Palavras do Sr. Raphael Mandarino Jr., por ocasião da Solenidade de Despedida do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI/PR). Brasília, 1º de dezembro de 2014. Caro Amigos, Depois de 8 anos 4 meses e 16 dias me despeço da direção do Departamento de Segurança da Informação e Comunicações do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Foram anos de muito trabalho, esforço, criatividade e muitos resultados. E é chegado o momento de me despedir. Começo estas despedidas com lembranças. Gosto de contar que a primeira coisa que estranhei ao ser nomeado, em 17 jun de 2006, foi o nome do Departamento. Não conhecia nenhuma referência técnica ou acadêmica que sustentasse a expressão Segurança da Informação e Comunicações. Conhecia Segurança da Informação; Segurança das TIC´s; Segurança das Comunicações. Cheguei a pesquisar em outras línguas, mas nada. A explicação veio em seguida e sinalizou as dificuldades que teria pela frente, indicando que os caminhos por onde eu teria que trafegar para ter sucesso na minha missão, e que seguramente, não poderiam ser só os técnicos, onde transitava com conforto, mas aprender, também, a caminhar e a me preocupar com aspectos políticos. Se o nome do Departamento fosse mantido, como proposto, e correto tecnicamente, seria: Departamento de Segurança da Informação, que, como sigla adotaria: DSI, e nessa sigla residia toda a confusão. Ela remetia às antigas Divisões de Segurança Interna, órgão existente em todas as organizações públicas e que fazia parte da estrutura do também antigo Serviço Nacional de Informações. Portanto, segundo o entendimento dos então responsáveis na Casa Civil da Presidência da República, aquela sigla não caberia naquele governo, e para resolver, incluíram por sua própria conta e risco a expressão: e Comunicações, criando a sigla DSIC, com destaque para o conectivo (e) errado, pois deveria ser (e das Comunicações). Coisas de burocratas. Lembro que na primeira mensagem de natal que mandei aos então 12 servidores do DSIC eu me vali de uma imagem para descrever como eu via o Departamento: o DSIC era um Boeing. Com a seguinte característica: já havíamos decolado, mas ainda era um avião em construção, era preciso terminar a fuselagem, colocar e ajustar os motores, incorporar toda a aviônica, acabamentos, etc., tarefa árdua pois só contávamos com uma dúzia de tripulantes a bordo, e cada um, tinha que se ocupar de várias funções. A única coisa que tínhamos inteiramente funcional era o nariz do avião, que simbolizava a coesão dos membros do DSIC, a certeza da direção a seguir e de onde queríamos chegar. E chegamos longe! Hoje, após todo este tempo, apesar do pecado original de seu nome, o DSIC adquiriu tanta credibilidade que é conhecido e referenciado quando o assunto é segurança da informação e comunicações. Ministérios, Empresas Públicas e até mesmo Estados, Municípios e Empresas Privadas, replicaram o nome em suas estruturas. O arcabouço referencial técnico construído e difundido por suas Instruções Normativas e Normas Complementares são reconhecidos e mandatórios para toda a Administração Pública Federal – APF. E são utilizados nos demais Poderes da União, em Estados, Municípios e em empresas privadas. Temos publicadas no sitio do DSIC, todas as Normas, ao lado da versão em português, as traduções para Espanhol e Inglês, atendendo a uma solicitação de países irmãos, que compõem a Organização dos Estados Americanos – OEA, muitos dos quais as utilizam como base para a sua própria regulação interna. O modelo de capacitação de servidores públicos que desenvolvemos, cujo auge é curso de especialização em gestão em segurança da informação, que reputo como a minha mais importante contribuição como profissional, feito em parceria com a Universidade de Brasília – UNB, com mais de 400 horas/aula, e que já se encontra em sua 4ª edição, é um sucesso, já tendo formado mais de 600 gestores e é copiado por vários órgãos da APF. Ter incentivado o desenvolvimento de uma metodologia e de uma ferramenta própria de registro e acompanhamento de incidentes de redes e ter fomentado a criação de Centros e Equipes de Tratamento de Incidentes de Redes na APF, que das 3 existentes quando da criação do DSIC, se multiplicaram e hoje se aproximam de 200, são ações concretas que tornam as redes da APF mais seguras. Este mesmo incentivo foi levado ao Programa de Segurança Cibernética do Comitê Interamericano de Combate ao Terrorismo – CICTE, da OEA, onde em parceira com a Agência Brasileira de Inteligência, nos anos de 2007 a 2010, ajudamos a implantar 16 centros de resposta a incidentes em países da OEA. Ter participado intensamente das discussões prévias à promulgação da Lei de Acesso e das regulamentações subsequentes, colocaram o Departamento no centro de uma importante modificação na forma de se tratar as informações no Governo. Da mesma forma, a Normatização do uso de criptografia e do Sistema de Credenciamento de Segurança, decorrentes daquele diploma legal, são regulamentos e diretrizes inovadoras e pioneiras que permitiram a Administração Pública equalizar de forma razoável, o dilema do binômio Segurança & Transparência. A experiência internacional adquirida pela constante participação em Delegações Internacionais para defender a posição brasileira em Segurança da Informação e em Segurança Cibernética em Fóruns como o BRIC´S, OEA, UNODC/ONU, e participar de encontros Bilaterais com países como a Rússia, China, Índia, Israel, Estados Unidos, Canadá, Alemanha, para citar alguns. Ser nomeado como Delegado Especialista para tratar das Negociações de um Novo Acordo Internacional em substituição à Convenção de Budapeste, junto a ONU, para participar de debates sobre a conveniência ou não de se elaborar, no âmbito das Nações Unidas, um provável Acordo de Não Proliferação de Armas da Informação, por duas vezes. E a negociação dos Acordos para a Troca de Informações Sigilosas entre o Brasil e outros Países, sete conclusos e vinte em fase de negociação, me levaram a conhecer a realidade da segurança cibernética de 18 países, em 41 viagens internacionais das 140 que fiz em voos comerciais, fora os voos da FAB. Mas, mais do que falar de realizações, que são públicas e notórias, e que muito me orgulham, prefiro falar das pessoas que me ajudaram a alcançar cada feito e cada realização. Muitos foram os que me ajudaram a construir este Departamento e por dever de justiça devo agradecer em primeiro lugar ao então Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, General de Exército Jorge Armando Felix, que com clarividência entendeu a necessidade da criação do Departamento e me honrou com seu convite para ser o seu primeiro dirigente. Ao então Secretário Executivo General de Divisão Wellington Fonseca, primeiro chefe direto do DSIC, pelo seu apoio e incentivo em nossos primeiros passos. Ao Tenente Coronel Antônio Carlos Menna Barreto Monclaro, que elaborou a ideia e assessorou o Ministro Felix no processo de criação do DSIC. Para não cometer a injustiça de esquecer alguém, vou destacar e agradecer a todos os servidores do DSIC, nomeando aqui os pioneiros, os primeiros combatentes do DSIC: os Coronéis Macarino Bento Garcia de Freitas, Reinaldo Silva Simião e Walter Adel, os Doutores Tatiana Malta Vieira e André Caricatti, as colegas Siomara Cintia Panroto, Maria de Fátima Monteiro de Moura, Claudia Santos Sallaberry e a saudosa Dona Zélia Maria Cavaggioni, o Major Emerson de Azevedo, o Capitão Carlos Eduardo Correia Roque e o Tenente Marcello Cardoso Bernardo, que compunham comigo o primeiro grupo. Nas pessoas elencadas agradeço e homenageio todos os demais, Chefes e Colegas, que integraram o DSIC ao longo dos últimos 8 anos. Mantenho sempre a postura de não dirigir olhando o retrovisor, saio do DSIC com a certeza de ter cumprido a minha missão. Meus projetos futuros são simples: escrever e tentar repassar tudo aquilo que consegui aprender nesses anos e que, pelo atropelar do dia a dia não me foi possível transmitir ou que transmitidos os conhecimentos, eles se foram pela rotatividade de pessoal que enfrentamos no decorrer dos anos, característica normal da Presidência da República. Para exemplificar, temos hoje 27 servidores em nossos quadros e por aqui já passarem e nos deixaram 56 outros colaboradores, já ai me incluindo. Agradeço ao General Elito Siqueira, atual Ministro do GSI, todo o apoio recebido para manter os trabalhos do DSIC, ao General Edson Leal Pujol, meu atual Chefe direto, pela camaradagem e amizade. Agradeço aos meus atuais colegas Marconi, Magno e Josita, que dividem comigo a tarefa de Coordenar o DSIC. Agradeço à Claudia e à Daniela o Assessoramento sempre seguro e independente, agradeço aos meus anjos da guarda Tenente Elton e sargentos Marli e Ivanice, por me ajudarem a organizar o fardo do dia a dia. Agradeço às equipes da Gestão, do CTIR, do Núcleo e do GAT toda a dedicação e esforço na condução das atividades do Departamento. Profissionalmente a lista de agradecimentos e dívidas de gratidão é enorme, mas vou sintetizar agradecendo duas instituições ícones, que ajudaram na minha formação: Aos meus queridos professores do Colégio Pedro II que me ensinaram o valor da educação e do conhecimento. E ao Exército Brasileiro, que me deu as bases da minha principal profissão Analista de Sistemas. Por último e não menos importante, agradeço a meu saudoso pai Raphael Mandarino e minha mãe Guilhermina Cardozo Mandarino, que tenho a graça de tê-la ainda conosco, pelos ensinamentos simples e diretos que hoje soam como démodé, principalmente nos ambientes políticos, de falar a verdade não temendo a ninguém, por mais poderoso que seja, ser justo reconhecendo as qualidades e perdoando os defeitos, ser amigo dos amigos e se afastar dos inimigos, ser honesto, não se apropriando do que é dos outros. Devo a eles as bases da minha formação moral e ética. Agradeço à minha amada esposa Georgina e aos meus filhos Mariana e Raphael e ao meu genro/filho Rafael pela resignação nas minhas costumasses ausências e pelo incondicional apoio e incentivo em todas as minhas decisões. Somos mais que uma família, temos a cumplicidade santa que só se adquire sendo abençoado por Deus. E por falar nele, encerro agradecendo ao Grande Arquiteto do Universo, por me permitir ter sempre a sapiência e a coragem de tomar, na hora mais certa, as decisões corretas, mesmo amargas, como a de me afastar do convívio de todos aqui no GSI. Muito obrigado! Raphael Mandarino Jr.