2 Reflectometria óptica Uma das técnicas utilizadas para caracterização em enlaces e dispositivos de fibras ópticas é a técnica chamada reflectometria óptica. Ela tem uma natureza não destrutiva por analisar o sinal que retorna quando um sinal de prova é inserido no dispositivo sob teste. Dentre os tipos de reflectometria óptica conhecidos, o mais utilizado é a reflectometria óptica no domínio do tempo (OTDR). Esta técnica consiste em lançar numa fibra (ou dispositivo a fibra) um sinal de pulso curto e observar o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA sinal espalhado que retorna na mesma fibra. Se houver algum defeito, acarretando perdas no sistema, o sinal espalhado também carrega essa informação. Através de cálculos usando como base o tempo de propagação da luz, é possível investigar a posição exata do defeito. Este tipo de reflectometria é utilizado para testar sistemas ópticos de longa distância, exatamente porque a análise é feita pelo tempo de atraso entre o sinal espalhado e o sinal de prova [4]. Outras técnicas de reflectometria, como a reflectometria óptica de baixa coerência (OLCR) ou a reflectometria óptica no domínio da freqüência (OFDR), utilizam detecção coerente, apresentando características diferentes da técnica OTDR. A técnica de OLCR [4] é feita utilizando uma fonte de baixa coerência. O sinal é lançado num interferômetro de Michelson, é dividido e segue para o braço de teste e o braço de referência. Franjas de interferência só serão observadas se a diferença dos comprimentos das fibras nos dois braços do interferômetro for igual ou menor que o comprimento de coerência da fonte. A medida é feita, então, colocando o dispositivo a ser medido em um braço e variando o comprimento de fibra do outro braço. Cada reflexão no braço de teste gera um pico de coerência com largura proporcional ao comprimento de coerência da fonte. A técnica de OFDR [21-26] utiliza banda estreita e consiste da observação do batimento produzido entre a interferência entre uma reflexão de referência e o Reflectometria óptica 20 sinal refletido do dispositivo a ser testado. Como o sinal retro-espalhado do dispositivo a fibra percorreu um caminho diferente do oscilador local, a freqüência de batimento entre estes dois sinais é proporcional à distância percorrida pelo sinal na fibra, se o tempo para percorrer este caminho for menor que o tempo de coerência do laser. A técnica utilizada para as medidas efetuadas neste trabalho foi OFDR. Portanto nas próximas seções serão apresentados mais detalhes sobre o desenvolvimento e montagem desta técnica. 2.1. Reflectometria óptica no domínio da freqüência Diferentemente da técnica OTDR, esta é uma técnica de baixa resolução e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA de dinâmica larga, por isso, utilizada para caracterização de pequenos enlaces ou dispositivos ópticos com alguns metros de comprimento de fibra. O processo de detecção é coerente, portanto apresenta uma melhor sensibilidade e resolução, comparado com sistema de detecção direta [1], e também reflectométrico o que quer dizer que o sinal analisado é proveniente de uma reflexão, aqui mencionada de retro-espalhamento do dispositivo a fibra a ser caracterizado. Para uma primeira análise, observemos a Figura 1. Como num sistema coerente, o conceito de oscilador local também é utilizado nesta técnica. A idéia é misturar o sinal de interesse com um sinal de referência de forma que a informação desejada, contida na fase do sinal seja facilmente extraída. A técnica baseia-se na detecção e análise do sinal de batimento entre os dois sinais provenientes de reflexão nos braços do interferômetro, sendo um dos braços um sinal de referência e o outro um dispositivo a fibra. O sinal retro-espalhado vindo de diversos pontos do dispositivo interfere com o sinal de referência, e após uma análise de Fourier, devido à forma de modulação, tem-se a informação de distância de cada ponto de espalhamento da fibra, reconstruindo assim um mapa do comportamento do sinal ao longo da fibra. Seja, então, um sinal cuja freqüência óptica é corretamente modulada. Se este sinal entra na porta 1, a porta 3 gera o sinal de reflexão de referência, a partir deste ponto, chamado de oscilador local (OL). Em 2 ocorre a mistura entre os sinais retro-espalhados de 3 e 4. A informação desejada, que é uma análise do Reflectometria óptica 21 dispositivo conectado em 4, está contida neste sinal de batimento. Uma análise mais detalhada deve ser feita para um melhor entendimento do processo. 1 3 2 4 fb τ Figura 1: Ilustração do princípio de funcionamento do OFDR A princípio será considerado um único ponto de reflexão, x para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA exemplificar o funcionamento do sistema. Este ponto gera uma única componente de freqüência óptica, F = (2 nx c ) dω dt , onde c é a velocidade da luz no vácuo e n é o índice de refração da fibra. Esta componente de freqüência F é observada no detector, e é a freqüência que marca a posição x da fibra. Sua amplitude é proporcional a fatores de atenuação e de espalhamento em cada ponto xn e da fibra [20]. Portanto, se ω varia linearmente com t, e uma análise de Fourier for feita a partir do sinal no detector que volta por retro-espalhamento ao longo de toda a fibra, tem-se uma reconstituição do sinal retro-espalhado de todos os pontos x da fibra. Fazendo portanto uma variação linear da freqüência óptica do sinal, e desprezando não linearidades [21], temos: ω (t ) = ω 0 + βt (2.1) o campo elétrico do sinal que entra em 1 tem a seguinte forma: E (t ) = Ee j (ω ( t )t +φ (t )) (2.2) Analisando a reflexão em x=L, o tempo de trânsito do sinal refletido deste ponto é: τ= 2nL c (2.3) Então os sinais que chegam em 2 provenientes do braço 3, ou oscilador local (OL), e do braço 4, aqui chamado de R, são: Reflectometria óptica 22 ELO (t ) = ELO e(ω ( t )t +φ ( t )) (2.4) E R (t ) = E R e (ω ( t )(t −τ ) +φ (t )) (2.5) A intensidade de luz depois do batimento entre esses dois sinais é então: [ ] I (t ) = 2 Re ELO (t ) ⋅ ER* (t − τ ) ⋅ (2.6) Então, a partir de (2.6) e utilizando (2.4) e (2.5), podemos aproximar [21]: τ β I (t ) = 2 ELO ER cos ω0τ + τ 2 + βτt exp − 2 tc (2.7) onde, 2τ tc = [φ (t ) − φ (t − τ ] 2 (2.8) sendo tc o tempo de coerência do laser. A transformada de Fourier deste sinal PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA pode ser aproximada para [21]: sen(2π ( f − f b )τ ) 2 2 P( f ) = E LO E R e − 2π∆fτ [cos(2φ0 ) + 1]⋅ δ ( f ) − π ( f − fb ) ∆f 2 2 1 + E LO E R π ( f − f b ) 2 + ∆f 2 (2.9) ( f − fb ) ⋅ 1 − e − 2π∆fτ cos(2π ( f − f b )τ ) − sen(2π ( f − f b )τ ) ∆f onde ∆f = 1π t , e: ⋅ c fb = β τ 2π (2.10) Portanto, para cada τ, ou seja, para cada ponto x na fibra, haverá uma freqüência de batimento fbx correspondente ao ponto x. O espectro formado a partir da transformada de Fourier do sinal de batimento mostrará o comportamento do sinal retro-espalhado dentro da fibra, ou seja, o comportamento do sinal dentro da fibra aparecerá no espectro, sendo o eixo de freqüências correspondente ao comprimento ao longo da fibra, e a amplitude do espectro proporcional aos coeficientes de reflexão e atenuação da fibra. Este sinal pode ser analisado como um sinal proveniente de OTDR. A resolução espectral do sistema é uma característica importante a ser analisada, pois avalia a qualidade da técnica reflectométrica. Esta resolução depende da linearidade da modulação da freqüência óptica, bem como da Reflectometria óptica 23 freqüência óptica do laser devido a esta modulação, ∆ν . O limite teórico para esta resolução espacial, para um limite ideal em que a largura de linha do laser é zero, é dado por [21, 22]: ∆l min = c 2n∆ν (2.11) Dependendo do período da função triangular, uma varredura de freqüência maior ou menor pode ser utilizada para adquirir dados, modificando a resolução da medida, portanto, a partir do comprimento do dispositivo a fibra a ser medido, fibras maiores requerem uma menor varredura de freqüência, esta escolha deve ser feita para que todos os batimentos necessários apresentem uma freqüência menor que o limite máximo do analisador de espectro FFT, neste caso, 100 kHz. Uma das maiores limitações da resolução espacial é a não linearidade da freqüência óptica, que pode ocorrer devido a não linearidade do sinal triangular ou PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA ainda devido a resposta térmica do laser. Se esta não linearidade ocorre, a equação (2.1) é modificada para [22]: ω (t ) = ω 0 + βt + γτ 2 (2.12) acarretando em: 2πf b = ( β − γτ )τ + 2γτ ⋅ t (2.13) o que significa que a freqüência de batimento varia linearmente ao longo da varredura, deixando de ser constante. Com isso, o pico de intensidade no espectro de freqüência decai devido a não linearidades na varredura. Para tentar diminuir este tipo de problema a escolha do laser e do gerador de funções utilizado é de vital importância para um melhor desempenho do sistema, bem como uma apropriada escolha de parâmetros de medida, como a escolha da região usada pelo analisador de espectro FFT para realizar a medida, que deve ser a mais linear possível, evitando as áreas em que o sinal triangular apresenta não linearidades (picos do sinal triangular). Porém, mesmo tentando otimizar ao máximo os parâmetros, não linearidades vão sempre ocorrer, sendo necessário o uso de um fator de correção calculado para cada sistema, levando em conta a atenuação devido a largura de linha do laser e a não-linearidades do sistema. Outra característica importante que deve ser observada para o laser utilizado no sistema OFDR é que ele deve ter o menor ruído de fase possível, considerando que este ruído limita o máximo alcance e a sensibilidade do sistema. Para isso Reflectometria óptica 24 laser com linhas extremamente finas devem ser usados, por exemplo, sinais retroespalhados de 50 km puderam ser medidos usando um laser em anel sintonizado por temperatura de Nd:YAG [27]. Porém, medidas de longo alcance são difíceis de se obter tendo em vista que lasers semicondutores atualmente apresentam em média larguras de linha na ordem de centenas de kHz. O alcance pode ser aumentado também utilizando uma cavidade externa [23], pois ela estreita a largura de linha do laser. Pode-se dizer que o alcance máximo do sistema deve ser menor que o comprimento de coerência do laser. Para exemplificar, supondo um laser com largura de linha de 100 kHz, o comprimento de coerência é da ordem de 1 km, limitando assim o alcance máximo do sistema. Porém, mesmo se a varredura de freqüências não apresentasse distorções, a intensidade refletida diminuiria exponencialmente, até se misturar com o ruído de fundo (noise floor), o que limita PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA a distância que pode ser medida [22]. Não só o sinal refletido diminui, mas o ruído aumenta com a distância ao OL. Portanto, para uma medida ser bem sucedida, o ruído deve ser reduzido ao máximo, para que ocorra uma diferença entre a intensidade refletida no final da porta de teste e o ruído. Todos esse fatores irão determinar o alcance máximo que a técnica de OFDR pode medir. O ruído de fundo do sistema é uma outra medida que caracteriza o sistema, os principais fatores que contribuem para o aumento do ruído de fundo, ou seja, para a diminuição da sensibilidade da medida são as fontes extras de ruído, como, flutuações na intensidade do laser (ruído de intensidade), e ruído no detector. Pode-se dizer que o ruído de fundo é proporcional a largura de banda da medida [22]. Tentar encontrar o mínimo ruído de fundo possível, ou seja a máxima sensibilidade no sistema é de grande importância para se conseguir medir diferentes dispositivos, como emendas e imperfeições no dispositivo a fibra a ser testado. Porém, comparado com sistemas de detecção direta, como OTDR, este sistema tem uma sensibilidade bem maior por se tratar de um sistema de detecção coerente, como já foi mencionado. Reflectometria óptica 25 2.2. OFDR para medidas em amplificadores a fibra dopada No próximo capítulo, serão exploradas mais detalhadamente as características de amplificadores a fibra dopada, porém, é importante salientar, que, com o uso destes amplificadores, os sistemas de comunicação óptica sofreram um grande avanço. Por isso, é de grande importância o estudo e a caracterização destes dispositivos. Uma das principais características do amplificador é ter a fibra dopada cortada no comprimento ótimo para as potências de bombeio e de sinal utilizadas. A caracterização destas fibras é por método de cutback, ou seja, cortando pedacinho por pedacinho da fibra para ir desenhando a curva de ganho versus comprimento da fibra, ou ainda simulação computacional. A maioria dos fabricantes de fibras dopadas a érbio tem softwares que simulam PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA esta curva de ganho distribuído para suas fibras, facilitando o processo de fabricação do amplificador. Métodos de caracterização não destrutivos seriam um atrativo para facilitar o estudo deste dispositivo tão importante para os sistemas de comunicação óptica. O uso do OTDR para longos enlaces de fibras ópticas é bastante freqüente para caracterização e detecção de defeitos, porém para a caracterização de fibras dopadas ele não é viável, seria necessário o uso de filtros para os sinais de emissão espontânea amplificada (ASE) gerados no processo de amplificação, a ser abordado no próximo capítulo. A técnica de OFDR mostra vantagem para caracterização em fibras dopadas. Primeiramente por ter um baixo alcance e caracterizar dispositivos curtos a fibra, da ordem de dezenas de metros, enquanto que o OTDR é mais eficiente em caracterização de quilômetros de fibra. E principalmente por utilizar detecção coerente, o que filtra naturalmente o sinal gerado por ASE [25]. Seguindo uma análise semelhante à seção anterior, cada pondo x da fibra dopada tem sua correspondente freqüência de batimento. Porém, para a fibra dopada, os coeficientes de absorção, de atenuação e também de ganho em cada ponto, dependendo do bombeamento da fibra no momento de caracterização, são diferentes. Por exemplo, para uma fibra dopada com érbio, o sinal é absorvido se a fibra não for bombeada, a medida que o bombeio aumenta, a atenuação diminui até que ocorre ganho. Reflectometria óptica 26 Portanto, o sinal resultante contém a cada ponto a informação de ganho ou atenuação em cada ponto da fibra. Ou seja, a curva mostrada na análise de Fourier equivale ao sinal que atravessa a fibra até um certo ponto x e retorna, a amplitude desse sinal corresponde a duas vezes (ida e volta) o sinal real. O ganho distribuído é dado pela diferença entre o valor do ganho para este sinal refletido em cada ponto x e o valor do sinal refletido em x=0 para a fibra sem bombeio, dividido por dois para compensar o duplo trajeto do sinal, ou seja [26]: G( z) = 1 2 [I ( z ) − I ( z 0) + η ⋅ ( z − z 0)] (2.14) onde η é o fator de correção devido a finita largura de linha do laser e a possíveis não linearidades na varredura de freqüência óptica do laser, I (z 0) é o valor da intensidade do sinal no início da fibra dopada, e ambas as reflectividades estão em dB. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0016243/CA Medidas de ganho distribuído de amplificadores a fibra dopada com érbio já foram feitas com esta técnica, inclusive análise de dispositivos pertencentes ao amplificador óptico, como isoladores e emendas [21, 24-26]. Nos próximos capítulos serão mostradas características das fibras dopadas utilizadas neste trabalho, bem como caracterização através de medidas de ganho distribuído de diferentes fibras dopadas com diferentes esquemas de bombeamento e saturação utilizando o OFDR.