Valor Econômico, 22/11/2011
Negócios de todos os portes devem integrar expansão
Por Roberto Rockmann | Para o Valor, de Brasília
O crescimento do mercado de trabalho foi pautado nos últimos anos pela criação de
empregos formais nas grandes empresas brasileiras, que têm crescido para ganhar
espaço no mercado nacional e internacional. Nesse contexto, o Brasil tem seguido um
modelo fordista formal de geração de emprego, em que a grande empresa tem papel
cada vez mais relevante que os pequenos negócios em um ambiente de mudanças
sociais.
A ascensão da nova classe média emergente incorporou mais de 50 milhões de novos
consumidores à economia nacional. Novos hábitos de consumo foram criados, novas
ambições surgiram, mas o sonho do brasileiro médio ainda é a carteira assinada. No
fórum sobre empreendedorismo, a palestra do economista Marcelo Neri, coordenador
do Centro de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas, foi um contraponto às
apresentações realizadas durante o evento. "Há o mito de que o brasileiro é
empreendedor. Os estudos indicam que o Brasil caminha para um modelo de fordismo
formal e não para um pautado pelas pequenas empresas, o que poderia ser melhor
porque cria mais oportunidades", afirmou. O principal motivo para abertura de
empresas no Brasil não é a oportunidade, mas a subsistência. Os Estados mais
empreendedores são Piauí e Maranhão, que têm a menor renda e geração de emprego
formal, enquanto o Distrito Federal tem a menor taxa de empreendedorismo e a maior
de criação de empregos com carteira, segundo Nery.
A insatisfação trabalhista é menor no caso dos funcionários públicos - 4,1% querem
mudar de ares -, mas é maior nos empregados sem carteira - 15,4%. A proporção de
microempresários entre os ocupados, que no Plano Real chegou a 18,3% da população
ocupada, caiu para 16,3% em 2010. Com base em estudo do Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (Ipea), Neri apontou que, entre 2003 e 2007, a expansão das
grandes empresas nacionais foi responsável pela elevação de 8,3% no número de
empregos formais.
Entre 1995 e 1999, numa situação inversa, o impacto das empresas de grande porte foi
determinante para a redução de 12,8% dos postos formais. "O Brasil ainda não é um
país de pequenos grandes empresários. Somos o país dos grandes empresários ao
quadrado", disse. Uma situação que poderá ser ampliada nessa década, porque os
dados ainda não refletem os investimentos futuros na exploração da camada de présal, a ser executada por grandes corporações, que terão necessidade de mais mão de
obra. Isso poderá aumentar o tamanho das empresas nacionais e a geração de
emprego formal. "O emprego de carteira assinada cresce, mesmo com a atual
legislação trabalhista. Se tivesse havido alguma reforma, poderia ser ainda maior",
frisou.
Se a grande empresa cresce para ter mais musculatura para a concorrência global de
seus produtos, Neri afirmou ser preciso buscar um equilíbrio, inserindo cada vez mais
pequenas empresas no movimento de expansão do país. "A criação do
Empreendedor Individual e a expansão do microcrédito são ferramentas
importantes porque a pobreza está no setor informal, nos desempregados e
nos sem carteira assinada, e isso ajuda esse pequeno empreendedor", diz.
Para o pesquisador, as pequenas empresas nunca foram objeto de reflexão profunda
pelo governo. Uma questão a ser trabalhada é a inovação, longe da agenda do
pequeno empreendedor, principalmente pela questão tributária - como essas
empresas optam pelo lucro presumido, ficam impedidas de obter vantagens tributárias
para investimentos na área.
Para o economista, a alta carga tributária e a burocracia tornam o ambiente menos
competitivo para as pequenas empresas, o que favorece as grandes. Em paralelo, o
cenário internacional está cada vez mais acirrado, pela crise internacional e a presença
da China. "Ter maior porte favorece a inserção da empresa no Brasil e no exterior.
Vemos que mesmo os novos negócios têm nascido maiores", afirmou. No total das
companhias, a participação de empresas com mais de 11 empregados pulou de 23,9%
em 1999 para 28,75% no ano passado em São Paulo. "O Estado é o exemplo do
fordismo formal, que aumenta o tamanho das empresas e amplia a geração de
emprego por carteira assinada."
Neri destaca que a recente ocupação da favela da Rocinha pela polícia do Rio de
Janeiro é um exemplo a ser analisado, já que pode se tornar um laboratório de
comprovação de dados. A pacificação da maior favela brasileira representa a abertura
da economia local, o que poderá colocar pequenas e grandes empresas lado a lado. "O
pequeno empreendedor que vende churrasquinho na esquina vai continuar ou vai
perder espaço para a loja que o McDonald´s pode abrir do lado? E pode ainda usar
essa loja como marketing? Para mim, o pequeno empreendedor pode ser engolido,
porque a população pode querer o sanduíche famoso a preço acessível", analisou.
Para o economista, a preferência pelas grandes empresas já é registrada entre os
consumidores da nova classe média. "Entre os hipermercados e as vendinhas,
preferem os grandes. Até o ar condicionado faz diferença". A principal preocupação
das empresas, sejam grandes ou pequenas, é como atingir esse público que aquece o
mercado consumidor. "O Brasil está de ponta cabeça", resume. A renda do paulista
cresceu 7% entre 2003 e 2010, enquanto a do nordestino aumentou 42%, seis vezes
mais. Os negros tiveram ganho de renda de 42%, enquanto a dos brancos subiu a
metade. No campo, o trabalhador ganhou 49% a mais, enquanto o morador da cidade,
21%. As mulheres tiveram um avanço de 38%, e os homens, de 21%.
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