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Clínica
Será que você está preparado para lidar com
as situações de emergências medicas?
Artigo apresenta situações de emergências médicas que podem ocorrer em clínicas e consultórios odontológicos
e aponta ações que auxiliam no atendimento e socorro adequado destes pacientes
Introdução
A
população está vivendo mais1, com a evolução
da medicina e introdução de novas tecnologias
pacientes que, no passado morriam ou se encontravam acamados ou ainda hospitalizados, atualmente se
encontram estabilizados ou controlados e apresentando
uma “relativa” qualidade de vida. Atualmente, no entanto, ocorre o fenômeno da Polifármacia (uso simultâneo
de múltiplas drogas), onde os pacientes fazem uso de
muitos remédios, alguns prescritos, mas muitos utilizados pelos pacientes como auto-medicação, OTC (out
the counter), herbais e suplementos alimentares, como
consequência, aumentam as internações em hospitais2-4
em função das reações adversas às drogas, muitas vezes,
resultando na morte dos pacientes2. Os avanços médicos
e cirúrgicos estão aumentando o número de pacientes
com considerações médicas importantes, isto é, complexidades médicas que trazem preocupações importantes
na terapia Odontológica. Transplantes de órgãos sólidos;
reparações cirúrgicas complexas de válvulas cardíacas e
cirurgias cardíacas de revascularização do miocárdio;
introdução de articulações artificiais; marca-passos implantados e cardiodesfibriladores; e ainda bombas de insulina bem como, novas drogas para diferentes terapias
de doenças crônicas são somente alguns exemplos dos
avanços médicos que aumentam o número de pacientes com uma complexidade médica que, possivelmente,
irão se apresentar para o tratamento Odontológico.
A Odontologia também avançou muito e introduziu
novas tecnologias como os implantes intra-ósseos, tratamentos periodontais avançados combinados a Odontologia restauradora extensa com novas tecnologias e
materiais, proporcionando uma Odontologia com longa
vida, atraindo para os consultórios pacientes apresentando uma complexidade médica bem como os pacientes
saudáveis. No entanto, a Odontologia atual pode e deve
proporcionar o atendimento seguro para os diversos pacientes. Assim, é razoável que os profissionais estejam
atentos em assuntos como a avaliação física, histórico
médico e considerações em relação a possíveis interações de drogas e ainda considerar a introdução de algumas modificações na terapia odontológica no sentido
de diminuir o stress dessa população. Esses são alguns
fatores que muito provável irão prevenir situações de
emergências medicas no ambiente odontológico. Serão
discutidas nesse artigo algumas sugestões no sentido de
preparar o consultório e ou ambulatório odontológico
para lidar com as emergências médicas.
Preparação para as Emergências Médicas:
Em 2002, a American Dental Association5, através do
seu conselho científico, propôs alguns medidas para
a preparação dos consultórios odontológicos a fim de
lidar com situações de emergências médicas de forma
segura e efetiva (quadro1.0)
1. Treinamento de todos envolvidos no atendimento
em SBV & RCP
Diversas pesquisas demonstram uma preparação inadequada dos estudantes da área de saúde em Suporte
Básico de Vida (SBV) e Ressuscitação Cardiopulmonar
(RCP) 6-13, incluindo-se os estudantes de Odontologia,
Enfermagem e Medicina o que justifica, segundo organizações internacionais, preconizar o treinamento dos
profissionais periodicamente em SBV & RCP13,14.
Os conceitos que condizem com as principais organizações internacionais que preconizam algoritmos, sequência e melhorias na administração de técnicas através de estudos e, que são periodicamente atualizados
-Cursos de Educação continuada em Emergências Médicas (Didáticos e Clínicos)
-Capacitação e Treinamento de todos envolvidos no atendimento dos pacientes em SBV (Suporte básico de vida) & RCP
(Reanimação cardiopulmonar)
-Introdução de um Kit Básico de Emergências Médicas, incluindo-se Drogas, Equipamentos e Oxigênio
-Serviço de Emergências Médicas disponível para acionar e com número de fácil visualização
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em relação ao SBV13,14, estão relacionados a prevenção
ou correção da falta de oxigenação aos órgãos nobres
que são o cérebro e coração15.
Para o controle de todas as situações de emergências
médicas em ambiente odontológico, deve ser assegurado
o suporte básico de vida, assegurando que o sangue oxigenado seja fornecido aos órgãos vitais, cérebro e coração.
Se todos os envolvidos no atendimento dos pacientes lembrarem desse princípio, toda a sequência do atendimento
fará sentido. De fato, esse é o principio do treinamento do
Suporte Básico de Vida (SBV), também conhecido como
Ressuscitação Cardiopulmonar (RCP)16. É razoável que os
profissionais se disponibilizem a um treinamento de 1 dia
para se atualizarem em SBV & RCP, bem como os profissionais envolvidos no atendimento do paciente em geral.
Enfim, todos que trabalham em ambiente odontológico
ou médico devem estar preparados e treinados para administrar o SBV& RCP de forma efetiva. Uma atualização recente e importante no SBV é que o DEA-Desfibrilador Automático Externo (Figura 1), antes relacionado ao ACLS
(Advanced Cardiovascular Life Support), atualmente está
relacionado ao SBV & RCP, evidenciando a necessidade
dos profissionais de saúde no manejo desse moderno e
simples dispositivo.
2. Chamar Ajuda: Quando e Quem Chamar?
Um fator importante é saber quando procurar ajuda e
não hesitar em fazê-lo. Nunca hesite em chamar ajuda,
é melhor chamar socorro do que tentar lidar com a situação de emergência médica sozinho, podendo chegar a
uma situação em que seja tarde demais o auxílio externo. Assim que o profissional achar que precisa de ajuda
especializada deve chamar socorro, mesmo em casos de
dúvida deve ativar o serviço de emergência médica.
Na ocorrência dessas situações, geralmente, em fun-
FIGURA 1 - Desfibrilador automático externo
tempo até a chegada desse serviço.
A formação básica em SBV será importante para que durante o período de espera o profissional mantenha o paciente
vivo até que ele se recupere ou até a chegada do SEM.
Resumidamente, essa é uma obrigação moral e legal,
cujos profissionais treinados deverão assumir as manobras e eventualmente a administração de drogas. Como
já mencionado a administração do SBV será muito importante durante o período de espera do SEM.
FIGURA 2 - Posicionando o paciente, posição supina com
os pés ligeiramente elevados
A Odontologia atual
pode e deve
proporcionar
o atendimento seguro
para os diversos
pacientes
ção do nervosismo e despreparo não se sabe a quem
pedir socorro. O mais lógico é ativar o serviço de emergência médica (SEM) da região. No Brasil o SAMU (192)
é o serviço nacional disponível nos diversos estados do
pais17. Sugere-se que esse número esteja disponível e
com fácil visualização nos consultórios e ambulatórios
no sentido de acionar rapidamente esse serviço quando
necessário.
O tempo de demora entre o acionamento do serviço e a chegada do pessoal especializado no consultório, muito provável pode variar bastante, por exemplo:
6-10 minutos em uma cidade sem trânsito, ou ainda por
exemplo 25-30 minutos em uma grande metrópole com
tráfego pesado. Em regiões isoladas o profissional pode permanecer com o paciente por períodos maiores de
3. Cursos de Educação Continuada em Emergências
Médicas, Drogas e Kits
Evidente que se faz necessário cursos de educação continuada envolvendo as emergências médicas destinados
ao tratamento específico das principais situações que
possam acontecer em ambiente odontológico. Exemplos:
sincopes, alergias, ataque de asma, epilepsia, angina, infarto agudo do miocárdio, dentre outras. Evidente que o
profissional deve estar familiarizado com algumas drogas para que sejam instituídas no seu kit de emergências
médicas. A adrenalina injetável talvez seja a droga mais
importante que deve estar contida no kit de emergências
médicas, uma vez que essa droga realmente pode salvar
uma vida em determinadas situações, exemplos: reações
alérgicas moderadas ou severas. O oxigênio é uma droga
importante e pode ser utilizado em quase todas as situações de emergências médicas também. Dai a importância para o treinamento para administrar esses remédios
em situações especificas.
4. Plano Básico de Ação
Quando ocorrem as situações de emergências médicas, geralmente todos ficam em pânico e não sabem
determinar uma seqüência para o atendimento dessas
ocorrências. Uma vez que seja estabelecido um plano
de ação18-20 com treinamento de todos os profissionais
envolvidos no atendimento, o dentista “ ganha tempo”
mesmo que ainda não seja estabelecido o diagnóstico.
O dentista pode e deve iniciar, imediatamente, o aten-
FIGURA 3 - Inclinação posterior da cabeça e
levantamento do queixo (head tilt-chin lift)
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C- Circulação – Verificar a circulação, verificar o pulso
15-30 segundos, geralmente o pulso carotídeo e, se indicado, iniciar as compressões torácicas.
D- Tratamento definitivo - Que pode ser o simples posicionamento do paciente (P) que foi realizado inicialmente e pode já ter apresentado resultados ou mesmo
desfibrilação, administração de drogas. Resumidamente,
estas são as ações realizadas pelo dentista ou profissionais de saúde (staff) para ajudar a melhorar a condição do paciente, determinando que a vitima retorne ao
estado anterior a situação de emergência médica. Fica
evidente a importância do treinamento e simulação de
situações de emergências médicas para a administração
do SBV no ambiente odontológico.
FIGURA 4 - Verificação do pulso carotídeo que deve ser
realizada com 2 dedos por no mínimo 15 segundos
dimento do paciente assim que se reconheça a situação,
“algo errado” com o paciente e que, provavelmente, possa gerar uma situação de perda da consciência, ou uma
disfunção respiratória.
A administração do suporte básico de vida é o passo
mais importante no controle de todas as situações de
emergências médicas e, na grande maioria das vezes, será
mais importante do que a administração de drogas. A partir disso, a seqüência A-B-C será relevante para o atendimento das situações. Como na maioria das situações o paciente se encontra na cadeira odontológica, Malamed18,
propôs a introdução do P, que será posicionar o paciente
no sentido de iniciar o controle da situação. Então é sugerido que se acrescente o P na sequência A-B-C .
P-A-B-C-D
P- Posicionar o paciente pode ser o inicio do controle das situações de emergências médicas. Num paciente inconsciente, a causa provável é a ausência de uma
perfusão cerebral adequada ou seja, um fornecimento
inadequado de oxigênio. Posicionando o paciente em
uma posição supina com os pés mais elevados podemos
aumentar o fluxo sanguíneos para a “cabeça “ melhorando, consequentemente, a perfusão cerebral, corrigindo o
fornecimento inadequado de oxigênio. (Figura 2)
A- Airway - Acessar as vias aéreas e determinar a “desobstrução” se indicada, com a administração de manobras de inclinação posterior da cabeça e levantamento
do queixo (head tilt-chin lift). (Figura 3)
B- Breathing - Acessar a respiração e iniciar a ventilação
boca - máscara, ou até administração de oxigênio com
máscara facial em casos de apneia.
A administração do suporte
básico de vida é o passo
mais importante no controle
de todas as situações de
emergências médicas e, na
grande maioria das vezes,
será mais importante do que
a administração de drogas
Conclusões
As emergências médicas podem e devem acontecer em
consultórios e ambulatórios odontológico. Apesar de
diferentes etiologias, cada consultório deve estar preparado em algum nível básico para se deparar com essas
situações com resultados eficazes.
Essas situações podem estar diretamente relacionadas
a terapia odontológica (ex: administração do anestésico
local,terapia periodontal, endodontia, outras); podem
estar relacionadas a administração de drogas, interações, overdoses ou ainda reações adversas; podem estar
relacionadas a uma condição física pré-existentes (ex:
hipertensão, insuficiência cardíaca, angina, hipotensão
ortostática, outras); relacionadas a reações psicogênicas
em função do ambiente odontológico e ainda por acaso
(exemplos: “morte súbita,” parada cardíaca, AVC , outros).
Apesar de todos os esforços para a prevenção dessas
situações, infelizmente essas situações podem acontecer.
No entanto, a capacitação e treinamento em SBV e a introdução de um plano básico de ação no consultório por
parte dos profissionais podem salvar vidas.
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