Curso de Gestão Integrada do Patrimônio Cultural dos Terreiros Tombados Roteiro para elaboração de Plano de Preservação de Terreiros Tombados: uma proposta Maria Paula F. Adinolfi Bacharel em História e Mestre em Antropologia Social pela USP, Doutoranda em Antropologia pela Vrije Universiteit Técnica em Ciências Sociais – Iphan BA 1. Missão Trata do objeto da ação de preservação, em seu sentido mais amplo. É a razão de sua existência, uma declaração de compromisso em sentido amplo e duradouro. 2. Objetivo Geral É o propósito principal do que se quer realizar, do que se quer atingir com o Plano de preservação. 3. Diretrizes Diretrizes são princípios orientadores da ação de preservação, que traçam em linhas amplas, gerais, os objetivos específicos a serem atingidos. 4. Justificativa Na justificativa se demonstra a importância de realizar a ação, seja evidenciando o valor que o objeto da ação (Terreiro) possui e para quem existe o valor, seja mostrando as fragilidades e problemas que o objeto possui, através de um breve histórico, comprovando a necessidade da ação de preservação. 5. Marcos Legais É preciso identificar os marcos legais que respaldam juridicamente o Plano de Preservação, ou seja, que dão um caráter legal ao Plano e indicam a obrigação que o Estado tem em cumpri-lo. Toda a legislação, nos três níveis (federal, estadual e municipal), deve ser levantada. Além das leis, a jurisprudência existente também pode ser importante para avançar os entendimentos jurídicos numa direção que ainda não foi regulamentada. (ex. incidência do tombamento sobre a prescrição das formas de uso de imóveis) Identificação dos bens a serem acautelados Este item parece meramente descritivo, mas ele é muito importante porque através desta descrição o grupo demonstra o quê considera importante preservar. E não apenas os bens em si (locais, construções, objetos, bens naturais, celebrações, saberes, formas de expressão), mas os valores atribuídos a eles e o lugar que ocupam dentro de um sistema semiótico precisam ser destacados. O valor nunca é intrínseco a um “bem”, ele sempre é atribuído. Quem atribui o valor? Para quem interessa a preservação? Por que se atribui este valor? Qual o percurso, na história da comunidade, de atribuição de valor a determinados elementos (e não a outros)? A boa aplicação dos instrumentos de preservação só é possível a partir de uma clara definição sobre o que se quer preservar, o que importa preservar. O que transforma um objeto/prática/local em bem cultural? Autenticidade Singularidade Referência identitária Outros? Um sítio sempre possui áreas “densas’” e áreas “fracas” em significação. Não só é preciso mostrar o que possui valor, mas também assinalar quais elementos do conjunto estão destituídos de valor cultural significativo, e que podem, portanto, ser transformados sem maior prejuízo ao total do sítio e ao significado que possui. O inventário de identificação dos bens pode ter subitens, para efeitos didáticos. No entanto, não é necessário seguir as classificações/tipologias já consagradas dentro da política de patrimônio. Os terreiros podem e devem desafiar as tipologias atualmente existentes, especialmente no que tange à inseparabilidade dos aspectos materiais e imateriais. 7. Estado de conservação dos bens Uma vez identificados, é preciso avaliar o estado de conservação/ integridade/vitalidade dos bens culturais. É este diagnóstico que servirá de orientação para estabelecer as metas do Plano de Preservação. 8. Histórico de ações de preservação Arrolamento de todas as ações de preservação já efetuadas no sítio, seja pelo Estado, discriminando os diferentes órgãos públicos responsáveis, seja pelo próprio terreiro. As ações de salvaguarda do patrimônio imaterial, em sua concepção mais ampla, também devem ser identificadas. Deve-se tentar estabelecer uma cronologia das ações, o mais precisa possível. Como muitos dos terreiros são seculares, por vezes será difícil ter as datas precisas, mas é importante usar os marcos temporais peculiares aos terreiros, como “antes da obrigação de 21 anos da Iyakekerê…”, ou “dois anos depois da morte de Tata…”, ou ainda, “assim que Mãe… tomou cargo”. Todos os esforços, formais e informais, feitos para manter os valores e a memória da comunidade devem ser elencados. Sempre que se souber, é pertinente computar o montante de recursos investido na preservação do sítio. Em suma, este item deve mostrar, preferencialmente montando um quadro, Que ação foi feita Quem realizou Quando Quanto foi gasto Algumas ações de conservação são rotineiras, bastanto neste caso indicar sua periodicidade e época de ocorrência, por exemplo, a pintura da casa de Omolu todo ano, antes de sua festa, em agosto. 9. Instituições envolvidas na implementação do Plano de preservação Aqui devem ser arroladas as governabilidades, ou seja, os responsáveis pela implementação das ações, tanto pela execução direta, como pelo apoio. Quanto melhor definidos os papéis de cada um no plano, mais chances ele tem de ser bem sucedido. Neste item, deve-se apenas listar todos os parceiros envolvidos. Nas estratégias, as atribuições serão pontualmente definidas. Para elaborar este item, é interessante fazer um levantamento amplo sobre as políticas públicas para terreiros hoje, na Bahia, no Brasil e nas esferas municipais. Quais órgãos fazem o quê? Quais são os programas governamentais existentes nos quais se encaixam projetos e ações para terreiros? Aqui também devem ser levantadas as três esferas de ação do Executivo, assim como os outros poderes (Legislativo, Judiciário e MP). Os parceiros da sociedade civil também devem ser aqui arrolados: ONGs, OSCIPs, Associações, movimentos sociais e outros coletivos. 10. Metas e estratégias de implementação As metas são objetivos específicos, pontuais, muitas vezes de curto ou médio prazo. Tem começo e fim definido, ou tem contornos bem determinados, incidem sobre algo em particular. Não são amplas como as diretrizes. Ainda assim, a meta diz o quê precisa ser atingido, mas não como, ou por quem, ou quando precisa ser feito. Para isto, as metas precisam ser detalhadas através de estratégias de implementação. A meta deve assinalar ainda o nível de prioridade de sua implementação, no âmbito do Plano. Pensando a execução do Plano em uma temporalidade média (10 anos), devem ser estabelecidas as metas com atenção à prioridade, que deve ser definida em termos de: Quais ações são pré-requisito para a realização de outras? Quais têm caráter urgente, em virtude da ameaça de exrtinção/morte/arruinamento/desaparecimento Quais têm caráter urgente, em virtude de ameaça à integridade física da comunidade Estratégias de implementação As estratégias de implementação são as “unidades primárias” de um Plano de preservação. Elas estabelecem: Que ação será feita? Quem realizará a ação? Com quais apoios? Que recursos (financeiros/humanos/materiais) são necessários? Como serão obtidos? Como se realizará (métodos) Quando/em quanto tempo será realizada? Cada meta poderá ter uma ou mais estratégias de implementação. Cada meta, com a(s) respectiva(s) estratégia(s) de implementação, pode constituir um projeto específico, de realização independente.