Francisco Rebelo: um artista beirão ao serviço da Diocese de Lamego 115 Quanto aos arcos cruzeiros e respectivos retábulos colaterais constatamos que, à excepção feita para a obra documentada da Igreja matriz de Vila Seca, em Armamar, também o arco cruzeiro e retábulos colaterais da Igreja matriz de Freixinho, em Sernancelhe, se podem atribuir ao mesmo mestre pela semelhança que evidenciam ao nível da estrutura: de planta plana com duas colunas torsas, os retábulos colaterais inserem-se no arco cruzeiro, sendo as arquivoltas deste mesmo arco, o seu remate. Os intercolúnios são de formato rectangular, pintado. As arquivoltas torsas (exterior e interior) e a plana (intermédia) exibem uma grande planimetria que advém da própria configuração das ilhargas dos retábulos colaterais. Não mencionámos, todavia, os retábulos colaterais que, na realidade, são laterais da Capela de Nossa Senhora da Esperança, em Lamego, uma vez que ao tratar-se de uma obra de parceria, pensámos terem sido executados pelo seu parceiro, o mestre imaginário Manuel Ribeiro, já que não encontrámos grandes similitudes com o que Francisco Rebelo fazia, excepto no entalhe dos gordos acantos. O mesmo não se aplica ao arco cruzeiro que evidencia os seus traços característicos. Igualmente, o facto, deste artista ser tratado por mestre, desde 1714, faz-nos crer que se encontraria em actividade há já algum tempo e que teria tido uma oficina a funcionar. Até à data, exceptuando a atribuição de Gonçalves da Costa como sendo da autoria de Francisco Rebelo os retábulos do Convento de São Francisco, em Lamego9, não descobrimos prova documental de tal ocorrência, mantendo por isso a sua atribuição10. Porém, a sua residência na sede do Bispado e tão próximo do Convento, é uma possibilidade a ter conta. Arriscamos, por isso, a atribuição da data de inícios de 1700 às obras que Gonçalves da Costa imputa a Francisco Rebelo porque sabemos que foi Dom António de Vasconcelos e Sousa, bispo de Lamego entre 1693-1706 que continuou e finalizou a nova igreja do Convento de São Francisco11, uma vez que a antiga se teria arruinado, obra esta começada por Dom Frei Luís da Silva Teles que teria tomado posse da diocese em 1677, mas que, entretanto, fora chamado para comandar o arcebispado de Évora. Estando já a comandar os desígnios da Diocese de Coimbra, Dom António de Vasconcelos e Sousa ter-se-ia deslocado a Lamego com toda a pompa, em 1711, para dizer a primeira missa na igreja nova do Convento, tal como o provam as Memórias Paroquiais de 175812. 9 QUEIRÓS, 2002: 121. QUEIRÓS, 2006: 230 (vol. I). 11 QUEIRÓS, 2002: 73-74, 89-90 e 212-214; QUEIRÓS, 2006: 125 (vol. I). 12 COSTA, 1984: 566-568; QUEIRÓS, 2002: 593-594. 10