1
Título
O perfil sensorial das crianças institucionalizadas
Autora
Isabel Ferreira, Professor Adjunto no Departamento de Terapia
Ocupacional da ESSA
Co-Autores
Miguel Clemente, Professor no Departamento de Psicologia Social da
Universidade da Corunha
Alicia Risso, Professor no Departamento de Psicologia Social da
Universidade da Corunha
Resumo
Com o presente estudo pretendemos averiguar se o desenvolvimento do
processamento sensorial das crianças que se encontram em instituições de
acolhimento se desenrola de um modo adequado e harmonioso.
A metodologia adoptada baseia-se na aplicação de três questionários aos
cuidadores institucionais e aos pais: o Perfil Sensorial, a Medida do
Processamento Sensorial, contexto casa e o Índice de Stress Parental; e um
questionário aos professores ou educadores de infância: a Medida do
Processamento Sensorial, contexto classe. Os questionários Medida do
Processamento Sensorial, contexto casa e contexto classe e o Índice de Stress
Parental foram traduzidos e adaptados à língua portuguesa por nós, passaram
por um estudo das propriedades psicométricas, a validade e a consistência
interna e os resultados obtidos aproximam-se dos resultados alcançados pelos
autores dos questionários.
2
A amostra foi de 138 crianças, com idades compreendidas entre os 5 e os 10 anos,
das quais 51 crianças foram recrutadas em centros de acolhimento, sob tutela do
Ministério da Justiça, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Em relação às crianças que se encontram institucionalizadas, após reuniões com
os Psicólogos e directoras dos centros de acolhimento, foram deixados os quatro
questionários. O questionário relativo ao contexto escola foi distribuído e
recolhido pelas educadoras dos centros de acolhimento pelos respectivos Jardins
de Infância e Escolas do 1o e 2o ciclos. No que diz respeito às crianças que se
encontram com as suas famílias, foi pedido aos educadores e professores que
enviassem, via aluno, os três questionários a preencher pelos cuidadores, com o
respectivo pedido de autorização, para que os seus educandos pudessem fazer
parte deste estudo. Estes questionários foram depois enviados novamente para a
escola, via aluno, e assim foi possível a recolha dos quatro questionários.
Conclui-se que as crianças que se encontram nas instituições apresentam um
desenvolvimento
do
processamento
sensorial,
dentro
dos
parâmetros
considerados típicos, excepto na Reacção Emocional, isto é, o comportamento
perante as respostas emocionais e na Inatenção e Distractibilidade devido a
alterações apresentadas no processamento multisensorial.
Em relação ao funcionamento sensorial, as crianças que se encontram nas
instituições mostram um funcionamento típico na maioria das variáveis do
contexto casa, excepto na Participação Social. Já no contexto classe, as crianças
apresentam diferenças prováveis na maioria das escalas, excepto na Participação
Social, o Toque e o Planeamento e Ideias.
No que diz respeito ao índice de stress na relação cuidador-criança, as crianças
que se encontram nas instituições apresentam um índice dentro dos padrões
considerados normais, com exceção para a Aceitação, o Reenforço, a Vinculação e
a Restrição de Papéis.
3
Relativamente a, verificar se o tempo de institucionalização da criança
compromete o desenvolvimento do seu processamento sensorial, constatou-se
que não há relação causal.
Comparando com crianças que se encontram nas suas famílias de origem,
constatou-se que, quer ao nível do processamento sensorial, do funcionamento
sensorial, em contexto casa e classe quer ao nível do índice de stress na relação
cuidador-criança os valores obtidos mostram que existem diferenças em alguns
domínios mas não na sua totalidade. Assim, no Perfil Sensorial encontrou-se
diferenças nos factores Reacção Emocional, Sensibilidade Sensorial Oral,
Inatenção/Distractibilidade, Registo Pobre e Motricidade Fina. Na Medida do
Processamento Sensorial, no contexto casa, detectou-se apenas diferenças nas
escalas da Participação Social e da Audição, enquanto no contexto classe achouse diferenças em todas as escalas com excepção da escala Paladar e Olfacto. No
Índice de Stress Parental, verificou-se a existência de diferenças significativas nas
escalas Aceitação e Reenforço (domínio da criança) e nas escalas Vinculação,
Restrição de Papéis e Competência (domínio do cuidador).
Em relação ao processamento sensorial, os resultados vão ao encontro de
algumas pesquisas realizadas que apontam para problemas no desenvolvimento
da integração sensorial em crianças que se encontram institucionalizadas,
podendo no entanto não o demonstrar em todos os contextos. Contudo, como
grupo, estas crianças estão, significativamente, em risco.
No que concerne à relação cuidador-criança, também os resultados vão ao
encontro de linhas de estudo que referem a importância da primeira ligação mãecriança para o desenvolvimento, na criança, de inúmeras aptidões e
competências sociais que são fundamentais para o estabelecimento de relações
positivas futuras.
Download

Título O perfil sensorial das crianças institucionalizadas