131 Figura 62
Cartazes e material publicitário desenvolvido pelo SEMTA em 1942 para
estimular os jovem a fazerem alistamento como soldados da borracha para
cortar seringa na Amazônia. Fortaleza 1942-1945.
Muitos optaram em trabalhar na Amazônia para fugir da guerra, no entanto a troca não
foi vantajosa. No campo de batalha dos 20.000 soldados que lutaram na Europa, morreram
454 pracinhas, enquanto que, dos 53.000 homens enviados à Amazônia, mais de 20.000
homens morreram vítimas de acidentes e doença, sem dar sequer um tiro.
Os americanos ocuparam a Amazônia na época da guerra. Na cidade de Boca do Acre
(AM) abriram uma casa de comércio com nome de RDC (Rubber Development Corporation)
onde a mercadoria era vendida por um preço mínimo para poder favorecer os seringalistas na
produção de borracha. Este comércio desagradou os comerciantes locais, que viram sua
132 clientela se voltar para os preços vantajosos da RDC. Houve uma tentativa de acordo entre a
RDC e os comerciantes locais, e chegou-se à decisão de que a RDC venderia somente no
atacado, tentando limitar o acesso dos seringueiros. Mas os seringueiros se organizavam e
faziam a compra coletivamente. A RDC contava com uma frota de aviões Catalina, que
transportavam as mercadorias e a produção de borracha. Entre o contingente de soldados
americanos havia jovens que diziam ser filhos de pessoas ricas, que optaram por prestar
serviço na Amazônia em vez de irem para a guerra (MELO, 2000).
Os acordos de Washington atenderam aos anseios do Governo Vargas, que queria
ocupar a Amazônia. Porém o interesse dos americanos era conhecer a região e suas riquezas e
explorar as rotas. Foi dado o aval para esta ocupação norte-americana. Na região de Boca do
Acre, os americanos perscrutaram toda a região com expedição de barco e avião. Seo Hélio
conta que eles se interessaram pela Praia dos Paus e, periodicamente. faziam exploração com
pouso na água. Não se sabe até hoje o motivo do interesse dos americanos pelo lugar.
Os nordestinos que trabalharam em benefício da nação ficaram conhecidos como
“Soldados da Borracha”. Muitos dos que foram para a Amazônia ficaram impedidos de voltar
à terra natal por causa das dívidas com o patrão; a promessa do governo de retribuir em
dinheiro o esforço de guerra também não se concretizou. Só em 1988 os soldados da borracha
ganharam o direito a uma pensão vitalícia de dois salários mínimos por mês, sem direito a 13º
salário. No Estado do Acre, cerca de 12.000 soldados da borracha foram qualificados a
receber a pensão, entre eles o artista Hélio Melo, que, apesar de não ter se alistado como
soldado da borracha, na época da II Guerra Mundial já se encontrava trabalhando na coleta do
látex no seringal Senápolis. Foi com o dinheiro da pensão e da venda de seus desenhos, mais
o salário de vigia que recebia da CODISACRE com lotação na Fundação Cultural, onde
desenvolveu vários projetos, que Seo Hélio sustentou sua família. Atualmente a luta dos
soldados da borracha é pela equiparação com os pracinhas que foram à Itália e recebem a
pensão de dez salários mínimos e mais décimo terceiro salário.
Com a liberação dos seringais cultivados da Malásia, o mundo não precisou mais do
produto amazônico, que, por ser mais caro, foi deixado de lado. O governo brasileiro
procurou manter apoio à produção da borracha, porém sua produção caiu drasticamente, e a
população da floresta se voltou para outros produtos extrativistas, como a castanha da
Amazônia e a extração da madeira. Nessa época, falece a mãe de Seo Hélio, Dona Rita de
Holanda Melo, o que provoca grande dor na família.
133 No dia 15 de Setembro de 1952, Hélio de Holanda Melo casa-se com Lucília Cuidado
da Costa, que passa a assinar Lucília da Costa Melo na comarca de Boca do Acre. O
matrimônio foi contraído perante o juiz 2º suplente em exercício, Eladio Daltro Pinto de Frota
e foram testemunhas João Elcias Cajazeira e Dona Maria da Costa Cajazeira. Sete anos mais
tarde, com cinco filhos e com a morte do pai, que deixou dívidas, foi obrigado vender o
seringal e partir para Rio Branco, no vizinho estado do Acre.
3.1 TRADIÇÕES ORAIS
Como foi visto no tópico anterior a colonização da Amazônia aconteceu capitaneada
por um exército de sertanejos que, fugindo da fome, migraram para a Amazônia em busca de
melhores condições de vida.
Neste tópico será feito uma análise da tradição herdada desse povo, carregada de
influência da civilização europeia, que como se sabe influenciou sobremaneira a região
nordeste do Brasil. Alguns estudiosos chegam a dividir o nordeste em dois, o nordeste do
litoral, onde se manifesta a riqueza econômica e o nordeste do sertão, onde prevalece a
precariedade. As levas que chegaram à Amazônia vieram principalmente do sertão
paupérrimo, carente de tudo e subjugado pela seca inclemente da década de 1870. Estes
migrantes trouxeram uma bagagem cultural baseada na oralidade, na cultura popular e numa
visão de mundo ruralista.
Esta oralidade se manifesta na literatura de cordel nordestina, onde o narrador se dirige
ao público guardando muitos traços medievalizantes. Bakhtin (1987), que estudou a
dicotomia entre cultura popular e oficial, aponta que, na cultura popular, o espaço de vivência
é a praça pública, criando uma forma alternativa de relacionamento humano, porque a
proximidade das pessoas favorece a mistura dos participantes. Nestes momentos a periferia
passa a ser o centro, e as diferenças sociais são abolidas, e toda espécie de gente compartilha
de uma liberdade de ação fora do comum. Porque naquele momento e espaço ninguém ali está
para ver e ser visto. Todos procuram uma maneira de estar no mundo, ou seja, cumprir sua
vivência. Dessa maneira, Bakhtin (1987) constata que a tradição popular do riso duplica o
lado sério da vida. Esta tradição, segundo o autor, remonta à antiguidade, sendo muito rica e
diversificada tanto na Grécia como em Roma; ela permanece viva em toda Idade Média com
134 todos os jargões, blasfêmias e grosserias da linguagem familiar. Nesse espaço todas as
deformações e deformidades são aceitas porque o aspecto universal de festa transforma tudo
que é elevado em baixo, tudo que é espiritual em corporal, tudo que é ideal em terreno e tudo
que é abstrato em material. A cultura popular cria um mundo paralelo, e isso aparece na
origem etimológica da palavra “paródia”, que duplica, através do deboche, a vida oficial. Esta
interpretação bakhtiniana julga o riso como fenômeno vital e total ao ser humano.
A tradição oral dos cantadores de cordel remonta aos cantadores ambulantes cegos da
Idade Média, que, além de cantar, recitavam orações fervorosas e atuavam em entremezes
cômicos. Com a ocupação portuguesa no Brasil, esta tradição arcaizante encontra terreno
fértil no nordeste. Este arcaísmo da cultura portuguesa é resultante da guerra contra os
mouros, “em que o cristianismo tem um papel forte e político, ao atuar como foco
arregimentador da resistência e luta pela identidade nacional” (VASSALO, 1993, p. 58). Toda
esta tradição oral chegou à Amazônia através dos migrantes nordestinos, e no momento que
estes se estabeleceram na Amazônia ocidental, principalmente na região dos rios Purus e
Acre, influenciaram sobremaneira a poética do artista Hélio Melo.
O deboche é uma característica intrínseca do cidadão Hélio Melo, que não poupava nem
autoridades de seus escárnios, sátiras, piadas e brincadeiras. Sua atitude em relação à
convivência social o transformava em um bufão, que, de forma pacífica e prazerosa,
arregimentava uma legião de amigos por onde passava. Quem teve a honra de conviver com
Seo Hélio, sempre tem uma história para contar a respeito de sua verve satírica. Como não
poderia deixar de ser, esta característica está presente de maneira contundente em sua obra,
seja ela visual, musical, literária e teatral. Zombava de todo mundo. Na época em que o exgovernador Jorge Viana (PT) era prefeito (1990-1994), Seo Hélio foi incumbido de fazer os
bonecos de fibra de vidro do Caboclinho da Mata, do Matinta Pereira e, quando o prefeito foi
cobrá-lo pela inauguração do Parque Chico Mendes, ele sai-se com uma história de que os
bichos ganhavam a mata quando anoitecia e dava um trabalho danado juntá-los noutro dia
(NEVES, 2009). Em outra ocasião brincava com uma recatada senhora que trabalhava na
Prefeitura Municipal de Rio Branco, que a tinha visto correndo pelada pela praia do bairro da
Base.
135 3.1.1 Relatos Satíricos
A circulação de pessoas na Idade Média acontecia nas peregrinações, romarias e,
principalmente, nas feiras sazonais de comércio, que favoreciam a apresentação de
espetáculos populares - inclusive por meio de jograis, que tiveram grande importância na
divulgação de notícias e informação cultural. Antes de sofrerem uma decadência e terem seu
prestígio abalado e associado aos marginais da sociedade, os jograis foram mediadores entre a
cultura escrita e a massa de analfabetos. Como viajantes, foram importantes na divulgação de
temas de culturas variadas, criando um repertório diversificado, tratando de temas
internacionais e locais. Também apresentavam histórias tradicionais e adaptações de textos
clássicos.
A ausência de direito autoral fomentava as paródias, que prosperavam tanto em latim
como em vernáculo e outras fusões linguísticas. Como duplicações cômicas, elas não
poupavam nenhum gênero literário. Transformava canções de gesta, ou seja, as canções que
homenageavam os feitos dos guerreiros medievais e romances de cavalaria em estripulias
cômicas. Obscenidades invadiram as cantigas líricas, assim como o profano contaminava os
mistérios, que experimenta as diabruras, as sotias24 e os sermões burlescos. “Isto mostra que
nada fica imune à soberania da paródia e do carnaval” (Vassalo, 1993).
Esta tradição satírica atravessou o Atlântico e se firmou na América portuguesa, em
especial no nordeste brasileiro, com a Literatura de Cordel. “Os folhetos, presos a cordéis, são
vendidos a baixo preço na rua, ao público popular, que tinha seus escritores próprios”
(VASSALO, 1993, p. 55), que publicavam textos variados, desde notícias, fatos históricos,
contos populares, etc.
À região amazônica, chegou através dos migrantes nordestinos, dos mascates
portugueses e comerciantes de origem árabes, de maneira que influenciou a escrita de Hélio
Melo, que preserva uma oralidade, dirigindo-se diretamente ao leitor. Em seus escritos Hélio
Melo traduz a alma coletiva, e na autoridade de um porta-voz de uma experiência coletiva a
ser transmitida, obteve grande receptividade de seu público. Não é à toa, que o formato de
seus livros lembra os folhetos de cordel. Embora o artista não utilize rimas, a sua produção
24
Antiga peça do teatro medieval francês em que os comediantes representavam personagens de um mundo de
doidos, com alusão a personagens e fatos da vida rel.
136 literária privilegia a narrativa em tom coloquial, o que revela sua ligação com esta tradição
oral, que remonta aos trovadores medievais.
Na “História de Arapixi”, a personagem Dona Raimunda é uma viúva que vence a
ganância de um valentão, que para escapar ileso teve que se disfarçar de mulher. Bacurau,
depois deste incidente, recebe a qualificação de covarde, porém não desiste de tomar as terras
de Dona Raimunda, que resiste bravamente até ás incursões de marinheiros. O Capitão da
Corveta ficou admirado com a coragem de dona Raimunda e procurou apaziguar a situação,
não efetuando a prisão da mesma. Quando achava que poderia trabalhar sossegada no
seringal, pouco tempo depois chegou uma dívida, contraída por seu falecido marido, que a
obrigou a leiloar suas terras. Arapixi, segundo Seo Hélio, significa amargura na língua
indígenas do índio apurinã do Purus em Boca do Acre (AM). O artista declara ter recebido o
depoimento de um ex-seringueiro e jura que o fato aconteceu realmente.
Esta história, que apresenta conotações satíricas e forte oralidade, pertence à tradição
popular, na medida em que o texto traz marcas verbais e estruturais características da
literatura popular: “Falam que o fogo rompeu às cinco da manhã e terminou ás seis da tarde”
(MELO, 2000, p. 51). Este exagero de linguagem tão característico da literatura de cordel
aproxima o horário do tiroteio da faina diária do seringueiro, que normalmente saí às cinco da
manhã para trabalhar e encerra sua jornada às seis da tarde, horário de oração e refeição. Em
outro trecho da história em que o personagem Bacurau é desmoralizado como covarde,
porque, além de se travestir de mulher, abandonou o próprio filho “de nome Bacurauzinho,
que estava purgado de jalapa e, no tiroteio, foi morto pelo adversário” (p. 51-52).
Desta feita, o narrador toma as dores de Dona Raimunda, por ser a mais fraca e não ter
dinheiro para reclamar na justiça. Esta valorização dos deserdados é uma característica
fortemente presente na literatura popular e, quase sempre, o valentão usurpador demonstra sua
verdadeira personalidade de medroso, covarde e mau caráter enquanto que o desafortunado
demonstra sua valentia, inteligência e honestidade. A personagem Dona Raimunda, por não
ter acesso à justiça dos homens, que é onerosa, resolve defender suas terras com os filhos e
alguns seringueiros.
Nesse estilo narrativo sempre aparece um mocinho ou uma autoridade para fazer
justiça. No caso da “História de Arapixi”, o herói e mediador da beligerância é o Capitão de
Corveta, que, vindo para prender Dona Raimunda, percebe que ela está com a razão e muda
137 de ideia. Mas como toda boa história tem de ter romance, esta mudança de atitude é
provocada por uma linda donzela que viaja a bordo da corveta e conquista o coração do
Capitão. E como nas belas histórias de cavalaria, o soldado tocado pela paixão percebe que
justa é a causa de Dona Raimunda e não a ganância de Bacurau. Mas, na história de Hélio
Melo, não existe um final feliz, porque o seringal tem que ser leiloado para pagar uma dívida
junto ao banco, contraída pelo falecido marido de Dona Raimunda – demonstrando, assim, o
seu senso de honestidade e justiça. O quanto esta história tem de real é impossível descobrir,
pois a tradição da oralidade é de cada vez que contar a história, ir acrescentando fatos e
episódios. Uma coisa é certa: ao ouvir a história, Seo Hélio, baseado no seu conhecimento de
contador de causos, deve ter aprimorado a narrativa para dar a ela este tom satírico e
medievalizante.
Assim como o homem medieval primava pelo senso de justiça e da coragem, o
sertanejo e o seringueiro também dão muito valor a estas qualidades. Em vários causos
contados por Seo Hélio, o que prevalece são estes sentimentos. Na história de Teodoro, que,
por ser muito peralta na infância, recebeu a alcunha de Macaco, sendo sua família conhecida
como Família dos Macacos, porque seus irmãos também demonstravam igual agitação, o
sentimento de valentia e honestidade são os principais atributos. Seo Hélio conta que Teodoro
era benquisto por todos, por ser um excelente seringueiro. Depois que ele deixou de cortar
seringa foi trabalhar num navio. Numa viagem, um garoto de apenas dois anos caiu nas águas
do Rio Amazonas e Teodoro, sem hesitar, pulou na água para salvar o garoto. Este ato heróico
foi aplaudido por toda tripulação, e o pai do garoto, uma alta autoridade quis recompensar o
destemido empregado, porém Teodoro recusou uma enorme quantia em dinheiro, dizendo ter
feito somente sua obrigação. Tanto o pai do garoto como o comandante ficaram surpresos
com a atitude de Teodoro. Porém este recebeu uma carta branca de recomendação para ser
utilizada numa eventual necessidade. Seo Hélio informa que Teodoro passou a viver em
Manaus e que, até onde se conhecia, viveu muito bem.
Este mesmo Teodoro anteriormente havia trabalhado como seringueiro e de acordo
com as palavras de Seo Hélio conseguia uma boa produção de borracha. Era tido como um
homem destemido e admirado por todos por sua coragem, tanto de enfrentar a lida como para
encarar os perigos da floresta. No entanto sua valentia acabou quando teve que encarar o
Mapinguari. Ficou muito retraído e acabou abandonando a floresta e resolveu viver na água
para evitar um novo encontro com a terrível fera.
138 3.2
O SERINGUEIRO E O CITADINO
Seo Hélio chegou à cidade de Rio Branco em 1959. Inicialmente foi morar nos fundos
da casa de sua irmã no Bairro da Base; depois, em 1965, consegue, com o dinheiro da venda
do seringal, comprar uma casa no Bairro do Bosque. Mas o ponto estratégico do Bairro da
Base o convence a voltar ao bairro em1980 e adquirir uma casa na rua Xapuri, onde morou
até sua morte, em 2001.
A ocupação da área onde hoje está localizado o Bairro da Base começou cinquenta
anos antes da chegada de Seo Hélio a Rio Branco. Na gestão do Prefeito Cel. Gabino Besouro
(1909 - ? ), a Administração Departamental do Alto Acre executou anexação, para fins de
utilidade pública, das terras do Seringal Empresa. localizado à margem esquerda do Rio
Acre. Com a abertura da Rua Epaminondas Jácome , em 1909, aconteceu facilitação de acesso
às terras próxima da curvatura do rio. Esta faixa de terra foi ocupada de acordo com a
abertura de novas ruas, como Benjamin Constant, Marechal Deodoro e Getúlio Vargas. Na
administração Hugo Carneiro, o Programa de Construção de Prédios (1927-1930) executou a
construção do Mercado Municipal de Rio Branco na margem esquerda do Rio Acre,
favorecendo o povoamento da região. A ocupação do bairro se deu de modo desordenado por
pessoas de baixo poder aquisitivo e a região de planície aluvial apresentava problemas de
alagamento desde sua origem.
O bairro recebeu este nome por abrigar a autoridade fluvial da Marinha. A estrutura da
localidade é ordenada através da rua principal, designada “Estado do Acre”, que começa
paralelo com o Rio Acre, próximo ao centro comercial da cidade e, após aproximadamente
cinco quadras irregulares, alcança a curva do Rio Acre. Seu arruamento atendeu às
necessidade das pessoas de terem acesso ao rio, que o utilizavam para lavar roupa, como via
fluvial de transporte, lazer e fonte de alimentação e renda. O bairro ocupa o quadrilátero à
margem esquerda do Rio Acre e se estende até o Bairro do Papoco, em sentido contrário à
corrente do rio. Na parte de baixo, as suas principais travessas têm os nomes das cidades no
tempo em que o estado contava com sete municípios: Rio Branco, Xapuri, Sena Madureira,
Cruzeiro do Sul, Brasileira, Feijó e Tarauacá. Grande parte de seus moradores foram oriundos
dos seringais e, na época em que Seo Hélio chegou, ainda mantinham alguma ligação com a
floresta, seja porque cultivavam os hábitos de caçar e pescar, seja porque gostam de visitar
parentes nas colocações e colônias de assentamento. Seo Hélio conhecia todos do bairro e era
139 Figura 63
Várias imagens do Rio Acre aparecendo ao fundo a recém promovida
cidade de Rio Branco na década de 1960. Fotografias tiradas no 2º distrito
próximo da curvatura do Rio Acre (Gameleira) e da margem oposta no
Bairro da Base. Fonte: Arquivo Histórico do IBGE.
muito estimado por seu espírito brincalhão, por suas anedotas, causos misteriosos contados
nas calçadas das casas sobre a vida na floresta e a vivência dos tempos dos seringais. Outra
atração era sua apresentação musical sempre acompanhado de seu inseparável violino
dissonante, que ele tocava como se fosse uma rabeca.
Na parte de cima do bairro, a população foi formada, em sua maior parte, por
funcionários públicos da Prefeitura e do Estado, e o arruamento foi composto por uma rua
principal, que começa na Rua Floriano Peixoto e é continuação da Rua Epaminondas Jacome,
estendendo-se até a beira do Rio Acre, próximo de sua segunda curvatura inversa do rio em
140 frente ao Bairro do Papoco, antiga zona do meretrício da cidade. À margem oposta do rio
encontra-se o Bairro da Cidade Nova, aglomeração populacional habitada por ex-seringueiros
e em que, por estar sujeito a alagamentos regulares, a maioria das casas reproduz a construção
dos seringais com taperas altas, estilo palafita. Desta rua principal nasceu uma dezena de
travessas perpendiculares e algumas sinuosas que demonstram o aspecto desordenado da
ocupação do bairro. Com sucessivas enchentes, muitos moradores abandonaram o espaço, o
que resultou numa ocupação ilegal de lotes pertencentes à Marinha e na deterioração da
qualidade de vida de seus moradores. Nessa área, o rio provoca erosões, resultando em
desmoronamento de terras e destruição de ruas próximas ao leito do rio. Isto contribuiu para a
deterioração urbana e incidência de altos índices de violência relacionada ao tráfico de drogas.
Mesmo ciente de todos estes problemas do bairro, Seo Hélio preferiu permanecer morando na
região por ligação afetiva aos amigos e familiares. Depois de sua morte, em 2001, a situação
do bairro se agravou mais ainda e até o ano de 2009 não foi apresentado nenhum projeto de
revitalização da área por autoridades do município.
Figura 64
Hélio Melo com sua bolsa de barbeiro ambulante caminhando na Rua Estado do Acre numa das inumeráveis enchentes do
Bairro da Base. 1970 c. a, arquivo pessoal de Fátima Melo.
Em 1978, o bairro ganhou um bloco carnavalesco da Base (SAMBASE), fundado por
José Raimundo da Silva Moraes (1959), funcionário do extinto Banco do Estado do Acre
141 (BANACRE), auxiliado por quatro diretores – Tinel, Medeiros, Emerson e Jorge. Dez anos
depois, o SAMBASE faz uma grande homenagem ao artista Hélio Melo, um antigo morador
do bairro.
A bateria, em 1988, contava com mais ou menos 50 integrantes e ensaiava no final da
ladeira da Base, no final da Rua Floriano Peixoto. O bloco sempre contou com o apoio de
grande parte dos moradores do bairro a exemplo das famílias Medeiros, Sales Bento e
Moraes. O bloco se originou dos pagodes na praia, regados a cerveja e organizados por:
Medeiros, Germano, Nélson, Jorge e Moraes. No início, a folia se restringia às ruas do bairro.
Somente em 1985 conseguiu desfilar oficialmente, ocasião em que conseguiu o vicecampeonato. A homenagem ao artista Hélio Melo trouxe 150 figurantes carregando telas,
pincéis e tintas para caracterizar o artista que mora na Base, praticamente desde que chegou a
Rio Branco. Seo Hélio, como é conhecido por todos, aceitou o convite de desfilar como
destaque usando uma alegoria cheia de telas, paletas e ouros objetos e materiais que fazem
parte da sua vida. O samba enredo SAMBASE “Folia de um Artista” é de autoria de Marcus
Connel, sobrinho do artista e puxador do bloco carnavalesco, e Guto. A ideia não é contar a
historia do Seo Hélio desde sua saída do seringal até morar na cidade, mas mostrar a alegria e
a cor, a animação do artista. As cores do grupo são vermelho, branco e preto (O RIO
BRANCO, 1988).
3.2.1 A cidade de Rio Branco
A origem da cidade de Rio Branco liga-se á expedição do seringalista Neutel Maia em
1882. Subindo o Rio Acre com seus trabalhadores, Neutel Maia ocupou o território dos índios
Apurinãs e no dia 28 de Dezembro atracou seu barco aos pés de uma enorme gameleira, onde
na margem direita do rio Acre implantou o Seringal Volta da Empreza, que recebeu este nome
devido á curvatura do rio neste local. Neutel Maia trouxe sua família para morar no seringal, e
para alguns historiadores, este foi o embrião para surgimento da cidade de Rio Branco.
Em 1904, houve a divisão das terras do Território do Acre em três departamentos, a
saber: Alto Juruá, Alto Purus e Alto Acre. O povoamento do Empresa foi elevado à categoria
de Vila e instalada a prefeitura do Alto Acre. Em setembro do mesmo ano, a vila foi elevada á
categoria de cidade, mantendo o mesmo nome. Em 1909, recebe a denominação de Penápolis
em homenagem ao então Presidente Afonso Pena, até que, finalmente, em 1912, em
142 reconhecimento à figura do diplomata Barão de Rio Branco, que teve um papel fundamental
na viabilização do Tratado de Petrópolis, recebe a designação de Rio Branco.
Na época em que Seo Hélio chegou a Rio Branco, existia uma expectativa de que a
cidade se modernizasse e foi nessa época que o Governador-nomeado do então território do
Acre, Guiomard Santos, criou uma moderna cerâmica, a Rádio Difusora Acreana, que se
autodenominou, “A voz das Selvas”, criou a imprensa oficial, construiu o Aeroporto Salgado
Filho, criou o Serviço Aéreo do Governo do Acre (SAGA) com dois aviões, com o intuito de
integrar a capital aos municípios mais remotos do território. E deu início à pavimentação das
ruas da cidade, utilizando tijolo para o calçamento, uma vez que, no Acre, não existem pedras
para este fim. Todas estas obras de infra-estrutura deram oportunidade de emprego aos
moradores da periferia, que tinham sua origem, em sua maioria, em seringais falidos.
Para sustentar sua família, Seo Hélio procurou ajuda de conhecidos e conseguiu uma
vaga temporária de catraieiro no departamento de transporte fluvial, ligado à autoridade da
Marinha. No vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do Antimari”, ele revela que
remou dois anos sem os documentos com a permissão do agente da Marinha, que se
compadeceu de sua situação. Seo Hélio trabalhou onze anos transportando pessoas de um lado
ao outro do Rio Acre. Nesse período organizou um Jornal de Bordo, com a tiragem de um
único exemplar, que ele ilustrava e escrevia manualmente, contendo, na maioria das vezes,
três páginas, nas quais divulgava as principais notícias sobre o recém-criado Estado do Acre.
O exemplar era lido pelos passageiros da catraia toda terça-feira e era passado de mão em
mão e, para muitos, era o principal meio de informação ao qual tinham acesso. Seo Hélio
transformava fatos interessantes em desenhos que vinham acompanhados de pequeno texto.
Este formato possibilitava uma leitura rápida e aqueles que não sabiam ler aproveitavam os
desenhos para se informarem sobre determinado assunto. Os desenhos tinham uma
característica de charge, e muitos mantiveram esta característica– uma crônica do cotidiano
em forma de desenho. O jornal teve 30 edições e foi uma experiência que seu Hélio
classificou de divertida:
Nas horas de folga desenhava algumas histórias dos companheiros de
profissão, enfocando fatos pitorescos, como por exemplo a do homem que
atravessava seu cavalo nas embarcações e somente queria pagar uma
passagem, ou da mulher bonita que por o catraieiro lhe dirigir algumas
pilhérias negava-se a pagar a passagem ou mesmo ‘alguma briguinha que
surgia entre os catraieiros’ (MARCÍLIO, 1985).
143 Seo Hélio testemunhou, na cidade de Rio Branco, mudanças políticas progressistas que
culminaram com a eleição do primeiro governador institucional do Estado do Acre. Em
outubro de 1962, foi realizada a primeira eleição para Governador do Estado do Acre. Na
época, existia um núcleo bem atuante no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), denominado de
“esquerda”, composto por intelectuais e estudantes, que fazia oposição interna ao controle que
o General Passos exercia no partido. Este núcleo conseguiu indicar o jovem político do PTB,
José Augusto de Araújo, então com 37 anos, numa aliança com a UDN (União Democrática
Nacional) como candidato a governador e que acabou vencendo Guiomard dos Santos, o
velho cacique do Partido Social Democrático (PSD). Como governador, José Augusto de
Araújo apoiou o trabalho da Liga Camponesa de Rio Branco, cujos militantes, em sua
maioria, eram também filiados ao PTB. A ação modernizadora idealizada pelo governador
José Augusto de Araújo projetou a construção de três pontes para integrar o primeiro distrito e
o segundo distrito e escoar a produção dos pequenos agricultores. Na área da educação, o
governo de “esquerda” de José Augusto implantava o método Paulo Freire nas escolas rurais
do Estado do Acre.
No setor agro-pecuário, implantou armazéns-silos para garantir a
estocagem da produção agrícola. Estas unidades armazenadoras eram constituídas de câmera
de expurgo e capacidade para mil toneladas. Desapropriou a Fazenda Araripe e começou a
transformá-la em Fazenda-Modelo; também desapropriou alguns seringais e deu início à
doação de terras aos seringueiros e homens do campo; criou a Escola de Iniciação Agrícola;
comprou vários tratores trapers e outros implementos agrícolas com o objetivo de melhorar a
situação do homem do campo. Porém estas iniciativas foram abortadas com o golpe militar de
1964, que derrubou o presidente João Goulart e que forçou a renúncia do governador José
Augusto de Araújo.
A ponte Juscelino Kubitscheck, mais conhecida como ponte metálica, foi
encomendada para a Companhia Siderúrgica Nacional em 1957, mas foi no Governo de José
Augusto de Araújo (1962-1964) que foi negociada junto ao Ministério dos Transportes. A
ponte foi trazida de balsa até Boca do Acre (AM) e ficou encalhada no Rio Acre, e com a
interrupção repentina do Governo José Augusto em decorrência do golpe militar de 1964,
parte da estrutura pré-moldada que conseguiu chegar em Rio Branco ficou abandonada nos
barrancos do Rio Acre. Em 1971, com a inauguração da ponte metálica Juscelino Kubitschek,
o governador Jorge Kalume prometeu uma compensação aos catraieiros. Esta compensação
poderia ser em forma de aposentadoria para os mais velhos ou em forma de realocação de
função em algum órgão estadual. Nenhuma das alternativas foi adotada pelo governador. Os
144 catraieiros ficaram desempregados e, no vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do
Antimari”, Seo Hélio conta que, no dia da inauguração da ponte, os remadores foram
convocados para assistir à solenidade e receberam a recomendação de levar cada um a sua pá
de remo. Ficaram sob o efeito do sol escaldante e, quando a solenidade terminou, o
governador deixou os remadores esperando e não atendeu a seus pedidos. Devido a esta
situação, os remadores prometeram não votar nos partidários do governo e muitos sofreram
retaliação. Mas Seo Hélio não desanimou e passou a cortar cabelo em domicílio. Comprou um
kit de corte manual e passou a trabalhar como barbeiro ambulante, atendendo principalmente
aos moradores do Bairro da Base, ex-catraeiros, ex-seringueros e toda espécie de gente que
ele encontrasse pela frente. Saía com sua bolsa debaixo do braço e só voltava quando
adquirisse o suficiente para comprar alimentação para si e sua família.
Com a ajuda de um amigo conseguiu, em 1975. a vaga de vigia noturno na Companhia
Industrial de Desenvolvimento do Acre (CODISACRE). Nesta nova função, passou a
alimentar a ideia de aproveitar as noites de vigília para treinar seus desenhos, que nunca
abandonara - apesar de empenhado na subsistência da família, sempre lhe sobrava um
tempinho para desenhar. No bairro em que morava era solicitado por alguns estudantes para
ilustrar trabalhos escolares, o que ele fazia de bom grado. No emprego da repartição pública,
passava a noite rabiscando papéis, fazendo desenhos de memória da vida dos seringais.
Desenhava a fauna, a flora, a atividade laboriosa do seringueiro. Nesta fase trabalhava
somente com nanquim e seus desenhos não eram coloridos. O chefe da seção reclamava que
Seo Hélio passava a noite ocupado com seus desenhos em vez de vigiar a empresa, ao que Seo
Hélio respondia muito humorado dizendo ser uma tarefa muito cansativa descer a Bandeira
Acreana à tardinha e hasteá-la logo cedo. O certo que não havia jeito de demover da cabeça
de Seo Hélio da necessidade de aprimorar sua técnica. Num certo dia, ao ouvir uma notícia na
emissora da Rádio Difusora Acreana de que o Departamento de Cultura iria promover um
curso de pintura, percebeu que aquela poderia ser sua chance de aprimorar e difundir seu
trabalho.
Na época Seo Hélio estava fazendo o supletivo do 1º grau e não tinha
reconhecimento como artista:
Eu desenhava, pintava e ninguém queria pagar bem pelo meu trabalho, aí
então eu dava de presente para meus compadres. Não tenho muita segurança
nos meus trabalhos, por isso sempre pensei em fazer um curso. Achava
sempre que estava faltando alguma coisa e precisava de técnica. Tinha a
ideia, mas não conseguia expressar através de meus quadros com perfeição.
(O JORNAL, 1978, p.17)
145 Figura 65 Hélio Melo tocando violino acompanhado por seus parceiros Grupo Sempre Serve.
Figura 66
Apresentação de Hélio Melo em visita a terra natal, região do Antimari no Amazonas, 199. Foto de Danilo de
S’Acre.
146 3.3 A BUSCA DE RECONHECIMENTO COMO ARTISTA
No vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do Antimari”, Seo Hélio conta
que, de início, Genésio Fernandes, artista plástico pernambucano, responsável por ministrar o
curso de pintura e desenho, achou que Seo Hélio estava copiando as imagens de algum livro.
Seo Hélio disse-lhe que os desenhos eram da autoria dele mesmo e Genésio Fernandes ficou
muito admirado da qualidade do trabalho. Apesar do elogio recebido pelo professor, Seo
Hélio não quis continuar o curso porque não se identificou com a técnica de desenho
ministrada.
No entanto foi convidado a participar da exposição coletiva (1978) que reuniu
trabalhos de diversos funcionários públicos. Esta primeira participação do artista em espaço
expositivo de artes visuais teve o patrocínio do Departamento de Atividades Culturais (DAC,)
que, na época, era dirigido por Francisco Gregório da Silva Filho. O trabalho de Seo Hélio
ficou em primeiro lugar, o que motivou a imprensa a fotografá-lo ao lado do Governador
Geraldo Mesquita (1975-1979). Deste encontro com o Governador resultou o convite para que
seus doze desenhos fossem enviados para Brasília, com o objetivo de integrar o pavilhão do
Acre na Feira dos Estados, em 1979, sob o patrocínio da Fundação Cultural de Brasília, que
reuniu cerca de 50 obras de artistas acreanos, entre os quais artistas consagrados, como
Garibaldi Brasil, Hélio Cardoni, Genésio Fernandes, Carlos Mejido e Raul Velasquez. Com
esta primeira exposição fora do Estado do Acre, suas doze obras foram rapidamente vendidas,
abrindo caminho para futuras exposições em outros estados:
Senti-me muito feliz. O governador, após ter olhado o meu trabalho, disseme que haveria a Primeira Feira de Exposição dos Estados em Brasília.
Aceitei o convite, em 1978, e foi minha primeira oportunidade de sair em
busca de um reconhecimento, e mais uma vez respeitado, pelo pintor
pernambucano Genésio Fernandes e por Francisco Gregório Filho (da
Fundação Cultural do Acre). Grande parte do incentivo que recebi desde o
início de minha carreira, devo a eles. ( AMAZÕNIA NOSSA, Nº 24 Ano IV,
p.25)
Os doze trabalhos selecionados para a exposição coletiva em Brasília foram o estímulo
inicial para Seo Hélio aprimorar a sua técnica e dedicar-se profissionalmente às artes visuais.
O tema de seus desenhos, desde o início, mostra sempre o universo amazônico; através da
147 retratação de tipos humildes como o seringueiro, do lugar, sendo a floresta preferencialmente
mostrada e os afazeres e feitos do povo da floresta. (FOLHA DO ACRE, 1986) A inspiração
para executar sua obra parte de sua vivência de seringueiro e como sempre afirmou, jamais
mudou seu modo de produzir arte. A técnica que utilizava, uma mistura de óleo comestível
com resinas de folhas silvestres, tanto como seu traço chamaram a atenção de todos, assim
como a simplicidade de seus temas fez com que “sua obra merecesse destaque nos jornais e
nas rodas da intelectualidade acreana que vivia às tontas em busca de um estilo verdadeiro
autêntico após
o ‘bombardeio’ desencadeado pela Pop Art naquela década.” (O RIO
BRANCO, 1986, p.5)
Figura 67 Hélio Melo em exposição do SESC-AC., sem data, arquivo pessoal de Maria de Fátima Melo.
148 Figura 68 Hélio Melo trabalhando em seu atelier. 1997. Foto: Danilo de S’Acre.
Figura 69
Hélio Melo desenhando em seu atelier nos fundos de sua casa,
1997. Foto: Danilo de S’Acre.
Figura 70
Hélio Melo preparando o extrato de folhas, 1997. Foto: Danilo de
S’Acre.
149 3.3.1 Sesc
Em 1980 foi contratado pelo Serviço Social do Comercio (SESC) de Rio Branco para
pintar e desenvolver pesquisa na área musical e literária. Nesse espaço, contou com o apoio de
Pedro Vicente da Costa Sobrinho e do poeta e sociólogo pernambucano Alberto Cunha Melo.
Deste modo, Seo Hélio passou a narrar histórias contadas por índios da floresta e por
seringueiros. O material resultante desta pesquisa foi aproveitado pela Fundação Cultural do
Acre transformando-o na cartilha “Do seringueiro para o seringueiro”, editada em quatro
volumes: “A Experiência do Caçador e os Mistérios da Caça” (1984), “História da Amazônia”
(1986), “Os Mistérios da Mata” e os “Os Mistérios dos Répteis e dos Peixes”.
Foi no SESC Rio Branco que amadureceu seu repertório musical, literário e visual. No
espaço do Teatro de Arena do SESC da cidade de Rio Branco congregou as três linguagens
em espetáculo multidisciplinar. Assim, criou um estilo de espetáculo que se aproxima das
apresentações de praça pública, onde acontece um diálogo direto com a plateia, sendo
permitida inclusive a intervenção desta. No dia 15 de setembro de 1983, apresentou um show
completo com essas características. Nessa noite de terça-feira, aqueles poucos que
compareceram ao Teatro de Arena do SESC puderam apreciar a vitalidade do multiartista
Hélio Melo; Seo Hélio tocou, cantou, narrou histórias do seringal e, através de quadros de sua
autoria. foi mostrando como é a vida e o trabalho no interior do Acre (FOLHA DO ACRE,
1983). O espetáculo divertiu a plateia, revelando a capacidade humoristica do artista. Na
ocasião, o espetáculo fluiu tão natural e informalmente, que o público se sentiu à vontade para
interferir em seu andamento, sugerindo, pedindo e também contando histórias (FOLHA DO
ACRE, 1983). A estrutura do espetáculo contou com a participação do grupo “Sempre Serve,”
composto pelo próprio Hélio (Violino), Antônio ( pandeiro), Raimundo (violão) e Sebastião
(cavaquinho) e muito contribuíram para animar o ambiente e encaixaram-se perfeitamente no
conceito do espetáculo. Para fazer contraponto à cultura do seringal, o artista Major atuou de
forma a trazer à tona o ponto de vista da cultura urbana, o que muito contribuiu para a
contemporaneidade do espetáculo. Este permanente diálogo de Hélio Melo entre a cultura
tradicional seringueira e a cultura urbana rende às suas produções artísticas um grau de
sofisticação conceitual que não é comum em artistas considerados populares. A direção e
coordenação do trabalho ficou a cargo de Marinete e Maria José.
150 Sete anos depois de estrear com artista plástico na exposição coletiva do DAC (1978),
Hélio Melo com uma carreira de até então 15 individuais e 16 coletivas nas principais
capitais brasileiras e com repertório consolidado, apresenta no dia 23 de Março de 1985, a
exposição denominada “Natureza”, no SESC de Rio Branco. São vinte obras: desenhos em
nanquim com sumos de folhas sobre papel-cartão. E, como sempre, a programação contou
com a multifuncionalidade do artista; houve apresentação musical denominada “Do
seringueiro para o seringueiro” e, para finalizar o evento, o Forró no seringal animado pelo
grupo “Sempre Serve.” O diferencial desta exposição foi a recorrência temática em que o
artista dá sequência a um mesmo tema: “De uns tempos para cá, o artista começou a dar uma
sequência em suas obras, o que vem fazendo até esgotar o assunto. Daí começa outra
sequência.” (FOLHA DO ACRE, 1985, p.6) Esta forma de trabalho decorreu, inicialmente ,
de o artista sentir que seus trabalhos não recebiam o valor merecido:
Já vendi muitos quadros baratos, por preço de ocasião, devido a dificuldades
que atravesso, por isso mesmo eu pinto, em muitas o mesmo tema em mais
de um quadro. Faço isso porque acho que a obra não foi vendida pelo devido
valor, e uma obra tem que compensar. (Marcílio, 1985, s.n/p.)
Ao explorar plásticamente o mesmo tema, foi descobrindo possibilidades de diferentes
maneiras de o desenho ocupar o espaço da cartolina ou da tela. Dessa época é a sequência de
desenhos em que é mostrado o cavalo em cima da árvore e o homem no chão. A partir do
primeiro modelo, executou vários desenhos em que modifica a posição do cavalo na árvore,
sendo que, em alguns, o cavalo ocupa um galho da árvore no lado esquerdo de quem olha; em
outros ocupa o lado direito. Varia também a posição do cavalo, que ora aparece em pé em
cima do galho, ora, em outros momentos, deitado sobre o galho. A posição do homem rente
ao chão também se modifica. Em alguns desenhos, ele está de costas para o cavalo e ocupa o
lado direito de quem olha a obra. Em outra sequência o homem está de frente para o cavalo,
mas sentado num tronco de árvore e ocupa o lado esquerdo do desenho. Em outros desenhos
da mesma sequência há uma escada enorme por meio da qual, presumivelmente, poderia
alcançar o galho. Neste caso também a escada muda de posição em relação à árvore e ao
cavalo, variando o lado, às vezes ocupando o lado direito da obra, outras, o esquerdo.
A paisagem também muda. Num dado momento, a paisagem é de uma floresta
fechada, em outro, uma clareira ou ainda mostrando a devastação da mata. Então percebe-se
uma variedade de pesquisa espacial em que o desenho ganha nova significação. Para explicar
o significado destes desenhos, Seo Hélio argumentou que sempre haverá alguém despreparado
151 ocupando algum cargo e dificultando o trabalho do artista. Salientou que não foi só no tempo
dos coronéis que cavalos ocupavam função superior à do homem, mesmo na cidade ele se viu
em situação em que o cavalo está em cima de uma árvore e não se sabe como conseguiu
chegar até ali. Utilizou-se fartamente desta metáfora para criticar o apadrinhamento político
nos órgãos culturais da cidade de Rio Branco.
No ano seguinte, a Delegacia Regional do SESC organizou uma grande festa para
comemorar os oito anos de atuação artística de Hélio Melo. Além da exposição intitulada
“Cenas Amazônicas”(1986), com 18 desenhos, sendo os principais títulos: “O Caçador”, “O
Comboio de Borrachas”, “O serrador”, “O seringueiro passando pela ponte”, “Nossa
Floresta”, “O Fim da Tarde” “A Mantra do Burro”, “O Seringueiro”,
“Suplício do
Seringueiro”, “A Árvore Morta”, “A Quebra Castanha”, ‘A Defumação do Látex”, “Tempos
de Coronéis”, “Caminho Sem Destino” e “Barracão Abandonado”. (GAZETA DO ACRE,
1986, p.7) A festa também contou com o lançamento do livro “História da Amazônia – De
seringueiro para seringueiro” (Gráfica do Senado da República, Brasília, 1986) e com a
apresentação do Grupo ‘Sempre Serve”, que acompanha o artista em algumas de suas mais
recentes composições musicais.
Dez anos depois, a pesquisa literária do artista apresenta resultado substancioso baseado em depoimentos de seringueiros antigos, no conhecimento da própria vivência da
floresta e em pesquisa em livros são lançadas mais duas publicações no dia 20 de janeiro de
1996. Os lançamentos dos livros “A experiência do Caçador, os Mistérios da Caça” e “Os
Mistérios dos Pássaros” integraram a programação da exposição “Cenas Amazônicas”(1996)
em comemoração aos 19 anos do SESC no Acre. Nesta fase o artista já conta em seu currículo
com 31 exposições individuais e 34 coletivas nas principais cidades do Brasil e com 10
exposições internacionais em países como França, Itália, Inglaterra e Estados Unidos da
América. A cidade de Rio Branco “é tão somente o ponto de partida de suas obras novas” (O
RIO BRANCO, 1996, p.6).
Nesta época ele não tem mais uma ligação profissional com o SESC, pois já possui um
atelier com o nome Casa Hélio Melo ao lado da Casa do Seringueiro cedido pela Prefeitura de
Rio Branco, onde tem uma exposição permanente e comerciliaza suas obras. Mesmo assim, o
espaço do SESC lhe é cedido gentilmente pelo Delegado Executivo do SESC João Fernandes
de Carvalho. Foi essa entidade que propiciou exposições itinerantes por todo o Brasil, onde o
artista pôde divulgar seu trabalho. Seo Hélio realizou doze exposições individuais na unidade
152 SESC de Rio Branco (1980 – Individual, 1982 – Individual, 1983 (2) – Individual, 1984 –
Individual, 1985 – Individual, 1986 – Individual, 1987 – Individual, 1994, 1996 (2) –
Itinerante e 1999).
3.3.1.1 Exposição Individual Sesc-Tijuca na Cidade do Rio De Janeiro
Esta exposição foi fundamental para o reconhecimento artístico de Hélio Melo. Sua
preparação começou em 1979 e levou um ano para se concretizar. Foi idealizada pelo então
Delegado Regional do SESC-AC professor Pedro Vicente da Costa Sobrinho (1979-1982),
que solicitou o empréstimo de Seo Hélio à Companhia de Desenvolvimento Industrial do
Acre (CODISACRE), onde o artista trabalhava como vigia desde 1975. Com a concretização
do acordo entre o SESC-AC e a CODISACRE, Seo Hélio passou a se dedicar integralmente à
produção de desenhos para a exposição.
Foram encomendados trinta e três desenhos pequenos para facilitar o transporte para a
cidade do Rio de Janeiro e deixar o preço mais acessível para venda, e logo ficou acertado
que, nessa exposição, o artista não estaria presente. De início, o artista procurou atender ao
pedido de Costa Sobrinho de forma muito rápida, deixando de caprichar no trabalho. Porém
foi aconselhado a não ter pressa na elaboração dos quadros porque a viagem do Delegado
Regional do SESC-AC ainda iria demorar e que a solicitação do espaço seria feita
pessoalmente ao Diretor do SESC-RJ Sr. Ubiritan, e que o espaço do SESC-Tijuca era muito
requisitado e que, em razão disso, a exigência era muito grande. Havia algumas dificuldades a
serem vencidas, como a falta de um currículo expositivo e o desconhecimento do artista pela
crítica. Até então, as exposições do artista haviam ocorrido na cidade de Rio Branco e na
Feira dos Estados em Brasília que reuniu artistas sem grande expressão nacional e sem
nenhum significado no circuito cultural do país.
Para Costa Sobrinho, o talento de Hélio Melo despontava entre os artistas locais e
como garantia ao Sr. Ubiritan foi dada apenas a sua palavra de que o artista Hélio Melo era
um grande artista que merecia ser conhecido pela crítica na cidade do Rio de Janeiro. Como a
grau de amizade entre Costa Sobrinho e Ubiratan permitia uma confiança sincera, o Diretor
do SESC-RJ concordou em agendar uma data na Galeria SESC-Tijuca. No entanto, como na
vida de Hélio Melo nada foi fácil, devido ao afastamento temporário do Sr. Ubiratan da
153 Direção do SESC-RJ, decorrente de complicações de saúde, o agendamento da exposição foi
postergado. E, para complicar mais a situação, o substituto do Sr. Ubiratan colocou o pedido
de utilização do espaço no protocolo, o que resultou em cinco meses na lista de espera de
vaga para exposição. O novo diretor, Sr. Horácio, apesar de ser membro da Academia de
Letras do Rio de Janeiro, escritor, poeta e romancista tinha um certo fascínio pela burocracia e
o pedido de Seo Hélio virou processo e
não andava de maneira alguma. Foi preciso
novamente a intervenção de Costa Sobrinho, que, mais uma vez, ligou ao Sr. Ubiratan para
que agilizasse o processo. A intervenção do Sr. Ubiratan foi fundamental para que a
exposição de Seo Hélio tivesse prioridade na escolha e, como a Galeria iria entrar em
reforma, não encontrou entraves burocráticos para suspender a agenda e entrar com a
exposição do artista-seringueiro Hélio Melo. Até aquele momento a primeira batalha fora
vencida, que foi justamente o agendamento da exposição num espaço expositivo conceituado.
Restava o desafio de vender as trinta obras e que o trabalho fosse visto por um grande número
de apreciadores de arte.
Para garantir a venda de alguns quadros, Pedro Vicente da Costa Sobrinho resolve
telefonar para amigos da cidade do Rio de Janeiro, solicitando que comprassem pelo menos
uma obra do artista, para, assim, garantir uma venda mínima e evitar um eventual fracasso, já
que havia dado sua palavra do talento do artista. Foi feito um catálago com apresentação
simples do artista mas a exposição não obteve sucesso. A dificuldade adveio de ser um artista
totalmente desconhecido do circuito da arte nacional e da própria localização do espaço
expositivo, dois fatores que não contribuíram para a visitação.
Mas a grande sorte do artista Hélio Melo foi que o SESC-Tijuca estava adquirindo
algumas esculturas do artista Sérgio Camargo (1930-1990), escultor muito conceituado no
meio das artes plásticas e, numa das visitas que o artista fez ao espaço para negociar com o Sr.
Ubiritan, deparou-se com a exposição do artista Hélio Melo e espantou-se com a qualidade
dos trabalhos. De imediato, quis saber de quem era o trabalho e o Sr. Ubiratan informou
tratar-se de um desenhista do Acre, indicado por um amigo que garantira a qualidade dos
trabalhos. Sergio Camargo se encantou com a luz que emana das obras e logo quis comprar
todos os desenhos da exposição. O Sr. Ubiratan foi informado de que algumas obras já
estavam vendidas antecipadamente pelo Pedro Vicente da Costa Sobrinho e por seus amigos,
mas que restavam dezesete desenhos, que foram prontamente adquiridos pelo famoso
escultor. O fascínio de Sergio Camargo foi tal que escreveu uma carta ao Pedro Vicente da
Costa Sobrinho pedindo que organizasse uma exposição de Hélio Melo, que ele iria solicitar
154 uma mostra na Galeria Sergio Miliet no centro da cidade do Rio de Janeiro e que
recomendaria aos críticos de artes a apreciação da exposição.
Além da exposição na Galeria SESC-Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, foram
realizadas mostras em unidades do SESC em outras cidades brasileiras: SESC Recife (1981
– individual); SESC Aracaju (1981 – Coletiva); SESC Brasília (1984 – Coletiva); em São
Paulo, com exposições no SESC do Carmo (1986) e SESC Campestre (1986); SESC Salvador
(1992 - Individual) e SESC Fortaleza (1992). Na área cultural, a importância do SESC se deu
pela percepção do papel da cultura como fonte, meio e processo efetivo de transformação dos
indivíduos e da sociedade. As atividades e ações culturais promovidas pelo SESC-Ac
promoveram o crescimento das artes na cidade, revelaram grandes artistas, dentre os quais o
maior expoente foi Hélio Melo. A agitação cultural da entidade fortaleceu o teatro, a música,
a dança e as artes visuais no panorama artístico acreano. Esta filosofia de trabalho continua
até hoje, e sua relação com a cultura se propõe a gerar conhecimentos que contribuam para a
solução dos graves problemas que comprometem o desenvolvimento do País.
3.3.2 Outros espaços expositivos no Brasil
Seo Hélio também se apresentou em outros espaços expositivos diferentes do SESC.
Na cidade de Rio Branco suas exposições aconteceram na Biblioteca Pública (DAC - 1978 –
coletiva), no Centro de Artesanato (1978 – coletiva), na Universidade Federal do Acre (UFAC
Centro) (1979 – coletiva; 1983 – coletiva; 1984 - individual e 1985), no espaço da Fundação
Cultural do Acre (1983 – Individual e 1984 – individual), Galeria Garibaldi Brasil (1993 –
individual), Parque Chico Mendes (1996), Colégio São José (1996), Colégio de Aplicação
(1999) e Teatro Plácido de Castro (1999).
Na Exposição Coletiva da Semana do Folclore (1984), realizada no Palácio da Cultura
(UFAC), o artista Hélio Melo expôs 6 quadros que não ficaram à venda devido aos
compromissos com outras exposições no Brasil e Exterior. Mas sua grande felicidade era
porque acabara de ganhar uma sala da Divisão de Artes nas dependências do Palácio da
Cultura bem no centro da cidade. No fundo de quintal da sua casa, onde funcionava seu atelier
estava muito apertado e o novo espaço bem no centro da cidade iria permitir que a pessoa que
o procurasse para adquirir seus desenhos o encontrasse com maior facilidade. Este espaço lhe
155 foi concedido em 1979 pelo Governador Geraldo Mesquita, que transferiu Seo Hélio do seu
emprego de vigia da CODISACRE para a Divisão de artes da Fundação Cultural. Com a
posse do novo Governador Joaquim Falcão de Macedo (1979-1983), o espaço lhe foi retirado
e depois devolvido ,em 1983, onde permaneceu até 1988. Nesta época adota como seu
aprendiz o então iniciante Valdenísio Rego, que pretendia aperfeiçoar sua técnica de desenho
com o artista-seringueiro. O pai de Valdenísio, que havia trabalhado na CODISACRE junto
com Seo Hélio foi quem indicou o filho para o agora consagrado artista. Antes que o jovem
pedisse para trabalhar com ele, Seo Hélio se antecipou ao pedido e o convidou para trabalhar
no ateliê, ao que Valdenísio respondeu: “Eu vou lhe ajudar e em troca o senhor me ensina a
desenhar.” (REGO, 2009) Neste trabalho de ajudante. Valdenísio Rego trabalhou 10 anos
com o artista Hélio Melo, fazendo serviço voluntário. Neste intervalo de tempo, conseguiu
desenvolver seu próprio trabalho e chegou a participar de várias exposições. Com a ajuda de
Seo Hélio chegou a ser presidente da Associação dos Artistas Plásticos do Acre (AAPA) por
dois mandatos consecutivos. Este seu trabalho voluntário foi de grande ajuda para Seo Hélio,
porque, nas ausências do artista na cidade de Rio Branco, para exposições pelo Brasil e
exterior, o ajudante mantinha o ateliê aberto para possíveis compradores que vinham de toda a
parte do mundo. Como gratidão do artista ganhou de presente a obra: “O Caçador”, 1998,
pintura acrílica em tela com aguados, 100cm x 80 cm. ( inserir imagem DSC0014/15).
Em 1985 faz, na Galeria de Artes da UFAC, uma exposição individual com 40
desenhos com a técnica de nanquim combinado com sumos de flores silvestres, no que
resultou num trabalho bastante original com tonalidades que vão desde o verde (clorofila) até
o vermelho e o azul. Nesta mostra individual, Seo Hélio reclamou da ausência de autoridades
governamentais:
Não veio ninguém no dia da abertura da mostra. Nem Governador, nem
Prefeito, nenhum político... nem o pessoal que trabalha na Educação e na
Cultura do Estado. Mas foi uma festa muito bonita. Vieram alguns
estudantes e muitos amigos meus. O Alberto Barbosa (aquele ceguinho que
toca banjo, violão e pandeiro), tocou, juntamente comigo, para as pessoas
presentes.
A Miragina patrocinou o coquetel de frutas regionais, licores saborosísimos.
E foram feitas algumas reservas, algumas pessoas mostraram-se interessadas
em adquirir meus trabalhos no final da mostra (Marcílio, 1985, p.s/n.).
Hélio Melo não se furtou ao seu compromisso político com a causa dos seringueiros.
Participou ativamente do processo de criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN),
ajudando na confecção de cartazes para divulgação do evento, cedendo desenhos de sua
156 autoria. Em 1985 participou do I Encontro Nacional dos Seringueiros na Universidade de
Brasília ( UnB) com apresentação de música e exposição de desenhos. Neste encontro se
concretizou a ideia do líder sindical Chico Mendes, de congregar numa entidade nacional
representantes de trabalhadores agroextrativistas organizados em associações, cooperativas e
sindicatos. Deu-se, então, a união de seringueiros, coletores de castanha, açaí, cupuaçu,
quebradeiras de coco babaçu, baladeiras, piaçabeiros, integrantes de projetos agroflorestais,
extratores de óleo e plantas medicinais com o objetivo de fortalecer a luta pela melhoria da
qualidade de vida, o uso sustentável dos recuros naturais da floresta amazônica e pelo direito
à terra.
No II Encontro de Seringueiros, realizado entre os dias 25 e 31 de março de 1989, na
capital acreana, Rio Branco, Seo Hélio teve participação atuante, expondo painéis sobre a vida
dos seringueiros, realizando um show de músicas e disponibilizou para venda cinco títulos de
suas publicaçãos: “Caucho, Seringueira e seus Mistérios”; “História da Amazônia”;
“Experiência do Caçador” “Os Mistérios dos Pássaros” e “Mistérios dos répteis”. Aconteceu
junto com o 2º Encontro Nacional de Seringueiros a primeira edição do Encontro dos Povos
das Florestas, do qual participaram 187 delegados seringueiros e indígenas do Acre,
Amazonas, Pará, Amapá e Rondônia. O líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 22
de dezembro de 1988, em Xapuri (AC), foi um dos inspiradores da ação.25
A ultima exposição do artista Hélio Melo na cidade de Rio Branco aconteceu em 2001,
poucos dias antes de sua morte na cidade de Goiânia.:A coletiva do Salão Universitário de
Artes, que contou com os esforços da Vice-Reitoria e Pró-Reitoria de Extensão da UFAC em
parceria com a Fundação Elias Mansour e Serviço Social. A exposição se abriu no dia 05 de
março e esteve aberta á visitação até o dia 05 de abril. Participaram da coletiva, além das
obras de Hélio Melo, Jaqueline Mesquita, Ivan Campos, Darcy Seles, Ulisses Sanches, Zé
Matos, Gesileu Salvatore, Paulo Sérgio, Leila Jalul, Waldenísio Rego, Jorge Rivasplata,
Dalmir Ferreira e Eliane Rudney.
Hélio Melo também expôs suas obras na cidade de Xapuri (1986, 1990 e 1998) e na
cidade de Plácido de Castro (1983), onde atualmente mora sua filha Fátima Melo, que guarda
o acervo do artista em memória do pai.
25
Para saber mais sobre o II Encontro Nacional dos Seringueiros consulte
<http://www2.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc> Acesso em 29 de novembro de 2009.
157 Hélio é artista de um tempo que se desconhece nas grandes cidades: tempo
em que as experiências vividas se transmitem à beira do fogo, nas histórias
contadas pelos amigos, reagadas a uma boa bebida. Cada desenho de Hélio
Melo traz essas impregnações do vivido: cada um tem sua história, dos
cordéis a embarcações, dos pássaros à mata espessa” ( Martins, 1992, p. 6).
É por conta dessa relação entre arte e vivência que Gadamer (1987) foi buscar na
origem da palavra o sentido intencional e funciona como uma unidade teleológica de sentido.
Algo é avaliado como vivência no momento em que lhe é atribuido um significado total
constituindo-se numa lembrança e para quem teve a vivência, fica como uma posse
duradoura. As lembranças do tempo do seringal do artista Hélio Melo tem caráter permanente,
inesquecível e inesgotável que geram significados para sua produção artística.
3.4 OBRAS DE HÉLIO MELO CATALOGADAS NA CIDADE DE RIO BRANCO
Hélio de Holanda Melo, Sem
título, s/d, tinta e extrato de folhas
sobre papel cartão, 37,5 x 54 cm.
Coleção Museu da Borracha, Rio
Branco (AC)
Figura 71
Hélio de Holanda Melo, 2º distrito
em 1962, 2000, Tinta e extrato de
folhas sobre tela, 41 x 54 cm.
Coleção Museu do Palácio Rio
Branco (AC)
Figura 72
158 Hélio de Holanda Melo, Sem título, s/d
tinta e Extrato sobre tela , 102 x 96 cm.
Coleção Museu do Palácio Rio Branco
(AC)
Figura 73
Hélio de Holanda Melo, Coleta de
Seringa, 1983, tinta e extrato de folhas
sobre tela, 36 x 29 cm. Coleção:
Patrimônio Histórico da Fundação Elias
Mansour, Rio Branco (AC)
Figura 74
Hélio de Holanda Melo, Sem título,
1999, tinta e extrato de folhas sobre
tela, 105 x 125 cm. Coleção: Escola
Municipal de Educação Infantil
(EMEI) Hélio Melo, Rio Branco
(AC)
Figura 75
159 Cópia da obra de Hélio Melo O
caçador, feita na parede da EMEI
Hélio Melo executado por Valdenísio
Rego em 2002, Rio Branco (AC)
Figura 76
Hélio de Holanda Melo, Cortando
Castanha, 1995,nanquim e sumo de
folhas sobre papel cartão29x39 cm.
Coleção Maria de Fátima Melo, Rio
Branco (AC)
Figura 77
Hélio de Holanda Melo, Beira do
lago,1995, nanquim e sumo de folhas,
24 x 12 cm. Coleção Maria de Fátima
Melo, Rio Branco (AC)
Figura 78
160 Hélio de Holanda Melo, Balsa de
Borracha, 1997, nanquim e sumos de
folhas sobre papel cartão, 30 x 99 cm.
Coleção Maria de Fátima Melo, Rio
Branco (AC)
Figura 79
Hélio de Holanda Melo, O seringueiro,
1996, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 36 x 38 cm. Coleção Maria
de Fátima Melo, Rio Branco (AC)
Figura 80
Hélio de Holanda Melo, O Homem e o
Cavalo, 1996, nanquim e sumos de folhas
sobre papel cartão, 47 x 42 cm. Coleção
Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC)
Figura 81
161 Hélio de Holanda Melo, Carga de
borracha, 1998, nanquim e sumos
de folhas sobre papel cartão, 37 x
46 cm. Coleção: Maria de Fátima
Melo, Rio Branco (AC)
Figura 82
Hélio de Holanda Melo, Beira do rio,
1994, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 26 x 33,5 cm. Coleção
Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC)
Figura 83
Hélio de Holanda Melo, Pescaria,
1994, nanquim e sumos de folhas
sobre papel cartão, 32 x 43,5 cm.
Coleção: Maria de Fátima Melo
Figura 84
162 Hélio de Holanda Melo, Barracão de
seringal, 1995, nanquim e sumos de
folhas sobre papel cartão, 50 x 58 cm.
Coleção: Maria de Fátima Melo
Figura 85
Hélio de Holanda Melo,
Festa no
seringal, 2000, nanquim e sumos de
folhas sobre compensado, 50 x 68cm.
Coleção Maria de Fátima Melo
Figura 86
Hélio de Holanda Melo, O Mapinguari,
s/d látex sobre compensado, 2000 ,6 x
114,3 cm. Coleção Maria de Fátima Melo,
Rio Branco (AC)
Figura 87
163 Hélio de Holanda Melo, Beira do lago,
1995, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 25 x 29 cm. Coleção Maria
de Fátima Melo, Rio Branco (AC)
Figura 88
Hélio de Holanda Melo, O bêbado,
1998, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 35 x 47 cm. Coleção Maria
de Fátima Melo, Rio Branco (AC)
Figura 89
Hélio
de
Expulsão
Holanda
dos
Melo,
seringueiros,
2000, 51x69cm, nanquim e
sumos
de
compensado,
folhas
2000.
Maria de Fátima Melo
Figura 90
sobre
Coleção
164 Hélio de Holanda Melo, Pescaria,
1996, nanquim e sumos de folhas
sobre papel cartão, 33 x 44 cm.
Coleção Fátima Melo, Rio Branco
(AC)
Figura 91
Hélio de Holanda Melo,
Pescaria, 1996, nanquim
e sumos de folhas sobre
papel cartão, 26,5 x 41
cm. Coleção Maria de
Fátima Melo
Figura 92
Hélio de Holanda Melo, Cortando
Seringa, 1998, nanquim e sumos
de folhas sobre papel cartão, 33 x
44cm. Coleção Maria de Fátima
Melo
Figura 93
165 Hélio de Holanda Melo, Beira do lago,
1994, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 36,5 x 43 cm. Coleção:
Maria de Fátima Melo
Figura 94
Hélio
Holanda
Melo,
Tempo
dos
Coronéis, 1999, nanquim , tinta a base
d’água e sumos de folhas sobre papel
cartão, 96 x 97 cm. Coleção Maria de
Fátima Melo.
Figura 95
Hélio Holanda Melo, O homem e o
Cavalo, 1999, nanquim, tinta a base
d’água e sumos de folhas sobre papel
cartão, 96 x 77 cm. Coleção Maria de
Fátima Melo, Rio Branco, (AC) Figura 96
166 Hélio Holanda Melo,
Serrador II,1996,
nanquim e sumos de
folhas sobre papel
cartão, 43,5 x 52 cm.
Coleção Maria de Fátima
Melo, Rio Branco (AC)
Figura 97
Hélio Holanda Melo, Casa do
Seringueiro, 1996, nanquim e
sumos de folhas sobre papel
cartão, 47 x 49,5 cm. Coleção
Maria de Fátima Melo, Rio
Branco (AC)
Figura 98
167 Hélio
Holanda
Melo,
O
cachorro do Deputado, 1997,
nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 47 x 55 cm.
Coleção Maria de Fátima Melo,
Rio Branco (AC)
Figura 99
Hélio de Holanda Melo,
O
serrador
I,
1997,
nanquim e sumos de folhas
sobre papel cartão, 46 x 58
cm. Coleção Maria de
Fátima Melo, Rio Branco
(AC)
Figura 100
168 Hélio de Holanda Melo, O engenho e
a prensa, 1996, nanquim com sumos
de folhas sobre papel cartão, 51 x 61
cm. Coleção Maria de Fátima Melo,
Rio Branco (AC) Figura 101
Hélio de Holanda Melo, Caminho
do Seringueiro, 1996, nanquim e
sumos de folhas sobre papel
cartão, 55x 59 cm. Coleção Maria
de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 102
Hélio de Holanda Melo, O
serrador IV, 1996, nanquim
e sumos de folhas sobre
papel cartão, 43 x 55 cm.
Coleção Maria de Fátima
Melo, Rio Branco (AC) Figura 103
169 Hélio
de
Holanda
Melo,
O
Caçador, 1999, nanquim com sumos
de folhas sobre papel cartão, 59 x 72
cm. Coleção Maria de Fátima Melo,
Rio Branco (AC)
Figura 104
Hélio de Holanda Melo, O barracão,
1996, nanquim com sumos de folhas
sobre papel cartão, 52 x 63 cm. Coleção
Maria de Fátima Melo. Figura 105
Hélio
de
Holanda
Melo,
O
caminho do Seringueiro II, 1998,
nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 55 x 67 cm.Coleção
Maria de Fátima Melo, Rio Branco
(AC).
Figura 106
170 Hélio de Holanda Melo,
O cachorro do Deputado
II, 1997, nanquim, tinta a
base d’água e sumos de
folhas sobre papel cartão,
32 x 40 cm. Coleção Maria
de
Fátima
Melo,
Rio
Branco (AC).
Figura 107
Hélio
de
Holanda
Melo,
O
seringueiro, 2000, nanquim, tinta a
base d’água e sumos de folhas sobre
tela, 118 x 95 cm. Coleção Maria de
Fátima Melo.
Figura 108
171 Hélio de Holanda Melo, Beira do Rio,
1988, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 28 x 41 cm. Coleção
Maria de Fátima Melo, Rio Branco
(AC).
Figura 109
Hélio de Holanda Melo, Sem
título, 1998, nanquim e sumos de
folhas sobre papel cartão, 74 x 99
cm. Coleção Rejane Maria Izídio
dos Santos e Santos, Rio Branco
(AC).
Figura 110
Hélio
de
Sequência
Holanda
do
Caçador,
Melo,
1998,
nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, sem medida. Coleção
Rejane Maria Izídio dos Santos e
Santos, Rio Branco (AC).
Figura 111
172 Hélio de Holanda Melo, Sem título
[tirando leite da seringa] 1994,nanquim,
tinta a base d’água e sumos de folhas
sobre tela, 152 x 128 cm. Coleção Sede
do Partido dos Trabalhadores (PT), Rio
Branco (AC).
Figura 112
Hélio de Holanda Melo, Sem título,
2000, nanquim, tinta a base d’água e
sumos de folhas, sobre tela, 108 x
99
cm.
Coleção
Gabinete
do
Governador do Estado do Acre, Rio
Branco (AC)
Figura 113
173 Hélio de Holanda Melo, Sem título,
1999,
nanquim, tinta a base d’água e
sumos de folhas sobre tela, 118 c 99 cm.
Coleção Gabinete do Governador do
estado do Acre, Rio Branco (AC).
Figura 114
Hélio de Holanda Melo, Sem título,
1988, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 45 x 33,5 cm. Coleção
Gabinete do Governador do Estado do
Acre, Rio Branco (AC).
Figura 115
Hélio de Holanda Melo, Sem título,
1981, nanquim, sumos de folhas sobre
papel cartão, 28 x 41 cm. Coleção
Gabinete do Governador do Estado do
Acre, Rio Branco (AC).
Figura 116
174 Hélio de Holanda Melo, Sem título,
1997, nanquim e sumos de folhas sobre
papel cartão, 21 x 27, 5 cm. Coleção
Danilo Batista de Sá, Rio Branco (AC).
Figura 117
Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1982
ou 1992, nanquim, tinta a base d’água e
extrato de folhas, 26 x 35 cm. Coleção
Atelier Pensatório (Dalmir Ferreira), Rio
Branco (AC).
Figura 118
Hélio de Holanda Melo, Sem título
[Homem brigando com a onça], s/d,
nanquim e sumos de folhas sobre papel
cartão, 41 x 36 cm, obra inacabada sem
assinatura. Coleção Atelier Pensatório
(Dalmir, Rio Branco (AC).
Figura 119
.
175 Hélio de Holanda Melo, Sem título
[Homem cortando Seringa], s/d, nanquim
e sumos de folhas sobre papel cartão, 43 x
50 cm, obra inacabada. Coleção Atelier
Pensatório (Dalmir, Rio Branco (AC).
Figura 120
.
Hélio de Holanda Melo, Sem título, s/d,
tinta e extrato de folhas sobre papel
cartão, 48 x 48 cm. Museu da Borracha,
Rio Branco (AC).
Figura 121
176 Hélio Holanda Melo, Escolinha da
Esperança, 1998, nanquim e extrato de
folhas sobre papel cartão, 39 x 50 cm.
Coleção Memorial dos Autonomistas,
Rio Branco (AC) .
Figura 122
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Rossini de Araujo Castro2