Economycoffee: informatização dos cálculos de custos de produção visando à tomada de decisões na cafeicultura. Guilherme José Vicente Ferbek1, Cleziel Franzoni da Costa1,João Batista Meneguelli de Souza2, Wesley Rodrigues Coelho1, Paulicia Sabatini Vila2, Flávio Pavesi Simão1 1 Departamento de Informática, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo campus de Alegre, Espírito Santo, Brasil, [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] 2 Departamento de Cafeicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo campus de Alegre, Espírito Santo, Brasil, [email protected], [email protected] RESUMO Este trabalho apresenta uma solução computacional para informatizar cálculos de custo de produção para atividades com fins agropecuários, com destaque no setor cafeeiro, de forma a auxiliar técnicos e produtores a realizarem a gestão de propriedade. A solução computacional apresentada no trabalho foi desenvolvida com a justificativa que ainda há dificuldade em encontrarmos ferramentas que se encaixem especificamente a produtores considerados familiares, devido principalmente aos vários cálculos que requerem métodos e fórmulas de matemática financeira elaborados. Para este trabalho, utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. O trabalho trata de um software considerado um Sistema de Informação Gerencial, intitulado de Economycoffee. A solução levou em consideração eventos e entrevistas com produtores rurais e técnicos para o levantamento e refinação dos requisitos, permitindo que posteriormente fosse possível a criação de um sistema Web capaz de apresentar para seu usuário, em forma de relatórios, diversas estatísticas sobre sua propriedade, incluindo se ele está tendo lucro ou não com sua produção atual. PALAVRAS-CHAVE: Sistema de Informações Gerenciais, Gestão da Cafeicultura, Controle de custos, Desenvolvimento web, Economycoffee. ABSTRACT This work aims to present a computational solution to computerize cost of production calculations for activities with agricultural purposes, especially in the coffee sector in order to assist technicians and producers to undertake the property management. The computational solution presented in the study was developed on the grounds that there is still difficulty finding tools that specifically fit the producers considered family, mainly due to various calculations that require methods and elaborate financial math formulas. For this work, it was used as methodology the bibliographical research, documentary and field. The work is software considered a Management Information System, titled Economycoffee. The solution took into account events and interviews with farmers and technicians for lifting and refining the requirements, allowing subsequently be possible to create a Web system able to present to its user in the form of reports, various statistics about your property including whether it is making a profit or not with its current production. KEYWORDS: Management Information System, Management of the Coffee Industry, Cost Control, Web development, Economycoffee. INTRODUÇÃO Segundo Sacheto (2006), a agricultura familiar exerce papel fundamental na economia de uma parcela significativa das pequenas cidades brasileiras. Em muitos casos, é ela a responsável pelo bom desempenho dos negócios urbanos, pelo suprimento da demanda interna de alimentos e pela manutenção do homem no meio rural. A microrregião do Caparaó Capixaba, também conhecida como microrregião de Alegre, é constituída por nove municípios: Alegre, Bom Jesus do Norte, Divino de São Lourenço, Dores do Rio Preto, Guaçuí, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Iúna, Muniz Freire e São José do Calçado, com economia baseada na agricultura familiar (IBGE, 2006). Sendo uma das atividades mais exercidas e importantes não somente da microrregião de Alegre, como também de todo o estado do Espírito Santo (ABIC, 2013), a cafeicultura encontra no Caparaó o clima propício para a implantação de cafeeiro Arábico (DADALTO; BARBOSA, 1995) para as lavouras com pelo menos 500 metros de altitude. Ainda neste contexto, Ferreira et al. (2013) dizem que essa mesma região tem aptidão para abrigar produtores do cafeeiro Conilon, principalmente nos municípios de Alegre e Jerônimo Monteiro. Se por um lado a região é propensa à atividade cafeeira, por outro, ainda não almeja de recursos suficientes que tragam a cafeicultura ao seu devido patamar, não justificando à importância de sua existência. A assistência técnica ainda não possui ferramentas que possam acrescentar ao produtor de café a rentabilidade, planejamento, e controle de custos com eficiência. Além da falta de ferramentas para auxílio no controle de custos, o mercado consumidor de café tem se tornado cada vez mais exigente, principalmente por qualidade e preço baixo. Preço que Schneider (2006) afirma ser imposto pelo mercado e impacta no resultado tendendo cada vez mais a gestão dos custos e uso racional dos recursos. Portanto, passa ser primordial que o produtor conheça as margens brutas e a rentabilidade da produção, uma vez que o pequeno agricultor é refém dos grandes cafeicultores que em sua maioria, ditam o ritmo do mercado com alta produtividade e custos de produção em baixa escala. Visto a notável importância da Cafeicultura na região juntamente com a demanda de qualidade e preço, administrar a produção e implantação do cafeeiro torna-se cada vez mais necessário. Por outro lado, Lopes e Carvalho (1999) afirmam que administrar e controlar os custos de produção exige do produtor um grande número de cálculos e detalhes para que seja realizado um levantamento de custo de produção. Com a chegada da informática no meio rural, passa a ser facilitada a gestão do agronegócio. Segundo Schneider (2006), o agricultor pode agora fazer uso do computador, para realizar uma administração profissional de sua propriedade. Nesse sentido, a elaboração de um sistema computacional foi proposta para que produtores considerados familiares pudessem ter acesso a um sistema de gestão de custos de produção. A ideia principal do desenvolvimento do software baseia-se justamente na dificuldade da absorção, implementação de regras e cálculos necessários à gestão de atividades agrícolas, nesse caso o cadastro, controle e cálculos de custos de produção apontada também por (LOPES e CARVALHO, 1999). MATERIAL E MÉTODOS O trabalho iniciou-se com a pesquisa de campo a partir da demanda de automatização de cálculos de custos de produção pelos técnicos da Caparaó Jr., que prestam assistência técnica para cafeicultores da microrregião do Caparaó. A partir daí técnicos e agricultores foram entrevistados com o objetivo de extrair os requisitos do sistema e encontrar um denominador comum entre entrevistados e realizadores do trabalho. Logo, a pesquisa fora incrementada pela pesquisa bibliográfica e documental. Levantados os requisitos, o trabalho passou para a etapa de criação de documentos para análise dos requisitos do sistema. A tecnologia utilizada para a criação foi a UML (Unified Modeling Language). Para o modelo de dados conceitual, o mapeamento objeto-relacional foi a forma escolhida para a persistência dos dados. Entre os documentos utilizados neste trabalho estão o documento de visão, a diagramação de casos de uso, especificação de casos de uso e a modelagem de banco de dados. Foi utilizada a abordagem entidade-relacional (ER) onde um modelo conceitual é usualmente representado através de um diagrama chamado de diagrama entidaderelacionamento (DER). A linguagem de programação utilizada foi o PHP (Hypertext Preprocessor). Ela se mostrou a melhor opção no momento, pois em termos gerais (e se tratando de aplicações Web) tem um bom desempenho, é de fácil utilização, além de ter boa documentação. No desenvolvimento do sistema foram utilizadas ferramentas gratuitas, não sendo necessária a aquisição de licenças de uso de software. Para a criação da interface, foi utilizado o software NetBeans e o Notepad++. O MySQL foi empregado como solução da implementação do banco de dados e, como provedor do serviços para internet, foi configurado o servidor WEB Apache. Foi escolhida a plataforma web para que produtores, alunos, e técnicos pudessem usufruir do sistema utilizando a conexão com a internet e um navegador web, o que viabiliza a sua utilização podendo ser dispensável a utilização de um sistema operacional preestabelecido e demandado pelo software desenvolvido. RESULTADOS E DISCUSSÃO O modelo computacional aqui apresentado se mostrou-se na perspectiva da melhoria da qualidade da assistência técnica prestada por técnicos a agricultores familiares da região do Caparaó, no que tange a execução do processo de cálculos de custos de produção e auxílio à tomada de decisões baseadas em análises desses custos. Com o apoio da equipe técnica consultada, que também testou o sistema, foram gerados diversos documentos com a finalidade de refinar o que foi produzido. As figuras 1 e 2, mostram, respectivamente, a diagramação de casos de uso e o modelo relacional do banco de dados utilizados no processo de desenvolvimento do Economycoffee. Figura 1 – Diagramação de Casos de Uso. Fonte: (Elaborado pelo autor) Uma das necessidades apresentadas pelos atores do sistema foi a de calcular os custos de produção, bem como apresentar um diagnóstico mais preciso sobre a atividade. Baseado nisso, o sistema contou com um banco de dados que continha além das informações de custos, as informações do produtor, da lavoura, e de talhões específicos de cada lavoura. Com isso, o produtor consegue saber qual talhão que mais foi gasto, por exemplo. Figura 2 – Diagramação de Banco de Dados. Fonte: (Elaborado pelo autor) A partir da tela inicial o usuário poderá navegar por todo o sistema, bastando clicar no item desejado no menu superior. Para registrar as despesas, estando logado no sistema, o usuário deverá clicar no botão correspondente ao item que deseja registrar (Máquinas e implementos, por exemplo). A partir daí, surgirá a tela de cadastro das despesas com máquinas e implementos. (Figura 3). Figura 3 - Tela de Cadastro de Gastos com Máquinas e Implementos. Fonte: (Elaborado pelo autor) O além do cadastro de máquinas e implementos, o sistema possui alguns cadastros referentes à atividade produtiva, dentre eles estão: Cadastro dos produtores, cadastro das lavouras e talhões (com seus respectivos endereços). Também fazem parte do sistema os cadastros de produção e arrendamento que servem para que se contabilize os custos de oportunidade da terra. Além destes, o sistema conta com cadastros de insumos, que contribuem em forma de custos variáveis. O cadastro de mão-de-obra que faz com que o usuário possa informar todos os gastos com trabalhadores fixos e/ou temporários. O sistema possibilita que o usuário veja com detalhes os relatórios de custos fixos, atentando-o para as depreciações e custos operacionais das máquinas, implementos e benfeitorias um dos principais componentes dos custos fixos. O sistema exibe o Custo Fixo Total (CFT), que é o somatório dos vários tipos de custos fixos já cadastrados no sistema (depreciação, uso da terra, trabalho permanente, seguro, etc.). O Custo Fixo Médio (CFMe), também foi informado pelo sistema ao usuário, este por sua vez, possibilita saber o custo fixo por unidade produzida. No caso da cafeicultura, custo fixo total dividido pela quantidade de sacas produzidas. Uma vez alimentado com dados, o sistema pode então passar a realizar os cálculos de custo de produção, assim como dito por (SCHNEIDER, 2006). Através da integração com o banco de dados, é possível trazer relatórios ao usuário como as informações de custos fixos (figura 4). Figura 4 - Tela de Relatório de Custos Fixos. Fonte: (Elaborado pelo autor) Os custos variáveis (CV) referem-se aos recursos que são consumidos durante o ciclo de produção (NOGUEIRA, 2004). No sistema esses custos são exibidos de forma a possibilitar a visualização dos custos com insumos, e seu custo de oportunidade, o serviço de caráter temporário, o total das horas extras e impostos. Para que o administrador rural saiba o gasto variável por saca produzida é que o sistema permite o relatório de custo variável médio (CVMe). Os custos variáveis são os que mais oneram o custo final do café (REIS et al., 2001). Geralmente são custos com fertilizantes, defensivos, combustíveis, manutenção, mão-de-obra, serviços de máquinas e equipamentos, entre outros. O sistema permite ao usuário a visualização desses custos detalhando-os em tabela e infográficos (figura 5). Figura 5 – Tela de Relatório de Custos Variáveis. Fonte: (Elaborado pelo autor) Além dos relatórios de custos fixos e custos variáveis, Martin et al. (1994) afirma que é determinante que o empresário rural conheça as margens brutas e a rentabilidade da produção. Assim, após a inserção de informações da atividade produtiva, o sistema permite que o usuário confira os relatórios da produção. Dessa maneira, o sistema faz com que o empresário rural conheça o Custo Total (CT) da atividade produtiva, que é dado pela soma dos custos fixos com os custos variáveis e, por conseguinte, o custo total médio pode ser dado pela soma do custo variável médio com o custo fixo médio. O Custo Total Médio (CTMe) auxilia o empresário rural a saber o custo total por unidade produzida. Além disso, o sistema faz com que seja possível que o empresário rural saiba se a atividade está sendo sustentável ao longo prazo, uma vez que é transmitido ao usuário através do Custo Operacional (CO) e Custo Operacional Médio (COMe). Renda Bruta Total (RBT) é o sistema mais simples de se diagnosticar a viabilidade da empresa, apesar de ser uma informação pouco conclusiva. O valor da Renda Bruta Total é dado por RBT = Preço x Produção. Por sua vez, o sistema permite a visualização de um dos melhores indicadores de desempenho econômico de uma empresa que é o cálculo da Renda Líquida Total (RLT), no qual é dado por RLT = Renda Bruta Total – Custo Total. Por esse método é possível verificar a capacidade de remuneração da atividade em relação aos recursos de produção utilizados, os custos de oportunidade e, ainda, se há saldo operacional. O sistema mostra ainda, o Índice de Rentabilidade de acordo com Souza, (2011) é a relação entre a Renda Bruta Total (RBT) e o Custo Total (CT). Desde que o Custo Total englobe remuneração de todos os fatores empregados na produção, é óbvio que a empresa está em situação regular, se a divisão da RBT pelo CT for igual a um. A situação será boa se a divisão da RBT pelo CT for superior a um e, finalmente a situação será má se a divisão da RBT pelo CT for inferior a um. Para que o administrador rural tenha a informação de quanto a produção ou o preço podem oscilar para que se tenha prejuízo é que o sistema permite a visualização da Margem de Segurança da atividade produtiva. A tela do sistema que permite a visualização destas informações fundamentais para a tomada de decisão é destacada na figura 6. Figura 6 – Tela de Relatório do Resultado da Atividade Produtiva. Fonte: (Elaborado pelo autor) CONCLUSÕES Neste trabalho foi abordada solução informatizada para automatização de cálculos de custos de produção voltada para a cultura do café, na qual foram utilizadas tecnologias, recursos, e levantamento bibliográfico com a finalidade de solucionar o problema proposto. Ao longo do trabalho, após alguns testes, observou-se que a metodologia proposta para a implementação do software, foi capaz de promover automatização para os cálculos de custeio de produção com eficácia, uma vez que o sistema permitiu o cadastro de todos os elementos da atividade produtiva e, a partir daí gerou informações gerenciais para auxílio à tomada de decisões. Com a informatização dos cálculos foi possível realizar um diagnóstico preciso e, sobretudo, mais prático. Com isso, conclui-se que o Economycoffee atingiu seu objetivo, auxiliando técnicos e produtores nas atividades de cálculos e a tomarem decisões baseadas em informações gerenciais. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ - ABIC, 2013. Disponível em: http://www.abic.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=38 - Acesso em: 20 junho de 2013. DADALTO, G. G.; BARBOSA, C. 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