cebes centro brasileiro de estudos de saúde CARTA ABERTA AO TEMPORÃO Querido amigo e companheiro, É com orgulho que vemos você chegar ao cargo máximo de dirigente da saúde e, posso lhe afirmar, nos sentimos todos, a partir de agora, de alguma forma responsáveis pelo Ministério da Saúde. Desde a fundação do CEBES, em 1976, vimos construindo um projeto coletivo de democratização da saúde, renovado a cada nova conjuntura, mas sempre caracterizado por entender a saúde como direito de cidadania. Para isto, tivemos que escrever a Constituição em 1988, lutar pelo cumprimento das leis, realizar uma profunda e democrática reforma do Estado, descentralizando o poder para os níveis subnacionais, gerando modalidades de co-gestão com a sociedade organizada, aumentando a base técnica e produtiva do setor, fortalecendo a produção de conhecimentos e a formação de milhares de sanitaristas. Fomos vitoriosos em muitas frentes e, cada vitória, contraditoriamente nos colocava novos desafios e exigia que nossa criatividade se exercitasse na busca de novas soluções. O Projeto da Reforma Sanitária enfrenta hoje o imperativo de superar os obstáculos econômicos, financeiros, políticos, administrativos e culturais que impedem que seja assegurada a centralidade do usuário-cidadão no interior do setor saúde e que implantemos de uma vez um SUS pra valer, universal, humanizado e de qualidade. Esta tarefa requer o comprometimento de governo e sociedade civil na construção de novos enunciados estratégicos que conquistem a hegemonia para o projeto da Reforma Sanitária e alcancem mobilizar a população, os usuários, os profissionais, os parlamentares, os intelectuais e os gestores na renovação deste consenso que nos une na luta pela transformação da democracia formal alcançada em uma democracia que se realiza em toda sua plenitude. Para isso é preciso atuar, simultaneamente, na mobilização da sociedade e na transformação da agenda governamental de forma a alcançar a centralidade que a saúde requer. Por estas razões desfraldamos a bandeira da refundação do CEBES, buscando enfrentar os impasses atuais e mobilizar desde as capacidades técnicas mais especializadas até as energias da juventude, na discussão dos rumos da Reforma Sanitária. Será necessário romper os tabus e falar sobre temas proibidos (como defendendo a descriminalização do aborto e do uso de algumas drogas e a proibição da propaganda de bebidas alcoólicas), enfrentar interesses consolidados e cobrar responsabilidades das autoridades, denunciar falsas teorias que justificam o baixo investimento social, desmontar estruturas que permitam práticas políticas e profissionais que atentam contra o direito universal à saúde. São tarefas gigantescas, mas sempre fomos utópicos e ousados e soubemos analisar a conjuntura e traçar estratégias que permitam incidir a favor de nosso ideal Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Av. Brasil, 4036 – sala 802 - Manguinhos – Rio de Janeiro/RJ – CEP 21040-361 - Tel: 021-3882-9140/9141 - Fax: 021-2260-3782 E-mail: [email protected] cebes centro brasileiro de estudos de saúde democrático e civilizatório. Consideramos que a coincidência da refundação do CEBES e sua posse como Ministro da Saúde nos permitem divisar cenários otimistas nesta empreitada que temos pela frente. Além de você ser parte deste projeto coletivo, falando em seu discurso de posse a linguagem que conhecemos e acreditamos, sua trajetória profissional em todos estes anos o qualifica como o melhor perfil que poderíamos desejar e oferecer à sociedade brasileira. A sua escolha sinaliza a intenção do Presidente Lula de dar prioridade à área social, indo, neste segundo mandato, além das importantes medidas de combate à pobreza consolidadas no mandato anterior, em direção à efetivação de serviços universais de qualidade que garantam o exercício dos direitos sociais. É necessário aproveitar esta conjuntura para recolocar a saúde na agenda governamental, assegurando sua importância como setor de produção econômica, de geração de empregos, de conhecimento e de tecnologias, de prestação de serviços essenciais à vida e de promoção cultural de estilos de vida e de sociabilidade. Também vemos como positiva a perspectiva que se abre para o desenho de políticas sociais integradas a partir da lógica do território e da população que o habita, ao invés das lógicas setoriais que competem e se neutralizam. Para além da intersetorialidade das políticas é preciso resgatar o desenho constitucional da Seguridade Social, que além da integração das políticas, trata de assegurar direitos sociais, uma estrutura institucional e recursos que construam um verdadeiro orçamento social. Para resgatar este princípio que assegura uma gestão democrática da Seguridade Social e do seu orçamento será necessário enfrentar as resistências que a ela se opõem e caminhar para a extinção progressiva da DRU, medida que retira bilhões de recursos da área social. É imprescindível superar os limites impostos por uma política financeira restritiva que contingencia recursos orçamentários essenciais ao setor saúde e não se empenha na regulamentação da Emenda Constitucional nº. 29. Só com um orçamento que reflita a realidade e com a regulamentação da EC 29 poderemos ter as bases mínimas de estabilidade financeira para o setor. Mas, se é preciso ter mais recursos e também necessário saber gastar melhor. Isto implica em ter um Plano Nacional de Saúde, que assegure organicidade aos recursos destinados a saúde pelos parlamentares e que, com a necessária transparência, permita à sociedade conhecer, acompanhar e impedir práticas desviantes e delitos que seguem presentes ainda hoje. A debilidade do aparelho estatal para enfrentar todos os desafios que se colocam para a gestão pública é enorme e temos que operar simultaneamente na sua radical transformação para torná-lo mais transparente e eficiente como para fortalecê-lo, depois de décadas de desmontagem da sua capacidade operacional. É necessário também ousar no desenho de novos modelos de gestão das unidades de serviços de saúde, assim como fomos ousados ao criar um novo modelo de gestão do sistema que permitiu a construção de um federalismo pactuado. Este movimento não deve ser visto como uma autonomização e desconstrução do SUS, mas como uma verdadeira inserção das unidades dentro do sistema. Só com maior eficácia e eficiência, seremos capazes de transformar a realidade dos usuários e dos profissionais destas unidades, humanizando o cuidado e cuidando melhor de quem cuida. Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Av. Brasil, 4036 – sala 802 - Manguinhos – Rio de Janeiro/RJ – CEP 21040-361 - Tel: 021-3882-9140/9141 - Fax: 021-2260-3782 E-mail: [email protected] cebes centro brasileiro de estudos de saúde Todas estas imensas responsabilidades pesarão sobre seus ombros a partir de agora. No entanto, você sabe que não está sozinho nesta empreitada. Somos milhares de militantes do movimento sanitário e milhões de cidadãos brasileiros que queremos que a política de saúde dê certo. Conte conosco, pois estaremos sempre juntos na defesa da Reforma Sanitária e da democracia. Sonia Fleury Presidente do CEBES Filie-se ao CEBES e participe ativamente do projeto coletivo de construção da Reforma Sanitária. Estudante R$50,00 Profissional R$100,00 Institucional R$150,00 E-mail: [email protected] Tel: (21) 3882-9140 / fax 2260-3782 Centro Brasileiro de Estudos de Saúde Av. Brasil, 4036 – sala 802 - Manguinhos – Rio de Janeiro/RJ – CEP 21040-361 - Tel: 021-3882-9140/9141 - Fax: 021-2260-3782 E-mail: [email protected]