Gabriela Samanez
A pergunta
O suor que escorria pelas suas costas só o fazia lembrar-se
da grande decisão que teria que tomar em algumas horas.
Felipe não teria mais para onde correr, todas as suas opções já
haviam se esgotado. Ele teria que ter hombridade suficiente
para tomar o controle da situação e mudar o rumo da sua vida.
Ele sabia que Alice tentaria fazê-lo antes e por isso o tiro teria
que ser certeiro.
O combinado era eles se encontrarem em um ponto da
Dutra para que a situação finalmente acabasse. A hora
combinada seria meia noite, mas de tanta ansiedade, Felipe
chegou três horas antes. Ele estava pronto, com passagem no
bolso, para o primeiro voo para fora do país, o carro ligado para
poder sair daquele lugar o quanto antes e o mais importante, a
arma do crime estava prontinha no bolso de seu melhor terno.
Felipe sabia que sua família detestaria saber que ele havia feito
algo como aquilo, ainda mais sem avisar, mas não tinha jeito,
ele não conseguiria viver assim por muito tempo.
Quando o relógio finalmente avisava que eram onze e
cinqüenta e oito, ele viu o carro de Alice se aproximando. Era
um fusca de mil novecentos e vovô era novo, que mal
funcionava, mas isso não seria mais um problema, já que ela
nunca mais precisaria dele. Ela parou o carro a dez metros dele.
Ela demorou para descer, o que só contribuía para aumentar o
nervosismo de Felipe, ele sabia que ela tinha o mesmo plano.
Finalmente, quando ela desceu daquela tralha velha, o mundo
de Felipe parou. Como ela estava linda! Pensou. E como
sempre, com seu andar lento e sensual. Felipe começou a se
perguntar se ele estava fazendo a coisa certa. Esta seria a
ultima vez que ele a veria deste jeito, livre, e seria justo ele
acabar com isso? Não, ele não poderia duvidar, era agora ou
nunca.
Assim que ela chegou perto, Felipe lembrou o porquê de sua
missão. Ela era tão linda, tão cheirosa, tão perfeita, e mesmo
assim tão perigosa, que se ele não fizesse isso agora ela poderia
escapar e ele nunca mais a encontraria. Depois de uma longa
troca de olhares, Alice decidiu falar alguma coisa, mas Felipe
sabia que se deixasse começar ele perderia esse duelo. Então
ele respirou fundo, colocou no bolso e pediu silêncio, olhou nos
olhos de esmeralda que ela possuía e tirou a arma que o faria
vencer, que o faria feliz. E com a arma em mãos, a frágil
caixinha de veludo que dentro guardava o anel mais lindo, ele
fez a pergunta que mudaria sua vida:
- Quer casar comigo?
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