Apontamentos e Análises OCUPAÇÃO AGRÍCOLA, ESTRUTURA AGRÁRIA E MERCADO DE TRABALHO RURAL NO CERRADO: O PAPEL DO PREÇO DA TERRA, DOS RECURSOS NATURAIS E DAS POLÍTICAS PÚBLICAS GOIÂNIA JUNHO DE 2012 GOIÂNIA MEC MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO RENAPI REDE DE PESQUISA E INOVAÇÃO EM TECNOLOGIAS DIGITAIS IFG INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS OBSERVATÓRIO DO MUNDO DO TRABALHO OBSERVATÓRIO NACIONAL DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL, CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EQUIPE TÉCNICA EXECUTIVA Geraldo Coelho de Oliveira Júnior – Pesquisador Gestor Walmir Barbosa – Pesquisador Orientador Maxmillian Lopes da Silva – Pesquisador Orientador Denise Talitha Soares Carneiro – Economista Letícia Daniele Silva Ferreira – Aluna Bolsista – Observatório Marcelo Regis da Silva Filho – Estagiário – Observatório 2 APRESENTAÇÃO O Observatório da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica – Núcleo Centro-Oeste disponibiliza uma série de apontamentos e análises de livros e artigos realizados pelos seus pesquisadores, a partir de 2008. Estes apontamentos e análises partem das mais diversas publicações, com apontamentos críticos das idéias dos autores, a partir do texto ou livro publicado, versando sobre o processo de desenvolvimento brasileiro contemporâneo em suas diversas dimensões. O Observatório se encontra à disposição para quaisquer esclarecimentos e informações que se fizerem necessários, bem como para a publicação de outros trabalhos correlatos. 3 Apontamentos e Análises do Observatório a partir do Texto: Ocupação Agrícola, Estrutura Agrária e Mercado de Trabalho Rural no Cerrado: O papel do preço da Terra, dos Recursos Naturais e das Políticas Públicas* O cerrado, originalmente de baixa fertilidade natural e elevada acidez, foi transformado em terrenos férteis e de acidez controlado, graças a descobertas tecnológicas e investimentos. Portanto, “de recurso natural, herdado, os solos de cerrados transformaram-se em ‘capital’ artificialmente produzido” (cunha apud Rezende, 2003, P.173). Pode-se dizer que novas conquistas tecnológicas e investimentos em pesquisa, conduzidos pelo poder publico, que redundaram em variedades de cultivares adaptados, se somaram ao processo de transformação desse recurso natural, herdado, em ‘capital’ artificialmente produzido”. Em 2003, a Embrapa estimava os cerrados em 204 milhões de hectares, sendo que 61 milhões estariam sendo utilizados, 66 milhões de hectares estariam projetados para serem incorporados às atividades agropecuárias e 77 milhões seriam impróprios para a prática agrícola. Portanto, essa última área ultrapassaria em muito as exigências de que pelo menos 20% da área total sejam preservados como reserva legal, atendendo às exigências da política ambiental1. Os dados referentes à evolução das áreas de pastagens e de lavouras, segundo as grandes regiões, entre 1970 e 1996, evidenciam a grande expansão das atividades agropecuárias no Centro-Oeste. As críticas conduzidas ás características da grande expansão das atividades agropecuárias no Centro-Oeste, caracterizada pelo predomínio da produção em grande escala, altamente mecanizada, com pequeno espaço para a agricultura familiar e uma absorção pequena de mão-de-obra de baixa qualificação, bem como pelo agravamento de problemas como a concentração da renda e o aprofundamento dos problemas da pobreza, são prontamente refutados por diversos autores. Tais processos decorriam dos fundamentos naturais da região. O baixo custo da terra, o elevado custo de “produção do solo” e o regime pluviométrico marcado pela longa estiagem desencadeou na região padrões de ocupação concentradores da terra e da produção e pequena absorção de mão1 A possibilidade de transferência da reserva legal para outra área permite às grandes propriedades usufruir plenamente suas terras e adquirir terras “impróprias”, para os padrões agropecuários nelas desenvolvidas, em outras localidades. A política ambienta vigente, de fato, não pretende conter os graves danos ambientais promovidos pela atividade agropecuária da “revolução verde”, mas apenas os seus excessos, ao mesmo tempo em que acomoda pressões originadas da opinião pública. Isto é, assegurar a expansão do capital e buscar a limitação da sua dinâmica incontrolável de destruição. 4 de-obra. Portanto, tais processos não decorrem de fatores como a história de ocupação da região e as políticas de assentamento de trabalhadores sem terra ou com pouca terra no Centro-Oeste, não seria adequada em função de que as mesmas não seriam passíveis de ocupação por pequenas propriedades e produção. (Rezende, 2003, P.176). Quanto às críticas aos danos ao meio ambiente, causadas pelo uso predatório dos recursos naturais e pela destruição da biodiversidade, impostos de expansão agropecuária, acima caracterizada, no Centro-Oeste, os autores que concebem e/ou defendem essa expansão, adotam o discurso de contenção dos excessos. A “não expansão” penalizaria a sociedade, mas seria possível e necessário atenuar os seus custos ambientais. Isto é, nessa perspectiva, em especial para o Centro-Oeste, ocupação, modernização e expansão agropecuária, em função dos seus fundamentos naturais, possui um caminho único, qual seja, aquele que esta em curso. Fora dele, não há perspectiva (Rezende, 2003). 1. O Product Mix Regional e sua Análise: O papel do Preço da terra e dos Recursos Naturais Preços da terra baixo e chuvas concentradas em apenas um período do ano, tornam o Centro-Oeste extremamente favorável à lavoura e à pecuária de corte em larga escala e em grandes propriedades. Lavoura e pecuária de corte extensiva não encontra competição na região; e essa vantagem competitiva das atividades de grãos e pecuária na região converte-se em vantagem competitiva ‘da’ região nessas atividades, em decorrência desse menor custo da terra e da razoável regularidade climática reduzindo riscos na atividade agrícola. 2. Estrutura Agrária e Mercado de Trabalho Rural no Cerrado Segundo certos autores, a inviabilidade histórica da agricultura familiar nos cerrados (devido à baixa qualidade das terras), a formação da grande propriedade territorial (única compatível com pecuária extensiva associada à agricultura itinerante e de baixa produtividade, teria facilitado a rápida adoção, pela agricultura regional, no novo padrão tecnológico, caracterizado pela produção em grande escala. Assim, teria se estabelecido em quadro de valor produtivo de custo baixo para a grande produção em comparação com o custo (elevado) da pequena produção, gerando um efeito colateral 5 repressor ao desenvolvimento da pequena produção e propriedade. Outros aspectos, como a ausência de rendas no período de longa estiagem e a conformação física dos solos (profundos e drenados) comprometendo a aração animal no período acima mencionado, também teriam proporcionado outros efeitos colaterais em desfavor da pequena propriedade e produção. A carência objetiva da pequena propriedade e produção, geradora de mão-deobra disponível e passível de assalariamento, teria acarretado uma carência de mão-deobra. Os custos da mão-de-obra, que neste contexto tenderiam ser naturalmente mais elevados, somado aos custos adicionais oriundos da legislação trabalhista e da elevada carga tributária que incide sobre a folha de pagamento, teria compelido ainda mais a mecanização da grande propriedade. Assim, não seria a perspectiva a perspectiva de produção em escala que teria acarretado a mecanização, mas imposição da mecanização é que teria conduzido a produção em escala. 2. Ocupação Agrícola no Cerrado: O papel das Inovações Tecnológicas 2.1. Mudança Tecnológica e Produção de Terra no Cerrado A tecnologia de “produção de solo” permitiu a conversão de terras em estado natural (florestas e campos) e de terras com agricultura e pecuária de baixa qualidade, em terras apropriadas para agricultura e pecuária de elevada qualidade, nos termos caracterizados pelo autor. Para o autor (Rezende, 2003), tal realidade teria concorrido para a depreciação do valor das terras, visto que teria se formado um mercado rural com super oferta de “terras de qualidade”. O autor, que geralmente elenca “evidências” em favor dos seus argumentos, não as apresenta nesse caso. A nosso ver, teria ocorrido justamente o contrário. A efetiva conversão ou a sua pura e simples possibilidade, desencadeou a elevação dos preços das terra no CentroOeste. 2.2. Implicação para as Análises de Produção e de PTF O autor sustenta que os investimentos na “produção de solo, isto é, investimento de conversão da terra imprópria para terra adequada ao desenvolvimento de lavoura e pecuária moderna é relativamente alto para a pequena propriedade e produção, seja pelo custo relativo alto em face da descapitalização do pequeno proprietário, seja pela intervenção “manual” na sua realização com custo salarial dos trabalhadores 6 eventualmente contratados, seja pelas relações investimento/valor da terra e investimento/produção da terra. Por outro lado, o investimento é de menor custo para grandes proprietários, geralmente mais capitalizados e com poder de capitalização pela desmobilização da renda e capital imobilizados numa parte da terra por meio da sua venda, mas também porque a realização dos investimentos por meio da motomecanização reduz custos (porque reduz emprego de mão-de-obra) e porque as relações investimento/valor da terra e investimento/produção são mais favoráveis. A questão crucial é que o autor pressupõe: 1. que a pequena produção e propriedade terá que produzir grãos e carnes; 2. que ela não se associaria; 3. que ela produziria a partir da tecnologia da “revolução verde”, expresso no agronegócio. Ou seja, o autor estabelece um campo de relações e uma grade de referências para analisar a questão, sendo elas somente poderia concluir pela inadequação do desenvolvimento das pequenas propriedades e produção no Centro-Oeste. (P. 185-187). 3. A Queda Recente do Preço da Terra no Brasil e o Papel do Cerrado Uma referência básica quanto ao preço da terra no Brasil, ou se quiser, um condicionante fundamental, foi a grande variação do seu preço nas conjunturas macroeconômicas em que o risco percebido das aplicações financeiras lhe impôs mudanças significativas – piorando, induz o preço da terra subir; melhorando, induz o preço da terra cair. A terra como reserva de valor (renda herdada in natura) e/ou como bem de capital imobilizado (capital investido em alguma medida) se prestou como instrumento especulativo em face de conjunturas nas quais a especulação financeira esteve ameaçada em função de grandes riscos macroeconômicos – com capitais “fugindo” para ela e tencionando seu preços para cima mediante grande procura). Todavia, quando a esfera especulativa foi rentável e segura, o preço da terra tendeu a cair, por conta da grande oferta de terras por quem procurou adquirir títulos da dívida pública. A grande queda do preço da terra a partir de 1994 pode estar relacionado, ainda, com a estabilização da abertura comercial e com a paridade cambial. A hipótese é que tenha ocorrido um certo “nivelamento” com os preços de terras em termos mundiais, considerando condições de terras, infraestrutura, inserção de commodities agropecuários no mercado internacional etc. Observa-se uma ligeira elevação dos preços a partir de 1999, quando da desvalorização cambial. 7 Informações importantes podem ser analisadas no gráfico 4 – Brasil: Evolução do Índices de preços de Venda De Terra De Lavoura Em junho e dezembro de cada Ano 1980-2001. Ver, ainda, evolução dos preços de arrendamento de terras 1980 – 2001, P.198. Outra hipótese é que com a elevação do valor das commodities agropecuárias a partir de 2003, o preço da terra subiu. Portanto, em um contexto de especulação financeira segura em torno dos títulos públicos, o valor da terra acompanhou o rendimento da atividade, fortemente marcado pelo valor das commodities. Os fatores “esterilizadores” desta relação preço de terra/valor das commodities agropecuárias são: câmbio, que quando apreciado reduz os ganhos em Dólares; e preço NPK no mercado internacional, que em função da dependência da sua importação, ganhos da atividade agropecuária são “absorvidos” pela aquisição desses insumos. Geralmente após os fracassos dos planos heterodoxos, segundo o autor (Rezende, 2003, P.198), “ocorreu também o reverso da medalha, com as quedas dos preços da terra e do arredamento e a derrocada dos preços agrícolas, deixando em seu rastro frustração e crise financeira na agricultura”. O autor refuta a idéia da crise como decorrente do “descasamento” entre as correções monetárias dos preços mínimos e do crédito rural, o qual teria ocorrido por ocasião desses planos. (Rezende, 2003, P.198). O autor (2003, P200) não correlaciona a queda do preço de terra à queda do preço do arrendamento “depende apenas da demanda e da oferta de ‘serviços’ de terra, a demanda dependendo apenas da rentabilidade da produção e a oferta sendo absolutamente inelástica, só mudando com variação no estoque de terra”. Todavia, como não correlacioná-las, pois se a própria redução do valor da terra se relaciona à boa rentabilidade da especulação financeira, logo o próprio arrendatário capitalista pode também ele buscar essa alternativa. De outro lado, se a terra é valorizada, o arrendamento também tem que ser, do contrário, ela não se comportaria como, em alguma medida, capital imobilizado. O autor levanta uma hipótese: o comportamento recente de queda dos preços de venda e de arrendamento de terra tenha decorrido do aumento do estoque de terra no cerrado, “fenômeno que teria atuado no longo prazo e que deve ter afetado principalmente as áreas agrícolas do Centro-Sul, onde o mercado de terras é integrado. (Rezende, 2003, p.200-2002). 4. Implicação para a Política de Meio Ambiente 8 O autor (Rezende 2003, p.202-204), posiciona-se de forma conservadora acerca dos problemas ambientais da expansão da moderna agropecuária no cerrado. Primeiramente, induz a uma “redução” da gravidade e extensão do problema, à medida que aponta estudos da Embrapa que identificam 77 milhões de hectares com área de “baixa aptidão agrícola”. Portanto, subentende-se a ocorrência de uma espécie de “zona protetora natural”, que asseguraria grande proteção a extensas áreas do cerrado, tidas como de “baixa aptidão agrícola”. O autor, todavia, ignora o fato de que a tecnologia de ocupação e desenvolvimento ‘dos cerrados’ encontra-se em franca expansão, em termos de “construção de solos”, variedades de cultivares, manejos de solos, e assim por diante. Portanto, a referida “baixa aptidão agrícola” somente pode ter com referência os padrões tecnológicos atuais. O cerrado, por sua vez, é uma abstração generalizadora. ‘Ele’ se compõe de uma infinidade de subecossistemas que compõe “os cerrados”. Alguns desses ecossistemas encontram-se nas áreas de “média e de elevada aptidão agrícola”, o que tem conduzido alguns destes a um processo de aniquilamento, a exemplo dos “Gerais da Bahia”. Portanto, “restringir” a proteção do cerrado apenas às áreas de “baixa aptidão agrícola” é assinar um compromisso pela extinção de determinados subecossistemas. O autor recomenda a adoção de “um zoneamento na política ambiental brasileira no caso específico do cerrado, restringindo-se a essas regiões de baixa produtividade agrícola a proibição de desmatamento e de abertura de novas áreas à atividade agrícola, criando-se grandes parques nacionais onde se preservaria o meio ambiente e a biodiversidade”. (...) “O que não é possível continuar com a política atual de proibição de 20% da área de todo e qualquer estabelecimento agrícola, independentemente de seu tamanho ou localização”. (Rezende, 2003, P.202 e 203). O autor protesta contra a proposta de adoção de uma “moratória” para o cerrado, promovendo-se a recuperação, para fins agrícolas, das pastagens “degradadas” e proibindo-se a incorporação de novas áreas de cerrado. Argumenta que tal medida elevaria os preços de terras no Brasil e, em consequência, elevaria os custos de produção de commodities, reduzindo a competitividade dos produtos agropecuários exportados, oriundo do agronegócio voltado para o mercado externo. Argumenta, ainda, que a elevação dos preços repercutiria na elevação dos custos para o assentamento e no 9 encarecimento do programa de reforma agrária do governo, bem como elevaria os custos dos alimentos no país. O autor, de fato, ignora que o propósito da moratória é obrigar a retomada de terras de pastagens degradadas, para recuperá-las como terras de pastagens e terras agricultáveis. Isto é, que os diversos segmentos presentes no campo, neles incluídos os segmentos representados pelo agronegócio, assumam custos com a recuperação de terras de pastagens degradadas, reduzindo a pressão econômico-destrutiva sobre o que resta de cerrado. Na perspectiva do agronegócio o autor recomenda que o governo pague pela área preservada, criando uma modalidade de rentismo agrícola brasileiro. 5. Implicações Para as Políticas de Reforma Agrária e de Fomento do Emprego Assalariado Rural e da Agricultura Familiar Para o autor (2003, P.204), é possível conciliar assentamento de trabalhadores rurais no Centro-Oeste. Todavia, ele deveria ocorrer nas terras que não se caracterize como sendo de cerrado, mas nos bolsões de Terras de elevada fertilidade da região, que de fato, são escassez. Logo, não se trata de assentamento em larga escala, mas restrito a algumas localidades. Outra condição é que o assentamento seja concebido em um outro modelo de reforma Agrária. O modelo tradicional, mediante concessão de lotes e de crédito não pode funcionar na Região Centro-Oeste em função dos seus “fundamentos naturais”. Em seu lugar dever-se-ia adotar um modelo alternativo que incluiria uma etapa inicial de “construção do solo”, por conta do governo, anteriormente a divisão da área em pequenos lotes. Posteriormente ocorreria a assistência técnica continuada e, coetaneamente, a cobrança dos investimentos realizados pelo governo na “construção do solo”. Seria vedada a concessão de crédito diretamente ao agricultor para que ele fizesse a “construção do solo. O governo deveria estimular a conformação de um mercado de aluguel de máquinas, de modo a viabilizar a motomecanização da produção, bem como deveria criar mecanismos que levasse os pequenos proprietários a “se especializar em grãos e pecuária. Por fim o autor conclui que, “naturalmente, uma reforma agrária com essas características é tão necessária nas condições de cerrado quanto difícil de ser implementada. Além de ser muito cara e muito exigente em termos de um programa de treinamento de assentados, ela requer uma capacitação técnica e 10 administrativa do órgão executor (o INCRA) que simplesmente não existe. Em face dessas dificuldades, é mais adequado fomentar o emprego assalariado agrícola, atuando nas restrições que hoje pensam sobre o mercado de trabalho agrícola. Isso inclui, basicamente, uma flexibilização da legislação trabalhista e uma redução da carga tributária que incide sobre a mão-de-obra” (Rezende, 2003, P. 205 e 206). Nas condições estabelecidas pelo autor, como ele próprio reconhece, seria “difícil de ser implementada. De fato, não adquire a reforma agrária como “possível” no cerrado em função dos seus fundamentos, pelo menos amplamente conduzida. A questão da difícil reforma agrária para a região Centro-Oeste deveria ser equacionada pela fomentação do emprego assalariado agrícola. Nessa direção, o autor apresentou diversas iniciativas para desencadear a referida fomentação. Primeiramente a flexibilização da legislação trabalhista e a redução da carga tributária que incide sobre a mão-de-obra. A perspectiva, embora não explicitada, seria a redução de custos para o capital agrário e a ampliação das condições de imposição do capital sobre o trabalho. Enfim, criar um estoque de mão-de-obra assalariada mais numerosa, de custo menor e com menor capacidade de resistência. A política governamental também deveria incentivar a formação de cadeias produtivas agroindustriais de base animal e de base de grãos. Ao mesmo tempo em que atenderia a demanda por emprego e elevaria a renda da região Centro-Oeste, concorreria para a oferta de empregos assalariados nos centros urbanos da região. Portanto, a articulação entre a grande propriedade agrária moderna, no campo, e os complexos agroindustriais, no meio urbano. O autor estabelece, por fim, uma articulação entre a concepção de reforma agrária alternativa por ele apresentada, que ele julga de difícil implementação e que se restringiria apenas às terras férteis residuais do Centro-Oeste, e a demanda por força de trabalho assalariada. Os assentamentos de trabalhadores rurais cumpriria um papel funcional. Na região Centro-Oeste poderia proporcionar mão-de-obra assalariável sob contrato temporário de trabalho, que acompanharia, em grande medida, os ciclos de chuvas da região, que são também os ciclos de produção dos grãos nas grandes propriedades modernas. No período de entressafra da região Centro-Oeste que coincide com a grande estiagem e a redução de oferta de emprego, proporcionaria um estoque de força de trabalho sazonal que poderia se deslocar para outras regiões à procura de trabalho. Portanto, ampliaria não apenas o estoque de força de trabalho na região Centro-Oeste, mas também nas demais regiões de Centro-Sul do País. 11 6. Conclusão Tendo em vista a melhor estratégia de política ambiental para o cerrado, o autor propôs um zoneamento que permitisse a preservação ambiental em grau maior apenas nas regiões de menor potencial agrícola, minimizando-se, assim, o impacto adverso dessa política sobre a produção agrícola, sobre a balança comercial e até mesmo sobre a pobreza. Essas regiões de menor aptidão agrícola e de grande interesse de preservação ambiental deveriam ser desapropriadas e reunidas em grandes parques nacionais. 12 *Bibliografia Resende, Gervásio Castro de. “Ocupação Agrícola, Estrutura Agrária e Mercado de Trabalho Rural no Cerrado: O papel do preço da Terra, dos Recursos Naturais e das Políticas Públicas”. In: HELFAND, Steven M. e REZENDE, Gervásio Castro (org). Região e Espaço no Desenvolvimento Agrícola Brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003. 13