde o início do processo de fusão os investidores se mantiveram atentos ao analisar
o andamento das negociações das empresas, direcionando o olhar na estabilidade econômica,
tanto da empresa como no país de origem.
Durante a realização da pesquisa surgiram questionamentos que não foram
contemplados, já que não era esse o objetivo principal. Estas questões, relatadas a seguir,
ficam latentes como sugestões para futuras pesquisas.
A primeira está relacionada às várias metodologias de análises, as quais podem ser
amplamente comparadas e assim prever com mais critérios as tendências do mercado
financeiro, além de buscar teorias econômicas de análise que possam contribuir para uma
população carente de conhecimentos sobre o conteúdo.
A segunda diz respeito à necessidade de os estudantes de Economia terem mais
clareza desse mercado, hoje privilégio de alguns, e embora sendo do interesse particular do
acadêmico o avanço neste conhecimento, muito ainda há para melhorar. Há convicção por
parte do acadêmico que o estudo poderá proporcionar o conhecimento de um mercado a ser
explorado nesta região, já que o mesmo é natural de Três Passos, e a economia do município
depende muito da Seara3, sendo sua contribuição de alta representatividade para a geração de
emprego e renda no município.
3
Seara Foods: unidade de aves e processados vendida pela Brasil Foods ao Grupo Marfrig – a unidade do
município de Três Passos/RS integra o conjunto de ativos — dez fábricas, oito centros de distribuição e onze
marcas — que a Brasil Foods precisou se desfazer para que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade) autorizasse sua criação, fruto da incorporação da Sadia pela Perdigão, em 2009.
71
A terceira questão aqui apresentada refere-se à continuidade do estudo. O resultado
desta investigação contribuiu para melhor identificar e analisar os riscos que este mercado
apresenta. Como acadêmico do curso de Economia e aplicador financeiro, existe um empenho
cada vez maior na busca de conhecimento para análise deste mercado, sendo que este estudo
representou conhecimentos de grande valia.
72
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