490 Natália Marinho Ferreira-Alves um número significativo de lanternas que, por sua vez, precediam o Santo Lenho. É por demais significativa a escolha da Trombeta para abrir a Procissão, e do Santo Lenho para encerrá-la. Por fim, a sucessão dos Passos, paragens obrigatórias onde se recriavam as cenas mais importantes da Paixão do Senhor: no Primeiro Passo, nunca mencionado, pensamos que, logicamente, seria representada a Última Ceia; no Segundo Passo, o Senhor no Horto (Mt 26, 36-46; Mc 14, 32-42; Lc 22, 39-45; Jo 18, 1-2); no Terceiro Passo, o Senhor com túnica e manto (Mt 27, 28; Mc 15, 17; Lc 23, 11; Jo 19, 2); no Quarto Passo, o Senhor Preso à coluna (Jo 19, 1); no Quinto Passo, o Senhor da Cana Verde (Mt 27, 29-31; Mc 15, 19); no Sexto Passo, o Senhor com a cruz às costas (Mt 27, 31; Mc 15, 20-22; Lc 23, 26; Jo 19, 16-17); no Sétimo Passo, o Senhor com a cruz às costas; e, por fim, no Oitavo Passo, o Calvário, o Senhor Crucificado (Mt 27, 33-38; Mc 15, 24-28; Lc 23, 33; Jo 19, 17-22). No exemplo de 1894, a procissão apresenta um esquema diferente daquele que acabámos de analisar, permanecendo alguns dos elementos apontados, mas verificando-se, também, o aparecimento de outros. A procissão era aberta com o Pendão, seguido de duas tochas, que precediam Bandeira da Irmandade; depois da Bandeira, seguiam-se outras duas tochas que, por sua vez, antecediam os Martírios associados à Paixão do Senhor, e que se revelam elementos de grande importância pelo seu carácter didáctico. As figuras de Maria (se bem que na procissão deste ano não seja mencionada, certamente por lapso), São João e Maria Madalena continuam a estar presentes já que, sem elas, a compreensão do discurso catequético ficaria incompleta. Ao Andor do Senhor (dos Passos), levado por seis Irmãos, seguiam-se seis lanternas que, por sua vez, davam lugar à figura do Cireneu. Logo após Simão de Cirene surgia o Pálio, elemento constante em todas as Procissões dos Passos estudadas, agora seguido por oito lanternas, número considerável de luzes, que aumentava o carácter dramático do cortejo. Por fim, carregado por quatro Irmãos, o Andor do Senhor da Cana Verde, elemento novo introduzido no esquema processional, que contribuía de forma significativa para uma melhor divulgação dos momentos mais marcantes da Paixão de Cristo. Não são mencionados os Passos, ocorrência verificada a partir de 1872, para o período cronológico estudado. Uma inovação importante refere-se ao aparecimento dos Martírios (ainda hoje presentes na Procissão do Enterro do Senhor) como elementos estruturantes no contexto processional já que, pela posição ocupada – logo após as tochas que se seguem à Bandeira da Irmandade, e antes das figuras centralizadoras de Maria-São João-Maria Madalena-Anjo – constituem um roteiro sumário, mas essencial, dos episódios mais marcantes da Paixão que precedem a Crucifixão de Cristo. Assim, os diversos ítens apontam para uma simbologia de todos conhecida: – a mão com a bolsa está associada aos trinta dinheiros recebidos por Judas Iscariotes, como recompensa pela sua traição (Mt 26, 14-16; Mc 14, 10-11; Lc 22, 3-6); – a espada lembra o momento em que Simão Pedro (São Pedro), para defender Cristo, desembainha a sua espada e fere Malco, o servo do Sumo Sacerdote (Mt 26, 51-53; Mc 14, 47; Lc 22, 50-52; Jo 18, 10-11);