Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 MOTIVOS PARA UM ALUNO IR À ESCOLA: O QUE DIZEM DOCENTES E FUNCIONÁRIOS 1 Anaily Raissa da Silva (Bolsista PIBID/CAPES-UFRN) André Herbert Lima de Souza (Bolsista PIBID/CAPES-UFRN) Andrielly Campos Dantas (Bolsista PIBID/CAPES-UFRN) Cassiana Helena Evangelista S. e Souza (Bolsista PIBID/CAPES-UFRN) Hugo Robert Silva de Oliveira (Bolsista PIBID/CAPES-UFRN) Ewerton Alípio Souza de Macêdo (Supervisor PIBID/CAPES - Escola Estadual Professor Antônio Fagundes) Prof. Dr. Marlécio Maknamara (Centro de Educação/UFRN) Resumo Este trabalho foi realizado com base nos depoimentos de funcionários e docentes da Escola Estadual Professor Antônio Fagundes, sobre o questionamento: “O que faz um aluno gostar de sua escola?”. As 41 respostas coletadas foram separadas entre os dois grupos entrevistados e classificadas em categorias que apresentam uma ideia comum. Dentre elas, os resultados dos docentes apontam o maior percentual de respostas no grupo Meios e Materiais de Ensino. Já nos resultados dos funcionários, dois grupos apresentam a maior percentagem (Várias características e Ações pedagógicas). Concluímos que através dessa pesquisa podemos interferir no cotidiano da escola mencionada de forma a contribuir com as transformações necessárias nesse espaço. Palavras-chave: Educação escolar. Motivação de alunos. Visão de docentes e funcionários. Introdução “O que faz um aluno gostar de sua escola?” Ele gosta de escolas que atuam com a praticidade lúdica? De escolas que tenham um bom acolhimento feito pelos professores e toda equipe da escola? Uma escola que seja atrativa faz o aluno gostar dela? É com base na pergunta inicial que a presente pesquisa pretendeu refletir, através da visão de sujeitos da escola, sobre os fatores que fazem um aluno gostar da mesma. A pesquisa foi realizada com docentes e funcionários da Escola Estadual Antônio Fagundes, localizada na zona norte de Natal/RN, no âmbito das atividades desenvolvidas pelo PIBID INTERCIÊNCIAS (Biologia, Física e Química) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Com base no questionamento proposto, pretendemos conhecer a concepção 1 Trabalho realizado sob a supervisão da Profa. Adriana F. Barbosa (Supervisora PIBID/CAPES - Escola Estadual Professor Antônio Fagundes) e colaboração das licenciandas Josélia D. Pereira (Bolsista PROGRAD/UFRN) e Angelica K. C. Moura (Bolsista PIBIC/UFRN). 1878 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 desses sujeitos e através dele nos inserir no cotidiano desta escola. Os questionários coletados foram separados em respostas de docentes e de funcionários e só então analisados. Para cada grupo as respostas foram reunidas de acordo com uma ideia principal que apresentavam. Ao longo deste texto, você encontrará as falas dos entrevistados sobre as características que fazem um aluno gostar de sua escola. Iniciaremos com um breve referencial teórico abordando sobre os papeis da instituição escolar; em seguida, a metodologia descreve como nós, pibidianos, obtivemos os dados do presente trabalho. Na sequência, apresentamos uma análise das respostas dos docentes e dos funcionários juntamente com os resultados e discussões de cada grupo de respostas. Por fim, nas considerações finais, apresentamos uma síntese das análises aqui realizadas. Referencial teórico Quando a escola teve origem, tinha por finalidade oferecer aos homens que não precisavam trabalhar para sobreviver uma educação que os possibilitassem ocupar o tempo ocioso de sua existência de maneira “digna” e “nobre” (SAVIANI apud MAZZEU e PASQUALINI, 2008). Hoje podemos perceber uma educação que vem sofrendo interferência de uma sociedade capitalista que permite certo nível de difusão do saber, mas impedindo que ela se universalize. Filho (2000) fala em seu trabalho de um processo que seria contrário a esse, o de escolarização universal que prega a necessidade de expandir o sistema público de ensino cada vez mais. O mesmo autor ainda questiona quais os resultados desse processo a longo prazo: “ocupados que estamos em defender sempre cada vez mais escolas, corremos o risco de não sabermos mais qual é a escola que queremos” (p.10). Diante do “discurso salvacionista da escolarização universal” exige-se uma reflexão sobre os limites cumpridos pela instituição escolar no cotidiano da vida social (FILHO, 2000). O caráter essencial da educação escolar está na promoção do saber científico e preparação dos indivíduos para os enfrentamentos postos pela prática social. Como também a socialização dos conhecimentos e seu acesso efetivo a todos os indivíduos humanos (MAZZEU e PASQUALINI, 2008, p. 88). De acordo com Ganhem (2012) a educação é apontada genericamente como necessária para as mudanças, assumindo uma “condição de fator determinante, influente ou condicionante positivo da mudança social”. Pensando nisso, Azevedo (2007) fala da existência de uma opinião pública na qual os problemas sociais podem ser resolvidos pela educação. Compreendida como um espaço privilegiado de formação, todos os que na escola 1879 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 atuam são responsáveis pela transmissão de cultura e construção do conhecimento, dentro ou fora da sala de aula (BRASIL, 2004), daí também a importância de se saber o que tais sujeitos pensam sobre a escola e processos da educação escolar. Conhecer a opinião de professores e funcionários deve fazer parte do cotidiano escolar, de modo que as experiências de cada indivíduo se constituam em fatores preponderantes para o planejamento e a execução das rotinas pessoais e comunitárias (STRIEDER & ZIMMERMANN, 2010). Assmann (1998) ainda completa quando fala que a escola deve ser uma agência capaz de oportunizar contextos e ambientes propícios para a vivência do aprender a aprender. Nesse contexto, Tognetta et. al. (2011) nos lembram que esse processo de aprender engloba interesse, motivação e dedicação tanto do aluno como do professor e a interação entre eles no ensinar e aprender. Nesse sentido é válido também ações que procurem considerar o cotidiano dos alunos e seus sistemas de pensamento sobre fenômenos, conteúdos e procedimentos da educação escolar, incluindo seu próprio gosto pela escola. “Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade” (MORAN, 2000, p.12, grifos meus). Metodologia O presente trabalho consistiu na análise de 41 respostas de docentes e funcionários à seguinte pergunta: “O que faz um aluno gostar de sua escola?”. Como parte de uma pesquisa qualitativa, tais sujeitos ficaram livres para responder livremente à questão. A atividade foi realizada no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os bolsistas do PIBID INTERCIÊNCIAS/UFRN coletaram as respostas de pais, estudantes, professores e funcionários que fazem parte da Escola Estadual Professor Antônio Fagundes, da cidade de Natal. De posse das respostas de pais, estudantes, professores e servidores os bolsistas dividiram-se em duas equipes (cada uma com dois grupos de respostas dos sujeitos participantes da pesquisa). Cada equipe ficou responsável por analisar o conteúdo das respostas com base em Bardin (1977) e agrupá-las de acordo com a semelhança de ideias e, em seguida, apresentar e discutir os resultados de sua análise para o grande grupo. Tais respostas mostraram a visão dos sujeitos ligados à mencionada instituição sobre o que faz um aluno gostar de sua escola. No presente trabalho, a análise recai sobre as respostas dos docentes e funcionários que trabalham na instituição no período da manhã e da tarde. 1880 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Resultados e discussões 1. Análise dos depoimentos dos docentes Meios e materiais de ensino, Múltiplos fatores, Interesse do aluno, Didática do professor, Relações sócio-afetivas. Esses foram os cinco grupos encontrados a partir da análise das 20 respostas dos docentes à pergunta “O que faz um aluno gostar de sua escola?”. Abaixo o gráfico com a percentagem de respostas para cada um deles: Figura 1: gráfico de respostas dos docentes à questão “O que faz um aluno gostar de sua escola?”. De todas as respostas obtidas, 35% dos docentes entrevistados acreditam que o que faz um aluno gostar de sua escola depende de como e de que forma o conhecimento é passado para ele. Esses sujeitos mencionam a importância de se utilizar materiais didáticos aliados às novas tecnologias como ferramentas de ensino. Mas sabemos que é necessário ter profissionais qualificados para o uso desses elementos, visando às melhorias do ensinoaprendizagem. E são os Meios e materiais de ensino o principal instrumento utilizado para se atingir esse resultado. Como confirma Karling (1991, p. 254): 1881 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Os recursos de ensino ajudam enormemente a comunicação, a compreensão e a estruturação da aprendizagem cognitiva. Eles têm função importante no incentivo e no alcance do objetivo efetivo, ou seja, fazem o aluno gostar de estudar, uma disciplina ou um assunto. Isso se traduz muito bem nas respostas a seguir: R1: Escolas que atuem com praticidade lúdica. Trabalhe com a questão das novas tecnologias. Integrando com o conteúdo. Que trabalhe de acordo com a realidade do aluno e com projetos. R2: Quando se trata de um ambiente agradável, que respeite suas peculiaridades e atenda seus anseios de aprendizagem. Neste tópico encontram-se as concepções docentes acerca do alunado em perspectiva de vários fatores que geram o gostar da escola. Para 30% dos docentes o que faz o aluno gostar de sua escola são Múltiplos fatores, dentre eles estão os recursos de informática, gestão participativa e comprometida, currículo adequado à realidade e prática esportiva. Ao serem bem trabalhados na escola, os recursos educacionais servem de mediadores entre os conteúdos e os alunos, por isso seu papel de destaque nas respostas dos docentes. A ação docente e o espaço físico também são relatados nas respostas e seus reflexos no bem estar dos alunos, pois não deve ser apenas um prédio limpo e bem planejado, mas um espaço em que se favoreça o aprendizado, o conforto e no qual consigam se sentir reconhecidos e pertencentes àquele lugar, conforme relata Rios (2011). Exemplos de tais respostas são encontrados a seguir: R3: Recursos de utilização; escola limpa; sem greve, professores do quadro; espaço físico motivador, que goste da sua escola. R4: Interação tanto com o professor quanto com os demais colegas. R5: Professores que respeitem e trabalhe com os alunos sem distinção e igualdade para com todos Alguns dos participantes da pesquisa também relatam a ausência de greves, quantidade de professores adequados no quadro, aulas bem planejadas, atrativas, dinâmicas e motivadoras, e o trabalho com igualdade entre todos os alunos. 1882 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 O Interesse do aluno é a ideia mencionada por 15% dos docentes como o sentido desses estudantes para frequentar a escola. Entretanto, esse interesse é o resultado, é a manifestação de fatores alheios aos alunos. Nesta categoria de respostas é possível verificar como as ações da escola, pais e sociedade geram a motivação necessária para que o aluno goste da mesma. Esta opinião corrobora com a de Bernadino (2009): o verdadeiro interesse está ligado a certas condições que levam o indivíduo a empenhar todo o esforço em determinada atividade, e também se prende à satisfação que emana do sujeito ciente de seu próprio desenvolvimento. A seguir, podemos ver depoimentos que ilustram essa ideia: R6: O aluno gosta de sua escola, quando compreende o sentido de frequentá-la, quando é capaz de se desenvolver por meio das atividades que são desenvolvidas e para tanto é necessário que as atividades propostas sejam significativas. R7: Atrativa para os alunos, que a escola ofereça aos alunos oficinas. Ser uma escola atualizada. Tal ideia pode ser observada ainda em Santos (2007, p. 5): A aprendizagem profunda ocorre quando a intenção dos alunos é entender o significado do que estudam, o que os leva a relacionar o conteúdo com aprendizagens anteriores, com suas experiências pessoais, o que, por sua vez, os leva a avaliar o que vai sendo realizado e a perseverarem até conseguirem um grau aceitável de compreensão sobre o assunto. Outro depoimento expõe explicitamente a vontade e desejo de ir à escola pelo aluno, o que se deve às ações desenvolvidas nessa instituição que gerarão este interesse/motivação. A forma como o educador ministra o conteúdo em sala é um dos pontos decisivos na eficácia do aprendizado e a Didática do professor é o instrumento que torna esse processo atrativo para o aluno, visão encontrada entre 10% dos professores entrevistados. Esses sujeitos ainda lembram as particularidades de cada aluno, bem como a motivação e qualificação dos profissionais para alcançar determinado objetivo. Ensinar é procurar descobrir interesses, gestos, necessidades e problemas do aluno; escolher conteúdo, técnicas e estratégias; prover materiais adequados e criar ambiente favorável para o estudo (KARLING, 1991, p.23). Abaixo, depoimentos que exemplificam o grupo: R8: Grau de aprendizagem, frisando a educação do professor. Se importar com a educação do aluno. Se envolver com o aluno e ter a preocupação com o aprendizado do mesmo. 1883 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 R9: Uma qualidade de ensino, aulas diferenciadas. Na análise realizada, 10% dos docentes afirmaram que a Relações sócio-afetivas é o motivo principal para que o aluno goste da escola, visto que isso implica no bom acolhimento dentro deste ambiente por todos que compõe a instituição. Essa afirmação fica bem evidenciada quando analisamos as respostas e percebemos a repetição de palavras como acolhimento, valorização, como se pode observar na seguinte resposta: R10: O acolhimento feito pelos professores e toda equipe da escola. Percebemos essa visão também na fala de Carvalho (2010), ao afirmar que todas as escolas recebem crianças com diferentes dificuldades e, nesses casos, os professores e funcionários têm o dever de proporcionar um ambiente tranquilo e acolhedor, no sentido de amenizar a angústia do educando, deixando-o mais à vontade. 2. Análise dos depoimentos de funcionários Foram analisadas 21 respostas dos funcionários à questão “O que faz um aluno gostar de sua escola?” A classificação dessas respostas se deu a partir da ideia principal que as unia, totalizando quatro grupos: Várias características, Ações pedagógicas, Relações sócio-afetivas e Merenda. O gráfico abaixo mostra a percentagem para cada um de tais grupos: 1884 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Figura 2: Grupos das respostas dos Funcionários à pergunta “O que faz um aluno gostar de sua escola?” São vários os fatores que fazem um aluno gostar de sua escola, segundo os servidores que responderam ao nosso questionário. Foram encontradas respostas assim entre 33% dos funcionários. Dentre as Várias características mencionadas estão a boa estrutura física da escola e os profissionais capacitados que acolhem e respeitam os alunos. Opiniões assim refletem o desejo das classes populares de uma escola “que atende a todos, uma escola bonita, limpa e bem construída, bem organizada, com um professor dedicado, competente, capaz de conhecer e compreender os alunos” (GADOTTI, 1993, p.52). A seguir, respostas que exemplificam o grupo: R1: Merenda. Um bom tratamento. Respeito. R2: Ter todos os professores. Terem respeito por eles. A escola tenha uma equipe coesa. R3: Comida, tratamento bom e o bem estar dos alunos. Vale ressaltar que nas falas aqui alocadas a merenda é a primeira condição apontada para o aluno gostar da escola. A partir disso podemos pensar na socialização no cotidiano escolar, já que o recreio, além de ser o momento de alimentação, é propício para o encontro, “é o momento da fruição da afetividade” (DAYRELL, 1996, p. 14). 1885 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 Dentre os entrevistados, outros 33% acreditam que um aluno gosta de sua escola pela forma como é acolhido e respeitado pela equipe de educadores, dando a ele a oportunidade de poder falar e ser ouvido. Neste grupo, denominado Ações Pedagógicas, uma escola ao gosto dos alunos também deve ter uma boa estrutura física e organização pedagógica. Uma escola que possua uma grade completa de professores, aulas todos os dias, destacando um maior compromisso com os alunos. Essa ideia se aproxima do pensamento de Libâneo (2009, p.02) quando fala que: uma escola bem organizada e gerida é aquela que cria e assegura condições organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas para o bom desempenho de professores e alunos em sala de aula. Abaixo podemos ver respostas que estão alocadas nessa categoria: R4: A escola precisa ser atrativa: do ponto de vista organizacional; do envolvimento da escola com a família. R5: A falta do professor dá o desestímulo no aluno. Aulas interativas. O esporte, atividades culturais, fazer os alunos participar das aulas da escola. R6: A escola ser atrativa nas aulas, nas atividades esportivas, em tudo no geral. R7: A escola ter e oferecer esportes, oficinas e artes. Nas falas que acabamos de ver, vale destacar duas abordagens bastante citadas: o esporte e a atratividade oferecidos pelas escolas. A prática de esportes com importância no desenvolver-se tanto físico como social do aluno e a atratividade escolar, visando ao interesse do aluno em ir e permanecer nela. Seja através de aulas mais interativas ou atividades culturais. Segundo Silva (2011, p. 04), as escolas precisam de professores dinâmicos e criativos que transformem a sala de aula em um lugar atrativo e estimulador. Como os docentes, cerca de 19% dos funcionários entrevistados também mencionaram a Relações sócio-afetivas como o motivo principal para que o aluno goste da escola. Percebemos a importância desse aspecto, pois o mesmo é citado nas respostas dos dois tipos de sujeitos da nossa pesquisa e isso pode ser explicado pelo fato de na E E Antônio Fagundes boa parte dos alunos carecer de afeto e atenção. Essa afirmação fica bem evidenciada com a 1886 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 repetição das seguintes expressões: ser bem recebido e atenção. Tal ideia é ilustrada no depoimento abaixo: R8: Ele ser bem recebido pelos professores. Sobre isso, Silva e Freitas (apud Silva, 2008, p. 11) afirmam: Muitos meninos e meninas, quando saem das ruas e entram na escola, creche, projeto social, etc., tornam-se catadores de fragmentos que escapam dos cadernos. Vivem da recolha das sobras das letras para revendê-las recicladas no mercado de afetos, onde têm oportunidade de organizar gestos de coresponsabilidade que negam, minuto a minuto, que a pobreza é o lugar privilegiado para se encontrar a anomia. Além de ser mencionado em outra categoria, o fator Merenda é o único citado por 14% dos funcionários. Para estes servidores a alimentação na escola é o fator determinante para o aluno permanecer e gostar dela. Quando consideramos as condições socioeconômicas dos alunos que frequentam escolas públicas em bairros periféricos a merenda escolar assume também uma importância social. É o que vemos na fala de Abreu (1995, p.10): Para muitos alunos das escolas brasileiras, a merenda é sua única refeição diária. Diante dessa realidade, a merenda escolar pode influenciar positivamente no rendimento escolar, pois aumenta a capacidade de concentração nas atividades escolares. Assim, a merenda permite não sentir fome durante a aula, tendo efeito saciador da fome durante o período em que a criança permanece na escola. Nas respostas descritas abaixo observamos a ideia desse grupo: R9: Merenda. R10: Só merenda, pois quando não tem merenda os alunos vão embora. Considerações finais Com base nos depoimentos dos funcionários e docentes foi possível compreender o que eles pensam sobre os fatores que fazem um aluno gostar de sua escola. Ao analisar as respostas de ambos os sujeitos observamos que os fatores por eles mencionados vão desde a organização estrutural e pedagógica da escola até questões referentes à motivação dos alunos. Dentre as categorias reconhecidas nas respostas dos docentes, destaca-se a que aponta o uso de Meios e Materiais de Ensino como a característica que faz a escola “cair no gosto” dos alunos. Acreditamos que isso se deve ao fato de que o uso de recursos e metodologias diversificados na sala de aula promove melhorias no ensino-aprendizagem ao prender a atenção desses alunos. Já nos grupos de respostas dos funcionários duas categorias se 1887 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 destacam por apresentar a mesma percentagem (33%), são elas: Várias características e Ações Pedagógicas. Reconhecemos nos depoimentos dos dois sujeitos uma questão que é comum entre eles, a saber, a ideia do papel social da escola como motivo para os alunos gostarem dela. Tal ideia nos remete à fala de Silva (2010), em que “é na escola que a criança entra em contato com outros indivíduos, começando a conhecer e a se relacionar com as diferenças do outro”. Essa pesquisa nos permite intervir na Escola Estadual Antônio Fagundes na busca por uma escola mais atrativa, como almejado nos depoimentos aqui analisados. Tal experiência enriquece o nosso conhecimento acerca da docência em escolas públicas, nas quais a realidade social dos alunos ultrapassa as lousas da sala de aula e os portões da escola. Podemos pensar nessas instituições como um ambiente não só de conteúdos de disciplina, mas de uma procura do aluno por afeto, atenção e conforto. Referencias bibliográficas ABREU, Mariza. Alimentação escolar: combate à desnutrição e ao fracasso escolar ou direito da criança e ato pedagógico? Em Aberto, Brasília, n.67, p. 5-20, 1995. ASSMANN, H. Reencantar a educação. Petrópolis: Vozes, 1998. AZEVEDO, José Clovis de. Educação pública: o desafio da qualidade. Estudos Avançados, São Paulo ,v.21, n. 60, p. 7-26, 2007 BARDIN, L. (1977). Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70 BERNADINO, Elizabete Aparecida. O pensamento deweyano, a motivação e o interesse do aluno no contexto de aprendizagem de língua estrangeira. Revista Travessias, Cascavel, vol. 3, ed. 1, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Por uma política de valorização dos trabalhadores em educação: em cena, os funcionários de escola. Brasília : MEC, SEB, 2004. 72 p. CARVALHO, A.M; FARIA, M.A. A Construção do Afeto na Educação. Saberes da educação, São Roque, v.1, n.1, 2010. DAYRELL, Juarez T. Múltiplos olhares sobre educação e cultura. In: DAYRELL, J. T. (Org.). A escola como espaço sócio-cultural. Belo Horizonte: Ed UFMG, 1996. 27 p. FILHO, Geraldo Barroso. Universalização da escola pública: do "Para Quê?" ao "Quanto?". Contexto e Educação, Ijuí, n. 59, p.7-20, Jul./Set. 2000. GADOTTI, Moacir. Organização do trabalho na escola: Alguns pressupostos. Série Educação em ação. São Paulo: Ática. 1993, 100 p. 1888 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1 GHANEM, Elie. A educação na mudança social: lugar central, lugar secundário e lugar nenhum. Educar em Revista. Ed. UFPR. Curitiba. n.45,p.213-229 jul/set. 2012. KARLING , Argemiro Aluísio. A didática necessária São Paulo:Ibrasa, 1991. LIBÂNEO, José Carlos. As práticas de organização e gestão da escola e a aprendizagem de professores e alunos. Presente! Revista de Educação, Salvador, jan-abr, 2009. MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e mediação pedagógicas. Campinas: Papirus, 2000, 168 p. PASQUALINI, Juliana Campregher; MAZZEU, Lidiane Teixeira. Em defesa da escola: uma análise histórico-crítica da educação escolar. Educação em Revista, Marília, v.9, n.1, p.7792, jan.-jun. 2008. RIOS, Terezinha Azevedo. Cuidar da nossa casa, São Paulo: Abril. Revista Gestão escolar, Edição 013, Abril/Maio 2011. SANTOS, Júlio César Furtado dos. O papel do professor na promoção da aprendizagem significativa. Marília, 2007. SILVA, Manoel Regis da. Causas e conseqüências da evasão escolar na Escola Normal Estadual Professor Pedro Augusto de Almeida, Bananeiras.UFPB, 2012. STRIEDER, Roque; ZIMMERMANN, Rose Laura Gross. Importância da escola para pais, mães, alunos, professores, funcionários e dirigentes. Educação, Santa Maria, v. 35, n. 2, p.245-258, mai/ago, 2010. TOGNETTA, Luciene R. P; OLIVEIRA, Karina; KIKUCHI, Paula A. Quando o educador quer saber o que é aprendizagem: um olhar sobre a tarefa da escola. Educação Unisinos. Vol.15, n 3, p. 188-195, set-dez, 2011. 1889 SBEnBio - Associação Brasileira de Ensino de Biologia