16 JORNAL DE BRASÍLIA Brasília, sexta-feira, 21 de agosto de 2015 Brasil. DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS Ministro do STF é a favor NELSON JR./SCO/STF Gilmar Mendes, relator do caso, não vê crime em consumo para uso próprio. Votação final é adiada O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes votou ontem pela descriminalização do porte de drogas para uso pessoal, mas ressaltou que isso não significa legalizar a prática. Após a exposição do ministro, o julgamento foi suspenso pelo ministro Luiz Edson Fachin, que pediu vista do processo para analisar com mais profundidade o caso. Não há data para que a discussão seja retomada pelo tribunal. Os ministros do STF discutem se é constitucional o artigo 28 da Lei Antidrogas que define como crime adquirir, guardar ou portar drogas para si. Atualmente, quem é flagrado com drogas para uso próprio está sujeito a penas que incluem advertência, prestação de serviços à comunidade ou medida educativa. O usuário acaba respondendo em liberdade, mas eventual condenação tira a condição de réu primário. SANÇÕES CIVIS Gilmar Mendes defendeu que o porte para uso pessoal esteja sujeito a sanções em caráter civil, e não mais penal, para quem for flagrado com drogas. Entre as medidas estariam prestação de serviço comunitário, advertência verbal e até aulas Ministro pede uma legislação específica sobre as implicações e perigos de utilizar entorpecentes. Segundo ele, ao criminalizar a conduta, "está-se a desrespeitar a decisão da pessoa de colocar em risco a própria saúde". "Não chego ao ponto de afirmar que exista um direito a se entorpecer irrestritamente", disse. "Ainda que o usuário adquira as drogas mediante contato com o traficante, não se pode imputar a ele os malefícios coletivos decorrentes da atividade ilícita. Esses efeitos estão muito afastados da conduta em si do usuário. A ligação é excessivamente remota para atribuir a ela efeitos criminais. Logo, esse resultado está fora do âmbito de imputação penal", disse o ministro. saiba mais » O ministro Gilmar Mendes apontou que a alternativa à proibição mais em voga na atualidade em discussão no mundo é a não criminalização do porte e uso de pequenas quantidades de drogas. Gilmar Mendes defende que usuários de drogas não sejam enquadrados em sanção penal O ministro Gilmar Mendes reconhece que é difícil distinguir usuário e traficante e defende uma legislação específica para isso. Enquanto não houver um novo marco, o ministro propõe que o suspeito de tráfico seja apresentado a um juiz para que ele analise se a pessoa deve ser enquadrada como usuária ou traficante. Hoje, essa decisão é da polícia. Mendes lançou mão de pesquisas que apontam que parte expressiva dos condenados por porte de drogas em algumas capitais do País portava pequenas quantidades, estavam sozinhos e tinham apenas policiais como testemunhas. A prisão passa a ser uma possibilidade quando o policial entender que a conduta se qualifica como tráfico, mas terá que haver uma apresentação imediata do preso ao juiz. Para o ministro, cabe a autoridade policial provar que se trata de tráfico. O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Rosa, defendeu a posição do ministro. Para ele, a proposta fortalece a atenção ao usuário de drogas, ao mesmo tempo em que não afasta o caráter nocivo do consumo. FRANCISCO NERO Saúde Fenaess encerra congresso hoje Dr. Daher: “É preciso planejar a medicina curativa e preventiva” Termina hoje, em Brasília, o IV Congresso Brasileiro da Federação Nacional dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde (Fenaess), que conta com a participação de grandes representantes do setor de saúde, profissionais, estudantes da área e usuários do sistema. Em debate, questões como a judicialidade da saúde, a saúde suplementar e responsabilidade civil profissional. A cada ano, o Congresso traz a oportunidade de oferecer aos parti- cipantes aprimoramentos na gesO presidente do Congresso, Dr. tão dos serviços, além de inovação, José Carlos Daher, ressaltou que a eficiência e empreendedosaúde é um direito de todos, rismo na área. prevista na ConstituiO evento é promovição, mas que ainda do pelo Sindicato Branecessita de uma ressiliense de Hospitais, truturação profunda palestras fazem Casas de Saúde e Clína qualidade do serparte do segundo e nicas (SBH) e pela Feviço hoje oferecido. último dia do deração Nacional dos “A saúde é um direiCongresso Estabelecimentos de Serto de todos e dever do Esviços de Saúde (Fenaess), e tado, mas o que se conhece é o ocorre no Hotel Royal Tulip – Brasí- clamor do povo pelo abandono nos lia Alvorada. corredores dos hospitais públicos. 5 Não que o dever do Estado significasse oferecer, de maneira física, cada remédio ou comprimido. Mas, sobretudo, deveria pensar, planejar e viabilizar a medicina curativa e preventiva com a carreira médica, que consolidasse a nobre profissão povoando as mais longínquas regiões do País”, afirmou. O Congresso Fenaess se encerra hoje com cinco palestras que vão abordar carga tributária, entrada do capital estrangeiro no setor de saúde e terceirização.