Resposta de Ofélia Foi pena que há bocado não pudesse estar mais tempo ao telefone, mas no entanto fiquei contente por me ter telefonado, sempre ouvi a sua voz e provou que se não esqueceu do seu bebé. Agora vou dar-lhe notícias do Ibis pequenino, do meu Nininho bonito que é também o meu «amor pequenino». Continua a sorrir, muito bem disposto [,] gosta muito de mim [,] diz que já não quer voltar para onde estava, gosta muito dos meus jinhos – porque eu já lhe dei jinhos – porta-se muito bem [,] com muito juízo, numa palavra: é um Ibizinho que é o meu encanto. Como está muito frio vou arranjar-lhe uma caixinha enchumaçada de algodão para ele se sentir muito quentinho. Eu antes queria tê-lo ao colo… mas como não é possível nem em pequenino nem em gandinho [,] ao menos agasalho-o o melhor que posso. […] O Nininho tem uma carinha que me agrada muito, de que eu gosto muitíssimo e de que eu não consinto diga mal. De resto, as feições do meu Ibis não têm nada de que se possa ou deva desdenhar. Os olhos são bonitos na sua cor e na expressão, nas suas expressões, porque têm muitas e todas interessantes, mas da que eu gosto mais é da, de ternura que os seus olhos deixam transparecer e é por isso que eu não posso olhar muito tempo para o Nininho, toda a sua carinha tem para mim um ar tão terno que me encanta, e eu dava-me vontade era de me agarrar à sua carinha e dar-lhe muitos beijos e, como não posso, parece que rindo espalho o nervosismo em que estou, olhe meu amor, e nem sei bem explicar o que é. […] Também não quero que veja na minha pressa de o ter, o simples desejo de casar, oh, isso por amor de Deus, o Ibis deve muito bem compreender que se fosse só o desejo de casar, eu já o teria feito, porque não há ninguém que não tenha quem lhe queira, mesmo não sendo bonita, não é verdade? Mas eu sempre pensei que o casamento devia ser muito agradável, mas com quem se goste muito, muito, e eu gosto muito, muito, mas mesmo muito do Fernandinho querido e portanto só a ele é que eu quero ter por companhia de toda a vida. E ainda ontem o Nininho me perguntou se eu era capaz de aturar a sua existência toda. Oh! meu amor! […] Eu quero tanto ao meu Nininho que não penso noutra coisa, perdo-me se o maço sim? E perdoe-me também a minha carta que vai uma vergonha, cheia de palavras riscadas e muito mal escrita. Eu quero fazer um p e faço um f, quero fazer um f, faço um v, e assim sucessivamente, quero formar palavras mas não tenho paciências para fazer as letras. Mas o Ibis perdoa [,] não perdoa? e continua agora a escvê [sic] à Ofelinha [,] pois continua pêto? Sexta-feira às 5 ½, ida e volta e Ibis bem disposto e o tal retrato mesmo estragado. Qué jinhos Nininho, qué jinhos? Então tome lá muitos, muitos jinhos, muitos da sempre amiguinha Ofelinha do Nininho 17-12-1929 P.S. Escreva, sim?! Telefone amanhã.