LIDERANÇA NO FEMININO
Uma líder que tem
como missão formar líderes
Fotografia: emigus/net
O conceito de liderança abrange diferentes pontos de vista. Mais do que chefiar uma equipa, transmitir ordens e mostrar qual o
melhor caminho a seguir, um líder está sempre presente para ouvir, aconselhar e ser um parceiro em todos os momentos. Como
explicou um dos primeiros pilotos da divisão aeronáutica do exército americano, George Edward Maurice Kelly, “a diferença entre um
chefe e um líder: um chefe diz, vá! Um líder diz, vamos”, pintando assim o retrato de muitas organizações. Falamos em concreto da
Carlucci American International School of Lisbon (CAISL) que tem hoje como líder a figura de Blannie Curtis, uma eterna professora
de inglês que se aventurou pela complexa rede das atividades fora das salas de aula e aceitou o desafio de ser diretora da CAISL. A
Revista Pontos de Vista leva-o a conhecer Blannie Curtis, uma americana que se rendeu aos encantos de Portugal.
Blannie Curtis na entrega dos diplomas durante a graduação dos alunos finalistas em junho
de 2014. Tipicamente, cerca de 30% dos alunos da CAISL seguem os estudos nos E.U.A., 30%
ficam em Portugal, 30% vão para o Reino Unido e os restantes 10% vão para outros países.
A
história leva-nos para o ano de 1956. O
professor irlandês Anthony McKenna
lançou-se numa nova aventura: criar
uma escola que seguisse o currículo
americano. Começando por se localizar num
apartamento em Pedrouços, a escola hoje conhecida como Carlucci American International
School of Lisbon (CAISL) foi mudando de
nome e de instalações ao longo dos anos, estando hoje situada em Sintra. Dos três aos 18 anos
de idade, provenientes de cerca de 40 países diferentes, pelos cenários da CAISL cruzam-se
aproximadamente 600 alunos, nascendo, assim,
num mesmo espaço, um ambiente multicultural
perfeitamente adequado para dar um impulso
a futuras experiências internacionais únicas. A
escola tem o apoio do Departamento de Estado
Americano (US Department of State, Office of
Overseas Schools), sendo o ensino reconhecido
pelo Ministério da Educação português.
Desde 1956 foram muitos os momentos que
marcaram a história desta instituição. Viajando
pela extensa cronologia são imensas as datas a
assinalar mas vamos voltar, em particular, a 1997.
Hillary Clinton, então primeira-dama dos EUA,
vem a Portugal inaugurar as obras da escola no
Linhó, um momento hoje materializado por várias fotografias e uma pá com a sua assinatura,
exibidas no adro principal das novas instalações.
Por outro lado, o antigo Embaixador Americano
Frank Carlucci deslocou-se a Portugal oficialmente em 2012 apenas com o fim de inaugurar
a última fase de expansão do campus da escola.
E se é de líderes que falamos, nada melhor do
que centrar atenções na figura de Blannie Curtis, atual Diretora da CAISL. E quem é Blannie
Curtis? Esta é a pergunta que se coloca, desde
logo, e que gerou um prolongado silêncio por
parte da nossa entrevistada. “A minha educação
foi toda feita com base no objetivo de ser professora. Esta é a minha mentalidade. Não consigo
pensar em mim mesma não sendo professora.
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Mas a determinado momento decidi que queria
estar um pouco mais envolvida noutras atividades fora da sala de aula e comecei a estudar para
ser administradora escolar, obtendo, para tal, um
mestrado nessa área. Depois de ter passado pelo
Colégio Internacional de Caracas, na Venezuela,
vim para cá e tornei-me diretora da CAISL. Este
é basicamente o resumo da minha vida profissional”, partilhou Blannie Curtis. Em nenhum
momento da sua vida esperou ser o que é atualmente. Essa é também uma das certezas deixadas
por alguém que olha para a função dos diretores
de escola como um “emprego estranho”. Muitos
deles estudaram e exerceram as suas atividades
como professores, envolveram-se nos currículos e
abraçaram a missão de educar os líderes do futuro. Mas ser diretor de uma escola ultrapassa essa
filosofia. “Trata-se, no fundo, de gerir um negócio. Temos de conhecer um pouco de tudo, desde
legislação local, recrutamento de pessoal, gestão
de recursos humanos. No meu caso em parti-
cular, tive de construir o campus escolar e, por
isso, tive de lidar com toda a angústia associada
a um processo de construção. Entre todas estas
funções, nunca deixei de sentir a minha vocação
e o gosto que tenho em trabalhar com os alunos
porque é precisamente por isso que aqui estou
hoje”, descreveu a responsável. No fundo, é como
se existissem duas Blannie Curtis, uma mais direcionada para o mundo do negócio e outra que
nunca se esqueceu que o seu sonho sempre foi
ser professora.
Quando se fala em gerir um negócio, sendo
mulher, as dificuldades são acrescidas? Como
em tudo na vida, existem sempre dois lados que
refletem diferentes perspetivas. “Por um lado é
mais fácil porque julgo que as mulheres conseguem ler melhor as pessoas do que os homens.
Por exemplo, quando está numa reunião, ela ouve
o que as pessoas estão a dizer mas vê que há
sempre algo mais além disso”, explicou. Por outro lado, quando se olha num ângulo de negócio,
Blannie Curtis acredita que é mais difícil para
uma mulher assumir a linha da frente, exemplificando: “eu não consigo contabilizar as vezes em
que já estive numa reunião com colegas do sexo
masculino e eles julgavam que eu era a secretária.
Isto acontece regularmente”.
A voz feminina tem poder
Apesar de o facto de ser mulher nunca ter sido,
em nenhum momento da sua vida profissional,
um impedimento para chegar mais longe na sua
carreira, Blannie Curtis tem consciência de que
nem sempre olham para uma mulher como uma
profissional com força suficiente para dar voz a
um negócio. A atual diretora da CAISL assumiu
pela primeira vez um cargo administrativo na
Venezuela e recorda esse tempo: “fui muito feliz
durante esse período mas lembro-me de ter quatro diretores a entrevistarem-me em simultâneo
para diretora do terceiro ciclo e de me dizerem
que, uma vez que já tinham uma mulher na administração, não precisavam de outra. No fundo
não acreditavam que uma mulher tivesse força
suficiente para ter uma voz naquele contexto”.
Para haver uma equipa de administração exemplar, Blannie Curtis não descura o facto de serem
necessárias duas perspetivas diferentes. Nem um
homem é melhor gestor, nem uma mulher é melhor gestora. No fundo, são dois ângulos que se
complementam em prol de um mesmo objetivo.
“Não quereria trabalhar numa equipa como esta
se fossem todos homens ou todas mulheres. Essa
nunca seria uma perspetiva saudável”, salientou.
Ambos têm os seus valores e seremos sempre
uma equipa forte se tivermos todas as perspetivas”, ressalvou.
“Tenho o meu coração
e a minha alma na CAISL”
“Em primeiro lugar, nunca conseguiria gerir um
projeto se não acreditasse no mesmo”. Quando
questionada acerca dos alicerces que sustentam
uma profissional de sucesso, Blannie Curtis não
hesitou na sua resposta. Acreditar na missão da
CAISL fundamenta o seu percurso profissional
e pessoal. “Tenho o meu coração e a minha alma
na CAISL”, confessou a diretora. Saber o que se
está a fazer e qual a razão para que assim seja
são dois vetores fundamentais para que se atinja
um sentimento de realização profissional. Além
disso, Blannie Curtis acredita que, com as suas
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Breve percurso profissional
de Blannie Curtis:
- Em 1975 termina a licenciatura em História,
com minor em Inglês e Educação e em 1978
termina um mestrado em História;
- Mais tarde, em 1993, termina o segundo
mestrado, este em administração de escolas
internacionais;
- O seu percurso na educação começou em
Louisiana como professora de Inglês e Estudos Sociais, chegando pela primeira vez a Portugal e à American School em 1984;
- Teve o seu primeiro papel de administração
escolar como Principal do secundário no Colegio Internacional de Caracas, na Venezuela;
- Regressou à CAISL 1997 onde ocupou o cargo de diretora. Teve como grandes conquistas
o aumento do número de alunos, o desenvolvimento do plano estratégico educacional e
financeiro da escola e a construção do novo
campus em Sintra;
- Em 2009 fez o seu mais recente certificado
em International School Counseling.
funções, está ainda a exercer um forte impacto no Mundo. Trabalhar numa escola continua
a ser uma função digna e, tanto ela como a sua
equipa, têm essa consciência e desenvolvem os
seus trabalhos de acordo com os mais elevados
padrões de exigência. Sendo uma extraordinária
profissional, Blannie Curtis não encara o suporte
emocional e familiar como tendo sido elementos fundamentais para o seu sucesso. Solteira,
a diretora da CAISL tem uma extensa rede de
Pais a observar aluno a fazer experiência
na Feira Anual de Ciência que tem lugar
todos os anos em Fevereiro. A escola
recebe alunos desde os três anos de
idade. A educação americana baseia-se
num equilíbrio entre o desenvolvimento
académico, artístico e físico da criança.
Fotografia: emigus/net
amigos que, devido ao seu estilo de vida internacional, não vivem em Portugal. “Tenho bons
amigos cá mas as pessoas que considero como
membros da minha família estão, neste momento, um pouco por todo o Mundo. O Skype é, por
isso, maravilhoso”, brincou. Há cerca de 15 anos
nesta função, a CAISL significa hoje uma vida
de trabalho. “Significa que estou a fazer alguma
coisa certa por esta geração de jovens”, colmatou.
Quem é a CAISL?
Se, no início, procurámos saber quem é Blannie
Curtis, importa também conhecer aquele que
tem sido o seu principal foco de trabalho. Quem
é, afinal, a Carlucci American International
School of Lisbon? “É uma escola que tem como
Alguns dados sobre a Carlucci American
International School of Lisbon:
- Fundada em 1956 por Anthony A. McKenna,
a CAISL era e ainda é a única escola americana
credenciada e licenciada em Portugal;
- Em 2001 a escola acrescentou ao seu título o
nome de Frank Carlucci, embaixador dos EUA
em Portugal, de 1974 a 1977;
- É hoje gerida pela Fundação Escola Americana de Lisboa;
- É acreditada pela New England Association
of Schools and Colleges (NEASC) e o Council
of International Schools (CIS);
- Abrange o ensino desde o pré-escolar (três
anos de idade) até ao 12º ano.
- Atualmente, o corpo estudantil abrange cerca de 40 nacionalidades sendo que, 45% dos
alunos são portugueses e a segunda nacionalidade mais comum é a norte americana, com
cerca de 15% dos alunos;
- Nos últimos dois anos de escolaridade (11º
e 12º anos), a CAISL oferece a possibilidade
do estudante frequentar dois programas em
simultâneo: o American High School Diploma
e o International Baccalaureate (IB).
Fotografia: emigus/net
LIDERANÇA NO FEMININO
O campus atual da escola inclui, além dos edifícios académicos, um ginásio coberto de 1400 m2, mais
de 10.000 m2 de campos de desporto exteriores e um centro de Artes que inclui salas de artes plásticas,
canto coral, orquestra e um teatro totalmente equipado com capacidade para 450 pessoas.
principal preocupação o sucesso dos seus alunos.
Queremos que cada jovem defina o seu próprio
caminho de sucesso. Não lhes dizemos que para
terem sucesso têm de fazer determinadas coisas
e ter nota máxima em todos os exames. Não têm
de ser estrelas de futebol. Têm sim de trabalhar
arduamente e procurarem as áreas em que têm
mais sucesso, perseguindo-as depois como se se
tratasse de um sonho de vida”, salientou.
Tudo nesta escola é feito a pensar no aluno, desde
as atividades, às próprias instalações que refletem
isso mesmo. O desenvolvimento da criatividade,
do espírito de equipa, da solidariedade e da liderança caminha lado a lado com uma educação
que se quer ampla e completa. A amplitude do
conhecimento é, aliás, um dos maiores benefícios
de uma educação americana. “Provavelmente a
grande diferença entre o sistema americano e
outros consiste no facto de nós não etiquetarmos
os jovens para tirarem grandes notas. É óbvio que
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isso é fundamental, mas para ser um ser humano
de sucesso tem que ter bem mais do que notas altas nos exames”, defendeu Blannie Curtis. Como
país de segundas oportunidades, nos EUA há liberdade para se ser o que se quiser. “Se um jovem
estudou para ser matemático e, depois, na faculdade, percebe que quer ser um artista, eu estou
inteiramente do lado dele”, partilhou.
É esta a filosofia da CAISL. Sendo uma escola de
excelência, mais do que ensinar factos da história ou regras da matemática, aqui o objetivo será
sempre o de ensinar o jovem a aprender, a descobrir e a pensar por si mesmo. Blannie Curtis,
a eterna professora de inglês que nunca descarta
uma ida a Nova Orleães todos os verões, deixou
por isso uma mensagem aos seus pupilos: “acreditem em vocês e trabalhem para que essas crenças estejam sempre no devido lugar. Se algo correr mal, voltem atrás, ultrapassem e continuem o
vosso caminho”.
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