UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Luiza Prado Ricardo dos Santos
RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA
CURITIBA
2010
RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA
CURITIBA
2010
Luiza Prado Ricardo dos Santos
RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de Medicina
Veterinária da Faculdade de Ciências e
Saúde da Universidade Tuiuti do
Paraná, como requisito parcial para a
obtenção
do
grau
de
Médica
Veterinária.
Professor Orientador: Prof
Manoel Lucas Javorouski
o
M.Sc.
Orientador Profissional: M.Sc. James
M. Rasmussen
CURITIBA
2010
Reitor
Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor Administrativo
Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Prof ª. Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor de Planejamento
Sr. Afonso Celso Rangel Santos
Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Profº. João Henrique Faryniuk
Coordenador do Curso de Medicina Veterinária
Prof ª. Ana Laura Angeli
Campus Prof. Sydnei Lima Santos (Barigüi) e Reitoria
R. Sydnei Antônio Rangel Santos
CEP 82.010-330 – Santo Inácio
Fone (41) 3331-7700
TERMO DE APROVAÇÃO
Luiza Prado Ricardo dos Santos
RELATÓRIO DO ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA
Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Médica
Veterinária no Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, 03 de dezembro de 2010
Medicina Veterinária
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador:
Profº. M.Sc. Manoel Lucas Javorouski
Profº. de Clínica de Animais Selvagens e de Zoológico da UTP
Profº. Antônio Carlos do Nascimento
Profº. de Zootecnia Geral da UTP
Profª. M.Sc.Taís Marchand Rocha Moreira
Profª. de Clínica Médica de Pequenos Animais I e II e Semiologia Veterinária da UTP
Diretora da Clínica Escola de Medicina de Veterinária da UTP
Dedico este trabalho a Deus e a todos
aqueles
que
atuam no
bem,
principalmente aqueles que ainda têm
fé na justiça e na honestidade.
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas mantiveram um papel essencial neste meu caminho de
descoberta, participando ativamente nas discussões quanto aos meus anseios e
devaneios, tanto acadêmicos, como pessoais, me incentivando e acreditando
sempre no meu potencial.
Mãe, obrigada por sempre acreditar em mim, por me incentivar a prosseguir
não importando quais fossem os obstáculos, pelos abraços, carinhos, as motivações
e confiar nas idéias maluquinhas que tenho de vez em quando. Pai, obrigada por
sempre estar do meu lado, pelo amor e a atenção. Por me ensinar a lutar pelo que
acreditamos e levar a vida com alegria e esperança. Thaysa, minha melhor amiga e
terceira mãe, obrigada por sempre me apoiar. Você é meu orgulho, não tem como
eu expressar o quanto te admiro, desde pequena. Vó Edy, que sempre foi minha
segunda mãe em todos os ensinamentos e ajudas, a senhora é uma vencedora que
sempre me inspirei em sua força. Felipe, meu noivo lindo, meu melhor amigo, meu
confidente. Nossa vida juntos só está começando, mas obrigada por sempre me
auxiliar em tantos momentos difíceis com palavras de amor e carinho me ajudando a
não desistir e a acreditar. Eu te amo muito. Natasha, minha irmãzinha, sempre
estarei aqui para você. Povo de Blu, vocês estão sempre no meu coração e no meu
pensamento.
E finalmente, porém não menos importante, agradeço a instituição e a todos
os meus mestres, principalmente aqueles que alimentaram os meus sonhos e minha
fé contribuindo para meu desenvolvimento acadêmico. Obrigada professor Manoel
pela ajuda e orientação na elaboração deste trabalho de conclusão do curso. A
todos os que de forma direta ou indireta, contribuíram para o alcance da conclusão
desta etapa da minha formação acadêmica.
"Primeiro
foi
necessário
civilizar o homem em relação
ao próprio homem. Agora é
necessário civilizar o homem
em relação à natureza e aos
animais. " Victor Hugo.
APRESENTAÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao curso de
Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da
Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de
Médica Veterinária, na qual são descritas as atividades realizadas por Luiza Prado
Ricardo dos Santos durante o período de 26 de julho de 2010 a 1º de outubro de
2010, no Hospital Veterinário do Zoológico de Minnesota nos Estados Unidos da
América cumprindo estágio curricular obrigatório.
RESUMO
O objetivo deste trabalho é descrever as atividades desenvolvidas durante o período
do estágio curricular no Hospital Veterinário do Zoológico de Minnesota nos Estados
Unidos da América, no período de 26 de julho de 2010 a 1º de outubro de 2010. São
descritos alguns casos clínicos acompanhados, além de procedimentos realizados e
instalações do hospital veterinário. Este trabalho foi elaborado pela acadêmica
Luiza Prado Ricardo dos Santos do curso de Medicina Veterinária da Universidade
Tuiuti do Paraná.
Palavras chave: Estágio curricular; Animais Selvagens; Medicina Veterinária;
Zoológico.
ABSTRACT
The aim of this paper is to describe the activities undertaken during the period of the
obligatory externship at the Veterinary Hospital of the Minnesota Zoo in the United
States, from July 26, 2010 to 1st October 2010. Additionally, some clinical cases
accompanied, besides the facilities and procedures. This work was done by the
academic Luiza Prado Ricardo dos Santos, student of the Veterinary Medicine
course of Tuiuti’s University.
Keyword: obligatory externship; Wildlife; Veterinary Medicine; Zoo.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS..................................................................................................14
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................15
LISTA DE GRÁFICOS................................................................................................18
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS ................................................19
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................20
2. OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO........................................................................21
3.OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO...........................................................22
4. LOCAL DO ESTÁGIO............................................................................................23
4.1. SALA DE PROCEDIMENTO...............................................................................26
4.2. SALA DE NECROPSIA.......................................................................................28
4.3. LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS........................................................29
4.4. INTERNAMENTOS.............................................................................................30
4.5. CENTRO CIRÚRGICO........................................................................................30
4.6. QUARENTENA....................................................................................................33
4.7. SALA DE MEDICAMENTOS...............................................................................33
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..........................................................................34
5.1. CASUÍSTICA.......................................................................................................36
6. CASOS CLÍNICOS.................................................................................................38
6.1. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA EM OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris, G. FISHER, 1814) ...................................................................................38
6.1.1. Revisão de literatura.........................................................................................38
6.1.1.1. Biologia..........................................................................................................38
6.1.1.2. Insuficiência Cardíaca...................................................................................39
6.1.1.2.1. Fisiopatologia.............................................................................................39
6.1.1.2.2. Etiologia......................................................................................................40
6.1.1.2.3. Sinais Clínicos............................................................................................41
6.1.1.2.4. Diagnóstico.................................................................................................41
6.1.1.2.5. Tratamento.................................................................................................43
6.1.1.2.6. Prognóstico.................................................................................................45
6.1.2. Relato de caso..................................................................................................45
6.1.3. Discussão.........................................................................................................51
6.2. PARAPOXVIRUS EM BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus, ZIMMERMANN,
1780) .........................................................................................................................53
6.2.1. Revisão de literatura.........................................................................................53
6.2.1.1. Biologia..........................................................................................................53
6.2.1.2. Ectima Contagioso........................................................................................55
6.2.2. Relato de caso..................................................................................................58
6.2.3. Discussão.........................................................................................................61
6.3. LESÃO CRÔNICA EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei,
BLYTH, 1853) ............................................................................................................63
6.3.1. Revisão de Literatura.......................................................................................63
6.3.1.1. Biologia..........................................................................................................63
6.3.1.2. Dermatologia em Répteis..............................................................................65
6.3.2. Relato de caso..................................................................................................67
6.3.3. Discussão.........................................................................................................71
7. CONCLUSÃO........................................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................74
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 ATIVIDADES CLÍNICAS REALIZADAS NO PERÍODO DE 26 DE
AGOSTO A 01 OUTUBRO DE 2010, NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, USA...................................................................36
TABELA 2 - PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE
26 DE AGOSTO A 01 OUTUBRO DE 2010, NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, USA...................................................................37
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 - MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, NO
ESTADO
DE
MINNESOTA,
CIDADE
DE
APPLE
VALLEY,
EUA............................................................................................................................23
FIGURA 2: VISTA PARCIAL DA FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA............................................................................................................................25
FIGURA 3: SALA DE PROCEDIMENTOS HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA........................................................................26
FIGURA 4: PROCEDIMENTO DE CORREÇÃO DE BICO EM FALCÃO-PEREGRINO (Falco
peregrinus) REALIZADO NA SALA DE TRATAMENTO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.........................................................................................................................................27
FIGURA 5: PROCEDIMENTO ULTRA-SONOGRÁFICO PARA DIAGNÓSTICO DE
HEPATOPATIA EM LINCE-CANADENSE (Lynx canadensis), REALIZADO NA SALA DE
TRATAMENTO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.......................................................27
FIGURA 6: SALA DE NECROPSIA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE
MINNESOTA, HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.......................................................28
FIGURA 7: PROCEDIMENTO DE NECROPSIA REALIZADO EM BISÃO-AMERIACANO
(Bison bison) NO LABORATÓRIO DE DIAGNÓSTICO DA UNIVERSIDADE DE
MINNESOTA, USA.................................................................................................................29
FIGURA 8: LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.........................................................................................................................................30
FIGURA 9: CENTRO CIRÚRGICO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO
DE
MINNESOTA,
LOCALIZADO
EM
APPLE
VALLEY,
MINNESOTA,
EUA.........................................................................................................................................31
FIGURA 10: PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO DE ROTINA EM LONTRA-ANÃORIENTAL (Aonyx cinerea) REALIZADO NO CENTRO CIRÚRGICO DO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA........................................32
FIGURA 11: INDUÇÃO ANESTÉSICA DE LINCE-CANADENSE (Lynx canadensis)
EM CÂMARA DE CONTENÇÃO, PARA EXAME DE ROTINA, REALIZADA NO
CENTRO CIRÚRGICO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE
MINNESOTA, EUA.....................................................................................................32
FIGURA 12: RAPTOR CENTER LOCALIZADO NA UNIVERSIDADE DE
MINNESOTA, NA CIDADE DE MINNEAPOLIS, EUA................................................35
FIGURA 13: OURIÇO PIGMEU AFRICANO (Atelerix albiventris).............................38
FIGURA
14:
CONTENÇÃO
QUÍMICA
COM
ISOFLURANO
EM
OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix albiventris) PARA EXAME RADIOGRÁFICO
NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM
APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.............................................................................46
FIGURA 15: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO LATERO-LATERAL NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA (A) SILUETA CARDÍACA
AUMENTADA GENERALIZADA. (B) HEPATOMEGALIA (C) OPACIDADE DA
REGIÃO PULMONAR; EDEMA PULMONAR............................................................47
FIGURA 16: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO LATERO-LATERAL APRESENTANDO UM
ANIMAL SAUDÁVEL, COM PARÂMETROS CONSIDERADOS NORMAIS PARA A
ESPÉCIE....................................................................................................................48
FIGURA 17: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO VENTRO-DORSAL NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA. (A) ABDÔMEN
DISTENDIDO; GRANDE QUANTIDADE DE CONTEÚDO FECAL E GÁS. (B)
OPACIDADE DA REGIÃO PULMONAR; EDEMA PULMONAR................................49
FIGURA 18: BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) NO RECINTO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.............................................................................................................................54
FIGURA 19: LESÃO CARACTERÍSTICA DE ECTIMA CONTAGIOSO EM REGIÃO
OCULAR DIREITA DE BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO ACERVO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.............................................................................................................................59
FIGURA 20: LESÃO CARACTERÍSTICA DE ECTIMA CONTAGIOSO EM MEMBRO
POSTERIOR ESQUERDO DE BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO
ACERVO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY,
MINNESOTA, EUA.......................................................................................................59
FIGURA 21: BIÓPSIA DE PELE EM BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO
ACERVO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY,
MINNESOTA, EUA.......................................................................................................60
FIGURA 22: JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei).......................63
FIGURA 23: DIFERENCIAÇÃO EM ENTRE AS SUBESPÉCIES DE Manouria emys.
(esq.) Manouria emys phayrei. (dir.) Manouria emys emys.......................................64
FIGURA 24: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei).
APARÊNCIA DA LESÃO EM PRIMEIRA AVALIAÇÃO NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE
VALLEY, MINNESOTA, EUA.........................................................................................68
FIGURA 25: CURATIVO SUTURADO PARA MELHOR FIXAÇÃO EM LESÃO
CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO DIREITA DE PESCOÇO
EM
JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO
(Manouria
emys
phayrei).
HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE
VALLEY, MINNESOTA, EUA.........................................................................................69
FIGURA 26: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
APÓS QUATRO DIAS DE TRATAMENTO SEM APRESENTAR MELHORA.
HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM
APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.............................................................................69
FIGURA 27: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
APARÊNCIA DA LESÃO UMA SEMANA APÓS INÍCIO DE TRATAMENTO (Esq.).
LESÃO APÓS O DEBRIDAMENTO E LIMPEZA, COM APARÊNCIA DE TECIDO
SAUDÁVEL (Dir.). HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA..................................................70
FIGURA 28: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
LESÃO NO ÚLTIMO DIA DE TRATAMENTO COM TECIDO SAUDÁVEL E SEM
PRESENÇA DE MATERIAL PURULENTO. HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.............................................................................................................................71
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 - ÚLTIMO CENSO DE ANIMAIS REALIZADO EM JUNHO DE 2010 NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA........................................................................24
GRÁFICO 2 - CASUÍSTICA DE PROCEDIMENTOS REALIZADOS NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA, NO PERÍODO DE 26 DE
JULHO A 01 DE OUTUBRO DE 2010.......................................................................36
LISTA DE ABREVIATURAS
HVMNZ
HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA
IC
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
ICC
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA
IECA
INIBIDOR DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA
NYHA
NEW YORK HEART ASSOCIATION
20
1. INTRODUÇÃO
O presente relatório tem como objetivo apresentar e descrever as atividades
desenvolvidas durante o estágio curricular obrigatório realizado no Hospital
Veterinário do Zoológico de Minnesota (Minnesota Zoological Garden) (HVMNZ) no
período de 26 de julho a 1º de outubro de 2010. O zoológico está localizado na
cidade de Apple Valley, Estado de Minnesota, Estados Unidos da América.
A realização de estágio em medicina de animais de zoológico fora do país
teve por objetivo aprimorar os conhecimentos obtidos durante a graduação e aplicálos de uma forma mais prática em um local que apresente uma grande rotina de
procedimentos.
Esse estágio não trouxe apenas uma oportunidade de aprendizado
profissional, mas também de experiência pessoal, com a vivência em diferentes
costumes sociais e abordagem em procedimentos veterinários.
21
2. OBJETIVO GERAL DO ESTÁGIO
Aprimorar e praticar conhecimentos teóricos e práticos obtidos durante a
graduação envolvendo manejo e medicina de animais selvagens, além de outras
áreas de aprendizado envolvidas na clínica.
22
3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO ESTÁGIO
Acompanhar a rotina em um Hospital Veterinário dentro de um Zoológico de
grande porte; aprimorar os conhecimentos sobre a biologia e medicina de espécies
selvagens; auxiliar no diagnóstico e tratamento das enfermidades; realizar e
interpretar hemogramas e exames bioquímicos de animais selvagens; realizar
necropsias; confeccionar dardos e treinar o uso da pistola de CO2.
23
4. LOCAL DO ESTÁGIO
O presente estágio foi realizado no Hospital Veterinário do Zoológico de
Minnesota (Minnesota Zoological Garden) (HVMNZ) no período de 26 de julho a 1º
de outubro de 2010. O zoológico está localizado na cidade de Apple Valley, Estado
de Minnesota, Estados Unidos da América (Figura 1).
FIGURA 1: MAPA DA LOCALIZAÇÃO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, NO
ESTADO DE MINNESOTA, CIDADE DE APPLE VALLEY, EUA.
Fonte: http://www.iepc2009.org/about/ann_arbor
Fundado em 22 de maio de 1978, com a função de conectar as pessoas aos
animais e a natureza. Os programas de educação ambiental e conservação, por ele
desenvolvidos, são conhecidos mundialmente. O Zoológico de Minnesota é uma
instituição credenciada da Associação de Zoológicos e Aquários (Association of
Zoos and Aquariums - AZA) e membro institucional da Aliança dos Parques e
Aquários de Mamíferos Marinhos (Alliance of Marine Mammal Parks and Aquariums)
24
e da Associação Mundial de Zoos e Aquários (World Association of Zoos and
Aquariums - WAZA).
A última contagem dos animais do acervo foi realizada dia 30 de junho de 2010,
totalizando 3.681 animais, sendo 514 espécies diferentes (Gráfico 1). Essa análise
inclui peixes/invertebrados, aves, mamíferos e répteis/anfíbios.
GRÁFICO 1: ÚLTIMO CENSO DE ANIMAIS REALIZADO EM JUNHO DE 2010 NO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Página eletrônica do Zoológico de Minnesota (www.mnzoo.org)
O Hospital Veterinário (Figura 2) está localizado no departamento de Saúde
Animal (Animal Health), onde também se localiza o setor de conservação do
zoológico. Nesse departamento estão instalados: a sala de procedimentos, a sala de
necropsia, os escritórios, o laboratório de análises clínicas, o centro cirúrgico, a sala
dos répteis, os internamentos internos e externos, a sala de medicamentos,
quarentena e a cozinha.
a
25
FIGURA 2: VISTA PARCIAL DA FACHADA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
O hospital veterinário utilizava um banco de dados muito conhecido nos
Estados Unidos chamado de Medarks. Este é um programa para organizar dados
de
animais e
manutenção
de
registros que
facilita
a
documentação
e
acompanhamento de informações específicas para os animais atendidos por
instituições AZA-credenciados. Esse banco de dados possui alguns programas que
se especializam em diferentes aspectos de manutenção de registros do animal,
incluindo os dados médicos e genealógico. Os registradores de zoológicos e
aquários também podem inserir informações e link com os sistemas de dados
maiores, incluindo o Sistema Internacional de Informação de Espécies (ISIS).
O departamento veterinário do HVMNZ é composto de três veterinários que
trabalham em conjunto na maioria dos casos clínicos e procedimentos; duas
técnicas em veterinária que são responsáveis em auxiliar os veterinários em
procedimentos, além de realizar e supervisionar todos os exames clínicos e
parasitológicos realizados no hospital; e três tratadoras responsáveis pelo manejo
dos animais na quarentena e internamento.
26
4.1.
SALA DE PROCEDIMENTO
A sala de procedimento comporta o tratamento de animais de pequeno e médio
porte (Figura 3 e 4). Os demais animais são atendidos diretamente no recinto de
manutenção daquele animal.
FIGURA 3: SALA DE PROCEDIMENTOS HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
Essa sala possui duas máquinas de anestesia inalatória, nas quais sempre é
usado o gás isoflurano; uma mesa de procedimento acoplada com uma balança;
uma mesa e aparelho de radiografia; geladeira com vacinas e medicamentos que
necessitam de refrigeração; aparelho de ultra som (Figura 5) e endoscopia; armários
com medicamentos de emergência; um computador para facilitar o acesso da ficha
clínica dos animais; armário com seringas, agulhas e equipamentos necessários
para exames físicos, coleta de amostras e monitoração dos animais. Junto a essa
sala também está o almoxarifado e a sala para revelação de radiografias, além de
equipamentos de contenção como câmaras de gás, gaiolas e luvas de couro.
27
FIGURA 4: PROCEDIMENTO DE CORREÇÃO DE BICO EM FALCÃO-PEREGRINO (Falco
peregrinus) REALIZADO NA SALA DE TRATAMENTO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
FIGURA 5: PROCEDIMENTO ULTRA SONOGRÁFICO PARA DIAGNÓSTICO DE
HEPATOPATIA EM LINCE-CANADENSE (Lynx canadensis), REALIZADO NA SALA DE
TRATAMENTO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
28
FF
4.2.
SALA DE NECROPSIA
No HVMNZ os procedimentos de necropsia eram realizados nos animais em que
não estivesse apresentando algum caso de enfermidade crônica e a causa do óbito
fosse perceptível (Figura 6). Os animais eram pesados e dados de todos esses
procedimentos eram armazenados no sistema de dados.
O hospital veterinário do zoológico mantém uma parceria com a Universidade de
Minnesota localizada em Minneapolis, já que os três veterinários eram professores
da Universidade, a maioria dos procedimentos de necropsia era encaminhada para o
Laboratório de Diagnóstico da Universidade (Figura 7). Esse laboratório realizava
histopatológico e bacteriológico para todos os animais que recebiam.
FIGURA 6: SALA DE NECROPSIA DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE
MINNESOTA, HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
29
FIGURA 7: PROCEDIMENTO DE NECROPSIA REALIZADO EM BISÃO-AMERIACANO
(Bison bison) NO LABORATÓRIO DE DIAGNÓSTICO DA UNIVERSIDADE DE
MINNESOTA, USA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
4.3.
LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS
A maioria das análises clínicas e todos os exames parasitológicos eram
realizados no próprio hospital veterinário do zoológico pelas técnicas em veterinária.
O laboratório era anexo a cozinha e ao depósito do hospital, e nele estão guardadas
todas as fichas clínicas dos animais em quarentena.
O laboratório era equipado com duas centrífugas, um homogenizador para tubos,
três microscópios, um analisador bioquímico, um refratômetro, um contador
eletrônico de hemograma (apesar de que a maioria dos exames era contada
manualmente devido às particularidades celulares) além entre outros diversos
equipamentos (Figura 8).
30
FIGURA 8: LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
Todos os dias eram realizados pelo menos dez exames parasitológicos e três ou
mais hemogramas e bioquímicos.
4.4.
INTERNAMENTOS
O hospital possui quatro salas internas para internamento, cada uma com dois a
seis recintos, além de seis recintos externos. Os recintos comportam animais de
pequeno a médio-grande porte. Quando um animal maior necessita de internamento
fica alojado em recintos reservas localizados em um prédio próximo ao hospital
veterinário.
4.5.
CENTRO CIRÚRGICO
A sala de cirurgia do hospital veterinário do zoológico é equipada com um
aparelho de mamografia para realizar radiografias em animais de menor porte, uma
31
incubadora, um aparelho de endoscopia, um kit de tratamento dentário, além de
material esterilizado que seja necessário para algum procedimento (Figura 9).
FIGURA 9: CENTRO CIRÚRGICO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO
DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
Apesar de o HVMNZ possuir um centro cirúrgico, a maioria das cirurgias é
realizada no centro cirúrgico da Universidade de Minnesota, principalmente quando
se trata de um procedimento mais especificado. No hospital veterinário do zoológico
são realizados apenas pequenos procedimentos que não envolvam muita
complicação (Figuras 10 e 11).
32
FIGURA 10: PROCEDIMENTO ODONTOLÓGICO DE ROTINA EM LONTRA-ANÃORIENTAL (Aonyx cinerea) REALIZADO NO CENTRO CIRÚRGICO DO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
FIGURA 11: INDUÇÃO ANESTÉSICA DE LINCE-CANADENSE (Lynx canadensis)
EM CÂMARA DE CONTENÇÃO, PARA EXAME DE ROTINA, REALIZADA NO
CENTRO CIRÚRGICO DO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE
MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
33
4.6.
QUARENTENA
Todos os animais recebidos pelo zoológico devem passar por um período de
quarentena que varia de acordo com a espécie. Apenas os peixes possuem um
protocolo no qual podem passar o período de quinze dias de quarentena em tanques
próximos ao recinto onde serão alojados.
Em geral os mamíferos e aves devem ter um período de trinta dias na
quarentena. Na primeira semana, após o animal receber uma alimentação
controlada e apresentar um comportamento mais passivo, é realizado um exame
completo, com coleta de sangue e pêlos/penas para análises.
Caso o animal não apresente nenhum quadro de maior preocupação, apenas os
tratamentos preventivos são realizados. São coletadas três amostras de fezes para
parasitológico e os mamíferos recebem duas doses de vermífugo nesse período de
trinta dias. Ao final é realizado outro exame de quarentena e, caso o animal se
apresente saudável e sem sinal de parasitas, é liberado para o recinto.
4.7.
SALA DE MEDICAMENTOS
Localizada próxima a sala de tratamento, apenas os veterinários possuíam a
chave do local devido aos anestésicos e medicamentos controlados que eram
armazenados. Os equipamentos utilizados para contenção química dos animais
também eram armazenados nesse local.
34
5. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
As atividades do estágio no Hospital Veterinário do Zoológico de Minnesota
iniciavam-se diariamente às oito horas da manhã e encerravam-se às cinco horas da
tarde, com uma hora de intervalo para o almoço, totalizando uma carga horária de
oito horas diárias, de segunda a sábado.
As funções do estagiário durante os procedimentos variam de acordo com o que
o médico veterinário responsável pelo caso determinasse antes do procedimento,
mas, em geral, envolviam a preparação dos equipamentos e medicamentos para
todos os procedimentos realizados naquele dia: o exame físico, sob supervisão de
um médico veterinário, em todos os animais anestesiados; a coleta de sangue dos
animais que fossem necessários; além de monitorar anestesia e parâmetros físicos.
As responsabilidades gerais do estágio são separadas por semana, para que o
aluno possa se aprimorar nas diferentes áreas encontradas em um zoológico. Todos
os sábados, o estagiário passa o dia nas diferentes áreas com diferentes tratadores.
O zoológico é composto de dez áreas diferentes: Animais Tropicais, Aquários,
Mamíferos
Marinhos,
Ruminantes,
Educação
Ambiental,
Fazenda,
Animais
Regionais, Aves, Show das Aves e Quarentena.
Na primeira semana são apresentadas as áreas do hospital, assim como o
manuseio do programa de dados, para que fosse possível o estagiário ser
responsável em colocar as fichas clínicas de todos os procedimentos em dia.
Na segunda semana de estágio inicia-se um treinamento em análises
sanguíneas das diferentes espécies encontradas em um zoológico que continua
durante todo o estágio. O estagiário deve aprender sobre as particularidades de
35
cada espécie e realizar o hemograma dos animais que tiveram seu sangue coletado.
Em seguida, interpretá-lo e inserir no banco de dados Medarks.
As semanas seguintes o estagiário passa por um treinamento em preparo e uso
dos dardos, e de preparar protocolos anestésicos que seriam revisados pelo
veterinário responsável antes do procedimento. Após a terceira semana, iniciam-se
também as análises parasitológicos que devem ser realizadas em todos os animais
anestesiados e no grupo do acervo determinado por um roteiro naquela semana.
Na quarta semana do presente estágio foi possível acompanhar durante dois
dias a rotina de um centro de reabilitação de rapinantes, localizado na cidade de
Minneapolis, na Universidade de Minnesota. O centro é conhecido como Minnesota
Raptor Center (Figura 12) e acolhe, em média 100 aves de rapina internadas. Essas
aves chegam ao centro por diversos motivos, como a caça ilegal, alguma
enfermidade que impossibilita o comportamento selvagem esperado, atropelamentos
e traumas. No centro, o estagiário tem a possibilidade de realizar exames físicos,
troca de curativos, coleta de amostra e necropsia.
FIGURA 12: RAPTOR CENTER LOCALIZADO NA UNIVERSIDADE DE
MINNESOTA, NA CIDADE DE MINNEAPOLIS, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
36
5.1.
CASUÍSTICA
No período do estágio foram acompanhados 796 procedimentos clínicos, sendo
onze peixes, quatorze anfíbios, 45 répteis, 416 aves e 310 mamíferos. Estes
procedimentos
também
incluem
exames
de
rotina
realizados,
exames
parasitológicos e vacinações.
GRÁFICO 2: CASUÍSTICA DE PROCEDIMENTOS NO PERÍODO DE 26 DE JULHO
A 01 DE OUTUBRO DE 2010, NO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM
APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
1%
Casuística
2%
6%
Peixes
52%
Anfíbios
39%
Répteis
Mamíferos
Aves
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
TABELA 1: ATIVIDADES CLÍNICAS REALIZADAS NO PERÍODO DE 26 DE
AGOSTO A 01 OUTUBRO DE 2010, NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Aves Mamíferos Répteis Peixes Anfíbios
3
Casos clínicos
6
Cirurgia
10
Exame de quarentena
2
Exame de rotina
Exame de rotina/Tratamento 0
46
Exame pré embarque
1
Exame visual
9
Necropsia
336
Parasitológico
6
Tratamento
416
Total
49
3
3
0
4
6
26
13
29
78
2
50
99
307
0
1
5
0
24
0
0
5
12
47
0
0
0
0
0
1
4
1
5
11
0
3
0
0
0
0
5
7
0
15
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
37
TABELA 2: PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS REALIZADOS NO PERÍODO DE 26
DE AGOSTO A 01 OUTUBRO DE 2010, NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Nome Comum
Espécie
Antilocapra
Antilocapra americana
Antilocapra
Antilocapra americana
Lemure Vermelho
Varecia rubra
Rena Americana
Rangifer t. caribou
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Zarro Castanho
Aythya nyroca
Procedimento
Orquiectomia, Remoção dos cornos
Orquiectomia
Hérnia abdominal
Orquiectomia
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Remoção de primeiros dígitos de asa direita
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
38
6.
CASOS CLÍNICOS
6.1. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA EM OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO
(Atelerix albiventris, G. FISHER, 1814)
6.1.1. Revisão de Literatura
6.1.1.1. Biologia
O Ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris) é um mamífero da ordem
Eulipotyphla da família Erinaceidae (Figura 13) (HUTTERER, 2008). Essa espécie é
encontrada apenas na África Central, é uma espécie pouco conhecida que habita
savanas e áreas com vegetação a base de gramínea (COSGROVE, 1986). De
acordo com Baumgartner e Isenbugel (1993) esses animais formam ninhos em
fendas de rochas, em árvores ocas e habitats semelhantes.
Esses animais possuem uma expectativa de vida de sete a dez anos, e os
adultos podem alcançar até vinte centímetros de comprimento (HUTTERER, 2008).
São animais insetívoros, noturnos e solitários, que apresentam um dimorfismo
sexual evidente com as fêmeas menores e apresentando uma coloração mais clara
que os machos (BAUMGARTNER e ISENBUGEL, 1993).
FIGURA 13: OURIÇO PIGMEU AFRICANO (Atelerix albiventris).
Fonte: http://www.projecto-exotico.com/animalia/mammalia/atelerixalbiventris
39
6.1.1.2. Insuficiência Cardíaca
6.1.1.2.1. Fisiopatologia
Segundo Keene e Bonagura (2008), a Insuficiência Cardíaca (IC) não é uma
doença específica, mas um distúrbio fisiopatológico no qual o débito cardíaco não
consegue manter as necessidades de perfusão dos tecidos metabolizantes,
limitando, desta maneira, a capacidade de exercícios. Essa síndrome não é de
diagnóstico específico, podendo ser decorrente de um ou mais processos
subjacentes (COUTO, 2008).
A IC pode ser causada por uma incapacidade do coração em ejetar sangue,
adequadamente conhecida como insuficiência sistólica; por um enchimento
ventricular inadequado, que chamamos de insuficiência diastólica; ou até por uma
combinação de ambas (MORAIS, 2004). Segundo Andrade (2007) o animal pode
apresentar uma IC esquerda, a qual ocorre no átrio esquerdo e nas veias
pulmonares, que pode levar a edema pulmonar, ou uma IC direita, que acomete o
átrio direito e veias sistêmicas, podendo causar uma hepatomegalia, ascite e até
distensão jugular.
Quando o coração não consegue atingir as demandas do organismo, ocorre
uma elevação na pressão venosa e capilar, ocasionando uma congestão venosa,
com extravasamento de líquido intravascular para o interstício ou cavidades
corpóreas, quando isso ocorre chamamos de Insuficiência Cardíaca Congestiva
(ICC) (ANDRADE, 2007).
A ICC trata-se de um estado avançado fisiopatológico de IC, caracterizado
por retenção renal de sódio, pressão venosa elevada e acúmulo de fluídos no
40
pulmão, nos tecidos subcutâneos e nas cavidades corporais (KEENE e
BONAGURA, 2008).
6.1.1.2.2. Etiologia
A IC geralmente é causada por afecções do coração, mas o animal cardiopata
não irá necessariamente apresentar sinais clínicos de congestão ou baixo débito
cardíaco (ANDRADE, 2007). É uma doença progressiva e fatal que para se
identificar a fase em que o paciente se encontra foi proposta uma classificação pelo
New York Heart Association (NYHA) (COUTO, 2008).
Segundo Couto (2008), essa proposta está dividida em quatro classes
funcionais baseadas na avaliação clínica, sem considerar etiologia e função
miocárdica. A Classe I apresenta os pacientes assintomáticos que possuem sopro
ou arritmias, porém sem sinais clínicos visíveis; a Classe II é considerada um nível
moderado da doença, com o animal apresentando certa intolerância a exercícios,
tosse, mas sem influenciar na sua qualidade de vida. Já a Classe III é um estágio
mais avançado com tosse, cardiomegalia importante no exame radiográfico e edema
pulmonar; por último a Classe IV traz uma sintomatologia grave, com o animal
apresentando sinais quando esta em repouso, e sinais radiográficos de ICC,
cardiomegalia, efusão pleural e abdominal.
As causas da IC são diversas e podem ser separadas de acordo com grupos
fisiopatológicos gerais como: insuficiência miocárdica, sobrecarga de pressão,
sobrecarga de volume e complacência ventricular reduzida. De acordo com Couto
(2008) a maioria dos casos de IC recai em um desses grupos, porém existem outras
41
anormalidades presentes como, por exemplo, anormalidades de funções sistólicas e
diastólicas.
As causas mais importantes de IC são: endocardiose de válvulas mitral e
tricúspide, cardiomiopatia dilatada, efusão pericárdica, hipertensão sistêmica,
hipertensão pulmonar, arritmias, endocardite bacteriana, doenças cardíacas
congênitas e dirofilariose (KEENE e BONAGURA, 2008).
6.1.1.2.3. Sinais Clínicos
De acordo com Schwartz e Melchert (2008) os sinais clínicos da ICC podem
ser subdivididos em três grupos: sinais de baixo débito, sinais congestivos no lado
esquerdo e sinais congestivos no lado direito. Dentre dos sinais de baixo débito
incluem-se cansaço, fraqueza ao exercício, síncope, azotemia pré-renal, cianose e
arritmias cardíacas; já em sinais congestivos no lado esquerdo observamos
congestão pulmonar e edema (tosse, taquipnéia, dispnéia, ortopnéia, estertores,
cianose, hemoptise, e cansaço), ICC direita secundária e arritmias cardíacas.
Finalmente nos sinais congestivos no lado direito estão a congestão venosa
sistêmica (distensão jugular), congestão hepática, congestão esplênica, efusão
pleural, ascite, efusão pericárdica, edema subcutâneo e arritmias cardíacas.
(SCHWARTZ e MELCHERT, 2008)
6.1.1.2.4. Diagnóstico
Para Keene e Bonagura (2008), a identificação das formas e causas das
doenças cardíacas, assim como a classificação dos mecanismos fisiopatológicos da
IC, permite um direcionamento da terapia recomendada, com um diagnóstico mais
acurado. O diagnóstico da doença cardíaca pode ser realizado inicialmente
42
avaliando a idade, a espécie, o sexo e a raça do animal, e de acordo com a
anatomia e a morfologia das lesões, a etiologia da doença, baseado nos sinais
clínicos
juntamente
com
exames
complementares
como
radiografia,
ecocardiograma, eletrocardiograma e testes laboratoriais clínicos.
As radiografias torácicas são importantes para avaliação do coração, dos
pulmões e do espaço pleural, sendo importante a observação de cardiomegalia, a
identificação de alterações vasculares e a observação de alterações compatíveis
com o ICC (MORAIS, 2004). As radiografias são essenciais para diagnóstico
diferencial de doenças respiratórias nesses animais (KEENE e BONAGURA, 2008).
De acordo com Morais (2004), o exame laboratorial é utilizado para confirmar
a presença e a causa da doença cardíaca, assim como a presença e a gravidade da
ICC. Os testes utilizados com uma maior rotina são: o teste para dirofilariose,
hemoculturas, níveis séricos de troponina cardíaca I, testes de função renal (uréia
sanguínea, creatinina sérica) e enzimas da musculatura estriada (creatinina cinase,
aspartato aminotranferase).
O ecocardiograma é um exame essencial para a confirmação do diagnóstico
da doença cardíaca. De acordo com Keene e Bonagura (2008) o exame identifica as
lesões cardíacas e a cardiomegalia, mede as funções sistólicas e diastólicas
ventricular, avalia a doença cardíaca valvular, identifica os padrões de fluxo anormal
e quantifica os gradientes de pressão.
A eletrocardiografia pode ser utilizada para avaliar o ritmo cardíaco, porém
oferece apenas uma informação indireta da função cardiovascular, portanto não
fornecendo critérios definitivos para diagnosticar a IC (MORAIS, 2004).
43
6.1.1.2.5. Tratamento
Segundo Schwartz e Melchert (2008) o tratamento de IC tem como principal
objetivo aumentar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente. Além
disso, seu tratamento visa diminuir os efeitos deletérios causado por uma série de
eventos perpetuados pelo organismo em uma tentativa de manter a pressão arterial
e o débito cardíaco (ANDRADE, 2007). Na maioria dos casos de ICC é
recomendável uma combinação de Furosemida, Oxigênio, Nitroglicerina e Sedação,
conhecido como FONS, pois é um tratamento aplicável na maioria dos casos
independente da causa (KEENE e BONAGURA, 2008).
A terapêutica utilizada irá depender do grau da doença determinado de
acordo com a proposta da NYHA, mas em geral pode utilizar diuréticos, inibidores da
enzima
conversora
de
angiotensina
(iECA),
digitálicos,
vasodilatadores,
simpatomiméticos, compostos bipiridínicos, além de terapia com oxigênio,
ansiolítico, supressores de tosse e caso necessário toracocentese/abdominocentese
(KITTLESON, 2004).
De acordo com Andrade (2007), na IC ocorre comumente edema e efusões,
devido à formação da angiotensina II que libera aldosterona causando retenção de
água e sódio, e aumento o volume do sangue circulante, aumentando a pressão
venosa e capilar, causando o extravasamento de líquido. Para isso usam-se os
diuréticos (na veterinária o de escolha é a Furosemida), que inibem a reabsorção de
eletrólitos e aumentam a excreção de íons sódio, cloreto, potássio, hidrogênio,
cálcio, magnésio e fosfato (KITTLESON, 2004).
44
De acordo com Tárraga (2006), quando existe a presença de disfunção
miocárdica sistólica, ou seja, quando o coração apresenta sua capacidade de
contração diminuída, os digitálicos são indicados como tratamento. Esses
medicamentos apresentam efeito inotrópico positivo, ou seja, inibindo a enzima
sódio-potássio-ATPase,
consequentemente
aumentando
o
cálcio
intracelular
(ANDRADE, 2007). Além disso, esses fármacos restabelecem os reflexos
barorreceptores, aumentam a atividade parassimpática nos nós sinusal e
atrioventricular e nos átrios, e diminuem os efeitos simpáticos. Todas essas ações
resultam na diminuição da freqüência cardíaca (TÁRRAGA, 2006).
Os vasodilatadores agem causando o relaxamento do músculo liso arteriolar
ou venoso, levando a vasodilatação, porém o efeito que esses fármacos exercem
sobre a vasculatura pulmonar é irregular e não significativo (KITTLESON, 2004). De
acordo com Tárraga (2006) esses fármacos visam controlar os efeitos deletérios
causados pela vasoconstrição, sendo classificados em três grupos, de acordo com
seu mecanismo de ação: os de ação direta venoso ou arteriolar, os bloqueadores
alfa-adrenérgicos e os iECA.
Segundo Schwartz e Melchert (2008), os iECA agem inibindo a conversão da
angiotensina I em angiotensina II, impedindo todo o processo de extravasamento de
líquidos da célula. Já os medicamentos bloqueadores alfa-adrenérgicos bloqueiam
os receptores a nível arterial e venoso, diminuindo o tono e a resistência vascular e
aumentando o desempenho cardíaco (TÁRRAGA, 2006). E os fármacos de ação
direta venosa ou arteriolar desviam o fluxo venoso ou arteriolar tentando melhorar a
pré-carga e pós-carga, no caso dos nitratos (TÁRRAGA, 2006);
45
As aminas simpatomiméticas agem aumentando a contração, a velocidade de
condução e a frequência cardíaca, ligando-se a receptores cardíacos betaadrenérgicos (KITTLESON, 2004). Porém, esses medicamentos não devem exceder
dois a três dias de uso continuo, pois diminuem a resposta inotrópica aos
simpatomiméticos, o que reduz a eficácia do medicamento.
De acordo com Kittleson (2004), os compostos bipiridínicos agem inibindo a
fração III da fosfodiesterase, que é uma enzima responsável pela degradação da
AMPc; o aumento da AMPc possui um efeito inotrópico no miocárdio, aumentando
sua contratilidade, além de produzir uma pequena dilatação arteriolar sistêmica.
Além das terapias apresentadas, pode ser realizado um tratamento de
suporte com oxigênio, ansiolítico, supressores de tosse e caso necessário um
procedimento de toracocentese/abdominocentese (SCHWARTZ e MELCHERT,
2008).
6.1.1.2.6. Prognóstico
Segundo Keene e Bonagura (2008), o prognóstico da ICC dependendo da
causa, da gravidade e dos cuidados recebidos pelo paciente, os animais podem
sobreviver até um ano após os primeiro sinais clínicos da ICC caso o proprietário
mantenha um cuidado correto com auxilio veterinário. Portanto é considerada uma
síndrome com um prognóstico geral de reservado a pobre.
6.1.2. Relato de caso
Um Ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris) fêmea, pesando 395g e com
quatro anos de idade foi atendido no Hospital Veterinário do Zoológico de Minnesota
46
(HVMNZ) no dia 10 de agosto de 2010 com histórico de ácaros e apresentando
dispnéia. Inicialmente o animal foi submetido à anestesia inalatória via câmara de
gás com isoflurano para a realização de exames clínicos e radiográficos (Figura 14).
FIGURA
14:
CONTENÇÃO
QUÍMICA
COM
ISOFLURANO
EM
OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix albiventris) PARA EXAME RADIOGRÁFICO
NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM
APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
O animal apresentava uma boa condição física (condição corporal de 3/5), um
acúmulo moderado de cálculo dentário e ácaros. Na auscultação foi observado um
sopro sistólico grau II/VI, e no exame radiográfico foi encontrado um padrão
pulmonar anormal (Figura 15, 16 e 17). Na região próxima ao coração e multifocal
ao pulmão foi encontrado um padrão intersticial pulmonar e também foi observado
um tamanho cardíaco aumentado Nesse momento, o animal foi tratado para ácaros,
com ivermectina, mas como nenhum outro diagnóstico havia sido confirmado, foi
47
coletado sangue para determinar o próximo passo para confirmação de uma
possível doença cardíaca como endocardite bacteriana ou uma doença pulmonar.
FIGURA 15: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO LATERO-LATERAL NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA (A) SILUETA CARDÍACA
AUMENTADA GENERALIZADA. (B) HEPATOMEGALIA (C) OPACIDADE DA
REGIÃO PULMONAR; EDEMA PULMONAR.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
48
FIGURA 16: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO LATERO-LATERAL APRESENTANDO UM
ANIMAL SAUDÁVEL, COM PARÂMETROS CONSIDERADOS NORMAIS PARA A
ESPÉCIE.
Fonte: Cosgrove (1986)
49
FIGURA 17: EXAME RADIOGRÁFICO DE OURIÇO-PIGMEU-AFRICANO (Atelerix
albiventris) EM POSICIONAMENTO VENTRO-DORSAL NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, EUA. (A) ABDÔMEN
DISTENDIDO; GRANDE QUANTIDADE DE CONTEÚDO FECAL E GÁS. (B)
OPACIDADE DA REGIÃO PULMONAR; EDEMA PULMONAR.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
50
Em 25 de agosto de 2010 o animal retornou ao hospital severamente
debilitado e com comprometimento respiratório. Foi relatado que há quatro dias esse
animal não estava se alimentando, além de apresentar tosse. O exame clínico
revelou caquexia, 10% de desidratação, sopro sistólico grau IV/VI, respiração muito
debilitada e pulso arterial fraco.
O hemograma indicou leucocitose, neutrofilia, monocitose, linfopenia e
basopenia, as quais podiam estar relacionadas a uma reação de estresse, mas
considerando o histórico desse animal era provável estar relacionada a uma reação
inflamatória, considerando que o animal estava apresentando uma pneumonia
secundária à insuficiência cardíaca. O exame bioquímico revelou um aumento na
uréia relacionado a azotemia pré-renal que também se pode associar a doença
cardíaca diagnosticada.
Em função do diagnóstico por meio dos sinais clínicos, raios-X e exames
clínicos iniciou-se um tratamento com furosemida-Lasix®, trimetoprim e sulfa,
solução fisiológica NaCl 0.9%, tendo o animal ficado internado na câmara de
oxigênio.
Foi agendado um eco-cardiograma na Universidade de Minnesota com
especialistas, para avaliar a severidade da doença, porém no dia seguinte o animal
veio a óbito.
Na necropsia foi confirmado o diagnóstico de insuficiência cardíaca
congestiva. Além de observado ascite moderada, hepatomegalia, edema pulmonar,
e que o coração apresentando uma dilatação moderada biventricular.
51
6.1.3. Discussão
A IC é um desafio para os médicos veterinários de todas as áreas, em
especial no caso do Ouriço-pigmeu-africano (Atelerix albiventris), para o que não
existe estudo aprofundado ou relatos de casos de ocorrência. Esses animais, por se
tratar de uma espécie selvagem, tendem a esconder os sinais clínicos e se afastar
dos tratadores quando apresentam algum desconforto.
A ICC é uma síndrome que, no caso desse animal, pode ser relacionada a
diversas origens. Como por exemplo, a cardiomiopatia dilatada, mesmo não se
tratando de um animal de grande porte e macho, não se sabe, por falta de estudos
suficientes o normal esperado para essa espécie, mais se encontra uma ICC tanto
de esquerda quanto de direita, assim como um aumento de câmaras cardíacas que
podem ser resultados dessa enfermidade.
Não pode ser também descartada a hipótese de um alto índice de estresse
acometido a esse animal, ela não se tratava de um animal idoso para a expectativa
de vida dessa espécie, porém sua função no zoológico era de enriquecimento
ambiental, o que aumentava a possibilidade de ter sido o causador da ICC pela
hipertensão causada.
Para esse animal não foi encontrado nenhum sinal de degeneração em
válvulas, descartando a possibilidade de endocardiose, assim como não foi
encontrado sinal de dirofilariose, endocardite bacteriana ou efusão pericárdica.
O animal atendido no HVMNZ apresentou uma sintomatologia clássica de ICC
verificada em pequenos animais, porém pela demora da confirmação do diagnóstico
não foi possível dar continuidade com um tratamento efetivo. Quando foi iniciado o
52
tratamento o animal já apresentava uma condição debilitada e irreversível, vindo a
óbito.
53
6.2. PARAPOXVIRUS EM BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus, ZIMMERMANN,
1780)
6.2.1. Revisão de Literatura
6.2.1.1. Biologia
O Boi-almiscarado (Ovibos moschatus) é um animal da ordem Artiodactyla, da
família Bovidae e subfamília Caprinae (DIETERICH e FOWLER, 1986). Segundo
Gunn e Forchhammer (2008), trata-se de uma ordem muito variada com cerca de
220 espécies que possui uma grande importância econômica ao homem. O
Boi-almiscarado (Figura 18) pode alcançar até 2,3 metros de comprimento e 1,5
metros de altura nos ombros, assim como pesar até 650 kg (GUNN E
FORCHHAMMER, 2008).
Segundo Dieterich e Fowler (1986), esses animais são herbívoros que no
estado selvagem se alimentam de gramíneas, amieiros, salgueiros e arbustos,
porém no cativeiro tiveram que se adaptar a fenos e alfafa. O seu nome provém do
cheiro característico de almíscar dos machos. Esse odor é produzido em alvéolos na
região interna do saco escrotal e armazenado na região abdominal (GREENISH,
1920).
Esses animais são nativos das regiões árticas do Canadá, Groelândia, e do
Alaska. A população foi expulsa do Alaska no século XIX e no início do século XX,
mas foi novamente reintroduzida. A espécie também foi reintroduzida ao norte da
Europa, incluindo Suécia, Noruega, Rússia e no Canadá oriental. Esses animais
estavam perto da extinção, mas a espécie se recuperou após ser protegida da caça.
54
A população do mundo (até a data de 1999) era estimada entre em 65.000 e 85.000
espécimes e está aumentando, especialmente nas áreas onde o animal foi
introduzido no século XX (GUNN E FORCHHAMMER, 2008).
São herbívoros de grande porte que normalmente vivem em manadas mistas
de sexo e idade de dez a vinte animais, porém já foram relatados grupos com até
400 animais (GUNN E FORCHHAMMER, 2008). No entanto, durante o inverno é
comum os pequenos rebanhos de machos solteiros. Os filhotes nascem bem antes
que a neve derreta, portanto a amamentação é mantida por reservas de gordura da
fêmea (UCMP..., 2010).
FIGURA 18: BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) NO RECINTO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
55
6.2.1.2. Ectima Contagioso
Ectima contagioso, dermatite pustular contagiosa, dermatite pustular viral
contagiosa, orf, sore mouth, scabby mouth, ou dermatite pustular cutânea é uma
doença causada pelo Parapoxvirus da família Poxviridae composto de pelo menos
seis cadeias imunológicas (RADOSTITS et al., 2000). Segundo Haig e Mercer (1998)
trata-se de um DNA vírus epiteliotrófico com distribuição mundial que induz lesões
pustulares agudas na pele. A família Poxviridae inclui os gêneros Orthopoxvirus,
Caprinopoxvirus, Suipoxvirus e Parapoxvirus além de outros que ainda não foram
classificados (HOWARD e SMITH, 1999).
Segundo Peacock (2004), o ectima contagioso é uma doença que acomete
comumente ovinos, caprinos e um grande número de artiodactilideos selvagens,
causando uma considerável perda econômica, por ser altamente contagioso, além
de causar anorexia e dor em variados níveis. Essa doença é de preocupação da
vigilância sanitária por se tratar de uma zoonose (PERALTA, 2005). Ocorre
principalmente com os cordeiros e cabritos de três a seis meses de idade, porém
animais mais novos e adultos também podem ser seriamente acometidos
(RADOSTITS et al., 2000).
A transmissão pode ocorrer por contato diretamente com os animais afetados
ou com os fômites, ou seja, as superfícies ou objetos contaminados por esse animal
(ROBISON e KERR, 2001). Os surtos de transmissão ocorrem principalmente em
períodos mais secos, por se tratar de uma época em que esses animais estão
pastando (RADOSTITS et al., 2000). De acordo com Rasmussen et al. (2004) nos
56
ambientes secos e à temperatura ambiente o parapoxvirus é capaz de sobreviver
por até quinze anos.
A enfermidade causa lesões em forma de bolhas que quando estouram
formam crostas na região dos lábios, olhos e narinas (RADOSTITS et al., 2000).
Segundo Nóbrega et al. (2008), as lesões de pele podem ser em vários graus,
imperceptíveis ou graves, no início formando pápulas, vesículas e pústulas seguindo
para crostas mais espessas. De acordo com Robison e Kerr (2001), dependendo da
gravidade e local das lesões, os animais podem parar de se alimentar, ou até
apresentar problemas de claudicação, levando essa enfermidade a uma morbidade
de 100% e fatalidade variando de 5 a 15 %.
Segundo Anderson, Rings e Pugh (2005), pápulas, vesículas e pústulas
cutâneas se formam rapidamente, e as crostas amarronzadas a pretas, espessas
são mais evidentes nas comissuras orais, podendo causar mastite devido ao
comprometimento
dos
mecanismos
de
defesa
do
teto.
Raramente
há
comprometimento dos sistemas respiratórios e gastrointestinais, porém já foi
relatada a ocorrência de pneumonia e diarréia (PUGH, 2005).
O diagnóstico pode ser confirmado na espécie acometida juntamente com os
sinais clínicos, lesões histológicas características e microscopia eletrônica
(NÓBREGA et al., 2008). Segundo Radostits et al. (2000), na microscopia eletrônica
é possível observar hiperplasia epitelial com células inchadas e degeneradas e
alguns queratinócitos apresentam eosinófilo com corpos de inclusão citoplasmáticos.
57
Segundo Pugh (2005), alguns diagnósticos diferenciais a serem considerados
quando suspeita de ectima contagioso são dermatose ulcerativa, varíola ovina e
dermatofilose.
A grande causa de perda econômica com essa enfermidade é decorrente da
falta de tratamento específico da doença (RADOSTITS et al., 2000). Segundo Pugh
(2005), é importante manter um suporte nutricional e fluidoterapia, pois dependendo
da localização das lesões os animais acometidos relutam em se alimentar,
facilitando a ocorrência de infecções bacterianas secundárias, e, caso não ocorra
uma higienização, podem apresentar crescimento de miíase. As lesões tendem a
regredir em um mês caso não exista nenhuma outra complicação (WRIGHT, 1983).
De acordo com Robison e Kerr (2001), as lesões começam a aparecer depois
de cinco dias após o primeiro contato com o vírus, dois dias depois as crostas
começam a se formar. Nos próximos dez dias aumentam a quantidade de crostas e
pústulas além de aumentar a vermelhidão ao redor das lesões e seus tamanhos. Em
três semanas elas começam a regredir e, caso seja uma ocorrência sem muitos
problemas, as crostas caem na quarta semana (ROBISON e KERR, 2001). Porém o
vírus possui um período de incubação que pode variar de quatro dias até duas
semanas (ANDERSON, RINGS e PUGH, 2005).
Em casos graves podem ser encontradas na necropsia lesões de formato
irregular com bordas hiperêmicas na cavidade oral e no trato respiratório superior,
raramente envolvendo esôfago, abomaso e intestino (RADOSTITS et al., 2000).
No início do surto, os animais afetados deverão ser isolados e o restante
vacinado, porém essa vacinação não deve ser realizada se existir a suspeita de que
58
os animais que não apresentaram nenhum sinal clínico estejam com a enfermidade
(PEACOCK, 2004). Segundo Radostits et al. (2000) a vacinação é feita com uma
vacina viral viva.
De acordo com Peralta (2005), em humanos a enfermidade possui as lesões,
a patogenia e o tratamento semelhantes com o ectima contagioso nos animais,
porém ocorre principalmente em dígitos, mãos, rostos e braços. Deve ser
administrado um medicamento para prevenir infecções secundárias e para redução
da dor, por se tratar de uma enfermidade que causa inchaço e muito desconforto
(ROBISON e KERR, 2001).
Por esses motivos, de acordo com Peralta (2005), quando se trabalhar com
animais infectados deve-se tomar medidas de boas práticas de trabalho, como
cuidar com higiene pessoal, usar equipamentos protetores, sempre atentar para
limpeza e desinfecção do local, evitar exposição à perfuro-cortantes, destinar
corretamente o lixo e, caso necessário, procurar sempre assistência médica. A
melhor prevenção é manter o rebanho livre do vírus, examinando qualquer animal
que entre no acervo durante o período de quarentena (PERALTA, 2005).
6.2.2. Relato de caso
Um Boi-almiscarado (Ovibos moschatus) com peso estimado de 300 kg,
macho, de dois anos foi atendido no Zoológico de Minnesota com histórico de
apresentar algumas áreas com descoloração ao redor dos dois olhos, a qual
também apresentava uma grande quantidade de moscas ao seu redor.
A primeira queixa ocorreu no dia 19 de agosto de 2010, e após um exame
visual, foi determinado que esse animal fosse acompanhado para avaliar a
59
necessidade de uma contenção química para avaliação. Três dias depois, vários
animais do rebanho começaram a apresentar as mesmas descolorações e, nesse
momento, começou a se suspeitar de lesões típicas de parapoxvirus ao redor dos
olhos e narinas (Figura 19 e 20).
FIGURA 19: LESÃO CARACTERÍSTICA DE ECTIMA CONTAGIOSO EM REGIÃO
OCULAR DIREITA DE BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO ACERVO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
FIGURA 20: LESÃO CARACTERÍSTICA DE ECTIMA CONTAGIOSO EM MEMBRO
POSTERIOR ESQUERDO DE BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO
ACERVO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY,
MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
60
Dois dias após a última avaliação visual, o primeiro animal que havia
apresentado as lesões ao redor dos olhos foi anestesiado para realização de uma
biópsia de pele (Figura 21) e possível diagnóstico de ectima contagioso (já que o
rebanho já possuia histórico de infecção de parapoxvirus).
FIGURA 21: BIÓPSIA DE PELE EM BOI-ALMISCARADO (Ovibos moschatus) DO
ACERVO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY,
MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
Para o exame físico o animal foi anestesiado com uma combinação de
Carfentanil e Xilazina. Foram encontradas lesões ao redor dos dois olhos, na narina
e no membro posterior esquerdo. Havia miíase nas lesões oculares, porém o animal
apresentava perda de peso neste momento, provavelmente relacionado a não
existência de lesões na cavidade oral.
Para tratamento preventivo, foi administrado permetrina tópico para agir como
um inseticida e fosfato de tilmicosin – Micotil, para possíveis infecções secundárias.
61
No dia 24 de agosto de 2010 foi confirmada através da histopatologia e microscopia
elétrica a presença de partícula indicando ectima contagioso.
6.2.3. Discussão
Como não existe tratamento para esse tipo de enfermidade, e provavelmente
todos os animais do rebanho já estavam infectados, os tratadores foram orientados
a tomar certas medidas preventivas. A ocorrência desse surto durante o período do
verão dificultou o tratamento devido à grande presença de moscas e miíase agindo
como vetores mecânicos do vírus.
Todos os materiais utilizados no manejo (alimentação, limpeza e tratamentos
diários) deveriam ser de uso exclusivo do recinto desses animais. As vestimentas
utilizadas pela equipe também não deveriam entrar em contato com outras áreas do
zoológico, assim como o manejo desses animais deveria ser realizado após todos os
outros daquele tratador. Também foi implantado pedilúvio em todos os acessos ao
recinto.
Como o rebanho é composto de treze animais, sete machos e seis fêmeas
(algumas em gestação), a separação dos sexos no período de reprodução não é
possível de acordo com a estrutura do recinto desses animais, foi recomendada a
orquiectomia, já que esses animais vêm apresentando um problema anual de
infecção de parapoxvirus.
O boi-almiscarado não se trata de um animal em risco de extinção, além de
não ser uma espécie de difícil aquisição para os zoológicos americanos, portanto
não existe uma maior preocupação em inviabilizar esses animais para reprodução.
62
No ano de 2009 o mesmo rebanho apresentou uma condição mais severa de
parapoxvirus, havendo diversos animais com lesões orais, causando perda de peso.
Foi realizada a vacinação dos animais que não haviam entrado em contato com o
vírus, porém não se mostrou viável já que a imunidade recebida mediante vacina
(vírus vivo) deveria apresentar uma duração de pelo menos um a dois anos. Como
os animais não apresentaram uma condição muito preocupante, o tratamento foi
apenas preventivo para infecções secundárias e miíase, além de tratar o recinto
como os mesmo cuidados de uma área de quarentena.
63
6.3. LESÃO CRÔNICA EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei,
BLYTH, 1853)
6.3.1. Revisão de Literatura
6.3.1.1. Biologia
O Jabuti-birmanês-negro (Manouria emys phayrei) (Figura 22) faz parte da
ordem Testudines da família Testunidae. A espécie é dividida em duas subespécies:
M. emys phayrei (Jabuti-birmanês-negro) e M. emys emys (Jabuti-birmanês-marrom)
(MCKEOWN, 1990).
FIGURA 22: JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei).
Fonte: http://animaldiversity.ummz.umich.edu/site/resources/tanya_dewey/tortoise.jpg/view.html
Segundo Jacobsen e Tabaka (2004), principal diferença entre as duas
subespécies é encontrado nos escudos peitorais. Em M.e.phayrei os escudos
peitorais estão perto da linha média, enquanto que em M.e.emys eles estão
64
amplamente separados (Figura 23). A M.e.phayrei é uma subespécie do norte,
encontrando-se do centro e do norte da Tailândia, em Myanmar, em Assam, na Índia
e em Bangladesh (BUHLMANN, RHODIN, VAN DIJK 2010). De acordo com
Mckeown (1990), esses animais podem chegar a até 50 centímetros de
comprimentos e pesar até 46 kg. Eles geralmente possuem coloração da carapaça
marrom, verde-oliva escuro ou preto cúpula (JACOBSEN e TABAKA, 2004).
FIGURA 23: DIFERENCIAÇÃO EM ENTRE AS SUBESPÉCIES DE Manouria
emys. (esq.) Manouria emys phayrei. (dir.) Manouria emys emys.
Fonte: - http://www.chelonia.org/articles/burmmtortoise.htm
Esta é a maior tartaruga terrestre da Ásia e é considerada a quarta maior do
mundo (MCKEOWN, 1990). Segundo Jacobsen e Tabaka (2004), a frente dos
membros anteriores é coberta com grandes e pesadas escamas de sobreposição.
Além disso, há um agrupamento de grandes escamas em cada coxa. Segundo
Mckeown (1990) as escamas da coxa são tão pronunciadas que esta espécie é
muitas vezes referida como a "seis pernas" ou "seis patas".
Sua alimentação é muito variada, normalmente é composta de gramíneas
como trevo, dente de leão, entre outras ervas de folha larga (MCKEOWN, 1990).
Também se alimentam de verduras, couve-flor, abóbora, frutas e minhocas
(JACOBSEN e TABAKA, 2004).
65
6.3.1.2. Dermatologia em Répteis
De acordo com Cooper (2006), a pele dos répteis é queratinizada e age como
um recurso característico desses animais, realizando a mesma função que o
tegumento para as demais espécies. Porém para os répteis ela protege o animal de
abrasões, de dessecações, dos raios ultravioleta e age como uma barreira para
organismos exógenos (COOPER, 2006). Segundo Bennett (1994), a epiderme é
revestida por escamas ou cascos que variam de tamanho e formato de acordo com
a espécie de réptil em questão.
Histologicamente, a epiderme desses animais é composta de três camadas.
O estrato córneo externo é altamente queratinizado, acelular, e tem uma superfície
serrilhada. A zona intermediária é composta por células filhas do estrato germinativo,
que é a camada mais inferior, em vários estágios de diferenciação. Estas três
camadas estão presentes durante a fase de dencanso da pele (BENNETT, 1994).
A ecdise ou troca de pele é um processo regulado pelos hormônios
tireoidianos. Começa com as células do estrato germinativo sofrendo mitose
simultâneas para formar uma nova zona intermediária e estrato córneo sob a velha
geração (GOULART, 2006). A ação das enzimas quebra as células da base da
antiga zona intermediária, e o fluxo linfático provoca a separação entre a antiga zona
intermediária e o estrato córneo novo (BENNETT, 1994). Segundo Bennett (1994),
os vasos sangüíneos se tornam ingurgitados e incham rompendo a pele velha e
completando a ecdise. Em quelônios e crocodilianos, proliferação e queratinização
são contínuas e derramamento dessa pele ocorre somente em regiões flexíveis do
corpo. Isso produz anéis de crescimento entre estas escamas quando eles crescem
66
e as anteriores, as camadas de menor não são perdidos (COOPER, 2006). A
freqüência de ecdise é proporcional à taxa de crescimento e metabolismo do animal,
mas geralmente leva de dez a quatorze dias (COOPER, 2006).
Cooper (2006) cita ainda que a zona intermediária é composta de tecido
mesenquimal, principalmente conectivo, que engloba canais linfáticos, veias
sanguíneas, nervos e cromatóforos (células especializadas capazes de refletir a luz
e dar coloração a alguns animais).
O processo de cicatrização ocorre em fases similares das observadas em
mamíferos. Inicialmente os fluídos proteináceos juntamente com fibrina preenchem a
lesão a fim de formar uma crosta, em seguida uma camada única de células
epiteliais migra abaixo dessa crosta. Essa camada então se prolifera para restaurar
a espessura de um epitélio íntegro. Além disso, os macrófagos e heterófilos migram
para essa região, e eliminam as bactérias (MADER e BENNETT, 2006). Ainda,
Mader e Bennett (2006) comentam que ocorre a formação de uma cicatriz fibrosa
transversalmente pelos fibroblastos que migram para a região.
Segundo Cubas e Baptistotte (2006), os quelônios possuem um casco rígido
que os protege da variação de temperatura, predadores e pressões ambientais.
Essa estrutura é formada de osso, pela fusão da coluna vertebral, costelas e cintura
pélvica. A parte superior é conhecida por carapaça, e a ventral, por plastrão
(COOPER, 2006).
As lesões de pele em répteis podem ocorrer devido a um substrato incorreto,
dano físico, mordida provocada por companheiros de recinto ou até por roedores
(COOPER, 2006). Segundo Frye (1997, A), o tratamento de lesões nesses animais
67
deve incluir limpeza, debridamento de tecido necrosado, e caso necessário a sutura
deverá ser realizada para auxiliar o processo primário de cicatrização. Também é
necessária a realização de terapia antimicrobiana, de suporte e antibiótica para
prevenção de qualquer tipo de infecção secundária (FRYE, 1997, A).
Em geral o tratamento é o mesmo realizado em outras espécies, porém, para
os répteis, exercem grande influência durante esse período de tratamento a
temperatura e o estado nutricional (COOPER, 2006). Quanto maior a temperatura e
a ingestão de proteínas e vitaminas, mas rapidamente ocorre esse processo de
cicatrização, que para esses animais pode demorar de quatro a seis semanas.
No caso da realização de suturas, deve ser avaliada a extensão da lesão e
necessidade de ser suturada, pois de acordo com Frye (1997, B) alguns estudos já
realizados com esses animais que comprovam que pequenas a médias lesões não
devem ser suturadas, pois isso atrasa o processo da cicatrização.
6.3.2. Relato de caso
Um jabuti-birmanês-negro (Manouria emys phayrei) fêmea, de 27 anos, com
44 kg, foi atendido no HVMNZ, apresentando um inchaço na faceta direita do
pescoço.
Para o exame físico realizado no dia 26 de julho de 2010, o animal foi
anestesiado com uma associação de Medetomidina, Cetamina e Butorfanol. Foi
encontrada uma lesão de aproximadamente dez centímetros de comprimento por
seis centímetros de largura no lado direito do pescoço, com as bordas necrosadas e
68
uma grande quantidade de material purulento (Figura 24). A origem da lesão não foi
determinada, mas suspeita-se que tenha sido infringida pelo companheiro de recinto.
FIGURA 24: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei).
APARÊNCIA DA LESÃO EM PRIMEIRA AVALIAÇÃO NO HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE
VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
Foi realizado o debridamento da lesão e a limpeza com Nolvasan® (solução a
base de clorexidina). Foi aplicada pomada de sulfadiazina de prata, que age como
um antibacteriano e antifúngico tópico. Um curativo seco-úmido com betadine® um
anti-séptico com iodo que foi suturado em cima da lesão (Figura 25) para proteção e
para manter a umidade necessária. O animal foi mantido no internamento para evitar
um acesso à água.
69
FIGURA 25: CURATIVO SUTURADO PARA MELHOR FIXAÇÃO EM LESÃO
CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO DIREITA DE PESCOÇO
EM
JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO
(Manouria
emys
phayrei).
HOSPITAL
VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE
VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
No dia 30 de julho de 2010 o animal foi anestesiado novamente para troca de
curativo e reavaliação. A lesão não apresentou uma melhora significativa, tendo sido
encontrada miíase no local da lesão (Figura 26), além de estar com uma aparência
de maior necrose.
FIGURA 26: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
APÓS QUATRO DIAS DE TRATAMENTO SEM APRESENTAR MELHORA.
HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM
APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
70
O procedimento de debridamento foi novamente realizado, porém com
aplicação de pomada de sulfadiazina de prata e suturada da abertura da pele em
excesso na lesão.
Em quinze dias o animal foi reavaliado e percebeu-se uma pequena melhora
após a retirada do pus e do tecido necrótico que estava localizado acima da lesão
(Figura 27). Desta vez foi realizado um tratamento experimental, com metade da
ferida coberta com a pomada de sulfadiazina de prata e a outra metade com um
produto da A-Cell, que funciona como um medicamento tópico a base de matriz
extracelular da bexiga urinária de suínos e que promove um crescimento mais
acelerado de células na lesão.
FIGURA 27: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
APARÊNCIA DA LESÃO UMA SEMANA APÓS INÍCIO DE TRATAMENTO (Esq.).
LESÃO APÓS O DEBRIDAMENTO E LIMPEZA, COM APARÊNCIA DE TECIDO
SAUDÁVEL (Dir.). HOSPITAL VETERINÁRIO DO ZOOLÓGICO DE MINNESOTA,
LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA, EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
71
No dia 24 de agosto de 2010 o animal já apresentava uma melhor
cicatrização, foi observada a presença de tecido saudável e sem presença de pus ou
necrose (Figura 28). O animal foi liberado para retornar ao recinto.
FIGURA 28: LESÃO CRÔNICA DE ETIOLOGIA DESCONHECIDA EM REGIÃO
DIREITA DE PESCOÇO EM JABUTI-BIRMANÊS-NEGRO (Manouria emys phayrei)
LESÃO NO ÚLTIMO DIA DE TRATAMENTO COM TECIDOSAUDÁVEL E SEM
PRESENÇA DE MATERIAL PURULENTO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DO
ZOOLÓGICO DE MINNESOTA, LOCALIZADO EM APPLE VALLEY, MINNESOTA,
EUA.
Fonte: Luiza Prado (Outubro, 2010)
6.3.3. Discussão
O período de cicatrização em répteis é mais prolongado que nos mamíferos,
então podemos considerar que esse animal não apresentou um grande problema no
seu processo de cicatrização. Principalmente quando iniciou-se um manejo mais
atento para a temperatura do recinto e quando o animal foi liberado para entrar em
água.
72
A causa da lesão não foi definida, mas suspeita-se que tenha sido provocada
por um companheiro de recinto, pois uma semana após o retorno desse animal à
exibição, os tratadores perceberam um macho mordendo a mesma região da antiga
lesão. Porém esse fato não pode ser confirmado, pois a atração do agressor para a
região pode ter sido causada pela presença de uma lesão em cicatrização.
Não pode ser confirmado qual dos diferentes medicamentos tópicos utilizados
apresentou um melhor resultado, pois todos são recomendados para lesões em
répteis. Os resultados variavam assim como a fase de cicatrização da lesão, e como
foi observada uma melhora considerável em quatro semanas de tratamento pode-se
afirmar que o tratamento foi efetivo mesmo sem o conhecimento da origem do
problema.
73
7. CONCLUSÃO
O estágio curricular no Zoológico de Minnesota foi uma grande oportunidade
de aprendizagem e experiência para meu futuro profissional.
Os procedimentos
acompanhados, as realizações de exames físicos, as anamneses e as análises
laboratoriais serviram de grande crescimento pessoal além de conhecimento na área
de medicina de animais selvagens.
Os veterinários me proporcionaram a chance de conhecer e vivenciar a rotina
e os problemas de um hospital veterinário dentro de um zoológico, desde lidar com
problemas sanitários relacionados com os visitantes e os animais, a problemas
relacionados à dificuldade de escolha de um tratamento por algum empecilho
governamental que possa influenciar na decisão.
74
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