IV Congresso Internacional de Educação
VII Semana Acadêmica do Curso de Pedagogia da Uniamérica
O ESPÍRITO CIENTÍFICO E A CONSTRUÇÃO DE APRENDIZAGENS COM
CRIANÇAS DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
Blasius Silvano Debald1
Adriana Aparecida Anghewiche da Silva2
Silvana Lorete Vargas Justino3
Simone Zacarias da Silva4
RESUMO
A organização do currículo escolar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental se
distancia do princípio investigativo e da pesquisa, muito mais pela falta de formação
dos professores do que pelo desinteresse em inovar em suas práticas pedagógicas.
A finalidade do estudo é apresentar a experiência do Projeto Laboratório Vivo de
Ciências Naturais e Cuidados com o Meio Ambiente, espaço no qual as crianças de
uma escola municipal do Extremo Oeste do Paraná vivenciam na prática os
conteúdos construídos em sala de aula. A problemática norteadora da pesquisa
centra-se na questão de identificar se o Projeto impacta nas aprendizagens das
crianças e se contribui para o desenvolvimento do espírito científico. Utilizamos
como metodologia a observação de professores e alunos durante as aplicações ao
longo de um semestre. Como principais resultados identificamos que os professores,
inicialmente resistentes às práticas experimentais, começaram a se envolver com as
atividades, estimulando os alunos e trabalhando a temática antes e após as
aplicações. Em relação às crianças, aguçou o espírito científico e questionador,
tornaram-se mais participativos durante as aulas, vibram com as experiências na
medida em que percebem que são capazes de fazer os experimentos e são mais
observadores com o que ocorre na escola e comunidade. Em termos teóricos, a
base teórica ancora-se em autores como Kramer (2006), Ramos (2011), Farias e
Martini (2011), Luckesi (2010), Libâneo (2009), Corsino (2009), Acunha (2005) entre
outros.
PALAVRAS-CHAVE: aprendizagens – crianças – espírito científico – currículo
escolar.
Introdução
O currículo adotado nos Anos Iniciais da rede de ensino municipal da região
do Extremo Oeste do Paraná ainda centra-se na repetição, memorização e
1
Doutorando em Educação – UNISINOS e Professor do Curso de História da UNIAMÉRICA.
Coordenador do Projeto Laboratório Vivo de Ciências Naturais – Estação Ciências/PTI. E-mail:
[email protected]
2
Acadêmica do Curso de Pedagogia – UNIAMÉRIA e Bolsista do Projeto Laboratório Vivo de
Ciências Naturais – Estação Ciências/PTI. E-mail: [email protected]
3
Acadêmica do Curso de Pedagogia – UNIAMÉRIA e Bolsista do Projeto Laboratório Vivo de
Ciências Naturais – Estação Ciências/PTI. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica do Curso de Pedagogia – UNIAMÉRIA e Bolsista do Projeto Laboratório Vivo de
Ciências Naturais – Estação Ciências/PTI. E-mail: [email protected]
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reprodução de conteúdos. A sala de aula acaba se transformando em espaço em
que o prazer, a inovação e a criatividade desaparecem na medida em que a criança
avança nos anos de escolarização. O mundo experimental, típico da criança em
desenvolvimento é deletado na escola, substituído por conteúdos abstratos e
distantes da realidade cotidiana da criança.
A criança da segunda década do século XXI, que vive parte de suas horas
diárias no mundo virtual, explorando as múltiplas possibilidades que são
apresentadas no mundo imaginário, tem sua conexão rompida quando inicia seu
processo educativo, pois nas escolas é proibido o uso do celular e demais aparelhos
eletrônicos. Em outras palavras, fora da escola, a criança vivencia várias
aprendizagens, com uma variedade de recursos, mas a escola, do tempo das
cavernas, não permite utilizar os avanços tecnológicos como ferramentas de
aprendizagem.
O dilema posto é nosso objeto de discussão, uma vez que entendemos que
as barreiras construídas contra as inovações metodológicas pelos professores dos
Anos Iniciais tem ligação com o despreparo dos professores na utilização de tais
recursos em suas práticas pedagógicas. Portanto, a finalidade é discutir quais os
recursos metodológicos utilizados pelos professores para encantar a criança em sala
de aula e se utiliza práticas experimentais no processo ensino e aprendizagem.
Em termos metodológicos, acompanhamos durante um semestre dez
professores de uma escola municipal da região do Extremo Oeste do Paraná e
produzimos relatórios a partir das observações. Os relatórios são nossos dados
empíricos que serão analisados nesse texto, confrontados com autores que
problematizam a temática que é o fio condutor do estudo. O levantamento dos dados
fez parte das atividades do Projeto Laboratório Vivo de Ciências Naturais e Cuidados
com o Meio Ambiente, uma parceria inovadora de ensino, envolvendo a Secretaria
Municipal de Educação, a Estação Ciências do PTI, o Instituto de Educação
Talentto’s e a Faculdade União das Américas.
Entendemos que para transformar o espaço da sala de aula é preciso mexer
no processo ensino e aprendizagem. Nesse caso, passa pelo processo formativo
dos professores. Somente com professores mais preparados, acompanhados nas
escolas é que a educação se aproximará do contexto da criança, tornando-o mais
significativo.
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A criança quer aprender: olhares sobre o espaço escolar
Que a escola perdeu seu encanto ninguém mais tem dúvidas. A questão é por
quê? Como podemos explicar que a criança, no início do processo de escolarização,
cria um conjunto de expectativas positivas em relação à escola e com o passar do
tempo o encanto, lentamente, morre, dia após dia? Não seria a hora de iniciar uma
reformulação no espaço escolar, propondo mais atividades e menos conteúdos
abstratos? O pesquisador português Nóvoa, em seus estudos sobre a realidade
educacional brasileira destaca que o currículo carece de participação das crianças. A
centralidade da ação pedagógica está no professor (DEBALD; ROVARIES, 2007).
O próprio Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998, p. 2122) enfatiza que “as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que
estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento
não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de um intenso trabalho de
criação, significação e ressifignificação.” As interações que ocorrem nos espaços
escolares influenciam no desenvolvimento e na aprendizagem da criança e sua
organização deve ser pensada a partir do princípio de um lugar acolhedor e
prazeroso no qual possam brincar, criar e recriar suas brincadeiras, reforçando a
independência e autonomia. Diferentes ambientes se constituem dentro de um
espaço escolar e sua constituição, deve possibilitar, de acordo com Horn (2004, p.
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que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas,
transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...]
nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e
vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se
constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter
ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam
iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas
e o espaço organizado.
O ambiente prazeroso amplia as possibilidades de interesse do aluno, pois o
aproxima de uma proposta ativa de bem estar coletivo que a escola pode propiciar à
criança. O prazer pelo espaço escolar deve ser sentido pelas crianças e
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adolescentes que passam parte de suas vidas em instituições educativas. É
recomendável que esses locais sejam atrativos aos alunos, que o entusiasmo de
estar na escola seja a extensão de suas casas. Preparar ou modificar os espaços,
em especial para a criança, faz parte também do processo educativo. Porém uma
educação de qualidade não se resume em espaços elaborados. É necessário
manter o foco no processo de aprendizagem. Conforme Cruz (2011, p. 92) “os
processos de aprender e conhecer são desenvolvidos, à medida que o sujeito
participa efetivamente de situações e ambientes ricos e estimulantes, porém um
espaço bem organizado não basta.”
A interação entre professor e aluno tem influência no processo ensino e
aprendizagem, uma vez que convivem ao longo de um ano letivo, fortalecendo os
laços de parceria. Estreitar ou criar vínculos com o aluno é uma maneira positiva de
estabelecer confiança e ajudá-lo a resolver problemas. O professor precisa conhecêlo além da sala de aula para compreender o que acontece em seu entorno,
contextualizando sua aprendizagem. Segundo Ramos (2011, p. 44) “para aprender é
preciso aceitar a presença do outro, desenvolver vínculos não fixados em imagens
narcísicas que fragilizam e empobrecem o Eu, a representação de si mesmo. Para
aprender é importante aceitar a dependência, o pertencimento, o reconhecimento
das diferenças e semelhanças nas circunstâncias educativas formais e informais”.
A aprendizagem reporta-se também as experiências interpessoais, com
acesso as informações trazidas através da convivência diária em sociedade.
Portanto, a interação entre a criança com os demais sujeitos da escola, incentiva a
produção de oralidade, fundamental para o exercício da comunicação. Para
Fernández, citado por Cruz (2011, p. 92), o aprender ocorre no diálogo com o outro.
A fala do aluno e suas manifestações representam um feedback para o professor,
mostrando se houve ou não aprendizagem, reflexão, insatisfação, dúvida ou crítica.
O fato é que a expressão oral da criança pode ser um termômetro para a
aprendizagem.
O que pode garantir o encanto do aluno no período de escolarização, ainda
não se sabe bem ao certo, mas o que se pode afirmar é que a brincadeira é algo
apreciado pela criança e se utilizada com planejamento, conteúdo e gestão, pode
ser uma estratégia contemplada pelos docentes em suas práticas pedagógicas. É
uma forma de proporcionar a conversação. Para compreender como a brincadeira
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faz parte do universo da criança, requer-se do professor um estudo sobre a infância
dos alunos, para que a brincadeira possa ser conectada ao conteúdo escolar,
fazendo sentido e tendo significado. Kramer (2006, p.15), define o sentido de
infância na sociedade a partir da ideia de que
crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas
condições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume
a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar
de ser criança). Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder
da imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira, entendida como
experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de
direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo de ver as
crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto
de vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma
história humana porque o homem tem infância. As crianças brincam e isso é
o que as caracteriza.
E porque não utilizar a brincadeira de forma dirigida para atender o currículo?
Existem várias possibilidades que contemplam o planejamento, sem ser uma aula
expositiva dialogada, proporcionando o brincar, compreendendo-o como direito,
como aprendizagem, linguagem própria da infância e como vivência privilegiada. É
considerar os indivíduos e suas subjetividades. Farias e Martini (2011, p. 118) afirma
que “pensar que um aluno aprende apenas com o professor escrevendo no quadro é
negar a afetividade, a referência, o corpo, o conhecimento prévio, enfim, é não
reconhecer que o sujeito possui um meio que o influencia.”
O currículo atual propõe um leque variado de conteúdos a serem atingidos ao
longo do período letivo, construção no qual as crianças não participam, a falta de
maturação impede que os adultos oportunizem a contribuição, definem eixos do
desenvolvimento infantil sem ouvir o que o público alvo tem a dizer. A formação de
suas identidades autônomas para o conhecimento do espaço cultural e da dinâmica
da vida social está concentrada nas mãos dos adultos. Farias e Martini (2011, p.
122) ponderam afirmando que “ouvir os alunos e pais, para mim, se constitui em
uma atitude de humildade, uma vez que não basta apenas acreditar em uma
proposta com princípios de uma Escola Cidadã, mas compreender que uma escola
necessita estar sempre em processo de construção, reconstrução, ou seja, necessita
ser cotidianamente reinventada.”
A criança no centro do processo educativo mostra as implicações que
envolvem a problemática sobre o desinteresse dos alunos pela escola. Afinal, a
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escola parece mais com o aluno ou mais com o professor? O fato de ambos serem
os protagonistas na escolarização sistemática sugere a ideia de que a escola é
objeto social, republicana e que não deve ter “rosto” e sim uma identidade referente
à comunidade.
Para chamar a atenção da criança deve-se pensar em trabalhar a interação
dos conteúdos com o cotidiano, inserindo se possível o concreto, o pegar, apalpar,
ou seja, mostrar o significado do assunto abordado. Freire (1998, p. 21) afirma “que
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção.” O espaço escolar é onde a mesma vai trabalhar seu
imaginário, mas para que isso ocorra é necessário que o ambiente seja atrativo,
onde haja interação da teoria e prática, vivenciando o ato do brincar.
A infância é vivida de um modo bem diferente de nos adultos, são cheias de
sonhos, criatividades, tem uma imaginação além do mundo real, é onde os mesmos
se baseiam na forma de manipular os objetos, cabendo ao professor criar
estratégias para trabalhar o lúdico dentro e fora de uma sala de aula. Deixando o
ambiente educativo prazeroso, mediando o conhecimento e dando oportunidade
para que as crianças sintam-se mais motivados sendo capazes de construir algo,
mostrando seu potencial, deixando-as criar para que não fique somente no papel,
mais sim colocar em pratica a aprendizagem, vivenciando o momento. Nas palavras
de Luckesi (2010, p. 125) “o trabalho esse que, se for de boa qualidade, será um
fator coadjuvante de permanência dos educandos dentro do processo de aquisição
do saber e consequentemente um fator dentro do processo de democratização da
sociedade.”
A partir dessa reflexão nos mostra o quão necessário professor-aluno se
sentirem importantes e valorizados por estarem construindo um conjunto de
atividades que visam a transformar aos poucos a sombra que cobre o ambiente
escolar, direcionando assim para melhor entendimento dos conteúdos sugeridos
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Contudo, na segunda década do século XXI, infelizmente ainda encontramos
docentes que não sabem que função exercer no processo de escolarização de seus
alunos, deixando muito a desejar, pela falta de comprometimento em suas práticas
pedagógicas. Como se isso não bastasse, acaba se acomodando naquele mundinho
fechado de conhecimento sem ter no mínimo vontade de se qualificar e se
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aperfeiçoar em prol não de mais um certificado mais para fazer a diferença de uma
melhora da aprendizagem na vida de seus alunos. Libâneo (1994, p. 16) reforça a
ideia dizendo que “o conjunto de estudos indispensáveis à formação teórica e prática
dos professores, a Didática ocupa um lugar especial. Com efeito, a atividade
principal do profissional do magistério é o ensino, que consiste em dirigir, organizar,
orientar e estimular a aprendizagem escolar dos alunos.”
Para o ambiente escolar ser reconhecido um dos melhores, devemos fazer
valer apena o esforço de estar sempre em busca de novas técnicas de ensino,
trazendo para a sala de aula o desejo de pesquisar e estudar o cientifico.
Lembrando, Corsino (2009, p. 117) diz que: “Planejar inclui escutar a criança para
poder desenhar uma ação que amplie as suas possibilidades de produzir
significados”. É nessa hora, ao planejar que o professor tem que tomar o cuidado e
ver em qual processo de desenvolvimento essa criança se encontra para saber qual
o melhor método a ser utilizado e ampliar ainda mais o conhecimento adquirido por
ela.
Crianças criativas e o projeto experimental de ciências naturais
A criatividade é da natureza das crianças. Sua capacidade para improvisar,
inventar parece não ter fim. Conseguem imaginar atividades e brincadeiras que
desafiam nossa capacidade de compreensão. Ora, se são tão geniais, por que com
o tempo se tornam pessoas incapacitadas para pensar? Será que a escola, em
algum momento de sua trajetória não desencoraja a criança a desenvolver seu
espírito criativo? Esse é um dos desafios do Projeto Experimental denomina de
Laboratório Vivo de Ciências Naturais e cuidados com o Meio Ambiente que há três
anos desenvolve atividades experimentais com crianças da rede de uma escola no
Extremo Oeste do Paraná.
Aranha (2013) analisou um estudo realizado George Land e Beth Jarman e
concluiu que ao sair da Educação Infantil a criatividade da criança morre
praticamente por completo porque há uma queda acentuada na habilidade criativa
de pensar de uma forma inventiva que foge aos padrões sociais. A explicação para o
desaparecimento da criatividade é a forma como organizamos o espaço escolar,
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fortemente individualizado, sem possibilidades de discussão e solução de
problemas.
A escola estruturada aos moldes tradicionais em relação ao processo
educativo apresenta seus espaços organizados com professores s que acreditam no
estudo individualizado do aluno, com informações repassadas, trará resultados de
aprendizagem, reforçando assim a ideia que conhecimento se produz através do
silêncio na escola. Ao adentrar ao ensino fundamental nos Anos Iniciais, a criança
se depara com um currículo mais teórico voltado a leitura e escrita, deixando à
margem a consideração pela infância como parte de um processo essencial para
seu desenvolvimento cognitivo, emocional, criativo e físico.
Nesse contexto a criança precisa de adaptar a escola e esse modelo de
ensino automaticamente a desestimula a valorizar suas próprias ideias, sufocando
sua criatividade, fantasias e originalidade, resultando em uma concepção de
aprendizagem fragmentação e alicerçada na memorização. Segundo Back, citado
por Ostetto (2007, p. 121) a organização escolar nos moldes tradicionais é
construída a partir de “uma relação de fala-escuta e escuta-cala, com direção única?
Uma relação de fala – escuta – fala negociada, com direção múltipla? Que jeito tem
essa relação? Que tipo de interação a organização de nossos espaços permite? Há
lugar para a expressão de diferentes vozes ali presentes? Como o professor pode
contribuir para estabelecer esse ambiente?”
Por essas e outras razões que as teorias contemporâneas defendem que os
espaços escolares são espaços de aprendizagens e que é de direito do aluno
usufruir dos momentos criados dentro da escola. Oportunizar a liberdade de
discussão de ideias, ações práticas, pesquisas e debates, com o uso das atividades
possíveis, sem restrições de recursos tecnológicos que servem de apoio à
aprendizagem da criança. Nessa perspectiva, o projeto Laboratório Vivo de Ciências
Naturais e Cuidados com o Meio Ambiente desenvolve na escola, atividades
experimentais baseadas nas Ciências Naturais, resultando em novos hábitos nas
crianças referente ao conhecimento científico. É na interação durante as aulas
experimentais que surgem novas dúvidas e nesse espaço são desafiadas a buscar
alternativas criativas para aprofundar o conhecimento acima citados.
A criança cria uma consciência contextualizada do meio natural, pois vivencia
essas práticas no espaço escolar, articulando-as com a cientificidade dos fatos
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estudados. Portanto, a criança analisa, compara e cria novos olhares do objeto
experimental, mostrando para os professores que aplicam esses métodos que aluno
contextualiza melhor o conhecimento, na medida em que a temática o envolve pela
sua atratividade, dando retorno satisfatório para a relação professor e aluno. O
Projeto na área das Ciências Naturais abrange as questões das inteligências da
criança, sendo distribuídas em contextos diferentes do conhecimento, intensificadas
com as visitas às ilhas das práticas investigativas que são realizadas na escola.
Problematizando a questão de outro olhar sobre o objeto em estudo podemos
dizer, utilizando as palavras de Becker, citado por Cruz (2011, p. 14) que a fonte da
aprendizagem é a ação do sujeito e “aprender é proceder a uma síntese
indefinidamente renovada entre a continuidade e a novidade.” O processo realizado
na escola compreende como as crianças constroem seus conhecimentos e
produzem ciência.
A contemporaneidade é marcada por inúmeras regras que devem ser
seguidas contra a nossa vontade. A escola é uma delas, pois muitas vezes
encontramos professores que ingressam cheios de ideias, motivações e acabam
podados pelas exigências das normas escolares. Isso não ocorre só com os
docentes, mais também com as crianças que chegam cheias de vontade para
aprender e quando entram na sala de aula pela primeira vez levam um susto enorme
como se estivessem num lugar assombrado, sem vida. Cada um no seu lugar,
boquinha fechada, prestando atenção e se isso não bastasse, ainda por cima
escutam várias vezes: acabou a brincadeira, daqui para frente é coisa séria.
Amedrontando a criança por completo, o que era para ser prazeroso serve como
desmotivação, sem graça, tornando o aluno um mero reprodutor de conteúdos.
Nunes (2009, p. 41) complementa afirmando que o “professor não pode ser executor
de práticas pensadas por outros e de métodos que são impostos. É preciso constituir
espaços de formação e reflexão, a fim de que crianças e adultos não se assujeitem
ao novo, mas às possibilidades deste, tornando-se autores no seu trabalho.”
Propomos modificar os métodos de trabalho, insistindo mais em didáticas que
facilitem o conhecimento e valorizem o contexto da criança, incentivando o processo
da investigação científica. A criança precisa entender que o mundo passa,
constantemente por transformações, ampliando os questionamentos sobre os
fenômenos da natureza e como utilizar esses recursos em sociedade. Acunha (2005,
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p. 227) relata que “na realidade, o que falta é um planejamento efetivo, que integre,
através de temas geradores, os conteúdos específicos das ciências, sua visão no
cotidiano e alternativas que possibilitem a compreensão e o uso racional destes.”
O planejamento deve ter uma contemplação de atividades que possibilitem
aos alunos um conhecimento prévio do conteúdo abordado, mostrando qual será o
foco a ser trabalhando dentro do conhecimento científico no decorrer do processo
educativo. Observando os fenômenos fora do ambiente escolar é necessário ter
contato com várias formas de atividades construtivas ampliando a visão do processo
ensino e aprendizagem. Contudo o grupo de pesquisa do Projeto Laboratório Vivo
de Ciências Naturais e cuidados com o Meio Ambiente realiza e coloca em prática
alguns
métodos,
desenvolvendo
experiências
que
possibilitam
mediar
o
conhecimento através do lúdico, trabalhando a interdisciplinaridade sem fugir da
temática contemplada no currículo escolar.
Considerações finais
A construção de conhecimentos científicos pelas crianças é o desafio
enfrentado pelo Projeto, pois pretendemos superar a reprodução e a memorização
por um currículo mais dinâmico, criativo e participativo. Essa postura coloca a
criança como sujeito do processo ensino e aprendizagem, oportunizando-lhe
condições para a construção de conhecimentos.
Do professor requer-se uma nova postura, muito mais de propor atividades
que façam as crianças pensarem do que apenas fazer exercícios repetitivos que não
priorizem a aprendizagem. O Projeto foca sua ação pedagógica nas aprendizagens,
transformando conhecimentos do senso comum em científicos.
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