Contos de Aprendiz
(Carlos Drummond de Andrade)
15 contos que se realizam sobre:
recordações dos tempos infantis (com suaves
toques emocionais e cenário de cidadezinhas do
interior, ou na vida cotidiana carioca); há uma
presença do tom irônico e humorístico característico
do autor.
O textos podem ser divididos em 04 temáticas:
A infância: reminiscências, o comportamento infantil
e o contraste com o adulto, a imaginação.
“A salvação da Alma” (1ª p) – evocação da infância e
mostra a seriedade grave de uma criança,
empenhada em salvar sua alma das garras do
demônio e de pecados inculcados por uma religião
de concepção medieval.
“O sorvete” (1ª p) – Compram o sorvete, mas vem a
decepção. Sonho é belo, enquanto sonho; a
realidade é dolorosa e chocante,e quase sempre traz
decepção e frustração.
“A doida” – a transformação de uma criança
descobrindo o lado humano
“Nossa amiga” – Valoriza “as campinas da
imaginação”, o “elemento poetizável” do mundo
infantil. No final uma intertextualidade bíblica, que
coloca o conto no sentido da compaixão humana.
“Conversa de velho com criança” (1ª p) – a menina
Maria de Lourdes e Ferreira, uma relação de amizade
em bonde. O Narrador Carlos questiona o seu
mundo.
Impressões:
o
comportamento
de
certas
personagens e o “mergulho” em seu estado de
espírito e ânimo ante as inquietações da vida.
“O presépio” – profano x sagrado – a mulher e o
olhar machista
“Extraordinária conversa com uma senhora de
minhas relações” (1ª p) – texto com digressões
sobre a beleza
“Meu companheiro” (1ª p) - O cão exerce função
moral de consciência ao narrador, e recupera sua
infância e o autoriza a praticar atos que a condição
de adulto não permita.
Questões sociais: a força opressora do capitalismo,
o valor humano relegado a um segundo plano.
“Câmara e cadeia” - Conto com acentuado humor:
em cima, vereadores na câmara que discutiam um
meio de cobrar mais impostos; em baixo, numa
miséria sórdida, a cadeia com 5 presos em situação
deplorável.
“Beira-rio” Negro Simplício, vindo de Pirapora,
pretende montar sua bitácula, venda de cigarros,
pastéis e aguardente. Desafia o poder da
Companhia. Simplício representa a dignidade do
homem na luta contra a opressão.
“Um escritor nasce morre” (1ª p) - Escritores em
torno dele discutiam assuntos literários, ele vai
caindo em profunda solidão. Sátira literária Reflexão
sobre a literatura engajada.
Universo fantástico, surreal, macabro: situações
misteriosas, histórias do sobrenatural, atitudes
absurdas e insólitas do homem.
“Flor, telefone, moça” – moça rouba flor do cemitério e
uma voz ao telefone lhe cobra a flor. A insistência leva a
moça ao desespero e à morte. A voz não chama mais.
Tom de ironia.
“A baronesa” Narrativa com característica de humor
negro, pelo tom satírico e irônica, em que se opõe,
entre outras coisas, a nobreza e a avareza.
“O gerente” – Samuel, gerente de banco, comia o dedo
de mulheres quando as cumprimentava.
“Miguel e seu furto”. O roubo do mar. Miguel depositou
sua fortuna em bancos seguros e passou a colecionar
conchinhas para se lembrar de sua ex-propriedade.
Troca da 1ª pessoa do plural para a 3ª.
Os textos de Drummond têm a estrutura dos contos
tradicionais modernistas, apesar de se perceber em
alguns a proximidade com a crônica, pois estes
focam lapsos do cotidiano. É o que ocorre em
“Conversa de Velho com Criança”.
OBS:
Com o auxílio da imaginação e um limite entre o real
e o fantástico, Drummond constrói histórias típicas
do cotidiano urbano, que muitas vezes remontam aos
tempos das cidades pequenas e de interior. Há
ternuras, como no conto “Meu companheiro”;
decepções, “O sorvete”; solidariedade, “A doida”;
crenças interioranas, “A salvação da alma”; olhares
perturbados de um homem para com uma mulher em
um coletivo, momentos de sensualidade e desejos,
“Extraordinária conversa com uma senhora de
minhas relações”; o fantasmagórico surrealismo de
“Flor, telefone, moça”; o devaneio de uma moça ante
a montagem de um presépio e o namorado, “O
presépio”.
Contos solipsistas: vida ou conjunto dos hábitos
de um indivíduo solitário;
A escrita dos narradores como saída para a
inércia;
A convivência nitidamente desconfortável entre as
personagens;
Personagens, alguns, recorrem ao ato da escrita
para
encontrar
seus
supostos
“paraísos
artificiais”;
Diálogos verossímeis e prosaicos, através do uso
da coloquialidade, aliada à presença constante da
ironia e da auto-crítica;
Os finais sempre ficam em aberto, pois não há uma
solução definida e definitiva para os conflitos,
tramas e obsessões das personagens expostos
nas narrativas ;
A narração em 1ª pessoa, exceto no conto “O
Primo” (3ª pessoa), auxilia o caráter parcial,
limitado
e
incompleto
dos
textos,
que
propositalmente “frusta” as expectativas do leitor;
O 1º conto, “Os paraísos artificiais”, o narrador
dialoga com um você – dêitico -
Intertextualidades:
Charles Baudelaire – o título do livro vem de uma
obra desse autor; e remete às satisfações
momentâneas que os homens buscam para fugir da
mediocridade existencial.
Samuel Beckett – pelas temáticas da imobilidade, da
solidão e pelo absurdo de algumas situações.
Kafka - as personagens encontram-se em situações
desesperadoras ou inquietantes, ficam perturbadas
pela falta de motivos aparentes para elas e não
possuem saída ou escape. Fazem questionamentos
e cogitações sem, no entanto, chegar a conclusão
alguma.
UMA DOENÇA
As divagações que acompanhamos nada mais são do que as
próprias anotações feitas pelo narrador e que estamos lendo, isto
é: o breve relato que lemos foi a solução por ele encontrada para
sair da inércia a que a doença o submetera.
COMPANHEIRO DE QUARTO
A planta representa o desconhecido, a fascinação e, ao mesmo
tempo, o incômodo. A beleza do desconhecido e da planta fazem o
narrador se lembrar de sua miséria e amargura íntimas.
Dificuldade de lidar com o desabrochar e o perfume da flor:
dificuldade da relação com o outro porque, especularmente, ele
reflete a insegurança, o desamparo e a solidão do narrador
UM CRIMINOSO
Quem é afinal o criminoso? O vouyer paranóico ou as pessoas de
fora do apartamento que ele observa.“O copo escorrega da minha
mão e se espatifa, à toa , à toa.” = a trama, a história frágil.
Ditados: uso do senso comum, hipóteses falhas. Frustração das
expectativas do narrador e do leitor.
Solombra(1963) foi o último livro publicado em vida,
por Cecília Meireles. É ele uma “parte” que contém o
“todo” de seu universo poético.
Apresenta, evidentes, os mesmos questionamentos
universais, as mesmas inquietações presentes em
toda a obra da poeta (a problemática filosóficoexistencial está na gênese de sua criação poética) .
Nele não há limitação geográfica ou temporal, "tudo
é no espaço - desprendido de lugares" e "tudo é no
tempo - separado de ponteiros".
Solombra pode ser dividido em 03 partes:
1ª o convite – convida o outro a próprio fazer
poético. A “sombra” é indefinida, mas se faz
presente. Há uma constatação e não um tom do
negativismo da vida.
2ª a solidão – o fazer poético é solitário. As coisas
são fugazes. Os elementos típicos do misticismo da
autora ficam em evidência.
3ª a aceitação da morte – a solidão do momento.
Vens sobre noites sempre. E onde vives? Que flama
pousa enigmas de olhar como, entre céus antigos,
um outro Sol descendo horizontes marinhos?
Jamais se pode ver teu rosto, separado
de tudo: mundo estranho a estas festas humanas,
onde as palavras são conchas secas, bradando
a vida, a vida, a vida! E sendo apenas cinza.
E sendo apenas longe. E sendo apenas essa
memória indefinida e inconsolável. Pousa
teu nome aqui, na fina pedra do silêncio,
no ar que frequento, de caminhos extasiados,
na água que leva cada encontro para a ausência
com amorosa melancolia.
(1º poema)
Caminho pelo acaso dos meus muros,
buscando a explicação de meus segredos.
E apenas vejo mãos de brando aceno,
Olhos com jaspes frágeis de distância,
lábios em que a palavra se interrompe:
medusas da alta noite e espumas breves.
Uma parábola invisível sabe
O rumo sossegado e vitorioso
em que minha alma, tão desconhecida,
Vai ficando sem mim, livre em delícia,
como um vento que os ares não fabricam.
Solidão, solidão e amor completo.
Êxtase longo de ilusão nenhuma.
(7º poema)
Arco de pedra, torre em nuvens embutida,
sino em cima do mar e luas de asas brancas...
Meu vulto anda em redor, abraçado a perguntas.
Anda em redor minha alma: e a música e a ampulheta
desmancham-se no céu, nas minhas mãos dolentes,
e a vastidão do amor fragmenta-se em mosaicos.
Ó calma arquitetura onde os santos passeiam
e com olhos sem sono observam labirintos
de terra triste em que os destinos se entrelaçam.
... – presa estou, como a rosa e o cristal, nas arestas
de exatas cifras delicadas que se encontram
e se separam: em polígonos de adeuses...
Alada forma, onde coincidimos?
(8º poema)
Esses adeuses que caíam pelos mares,
declamatórios, a pregar sua amargura,
emudeceram: já não há tempos nem ecos.
Perdeu-se a forma doas abraços. De ar é a lousa
dos cemitérios: um suspiro momentâneo.
De ar esses mortos – que eram de ar enquanto vivos.
De ar, este mundo, esta presença, este momento,
estes caminhos sem firmeza. Dos adeuses
que vamos sendo – ó ramos de ossos, flor de cinzas! –
É que morremos – e num lúcido segredo –
sabendo, ouvindo – atravessados de evidências –
que somos de ar, de adeuses de ar... E tão de adeuses
Que já nem temos mais despedidas.
(28º poema)
O símbolo noturno rege Solombra, palavra que evoluiu
para a forma "sombra". Esse nome, que já traz em si a
ideia de noite, de mistério, constitui-se o símbolo
diretor do livro, cujos 28 poemas têm entre si um elo de
continuidade que "narra" novamente a progressiva
imersão do eu-lírico na noite
Trata-se de um exercício místico de aceitação da morte
- vista como inserção na dimensão noturna e
compreendida como transformação em outro modo de
ser, motivo por que o eu-lírico a ela se entrega,
acolhendo a lição do vento que lhe recorda um saber
anterior:
Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a que não se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus,sem tentação de volta.
Solombra tem uma epígrafe: “Levantei os olhos para
ver quem falara. Mas apenas ouvi as vozes
combaterem. E vi que era no Céu e na Terra. E
disseram-me: Solombra”(Cecília Meireles).
O núcleo da poesia de Solombra é o tempo e as
formas precárias da temporalidade dissolvidas pelo
mesmo tempo. Como um testamento e um
testemunho poéticos da autora posta frente à
parede sem sentido da morte, a lírica de Solombra é
crepuscular.
Todos eles são compostos de versos alexandrinos e
ainda, como no 5º, no 8º ou no 25º, de decassílabos,
com quatro tercetos e um verso final.
Os 13 versos longos de cada um deles são lentos e
graves, aptos para o eu lírico discorrer
conceitualmente sobre a experiência da perda e,
simultaneamente, condensar e depurar elementos
recorrentes na poesia da autora em imagens
formuladas como indeterminação e música.
A definição do “tu” com quem o eu fala compondo-o
como noite, morte, cinza, distância, ausência e
longe aparece pela primeira vez: o “tu” corresponde
à “memória indefinida e inconsolável” que vem
pelas noites assombrar o eu sob sua sombra.
Aqui, o eu enuncia que a matéria da sua poesia é a
memória do que está morto. A memória do que é
cinza se acompanha da cinza, o esquecimento, por
isso é indefinido e por isso o eu vive a perda como
“inconsolável”.
O motivo elegíaco da “cinza”, que condensa o tema
da inutilidade da vida e o tema da morte, é retomado
no 2º poema, que amplifica o tema da perda:
Nossos passos estão já desaparecidos
diálogos foram frágeis nuvens transitórias.
O eu se particulariza na metonímia dos olhos – sua
ação é contemplar e contemplar-se na contemplação
que deseja perenizar o que foi em imagem:
Meus olhos vagos que já viram tanta morte,
firmam-se aqui: voragens, quedas e mudanças
tornam-me em lágrima.
Percebe-se também na obra o uso de algumas figuras
de linguagem:
Sinestesia – a mistura de sensações (sentir perfume e
orvalho – tato, olfato)
Aliteração – a repetição de consoantes (o S na
segunda estrofe, abaixo)
Assonância – a repetição de vogas
“Sinto perfume e orvalho – imagens tênues
que inventa a solidão, para fazer-se
de repente saudade. E vejo em tudo
essas cansadas lágrimas antigas,
essas longas histórias sucessivas
com seus berços e guerras – glórias? – túmulos.”
(página20)
Outro exemplo de sinestesia (“sem voz, doce
engano”), como também de metáfora (“borboletas
sem voz”)
“Brandamente suporta em delicados moldes
enigmas onde a noite e o dia pousam como
borboletas sem voz, doce engano de cinza.”
(página 13)
Prosopopeia ou personificação – vida a seres
inanimados.
(Há também no exemplo abaixo assonância e
aliteração)
“Eu sou essa pessoa a quem o vento chama,
a quem se recusa a esse final convite,
em máquinas de adeus, sem tentação de volta.”
“Que comunicam, seiva a seiva, as primaveras?”
Metáforas – comparação entre dois elementos por
meio de seus significados imagísticos
“em máquinas de adeus, sem tentação de volta.”
(máquinas de adeus – fim de todo ser humano, a
morte)
ANTES DO BAILE VERDE - LYGIA FAGUNDES
TELLES
18 narrativas, escritas no período de 1949 a 1969.
Literatura contemporânea
Linha intimista da narrativa. Ficção introspectiva.
Penetração psicológica para delinear os conflitos
do homem na sociedade contemporânea, através
de uma variedade de sentimentos que a vida
moderna e basicamente urbana sucinta.
A tensão das personagens ou narradores é
interiorizada, o que frequentemente as leva a não a
agir, mas a evadir-se, subjetivando seus conflitos.
Narrativas polissêmicas, repletas de sugestões
conotativas, decorrentes da constante presença de
metáforas e símbolos, que corporificam as temáticas
dos textos.
Personagens e objetos são interrelacionados para
formar uma estrutura simbólica muito forte.
Escrita alusiva e elíptica, ou seja, não há muitas
descrições objetivas.
Narradores oscilam entre 1ª e 3ª pessoas. Usa o
discurso indireto-livre e o fluxo de consciência, do
monólogo interior, através dos quais o leitor conhece
os pensamentos e emoções dos protagonistas.
A cor verde está sempre presente para indicar o jogo
com a palavra literária e poética, já que as narrativas de
Lygia contêm tantos sentidos metafóricos.
O verde forma um jogo entre aparência e essência,
realidade e imaginação, verdade e mentira.
Apenas no conto “Natal na barca” o verde está ligado a
ideia de esperança.
Ao final da leitura ficará a cargo do leitor criar o clima
de mistério, de terror, de desamor e desencontro, de
solidão e abandono.
Os finais dos contos provocam o imaginário coletivo e
convocam os leitores a participarem do ponto de vista
das personagens e narradores. Narrativas reticentes e
instigantes
Considerações sobre os contos:
Rejeição, solidão, frustração, desencontro
temáticas constantes.
são
Finais geralmente trágicos, pois não apresentam
saída para as personagens e seus narradores.
Por trás da delicadeza da linguagem escondem-se
sugestões das pequenas crueldades impostas pela
vida.
A velhice, por exemplo, é aborda de modo irônico e
desencantado, por ser fruto de desprazer e
abandono.
Da mesma maneira o casamento e as relações
amorosas existem mais como fonte de amargura e
decepção do que propriamente de felicidade.
Os ambientes familiares não são idealizados de
forma alguma; são corroídos pela inabilidade de
entendimento entre as personagens. Assim como o
meio familiar é perturbado, os relacionamentos e
sentimentos são insatisfatórios e decepcionantes.
Em meio da percepção aos detalhes do real,
desvelam o drama íntimo das personagens, retrata-se
a solidão interior das personagens. Há preocupação
em sondar a psicologia desses seres.
As mulheres são em geral livres de amarras,
sedutoras, liberais, mas que sofrem por causa da
traição, do abandono e das consequências de suas
escolhas.
Não raro, as personagens estão às voltas com seu
passado, e caem em estados reflexivos. O leitor
compartilhará das lembranças somente à medida
que emergirem, mas a maior parte ficará encoberta.
Tipos variados: adolescentes, idosos, ricos,
miseráveis, crianças, pessoas das mais variadas
classes sociais e categorias. Apresentadas ao leitor
com sua linguagem característica, seus trejeitos,
suas inflexões, suas visões de mundo.
NARRADOR DE 1ª PESSOA
EU ERA MUDO E SÓ
(Manuel)
NATAL NA BARCA
(narradora sem nome)
O JARDIM SELVAGEM
(a menina Ducha)
O MOÇO DO SAXOFONE
(um motorista de caminhão)
HELGA
(Paulo Silva filho que se transforma no germânico
Paul Karsten)
APENAS UM SAXOFONE
(sem nome)
VERDE LAGARTO AMARELO
(Rodolfo)
NARRADOR DE 3ª PESSOA
AS PÉROLAS; O MENINO; VENHA VER O PÔR-DOSOL; A JANELA; MEIA-NOITE EM PONTO EM
XANGAI; A CHAVE; A CAÇADA; ANTES DO BAILE
VERDE; OS OBJETOS; UM CHÁ BEM FORTE E
TRÊS XÍCARAS; A CEIA
O autor escreve uma prosa limpa, com muito prazer e
poesia. O leitor, muitas vezes, precisa descobrir as
histórias, pois os finais ficam em aberto. Carlos
Drummond, ainda, propicia ao leitor alguns
momentos de reflexão metalinguística, como também
um certo diálogo, em algumas narrativas, com o
estilo de Machado de Assis, tal como as digressões
do conto “Extraordinária conversa com uma senhora
de minhas relações”.
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Slide 1 - Roginei