Apostila do módulo Diálogo Inter-religioso
ISLÃ
INTRODUÇÃO
O Islã (do árabe: ‫ اإلسالم‬al- islām) é uma religião monoteísta que surgiu na
Península Arábica no século VII, baseada nos ensinamentos religiosos do profeta
Muhammad (Maomé) e numa escritura sagrada, o Alcorão. A religião é conhecida ainda
por islã. Islã provem do árabe, que por sua vez deriva da quarta forma verbal da raiz
slm, aslama, e significa "submissão (a Deus)".
Cerca de duzentos anos após o seu nascimento na Arábia, o Islã já se tinha
difundido em todo o Médio Oriente, no Norte de África e na Península Ibérica, bem
como na direcção da antiga Pérsia e Índia. Mais tarde, o Islã atingiu a Anatólia, os
Balcãs e a África subsariana. Recentes movimentos migratórios de populações
muçulmanas no sentido da Europa e do continente Americano levaram ao aparecimento
de comunidades muçulmanas nestes territórios.
A religião muçulmana tem crescido nos últimos anos (atualmente é a segunda
maior do mundo) e está presente em todos os continentes Hoje, a cultura islâmica ocupa
21% da superfície do planeta, aproximadamente. Porém, a maior parte de seguidores do
islã encontra-se nos países árabes do Oriente Médio e do norte da África.
A mensagem do Islã caracteriza-se pela sua simplicidade: para atingir a salvação
basta acreditar num único Deus, rezar cinco vezes por dia, submeter-se ao jejum anual
no mês do Ramadã, pagar dádivas rituais e efetuar, se possível, uma peregrinação à
cidade de Meca.
O Islã é visto pelos seus aderentes como um modo de vida que inclui instruções
que se relacionam com todos os aspectos da atividade humana, sejam eles políticos,
sociais, financeiros, legais, militares ou interpessoais. A distinção ocidental entre o
espiritual e temporal é, em teoria, alheia ao Islã.
O Islã que é descrito em árabe como um "Din", o que significa "modo de vida"
e/ou "religião" e possui uma relação etimológica com outras palavras árabes como
Salaam ou Shalam, que significam "paz".
Muçulmano, por sua vez, deriva da palavra árabe muslim (plural, muslimún),
particípio ativo do verbo asmala, designando aquele que se submete.
Em textos mais antigos, os muçulmanos eram conhecidos como "maometanos",
este termo tem vindo a cair em desuso porque implica, incorrectamente, que os
muçulmanos adoram Muhammad (como, durante alguns séculos, por completo
desconhecimento, o Ocidente pensou), o que torna o termo ofensivo para muitos
muçulmanos. Durante a Idade Média e, por extensão, nas lendas e narrativas populares
cristãs, os muçulmanos eram também designados como Sarracenos e também por
Mouros (embora este último termo designasse mais concretamente os muçulmanos
naturais do Magrebe que se encontravam na Península Ibérica).
Islã com maiúscula refere-se ao conjunto dos países que seguem esta religião (a
jurisprudência islâmica utiliza neste caso a expressão Dar-al-Islã, "a Casa do Islã").
ORIGEM E HISTÓRIA
Muhammad, fundador do islã, nasceu em Meca (na tribo árabe coraixita), no
atual Reino da Arábia Saudita, em 570 da era cristã, portanto meio milênio depois de
Cristo. Trabalhou como mercador e pregou a existência de um só Deus, Allah,
Onisciente e Onipotente.
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Livro sagrado do islã, o Corão (que significa recitação) é revelado a Muhammad
pelo arcanjo e redigido ao longo de cerca de 20 anos de sua pregação. É fixado entre
644 e 656 sob o califado de Uthman ibn Affan. São 6.226 versos em 114 suras
(capítulos).
Traz o mistério do Deus-Uno e a história de suas revelações de Adão a
Muhammad, passando por Abraão, Moisés e Jesus, e também as prescrições culturais,
sociais, jurídicas, estéticas e morais que dirigem a vida individual e social dos
muçulmanos.
A esposa de Abraão, Sara, tinha uma escrava chamada Asgar, a qual serviu
Abraão e teve um filho chamado Ismael. Entretanto, Ismael, primogênito de Abraão, só
é considerado como primeiro filho para os muçulmanos. Enquanto que para os judeus é
considerado como primeiro o filho de Abraão com Sara, Isaac.
A palavra Muhammad é uma corruptela hispânica de Muhammad, nome próprio
derivado do verbo hâmada e que significa "Aquele que Louva (Louva a DEUS)".
Segundo a tradição, aos 40 anos recebe a missão de pregar as revelações trazidas de
Deus pelo arcanjo Gabriel.
Muitas pessoas tem esse nome, uma delas é o famoso paxá do Egito:
Muhammad Ali. Amir significa príncipe árabe ou governador, é um título dado a um
homem descendente de Muhammad.
Seu monoteísmo choca-se com as crenças tradicionais das tribos semitas e, em
622, Muhammad é obrigado a fugir para Iatribe, atual Medina, onde as tribos árabes
vivem em permanente tensão entre si e com os judeus.
Muhammad estabelece a paz entre as tribos árabes com as comunidades judaicas
e começa uma luta contra Meca pelo controle das rotas comerciais. Conquista Meca em
630. Morre dois anos depois (632), deixando uma comunidade espiritualmente unida e
politicamente organizada em torno aos preceitos do Corão.
Os estudos na linha da História Política permitem identificar as complexas
relações que existem entre a religião e o fenômeno político.
Por esta perspectiva, percebe-se que, com relação ao Islã, o sistema religioso
tornou-se uma dimensão da política, na medida em que o espaço privilegiado para a
vivência da fé e para a concretização das promessas de Allah aos seus fiéis é o Estado
Islâmico juridicamente constituído e reconhecido enquanto tal.
Além disso, a Shariah (a jurisprudência) nasceu a partir dos textos sagrados e
regulamenta as relações políticas, sociais e religiosas do Estado com a Umma (a
comunidade muçulmana).
No Islã, o poder político e a estrutura social são benefícios de Deus, graças
concedidas para a felicidade de todos os homens. Assim, o propósito dos muçulmanos
não é tanto o de debater sobre a essência de Deus, mas, sobretudo, o de interpretar a
vontade divina e de conhecer e observar as leis que são religiosas e políticas ao mesmo
tempo.
Os governantes devem ser capazes de concentrarem em si as atribuições de
chefe de Estado e de Iman (aquele que conduz os fiéis nas orações).
Por isso, o melhor sistema de poder para o Islã, de acordo com o Corão e a
Sunna, é o califado, que foi determinado após a morte do Profeta Muhammad, e que
constitui o modelo eterno de uma forma perfeita de Estado que Deus desejou que
atuasse no tempo histórico.
A deturpação do califado, na perspectiva dos pensadores muçulmanos do século
XIX, como Rashîd Ghannîsh, da Tunísia, surgiu do desejo de se adotar a modernidade
ocidental, a ponto dos Estados, de maioria muçulmana, se apropriarem do princípio da
separação dos poderes temporal e espiritual, o que contribuiu para o divórcio entre
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religião e política e para o enfraquecimento do poder do governante, distanciando-o da
comunidade de fé e aproximando-o dos Kafir (aquele que encobre ou faz questão de
ocultar a verdade).
Tal fato teve como conseqüência o abandono da observância da Shariah, o que
fez com que diversos Estados deixassem de ser reconhecidos como Islâmicos,
provocando a restrição do espaço para a vivência da fé, pautado e orientado pelo Corão
e pela Sunna.
Para se reconquistar o bem perdido tornou-se necessário percorrer o salaf (o
caminho dos antigos), porque foi no passado, ou melhor, no auge do sistema do
califado, durante a Idade Média, que os muçulmanos souberam, na perspectiva das
correntes islâmicas dos séculos XIX e XX, praticar corretamente os ensinamentos de
Allah.
Este movimento de relembrar as virtudes dos antepassados de fé transformou o
Islã, no século XIX, em um princípio mobilizador da defesa da identidade dos povos
não europeus islãizados e também uma alternativa política e social antiimperialista que
atraiu populações não muçulmanas na África e na Ásia.
Como foi comprovado no surgimento de várias revoluções islâmicas onde o
percentual de participação de aliados não convertidos foi bastante significativo, como a
Mahdia no Sudão (1881-1898), por exemplo.
Vida do profeta Muhammad
Muhammad (Maomé) nasceu na cidade de Meca no
ano de 570. Filho de uma família de comerciantes passou
parte da juventude viajando com os pais e conhecendo
diferentes culturas e religiões. Aos 40 anos de idade, de
acordo com a tradição, recebeu a visita do anjo Gabriel que
lhe transmitiu a existência de um único Deus. A partir deste
momento, começa sua fase de pregação da doutrina
monoteísta, porém encontra grande resistência e oposição.
As tribos árabes seguiam até então uma religião politeísta,
com a existência de vários deuses tribais.
Muhammad começou a ser perseguido e teve que emigrar para a cidade de
Medina no ano de 622. Este acontecimento é conhecido como Hégira e marca o início
do calendário muçulmano.
Em Medina, Muhammad é bem acolhido e reconhecido como líder religioso.
Consegue unificar e estabelecer a paz entre as tribos árabes e implanta a religião
monoteísta. Ao retornar para Meca, consegue implantar a religião muçulmana que passa
a ser aceita e começa a se expandir pela península Arábica. Reconhecido como líder
religioso e profeta, faleceu no ano de 632. Porém, a religião continuou crescendo após
sua morte.
O nome Muhammad em caligrafia árabe
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OS LIVROS SAGRADOS
Os muçulmanos acreditam que Deus usou profetas para revelar escrituras aos
homens. A revelação dada (a Moisés) foi a Taura (Torá), a David foram dados os
Salmos e a Jesus, o Evangelho. Deus foi revelando a sua mensagem em escrituras cada
vez mais abrangentes que culminaram com o Alcorão, o derradeiro livro revelado a
Muhammad.
O Alcorão ou Corão é um livro sagrado que reúne as revelações que o profeta
Muhammad recebeu do anjo Gabriel. Este livro é dividido em 114 capítulos (suras).
Entre tantos ensinamentos contidos, destacam-se: onipotência de Deus (Allah),
importância de praticar a bondade, generosidade e justiça no relacionamento social. O
Alcorão também registra tradições religiosas, passagens do Antigo Testamento judaico
e cristão.Os muçulmanos acreditam na vida após a morte e no Juízo Final, com a
ressurreição de todos os mortos.
A outra fonte religiosa dos muçulmanos é a Suna que reúne os dizeres e feitos do
profeta Muhammad. A Suna é a segunda fonte doutrinal do islã. É um compêndio de
leis e preceitos baseados nos ahadith (ditos e feitos), conjunto de textos com as
tradições relativas às palavras e exemplos do Profeta.
O Alcorão
Os ensinamentos de Allah (a palavra árabe para Deus)
estão contidos no Alcorão (Qur'an, "recitação"). Os muçulmanos
acreditam que Muhammad recebeu estes ensinamentos de Allah
por intermédio do anjo Gabriel (Jibreel) através de revelações que
ocorreram entre 610 e 632. Muhammad recitou estas revelações
aos seus companheiros, muitos dos quais se diz terem memorizado
e escrito no material que tinham à disposição (omoplatas de
camelo, folhas de palmeira, pedras...).
As revelações a Muhammad foram mais tarde reunidas em
forma de livro. Considera-se que a estruturação do Alcorão como
livro ocorreu entre 650 e 656 durante o califado de Otman.
O Alcorão está estruturado em 114 capítulos chamados suras. Cada sura está por
sua vez subdividida em versículos chamados ayat. Os capítulos possuem tamanho
desigual (o menor possui apenas 3 versículos e os mais longo 286 versículos) e a sua
disposição não reflete a ordem da revelação. Considera-se que 92 capítulos foram
revelados em Meca e 22 em Medina. As suras são identificadas por um nome, que é em
geral uma palavra distintiva surgida no começo do capítulo (A Vaca, A Abelha, O
Figo...).
Uma vez que os muçulmanos acreditam que Muhammad foi o último de uma
longa linha de profetas, eles tomam a sua mensagem como um depósito sagrado, e
tomam muito cuidado assegurando que a mensagem tenha sido recolhida e transmitida
de uma maneira a não trair esse legado. Esta é a principal razão pela qual as traduções
do Alcorão para as línguas vernáculas são desencorajadas, preferindo-se ler e recitar o
Alcorão em árabe. Muitos muçulmanos memorizam uma porção do Alcorão na sua
língua original; aqueles que memorizaram o Alcorão por inteiro são conhecidos como
hafiz (literalmente "guardião").
A mensagem principal do Alcorão é a da existência de um único Deus, que deve
ser adorado. Contém também exortações éticas e morais, histórias relacionadas com os
profetas anteriores a Muhammad (que foram rejeitados pelos povos aos quais foram
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enviados), avisos sobre a chegada do Dia do Juízo Final, bem como regras relacionadas
com aspectos da vida diária como o casamento e o divórcio.
Além do Alcorão, as crenças e práticas do Islã baseiam-se na literatura Hadith,
que para os muçulmanos clarifica e explica os ensinamentos do profeta.
RITUAIS E SÍMBOLOS
A lua crescente é uma promessa de devoção para Allah.
Islã A lua crescente e a estrela juntas já era um símbolo de
adoração em Bizâncio. Com a conquista destas terras pelos
Turcos, ele tornou-se uma representação para a cultura
Islâmica. Frequentemente retratada nas mesquitas e dargas, ele
é usado em bandeiras nacionais em muitos países Islâmicos.
O Islã é, categoricamente, contra o uso de qualquer
símbolo para adoração ou veneração. De qualquer modo, com
a passagem do tempo, com a inabilidade do homem comum
entender a sua elevada metafísica, algumas figuras foram se
tornando sagradas no Islã.
A caligrafia do Corão é em si mesma freqüentemente utilizada como evocação
devocional. A pintura da pedra de Kaaba, em Meca, é outro símbolo sagrado. A lua
crescente, com uma estrela, é um símbolo popular usado por sobre as mesquitas. Mas
nenhum destes símbolos é utilizado o honrado em qualquer cerimônia associada no Islã.
Este símbolo da Lua crescente com uma estrela, juntas, esteve originalmente associado
com a adoração da Lua em Bizâncio. Quando os Turcos Otomanos conquistaram aquele
império, eles usaram este símbolo como sinal de vitória. Mais tarde, ele tornou-se um
símbolo da cultura Islâmica, aparecendo em bandeiras dos estados Islâmicos. A Lua,
pacífica e fresca, é a representação da direção e consolo dada pelo Islã
Os cinco pilares do Islã
Os cinco pilares do Islã são cinco deveres básicos de cada muçulmano:
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A recitação e aceitação do credo (Chahada ou Shahada); Todo muçulmano deve
prestar o testemunho (chahada), ou seja, professar publicamente que Allah é o
único Deus e Muhammad é seu profeta.
Orar cinco vezes ao longo do dia (Salat ou Salah); Fazer a oração ritual (salat)
cinco vezes ao dia (ao nascer do Sol, ao meio-dia, no meio da tarde, ao pôr-dosol e à noite), voltado para Meca e prostrado com a fronte por terra.
Pagar dádivas rituais (Zakat ou Zakah); Fazer a oração ritual (salat) cinco vezes
ao dia (ao nascer do Sol, ao meio-dia, no meio da tarde, ao pôr-do-sol e à noite),
voltado para Meca e prostrado com a fronte por terra.
Observar o jejum no Ramadã (Saum ou Siyam) Jejuar do nascer ao pôr-do-sol,
durante o nono mês do calendário muçulmano Ramadãm.
Fazer a peregrinação a Meca (Hajj ou Haj) Fazer uma peregrinação (hadj) à
Meca ao menos uma vez na vida, seja pessoalmente, se tiver recursos, ou por
meio de procurador, se não tiver.
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A profissão de fé (Chahada)
A profissão de fé consiste numa frase - que deve ser dita com a máxima
sinceridade - através da qual cada muçulmano atesta que "não há outro deus senão Allah
e Muhammad é seu servo e mensageiro"; os muçulmanos xiitas têm por costume
acrescentar "e Ali ibn Abi Talib é amigo de Deus". Esta frase também é dita quando se
chama à oração (adhan). De acordo com a maioria das escolas islâmicas, para se
converter ao Islã é necessário proclamar três vezes a chahada perante duas testemunhas.
A oração (Sallat)
A palavra sallat deriva de sillat que significa "ligarar". Assim, o segundo pilar
consiste fazer contato com Deus através da prática da oração, que deve ser efetuada
cinco vezes por dia em períodos concretos. Esses períodos não correspondem a horas,
mas a etapas do curso do Sol.
A primeira oração deve ser realizada antes do sol nascer (fajr), a segunda ao
meio-dia (zuhr), a terceira no momento médio entre o meio-dia e o pôr-do-sol (asr), a
quarta ao pôr-do-sol (maghrib) e a última entre o pôr-do-sol e a meia-noite (isha).
A oração pode ser efectuada individual ou colectivamente em qualquer local,
desde que este esteja asseado. O crente deve também ter o seu corpo e as suas roupas
limpas. A oração é precedida de abluções, wudu, que consistem em lavar as mãos, os
antebraços, a boca, as narinas, a face, em passar água pelas orelhas, pela nuca, pelo
cabelo e pelos pés. Se um muçulmano se encontrar numa área sem água ou numa área
onde o uso da água não é aconselhável (porque poderia causar uma doença), pode
substituir as abluções pelo uso simbólico de areia ou terra (tayammum).
A oração abre-se com a orientação do crente na direcção de Meca (qibla).
A contribuição de purificação (Zakat)
O Islã estabelece que cada muçulmano deve pagar anualmente uma certa quantia
(85 grs. de ouro), calculada a partir dos seus rendimentos, que será distribuída pelos
pobres ou por outros beneficiários definidos pelo Alcorão (prisioneiros, viajantes,
endividados...). Esta contribuição é encarada como uma forma de purificação e de culto.
A quantia corresponde a 2,5% do valor dos bens em dinheiro, ouro e prata, mas o valor
pode variar se se tratar, por exemplo, de produtos agrícolas (neste caso a contribuição
pode chegar a 10% da colheita agrícola).
Quem tiver possibilidades pode ainda contribuir, de forma voluntária, com
outras doações (sadaqa), mas é importante que o faça em segredo e sem ser movido
pela vaidade. O anúncio destas doações somente poderá ser feito se isto contribuir para
que outras pessoas sejam motivadas a fazer o mesmo (caso de personalidades e pessoas
proeminentes da sociedade), e este ato deve ser sincero, mesmo que em público.
O jejum no Mês do Ramadã (Saum)
Durante o Ramadã (o nono mês do calendário islâmico) cada muçulmano adulto
deve abster-se de alimento, de bebida, de fumar e de ter relações sexuais desde o nascer
até ao pôr-do-sol. Os doentes, os idosos, os viajantes, as grávidas ou as mulheres
lactantes estão dispensados do jejum. Em compensação estas pessoas devem alimentar
um pobre por cada dia que faltaram ao jejum ou então realizá-lo noutra altura do ano. O
jejum é interpretado como uma forma de purificação, de aprendizagem do auto-controlo
e de desenvolvimento da empatia por aqueles que passam fome ou outras necessidades.
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O mês de Ramadã termina com o festival de Eid ul-Fitr, durante o qual os muçulmanos
agradecem a Deus a força que lhes foi concedida para levar a cabo o jejum. As casas são
decoradas e é hábito visitar os familiares. Este festival serve também para o perdão e a
reconciliação entre pessoas desavindas.
A peregrinação (Hajj)
Este pilar consiste na peregrinação a Meca, obrigatória pelo menos uma vez na
vida para todos os que gozem de saúde e disponham de meios financeiros. Ocorre
durante o décimo segundo mês do calendário islâmico.
Os muçulmanos vestem-se com um traje especial todo branco, antes de chegar a
Meca, para que todos estejam igualmente vestidos e não haja distinção de classes.
Durante toda a peregrinação não se preocupam com o seu aspecto físico. Depois
de praticarem sete voltas em torno da Kaaba, os peregrinos correm entre as duas colinas
de Safa e Marwa. Na última parte do Hajj os muçulmanos devem passar uma tarde na
planície de Arafat, onde Muhammad disse o seu "Último Sermão". Os rituais chegam ao
fim com o sacrifício de carneiros e bodes.
Alguns grupos Kharijitas existentes na Idade Média consideravam a jihad como
o "sexto pilar do Islã". Actualmente alguns grupos do Xiismo Ismailita entendem "A
fidelidade ao Imam" (Um imame ou imã (em árabe ‫امام‬, "superior" ou "presidente") é o
pregador na oração islâmica e também designação para os principais líderes religiosos
do Islã que sucederam ao profeta Muhammad.) como sexto pilar do Islã.
Jihad, às vezes referida como Jahad, Jehad, Jihaad, Jiaad, Djihad, ou Cihad,
(Língua árabe: ‫ جھاد‬gihād) é um conceito essencial da religião islâmica cuja tradução
literal é exercer esforço máximo. Pode também ser entendida como uma luta, mediante
vontade pessoal, de se buscar e conquistar a fé perfeita. Ao contrário do que muitos
pensam, jihad não significa "Guerra Santa", nome dado pelos Europeus às lutas
religiosas na Idade Média (por exemplo: Cruzadas). Aquele que segue a Jihad é
conhecido como Mujahid.
A explicação quanto as duas formas de Jihad não está presente no Alcorão, mas
sim nos ditos do Profeta Muhammad: Uma, a "Jihad Maior", é descrita como uma luta
do indivíduo consigo mesmo, pelo domínio da alma; e a outra: a "Jihad Menor", é
descrita como um esforço que os muçulmanos fazem para levar a mensagem do Islã aos
que não tem ciência da mesma (ou seja, daqueles que não se submetem a Deus e à paz).
Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas Jihad. A
Jihad só pode ser travada para defender o Islã. No entanto, alguns grupos acham que
isto tem aplicação não apenas à defesa física dos muçulmanos, mas também à
reclamação de terra que em tempos pertenceu a muçulmanos ou a protecção do Islã
contra aquilo que eles vêem como influências que "corrompem" a vida muçulmana. A
ideia da Jihad como uma guerra violenta é uma idéia criada por Ocidentais. De acordo
com as formas comuns do Islã, se uma pessoa morre em Jihad, ela é enviada
directamente para o paraíso, sem quaisquer punições pelos seus pecados.
De acordo com o sociólogo sírio-alemão especialista no Islã, ele próprio um
muçulmano sunita, Bassam Tibi, o fenómeno do fundamentalismo islâmico é uma
forma de oportunismo político de alguns grupos, que se aproveitam da noção de Jihad,
desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em proveito próprio.
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Crenças
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O Islã ensina seis crenças principais:
A crença em Allah, único Deus existente;
A crença nos Anjos, seres criados por Allah;
A crença nos Livros Sagrados, entre os quais se encontram a Torá, os Salmos e o
Evangelho. O Alcorão é o derradeiro e completo livro sagrado, constituindo a
colectânea dos ensinamentos revelados por Allah ao profeta Muhammad;
A crença em vários profetas enviados à Humanidade, dos quais Muhammad é o
último;
A crença no dia do Julgamento Final, no qual as acções de cada pessoa serão
avaliadas;
A crença na predestinação: Allah tudo sabe e possui o poder de decidir sobre o
que acontece a cada pessoa.
Allah, em árabe – Deus, ou "a divindade", em abstrato
Allah é o Deus único e Muhammad é o seu profeta maior e último. O islã se
propagou numa época em que a Arábia Saudita era politeísta, cultivava mais de 360
deuses, e os próprios cristãos se arrebatavam com discussões sobre a Santíssima
Trindade.
A pedra basilar da fé islâmica é a crença estrita no monoteísmo. Deus é
considerado único e sem igual. Cada capítulo do Alcorão (excepto um capítulo) começa
com "Em nome de Deus, o beneficente, o misericordioso". Uma das passagens do
Alcorão frequentemente usadas para ilustrar os atributos de Deus é a que se encontra no
capítulo (sura: 59)
"Ele é Deus e não há outro deus senão Ele, Que conhece o invisível e o visível.
Ele é o Clemente, o Misericordioso!
Ele é Deus e não há outro deus senão ele. Ele é o Soberano, o Santo, a Paz, o
Fiel, o Vigilante, o Poderoso, o Forte, o Grande! Que Deus seja louvado acima dos que
os homens Lhe associam!
Ele é Deus, o Criador, o Inovador, o Formador! Para ele os epítetos mais
belos" (59, 22-24).
Os Profetas
O Islã ensina que Deus revelou a sua vontade à humanidade através de profetas.
Existem dois tipos de profeta: os que receberam de Deus a missão de dar a conhecer aos
homens a vontade divina (anbiya; singular: nabi) e os que para além desta função lhes
foi entregue uma escritura revelada (rusul; singular: rasul, "mensageiro")
Cada profeta foi encarregado de relembrar a uma comunidade a existência ou a
unicidade de Deus, esquecida pelos homens. Para os muçulmanos a lista dos profetas
inclui Adão, Abraão (Ibrahim), Moisés (Musa), Jesus (Isa) e Muhammad, todos eles
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pertencentes a uma sucessão de homens guiados por Deus. Muhammad é visto como o
'Último Mensageiro', trazendo a mensagem final de Deus a toda a humanidade sob a
forma do Alcorão, sendo por isso designado como o "Selo dos Profetas". Quando
Muhammad “fundou” o islã, ele não achou que estava fundando uma religião, mas sim
levando a velha fé no Deus único para os árabes, que nunca tiveram um profeta.
Estes indivíduos eram humanos mortais comuns; o Islã exige que o crente aceite
todos os profetas, não fazendo distinção entre eles. No Alcorão é feita menção a vinte e
cinco profetas específicos. Os muçulmanos acreditam que Muhammad foi um homem
leal, como todos os profetas, e que os profetas são incapazes de ações erradas (ou
mesmo testemunhar ações erradas sem falar contra elas), por vontade de Allah.
Profetas do Islã no Alcorão
Adão
Nuh
Hud
‫نوح ادريس‬
‫ھود‬
Adão Enoque Noé
Éber
‫آدم‬
Shoaib
Idris
Musa
Saleh Ibrahim
Lut
Ismail
Ishaq
Yaqub
Yusuf
Ayub
‫أيوب يوسف يعقوب اسحاق اسماعيل لوط ابراھيم صالح‬
Harun Dhul-Kifl
Selá
Abraão
Ló
Ismael
Isaac
Jacó
José
Daud
Sulayman
Ilyas
Al-Yasa
Yunus Zakariya Yahya
Jó
Isa
‫عيسى يحيى زكريا يونس اليسع إلياس سليمان داود ذو الكفل ھارون موسى شعيب‬
Jetro
Moisés Aarão Ezequiel David Salomão Elias
Eliseu
João
Jonas Zacarias
Batista
‫محمد‬
Jesus Muhammad
O dia do Julgamento Final
Segundo as crenças islâmicas, o dia do Julgamento Final (Yaum al-Qiyamah) é o
momento em que cada ser humano será ressuscitado e julgado na presença de Deus
pelas ações que praticou. Os seres humanos livres de pecado serão enviados diretamente
para o Paraíso, enquanto que os pecadores devem permanecer algum tempo no Inferno
antes de poderem também entrar no Paraíso. As únicas pessoas que permanecerão para
sempre no Inferno são os hipócritas religiosos, isto é, aqueles que se diziam
muçulmanos mas de fato nunca o foram.
Segunda a mesma crença, a chegada do Julgamento Final será antecedida por
vários sinais, como o nascimento do sol no poente, o som de uma trombeta e o
aparecimento de uma besta. De acordo com o Alcorão o mundo não acabará
verdadeiramente, mas sofrerá antes uma alteração profunda.
A predestinação
Os muçulmanos acreditam no qadar, uma palavra geralmente traduzida como
predestinação, mas cujo sentido mais preciso é "medir" ou "decidir quantidade ou
qualidade". Uma vez que para o Islã Deus foi o criador de tudo, incluindo dos seres
humanos, e sendo uma das suas características a onisciência, ele já sabia quando
procedeu à criação as características de cada elemento da sua obra teria. Assim sendo,
cada coisa que acontece a uma pessoa foi determinada por Deus. Esta crença não
implica a rejeição do livre arbítrio, pois o ser humano foi criado por Deus com a
faculdade da razão, pelo que pode escolher entre praticar acções positivas ou negativas.
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Muhammad
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Autoridade religiosa
Não há uma autoridade oficial que decide se uma pessoa é aceite ou excluída da
comunidade de crentes. O Islã é aberto a todos, independentemente de raça, idade,
género, ou crenças prévias. É suficiente acreditar na doutrina central do Islã, ato
formalizado pela recitação da chahada, o enunciado de crença do Islã, sem o qual uma
pessoa não pode ser considerada um muçulmano.
Embora não exista no Islã uma estrutura clerical semelhante à existente nas
denominações cristãs, existe contudo um grupo de pessoas reconhecidas pelo seu
conhecimento da religião e da lei islâmica, denominadas ulemás. Os homens que se
destacam pelo seu grande conhecimento da lei islâmica podem receber o título de mufti,
sendo responsáveis pela emissão de pareceres sobre determinada questão da lei
islâmica; em teoria estes pareceres (fatwas) só devem ser seguidos pela pessoa que os
solicitou.
Lei islâmica (Charia)
A lei islâmica chama-se charia. O Alcorão é a mais importante fonte da
jurisprudência islâmica, sendo a segunda a Suna ou exemplos do profeta. A Suna é
conhecida graças aos hadiths, que são narrações acerca da vida do profeta ou o que ele
aprovava, que chegaram até nós graças a uma cadeia de transmissão oral a partir dos
Companheiros de Muhammad. A terceira fonte de jurisprudência é o itijihad
("raciocínio individual"), à qual se recorre quando não há resposta clara no Alcorão ou
na Suna sobre um dado tema. Neste caso o jurista pode raciocionar por analogia (qiyas)
para encontrar a solução.
A quarta e última fonte de jurisprudência é consenso da comunidade (ijma).
Algumas práticas chamadas Charia têm também algumas raizes nos costumes locais
(Al-urf).
A jurisprudência islâmica chama-se fiqh e está dividida em duas partes: o estudo
das fontes e metodologia (usul al-fiqh, raízes da lei) e as regras práticas (furu' al-fiqh,
ramos da lei).
É permitida a poligamia com até cinco esposas legítimas e o divórcio.
CALENDÁRIO E PRINCIPAIS COMEMORAÇÕES
Festas Islâmicas
•
Ramadã ou Ramadan durante o nono mês do calendário muçulmano.
•
Pequena Festa (Eid Al-Fitr), celebrada nos três primeiros dias do mês de
Shaual, ao final do jejum do mês de Ramadã, comemora a revelação do Corão.
•
Grande Festa ou Festa do Sacrifício (Eid Al-Adha) é celebrada no dia 10
do mês de Thul-Hejjah.
•
Hégira (fuga de Muhammad de Meca) marca o Ano-novo do calendário
muçulmano, no dia 1° do mês de Al-Moharam.
•
Aniversário de nascimento do Profeta, no dia 12 do mês de Rabi'I.
As duas festas canónicas do Islã são o Eid ul-Fitr, que celebra o fim do jejum do
Ramadã, e o Eid ul-Adha que marca o fim da peregrinação a Meca (Hajj).
- 41 Colégio A. Liessin Scholem Aleichem - Projeto Mafteach
Apostila do módulo Diálogo Inter-religioso
O dia 10 do mês de Muharram (o primeiro mês do calendário islâmico) é um dia
de particular importância para os muçulmanos xiitas. Neste dia comemora-se o martírio
do terceiro imã xiita, Hussein, morto em Karbala em 680 por aqueles que os xiitas
consideram usurpadores da liderança da comunidade muçulmana. No início deste mês
as pessoas envolvem-se em actividades como ouvir contadores de histórias relatar o
martírio de Hussein ou assistir a peças de teatro que pretendem reconstituir os
acontecimentos. O dia é marcado com procissões, que incluem actos de auto-flagelação
como bater no peito ou cortar-se com uma lâmina (os membros do clero xiita
desencorajam estas práticas).
Outras festas populares incluem o Mawlid, que celebra o aniversário de
Muhammad (12 do mês de Rabi al-Awwal), a Noite da Ascensão (Laylat al-Micraj, no
dia 27 de Rajab), quando se recorda o dia em que Muhammad subiu ao céu para
dialogar com Deus e a Noite do Poder (Laylat al-Qadr, na noite do 26 para 27 do mês
do Ramadã), que marca o aniversário da primeira revelação do Alcorão e durante a qual
muitos muçulmanos acreditam que Deus decide o que acontecerá durante o ano.
Calendário muçulmano – Mede o ano pelas 12 revoluções completas da Lua
em torno da Terra e é, em média, 11 dias menor do que o ano solar. O calendario
islâmico ou calendário hegírico é um calendário lunar composto por doze meses de 29
ou 30 dias com um total de cerca de 354 dias é cerca de onze dias mais curto que o
solar. Consequentemente, as festas muçulmanas acabam por circular por todas as
estações de ano. A contagem do tempo deste calendário começa com a Hégira - a fuga
de Muhammad de Meca para Medina, em 16 de julho de 622.
O mês começa quando o crescente lunar aparece pela primeira vez após o pôrdo-sol.
Este calendário não corrige o fato de o ano lunar não corresponder ao ano solar.
Deste modo, os meses islâmicos retrocedem a cada ano que passa; eles mudam-se em
relação ao Calendário Gregoriano. Uma vez que o calendário islâmico é cerca de 11
dias mais curto que o calendário solar, os feriados muçulmanos acabam por circular por
todas as estações.
Meses
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1º - Muharram
2º - Safar
3º - Rabi al-Awwal
4º - Rabi ath-Thani
5º - Jumaada al-Awwal
6º - Jumaada al-Akhira
7º - Rajab
8º - Sha'aban
9º - Ramadan
10º - Shawwal
11º - Dhu al-Qidah
12º - Dhu al-Hija
Feriados Sagrados
•
1º de Muharram - Ano novo islâmico
•
10 de Muharram - Dia de Ashurah
•
27 de Rajab - Isra e Miraj
•
15 de Sha'aban - Shab-e-Br'aat
•
1º de Ramadan - Primeiro dia de jejum
•
1º de Shawwal - Eid ul-Fitr
•
10 de Dhu al-Hija - Eid ul-Adha
Dias da Semana
•
1º - Yaum as-Sabt (Sábado)
•
2º - Yaum al-Ahad
•
3º - Yaum al-Ithnayn
•
4º - Yaum ath-Thalatha'
•
5º - Yaum al-Arba'a'
•
6º - Yaum al-Khamis
•
7º - Yaum al-Jum'a
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Apostila do módulo Diálogo Inter-religioso
DENOMINAÇÕES
Há várias denominações no Islã, cada uma com diferenças ao nível legal e
teológico. Os maiores ramos são o Islã Sunita e o Islã Xiita.
O profeta Muhammad faleceu em 632 sem deixar claro quem deveria ser o seu
sucessor na liderança da comunidade muçulmana (a Umma). Abu Bakr, um dos
primeiros convertidos ao Islã e companheiro do profeta, foi eleito como califa
("representante"), função que desempenhou durante dois anos. Depois da sua morte a
liderança coube durante dez anos a Omar e logo de seguida a Otman durante doze anos.
Quando Otman faleceu ocorreu uma disputa em torno de quem deveria ser o
novo califa. Para alguns essa honra deveria recair sobre Ali, primo de Muhammad que
era também casado com a sua filha Fátima. Para outros, o califa deveria ser o primo de
Otman, Muawiyah. Quando Ali é eleito califa em 656 Muawiyah contesta a sua eleição,
o que origina uma guerra civil entre os partidários das duas facções. Ali acabaria por ser
assassinado em 661 e Muawiyah conquista o poder para si e para a sua família,
fundando a dinastia dos Omíadas. Contudo, o conflito entre os dois campos continua e
em 680 Hussein, filho de Ali, é massacrado pelas tropas de Yazid, filho de Muawiyah.
Estas lutas estão na origem dos dois principais ramos em que actualmente se
divide o Islã. Os partidários de Ali (shiat ali, ou seja, xiitas) acreditam que os três
primeiros califas foram usurpadores que retiraram a Ali o seu direito legítimo à
liderança. Esta crença é justificada em "hadiths" interpretados como reveladores de que
quando Muhammad se encontrava ausente ele nomeava Ali como líder momentâneo da
comunidade.
Os muçulmanos estão divididos em dois grandes grupos, os sunitas e os xiitas.
Sunitas e xiitas fazem juntos os mesmos ritos e seguem as mesmas leis (com diferenças
irrelevantes), mas o conflito político é profundo. Essas tendências surgem da disputa
pelo direito de sucessão a Muhammad. A divergência principal diz respeito à natureza
da chefia: para os xiitas, o Imã ou "Imam" (líder da comunidade) é herdeiro e
continuador da missão espiritual do Profeta, em quanto para os sunitas, o Imã é apenas
um chefe civil e político, sem autoridade espiritual, a qual pertence exclusivamente à
comunidade como um todo (umma).
Sunitas – Os sunitas são os partidários dos califas abássidas, descendentes de
all-Abbas, tio do Profeta. Em 749, eles assumem o controle do Islã e transferem a
capital para Bagdá. Justificam sua legitimidade apoiados nos juristas (alim, plural
ulemás) que sustentam que o califado pertenceria aos que fossem considerados dignos
pelo consenso da comunidade.
O Islã Sunita compreende actualmente cerca de 90% de todos os muçulmanos.
Divide-se em quatro escolas de jurisprudência (madhabs), que interpretam a lei islâmica
de forma diferente. Essas escolas tomam o nome dos seus fundadores: maliquita (forte
presença no Norte de África), shafiita (presente no Médio Oriente, Indonésia, Mallahsia,
Filipinas), hanefita (presente na Ásia Central e do Sul, Turquia) e hanbalita (dominante
na Arábia Saudita e Qatar).
Os muçulmanos xiitas acreditam que o líder da comunidade muçulmana - o imã
- deve ser um descendente de Ali e de sua esposa Fátima.
Xiitas – Partidários de Ali, casado com Fátima, filha de Muhammad, os xiitas
não aceitam a direção dos sunitas. Argumentando que só os descendentes do Profeta são
os verdadeiros imãs: guias infalíveis em sua interpretação do Corão e do Suna, graças
ao conhecimento secreto que lhes fora dado por Deus. São predominantes no Irã e no
Iêmen.
- 43 Colégio A. Liessin Scholem Aleichem - Projeto Mafteach
Apostila do módulo Diálogo Inter-religioso
A rivalidade histórica entre sunitas e xiitas se acentua com a revolução iraniana
de 1979 que, sob a liderança do aiatolá Khomeini (xiita), depõe o xá Reza Pahlevi e
instaura a República Islâmica do Irã.
O Islã Xiita pode por sua vez ser subdividido em três ramos principais, de
acordo com o número de imãs que reconhecem: xiitas duodecimanos, ismailitas e
zaiditas. Todos estes grupos estão de acordo em relação à legitimidade dos quatro
primeiros imãs. Porém, discordam em relação ao quinto: a maioria dos xiitas acredita
que o neto de Hussein, Muhammad al-Baquir, era o imã legítimo, enquanto que outros
seguem o irmão de al-Baquir, Zayd bin Ali (zaiditas).
Os xiitas que não reconheceram Zayd como imã permaneceram unidos durante
algum tempo. O sexto imã, Jafar al-Sadiq (702-765), foi um grande erudito que é tido
em consideração pelos teólogos sunitas. A principal escola xiita de lei religiosa recebe o
nome de jafarita por sua causa.
Após a morte de Jafar al-Sadiq ocorreu uma cisão no grupo: uns reconheciam
como imã o filho mais velho de al-Sadiq, Ismail bin Jafar (m. 765), enquanto que para
outros o imã era o filho mais novo, Musa al-Kazim (m. 799). Este último grupo
continuou a seguir uma cadeia de imãs até ao décimo segundo, Muhammad al-Mahdi
(falecido, ou de acordo com a visão religiosa, desaparecido em 874 para retornar no fim
do mundo). Os primeiros ficaram conhecidos como ismailitas, enquanto que os que
seguiram uma cadeia de doze imãs ficaram conhecidos como os xiitas duodecimanos; o
termo "xiita" é geralmente usado hoje em dia como um sinónimo dos xiitas
duodecimanos, que são maioritários no Irã.
Para os ismailitas, Ismail nomeou o seu filho Muhammad ibn Ismael como seu
sucessor, tendo a linha sucessória dos imãs continuado com ele e os seus descendentes.
O ismailismo dividiu-se por sua vez em vários grupos.
Outra denominação que tem origem nos tempos históricos do Islã é a dos
Kharijitas. Historicamente, consideravam que qualquer homem, independentemente da
sua origem familiar, poderia ser líder da comunidade islâmica, opondo-se às polémicas
de sucessão entre sunitas e xiitas. Os membros deste grupo hoje são mais comumente
conhecidos como muçulmanos ibaditas. Um grande número de muçulmanos ibaditas
vive hoje em Omã.
Movimentos recentes
Um movimento recente no Islã Sunita é o dos Wahhabis, assim denominados
por pessoas exteriores ao grupo (os Wahhabis preferem ser conhecidos como Salafis). O
Wahhabismo é um movimento fundado por Muhammad ibn Abd al Wahhab no século
XVIII, naquilo que hoje é a Arábia Saudita. Os Wahhabis consideram-se sunitas e
alguns afirmam seguir a escola hanbalita. O Wahhabismo tem uma grande influência no
mundo islâmico pelo fato do governo saudita financiar muitas mesquitas e escolas
muçulmanas existentes em outros países.
Outros grupos – Além dos sunitas e xiitas, existem outras divisões do islã, entre
eles os zeiitas, hanafitas, malequitas, chafeitas, bahais, drusos e hambaditas. Algumas
destas linhas surgem no início do Islã e outras são mais recentes. Todos esses grupos
aceitam Allah como deus único, reconhecem Muhammad como fundador do Islã e
aceitam o Corão como livro sagrado. As diferenças estão na aceitação ou não da Suna
como texto sagrado e no grau de observância das regras do Corão.
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ATENÇÃO
Ser árabe não pode ser confundido com ser muçulmano. O islã surgiu entre os
árabes, mas, hoje, eles são apenas cerca de 20% do total de muçulmanos no mundo.
Existem mais de 100 milhões de muçulmanos na Índia (embora a maioria da
população daquele país seja hinduísta), mais de 50 milhões na China e mais de 2
milhões nos Estados Unidos, por exemplo.
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