IDÉIAS ( ensaio 15 )
Prudêncio Ramão Almiron
Ah! O amor...
Passa-se uma vida inteira e, no curso dela, alguém é escolhido, briga-se muito, para
conquistar-se o seu coração, briga-se com pessoas, briga-se com a vida, pois as adversidades
apresentam-se, então se as enfrenta e as vidas são emendadas, colam-se-as e vai-se em frente.
Só que as barreiras não são só postas pelo que é do exterior das pessoas desta relação, elas
também, que nem escolhos, pedras obtusas, são dispostas pelo ser amado que embora amada seja,
não o faz da mesma forma como de quem buscou conquistar-lhe o seu amor. Então para aquele se
apresenta uma adversidade a mais: ensinar a amada a amar.
Insensato engano, próprio de quem ainda não conhece uma medida segura da vida, já que se o
amor não se o encontrou, maduro, completo, não são as lições do amante que se o fará brotar e
desenvolver-se. O amor necessita ser natural, pois este é como as flores do campo, elas nascem e se
desenvolvem sem ações humanas externas, sem aditivos, uma vez que estes se constituem em
artificialismos, são de aparências tão somente, e fazem do amor forçado, ser este um corpo sem
alma, um sentimento que se puro não o for, ele não o é. Os esforços para que a amada apreenda a
amar, é como o tratamento dispensado para um mal que cura não tem. A ação do amante, mórbida,
não trará à vida aquilo que não nasceu do natural, assim bom final não terá, como boa vida
também.
Ah! O amor...
O amor deveria ser como as fontes que não são construídas pelo mortal, pois rasgando o solo,
do interior emergem e sobem à superfície, para ser ventre e fonte de vida, para saciar a sede, para
apagar labaredas. Vida que é tão fértil, quando regada pelo amor, pela água pura não contaminada
pelos vícios, pela perfídia que decorrem do puro interesse personalíssimo, do egoísmo, de quem é
amado sem corresponder, sem refletir o que lhe banha e satisfaz só a matéria, não respondendo com
essência simpática ao amante, viúvo, por isso, de um bem querer.
Assim se passam os tempos e o inverno da vida adota os pares que de material em formas bem
torneadas, envoltas em pele sedosa, agora só rugas, sulcos dos dias, meses, anos passados, marcas
acentuou, roubando e escondendo em eras vencidas os ímpetos da carne que não mais servem para
encurtar as distâncias que separam os mal amantes casais. Sim, mal amantes, já que bem amantes
são, quando entre estes há correspondência simpática. Mal amantes porque o amor só bem é,
quando o de um é reflexo do outro.
Quando se identifica o bom amor, o bem amor ou amor do bem? O bem amor nasceu,
desabrochou, quando este fez dos sujeitos pares não só companheiros. O só companheirismo não
basta para o puro amor: flagra-se nele a solidariedade, mais até, a cumplicidade, até mesmo o
fanatismo pelas idéias e ações do outro. Esse fanatismo, essa cumplicidade exterioriza-se pela
ausência do frio, do frio causado pelo inverno das idades, fanatismo que aquece a natureza e a
essência dos que se amam e identificam-se amantes: eu te amo, tu me amas, são versos do mais belo
poema da vida aos entes outorgada .
Ah! O amor...
Onde estavas que não foste encontrado ou apreendido? Diz aquele que chega ao inverno e pena
por sentir muito frio.
Obs. Este texto foi produzido com o título Solidão
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