10/04/2015 às 05h00
A nova agenda
Armando Castelar
Pinheiro
Por Armando Castelar Pinheiro
Armando Castelar Pinheiro é pesquisador do
Ninguém gosta de crise, menos ainda uma com as proporções da que o Brasil
ora enfrenta. Inflação, desemprego e pobreza em alta, corte de benefícios,
frustração de sonhos e expectativas, tudo isso dói. E a dor é maior ainda
porque é uma crise autoinfligida, fruto de políticas erradas, da insistência no
erro.
Instituto Brasileiro de Economia da
Mas crises são também oportunidades de renovação, quando uma agenda de
políticas cede lugar a outra. Nossa história é repleta desses momentos, como
bem ilustrou Fernando Henrique Cardoso em seu artigo em "O Globo" de
domingo último.
economia pela Universidade da Califórnia,
Como observa FHC, porém, o momento atual é diferente: a agenda que sai
não foi deslocada pela da oposição, ela simplesmente se esgotou, perdeu
sentido. É um quadro oposto ao do fim do governo Collor, quando o governo
acabou, mas a agenda ficou.
Econômica Aplicada (Ipea) e chefe do
Assim, estamos sem uma agenda para
Será preciso fazer acordos
substituir o lulo­petismo, o estatismo, a
comerciais com os países
nova matriz econômica. Outros analistas
que realmente contam no
apontam para esse mesmo vazio, como,
comércio internacional
por exemplo, Wanderley Guilherme dos
Santos e Guilherme Boulos (MTST), em
entrevistas no Valor, o que ilustra que também à esquerda se vê o
esgotamento do modelo anterior e o espaço para alternativas.
“Rompendo o Marasmo: a Retomada do
Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV),
professor do Instituto de Economia da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e membro do Conselho Superior de
Economia da Fiesp. Castelar é PhD em
Berkeley.
Foi analista da Gávea Investimentos,
pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa
Departamento Econômico do BNDES.
É coautor do livro “Direito, Economia e
Mercado” e um dos organizadores de
Desenvolvimento no Brasil”.
Fale com Armando Castelar Pinheiro
Pode­se argumentar que, com mais três anos e nove meses do atual governo
pela frente, há tempo para construir uma nova agenda. Seria ruim esperar
tanto. Primeiro, pois esse vazio abre espaço para propostas aventureiras,
para o surgimento de salvadores da pátria e o risco de que a eleição de 2018
nos leve a mais atraso. Segundo, porque o país precisa construir uma
alternativa de política econômica que dê as bases para os empresários
começarem a pensar em novos investimentos.
O trabalho de construir a nova agenda é principalmente político. Não faltam
ideias, falta concatená­las em uma proposta que gere amplo apoio social.
O atual governo não tem como fazer isso, pois lhe falta credibilidade. Pelo
contrário, o que se vê é um comprometimento em justificar as políticas do
passado, das pedaladas fiscais e a forte expansão do crédito subsidiado à
tolerância com a inflação alta, passando pelo que ocorreu na Petrobras.
Apesar de reconhecer o bom trabalho da atual equipe, simplesmente há erros
demais para consertar e cacife político de menos para ir muito além de
impedir que o pior aconteça.
Infelizmente, não se veem lideranças políticas de oposição suficientemente
engajadas em construir essa nova agenda. Também é difícil que os
movimentos de rua e nas redes sociais tenham articulação suficiente para
promover essa construção. O vazio de agenda, portanto, também reflete o
vazio político.
De um ponto de vista mais técnico, porém, é possível refletir sobre uma
proposta de agenda. Creio que há quatro pilares em que a nova agenda deve
se assentar.
Primeiro, ela precisa incorporar a "nova classe média" e os muito pobres.
Para o primeiro grupo, o caminho é a inserção laboral e serviços públicos de
qualidade, das condições de mobilidade urbana ao aprendizado nas escolas
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já há aqueles que...
10/04/2015 às 05h00 ­ Luciano de Oliveira e
Silva ­
Maioridade
Se jovens de 16 anos não têm maturidade
para assumir os crimes que cometem,
também não têm maturidade para votar e
públicas; para o segundo, as políticas compensatórias de renda. O caminho é
aumentar a eficiência e o foco do gasto público social. Há enorme espaço para
fazer mais, melhor e com menos recursos.
Segundo, ela deve envolver uma reorientação da política externa, em sentido
amplo. Não foi apenas o lulo­petismo que se esgotou, o mesmo ocorreu com
o bolivarianismo, o kirchnerismo etc. A busca de uma nova agenda será,
portanto, um esforço de toda a região. O Brasil deveria trabalhar com seus
vizinhos na definição dessa agenda, que precisa incorporar as transformações
em curso também fora da região, em um esforço coletivo que poderia trazer
ganhos para todos.
Ao mesmo tempo, o fim do boom de commodities exige que encontremos
novas fontes de competitividade externa. Será necessário promover acordos
comerciais com os países que realmente contam no comércio internacional,
abrir a economia, etc. Também precisamos estar mais abertos à imigração de
trabalhadores qualificados.
Terceiro, o país necessita encarar com realismo a significativa transição
demográfica por que está passando. É preciso adaptar as políticas sociais a
essa nova realidade, antes que esta imponha soluções mais penosas.
Quarto, o Brasil precisa recuperar sua capacidade de crescer, em um contexto
em que a oferta de mão de obra terá expansão mais lenta. Há uma longa e
conhecida agenda de medidas que precisam ser adotadas, da simplificação
das regras tributárias ao estabelecimento de um ambiente regulatório que dê
segurança ao investimento privado em infraestrutura. Com uma taxa de
poupança baixa, o país precisa aumentar sua produtividade rapidamente,
focando em investir bem os recursos de que dispõe, algo que não tem
acontecido.
É conhecido o ditado de que em política não há espaço vazio. A situação atual
é, portanto, uma anomalia à espera que as forças políticas se reagrupem em
torno de uma nova agenda. Essa agenda é hoje uma página em branco. Cabe
à sociedade e aos partidos políticos se mobilizarem para torná­la uma agenda
que promova o desenvolvimento do país.
Armando Castelar Pinheiro é coordenador de Economia Aplicada
do Ibre/FGV e professor do IE/UFRJ. twitter: @ACastelar. Escreve
mensalmente às sextas­feiras.
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