CF1007 Fiat Carlos Arruda, Anderson Rossi, Paulo Savaget A Fiat, empresa automobilística líder de vendas no setor, possui, dentre as suas diretrizes estratégicas, o investimento no pioneirismo inovativo, através de produtos de alta qualidade e tecnologia, design admirado, respeito ao consumidor e responsabilidade social. Neste sentido, a Fiat Automóveis investe em pesquisa e desenvolvimento de produtos, novas tecnologias, qualidade e capacitação da engenharia para executar projetos cada vez mais ousados e inovadores, desde que estejam em sintonia com os desejos e aspirações dos clientes. Nos anos 1990, surgiu um programa interno de captura de ideias, de cunho motivacional, chamado Boas Ideias e Soluções (BIS), cujo foco era as propostas de melhoria contínua, geralmente, aproveitadas no próprio posto de trabalho. Esse programa contava com a participação de todos os colaboradores, de todos os departamentos situados em Betim (MG), que preenchiam formulários, encaminhavam-nos para os gestores da área e cuja participação era recompensada com alguns brindes. Alguns gestores tentaram implementar o programa em outros lugares, dentre eles a matriz italiana. Porém não obtiveram sucesso, dadas as diferenças culturais tanto entre as regiões como entre as próprias sedes da empresa. Esse programa, no entanto, não foi constantemente renovado, e os gestores perceberam, inclusive através de análises de resultados gráficos, a constante necessidade da evolução e realimentação do programa de geração espontânea de ideias. A premiação, por exemplo, era realizada através de certo número de brindes, dados para todos proponentes de ideias – independentemente da implementação –, porém não eram instigantes, já que, depois de certo tempo, muitos colaboradores já haviam recebido todos os brindes ofertados. Diante dessas constatações, houve, em 2001, uma transformação no programa, que adquiriu o foco, exclusivo, de redução de custos, e manteve o nome original. Assim, o BIS passou a ser direcionado para as ideias de otimização, ou, em outras palavras, aquelas que promovam reduções de custos com concomitante melhoria de qualidade ou geração de valor ao cliente. Porém, é importante mencionar que esta deve, necessariamente, proporcionar um saving mensurável, para que seja passível de premiação – já que a premiação era feita em dinheiro, correspondente a uma porcentagem do saving. Neste sentido, o BIS, desde a sua reformulação, em 2001, obteve um caráter de melhorias incrementais, através de propostas de reduções de custo sugeridas pelos próprios funcionários da organização. A transição para essa nova versão do BIS, proposta em 2001, manteve, inicialmente, os formulários de papel, que eram distribuídos aos colaboradores, os quais geravam as ideias, enviavam-nas aos responsáveis de sua área que, em seguida, encaminhavam-nas para a área de Otimização de Valor. Estes, por outro lado, enviavam a grupos interfuncionais para avaliação, e as ideias aprovadas eram encaminhadas para a implementação. Quando as idéias não eram diretamente relacionadas a algum grupo interfuncional preestabelecido, os gestores direcionavam para as áreas correlatas, viabilizando a avaliação e, se aprovadas, a sua implementação. O formulário para preenchimento e proposição de ideias passou por duas fases de desenvolvimento até o padrão atual. O formulário de papel foi substituído por meios semieletrônicos, de forma que o proponente preenchia o formulário disponível na intranet, através de totens localizados na produção ou no próprio computador, imprimia e encaminhava o papel à avaliação. Ultimamente, as pessoas não precisam imprimir, podem preenchê-los em um sistema disponível na internet, para o qual os funcionários da empresa possuem um login e senha de acesso. Desse modo, os colaboradores podem acessar o sistema onde e quando quiserem para proporem novas ideias ou consultar os seus créditos de premiação. Nesse formulário do BIS, as ideias podem vir com conceitos altamente desenvolvidos, ou ainda de forma rudimentar, ainda precisando de discussão e incorporação de novos conhecimentos pelo grupo, que irá avaliar a ideia e desenvolver a proposta. Além disso, é possível propor ideias com autoria múltipla, de modo que os créditos daquela ideia serão compartilhados por todos os proponentes. O fomento à geração espontânea de ideias, através do programa BIS, é realizado de diversas formas, junto à comunicação interna da organização. Além de informar os funcionários sobre o funcionamento do programa, os colaboradores são constantemente instigados a participarem. Essa promoção do programa ocorre através da divulgação dos resultados e premiação em totens, outdoors, jornais e revistas internas, dentre outros, incitando-os à geração de ideias e propagando uma cultura propensa à inovação. Além disso, ao analisar os resultados gerados em cada área da organização – e levando em consideração as suas diferenças e peculiaridades – as formas de fomento podem ser direcionadas a instigar aquelas que possuem certo potencial de crescimento na participação no programa, ou que podem gerar um saving mais expressivo. No que tange à avaliação das ideias, além de promover reduções de custo com concomitante geração de valor aos clientes, devem passar por critérios de viabilidade econômica e técnica, visando identificar todos os pontos que podem ser impactados pela implementação dessa inovação. As ideias são recebidas, inicialmente, pelo responsável da área, que faz uma pré-seleção antes de enviar para a análise dos crivos econômicos e técnicos, avaliados por vários grupos interdisciplinares e interfuncionais, com representantes de diversas áreas da organização. Esses grupos, que avaliam todas as ideias propostas, são reconhecidos oficialmente pela organização e se encontram com certa periodicidade para discutirem as ideias. Em seguida, dão um retorno padrão aos proponentes, embora com justificativas específicas e detalhadas sobre aquele feedback, incluindo os motivos da pré-aprovação ou rejeição. A pré-aprovação demora, no máximo, 30 dias e, a partir de então, a ideia entra no processo de desenvolvimento. Isto não significa, contudo, que a ideia pré-aprovada seja automaticamente desenvolvida, e sim que ela entrará em uma lista de prioridades para o processo de desenvolvimento. O proponente, geralmente, não participa do desenvolvimento da ideia que gerou, mas nada impede, contanto, que isso aconteça. No que tange à premiação do BIS de reduções de custos, originado em 2001, os gestores iam às diversas áreas, periodicamente, acompanhados dos diretores de cada uma delas e premiavam os proponentes das ideias implementadas. Além disso, no fim do ano, caso houvesse mais de cinquenta propostas, eram realizadas cerimônias de premiação, com sorteio de automóveis entre a plateia, além de serem ofertados automóveis para aqueles proponentes cujas ideias asseguraram maior saving. Em 2009, no entanto, houve uma remodelagem no sistema de premiação. Além dos eventos supracitados, foi criada a moeda BIS, cuja conversão de cada moeda corresponde a R$ 1,00. Neste sentido, apenas por enviar uma proposta, o Casos FDC - Nova Lima - 2011 - CF 1007 colaborador ganha uma quantidade de moedas e, caso seja reprovada, ele perderá aproximadamente noventa por cento das moedas, ficando com uma quantidade residual. Caso seja pré-aprovada, ele ganha mais alguma quantidade de moedas. No momento da implementação da cada ideia gerada, o saving total estimado para o período de 12 meses será apurado e o proponente receberá uma porcentagem deste saving, contanto que não ultrapasse o limite de 5 mil moedas BIS. Nada impede, contanto, que a pessoa venha a acumular mais do que este valor, ao propor diversas ideias: o limite de 5 mil BIS corresponde à remuneração máxima de cada ideia, individualmente. Com essas moedas BIS, os colaboradores podem acessar um site do Submarino específico para a Fiat, no qual podem resgatar as moedas, parcialmente ou totalmente, para comprar os mais diferenciados produtos do site – sendo possível, ainda, completar o valor, caso necessário, com dinheiro ou cartão de crédito. Além do BIS, foi implementado, em 2002, outro programa para captura espontânea de ideias, também com enfoque em redução de custos com concomitante melhoria de qualidade, porém voltado, exclusivamente, para os fornecedores da Fiat: o Super - inspirado no programa da matriz italiana, porém “tropicalizado” às peculiaridades das filiais brasileiras. Esse programa, desde o surgimento, tem se mostrado mais perene e estável do que o BIS, posto que, enquanto o último possui um número expressivamente maior de ideias geradas, o aproveitamento do Super é muito maior, dado que as ideias já chegam mais densas e elaboradas. Assim como no BIS, o Super possui um formulário padrão, que pode vir acompanhado de quaisquer anexos, e que devem ser enviados por e-mail. Embora os inputs do Super e BIS sejam diferentes, os processos, equipe, ferramentas de gestão e prazos de feedback são semelhantes, tanto para a avaliação, quanto para o desenvolvimento das ideias. Em concordância, está sendo criado, atualmente, um portal para o Super, semelhante ao do BIS, para o qual será possível entrar no sistema, em qualquer local ou hora, para postar ideias, tornando o processamento do programa mais eficaz. Destaca-se, ainda, que existe um sistema para armazenamento e gerenciamento de ideias de otimização de valor, independentemente do programa em que foi originada. Isto possibilita que as ideias sejam periodicamente revisitadas e eventualmente resgatadas, caso seja rentável no novo contexto ao qual a empresa está imersa. No que tange às formas de reconhecimento do Super, os expressivos prêmios são pagos à vista, e variam entre 50% e 75% do saving correspondente a 12 meses, desde o início de sua implementação, sem teto máximo de premiação. Além da recompensa monetária é organizada uma série de eventos junto a fornecedores, tais como fóruns, nos quais são entregues diplomas pelo presidente ou superintendentes da Fiat. 2 Embora tenha caído o número de ideias propostas no Super, desde a sua criação, não houve, contudo, expressivas variações no número de ideias implementadas. Isto porque, no primeiro momento, ainda havia muitas ideias com escopos diferentes, cujos fornecedores proponentes ainda não haviam sido aculturados ao programa. Desde a reformulação do BIS, em 2001, e o surgimento do Super, em 2002, houve um intenso crescimento e amadurecimento dos programas, resultantes de constantes revitalizações, fomentos, melhorias nos processos e instrumentos de avaliação, além do acompanhamento cotidiano dos gestores responsáveis. Desde então, o BIS, que possuía parcela significativamente maior sobre o total de savings, passou a contribuir com cerca da metade deste total, sendo esta outra parcela proveniente do Super. Isto não significa, contudo, que o número de ideias implementadas, originadas no BIS, foram reduzidas, mas que o Super ganhou importância relativa ao longo dos anos. Essa constatação é decorrente, principalmente, do fato de que os savings médios das ideias geradas no Super são expressivamente maiores do que as do BIS, porém o número de ideias implementadas no BIS é significativamente superior justificando as semelhantes parcelas de contribuição de ambos os programas. Dentre os principais gargalos enfrentados por ambos os programas, destaca-se a capacidade de processamento das inúmeras propostas recebidas. O principal desafio não está em administrar a quantidade de ideias inseridas no sistema, e, sim, em levá-las adiante, assim como aqueles gargalos decorrentes da priorização de algumas delas - já que podem gerar impactos negativos na credibilidade do programa e na cultura de inovação da organização. Os gestores destacam, ainda, as dificuldades e riscos inerentes ao desenvolvimento daquelas ideias que necessitam de intervenções complexas de especialistas externos à organização, na medida em que possibilita o acesso de terceiros a diferenciais competitivos, mesmo quando são feitos contratos de confidencialidade. Outro grande desafio mencionado corresponde à definição de métricas claras e apuradas para a avaliação do desenvolvimento inovativo, principalmente no que tange às estimativas de savings que orientam o processo de premiação. No que tange às perspectivas futuras de ambos os programas, os gestores não identificam quaisquer ações que venham a promover mudanças expressivas, até mesmo porque, em estudos de benchmarking, constataram que esses programas estão entre os mais ousados do Brasil. Asseguram, por outro lado, que ambos continuarão passando por constantes reformulações e revitalizações, com mudanças contínuas em seus programas, para que estes mantenham a alta propensão para a captura de ideias inovadoras. Casos FDC - Nova Lima - 2011 - CF1007 3