i UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA INFLUÊNCIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO NAS ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES E METABÓLICAS DE SURFISTAS PROFISSIONAIS. AUTOR: MARCUS VINÍCIUS PALMEIRA SILVA ORIENTADOR: PROF. DR. ROGÉRIO BRANDÃO WICHI SÃO PAULO – SP 2007 ii MARCUS VINÍCIUS PALMEIRA SILVA INFLUÊNCIA DO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO NAS ALTERAÇÕES CARDIOVASCULARES E METABÓLICAS DE SURFISTAS PROFISSIONAIS. Dissertação apresentada à Faculdade de Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação Física, sob orientação do Prof. Dr. Rogério Brandão Wichi. iii Palmeira, Marcus Vinícius Influência do sistema nervoso autônomo nas alterações cardiovasculares e metabólicas de surfistas profissionais - São Paulo, 2007. 88 f.: il.; 30 cm Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2007. Orientador: Profª. Dr. Rogério Brandão Wichi 1. Surfe - Atletas. 2. Sistema nervoso autônomo. 3. Metabolismo. 4. Sistema cardiovascular I. Título CDD- 796 Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878 iv “Juventude não é um período de vida. É um estado de espírito, um efeito da vontade, uma qualidade da imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, do gosto da aventura sobre o amor do conforto. Não é por termos vivido certo número de anos que envelhecemos; envelhecemos porque abandonamos o nosso ideal. Os anos enrugam o rosto; renunciar ao ideal enruga a alma. As preocupações, as dúvidas, os temores e os desesperos são os inimigos que lentamente nos inclinam para a terra e nos tornam pó, antes da morte. Jovem é aquele que se admira, que se maravilha e pergunta, como a criança insaciável: E DEPOIS?... que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida. És tão jovem quanto a tua fé. Tão velho quanto a tua descrença. Tão jovem quanto a tua confiança, em ti e a tua esperança. Tão velho quanto o teu desânimo. Serás jovem, enquanto te conservares receptivo ao que é belo, bom e grande. Receptivo às mensagens da natureza, do homem, do infinito.” (Autor desconhecido). Esta dissertação é dedicada a minha filha Gabriella Vasconcelos Palmeira que foi a luz que iluminou minha busca para alcançar mais esse degrau na minha evolução, tanto profissional quanto pessoal, sendo meu maior fator de determinação e incentivo nos momentos mais difíceis desse desafio! v Uma homenagem especial e meu sincero agradecimento às pessoas que contribuíram em mais um estágio de minha vida: a Moema Palmeira Silva, minha mãe, pelo constante incentivo, e ajuda, em todas as etapas da caminhada; a Luiz Henrique Ferreira da Silva, meu pai, pela colaboração e estimulo dedicado a esse trabalho; a Luciana Palmeira da Silva, minha irmã, pelo constante incentivo nas horas de decisão e pela valorização da identidade e origem durante a caminhada; a Solange Ferreira de Vasconcelos, minha esposa, pelo continuo estimulo, apoio e dedicação; a Rogério Brandão Wichi, por sua atenciosa orientação e incentivo, a cada etapa da elaboração desta dissertação; a Hélio José Bastos Carneiro de Campos, por sua boa vontade, colaboração e estímulo constante; a Marcio Neves, por seu suporte tecnológico, boa vontade e idéias, fundamentais na conclusão deste; a Cristiano Mostarda, por sua boa vontade e colaboração; fundamental na conclusão deste; a João Marcelo Miranda, por sua colaboração e estimulo; a equipe de coleta formada por Alexander Pereira, Caio Igor, Helinho Campos e Vinícius Ferreira por acreditarem na realização deste trabalho; aos atletas de surfe participantes por acreditarem e estarem sempre receptivos nas etapas que construíram esta pesquisa; aos Mestres e amigos que contribuíram decisivamente para efetivação deste; a DEUS, sempre presente em todos os momentos de minha vida. o meu muito obrigado! vi RESUMO O objetivo deste trabalho foi identificar as influências do sistema nervoso autônomo sobre os ajustes cardiovasculares e metabólicos que ocorrem durante as diferentes fases que compõem uma bateria de surfe competitivo. Como amostra da pesquisa foram utilizados 26 (vinte seis) indivíduos, do sexo masculino, idade 25 (+ 5) anos, divididos em: 15 (quinze) surfistas competidores do Circuito Brasileiro de Surf Profissional, e 11 (onze) praticantes recreativos de surfe. Para execução da pesquisa os grupos foram submetidos a uma bateria de testes de avaliação física e registro da freqüência cardíaca (FC) em repouso. A segunda fase do estudo, realizada apenas pelos atletas competidores, foi a uma simulação de competição. Amostras de sangue foram coletadas em diferentes momentos da bateria para análise dos níveis sanguíneos de ácido láctico e glicose. Além disso, a freqüência cardíaca (FC) foi monitorada antes, durante e após a bateria para análise da variabilidade e modulação autonômica da FC. Foi observado que atletas profissionais de surfe apresentam maiores níveis de aptidão física e funcional que os praticantes recreacionais; durante a utilização da área funcional da onda, pelos atletas, observouse aumento da FC e lactato, além de redução da glicemia. As análises de correlação demonstraram que os atletas profissionais com maior vii modulação vagal apresentaram melhores respostas cardiovasculares e metabólicas. viii ABSTRAT The aim of this study was to identify the influences of the autonomic nervous system on the cardiovascular and metabolic responses during the surf competition. The research was performed in 26 (twenty six) individuals, male, age 25 (+ 5) years, divided in: 15 (fifteen) surfers competitors of Surf Professional's Brazilian Circuit, and 11 (eleven) recreational apprentices of surf. The groups were submitted to a physical fitness and heart rate (HR) evaluation in rest. The second phase of the study was performed just in the athletes. A competition was simulation for analysis of the of lactic acid and glucose blood levels. Besides, the HR was monitored before, during and after the competition. The HR variability was also analyzed before and after competition. The results showed that professional athletes of surf presented larger physical fitness levels and functional that the apprentices free-surfers. The competition stimulated increase of HR and lactic acid, and decreased of glycemia levels. The correlation analyze demonstrated that the best metabolic and cardiovascular index during the competitive were obtained by athletes that present larger vagal modulation. ix ÍNDICE RESUMO................................................................................................................................vi ABSTRAT.............................................................................................................................viii LISTA DE TABELAS E FIGURAS..........................................................................................x LISTA DE ANEXOS................................................................................................................xi 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................2 1.1 O SURF COMPETITIVO..................................................................................................2 1.2 A TRANSIÇÃO DO REPOUSO AO EXERCÍCIO ............................................................6 1.3 ENTRADA NA ÁREA FUNCIONAL DA ONDA ...............................................................9 1.4 O RETORNO AO OUT-SIDE.........................................................................................11 1.5 O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO - SNA................................................................14 2 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................22 2.1 OBJETIVO GERAL........................................................................................................22 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................................22 3 MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................................25 4 RESULTADOS ..............................................................................................................35 4.1 COMPARAÇÕES DAS VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA ............................................35 4.2 ÍNDICES DE VFC ENTRE SURFISTAS RECREACIONAIS E COMPETIDORES .........36 4.3 DADOS TÉCNICOS DO PROTOCOLO DE COLETAS................................................388 4.4 DADOS METABÓLICOS E CARDIOVASCULARES ....................................................400 4.5 DADOS CARDIOVASCULARES ..................................................................................422 4.6 COMPARAÇÕES DA VFC ANTES E APÓS A BATERIA COMPETITIVA DE SURFE....443 4.7 CORRELAÇÕES ENTRE VO2 MÁXIMO COM ÍNDICES DE VFC .................................43 4.8 CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS METABÓLICOS E CARDIOVASCULARES.45 4.9 CORRELAÇÕES ENTRE A FC COM ÍNDICES DE VFC .............................................477 4.10 CORRELAÇÕES ENTRE DADOS TÉCNICOS E FISIOLÓGICOS ............................498 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ...............................................................................52 6 SUMÁRIO......................................................................................................................66 7 CONCLUSÃO................................................................................................................68 8 REFERÊNCIAS .............................................................................................................78 x LISTA DE TABELA E FIGURAS Tabelas 1 - Comparações das variáveis de aptidão física..................................35 Figura 1 - Comparações entre índices de VFC durante repouso entre surfistas recreacionais e competidores...............................................................................37 Figura 2 - Dados técnicos do protocolo de coletas............................................39 Figura 3 - Dados metabólicos e cardiovasculares..............................................41 Figura 4 - Dados cardiovasculares PAS e PAD...................................................42 Tabela 2 - Comparações da VFC antes e após a bateria competitiva...............43 Figura 5 - Correlações entre VO2 máximo com índices de VFC........................44 Figura 6 - Correlações entre parâmetros metabólicos e cardiovasculares.....46 Figura 7 - Correlações entre a FC com índices de VFC.....................................48 Figura 8 - Correlações entre dados técnicos e fisiológicos.............................50 xi LISTA DE ANEXOS ANEXO 1 – Termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE......................71 ANEXO 2 – Ficha de registro de dados de avaliações físicas............................72 ANEXO 3 – Ficha de registro de dados durante bateria competitiva................73 ANEXO 4 – Recomendações para as coletas praia e laboratório......................74 ANEXO 5 – Parecer de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas..............75 ANEXO 6 – Valores das variáveis metabólicas (lactato e Glicose)....................76 ANEXO 7 – Valores das variáveis cardiovasculares (F.C. e PA)........................77 1 INTRODUÇÃO 2 1 1.1 INTRODUÇÃO O SURF COMPETITIVO O surfe competitivo brasileiro atingiu um nível de grande relevância no cenário esportivo mundial. Os surfistas competidores brasileiros alcançaram, na última década, resultados em competições e circuitos internacionais, que surpreendem os mais otimistas visionários dos anos anteriores. Os atletas brasileiros conquistaram oito títulos mundiais do WQS – World Qualifing Series, que é a divisão de acesso ao WCT – World Championship Tour, primeira divisão do surfe mundial. O WQS é um circuito aberto a todos os atletas competidores do mundo. Nesta competição os 8 melhores resultados do atleta são computados para classificação final do ranking, sendo que os 15 primeiros são promovidos para o WCT que é uma divisão composta pela elite do surf mundial. Participam do WCT os 45 (quarenta e cinco) melhores surfistas profissionais do mundo, ambos os circuitos regidos pela Associação de Surfe Profissional (ASP), que é a entidade máxima mundial da modalidade. Além das conquistas no WQS, os atletas brasileiros ganharam três títulos no Billabong World Junior, circuito mundial para competidores até 20 anos de idade, evento que é patrocinado pela multinacional do surfe Billabong. A evolução do surfe no Brasil pode também, ser verificada no World Surfing Games (edição 3 mundial do surfe amador), que é regulamentado pela International Surfing Assossiation - ISA. Neste evento, os atletas brasileiros que se apresentavam nas últimas posições no início da década de 90, tornaram-se campeões e vice-campeões em 2002 e 2004, respectivamente. Evidentemente, esta evolução técnico-competitiva do surf brasileiro vem ocorrendo em paralelo ao surgimento, e desenvolvimento, de pesquisas nos setores ligados à ciência do esporte, em especial na educação física. No entanto, poucos são os estudos voltados para a prática do surfe. Este trabalho surge a partir do diagnóstico que atesta a inexistência, e a necessidade emergente, de se abordar a importância da preparação física específica para surfistas competidores. Estudo de Palmeira (1999) constatou que o acompanhamento de atletas realizado por um treinador, ou técnico qualificado era inexistente, mas que a maioria dos atletas acreditava na necessidade de inclusão desse profissional para melhorar suas performances. Segundo Steinman (2003), fica cada vez mais evidente que só talento natural e habilidade não são suficientes para ganhar competições de surfe, sendo necessário um programa específico de treino. A necessidade da implantação de treino de preparação física específica para o surfe foi diagnosticada recentemente após levantamento de dados durante um evento realizado na cidade de São 4 Sebastião, São Paulo, durante o Billabong Pro Teen Series 2005. Dados deste trabalho demonstraram que 56% dos atletas não possuíam nenhum treinamento físico paralelo ao surfe; 22% praticavam atividades físicas por conta própria; 18% possuíam apoio (bolsas) em academias sem especificidade de treinamento para a prática do surfe; e apenas 4% dos atletas afirmaram realizar treinamento especifico para o surfe realizado por um professor de educação física (dados não publicados). A idéia de que a realização de um planejamento sistematizado e um treinamento físico específico interfere na performance técnica do surfe foi confirmada através de um estudo de caso realizado com um atleta do circuito baiano de surfe profissional. Neste estudo foi demonstrando que o planejamento sistematizado do treinamento físico, bem como sua execução, elevou consideravelmente a performances técnicas do atleta quando em competições (PALMEIRA, 2002). A execução de um planejamento de treino físico específico deve ser baseada nas exigências metabólicas, cardiovasculares, respiratórias e neuromusculares que são impostas ao organismo durante a prática do surfe. Diante da carência de estudos na literatura que demonstrem tais exigências, pretendemos com este trabalho levantar dados que possam auxiliar na compreensão das adaptações metabólicas e cardiovasculares durante os diferentes eventos que 5 compõem uma bateria competitiva da modalidade do surfe, bem como, a contribuição do sistema nervoso autônomo em mediar tais alterações. As competições realizadas na modalidade surfe, em todas as categorias, são organizadas em formas de baterias classificatórias, sendo que na categoria profissional possuem em média duração de vinte e cinco minutos cada. A bateria é composta por dois atletas, sendo que cada atleta tem direito a surfar um total de dez ondas. Notas são atribuídas em função das manobras realizadas em cada onda surfada, e o atleta é classificado conforme somatória das duas melhores notas obtidas. Assim, a execução de manobras na onda é o principal objetivo do atleta visando alcançar um bom desempenho na competição. No entanto, ao analisar uma bateria competitiva observase que existe uma pluralidade de situações motoras, nos diversos estágios que compõe a sua prática, que podem interferir no resultado final da competição. O atleta ao entrar no mar precisa atravessar a arrebentação para se posicionar na área de formação das ondas (região chamada de out-side); seguido da entrada na área funcional da onda e execução de manobras, e por fim a volta rápida ao out-side. Sendo assim, as necessidades do organismo devem ser analisadas não apenas no momento da execução das manobras, mas também durante toda a bateria competitiva, tendo em vista a diversificação 6 motora e física que acontece em cada momento diferente da competição e que podem interferir na performance técnica do competidor de surfe. 1.2 A TRANSIÇÃO DO REPOUSO AO EXERCÍCIO Ao iniciar uma bateria competitiva, o atleta sai do estado de repouso para o estado ativo fisicamente. Essa mudança é desencadeada a partir de um estímulo sonoro autorizando a entrada na água, isso no sistema de largada beach-start, que é o tradicional em competições de surfe, no qual a competição se inicia com a saída dos atletas a partir da areia. No sistema water-start, onde a bateria começa com o atleta já posicionado na água, também há um sinal sonoro para iniciar a competição. Em ambas as situações há necessidade de vários ajustes orgânicos para suprir a demanda energética necessária às exigências da atividade física. Ao entrar na água, é necessário ajuste de termorregulação para adaptar o corpo a temperatura da água, que geralmente é inferior a 37ºC. Se houver um isolamento insuficiente contra o frio, qualidades físicas relevantes para o surfista competidor, como a capacidade de desenvolver força muscular e a capacidade de realizar movimentos coordenados, podem ser afetadas. Sabe-se que a resistência muscular localizada – RML, e a força muscular, principalmente de membros superiores são extremamente importantes neste momento, tendo em 7 vista a atividade de remada que o atleta realiza nesta fase, visando atravessar a arrebentação e chegar ao local de formação das ondas. Esta fase pode durar aproximadamente oitenta segundos (FONSECA, 2003). Sendo que as condições do mar, como quantidade e força das ondas podem interferir na duração e na intensidade do exercício físico realizado nesta etapa. O ajuste da temperatura corporal é auxiliado por alterações que ocorrem no sistema cardiovascular e respiratório. Diversos estudos já demonstraram que a transição do repouso para o exercício induz aumento da freqüência cardíaca (resposta cronotrópica) e da força de contração do músculo cardíaco (resposta inotrópica). O aumento do cronotropismo e do inotropoismo cardíaco promove elevação do débito cardíaco durante o exercício físico (CLAUSEN 1969, e EKBLOM et al. 1968). Esse ajuste permite que maior quantidade de sangue possa ser distribuída para todo o organismo por unidade de tempo. O sistema vascular também se adapta a essa nova situação. Já foi demonstrado que durante o exercício físico ocorre vasodilatação nas áreas envolvidas com a atividade muscular e vasoconstrição em regiões menos importantes, como a região subcutânea. Essas respostas além de possibilitar maior fluxo de nutrientes e oxigênio para as células envolvidas na contração muscular reduzem a perda de calor para o 8 meio ambiente. Dessa forma as alterações do sistema cardiovascular durante a fase inicial da bateria do surfe contribuem para manter a temperatura corporal em condições estáveis, bem como para a manutenção do metabolismo celular que se apresenta aumentado. A transição do repouso para o exercício também é evidenciada pelo aumento do metabolismo celular em especial na musculatura ativa, para suprir a demanda energética acionada pelo início da atividade de remada para o posicionamento inicial do atleta no outside. Sendo assim, uma série de reações químicas responsáveis pelos processos de síntese e degradação dos nutrientes derivados da alimentação, devem ocorrer na célula para sintetizar moléculas de adenosina trifosfato (ATP), que fornecerão a energia necessária para que ocorram os processos biológicos. O ATP é considerado um composto de alta energia, sendo que sua hidrólise é capaz de fornecer a energia para o trabalho celular. A síntese de ATP ocorre em condições com oferta de oxigênio, onde o metabolismo energético utilizado para sua produção está relacionado ao sistema respiratório (fosforilação oxidativa), como também na ausência do oxigênio de forma anaeróbia (sistemas fosfagênio e glicolítico anaeróbio). Uma ativação das diferentes vias dependem de fatores como intensidade, duração fazem físico de exercício, treinamento de estado e dieta alimentar (SALTIN, 1987; BOOTH and THOMASON, 1991). Esta fase 9 de entrada no mar e passagem pela rebentação deve ser realizada rapidamente, pois o atleta que primeiro se posiciona no out-side tem prioridade para a escolha da onda. Considerando que o tempo de duração desta fase é em torno de oitenta segundos é possível que a principal via utilizada na transformação dos alimentos para a produção da ATP seja a via anaeróbia lática. 1.3 ENTRADA NA ÁREA FUNCIONAL DA ONDA E REALIZAÇÃO DE MANOBRAS Após o estágio inicial no qual o atleta já se localiza no out-side, é iniciada outra fase do surf competitivo: a entrada e utilização da área funcional da onda. É nessa região, entre a crista e a base da onda, que o atleta executa as manobras. Esse processo exige uma série de atitudes motoras, que terão reações cardiovasculares e metabólicas inerentes a cada estágio do processo neuromuscular. Ao se posicionar para entrar na área funcional da onda o atleta necessita de uma velocidade de reação viso-motora bem desenvolvida. Neste momento os movimentos de remada passam a ser curtos e acelerados (sprint – alta intensidade e curta duração) para favorecer o aumento da aceleração e facilitar a entrada na área mais íngrime da onda. Nessa fase é imprescindível que o atleta possua uma boa velocidade de reação viso-motora para executar o movimento de mudança da posição de decúbito ventral, sobre a prancha, para 10 posição vertical no local e momento exatos que possa favorecer a utilização da área funcional útil na onda. O atleta que possuir essa qualidade mais evoluída tenderá a executar manobras com maior grau de dificuldade (manobras radicais) e, conseqüentemente, obter melhores notas por parte dos árbitros. A realização das manobras depende do tempo no qual o atleta permanece na área funcional da onda. Estudo realizado por Fonseca (2003) verificou que no Brasil, esse tempo é em média de 15 segundos. Ao realizar uma descrição funcional dos movimentos utilizados na realização das manobras executadas por um surfista, observa-se a complexidade existente nas mesmas; ou seja, o atleta deve manter em todos os momentos o maior controle sobre sua prancha e sincronia total com a onda que estiver surfando. Os movimentos necessitam de uma combinação precisa entre a coordenação motora, agilidade, velocidade e força de explosão, dentre outras qualidades físicas (PALMEIRA, 2002). Além do estado de aptidão física, o equilíbrio emocional, e o nível de treinamento somado a tática competitiva adotada na bateria são de fundamental importância para o bom desempenho. Diante desse complexo repertório neuromotor apresentado pela prática do surfe em competições o organismo apresenta adaptações cardiovasculares, respiratórias e metabólicas para manter a atividade 11 neuromuscular. Sabe-se que aumento do metabolismo energético é acompanhado da elevação da freqüência cardíaca e da atividade respiratória. Embora a freqüência respiratória aumente, ocorre déficit de oxigênio, ou seja, período no qual o consumo de oxigênio (VO2) fica abaixo daquele necessário para fornecer todo o ATP exigido pelo exercício. Portanto, a fase caracterizada pela entrada na área funcional e a realização de manobras (tempo médio de quinze segundos) deve utilizar predominantemente o sistema anaeróbio para a obtenção de energia. Segundo Fox e McArdle (1979) tempo de atividade física inferior a 15 segundos utilizam-se preferencialmente o sistema fosfagênio (também denominado ATP-CP) para a ressíntese do ATP. No músculo, a fosfocreatina pode ser utilizada para ressintetizar ATP em uma taxa muito alta de energia. O desdobramento deste sistema em energia, com auxílio da enzima ATPase da miosina, libera ADP sem que se produza o ácido lático. No entanto, a quantidade de ATP formada é limitada devido à baixa quantidade de creatina fosfato que pode ser armazenada na célula muscular (BOOTH and THOMASON, 1991). 1.4 O RETORNO AO OUT-SIDE Após surfar uma onda durante a bateria competitiva, o atleta retorna ao out-side para se posicionar novamente para a escolha de uma nova onda. Esse percurso de retorno caracteriza-se 12 essencialmente por movimentos cíclicos de remada, associado a movimentos seguidos de rápido mergulho (passar por baixo da onda). Em estudo realizado por Fonseca (2003) foi verificado que no Brasil, esse tempo de remada foi de aproximadamente oitenta segundos. Nesta fase, se não houver condições de promover a ressíntese do ATP através da doação de fosfato de creatina, o organismo do atleta tende a iniciar a utilização de outra via, o sistema anaeróbio glicolítico, que é ativado depois de decorrido um tempo médio de 15 segundos da atividade (SALTIN, 1987; BOOTH and THOMASON, 1991; FOSS & KETEYIAN, 2000;). Segundo Powers (1990) atividade física de elevada intensidade com duração entre 30 e 180 segundos utiliza-se predominantemente do sistema glicolítico lático (via anaeróbia) para a obtenção da ATP. A utilização dessa via envolve a degradação da glicose ou do glicogênio em ácido pirúvico. Essa transformação ocorre através de reações químicas visando remoção dos hidrogênios contidos nessas moléculas. O hidrogênio removido é transportado para que ocorra a formação da ATP. Duas proteínas são responsáveis por mediar esse transporte: a flavina adenina dinucleotídeo (FAD) e principalmente a nicotinamina adenina dinucleotídeo (NAD). Na presença de oxigênio o hidrogênio transportado é lançado no interior das mitocôndrias, porém na ausência do oxigênio, o ácido pirúvico aceita o hidrogênio se transformando em ácido lático. Essa reação 13 ocorre na presença da enzima lactato desidrogenase, com o objetivo de reciclar a NAD para a continuação do transporte dos hidrogênios (CAHILL, 1971, e BOOTH end THOMASON , 1991; FOX et al. 1993). Dessa forma, a ativação dessa via tem como produto final formação do ácido láctico na célula muscular. A taxa de formação de ácido láctico depende principalmente da intensidade do exercício, em maior grau da intensidade relativa do exercício (% VO2 máx) do que da intensidade absoluta (FOX et al. 1993). O ácido láctico pode ser removido da célula muscular, podendo ser transportado para músculos vizinhos inativos ou migrando para o fígado para ser transformado novamente em glicogênio ou glicose por enzimas específicas, no entanto, quando a produção é maior que sua remoção, o resultado pode ser a acidose metabólica, levando a fadiga muscular, ou a incapacidade de manter o processo contrátil (BENEKE, 2003). Nesse momento, a participação do sistema respiratório é importante para manutenção do equilíbrio ácido-base do organismo. O aumento da freqüência respiratória contribui para manutenção do equilíbrio do pH. Além disso, o sistema cardiovascular continua com o trabalho elevado para manter o débito cardíaco alto. A realização de atividades acíclicas e atividades físicas com intervalos irregulares que exigem ajustes rápidos do sistema cardiovascular, respiratório e no metabolismo energético celular 14 dependem do funcionamento do sistema nervoso autônomo (SNA). Sendo que já está estabelecido que o SNA coordena o conjunto de todas essas repostas, visando à manutenção da homeostasia interna durante o repouso ou durante a prática da atividade física. 1.5 O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO - SNA Já esta bem estabelecida a permanente influência exercida pelo SNA para regular o ambiente interno do corpo. Ele controla a atividade do sistema cardiovascular, respiratório, endócrino, renal e digestivo, e também participa no controle do metabolismo energético celular (CATAI et al. 2002 E PASCHOAL et al. 2006). Essa respostas reguladoras recebem o nome de respostas autonômicas, pois são efetuadas pelo SNA por maio de suas subdivisões anatomofuncionais – o sistema nervoso simpático (SNS) e o sistema nervoso parassimpático (SNP). A divisão simpática do sistema nervoso estimula ações que mobilizam energia, permitindo ao organismo responder a situações de estresse e maior demanda energética, como nas atividades físico-desportivas. De maneira antagônica, o SNP estimula principalmente atividades que desaceleram o metabolismo, como as reduções do ritmo cardíaco e da pressão arterial, sendo preponderante na redução da intensidade do esforço, e nos momentos de recuperação para regular o metabolismo 15 orgânico de acordo com a necessidade apresentada (PASCHOAL et al. 2006). As ações simpáticas agem através de hormônios secretados pelos neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático, noradrenalina e a adrenalina, que tem ação direta no órgão afetado, razão pela qual esses neurônios são chamados adrenérgicos. A ativação simpática põe em curso uma série de respostas fisiológicas conhecidas, em conjunto, como resposta de fuga-ou-luta. Durante o exercício físico essas respostas agem sobre o sistema cardiovascular, respiratório e no metabolismo energético. No sistema cardiovascular promove aumento da freqüência cardíaca e da força de contração, contração de vasos sanguíneos que suprem os órgãos não essenciais, como os rins e o trato gastrointestinal e dilatação de vasos sanguíneos que suprem os músculos que participam do exercício (músculo esquelético, cardíaco, fígado e tecido adiposo). No sistema respiratório promove aumento da amplitude e da freqüência respiratória, através da dilatação das vias aéreas. E no metabolismo energético, atua sobre os hepatócitos, no fígado, onde estimula a glicogenólise, e também sobre as células do tecido adiposo realizando a lipólise para disponibilizar os ácidos graxos e o glicerol como fonte de energia (FOX et al. 1993; CATAI et al. 2002 E PASCHOAL et al. 2006). 16 A partir do momento em que o organismo identifica estímulos de conclusão da atividade na água, ou final de bateria, inicia-se o processo de reorganização orgânica para ser readquirido a homeostase em repouso, o momento de volta à calma. Esse processo de reorganização é desencadeado pelas ações parassimpáticas sobre fatores metabólicos, cardiovasculares e respiratórios. No metabolismo atua diretamente na redução da produção de energia; no aspecto cardiovascular age reduzindo o ritmo cardíaco, a pressão arterial, redistribuição do fluxo sanguíneo através da vasodilatação periférica, que está diretamente associado à redução da freqüência e o volume respiratório, e dissipação do calor. As conseqüências da ativação do tônus parassimpático atuam prioritariamente na desaceleração das reações, e atividades, induzidas diretamente pelo aumento na atividade vagal. Essas ações são mediadas pela acetilcolina, razão pela qual esses neurônios são chamados colinérgicos. Dessa forma, pode-se dizer que a ativação do sistema nervoso simpático (aumento de tônus simpático) juntamente com a inibição do sistema nervoso parassimpático (diminuição de tônus vagal) são respostas importantes para a manutenção do exercício físico (ARAÚJO & ALMEIDA, 2003). Da mesma maneira que a via inversa, com redução da atividade simpática e aumento do tônus vagal, ativada ao termino da atividade 17 física, possui igual relevância para reorganização da homeostase orgânica. 1.6 AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE AUTONÔMICA Uma das maneiras de avaliação da atividade autonômicas é através do bloqueio autonômico farmacológico, que poder ser utilizado para estimar o nível preexistente do tônus simpático e parassimpático sobre o coração (FRANCHINI, 1989). O método utiliza variações que ocorrem nos parâmetros cardiovasculares, em especial na freqüência cardíaca e na pressão arterial, como indicadores do tônus autonômico. O bloqueio farmacológico do coração com atropina e propranolol (ou atenolol) pode ser utilizado tanto na experimentação com animal quanto com humanos, para quantificar as influencias do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático sobre a freqüência cardíaca e também sobre o debito cardíaco. Já a efetivação do duplo bloqueio farmacológico permite a determinação da freqüência cardíaca intrínseca, ou de marcapasso. Alem disto, bloqueadores ganglionares podem ser utilizados para avaliação do componente neurogênico global de controle cardiovascular (DE ANGELIS et al. 2004). A introdução de técnicas que utilizam o bloqueios farmacológico seletivo do sistema nervoso simpático e/ou parassimpático, além de possibilitar a criação de testes padronizados, reconhecidamente aplicados para avaliação de um ou outro ramos do SNA (AKSELROD S. et al. 1981), 18 contribuiu para o desenvolvimento de testes não invasivos confiáveis. A associação desses testes a uma importante ferramenta de análise da função autonômica cardíaca, a variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), trouxe enorme avanço às pesquisas científicas nessa área de investigação, sendo que atualmente a VFC é empregada, diversificadamente, em investigações sobre a função autonômica cardíaca em diversas áreas (PASCHOAL et al. 2006). 1.6 ESTUDO DA VARIABILIDADE DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA A freqüência cardíaca (FC) é mediada primariamente pela atividade direta do SNA, através da atuação dos ramos simpático e parassimpático sobre à auto-ritmicidade do nodo sinusal, com predominância da atividade vagal (parassimpática) em repouso e simpática durante o exercício (ALMEIDA & ARAÚJO, 2003). O estudo da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) tem permitido, de forma não invasiva, segura e reprodutível (PUMPRLA et al. 2002), um melhor entendimento da participação do controle neural simpático e parassimpático sobre o nódulo sinusal (CATAI et al. 2002; MELO et al. 2005). A VFC pode ser analisada tanto por métodos no domínio da freqüência, por meio da análise espectral (ANTILA, 1979; BRUNETTO et al. 2005; LONGO et al. 1995; e SOARES et al. 2005), quanto no domínio do tempo onde são avaliadas as variações da FC e dos intervalos R-R, utilizando-se métodos estatísticos e aritméticos. Através 19 desses métodos é possível obter valores de VFC no domínio do tempo, como o índice RMSSD, que é o cálculo da raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes, expressa em milessegundos, e o índice pNN10, que equivale a percentagem de intervalos RR adjacentes com diferença de duração superior a dez milessegundos (RASSI A. JR. 2000; LIM et al. 2006). Já está bem estabelecido que os índices RMSSD e o pNN10, refletem quase que exclusivamente as oscilações da banda de alta freqüência, ou seja, comporta-se como um índice sensível a modulação vagal (POLANCZYK et al. 1998), não sofrendo influencia da atividade simpática (BIGGER et al. 1992), o que foi comprovado por meio de experimentos com bloqueios farmacológicos (HAYANO et al. 2000). O uso de métodos de medição da atividade autonômica através da VFC foram validados através da comparação com a eletrocardiografia padrão (LOIMAALA et al. 2000). Em experimentos com humanos pode-se utilizar um monitor de freqüência cardíaca (BRASIL et al. 2001; SOARES et al. 2005; BRUNETTO et al. 2005), com cinto transmissor que detecta o sinal eletrocardiográfico batimento-a-batimento e o transmite através de uma onda eletromagnética para o receptor de pulso, onde essa informação é digitalizada, exibida e arquivada para posterior análise. 20 O SNA modula o conjunto de todas as repostas metabólicas e cardiovasculares, visando à manutenção da homeostase orgânica durante o repouso, ou durante o exercício físico. Assim, o estudo do sistema nervoso autonômico é fundamental para que possamos entender a sua participação em mediar tais respostas em atletas profissionais durante a pratica do surfe competitivo. 21 OBJETIVOS 22 2 2.1 OBJETIVO GERAL OBJETIVO GERAL 9 O objetivo geral deste trabalho foi de investigar as influências do sistema nervoso autônomo sobre parâmetros metabólicos e cardiovasculares de atletas submetidos à prática do surfe. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 9 Comparar a flexibilidade, resistência muscular localizada (RML), percentual de gordura corporal, índice de massa corporal (IMC), e consumo máximo de oxigênio (VO2 máx.), entre atletas recreacionais e competidores. 9 Avaliar a VFC total e índices de modulação no domínio do tempo (pNN10, RMSSD) e da freqüência (LF, HF), entre atletas recreacionais e competidores. 9 Comparar os componentes de VFC, nos domínios do tempo e da freqüência, durante a fase de repouso (PRÉ) e após a fase de recuperação (REC) de uma bateria competitiva de surfe com atletas profissionais. 9 Descrever o comportamento da freqüência cardíaca, do ácido láctico e da glicose plasmática antes, durante e após a bateria competitiva de surfe; 23 9 Analisar o comportamento da pressão arterial (PA) e VFC antes e após a bateria competitiva. 9 Correlacionar os componentes que sugerem modulação vagal (índices RMSSD, pNN10 e a banda HF) com os níveis de glicose plasmática e FC durante as fases competitivas. 24 MATERIAIS E MÉTODOS 25 3 MATERIAIS E MÉTODOS O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – COEP da Universidade São Judas Tadeu com o protocolo de número 39/2006 (anexo 5). 3.1 AMOSTRA Para compor a amostra do presente estudo foram convidados 15 (quinze) atletas que competem no circuito brasileiro de surfe profissional; e 11 (onze) praticantes recreacionais da modalidade. O principal critério de inclusão para ambos os grupos foi os indivíduos serem do sexo masculino e possuir idade média de 25 anos; para os atletas profissionais serem considerados aptos para compor a amostra tiveram que se enquadrar em alguns critérios: a) participar do circuito brasileiro de surfe possuindo o tempo mínimo de 5 anos de prática competitiva; b) ter uma freqüência semanal de pelo menos 10 horas de prática. Definiu-se como critério de exclusão: a) o atleta que possuísse mais de seis meses sem participar de competições endossadas por Federações ou Confederação da modalidade; b) apresentasse lesão, dor ou cirurgia ortopédica recente (3 meses), ou c) estivesse fazendo uso de qualquer medicamento, em especial os que se enquadram na categoria de beta-bloqueadores. Os participantes foram esclarecidos 26 sobre o trabalho e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE para sua participação no estudo (anexo 1). Os dados pessoais dos voluntários que formaram a amostra foram mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da pesquisa foram utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos a seguir, incluída sua publicação na literatura científica especializada. 3.2 PROTOCOLO EXPERIMENTAL Para efetivar as coletas de dados os indivíduos participaram de duas etapas de testes: 1a etapa - avaliação física para identificação do perfil de aptidão física dos participantes e comparação dos competidores com praticantes recreacionais; Nesta etapa todos os participante (praticantes recreacionais e atletas profissionais) foram submetidos a uma bateria de testes. Foram neuromusculares e avaliados metabólicos. os aspectos Em relação antropométricos, às variáveis antropométricas, foi analisado o índice de massa corporal – IMC através da relação peso/estatura2, para mensurar essas variáveis foi usado o estadiômetro Standard e uma balança analógica da marca Tech Line. O percentual de gordura corporal foi mensurado através da técnica de dobras cutâneas com o protocolo composto por sete dobras (axilar, abdominal, coxa, peitoral, subescapular, supra ilíaca e tríceps), 27 sugerido especificamente para atleta por Jackson & Pollock (1978), no qual foi utilizado o adpômetro científico Sanny AMB para coletar as medidas. As variáveis neuromusculares avaliadas nos atletas foram a resistência muscular localizada - RML e a flexibilidade. Para mensurar a RML os sujeitos foram avaliados pelo teste de repetições máximas de abdominal em 1 (um) minuto (KISS, 1987), os instrumentos usados durante a execução do teste foram um cronômetro da marca Timex modelo Marathon e um colchonete apropriado para ginástica. A flexibilidade foi mensurada através do método indireto pelo teste de sentar e alcançar (PITANGA, 2000), realizado no Banco de Wells, também da marca Sanny. O componente metabólico avaliado foi o VO2 máximo, mensurado através do teste de campo indireto preconizado por Cooper (1982), através do protocolo de pista em 12 minutos, onde o indivíduo deve percorrer a maior distância possível caracterizando-o assim como teste máximo, durante a execução do teste foi usado, também, o cronômetro da marca Timex modelo Marathon e um apito Fox-40. Os resultados obtidos durante as avaliações foram registrados em uma planilha elaborada especificamente para realização do presente estudo (anexo 2). A ordem de execução dos testes foi à mesma descrita a cima. Os testes foram realizados no Centro de Esportes da Universidade Federal da Bahia que possui a estrutura necessária para realização dos mesmos. Adotou-se o horário entre 8h 28 e 10h da manhã para realização dos mesmos objetivando a padronização durante o processo de coletas dos dados, a temperatura ambiente média permaneceu em torno de 34ºC. Essa etapa foi efetivada com a participação dos 15 atletas profissionais que fizeram parte da amostra do presente estudo, mais 11 sujeitos praticantes recreacionais de surfe, que realizaram um registro, em repouso, de freqüência cardíaca durante 10 minutos, para posteriores comparações. 2a etapa - Simulação de uma competição com todas as normas estruturais da ABRASP (Associação Brasileira de Surfe Profissional) que é a entidade que rege o surfe profissional brasileiro. Foi realizada com intervalo mínimo de 24h após a primeira etapa. Nesta fase, participaram apenas os atletas que competem no circuito brasileiro de surfe profissional. As baterias com duração de 25 minutos, foram compostas por dois competidores, um controle de marcação competitiva e outro experimental; Foram somadas as duas melhores notas das ondas de cada atleta para ser estabelecido o resultado final da bateria (primeiro e segundo lugares). Após análise prévia das etapas que compuseram o circuito brasileiro de surf profissional nos anos de 2005 e 2006, foi verificado que os atletas surfaram em média 5 ondas. Assim, cada atleta teve direito a surfar até cinco ondas 29 durante a simulação de competição do presente projeto. Apenas o atleta experimental foi monitorado em cada bateria competitiva. Foram realizadas coletas de amostras de sangue (20µl) através da polpa dos diferentes dedos das mãos com auxílio de um lancetador e capilar, após um rápido processo de lavagem com álcool e secagem com toalha de algodão. Este procedimento de coleta foi realizado em 8 (oito) momentos diferentes: 9 Basal (com o atleta na areia antes do início da bateria, 1 coleta); 9 Após a realização do exercício físico (final de cada onda surfada, 5 coletas); 9 Final da bateria (1 coleta); 9 Fase de Recuperação (10 minutos após o final da bateria; 1 coleta). Pressão arterial (PA) sistólica e diastólica foram monitoradas utilizando um Esfigmomanômetro Aneróide e estetoscópio Sanny em três momentos distintos: 9 Antes do exercício; 9 Logo após o exercício; 9 10 minutos após fase de recuperação (REC). 30 A freqüência cardíaca foi registrada continuamente batimento-abatimento (intervalo R-R), com o uso de um frequencímetro da marca Polar® (modelo S810i) nos dez minutos que precederam a entrada na água (PRÉ) e dez minutos após o final da bateria de prova, na fase de recuperação (REC). Ao final, os dados armazenados na memória do frequencímetro foram transferidos a um computador para posterior análise. Foram coletados todos os tempos e intervalos entre o tempo basal, durante as baterias, intervalo entre ondas surfadas, tempo de utilização da área funcional da onda (surfando), e tempo de recuperação com a utilização de dois cronógrafo de marca Timex, modelo Iromam Triathlon 100 Lap Memory, e do Timex, modelo Maraton 50 Lap Memory. Os valores apresentados, nas variáveis metabólicas, técnicas e cardiovasculares foram registrados em uma planilha de registro desenvolvida exclusivamente para esse estudo (anexo 3). 3.3 ANÁLISE DOS NÍVEIS DE GLICOSE E LACTATO SANGUÍNEO Os níveis plasmáticos de lactato sanguíneo foram analisados por um lactímetro da marca Acuttrend Roche, utilizando fitas Boehringer Mannheim. O nível de glicose circulante foi analisado pelo glicosímetro, da mesma marca, utilizando fitas Accu-Chek Advantage (Roche). Para minimizar os efeitos da dieta na variável glicose 31 sanguínea, e padronizar o protocolo, foi administrado a todos os atletas que participaram dessa etapa 1g/kgpeso corporal de maltodextrina uma hora antes da coleta de FC em repouso. Sendo que os sujeitos foram orientados, verbalmente e por escrito, sobre as recomendações previas para a realização dos testes (anexo 4). 3.4 ANÁLISE DA VARIABILIDADE DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA NO DOMÍNIO DO TEMPO E DA FREQÜÊNCIA Adotamos nesse estudo a utilização de métodos de avaliações da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), para análise da modulação autonômica do sistema cardiovascular com dados coletados durante as fases de repouso (PRÉ) e recuperação (REC). A variabilidade da freqüência cardíaca foi realizada através do registro do intervalo R-R (IP, ms). Este procedimento foi realizado através da utilização de um frequencímetro da marca Polar® modelo S-810i. Durante o uso do monitor de freqüência cardíaca, o cinto transmissor detecta o sinal eletrocardiográfico batimento-a-batimento e o transmite através de uma onda eletromagnética para o receptor de pulso Polar, onde essa informação é digitalizada, exibida e arquivada. Esse sistema detecta a despolarização ventricular, correspondente a onda R do eletrocardiograma, com uma freqüência de amostragem de 500 HZ e uma resolução temporal de 1 ms2. Os arquivos de registro foram transferidos para o Polar Precision Performance Software através da 32 Interface Infrared, ou IrDA, que permite a troca bidirecional de dados de exercício com um microcomputador para posterior análise da variabilidade do intervalo de pulso cardíaco nas diferentes situações registradas. Após aquisição e armazenamento dos dados no computador os intervalos R-R (IP) provenientes do frequencímetro foram convertidos e armazenados em arquivos Excel. Foi realizada uma verificação por inspeção visual, para identificar e/ou corrigir alguma marcação não correta. Em seguida foi gerada a série temporal de cada sinal a ser estudado, no caso, o intervalo de pulso cardíaco (tacograma). Quando necessário, utilizamos a interpolação linear para retirarmos as distorções indesejáveis que alteraram a estacionariedade do sinal. As oscilações das séries de IP foram avaliadas no domínio do tempo e da freqüência. As séries de IP foram divididas em segmentos de 509 batimentos. Os índices RMSSD, que é o cálculo da raiz quadrada da média do quadrado das diferenças entre intervalos RR normais adjacentes, expressa em milessegundos, e pNN10, que equivale a percentagem de intervalos RR adjacentes com diferença de duração superior a dez milessegundos (RASSI A. JR. 2000; LIM et al. 2006), ambos componentes da análise no domínio do tempo, refletem quase que exclusivamente as oscilações da banda de alta freqüência, ou seja, comporta-se como um índice sensível a modulação vagal foram 33 calculados. Para análise no domínio da freqüência, o mesmo trecho foi submetido ao método de Transformada Rápida de Fourrier (FFT). Com este método foi possível detectar a freqüência central, número e potência de cada componente. A potência espectral pode ser integrada em três faixas de freqüência de interesse: altas freqüências (HF) entre 0,15 e 0,4 Hz, que reflete a modulação vagal; baixas freqüências (LF) entre 0,04 e 0,15 Hz, que refletem a modulação simpática e vagal; e muito baixas freqüências (VLF) menores que 0,04 Hz. A análise espectral da respiração utilizada como padrão de controle, para delimitação das bandas de freqüências (TASK FORCE, 1996). 3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA Os resultados são apresentados como média ± erro-padrão. O programa Instat (GraphPad Software) foi usado para as análises estatísticas. O Teste t de Student e o teste de Análise de Variância (ANOVA) para medidas repetidas, seguido de pós-teste de Tukey, foram devidamente aplicados para análise dos dados. Todas as variáveis foram analisadas através do teste de correlação de Pearson. Valores de p<0,05 foram considerados significativos. 34 RESULTADOS 35 4 4.1 RESULTADOS TABELAS DE COMPARAÇÕES DAS VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA Os dados da tabela 1 demonstram os resultados das variáveis de aptidão física da amostra estudada. Pode-se observar que os atletas competidores profissionais possuem maior nível de aptidão física e funcional que os praticantes não profissionais (recreacionais), apresentando valores mais elevados no consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo), menor valor no índice de massa corporal – IMC, e no percentual de gordura corporal, além de valores mais elevados na variável flexibilidade e resistência muscular localizada. Porém, os atletas profissionais e os recreativos apresentaram valores similares de freqüência cardíaca de repouso. TABELA 1 COMPARAÇÃO DE VARIÁVEIS DE APTIDÃO FÍSICA ENTRE SURFISTAS RECREACIONAIS E SURFISTAS COMPETIDORES VARI Á VEIS AVALIADAS RECREACIONAL VO 2 m áximo (ml/kg/min.) Índice de Massa corporal(m/kg Gordura Corpora (%) 2) COMPETIDOR 51,7 ± 0,44 * 56,0 ± 0,32 24,25 ± 0,37 * 23,17 ± 0,25 9,77 ± 0,30 * 8,18 ± 0,46 Flexibilidade (cm) 39,8 ± 0,42 * 42,5 ± 0,67 Resistência Abdominal(1 min.) Freq üência card ííaca aca (repouso) 36,2 ± 0,66 * 64 ± 1,55 40,3 ± 0,43 66 ± 1,95 Os valores representam média + erro padrão; * p< 0,05 vs Competidor 36 4.2 COMPARAÇÕES ENTRE ÍNDICES DE VFC DURANTE O REPOUSO ENTRE SURFISTAS RECREACIONAIS E COMPETIDORES Na figura 1 são apresentados os dados de comparação dos índices de VFC entre surfistas recreacionais e surfistas competidores durante o repouso. No domínio da freqüência pode ser observado o componente LF (figura 1a) e HF (figura 1b). No domínio do tempo pode ser observado o índice pNN10 (figura 1c) e o índice RMSSD (figura 1d). Além disso, a VFC total é apresentada na figura 1e. Podemos observar que não houve diferença significativa entre os grupos nos componentes no domínio da freqüência, além da variabilidade total e no índice RMSSD no domínio do tempo; porém foi apresentada elevação a favor dos surfistas competidores no índice pNN10, que sugere maior modulação vagal no método de análise no domínio do tempo. 37 . c) a) Índice pNN10 (ms) % HF (ms2) 100 80 60 40 20 0 RECREACIONAIS * 60 40 20 0 RECREACIONAIS COMPETIDORES d) Índice RMSSD (ms) 100 % LF (ms2) 80 COMPETIDORES b) . 100 80 60 40 20 0 RECREACIONAIS COMPETIDORES 70 60 50 40 30 20 10 0 . RECREACIONAIS COMPETIDORES VFC Total (ms) e) 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 . 0 RECREACIONAIS COMPETIDORES . Figura 1 - a) Comparação do componente LF (ms2), b) Comparação do componente HF (ms2), c) Comparação do índice pNN10, d) Comparação do índice RMSSD, e e) Comparação da variabilidade total, entre surfistas recreacionais e competidores. Os valores representam média + erro-padrão, * P < 0,05 vs. competidores. 38 4.3 DADOS TÉCNICOS DO PROTOCOLO DE COLETAS A figura 2 apresenta dados técnicos de caracterização do protocolo de coletas com atletas profissionais de surfe submetidos a uma bateria competitiva. Através desta figura pode-se observar a linearidade entre os valores obtidos durante a bateria. Não existiu diferença na utilização da área funcional da onda entre os atletas. O tempo de utilização para execução de manobras foi de 11 segundos em todas as ondas surfadas (Figura 2a). Não existiu diferença no intervalo entre cada onda surfada (Figura 2b). O valor médio de intervalo entre as ondas surfadas foi de 4 minutos. Além disso, verificamos semelhante resultado na quantidade de manobras executadas em cada onda surfada (Figura 2c). Os atletas realizaram em média 3 manobras por onda, o que contribuiu para manter a média das notas atribuídas por cada onda surfada (Figura 2d), que ficou em torno das notas 7 e 8. 39 a) c) 12 n. de manobras Tempo na onda ( seg.) 4 10 8 6 4 3 2 1 2 0 0 O1 O2 O3 O4 O5 O1 O2 b) O4 O5 d) 6 10 5 Nota por onda Intervalo entre ondas (min.) O3 ondas ondas 4 3 2 9 8 7 6 5 4 3 1 2 1 0 O1 O2 O3 O4 ondas O5 FB 0 O1 O2 O3 O4 O5 ondas Figura 2 - a) tempo de uso da área funcional das ondas; b) Intervalos entre ondas surfadas; c) Número de manobras realizadas por onda; e d) médias de notas por ondas surfadas durante bateria competitiva de atletas profissionais de surfe. Os valores representam média + erro-padrão. 40 4.4 DADOS METABÓLICOS E CARDIOVASCULARES Os dados metabólicos e cardiovasculares que foram obtidos pré-exercício (PRÉ), fase de exercício (5 ondas surfadas), momento final de bateria (FB) e recuperação (REC) são apresentados na figura 3. Pode-se observar que o nível de lactato sanguíneo (LAC) aumentou significativamente durante a fase de exercício em relação à fase PRÉ. Durante a bateria, observou-se aumento significativo do LAC (figura 3a). No final da bateria e na recuperação o LAC reduziu, porém, permanceu elevado quando comparado à situação basal. O nível de glicose sanguínea sofreu redução significativa durante a fase de exercício quando comparada às fases PRÉ e FB (figura 3b). Na fase REC, observou-se que o nível de glicose sanguínea retornou aos valores iniciais. Pode-se notar, também, que a freqüência cardíaca (FC) sofreu aumento significante durante a fase de exercício. No final da bateria a FC se mantém elevada. Na fase REC o valor da FC reduziu, no entanto, não retornou aos valores observados antes do exercício na fase PRÉ (figura 3c). 41 . 7,0 6,0 5,0 * * * *¥ *¥ *‡ 4,0 3,0 . 2,0 1,0 #* Lactato Sanguíneo (mmol/L) a) 0 PRÉ O1 O2 O3 O4 O5 * † * † FB REC Ondas . Glicemia Sanguínea (mg/dL) b) 120 100 * † *#† * † * † 80 60 . 40 20 0 PRÉ O1 O2 O3 O4 O5 *† *† FB REC ondas Freqüência Cardíaca (bpm) c) 180 *† *† *† *† 150 120 * 90 60 30 0 PRÉ O1 O2 O3 O4 O5 FB REC ondas . Figura 3 - a) Concentração de lactato sanguíneo onde: * p<0,05 vs. PRÉ; ¥ p<0,05 vs. O1; ‡ p<0,05 vs. O5; # p<0,05 vs. Ondas; b) Concentração de glicose sanguínea: * p< 0,05 vs. PRÉ; # p< 0,05 vs. ondas; † p < 0,05 vs. REC; e c) Freqüência cardíaca onde: * P< 0,05 vs. PRÉ; † P< 0,05 vs. REC. Em atletas competidores de surfe. Os valores representam média + erro-padrão de diferentes momentos: PRÉ, ondas 01a 05, FB e REC. 42 4.5 DADOS CARDIOVASCULARES A figura 4 demonstra dados do comportamento da pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) de atletas profissionais de surfe submetidos a uma bateria competitiva, que foi aferida em três momentos: pré-exercício (PRÉ), final de bateria (FB), e após recuperação de 10 minutos, ao final do exercício (REC). Pode-se observar que houve uma elevação significativa da PAS e na PAD durante a prática do exercício que se manteve até o FB, em relação à PRÉ. Na REC houve uma redução da PAS e PAD. Os valores retornaram aos observados na fase PRÉ (figura 4 a, b). . a) * PAS (mm/Hg) 140 120 100 80 60 40 20 0 PRÉ FB REC . . b) PAD (mm/Hg) 100 * 80 60 40 20 0 PRÉ FB REC . Figura 4 - a) Pressão Arterial Sistólica (PAS); e b) Pressão Arterial Diastólica (PAD) de atletas profissionais de surfe submetidos a uma bateria competitiva. Os valores representam média + erropadrão de diferentes momentos: PRÉ, FB e REC. * p< 0,05 vs. PRÉ e REC. 43 4.6 TABELA DE COMPARAÇÃO DA VFC ANTES E APÓS A BATERIA COMPETITIVA DE SURFE Os dados da tabelas 2 demonstram a VFC total e os índices RMSSD, pNN10, LF e HF durante o repouso (PRÉ) e após, durante a fase de recuperação (REC). Após a fase REC, houve redução na VFC total, nos componentes que sugerem modulação vagal no domínio do tempo (pNN10 e RMSSD), além de redução no HF (%). Observou-se também elevação nas bandas de LF (absoluto e normalizado). TABELA 2 COMPARAÇÃO DA VFC NO DOMÍNIO DO TEMPO E DA FREQUÊNCIA DURANTE AS FASES DE REPOUSO E RECUPERAÇÃO DE UMA BATERIA COMPETITIVA DE SURFE FASE PRÉ REC 4.368 ± 664 * 57,15 ± 7,5 * 33,11 ± 5,9 * 1.724 ± 541 21,85 ± 5,6 7,28 ± 3,9 LF (ms2) 358 ± 145 * 1149,5 ± 217 (ms2) 586 ± 343 * 1345,1 ± 295 LF (%) 52 ± 4 * 61 ± 5 HF (%) 48 ± 4 39 ± 5 VAR(ms²) RMSSD(ms) pNN10(%) HF Os valores representam média + erro-padrão; * p < 0,05 vs REC. M 44 4.7 CORRELAÇÕES ENTRE VO2 MÁXIMO COM ÍNDICES DE VFC Na figura 5 são apresentadas em gráficos de dispersão das correlações entre: a) consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) com o índice RMSSD (p<0,05, e r = 0,51); e b) entre o VO2 máx. e o componente HF (p<0,05 e r = 0,67). Observa-se, em a e b, correlação positiva entre as duas variáveis. . . a) VO2 máximo (ml/kg/min) 60 58 56 54 R = 0,51 52 50 0 10 20 30 40 50 . Índice RMSSD (ms) 60 70 80 . . b) VO2 máximo (ml/kg/min) 60 58 56 54 R = 0,67 52 50 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 Componente HF (ms2) . Figura 5 - a) Correlação entre VO2 máximo (ml/kg/min.) com o índice RMSSD (ms); e b) Correlação entre VO2 máximo (ml/kg/min.) com componente HF (ms), em atletas profissionais de surfe submetidos à uma bateria competitiva. Os valores representam correlação positiva em diferentes momentos: Pré e Rec. a) P< 0,05; e R = 0,51; b) P< 0,05; e R = 0,67. 45 4.8 CORRELAÇÕES ENTRE PARÂMETROS METABÓLICOS E CARDIOVASCULARES Na figura 6 são apresentadas correlações entre parâmetros cardiovasculares e metabólicos antes, durante e após a bateria competitiva. Os valores demonstram correlação negativa entre as concentrações de LAC e GLI durante os diferentes momentos em que foram mensurados: (PRÉ) nos 10 minutos antes do exercício, fase de exercício (5 ondas surfadas), momento final de bateria (FB) e fase de recuperação (REC) nos 10 minutos após exercício (figura 6a), (p<0,05 e o valor de r = -0,88). Foi observada correlação positiva entre LAC e FC, durante os períodos citados acima (figura 6b), (p<0,05 e r = 0,91). 46 . a) Lactato sanguíneo (mmol/L) 10 8 R = - 0,83 6 4 2 0 20 40 60 80 100 120 Glicemia Sanguínea (mg/dL) . . b) Lactato sanguíneo (mmol/L) 10 8 R= 0,91 6 4 2 0 50 100 150 200 Freqüência Cardíaca (bpm) . Figura 6 – a) Correlação entre concentração de lactato sanguíneo (mmol/L) e os níveis de glicose sanguínea (mg/dl); b) Correlação entre concentração de lactato sanguíneo (mmol/L) com a FC absoluta (bpm) em atletas profissionais de surfe. Em a os valores representam correlação negativa, e em b positiva, em diferentes momentos: Pré, 5 ondas, FB e Rec: a) P < 0,05; e R = -0,83; e b) P < 0,05; e R = 0,91. 47 4.9 CORRELAÇÕES ENTRE A FC COM ÍNDICES DE VFC Na figura 7 são apresentados as correlações entre: a) valores de FC com o índice RMSSD, (p<0,05, r = - 0,59); b) valores de FC com índice pNN10, (p<0,05 r = - 0,60; e c) valores de FC com o componente HF, (p<0,05, r = - 0,41); ambos coletados em atletas profissionais de surfe submetidos a uma bateria competitiva. Os valores demonstram correlação negativa durante os diferentes momentos em que foram mensurados: (PRÉ) 10 minutos antes do exercício, e (REC) fase de recuperação 10 minutos após exercício. 48 . . Freqüência Cardíaca (bpm) a) 120 100 . 80 60 40 = - 0,59 20 0 20 40 60 80 100 80 100 4000 5000 Índice rMSSD (ms) Freqüência Cardíaca (bpm) b) 120 100 80 60 R = - 0,60 40 20 0 20 40 60 Índice pNN10 (ms) Freqüência Cardíaca (bpm) c) 120 100 80 60 40 R = - 0,41 20 0 1000 2000 3000 Componente HF (ms2) . Figura 7 - a) Correlação entre FC absoluta (bpm) e o índice RMSSD (ms); em b) Correlação entre FC absoluta (bpm) e o índice pNN10 (ms); e c) Correlação entre FC 2 absoluta (bpm) com o componente HF (ms ), de atletas profissionais de surfe. Os valores representam correlação negativa em diferentes momentos: Pré e Rec: a) P < 0,05; e R= -0,59; b) P < 0,05; e R = - 0,60; e c) P < 0,05; e R = - 0,41. 49 4.10 CORRELAÇÕES ENTRE DADOS TÉCNICOS E FISIOLÓGICOS A figura 8 apresenta correlações entre dados técnicos, cardiovasculares e metabólicos durante a utilização da área funcional da onda. Podemos observar uma correlação positiva entre o tempo de utilização da área funcional da onda com a FC, demonstrando que os atletas que utilizaram as ondas por mais tempo atingiram níveis mais altos de FC (figura 9a), (p<0,05, r = 0,54). Correlação positiva, porém menor, também foi observado entre LAC e o tempo de utilização da área funcional da onda (figura 9b), (p<0,05, r = 0,36). Foi observado também, correlação positiva entre o tempo de utilização da onda com as médias de notas alcançadas (figura 9c), (p<0,05, r = 0,57). 50 m b) Lactato sanguíneo (mmol/L) Freqüência Cardíaca (bpm) a) 200 160 120 R = 0,54 80 40 0 5 10 15 8 7 6 5 4 3 R = 0,36 2 1 0 20 5 Tempo na onda (seg.) 10 15 20 Tempo na onda (seg.) m m Notas nas ondas c) 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 R = 0,57 5 10 15 20 Tempo na onda (seg.) m Figura 8 – a) Correlação entre o tempo de permanência na área funcional da onda (seg.) com FC absoluta (bpm); b) Correlação entre o tempo de permanência na área funcional da onda (seg.) com a concentração de lactato sanguíneo (mmol/L); e c) Correlação entre o tempo de permanência na área funcional da onda (seg.) com as notas atribuídas. Os valores representam correlação positiva em todos os casos; P < 0,05; em a) R = 0,54; b) R = 0,36; e c) R = 0,57. 51 DISCUSSÃO 52 5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Comparação entre atletas profissionais e praticantes recreativos Os dados profissionais de deste estudo surfe possuem demonstraram maior nível que de os atletas capacidade cardiorrespiratória que seus pares recreacionais. Em nosso estudo, os atletas profissionais apresentaram nível do VO2 máximo relativo de 56,0 + 1,22 ml/kg-1/min.-1 que os classifica como indivíduos com excelente capacidade cardiorrespiratória, contra 51,7 + 0,44 ml/kg1 /min.-1 encontrado nos praticantes recreacionais, que os classifica como possuidores de boa capacidade cardiorrespiratória segundo Pitanga (2000). Os valores dos atletas profissionais que formaram nossa amostra são semelhantes a alguns estudos encontrados na literatura com surfistas. Steinman et al. (1997) verificou o resultado de 51,7± 5,2 ml/kg-1/min.-1 para o VO2 de surfistas competidores brasileiros da categoria amadora. Lowdon et al. (1987) avaliando a potência aeróbica de 12 surfistas competidores colegiais masculinos encontraram os seguintes valores médios: 56,3±3,9 ml/kg-1/min.-1 (esteira); 41,6±4,0 ml/kg-1/min.-1 (ergômetro de braço) e 40,4±2,9 ml/kg1 /min.-1 (remo simulado). No entanto, ao compararmos os resultados com outros dois estudos existentes com surfistas profissionais (CORRÊA et al. 1993 e LOWDON et al. 1987), diagnosticamos que os 53 atletas profissionais participantes do presente estudo apresentaram o VO2 máximo abaixo dos valores encontrados em ambos os trabalhos, pois, segundo Corrêa et al., (1993), atletas brasileiros profissionais de surfe, apresentaram os valores relativos de VO2 máximo em torno de 68,94 ml/kg-1/min.-1. Este dado corrobora com a média encontrada por Lowdon et al. (1987), que encontrou valores médios de VO2 máximo relativo em torno de 70,2 ml/kg-1/min.-1 através de teste submáximo em cicloergometro em atletas profissionais de surfe australianos. Devemos ressaltar a pluralidade de métodos utilizados para efetuar os testes acima apresentados, e a diferença com o protocolo utilizado em nosso estudo, onde o VO2 foi mensurado através do teste de campo indireto preconizado por Cooper (1982), o que pode ser considerado como fator de limitação e diferenciação entre os resultados encontrados entre os estudos citados. Ao verificarmos as variáveis antropométricas, e levando em consideração alguns parâmetros classificados como normais, ou seja, seguros para população em geral relacionados ao IMC, que é a obtenção de resultados entre 20 e 25 kg/m2, os atletas profissionais de surfe apresentaram uma média considerada ideal, diante dos pressupostos que consideram o IMC como indicativo de sobrepeso, desnutrição ou obesidade (PITANGA, 2000). O resultado encontrado ao avaliar os atletas foi de 23,17 + 0,25 kg/m2, sendo que o indivíduo 54 que apresentou valor maior que 25 kg/m2 obteve percentual de gordura inferior a 10% de seu peso corporal total, o que remete a um maior componente magro, em especial massa muscular, contribuindo para elevar o valor de seu IMC. Ao compararmos a mesma variável com os valores encontrados em surfistas recreacionais durante nosso estudo, que foi de 24,25 + 0,37 kg/m2, verificamos que esses possuem valor de IMC mais elevados que os apresentados pelos atletas competidores, porém dentro da classificação de valores considerados normal. O segundo parâmetro mensurado, do componente antropométrico, foi o percentual de gordura. A média de percentual de gordura corporal em relação ao peso corporal total dos atletas profissionais participantes da amostra foi de 8,18 + 0,46%, podemos observar diferença ao comparamos os valores com os encontrados por Arcie et al. (2006) que observou valores médios de 12,8 + 3,8% em praticantes de surfe recreacional, valor esse acima do encontrado, também em atletas recreacionais, por nosso grupo que foi média de 9,77 + 0,30%. Observamos resultados semelhantes ao compararmos os valores apresentados pelos atletas profissionais que compuseram a mostra do estudo com os valores encontrados por Corrêa et al. (1993), que utilizando o mesmo protocolo de coleta reproduzido no presente estudo, observaram valores médio de 8,44 + 2,23% ao avaliarem atletas profissionais competidores de surfe no Brasil. Esta semelhança 55 pode ocorrer devido à execução sistematizada dos gestos motores e, solicitações musculares e metabólicas específicas do surfe competitivo, indicando que os participantes desse estudo possuem características antropométricas semelhantes aos seus pares, também participantes do Circuito Brasileiro de Surfe Profissional, como também a nadadores olímpicos que segundo Lowdon (1980) possuem valores de gordura corporal em média de 10% do peso corporal total. A avaliação da resistência muscular localizada (RML) demonstrou que os atletas apresentaram valor médio de 40,3 + 0,43 rep/1min., classificando-os como médios, de acordo com normas de classificação para o teste (PITANGA, 2000). Sendo que, ao comparamos os resultados avaliados nos atletas competidores de nossa amostra com os encontrados por Arcie et al. (2006) que usando o mesmo protocolo avaliou 12 praticantes de surfe recreacional paranaense encontrando valores médios de 31,0 + 8,9 rep/1min., e com os resultados encontrados, também em surfistas recreacionais, por nosso grupo que foi média de 36,2 + 0,6 rep/1min., que os classificam com regular RML (PITANGA, 2000). Verificamos que os atletas que formara nossa amostra alcançaram valores mais elevados que os surfistas recreacionais. Sendo que, ao compararmos os valores com os citados por Côrrea et al. (1993), que utilizando também o mesmo protocolo, para avaliação de surfistas profissionais brasileiros, 56 encontrou a média de 44,53 + 6,65 rep/1min., verificamos que os valores de RML do presente estudo encontram-se similares tanto aos encontrados no estudo realizado com os participantes do Circuito Nacional de Surfe, quanto aos encontrados nos surfistas profissionais australiano. A última variável neuromuscular avaliada foi a flexibilidade da região toraco-lombar, no banco de Wells. Decidiu-se por essa articulação devido à exigência que a mesma sofre durante a pratica do surfe, seja competitivo ou recreativo, sendo bastante solicitada durante a execução das manobras. O resultado encontrado para o grupo de atletas competidores componentes de nosso estudo foi 42,5 + 2,59 cm, o que os classifica com alto grau de flexibilidade, de acordo com as normas de classificação para o teste sugerida por Pitanga (2000). Estes valores estão acima dos encontrados nos praticantes recreacionais, que foi de 39,8 + 0,42, classificando-os com nível médio de flexibilidade, Pitanga (2000). O fato de possuir um bom nível de flexibilidade na região toraco-lobar, além de favorecer o atleta na execução, e conclusão, das manobras durante a prática competitiva, funciona como um fator preventivo de proteção contra lesões na região lombar. Ao compararmos a freqüência cardíaca e os índices de variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) entre surfistas recreacionais 57 e surfistas competidores durante o repouso na fase PRÉ, observamos diferença estatística significativa apenas no índice pNN10, componente que sugere modulação parassimpática mais ativa nos atletas competidores profissionais. O esperado seria que os atletas competidores apresentassem indicadores significantes de melhor modulação autonômica que os seus pares que praticam o surfe apenas como atividade de lazer em todos os componentes avaliados. Houve apenas uma tendência aos resultados esperados. Respostas cardiovasculares e metabólicas à prática do surfe Ao comparar a atividade autonômica através da VFC entre a fase que antecedeu a bateria competitiva (PRÉ) e após a fase de recuperação do exercício (REC) nos atletas profissionais submetidos a uma bateria competitiva, observou-se na fase REC que tanto a VFC como os componentes que sugerem modulação vagal estavam reduzidos. Observou-se também elevação nas bandas de LF (absoluto e normalizado), sugerindo alta modulação simpática durante a recuperação dos atletas que foram submetidos à competição. Ao analisarmos os dados técnicos registrados durante o protocolo de coletas, verificamos que não existiu diferença na utilização da área funcional das ondas surfadas entre os atletas. O 58 tempo de utilização da área funcional das ondas para execução de manobras foi em média de 11 segundos em todas as ondas surfadas, corroborando com estudo realizado por Fonseca et al. 2003, que verificou em etapas competitiva do circuito brasileiro de surfe profissional, tempo média de 15 segundos. Não existiu também, diferença nos intervalos entre cada onda surfada. O valor médio de intervalo entre as ondas surfadas foi de 4 minutos. Além disso, verificamos semelhante resultado na quantidade de manobras executadas em cada onda surfada, durante a bateria competitiva os atletas realizaram em média 3 manobras por onda, existiu também, homogeneidade entre as notas obtidas pelos atletas, o que nos dá uma confiabilidade da padronização do protocolo, demonstrando o equilíbrio, e o alto nível técnico, apresentado pelos sujeitos que formaram a amostra da pesquisa. Os dados metabólicos que foram mensurados demonstraram que o nível de lactato sanguíneo (LAC) aumentou significativamente durante a fase de exercício concentrando-se em torno de 5,3 + 0,18 mmol/L de sangue, reduzindo e ficando em média de 4,6 + 0,18 mmol/L de sangue no FB, valor inferior ao encontrado por Fonseca et al. (2004) em estudo que realizou medidas logo após uma bateria competitiva de 25 minutos encontrando taxa média de LAC 7,7 mmol/L de sangue, o que sugere elevada atividade do sistema glicolítico 59 anaeróbio durante a utilização da área funcional das ondas. De acordo com Gaesser e Poole (1996), o LAC é um dos principais indicadores indiretos do metabolismo energético utilizado durante o exercício físico. Assim, a intensidade do exercício físico pode ser classificada de maneira mais precisa. Observamos também que, os níveis de LAC diminuíram após a fase de recuperação, mas permaneceram mais elevados que a fase PRÉ. O presente estudo verificou ainda que o nível de glicose sanguínea (GLI) reduziu durante a fase de exercício quando comparada às fases PRÉ e FB. O GLI retornou aos valores iniciais quando decorridos dez minutos após a fase FB em REC. Sendo este o primeiro estudo a avaliar o comportamento da glicose sanguínea durante a pratica do surfe, não encontramos dados na literatura que possam servir de parâmetro para compararmos com a nossa amostra. Esses dados foram acompanhados de modificações cardiovasculares, mais precisamente no comportamento da freqüência cardíaca (FC) e da pressão arterial (PA) sistólica e diastólica. Podemos observar que os níveis, tanto da FC quanto da PA, sofreram elevações significativas. Ao analisarmos o período de exercício notamos que a FC se mantém elevada atingindo o valor médio de 159,4 + 1,85 bpm, o que representa 87% da FC máxima prevista para o grupo, classificando essa fase da prática do surfe competitivo, segundo Heyward (1998), 60 como sendo de elevada intensidade. Esses dados são superiores aos encontrados por Brasil et al. (2001) que ao avaliarem um grupo de surfistas em uma sessão de surfe recreativo encontrou valores médios de 135,0 + 23,4 bpm, e de Meir et al. (1997) que encontraram valores de 135,0 + 6,9 bpm, ao avaliarem a FC e o gasto energético também em surfistas recreativos durante uma hora de pratica. A diferença apresentada entre o presente estudo e os citados acima, talvez possa se justificar no fato não haver estudos com surfistas competidores, e os mesmos terem sido realizados com praticantes recreacionais de surfe, sendo que o foco do presente estudo são atletas profissionais, que tendem a possuir melhores níveis de habilidade para aproveitar todo potencial da área funcional das ondas. Em nova mensuração da FC, realizada dez minutos após o FB, durante a fase de REC foi observado que os níveis da FC foram reduzidos, mas não alcançando os mesmos valores observados em PRÉ; onde observamos que os níveis da PA apresentaram elevações no FB, retornando aos valores iniciais observados em PRÉ quando mensurados no final da fase de REC, o que sugere uma redução na atividade simpática, acompanhada de aumento na modulação vagal durante a fase de recuperação. Ao correlacionarmos os níveis de LAC com os dados obtidos de FC observamos que houve um aumento linear entre a FC e LAC 61 durante as diferentes fases que compõe a prática competitiva do surfe, e que, houve uma relação inversamente proporcional entre GLI quando comparados ao LAC. Estes dados sugerem que o aumento da intensidade do exercício provoca ajuste cardiovascular, com aumento da FC e do volume sistólico final, e conseqüentemente do débito cardíaco. Estas respostas ocorrem para suprir a demanda metabólica, elevando a capitação de glicose durante a utilização da área funcional da onda. Podemos observar que, apesar dos ajustes metabólicos, ainda podemos verificar um déficit de O2 devido à alta intensidade apresentada durante o exercício, provocando nessa fase uma maior atividade da glicólise anaeróbia, apresentando como conseqüência final a maior concentração de LAC no final do uso da área funcional das ondas. Ao descrevermos os eventos característicos decorrentes dos ajustes metabólicos e cardiovasculares apresentados durante a prática competitiva do surfe, relacionados ao mecanismo de controle através do sistema nervoso autônomo (SNA), observamos que, devido às elevações apresentadas na FC, na PA, nos níveis de LAC e redução na GLI durante e após a fase de exercícios, sugerimos que os indivíduos tendem a apresentar maior modulação simpática durante a bateria competitiva. Esta resposta é necessária para que os ajustes orgânicos ocorram para manutenção da homeostase corporal, 62 regulando o metabolismo de acordo com a necessidade apresentada durante a competição. A ativação simpática põe em curso uma série de respostas fisiológicas conhecidas, em conjunto, como resposta de fuga-ou-luta. Essas respostas agem sobre o sistema cardiovascular, respiratório e no metabolismo energético. No sistema cardiovascular promove aumento da freqüência cardíaca e da força de contração, contração de vasos sanguíneos que suprem os órgãos não essenciais, como os rins e o trato gastrintestinal e dilatação de vasos sanguíneos que suprem os músculos que participam do exercício (músculo esquelético, cardíaco, fígado e tecido adiposo). No sistema respiratório promove aumento da amplitude e da freqüência respiratória, através da dilatação das vias aéreas. E no metabolismo energético, atua sobre os hepatócitos, no fígado, onde estimula a glicogenólise, e também sobre as células do tecido adiposo realizando a lipólise para disponibilizar os ácidos graxos e o glicerol como fonte de energia (FOSS & KETEYIAN, 2000). A partir dessas constatações sugerimos que a modulação do sistema nervoso simpático é bastante elevada na prática do surfe competitivo, uma vez que suas ações em conjunto permitem atender a necessidade de fluxo sanguíneo, aporte de nutrientes e oxigênio para todos os tecidos envolvidos na manutenção do exercício físico. Ao correlacionar os valores referentes ao consumo máximo de oxigênio (VO2 máx. em ml/kg-1/min.-1) com a variabilidade da freqüência 63 cardíaca (VFC), através do índice RMSSD e do componente HF, observamos correlação positiva entre as duas variáveis, sugerindo que os indivíduos que apresentaram maior modulação vagal são também os que apresentaram maior consumo máximo de oxigênio. Notamos também nas correlações entre FC absoluta com a VFC, através do índice RMSSD, o pNN10 e o componente HF, que os valores demonstram correlação negativa em ambos os casos, sugerindo que os atletas que apresentaram maior modulação vagal apresentaram menores níveis de FC. Sugerimos que as respostas de reduções observadas nos valores de LAC, FC e PA após FB, estão diretamente relacionados com a redução da atividade simpática e aumento da modulação vagal, pois a partir do momento em que o organismo identifica estímulos de conclusão da atividade na água, ou final de bateria, inicia-se o processo de reorganização orgânica para ser readquirida a homeostase em repouso, o momento de volta à calma. Esse processo de reorganização é desencadeado pelas ações parassimpáticas sobre os fatores metabólicos, cardiovasculares e respiratórios. No nível metabólico atua diretamente na redução da produção de energia; no aspecto cardiovascular há a redução do ritmo cardíaco e pressão arterial, redistribuição do fluxo sanguíneo através da vasodilatação periférica, pela redução do tônus simpático, que está diretamente 64 associado à redução da freqüência e o volume respiratório, e dissipação do calor (ALMEIDA & ARAÚJO, 2003). Ao observar as correlações entre dados cardiovasculares e metabólicos com os dados técnicos, percebemos que existiu correlação positiva entre a FC absoluta atingida no final de todas as ondas surfadas, tanto com o tempo de utilização da área funcional de cada onda, quanto com as médias das notas atribuídas aos atletas por onda, e entre os níveis de LAC e o tempo de utilização da área funcional das ondas, demonstrando que os atletas que utilizaram as ondas por maior espaço de tempo atingiram níveis mais elevados de LAC e FC, como também as maiores notas. Observamos também que houve correlação positiva entre o tempo de utilização da onda com as médias de notas alcançadas. Ou seja, após nossas análises, percebemos que quanto maior o nível técnico do atleta profissional de surfe, utilizando a área da onda pelo maior espaço de tempo, executando manobras com alto grau de intensidade com predomínio da via glicolítica anaeróbia na obtenção de energia, melhor será a performance técnica e, conseqüentemente, maiores serão as médias atingidas durante a bateria competitiva. Até o presente momento não existem dados na literatura cientifica que estudaram a VFC, bem como a atividade autonômica, em praticantes de surfe, para que possamos comparar os resultados de nosso estudo. 65 SUMÁRIO 66 6 SUMÁRIO 1. Os atletas profissionais de surfe apresentam maiores níveis de aptidão física e funcional que os praticantes recreacionais; 2. Durante a utilização da área funcional da onda, pelos atletas profissionais, observou-se aumento na FC, e lactato, além de redução na glicemia. 3. Os atletas profissionais que apresentam maior modulação parassimpática freqüência foram cardíaca competitiva do surfe. aqueles durante que a apresentaram recuperação da menor pratica 67 CONCLUSÃO 68 7 CONCLUSÃO Nossos resultados nos permitem concluir que: 9 Há uma efetiva atividade autonômica para modular as modificações cardiovasculares e metabólicas, necessárias à manutenção da homeostase orgânica dos indivíduos, durante a prática competitiva do surfe. 9 Os atletas que apresentaram componente vagal mais atuante foram aqueles que obtiveram os melhores índices metabólicos e cardiovasculares durante a bateria competitiva do surfe. 9 Embora esses dados possam ser utilizados para o desenvolvimento do atleta, não é possível determinar o vencedor de uma competição avaliando apenas questões relacionadas aos ajustes autonômicos cardiovasculares e metabólicos. Aliado a isto deve ser levado em consideração fatores relacionados ao talento natural do atleta e condições de adaptação as variações de ondas (tamanho, velocidade e extensão), além da estrutura geral do treinamento executado pelos mesmos. 69 ANEXOS 70 ANEXO 1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TÍTULO DA PESQUISA: Influência do sistema nervoso autônomo nas alterações cardiovasculares e metabólicas de surfistas profissionais. Eu,__________________________(nome), Idade_____,RG:_____________, Endereço:_____________________________________________________, telefone:(___)__________, e-mail:__________________________________, abaixo assinado (ou meu Responsável legal - quando aplicável), dou meu consentimento livre e esclarecido para participar como voluntário do projeto de pesquisa supracitado, sob responsabilidade do(s) pesquisador(es) Rogério Brandão Wichi membro do Laboratório do Movimento Humano do Curso de Mestrado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu do Co-Pesquisador Marcus Vinícius Palmeira Silva, membro do Laboratório do Movimento Humano do Curso de Mestrado em Educação Física da Universidade São Judas Tadeu. Assinando este Termo de Consentimento, estou ciente de que: 1) O objetivo da pesquisa é verificar as influências do sistema nervoso autônomo sobre parâmetros metabólicos e cardiovasculares durante a prática do surfe. 2) Durante o estudo serão feitos coletas de sangue (20µl a cada coleta, totalizando 8 coletas em momentos diferentes, realizadas através da polpa de diferentes dedos da mão) e da freqüência cardíaca com o uso de um frequêncímetro. 3) O risco é considerado mínimo nos procedimentos adotados para coleta dos dados; Se durante a realização sentir qualquer desconforto, serei transportado para um posto de saúde próximo ao local da coleta, para ser assistido por um médico. 4) Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a minha participação na referida pesquisa; 5) Estou livre para interromper a qualquer momento minha participação na pesquisa/ensaio clínico, a não ser que esta interrupção seja contra-indicada por motivo médico; 6) Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, expostos acima, incluída sua publicação na literatura científica especializada; 7) Poderei contatar o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu para apresentar recursos ou reclamações em relação à pesquisa ou ensaio clínico através do telefone (11) 6099-1665 – Prof. Leoni; 8) Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo, Prof. Dr. Rogério Brandão Wichi, sempre que julgar necessário pelo telefone 011 60991999 ramal: 1632; 9) Este Termo de Consentimento é feito em duas vias que uma permanecerá em meu poder e outra com o pesquisador responsável. São Paulo, _____de ________________ de ____________. ________________________________________________. Nome e assinatura do Voluntário ou do Responsável Legal 71 ANEXO 2 “Influência do sistema nervoso autônomo nas alterações Cardiovasculares e metabólicas de surfistas profissionais” Orientador: Prof. Dr. Rogério Brandão Wichi Atleta: __________________________________ Data: _____/_____/______ Horário: ______:______ PAS: _________ mm/Hg. PAD:_________ mm/Hg. Horário: _____________ Temperatura: ______ Cº Umidade: __________% DADOS COLETADOS EM LABORATÓRIO TESTE DE VO2 MÁX. (protocolo máximo de Cooper em 12 min.) Distancia percorrida (m) FC inicial (bpm) FC final (bpm) TR % GORDURA CORPORAL (protocolo de Jackson & Pollock) Dobras cutâneas PT AX SE AB SI CX 1º FLEXIBILIDADE (Banco de Wells) 2º 3º Média Classificação R.M.L. Abdominal (rep/min.) I.M.C. Peso kg Estatura I.M.C. Prof. Msd. Marcus Vinícius Palmeira Laboratório do Movimento Humano CREF nº 042810-G/SP 72 ANEXO 3 “Influência do sistema nervoso autônomo nas alterações Cardiovasculares e metabólicas de surfistas profissionais” Orientador: Prof. Dr. Rogério Brandão Wichi Atleta: ______________________________ Data: ____/____/____ Ordem: ____ Horário: __:__ Maré: __Tamanho das Ondas (pés): ___ Local (praia): _______ DADOS COLETADOS DURANTE BATERIA COLETAS Lactato sang. Glicose sang. F.C. (bpm) Tempo Tempo Onda Nº manobras Nota da onda Início bateria 1ª onda 2ª onda 3ª onda 0 ------------- 4ª onda 5ª onda Final bateria 10’ após 25 ------------- 30 ------------- COMPORTAMENTO DE FREQUENCIA CARDÍACA – F.C. bpm BATERIA 10’ antes 10’ após COMPORTAMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL – PA mm/Hg BATERIA Início Após 10’ após REP FB Observações sobre o procedimento: Prof. Msd. Marcus Vinícius Palmeira Laboratório do Movimento Humano CREF nº 042810-G/SP 73 ANEXO 4 “Influência do sistema nervoso autônomo nas alterações Cardiovasculares e metabólicas de surfistas profissionais” Orientador: Prof. Dr. Rogério Brandão Wichi Atleta: _____________________________ RECOMENDAÇÕES PARA AS COLETAS LABORATÓRIO E PRAIA ¾ No laboratório, dia ______/ 01 / 2007, ______hs. ¾ Centro de Esportes da UFBA, Bairro Ondina, em frente ao Oton Palace. • • • • ¾ • • • • ¾ ¾ • • • • Dormir bem na noite anterior aos testes. Recomenda-se pelo menos 8 horas de sono. Não ingerir café, chás, guaraná em pó e refrigerantes pelo menos 12 horas antes dos testes. Não ingerir bebidas alcoólicas pelo menos 24 horas antes dos testes. Caso faça uso de qualquer medicamento 24 horas antes do teste comunicar a equipe de coletas. Traje para execução dos testes de laboratório: Tênis; Roupas leves; Bermuda ou short; Camiseta. Na Praia, dia ______/ 01 / 2007, ______hs. Praia do Pescador, próximo ao Aeroclube, em frente à arquibancada do surf. Dormir bem na noite anterior aos testes. Recomenda-se pelo menos 8 horas de sono. Não ingerir café, chás, guaraná em pó e refrigerantes pelo menos 12 horas antes dos testes. Não ingerir bebidas alcoólicas pelo menos 24 horas antes dos testes. Caso faça uso de qualquer medicamento 24 horas antes do teste comunicar a equipe de coletas. Marcus Vinícius Palmeira Silva Mestrando em Educação Física CREF nº 042810-G/SP 74 ANEXO 5 75 ANEXO 6 Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 MÉDIA EP DP Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Média Erro P Desvio Rep. 1.3 1.4 1.2 1.9 1.4 1.6 2.0 1.8 1.7 1.8 1.9 1.3 1.2 1.1 1.6 1.5 0.08 0.29 Onda 1 4.7 4.6 5.9 5.3 4.8 6.2 4.9 4.2 5.6 4.8 3.8 4.1 4.2 4.7 4.7 4.8 0.17 0.67 Lactato Sanguineo (mmol/L) Onda 2 Onda 3 Onda 4 5.7 5.2 5.8 5.1 4.4 6.2 6.2 6.0 5.1 6.5 6.7 7.0 5.5 5.9 6.1 4.0 4.8 6.5 4.6 5.9 5.6 5.9 6.3 4.8 5.1 6.2 6.3 5.0 5.6 4.9 4.2 4.8 4.7 4.6 4.2 4.4 4.7 5.1 4.3 4.8 5.0 5.6 4.9 4.7 6.3 5.1 5.4 5.6 0.18 0.20 0.22 0.71 0.75 0.83 Rep. 102 107 103 109 106 104 101 104 104 107 105 104 104 103 101 104.3 0.58 2.25 Onda 1 71 83 81 73 76 92 63 78 63 79 80 73 79 80 75 76.4 1.91 7.39 Onda 2 64 76 79 70 73 81 66 78 69 72 82 76 75 79 71 74.1 1.39 5.39 Onda 5 4.1 6.5 5.8 6.2 5.9 4.9 5.6 5.7 4.9 5.2 5.6 5.1 5.7 5.8 5.4 5.5 0.15 0.59 Final 4.8 5.8 5.3 5.4 5.4 4.1 4.5 4.3 5.2 4.3 4.1 3.9 3.5 4.5 3.9 4.6 0.18 0.68 Recup. 2.3 2.8 2.3 2.6 2.9 2.5 2.7 2.3 2.7 2.1 2.0 1.9 1.6 2.4 1.8 2.3 0.10 0.39 Glicose Sanguinea (mg/dl) Onda 3 Onda 4 Onda 5 78 70 86 80 78 83 73 75 81 82 77 79 71 69 80 70 84 80 63 59 67 73 81 76 61 65 68 64 70 59 75 76 72 75 81 78 71 79 82 73 73 70 79 78 80 72.5 74.3 76.1 1.60 1.74 1.90 6.20 6.72 7.35 Final 89 85 86 90 86 90 81 88 76 82 81 88 94 76 73 84.3 1.56 6.02 Recup. 104 99 102 101 103 106 93 101 95 101 102 103 103 101 99 100.9 0.86 3.34 76 ANEXO 7 Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Média Erro P Desvio Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Média EP DP Rep. 76 68 69 74 73 69 66 65 76 71 69 68 76 74 59 70.2 1.24 4.80 Repouso 76 80 78 76 70 66 66 76 80 70 66 72 70 70 76 72.8 1.28 4.95 Onda 1 150 122 154 170 161 170 161 149 172 164 151 149 156 159 154 156.1 3.16 12.23 Frequencia Cardíaca (bpm) Onda 2 Onda 3 Onda 4 Onda 5 168 152 155 156 148 129 156 157 156 162 174 159 172 172 165 162 169 163 169 166 128 165 167 142 169 171 170 172 153 158 146 157 152 170 176 168 160 169 166 168 149 162 160 163 158 154 158 161 164 155 156 158 162 158 163 169 163 159 163 142 158.1 159.9 162.9 160.0 2.90 2.75 2.06 2.28 11.23 10.63 7.97 8.82 PAD (mmHg) Início Recup 70 66 76 72 76 76 74 72 66 70 60 66 60 70 76 76 75 76 60 60 60 60 70 76 75 70 70 76 66 60 68.9 69.7 1.68 1.57 6.49 6.09 Atleta 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Média EP DP Início 110 116 116 110 110 110 100 110 120 120 100 110 120 110 110 111.5 1.60 6.21 Final 132 130 129 160 142 129 142 150 160 141 173 136 132 153 139 143.2 3.45 13.36 Recup. 70 80 90 88 64 86 83 75 87 69 74 77 96 83 82 80.3 2.26 8.75 PAS (mmHg) Fim Recup 118 108 130 110 126 120 120 108 130 110 126 110 120 110 130 110 130 120 130 110 130 106 120 110 140 120 140 120 130 110 128.0 112.1 1.71 1.30 6.63 5.04 77 REFERÊNCIAS 78 8 REFERÊNCIAS AKSELROD S, GORDON D, UBEL FA, SHANNON DC, BARGER AC, COHEN RJ. 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