MUNDO: MAIOR PRODUÇÃO E MENOR CONSUMO DE
GRÃOS LEVA À QUEDA NOS PREÇOS NO MERCADO
MUNDIAL
De acordo com o Departamento de Agricultura dos
Estados Unidos (USDA), a produção mundial por eles
denominadas como “Coarse Grains” (Soja, milho, sorgo
e o trigo), que são basicamente grãos que formam o
conjunto do que pode ser utilizado na alimentação
animal, na safra 2014/15, a produção está sendo de 1,29
bilhão de toneladas, quantidade acima dos 1,8 bilhão
de toneladas produzidas na temporada 2013/14.
Porém, com um consumo que recua para 1,27 bilhão
de toneladas nesta safra, menor que os 1,35 bilhão da
safra passada, os estoques finais destes grãos
aumentam para mais de 27 milhões de toneladas,
somente nessa última safra, concentrando em estoque,
229,9 milhões de toneladas.
O milho, que é destes, o principal grão utilizado
para a alimentação animal, deve atingir agora em
2014/15 uma produção de mais de 1 bilhão de
toneladas, maior que os 990,6 milhões obtidos na safra
passada. Para este grão, também, a oferta continua
folgada, haja vista que apesar da demanda mundial
aumentar de 953,1 em 2013/14 para 982 milhões de
toneladas em 2014/15, os estoques finais deste devem
ser de 193,9 milhões de toneladas, 11,45% acima dos
estoques finais de um ano atrás.
No caso da soja, a folga no abastecimento
também é visível. Com uma produção de 318 milhões
de toneladas em 2014/15, contra menos de 283 milhões
de toneladas em 2013/15, mesmo com um consumo
um pouco maior, está permitindo a formação de um
estoque final para esta temporada de 81,68 milhões de
toneladas, bem superior aos 61 milhões de toneladas
de um ano atrás.
Portanto, boa produção e consumo que não
aumentam tanto e que levam a aumento nos estoques
finais produzem declínio nos preços internacionais
destas commodities. Em Chicago, principal Bolsa
formadora de preços de soja e milho no mundo, a
oleaginosa é negociada hoje a US$ 272,65/t,
aproximadamente 10% inferior à cotação de um ano
atrás. Parecida é a situação do milho, negociado
atualmente naquela Bolsa a US$ 165,25/t, perto de 8%
abaixo do nível de um ano atrás.
Os fatores que levam à situação acima são bem
conhecidos para os que acompanham as notícias
acerca da economia mundial, sobretudo neste ano e
nos últimos meses. Duas delas devem ser destacadas.
Recentemente a Associação Internacional de
Automobilismo (FIA) cancelou a corrida de Fórmula 1
da Alemanha (GP da Alemanha), em Nurburgring. O
motivo foi a falta de patrocínio, decorrente da crise
econômica da zona do Euro. Outra notícia que se deve
estar atento refere-se à crise econômica na Grécia
(também na Zona do Euro) que coloca em evidência a
crise e a redução do crescimento econômico mundial
que, neste último caso, atinge também a Ásia, em
especial o Japão e a China.
Ou seja, vive-se atualmente um período de
crescimento da oferta de commodities sem o
correspondente aumento da demanda em decorrência
da crise econômica mundial. De acordo com o USDA,
que em maio lançou seu relatório de estimativa de
oferta e demanda de grãos para 2015/16, a situação de
boa oferta destes produtos deve continuar. Assim, ou
há problemas pontuais na produção de alguma
commodity, ou há um surto inesperado de crescimento
econômico (quase impossível dado o cenário atual),
caso contrário, os preços internacionais tentem a
permanecer como estão, ou até baixar de agora até o
final do ano, em todo o mundo.
Para os produtores brasileiros isto é uma
verdade inescrutável, pois não há como esperar do
Governo grandes intervenções no mercado. Assim, os
preços devem continuar no mercado interno abaixo
dos níveis de 2014. A única sorte dos produtores
brasileiros ainda foi o aumento do dólar, que aumentou
quase 40% desde junho do ano passado até o
presente. Se isto vai significar aumento de custos,
principalmente de adubos e pesticidas para 2015/16, ao
menos serviu para segurar um pouco o recuo nos
preços dos produtos agrícolas que vende.
Este ano de 2015, portanto, deve ser um ano de
preços menores, principalmente confirmadas as
previsões de novos aumentos na produção para
2015/16. Outro fator, entretanto, também leva a esta
constatação. No mercado interno, não há como
esconder as difíceis condições para uma demanda mais
efetiva derivada da crise da economia brasileira, vista
todos os dias nas manchetes de jornais, com notícias
de fechamento de fábricas, queda na atividade
industrial e demissões em massa. Em maio, de acordo
com o IBGE, o índice de desemprego atingiu os 8,81%
da PEA, menor nível dos últimos 10 anos para aquele
mês. Novamente agora em 2015, resta ao agricultor
“torcer pela desgraça dos americanos no
plantio/colheita de sua safra ainda neste ano e, depois,
torcer pela desgraça de agricultores ou na Argentina”
(competidora com o Brasil na oferta de grãos, carnes e
lácteos ao mercado mundial) ou mesmo no Brasil a
partir do início do plantio da safra 2015/16, em
setembro.
Os preços do milho no mercado interno, em
especial na Região Sul, apresentavam-se neste ano,
inferiores aos do ano passado até meados de julho,
como demonstra o quadro abaixo. Uma conjunção de
expectativa de safra maior e consumo que não
aumentava na mesma proporção constituíam-se nos
principais fatores para este comportamento.
Entretanto, no momento, três fatores passam a alterar
as cotações a partir do final de junho. Primeiro a
expectativa de o país exportar neste ano, algo em torno
de 27 milhões de toneladas, contra apenas 17 milhões
em 2014, somado ao aumento do dólar que dão
sustentação à exportação. Da mesma forma, no
mercado interno, o nível de alojamento e abate de
frangos está num ritmo acelerado para atender ao
mercado externo, o que aquece no momento a
demanda. Finalmente, a principal safra brasileira do
produto já é aquela oriunda da segunda safra (mais
propensa a problemas climáticos, pois plantada no
inverno) e ainda não foi colhida. Assim, problemas
climáticos ainda localizados (principalmente no Paraná)
trazem especulações e o aumento momentâneo nos
preços do produto.
PR
SC
RS
Fonte: Seab/Deral, Icepa/SC e Emater/RS. Elaboração: Deser.
A partir de agora, da conjunção destes três
fatores, se dará nova tendência. No curto prazo, a
tendência de alta deve ser arrefecida pela entrada no
mercado de novos volumes oriundos do restante da
colheita da segunda safra. Outro cenário será possível,
somente com a continuidade e ou intensificação de
problemas climáticos. Para o restante do ano, os preços
vão depender das exportações e do plantio da safra
2015/16. O USDA estima um aumento na produção
brasileira na próxima safra, mas também um aumento
das exportações para aquele período. Da mesma
forma, a expectativa é de que a carne exportada a partir
do Brasil, principalmente frango, atinja outros
mercados, o que puxaria os preços ainda mais neste
ano. Portanto, no momento há que negociar o que é
necessário para pagar as contas e pode valer a pena
segurar volumes adicionais para lucrar com futuros
aumentos.
As cotações das carnes (aves e suínos) na
Região Sul do Brasil em 2015 apresentam
comportamento diferenciados. Como se pode observar
no quadro abaixo, atualmente o produtor em Santa
Catarina recebe R$ 3,25/kg do suíno vivo raça,
praticamente o mesmo valor de um ano atrás. Já os
produtores de frango recebem R$ 2,10 kg, valor acima
do R$ 1,90/kg de um ano atrás.
No caso da carne suína, devem ser produzidas
no Brasil neste ano, 3,48 milhões de toneladas,
praticamente o mesmo volume obtido em 2014. As
exportações devem, de acordo com a Conab
(Companhia Nacional do Abastecimento), aumentar
para 515 mil toneladas, quase 3% superior ao vendido
ao exterior no ano passado. Com isto, a disponibilidade
interna do produto aumenta também quase 3%. Entre
janeiro e maio deste ano,
entretanto, as exportações de
carne suína foram de apenas 176
mil toneladas, abaixo das 190 mil
toneladas exportadas no ano
passado. Como em junho último,
os números foram praticamente
iguais ao exportado em junho de
2014, e dada a crise econômica,
os preços desta carne, neste ano,
não evoluíram significativamente
aos agricultores. Ao que indica o
mercado, uma recuperação nos
preços está atrelada a um melhor desempenho do
mercado externo, ainda incerto.
No caso da carne de frango, o cenário é um
pouco diferente. Embora a produção brasileira
aumente de 12,87 para 13,13 milhões de toneladas do
ano passado para este, as exportações aumentam
menos, ficando ao redor das mesmas 4 milhões de
toneladas vendidas ao mercado externo no ano
passado. Entretanto, nos últimos meses o volume de
alojamento e de abates de frango com vistas ao
mercado externo estão surpreendendo os próprios
exportadores. Segundo o IBGE, somente no primeiro
trimestre do ano, o volume total de pintainhos alojados
atingiu 1,3 bilhão de cabeças, 2,1% acima do número
alojado em igual período do ano passado. Com isso,
somente em junho, as exportações do produto
bateram as 395 mil toneladas, 30% acima do exportado
em junho de 2014. Se isto se confirmar, ou seja, o
aquecimento das exportações, a ABPA (Associação
Brasileira de Proteína Animal), em 2015 serão
exportados um volume 5% superior ao do ano
passado, passando das 4,3 milhões de toneladas.
A expectativa, portanto, é de que as
exportações continuam puxando os preços no
mercado interno. Entretanto, como a economia
brasileira encontra-se em níveis de atividade abaixo do
observado em 2014, os preços podem se manter
levemente melhores que os do ano passado. Outro
fator a segurar os preços do produto são os níveis das
cotações da carne bovina, que vem recuando nos
últimos meses no mercado interno.
Com isto, níveis de preços mais significativos
aos avicultores somente no final do ano, quando
aumenta a demanda pelo produto.
Suíno
Frango
Fonte: Icepa/SC.
Elaboração: Deser.
triticultor vender seu trigo a um preço muito superior
ao atual. A tendência é de queda livre a partir da
colheita.
Neste ano, a boa produção mundial e da
Argentina de trigo, fizeram os preços do produto até
iniciarem o ano/safra 2014/15 em elevação, mas a
confirmação dos volumes aguardados produziu o
recuo nos mesmos. Nesta safra, o mundo colheu 725
milhões de toneladas, contra 721 milhões em 2013/14
enquanto a Argentina, principal fornecedor de trigo ao
Brasil, deve colher 12,5 milhões de toneladas de trigo,
contra apenas 10,5 milhões na safra anterior. Com isto,
aquele país deverá exportar 5 milhões de toneladas em
2014/15 contra somente 2,25 milhões de toneladas em
2013/14.
No Brasil, a estagnação do consumo em 11,8
milhões de toneladas para uma safra que deve
aumentar para 6,5 milhões de toneladas, ajuda a trazer
o recuo nos preços. Atualmente, os agricultores no
Paraná já plantaram toda sua safra enquanto os
agricultores no Rio Grande do Sul e Santa Catarina
ainda estão plantando.
Entretanto, os preços da commodity já
começaram a recuar no mercado interno. No Paraná
atualmente os agricultores recebem R$ 33,80/sc contra
R$ 41,80/sc de um ano atrás e, no Rio Grande do Sul,
recebem apenas R$ 28,20/sc contra mais de R$ 31,30/sc
também de um ano atrás.
Com o mercado interno em compasso de
espera dada a estagnação da economia, aliado à
sempre famosa estratégia dos moinhos em importar
primeiro o trigo argentino para depois (salvo o trigo do
norte do Paraná) adquirir o trigo brasileiro, este ano
será novamente de penúria para quem aposta no trigo.
Safra cheia, trigo argentino em abundância e economia
não crescendo, são fatores que não deixarão o
Em 2015, os preços do leite vêm recuando mês
a mês. Atualmente, os produtores no Rio Grande do Sul
recebem uma média de R$ 0,84/litro de leite posto na
indústria, ante 0,94/litro de julho de 2014. Em Santa
Catarina, recebem atualmente menos de R $ 0,93/litro
contra mais de R$ 1,00/litro de um ano atrás. No Paraná
a situação se repete com os agricultores recebendo
somente R$ 0,91/litro contra R$ 1,05/litro de julho de
2014.
Na realidade, todos os fatores negativos
colaboram para este comportamento. Do lado da
oferta, em 2015 há a estimativa de crescimento de até
4% na produção nacional, enquanto do lado da
demanda a crise econômica tem trazido dificuldades
de obtenção de um consumo consistente com o
aumento da oferta. Além disto, entre janeiro e junho
deste ano o Brasil exportou somente 27 toneladas de
lácteos, contra 43 mil toneladas em igual período de
2014, numa queda de mais de 36%. Se isto não
bastasse, as importações em igual período
aumentaram 37%, com a entrada no Brasil de 66
toneladas de lácteos.
No curto prazo os preços podem até ter algum
fôlego em virtude da entrada do inverno, que reduz a
qualidade do pasto e traz problemas sazonais para a
oferta, mas alguma mudança mais significativa no
cenário de baixos preços neste ano em relação aos do
ano passado parece difícil de concretizar-se.
Download

mundo: maior produção e menor consumo de grãos leva à