LITERATURA BRASILEIRA UM ESTUDO SOBRE A MÍMESIS DA PRODUÇÃO NO ROMANCE MULHER NO ESPELHO, DE HELENA PARENTE CUNHA Karine Vasconcelos Leite1* [email protected], Roberto Sarmento Lima2 (Orientador) 1,2 – Depto. de Letras Clássicas e Vernáculas – Programa de Pós-Graduação em Letras e Lingüística, UFAL, Maceió/AL (INTRODUÇÃO) Este trabalho consiste em uma análise teórico-crítica do romance modernista Mulher no espelho, de autoria da escritora Helena Parente Cunha. Assim, apresentarei argumentos que comprovam como tal obra se enquadra, perfeitamente, na classificação da mímesis da produção tal como elaborada por Luiz Costa Lima. Não obstante, será aduzido como a autora desnuda no romance o processo de feitura da obra literária, em se tratando de forma e conteúdo. A relevância científica do problema justifica-se pelo fato de a análise explicitar como Mulher no espelho representa a relação complicada verificada nos elementos pertinentes à literatura (tais como autor, personagens, narrador, obra e público), sobretudo numa época de multiculturalismo e numa renovada definição de literatura e suas implicações estéticas. O estudo ainda contribui para a riqueza teórica da Literatura Brasileira uma vez não terem sido feitos trabalhos, sobre essa perspectiva, com a obra em questão. (METODOLOGIA) Para a realização do trabalho foi feita pesquisa bibliográfica, incluindo a leitura do romance Mulher no espelho; coleta de materiais produzidos sobre a referida obra; levantamento e fichamento bibliográfico das teorias que serviram de base para a análise do problema em questionamento, a saber: as formulações de teóricos, principalmente Luiz Costa Lima, Mikhail Bakhtin e Antônio Cândido, e a aplicação das teorias à análise do corpus do trabalho. Para isso, utilizei o método de abordagem sociocrítico e o método de procedimento analítico-interpretativo. (RESULTADOS) Através da análise constatei que Helena Parente Cunha faz, em Mulher no espelho, uma discussão do processo mimético das representações literárias. A autora utiliza-se, na materialidade lingüística e no conteúdo do romance, de uma concepção bakhtiniana de discurso, recorrendo à técnica do contraponto, à polifonia e à ruptura das vozes narrativas para representar uma atitude em face da questão da mímesis, própria da modernidade: a de que concebe o prazer estético como fruto não mais somente do reconhecimento do “real”, mas do próprio conhecimento da produção literária. (CONCLUSÕES) Compreendo que Mulher no espelho acompanha uma tendência natural do estilo da literatura modernista, segundo a qual o escritor se utiliza de recursos estilísticos para mostrar ao leitor o processo de construção de uma obra — diferente de escritores que se inserem numa mímesis da representação, que pretendiam passar para o leitor uma ilusão de que o fato escrito era verídico, usando uma linguagem muito aproximada da realidade, como, por exemplo, a dos escritores realistas. Esse desnudamento do processo mimético se revela no romance através da construção imbricada, na qual há uma disputa pelo controle da trama e do enredo entre a escritora-personagem e a personagem propriamente dita que compõem o romance. O enredo se desenvolve a partir de fragmentos de suas “estórias” de vida, manifestadas através de um discurso polifônico e pela diferenciação das vozes narrativas marcadamente explícitas na forma e no conteúdo do texto. Nesse ínterim, a autora ainda trabalha duas questões consideradas fundamentais: 1) os princípios da autonomia da obra literária; e 2) a interdependência dos constituintes narrativos no plano literário. Nesse sentido, Helena Parente Cunha trabalha a relação existente entre elementos da tríade autor-obra-público, de forma que constrói um tipo de comunicação literária que é, nas palavras de Antônio Cândido, um sistema simbólico, por meio do qual as veleidades mais profundas do indivíduo se transformam em elementos de contato entre os homens e de interpretações das diferentes esferas da realidade. Agência Financiadora: CAPES. 54ª Reunião Anual da SBPC – Goiânia, Julho/2002