EDITORIAL Stig G. Lund é conselheiro especialista do BUPL – sindicato dinamarquês de educadores de infância e juventude – e editor da revista Infância na Europa em dinamarquês. [email protected] INFÂNCIA NA EUROPA 22 Marta Guzman editora de Infância na Europa em catalão e espanhol [email protected] 4 Transições, mudanças que fazem crescer Os editores convidados Marta Guzman e Stig G Lund apresentam o nº22 de Infância na Europa, dedicado ao tema das transições. Desde a infância que a nossa vida é marcada por mudanças. Mudanças que pretendem ser oportunidades para crescer e continuar a avançar. Não devemos ter medo das mudanças, pois são oportunidades de fortalecimento e possibilidades de nos conhecermos melhor e, também, de conhecermos melhor os outros. As mudanças também fazem parte dos serviços para a infância e das escolas. Todos os dias, transições, maiores ou menores, marcam o ritmo do que acontece ou do que irá acontecer no futuro. Os passos que são dados nos centros para a infância e nas escolas não podem, contudo, ser realizados apressadamente. Não ser preciso correr ajuda-nos a andar com confiança e a um ritmo confortável. Estes passos devem permitir paragens para tomar fôlego, quando for necessário, antes de continuarmos a andar. Precisamos de ser ajudados a compreender o ambiente em que nos encontramos, como pode contribuir para os nossos objetivos e como podemos contribuir para esse ambiente. A transição da família ou do jardim de infância para a escola do 1.º ciclo é uma construção social produzida pela humanidade. Nos vários países, a idade da transição é estabelecida pela cultura e pelas decisões políticas, e seria desejável que decorresse também do conhecimento e experiência humanos, embora a realização de mais investigação possa ser importante. Quem defende que as formas atuais de organizar essa transição, na Europa de hoje, são relevantes e INFÂNCIA NA EUROPA 22 5 adequadas para todos? Nos diferentes países da Europa, a idade de transição varia entre o quarto e o sétimo ano de vida das crianças. De qualquer modo, as transições também implicam ser-se bem recebido, compreendido e respeitado. Devem incluir o direito de começar de novo, desde o início, se tivermos vontade de o fazer. Mas como é que as crianças experienciam as mudanças? No que diz respeito à transição para a escolaridade obrigatória, essas experiências também dependem das expetativas dos pais. Com certeza que todos conhecemos frases do género “Já estás uma menina crescida, que vai entrar para o 1.º ciclo”. De um outro ponto de vista, para o educador, o professor, as transições profissionais também significam mudança, mas para eles será uma mudança consciente, intencional, conversada, plena de intenção pedagógica e de sensibilidade. A transição dos jardins de infância para as escolas do 1.º ciclo constitui uma mudança importante na vida das crianças: um novo edifício, novos professores, novas maneiras de fazer. Quase sempre, quando a criança chega à escola do 1.º ciclo, carrega uma mochila cheia de experiências, aventuras, conhecimentos e interesses. Mas nalguns países, quando entra na escola, é-lhe amavelmente pedido que deixe a mochila lá fora. Noutros, contudo, está instituído um princípio de continuidade pedagógica, em que os professores do 1.º ciclo conhecem o percurso da criança e constroem a partir dele. Todas as crianças, num determinado momento da sua vida, atingem a idade da escolaridade obrigatória. Muitas passaram antes pelo jardim de infância. Infância na Europa centra-se nestas e, por isso, centra-se também na transição entre estas duas instituições, defendendo decididamente a existência de coerência na transição. Os educadores de infância e os professores do 1.º ciclo devem partilhar as mesmas ideias sobre a infância, sobre o que significa a participação dos pais e sobre qual é o papel do educador e do professor. Os profissionais devem acompanhar as crianças, escutá-las, observá-las e respeitá-las. Sabemos que as transições não podem ocorrer como mera assimilação. Significam mais do que habituar-se, com o tempo, a um novo espaço ou a novos comportamentos e saberes. As transições significam mudança, mas uma mudança que é acolhedora e compreende as diferenças. Esta mudança aceita a diversidade, quando chega o momento de pensar ou de agir. Infância na Europa também acredita firmemente que as transições têm muito a ver com o tempo e o espaço. Temos de dar às crianças um tempo e um espaço de qualidade, bem como proporcionar-lhes materiais e propostas de qualidade que apoiem um processo consistente. Deve-se estabelecer um diálogo pedagógico entre jardins de infância e escolas do 1.º ciclo, que será participado por todos os intervenientes implicados no processo. A transição tem de ser uma aprendizagem mútua, frutuosa e cooperada entre o jardim de infância e a escola do 1.º ciclo, a fim de promover a interligação do jogo com a aprendizagem. Neste número vão encontrar diferentes experiências e reflexões vindas de toda a Europa. É nossa finalidade contribuir para o cruzamento de experiências europeias sobre a ideia de transição e mudança nas escolas. Esperemos que gostem de as ler! Começamos com a abordagem teórica de Griebel & Niesel, que se baseia na transformação de uma criança competente num aluno competente. Os artigos seguintes são exemplos de como, em alguns países europeus, se organiza a transição, de quais são os conteúdos e métodos utilizados para promover uma continuidade benéfica entre o jardim de infância e o 1.º ciclo. De Espanha, temos exemplos de Barcelona e Granada, seguidos da Holanda, Bélgica, Dinamarca, França, Itália e, pela primeira vez, Infância na Europa inclui um artigo da Suíça. Dois textos, da Escócia e da Polónia, centram-se na colaboração dos pais na transição. Da Grécia vem-nos a história de uma criança que queria saber por que há uma vedação (real) entre o jardim de infância e a escola do 1.º ciclo: “Porque ainda somos pequenos?” ou “para os meninos mais velhos não nos baterem?” Encerramos a temática com Meirieu, de França, que reflete de um ponto de vista sistémico sobre a vida das crianças, na família, no jardim de infância/escola e na sociedade. Este artigo afigura-se um bom contributo para analisar as histórias da vida real sobre transição, vindas de vários pontos da Europa, que reunimos para os leitores e que podem parecer bastante complexas, diversificadas e, por vezes, contraditórias. Por fim, temos ‘Em foco’, desta vez sobre Friedrich Froebel, que nos recorda o papel e a importância do jogo na aprendizagem e no bem-estar das crianças mais pequenas – o que não pode ser esquecido, seja qual for o modo de organizar e gerir a transição.