131 Figura 62 Cartazes e material publicitário desenvolvido pelo SEMTA em 1942 para estimular os jovem a fazerem alistamento como soldados da borracha para cortar seringa na Amazônia. Fortaleza 1942-1945. Muitos optaram em trabalhar na Amazônia para fugir da guerra, no entanto a troca não foi vantajosa. No campo de batalha dos 20.000 soldados que lutaram na Europa, morreram 454 pracinhas, enquanto que, dos 53.000 homens enviados à Amazônia, mais de 20.000 homens morreram vítimas de acidentes e doença, sem dar sequer um tiro. Os americanos ocuparam a Amazônia na época da guerra. Na cidade de Boca do Acre (AM) abriram uma casa de comércio com nome de RDC (Rubber Development Corporation) onde a mercadoria era vendida por um preço mínimo para poder favorecer os seringalistas na produção de borracha. Este comércio desagradou os comerciantes locais, que viram sua 132 clientela se voltar para os preços vantajosos da RDC. Houve uma tentativa de acordo entre a RDC e os comerciantes locais, e chegou-se à decisão de que a RDC venderia somente no atacado, tentando limitar o acesso dos seringueiros. Mas os seringueiros se organizavam e faziam a compra coletivamente. A RDC contava com uma frota de aviões Catalina, que transportavam as mercadorias e a produção de borracha. Entre o contingente de soldados americanos havia jovens que diziam ser filhos de pessoas ricas, que optaram por prestar serviço na Amazônia em vez de irem para a guerra (MELO, 2000). Os acordos de Washington atenderam aos anseios do Governo Vargas, que queria ocupar a Amazônia. Porém o interesse dos americanos era conhecer a região e suas riquezas e explorar as rotas. Foi dado o aval para esta ocupação norte-americana. Na região de Boca do Acre, os americanos perscrutaram toda a região com expedição de barco e avião. Seo Hélio conta que eles se interessaram pela Praia dos Paus e, periodicamente. faziam exploração com pouso na água. Não se sabe até hoje o motivo do interesse dos americanos pelo lugar. Os nordestinos que trabalharam em benefício da nação ficaram conhecidos como “Soldados da Borracha”. Muitos dos que foram para a Amazônia ficaram impedidos de voltar à terra natal por causa das dívidas com o patrão; a promessa do governo de retribuir em dinheiro o esforço de guerra também não se concretizou. Só em 1988 os soldados da borracha ganharam o direito a uma pensão vitalícia de dois salários mínimos por mês, sem direito a 13º salário. No Estado do Acre, cerca de 12.000 soldados da borracha foram qualificados a receber a pensão, entre eles o artista Hélio Melo, que, apesar de não ter se alistado como soldado da borracha, na época da II Guerra Mundial já se encontrava trabalhando na coleta do látex no seringal Senápolis. Foi com o dinheiro da pensão e da venda de seus desenhos, mais o salário de vigia que recebia da CODISACRE com lotação na Fundação Cultural, onde desenvolveu vários projetos, que Seo Hélio sustentou sua família. Atualmente a luta dos soldados da borracha é pela equiparação com os pracinhas que foram à Itália e recebem a pensão de dez salários mínimos e mais décimo terceiro salário. Com a liberação dos seringais cultivados da Malásia, o mundo não precisou mais do produto amazônico, que, por ser mais caro, foi deixado de lado. O governo brasileiro procurou manter apoio à produção da borracha, porém sua produção caiu drasticamente, e a população da floresta se voltou para outros produtos extrativistas, como a castanha da Amazônia e a extração da madeira. Nessa época, falece a mãe de Seo Hélio, Dona Rita de Holanda Melo, o que provoca grande dor na família. 133 No dia 15 de Setembro de 1952, Hélio de Holanda Melo casa-se com Lucília Cuidado da Costa, que passa a assinar Lucília da Costa Melo na comarca de Boca do Acre. O matrimônio foi contraído perante o juiz 2º suplente em exercício, Eladio Daltro Pinto de Frota e foram testemunhas João Elcias Cajazeira e Dona Maria da Costa Cajazeira. Sete anos mais tarde, com cinco filhos e com a morte do pai, que deixou dívidas, foi obrigado vender o seringal e partir para Rio Branco, no vizinho estado do Acre. 3.1 TRADIÇÕES ORAIS Como foi visto no tópico anterior a colonização da Amazônia aconteceu capitaneada por um exército de sertanejos que, fugindo da fome, migraram para a Amazônia em busca de melhores condições de vida. Neste tópico será feito uma análise da tradição herdada desse povo, carregada de influência da civilização europeia, que como se sabe influenciou sobremaneira a região nordeste do Brasil. Alguns estudiosos chegam a dividir o nordeste em dois, o nordeste do litoral, onde se manifesta a riqueza econômica e o nordeste do sertão, onde prevalece a precariedade. As levas que chegaram à Amazônia vieram principalmente do sertão paupérrimo, carente de tudo e subjugado pela seca inclemente da década de 1870. Estes migrantes trouxeram uma bagagem cultural baseada na oralidade, na cultura popular e numa visão de mundo ruralista. Esta oralidade se manifesta na literatura de cordel nordestina, onde o narrador se dirige ao público guardando muitos traços medievalizantes. Bakhtin (1987), que estudou a dicotomia entre cultura popular e oficial, aponta que, na cultura popular, o espaço de vivência é a praça pública, criando uma forma alternativa de relacionamento humano, porque a proximidade das pessoas favorece a mistura dos participantes. Nestes momentos a periferia passa a ser o centro, e as diferenças sociais são abolidas, e toda espécie de gente compartilha de uma liberdade de ação fora do comum. Porque naquele momento e espaço ninguém ali está para ver e ser visto. Todos procuram uma maneira de estar no mundo, ou seja, cumprir sua vivência. Dessa maneira, Bakhtin (1987) constata que a tradição popular do riso duplica o lado sério da vida. Esta tradição, segundo o autor, remonta à antiguidade, sendo muito rica e diversificada tanto na Grécia como em Roma; ela permanece viva em toda Idade Média com 134 todos os jargões, blasfêmias e grosserias da linguagem familiar. Nesse espaço todas as deformações e deformidades são aceitas porque o aspecto universal de festa transforma tudo que é elevado em baixo, tudo que é espiritual em corporal, tudo que é ideal em terreno e tudo que é abstrato em material. A cultura popular cria um mundo paralelo, e isso aparece na origem etimológica da palavra “paródia”, que duplica, através do deboche, a vida oficial. Esta interpretação bakhtiniana julga o riso como fenômeno vital e total ao ser humano. A tradição oral dos cantadores de cordel remonta aos cantadores ambulantes cegos da Idade Média, que, além de cantar, recitavam orações fervorosas e atuavam em entremezes cômicos. Com a ocupação portuguesa no Brasil, esta tradição arcaizante encontra terreno fértil no nordeste. Este arcaísmo da cultura portuguesa é resultante da guerra contra os mouros, “em que o cristianismo tem um papel forte e político, ao atuar como foco arregimentador da resistência e luta pela identidade nacional” (VASSALO, 1993, p. 58). Toda esta tradição oral chegou à Amazônia através dos migrantes nordestinos, e no momento que estes se estabeleceram na Amazônia ocidental, principalmente na região dos rios Purus e Acre, influenciaram sobremaneira a poética do artista Hélio Melo. O deboche é uma característica intrínseca do cidadão Hélio Melo, que não poupava nem autoridades de seus escárnios, sátiras, piadas e brincadeiras. Sua atitude em relação à convivência social o transformava em um bufão, que, de forma pacífica e prazerosa, arregimentava uma legião de amigos por onde passava. Quem teve a honra de conviver com Seo Hélio, sempre tem uma história para contar a respeito de sua verve satírica. Como não poderia deixar de ser, esta característica está presente de maneira contundente em sua obra, seja ela visual, musical, literária e teatral. Zombava de todo mundo. Na época em que o exgovernador Jorge Viana (PT) era prefeito (1990-1994), Seo Hélio foi incumbido de fazer os bonecos de fibra de vidro do Caboclinho da Mata, do Matinta Pereira e, quando o prefeito foi cobrá-lo pela inauguração do Parque Chico Mendes, ele sai-se com uma história de que os bichos ganhavam a mata quando anoitecia e dava um trabalho danado juntá-los noutro dia (NEVES, 2009). Em outra ocasião brincava com uma recatada senhora que trabalhava na Prefeitura Municipal de Rio Branco, que a tinha visto correndo pelada pela praia do bairro da Base. 135 3.1.1 Relatos Satíricos A circulação de pessoas na Idade Média acontecia nas peregrinações, romarias e, principalmente, nas feiras sazonais de comércio, que favoreciam a apresentação de espetáculos populares - inclusive por meio de jograis, que tiveram grande importância na divulgação de notícias e informação cultural. Antes de sofrerem uma decadência e terem seu prestígio abalado e associado aos marginais da sociedade, os jograis foram mediadores entre a cultura escrita e a massa de analfabetos. Como viajantes, foram importantes na divulgação de temas de culturas variadas, criando um repertório diversificado, tratando de temas internacionais e locais. Também apresentavam histórias tradicionais e adaptações de textos clássicos. A ausência de direito autoral fomentava as paródias, que prosperavam tanto em latim como em vernáculo e outras fusões linguísticas. Como duplicações cômicas, elas não poupavam nenhum gênero literário. Transformava canções de gesta, ou seja, as canções que homenageavam os feitos dos guerreiros medievais e romances de cavalaria em estripulias cômicas. Obscenidades invadiram as cantigas líricas, assim como o profano contaminava os mistérios, que experimenta as diabruras, as sotias24 e os sermões burlescos. “Isto mostra que nada fica imune à soberania da paródia e do carnaval” (Vassalo, 1993). Esta tradição satírica atravessou o Atlântico e se firmou na América portuguesa, em especial no nordeste brasileiro, com a Literatura de Cordel. “Os folhetos, presos a cordéis, são vendidos a baixo preço na rua, ao público popular, que tinha seus escritores próprios” (VASSALO, 1993, p. 55), que publicavam textos variados, desde notícias, fatos históricos, contos populares, etc. À região amazônica, chegou através dos migrantes nordestinos, dos mascates portugueses e comerciantes de origem árabes, de maneira que influenciou a escrita de Hélio Melo, que preserva uma oralidade, dirigindo-se diretamente ao leitor. Em seus escritos Hélio Melo traduz a alma coletiva, e na autoridade de um porta-voz de uma experiência coletiva a ser transmitida, obteve grande receptividade de seu público. Não é à toa, que o formato de seus livros lembra os folhetos de cordel. Embora o artista não utilize rimas, a sua produção 24 Antiga peça do teatro medieval francês em que os comediantes representavam personagens de um mundo de doidos, com alusão a personagens e fatos da vida rel. 136 literária privilegia a narrativa em tom coloquial, o que revela sua ligação com esta tradição oral, que remonta aos trovadores medievais. Na “História de Arapixi”, a personagem Dona Raimunda é uma viúva que vence a ganância de um valentão, que para escapar ileso teve que se disfarçar de mulher. Bacurau, depois deste incidente, recebe a qualificação de covarde, porém não desiste de tomar as terras de Dona Raimunda, que resiste bravamente até ás incursões de marinheiros. O Capitão da Corveta ficou admirado com a coragem de dona Raimunda e procurou apaziguar a situação, não efetuando a prisão da mesma. Quando achava que poderia trabalhar sossegada no seringal, pouco tempo depois chegou uma dívida, contraída por seu falecido marido, que a obrigou a leiloar suas terras. Arapixi, segundo Seo Hélio, significa amargura na língua indígenas do índio apurinã do Purus em Boca do Acre (AM). O artista declara ter recebido o depoimento de um ex-seringueiro e jura que o fato aconteceu realmente. Esta história, que apresenta conotações satíricas e forte oralidade, pertence à tradição popular, na medida em que o texto traz marcas verbais e estruturais características da literatura popular: “Falam que o fogo rompeu às cinco da manhã e terminou ás seis da tarde” (MELO, 2000, p. 51). Este exagero de linguagem tão característico da literatura de cordel aproxima o horário do tiroteio da faina diária do seringueiro, que normalmente saí às cinco da manhã para trabalhar e encerra sua jornada às seis da tarde, horário de oração e refeição. Em outro trecho da história em que o personagem Bacurau é desmoralizado como covarde, porque, além de se travestir de mulher, abandonou o próprio filho “de nome Bacurauzinho, que estava purgado de jalapa e, no tiroteio, foi morto pelo adversário” (p. 51-52). Desta feita, o narrador toma as dores de Dona Raimunda, por ser a mais fraca e não ter dinheiro para reclamar na justiça. Esta valorização dos deserdados é uma característica fortemente presente na literatura popular e, quase sempre, o valentão usurpador demonstra sua verdadeira personalidade de medroso, covarde e mau caráter enquanto que o desafortunado demonstra sua valentia, inteligência e honestidade. A personagem Dona Raimunda, por não ter acesso à justiça dos homens, que é onerosa, resolve defender suas terras com os filhos e alguns seringueiros. Nesse estilo narrativo sempre aparece um mocinho ou uma autoridade para fazer justiça. No caso da “História de Arapixi”, o herói e mediador da beligerância é o Capitão de Corveta, que, vindo para prender Dona Raimunda, percebe que ela está com a razão e muda 137 de ideia. Mas como toda boa história tem de ter romance, esta mudança de atitude é provocada por uma linda donzela que viaja a bordo da corveta e conquista o coração do Capitão. E como nas belas histórias de cavalaria, o soldado tocado pela paixão percebe que justa é a causa de Dona Raimunda e não a ganância de Bacurau. Mas, na história de Hélio Melo, não existe um final feliz, porque o seringal tem que ser leiloado para pagar uma dívida junto ao banco, contraída pelo falecido marido de Dona Raimunda – demonstrando, assim, o seu senso de honestidade e justiça. O quanto esta história tem de real é impossível descobrir, pois a tradição da oralidade é de cada vez que contar a história, ir acrescentando fatos e episódios. Uma coisa é certa: ao ouvir a história, Seo Hélio, baseado no seu conhecimento de contador de causos, deve ter aprimorado a narrativa para dar a ela este tom satírico e medievalizante. Assim como o homem medieval primava pelo senso de justiça e da coragem, o sertanejo e o seringueiro também dão muito valor a estas qualidades. Em vários causos contados por Seo Hélio, o que prevalece são estes sentimentos. Na história de Teodoro, que, por ser muito peralta na infância, recebeu a alcunha de Macaco, sendo sua família conhecida como Família dos Macacos, porque seus irmãos também demonstravam igual agitação, o sentimento de valentia e honestidade são os principais atributos. Seo Hélio conta que Teodoro era benquisto por todos, por ser um excelente seringueiro. Depois que ele deixou de cortar seringa foi trabalhar num navio. Numa viagem, um garoto de apenas dois anos caiu nas águas do Rio Amazonas e Teodoro, sem hesitar, pulou na água para salvar o garoto. Este ato heróico foi aplaudido por toda tripulação, e o pai do garoto, uma alta autoridade quis recompensar o destemido empregado, porém Teodoro recusou uma enorme quantia em dinheiro, dizendo ter feito somente sua obrigação. Tanto o pai do garoto como o comandante ficaram surpresos com a atitude de Teodoro. Porém este recebeu uma carta branca de recomendação para ser utilizada numa eventual necessidade. Seo Hélio informa que Teodoro passou a viver em Manaus e que, até onde se conhecia, viveu muito bem. Este mesmo Teodoro anteriormente havia trabalhado como seringueiro e de acordo com as palavras de Seo Hélio conseguia uma boa produção de borracha. Era tido como um homem destemido e admirado por todos por sua coragem, tanto de enfrentar a lida como para encarar os perigos da floresta. No entanto sua valentia acabou quando teve que encarar o Mapinguari. Ficou muito retraído e acabou abandonando a floresta e resolveu viver na água para evitar um novo encontro com a terrível fera. 138 3.2 O SERINGUEIRO E O CITADINO Seo Hélio chegou à cidade de Rio Branco em 1959. Inicialmente foi morar nos fundos da casa de sua irmã no Bairro da Base; depois, em 1965, consegue, com o dinheiro da venda do seringal, comprar uma casa no Bairro do Bosque. Mas o ponto estratégico do Bairro da Base o convence a voltar ao bairro em1980 e adquirir uma casa na rua Xapuri, onde morou até sua morte, em 2001. A ocupação da área onde hoje está localizado o Bairro da Base começou cinquenta anos antes da chegada de Seo Hélio a Rio Branco. Na gestão do Prefeito Cel. Gabino Besouro (1909 - ? ), a Administração Departamental do Alto Acre executou anexação, para fins de utilidade pública, das terras do Seringal Empresa. localizado à margem esquerda do Rio Acre. Com a abertura da Rua Epaminondas Jácome , em 1909, aconteceu facilitação de acesso às terras próxima da curvatura do rio. Esta faixa de terra foi ocupada de acordo com a abertura de novas ruas, como Benjamin Constant, Marechal Deodoro e Getúlio Vargas. Na administração Hugo Carneiro, o Programa de Construção de Prédios (1927-1930) executou a construção do Mercado Municipal de Rio Branco na margem esquerda do Rio Acre, favorecendo o povoamento da região. A ocupação do bairro se deu de modo desordenado por pessoas de baixo poder aquisitivo e a região de planície aluvial apresentava problemas de alagamento desde sua origem. O bairro recebeu este nome por abrigar a autoridade fluvial da Marinha. A estrutura da localidade é ordenada através da rua principal, designada “Estado do Acre”, que começa paralelo com o Rio Acre, próximo ao centro comercial da cidade e, após aproximadamente cinco quadras irregulares, alcança a curva do Rio Acre. Seu arruamento atendeu às necessidade das pessoas de terem acesso ao rio, que o utilizavam para lavar roupa, como via fluvial de transporte, lazer e fonte de alimentação e renda. O bairro ocupa o quadrilátero à margem esquerda do Rio Acre e se estende até o Bairro do Papoco, em sentido contrário à corrente do rio. Na parte de baixo, as suas principais travessas têm os nomes das cidades no tempo em que o estado contava com sete municípios: Rio Branco, Xapuri, Sena Madureira, Cruzeiro do Sul, Brasileira, Feijó e Tarauacá. Grande parte de seus moradores foram oriundos dos seringais e, na época em que Seo Hélio chegou, ainda mantinham alguma ligação com a floresta, seja porque cultivavam os hábitos de caçar e pescar, seja porque gostam de visitar parentes nas colocações e colônias de assentamento. Seo Hélio conhecia todos do bairro e era 139 Figura 63 Várias imagens do Rio Acre aparecendo ao fundo a recém promovida cidade de Rio Branco na década de 1960. Fotografias tiradas no 2º distrito próximo da curvatura do Rio Acre (Gameleira) e da margem oposta no Bairro da Base. Fonte: Arquivo Histórico do IBGE. muito estimado por seu espírito brincalhão, por suas anedotas, causos misteriosos contados nas calçadas das casas sobre a vida na floresta e a vivência dos tempos dos seringais. Outra atração era sua apresentação musical sempre acompanhado de seu inseparável violino dissonante, que ele tocava como se fosse uma rabeca. Na parte de cima do bairro, a população foi formada, em sua maior parte, por funcionários públicos da Prefeitura e do Estado, e o arruamento foi composto por uma rua principal, que começa na Rua Floriano Peixoto e é continuação da Rua Epaminondas Jacome, estendendo-se até a beira do Rio Acre, próximo de sua segunda curvatura inversa do rio em 140 frente ao Bairro do Papoco, antiga zona do meretrício da cidade. À margem oposta do rio encontra-se o Bairro da Cidade Nova, aglomeração populacional habitada por ex-seringueiros e em que, por estar sujeito a alagamentos regulares, a maioria das casas reproduz a construção dos seringais com taperas altas, estilo palafita. Desta rua principal nasceu uma dezena de travessas perpendiculares e algumas sinuosas que demonstram o aspecto desordenado da ocupação do bairro. Com sucessivas enchentes, muitos moradores abandonaram o espaço, o que resultou numa ocupação ilegal de lotes pertencentes à Marinha e na deterioração da qualidade de vida de seus moradores. Nessa área, o rio provoca erosões, resultando em desmoronamento de terras e destruição de ruas próximas ao leito do rio. Isto contribuiu para a deterioração urbana e incidência de altos índices de violência relacionada ao tráfico de drogas. Mesmo ciente de todos estes problemas do bairro, Seo Hélio preferiu permanecer morando na região por ligação afetiva aos amigos e familiares. Depois de sua morte, em 2001, a situação do bairro se agravou mais ainda e até o ano de 2009 não foi apresentado nenhum projeto de revitalização da área por autoridades do município. Figura 64 Hélio Melo com sua bolsa de barbeiro ambulante caminhando na Rua Estado do Acre numa das inumeráveis enchentes do Bairro da Base. 1970 c. a, arquivo pessoal de Fátima Melo. Em 1978, o bairro ganhou um bloco carnavalesco da Base (SAMBASE), fundado por José Raimundo da Silva Moraes (1959), funcionário do extinto Banco do Estado do Acre 141 (BANACRE), auxiliado por quatro diretores – Tinel, Medeiros, Emerson e Jorge. Dez anos depois, o SAMBASE faz uma grande homenagem ao artista Hélio Melo, um antigo morador do bairro. A bateria, em 1988, contava com mais ou menos 50 integrantes e ensaiava no final da ladeira da Base, no final da Rua Floriano Peixoto. O bloco sempre contou com o apoio de grande parte dos moradores do bairro a exemplo das famílias Medeiros, Sales Bento e Moraes. O bloco se originou dos pagodes na praia, regados a cerveja e organizados por: Medeiros, Germano, Nélson, Jorge e Moraes. No início, a folia se restringia às ruas do bairro. Somente em 1985 conseguiu desfilar oficialmente, ocasião em que conseguiu o vicecampeonato. A homenagem ao artista Hélio Melo trouxe 150 figurantes carregando telas, pincéis e tintas para caracterizar o artista que mora na Base, praticamente desde que chegou a Rio Branco. Seo Hélio, como é conhecido por todos, aceitou o convite de desfilar como destaque usando uma alegoria cheia de telas, paletas e ouros objetos e materiais que fazem parte da sua vida. O samba enredo SAMBASE “Folia de um Artista” é de autoria de Marcus Connel, sobrinho do artista e puxador do bloco carnavalesco, e Guto. A ideia não é contar a historia do Seo Hélio desde sua saída do seringal até morar na cidade, mas mostrar a alegria e a cor, a animação do artista. As cores do grupo são vermelho, branco e preto (O RIO BRANCO, 1988). 3.2.1 A cidade de Rio Branco A origem da cidade de Rio Branco liga-se á expedição do seringalista Neutel Maia em 1882. Subindo o Rio Acre com seus trabalhadores, Neutel Maia ocupou o território dos índios Apurinãs e no dia 28 de Dezembro atracou seu barco aos pés de uma enorme gameleira, onde na margem direita do rio Acre implantou o Seringal Volta da Empreza, que recebeu este nome devido á curvatura do rio neste local. Neutel Maia trouxe sua família para morar no seringal, e para alguns historiadores, este foi o embrião para surgimento da cidade de Rio Branco. Em 1904, houve a divisão das terras do Território do Acre em três departamentos, a saber: Alto Juruá, Alto Purus e Alto Acre. O povoamento do Empresa foi elevado à categoria de Vila e instalada a prefeitura do Alto Acre. Em setembro do mesmo ano, a vila foi elevada á categoria de cidade, mantendo o mesmo nome. Em 1909, recebe a denominação de Penápolis em homenagem ao então Presidente Afonso Pena, até que, finalmente, em 1912, em 142 reconhecimento à figura do diplomata Barão de Rio Branco, que teve um papel fundamental na viabilização do Tratado de Petrópolis, recebe a designação de Rio Branco. Na época em que Seo Hélio chegou a Rio Branco, existia uma expectativa de que a cidade se modernizasse e foi nessa época que o Governador-nomeado do então território do Acre, Guiomard Santos, criou uma moderna cerâmica, a Rádio Difusora Acreana, que se autodenominou, “A voz das Selvas”, criou a imprensa oficial, construiu o Aeroporto Salgado Filho, criou o Serviço Aéreo do Governo do Acre (SAGA) com dois aviões, com o intuito de integrar a capital aos municípios mais remotos do território. E deu início à pavimentação das ruas da cidade, utilizando tijolo para o calçamento, uma vez que, no Acre, não existem pedras para este fim. Todas estas obras de infra-estrutura deram oportunidade de emprego aos moradores da periferia, que tinham sua origem, em sua maioria, em seringais falidos. Para sustentar sua família, Seo Hélio procurou ajuda de conhecidos e conseguiu uma vaga temporária de catraieiro no departamento de transporte fluvial, ligado à autoridade da Marinha. No vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do Antimari”, ele revela que remou dois anos sem os documentos com a permissão do agente da Marinha, que se compadeceu de sua situação. Seo Hélio trabalhou onze anos transportando pessoas de um lado ao outro do Rio Acre. Nesse período organizou um Jornal de Bordo, com a tiragem de um único exemplar, que ele ilustrava e escrevia manualmente, contendo, na maioria das vezes, três páginas, nas quais divulgava as principais notícias sobre o recém-criado Estado do Acre. O exemplar era lido pelos passageiros da catraia toda terça-feira e era passado de mão em mão e, para muitos, era o principal meio de informação ao qual tinham acesso. Seo Hélio transformava fatos interessantes em desenhos que vinham acompanhados de pequeno texto. Este formato possibilitava uma leitura rápida e aqueles que não sabiam ler aproveitavam os desenhos para se informarem sobre determinado assunto. Os desenhos tinham uma característica de charge, e muitos mantiveram esta característica– uma crônica do cotidiano em forma de desenho. O jornal teve 30 edições e foi uma experiência que seu Hélio classificou de divertida: Nas horas de folga desenhava algumas histórias dos companheiros de profissão, enfocando fatos pitorescos, como por exemplo a do homem que atravessava seu cavalo nas embarcações e somente queria pagar uma passagem, ou da mulher bonita que por o catraieiro lhe dirigir algumas pilhérias negava-se a pagar a passagem ou mesmo ‘alguma briguinha que surgia entre os catraieiros’ (MARCÍLIO, 1985). 143 Seo Hélio testemunhou, na cidade de Rio Branco, mudanças políticas progressistas que culminaram com a eleição do primeiro governador institucional do Estado do Acre. Em outubro de 1962, foi realizada a primeira eleição para Governador do Estado do Acre. Na época, existia um núcleo bem atuante no Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), denominado de “esquerda”, composto por intelectuais e estudantes, que fazia oposição interna ao controle que o General Passos exercia no partido. Este núcleo conseguiu indicar o jovem político do PTB, José Augusto de Araújo, então com 37 anos, numa aliança com a UDN (União Democrática Nacional) como candidato a governador e que acabou vencendo Guiomard dos Santos, o velho cacique do Partido Social Democrático (PSD). Como governador, José Augusto de Araújo apoiou o trabalho da Liga Camponesa de Rio Branco, cujos militantes, em sua maioria, eram também filiados ao PTB. A ação modernizadora idealizada pelo governador José Augusto de Araújo projetou a construção de três pontes para integrar o primeiro distrito e o segundo distrito e escoar a produção dos pequenos agricultores. Na área da educação, o governo de “esquerda” de José Augusto implantava o método Paulo Freire nas escolas rurais do Estado do Acre. No setor agro-pecuário, implantou armazéns-silos para garantir a estocagem da produção agrícola. Estas unidades armazenadoras eram constituídas de câmera de expurgo e capacidade para mil toneladas. Desapropriou a Fazenda Araripe e começou a transformá-la em Fazenda-Modelo; também desapropriou alguns seringais e deu início à doação de terras aos seringueiros e homens do campo; criou a Escola de Iniciação Agrícola; comprou vários tratores trapers e outros implementos agrícolas com o objetivo de melhorar a situação do homem do campo. Porém estas iniciativas foram abortadas com o golpe militar de 1964, que derrubou o presidente João Goulart e que forçou a renúncia do governador José Augusto de Araújo. A ponte Juscelino Kubitscheck, mais conhecida como ponte metálica, foi encomendada para a Companhia Siderúrgica Nacional em 1957, mas foi no Governo de José Augusto de Araújo (1962-1964) que foi negociada junto ao Ministério dos Transportes. A ponte foi trazida de balsa até Boca do Acre (AM) e ficou encalhada no Rio Acre, e com a interrupção repentina do Governo José Augusto em decorrência do golpe militar de 1964, parte da estrutura pré-moldada que conseguiu chegar em Rio Branco ficou abandonada nos barrancos do Rio Acre. Em 1971, com a inauguração da ponte metálica Juscelino Kubitschek, o governador Jorge Kalume prometeu uma compensação aos catraieiros. Esta compensação poderia ser em forma de aposentadoria para os mais velhos ou em forma de realocação de função em algum órgão estadual. Nenhuma das alternativas foi adotada pelo governador. Os 144 catraieiros ficaram desempregados e, no vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do Antimari”, Seo Hélio conta que, no dia da inauguração da ponte, os remadores foram convocados para assistir à solenidade e receberam a recomendação de levar cada um a sua pá de remo. Ficaram sob o efeito do sol escaldante e, quando a solenidade terminou, o governador deixou os remadores esperando e não atendeu a seus pedidos. Devido a esta situação, os remadores prometeram não votar nos partidários do governo e muitos sofreram retaliação. Mas Seo Hélio não desanimou e passou a cortar cabelo em domicílio. Comprou um kit de corte manual e passou a trabalhar como barbeiro ambulante, atendendo principalmente aos moradores do Bairro da Base, ex-catraeiros, ex-seringueros e toda espécie de gente que ele encontrasse pela frente. Saía com sua bolsa debaixo do braço e só voltava quando adquirisse o suficiente para comprar alimentação para si e sua família. Com a ajuda de um amigo conseguiu, em 1975. a vaga de vigia noturno na Companhia Industrial de Desenvolvimento do Acre (CODISACRE). Nesta nova função, passou a alimentar a ideia de aproveitar as noites de vigília para treinar seus desenhos, que nunca abandonara - apesar de empenhado na subsistência da família, sempre lhe sobrava um tempinho para desenhar. No bairro em que morava era solicitado por alguns estudantes para ilustrar trabalhos escolares, o que ele fazia de bom grado. No emprego da repartição pública, passava a noite rabiscando papéis, fazendo desenhos de memória da vida dos seringais. Desenhava a fauna, a flora, a atividade laboriosa do seringueiro. Nesta fase trabalhava somente com nanquim e seus desenhos não eram coloridos. O chefe da seção reclamava que Seo Hélio passava a noite ocupado com seus desenhos em vez de vigiar a empresa, ao que Seo Hélio respondia muito humorado dizendo ser uma tarefa muito cansativa descer a Bandeira Acreana à tardinha e hasteá-la logo cedo. O certo que não havia jeito de demover da cabeça de Seo Hélio da necessidade de aprimorar sua técnica. Num certo dia, ao ouvir uma notícia na emissora da Rádio Difusora Acreana de que o Departamento de Cultura iria promover um curso de pintura, percebeu que aquela poderia ser sua chance de aprimorar e difundir seu trabalho. Na época Seo Hélio estava fazendo o supletivo do 1º grau e não tinha reconhecimento como artista: Eu desenhava, pintava e ninguém queria pagar bem pelo meu trabalho, aí então eu dava de presente para meus compadres. Não tenho muita segurança nos meus trabalhos, por isso sempre pensei em fazer um curso. Achava sempre que estava faltando alguma coisa e precisava de técnica. Tinha a ideia, mas não conseguia expressar através de meus quadros com perfeição. (O JORNAL, 1978, p.17) 145 Figura 65 Hélio Melo tocando violino acompanhado por seus parceiros Grupo Sempre Serve. Figura 66 Apresentação de Hélio Melo em visita a terra natal, região do Antimari no Amazonas, 199. Foto de Danilo de S’Acre. 146 3.3 A BUSCA DE RECONHECIMENTO COMO ARTISTA No vídeo “A peleja de Hélio Melo com o Mapinguari do Antimari”, Seo Hélio conta que, de início, Genésio Fernandes, artista plástico pernambucano, responsável por ministrar o curso de pintura e desenho, achou que Seo Hélio estava copiando as imagens de algum livro. Seo Hélio disse-lhe que os desenhos eram da autoria dele mesmo e Genésio Fernandes ficou muito admirado da qualidade do trabalho. Apesar do elogio recebido pelo professor, Seo Hélio não quis continuar o curso porque não se identificou com a técnica de desenho ministrada. No entanto foi convidado a participar da exposição coletiva (1978) que reuniu trabalhos de diversos funcionários públicos. Esta primeira participação do artista em espaço expositivo de artes visuais teve o patrocínio do Departamento de Atividades Culturais (DAC,) que, na época, era dirigido por Francisco Gregório da Silva Filho. O trabalho de Seo Hélio ficou em primeiro lugar, o que motivou a imprensa a fotografá-lo ao lado do Governador Geraldo Mesquita (1975-1979). Deste encontro com o Governador resultou o convite para que seus doze desenhos fossem enviados para Brasília, com o objetivo de integrar o pavilhão do Acre na Feira dos Estados, em 1979, sob o patrocínio da Fundação Cultural de Brasília, que reuniu cerca de 50 obras de artistas acreanos, entre os quais artistas consagrados, como Garibaldi Brasil, Hélio Cardoni, Genésio Fernandes, Carlos Mejido e Raul Velasquez. Com esta primeira exposição fora do Estado do Acre, suas doze obras foram rapidamente vendidas, abrindo caminho para futuras exposições em outros estados: Senti-me muito feliz. O governador, após ter olhado o meu trabalho, disseme que haveria a Primeira Feira de Exposição dos Estados em Brasília. Aceitei o convite, em 1978, e foi minha primeira oportunidade de sair em busca de um reconhecimento, e mais uma vez respeitado, pelo pintor pernambucano Genésio Fernandes e por Francisco Gregório Filho (da Fundação Cultural do Acre). Grande parte do incentivo que recebi desde o início de minha carreira, devo a eles. ( AMAZÕNIA NOSSA, Nº 24 Ano IV, p.25) Os doze trabalhos selecionados para a exposição coletiva em Brasília foram o estímulo inicial para Seo Hélio aprimorar a sua técnica e dedicar-se profissionalmente às artes visuais. O tema de seus desenhos, desde o início, mostra sempre o universo amazônico; através da 147 retratação de tipos humildes como o seringueiro, do lugar, sendo a floresta preferencialmente mostrada e os afazeres e feitos do povo da floresta. (FOLHA DO ACRE, 1986) A inspiração para executar sua obra parte de sua vivência de seringueiro e como sempre afirmou, jamais mudou seu modo de produzir arte. A técnica que utilizava, uma mistura de óleo comestível com resinas de folhas silvestres, tanto como seu traço chamaram a atenção de todos, assim como a simplicidade de seus temas fez com que “sua obra merecesse destaque nos jornais e nas rodas da intelectualidade acreana que vivia às tontas em busca de um estilo verdadeiro autêntico após o ‘bombardeio’ desencadeado pela Pop Art naquela década.” (O RIO BRANCO, 1986, p.5) Figura 67 Hélio Melo em exposição do SESC-AC., sem data, arquivo pessoal de Maria de Fátima Melo. 148 Figura 68 Hélio Melo trabalhando em seu atelier. 1997. Foto: Danilo de S’Acre. Figura 69 Hélio Melo desenhando em seu atelier nos fundos de sua casa, 1997. Foto: Danilo de S’Acre. Figura 70 Hélio Melo preparando o extrato de folhas, 1997. Foto: Danilo de S’Acre. 149 3.3.1 Sesc Em 1980 foi contratado pelo Serviço Social do Comercio (SESC) de Rio Branco para pintar e desenvolver pesquisa na área musical e literária. Nesse espaço, contou com o apoio de Pedro Vicente da Costa Sobrinho e do poeta e sociólogo pernambucano Alberto Cunha Melo. Deste modo, Seo Hélio passou a narrar histórias contadas por índios da floresta e por seringueiros. O material resultante desta pesquisa foi aproveitado pela Fundação Cultural do Acre transformando-o na cartilha “Do seringueiro para o seringueiro”, editada em quatro volumes: “A Experiência do Caçador e os Mistérios da Caça” (1984), “História da Amazônia” (1986), “Os Mistérios da Mata” e os “Os Mistérios dos Répteis e dos Peixes”. Foi no SESC Rio Branco que amadureceu seu repertório musical, literário e visual. No espaço do Teatro de Arena do SESC da cidade de Rio Branco congregou as três linguagens em espetáculo multidisciplinar. Assim, criou um estilo de espetáculo que se aproxima das apresentações de praça pública, onde acontece um diálogo direto com a plateia, sendo permitida inclusive a intervenção desta. No dia 15 de setembro de 1983, apresentou um show completo com essas características. Nessa noite de terça-feira, aqueles poucos que compareceram ao Teatro de Arena do SESC puderam apreciar a vitalidade do multiartista Hélio Melo; Seo Hélio tocou, cantou, narrou histórias do seringal e, através de quadros de sua autoria. foi mostrando como é a vida e o trabalho no interior do Acre (FOLHA DO ACRE, 1983). O espetáculo divertiu a plateia, revelando a capacidade humoristica do artista. Na ocasião, o espetáculo fluiu tão natural e informalmente, que o público se sentiu à vontade para interferir em seu andamento, sugerindo, pedindo e também contando histórias (FOLHA DO ACRE, 1983). A estrutura do espetáculo contou com a participação do grupo “Sempre Serve,” composto pelo próprio Hélio (Violino), Antônio ( pandeiro), Raimundo (violão) e Sebastião (cavaquinho) e muito contribuíram para animar o ambiente e encaixaram-se perfeitamente no conceito do espetáculo. Para fazer contraponto à cultura do seringal, o artista Major atuou de forma a trazer à tona o ponto de vista da cultura urbana, o que muito contribuiu para a contemporaneidade do espetáculo. Este permanente diálogo de Hélio Melo entre a cultura tradicional seringueira e a cultura urbana rende às suas produções artísticas um grau de sofisticação conceitual que não é comum em artistas considerados populares. A direção e coordenação do trabalho ficou a cargo de Marinete e Maria José. 150 Sete anos depois de estrear com artista plástico na exposição coletiva do DAC (1978), Hélio Melo com uma carreira de até então 15 individuais e 16 coletivas nas principais capitais brasileiras e com repertório consolidado, apresenta no dia 23 de Março de 1985, a exposição denominada “Natureza”, no SESC de Rio Branco. São vinte obras: desenhos em nanquim com sumos de folhas sobre papel-cartão. E, como sempre, a programação contou com a multifuncionalidade do artista; houve apresentação musical denominada “Do seringueiro para o seringueiro” e, para finalizar o evento, o Forró no seringal animado pelo grupo “Sempre Serve.” O diferencial desta exposição foi a recorrência temática em que o artista dá sequência a um mesmo tema: “De uns tempos para cá, o artista começou a dar uma sequência em suas obras, o que vem fazendo até esgotar o assunto. Daí começa outra sequência.” (FOLHA DO ACRE, 1985, p.6) Esta forma de trabalho decorreu, inicialmente , de o artista sentir que seus trabalhos não recebiam o valor merecido: Já vendi muitos quadros baratos, por preço de ocasião, devido a dificuldades que atravesso, por isso mesmo eu pinto, em muitas o mesmo tema em mais de um quadro. Faço isso porque acho que a obra não foi vendida pelo devido valor, e uma obra tem que compensar. (Marcílio, 1985, s.n/p.) Ao explorar plásticamente o mesmo tema, foi descobrindo possibilidades de diferentes maneiras de o desenho ocupar o espaço da cartolina ou da tela. Dessa época é a sequência de desenhos em que é mostrado o cavalo em cima da árvore e o homem no chão. A partir do primeiro modelo, executou vários desenhos em que modifica a posição do cavalo na árvore, sendo que, em alguns, o cavalo ocupa um galho da árvore no lado esquerdo de quem olha; em outros ocupa o lado direito. Varia também a posição do cavalo, que ora aparece em pé em cima do galho, ora, em outros momentos, deitado sobre o galho. A posição do homem rente ao chão também se modifica. Em alguns desenhos, ele está de costas para o cavalo e ocupa o lado direito de quem olha a obra. Em outra sequência o homem está de frente para o cavalo, mas sentado num tronco de árvore e ocupa o lado esquerdo do desenho. Em outros desenhos da mesma sequência há uma escada enorme por meio da qual, presumivelmente, poderia alcançar o galho. Neste caso também a escada muda de posição em relação à árvore e ao cavalo, variando o lado, às vezes ocupando o lado direito da obra, outras, o esquerdo. A paisagem também muda. Num dado momento, a paisagem é de uma floresta fechada, em outro, uma clareira ou ainda mostrando a devastação da mata. Então percebe-se uma variedade de pesquisa espacial em que o desenho ganha nova significação. Para explicar o significado destes desenhos, Seo Hélio argumentou que sempre haverá alguém despreparado 151 ocupando algum cargo e dificultando o trabalho do artista. Salientou que não foi só no tempo dos coronéis que cavalos ocupavam função superior à do homem, mesmo na cidade ele se viu em situação em que o cavalo está em cima de uma árvore e não se sabe como conseguiu chegar até ali. Utilizou-se fartamente desta metáfora para criticar o apadrinhamento político nos órgãos culturais da cidade de Rio Branco. No ano seguinte, a Delegacia Regional do SESC organizou uma grande festa para comemorar os oito anos de atuação artística de Hélio Melo. Além da exposição intitulada “Cenas Amazônicas”(1986), com 18 desenhos, sendo os principais títulos: “O Caçador”, “O Comboio de Borrachas”, “O serrador”, “O seringueiro passando pela ponte”, “Nossa Floresta”, “O Fim da Tarde” “A Mantra do Burro”, “O Seringueiro”, “Suplício do Seringueiro”, “A Árvore Morta”, “A Quebra Castanha”, ‘A Defumação do Látex”, “Tempos de Coronéis”, “Caminho Sem Destino” e “Barracão Abandonado”. (GAZETA DO ACRE, 1986, p.7) A festa também contou com o lançamento do livro “História da Amazônia – De seringueiro para seringueiro” (Gráfica do Senado da República, Brasília, 1986) e com a apresentação do Grupo ‘Sempre Serve”, que acompanha o artista em algumas de suas mais recentes composições musicais. Dez anos depois, a pesquisa literária do artista apresenta resultado substancioso baseado em depoimentos de seringueiros antigos, no conhecimento da própria vivência da floresta e em pesquisa em livros são lançadas mais duas publicações no dia 20 de janeiro de 1996. Os lançamentos dos livros “A experiência do Caçador, os Mistérios da Caça” e “Os Mistérios dos Pássaros” integraram a programação da exposição “Cenas Amazônicas”(1996) em comemoração aos 19 anos do SESC no Acre. Nesta fase o artista já conta em seu currículo com 31 exposições individuais e 34 coletivas nas principais cidades do Brasil e com 10 exposições internacionais em países como França, Itália, Inglaterra e Estados Unidos da América. A cidade de Rio Branco “é tão somente o ponto de partida de suas obras novas” (O RIO BRANCO, 1996, p.6). Nesta época ele não tem mais uma ligação profissional com o SESC, pois já possui um atelier com o nome Casa Hélio Melo ao lado da Casa do Seringueiro cedido pela Prefeitura de Rio Branco, onde tem uma exposição permanente e comerciliaza suas obras. Mesmo assim, o espaço do SESC lhe é cedido gentilmente pelo Delegado Executivo do SESC João Fernandes de Carvalho. Foi essa entidade que propiciou exposições itinerantes por todo o Brasil, onde o artista pôde divulgar seu trabalho. Seo Hélio realizou doze exposições individuais na unidade 152 SESC de Rio Branco (1980 – Individual, 1982 – Individual, 1983 (2) – Individual, 1984 – Individual, 1985 – Individual, 1986 – Individual, 1987 – Individual, 1994, 1996 (2) – Itinerante e 1999). 3.3.1.1 Exposição Individual Sesc-Tijuca na Cidade do Rio De Janeiro Esta exposição foi fundamental para o reconhecimento artístico de Hélio Melo. Sua preparação começou em 1979 e levou um ano para se concretizar. Foi idealizada pelo então Delegado Regional do SESC-AC professor Pedro Vicente da Costa Sobrinho (1979-1982), que solicitou o empréstimo de Seo Hélio à Companhia de Desenvolvimento Industrial do Acre (CODISACRE), onde o artista trabalhava como vigia desde 1975. Com a concretização do acordo entre o SESC-AC e a CODISACRE, Seo Hélio passou a se dedicar integralmente à produção de desenhos para a exposição. Foram encomendados trinta e três desenhos pequenos para facilitar o transporte para a cidade do Rio de Janeiro e deixar o preço mais acessível para venda, e logo ficou acertado que, nessa exposição, o artista não estaria presente. De início, o artista procurou atender ao pedido de Costa Sobrinho de forma muito rápida, deixando de caprichar no trabalho. Porém foi aconselhado a não ter pressa na elaboração dos quadros porque a viagem do Delegado Regional do SESC-AC ainda iria demorar e que a solicitação do espaço seria feita pessoalmente ao Diretor do SESC-RJ Sr. Ubiritan, e que o espaço do SESC-Tijuca era muito requisitado e que, em razão disso, a exigência era muito grande. Havia algumas dificuldades a serem vencidas, como a falta de um currículo expositivo e o desconhecimento do artista pela crítica. Até então, as exposições do artista haviam ocorrido na cidade de Rio Branco e na Feira dos Estados em Brasília que reuniu artistas sem grande expressão nacional e sem nenhum significado no circuito cultural do país. Para Costa Sobrinho, o talento de Hélio Melo despontava entre os artistas locais e como garantia ao Sr. Ubiritan foi dada apenas a sua palavra de que o artista Hélio Melo era um grande artista que merecia ser conhecido pela crítica na cidade do Rio de Janeiro. Como a grau de amizade entre Costa Sobrinho e Ubiratan permitia uma confiança sincera, o Diretor do SESC-RJ concordou em agendar uma data na Galeria SESC-Tijuca. No entanto, como na vida de Hélio Melo nada foi fácil, devido ao afastamento temporário do Sr. Ubiratan da 153 Direção do SESC-RJ, decorrente de complicações de saúde, o agendamento da exposição foi postergado. E, para complicar mais a situação, o substituto do Sr. Ubiratan colocou o pedido de utilização do espaço no protocolo, o que resultou em cinco meses na lista de espera de vaga para exposição. O novo diretor, Sr. Horácio, apesar de ser membro da Academia de Letras do Rio de Janeiro, escritor, poeta e romancista tinha um certo fascínio pela burocracia e o pedido de Seo Hélio virou processo e não andava de maneira alguma. Foi preciso novamente a intervenção de Costa Sobrinho, que, mais uma vez, ligou ao Sr. Ubiratan para que agilizasse o processo. A intervenção do Sr. Ubiratan foi fundamental para que a exposição de Seo Hélio tivesse prioridade na escolha e, como a Galeria iria entrar em reforma, não encontrou entraves burocráticos para suspender a agenda e entrar com a exposição do artista-seringueiro Hélio Melo. Até aquele momento a primeira batalha fora vencida, que foi justamente o agendamento da exposição num espaço expositivo conceituado. Restava o desafio de vender as trinta obras e que o trabalho fosse visto por um grande número de apreciadores de arte. Para garantir a venda de alguns quadros, Pedro Vicente da Costa Sobrinho resolve telefonar para amigos da cidade do Rio de Janeiro, solicitando que comprassem pelo menos uma obra do artista, para, assim, garantir uma venda mínima e evitar um eventual fracasso, já que havia dado sua palavra do talento do artista. Foi feito um catálago com apresentação simples do artista mas a exposição não obteve sucesso. A dificuldade adveio de ser um artista totalmente desconhecido do circuito da arte nacional e da própria localização do espaço expositivo, dois fatores que não contribuíram para a visitação. Mas a grande sorte do artista Hélio Melo foi que o SESC-Tijuca estava adquirindo algumas esculturas do artista Sérgio Camargo (1930-1990), escultor muito conceituado no meio das artes plásticas e, numa das visitas que o artista fez ao espaço para negociar com o Sr. Ubiritan, deparou-se com a exposição do artista Hélio Melo e espantou-se com a qualidade dos trabalhos. De imediato, quis saber de quem era o trabalho e o Sr. Ubiratan informou tratar-se de um desenhista do Acre, indicado por um amigo que garantira a qualidade dos trabalhos. Sergio Camargo se encantou com a luz que emana das obras e logo quis comprar todos os desenhos da exposição. O Sr. Ubiratan foi informado de que algumas obras já estavam vendidas antecipadamente pelo Pedro Vicente da Costa Sobrinho e por seus amigos, mas que restavam dezesete desenhos, que foram prontamente adquiridos pelo famoso escultor. O fascínio de Sergio Camargo foi tal que escreveu uma carta ao Pedro Vicente da Costa Sobrinho pedindo que organizasse uma exposição de Hélio Melo, que ele iria solicitar 154 uma mostra na Galeria Sergio Miliet no centro da cidade do Rio de Janeiro e que recomendaria aos críticos de artes a apreciação da exposição. Além da exposição na Galeria SESC-Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, foram realizadas mostras em unidades do SESC em outras cidades brasileiras: SESC Recife (1981 – individual); SESC Aracaju (1981 – Coletiva); SESC Brasília (1984 – Coletiva); em São Paulo, com exposições no SESC do Carmo (1986) e SESC Campestre (1986); SESC Salvador (1992 - Individual) e SESC Fortaleza (1992). Na área cultural, a importância do SESC se deu pela percepção do papel da cultura como fonte, meio e processo efetivo de transformação dos indivíduos e da sociedade. As atividades e ações culturais promovidas pelo SESC-Ac promoveram o crescimento das artes na cidade, revelaram grandes artistas, dentre os quais o maior expoente foi Hélio Melo. A agitação cultural da entidade fortaleceu o teatro, a música, a dança e as artes visuais no panorama artístico acreano. Esta filosofia de trabalho continua até hoje, e sua relação com a cultura se propõe a gerar conhecimentos que contribuam para a solução dos graves problemas que comprometem o desenvolvimento do País. 3.3.2 Outros espaços expositivos no Brasil Seo Hélio também se apresentou em outros espaços expositivos diferentes do SESC. Na cidade de Rio Branco suas exposições aconteceram na Biblioteca Pública (DAC - 1978 – coletiva), no Centro de Artesanato (1978 – coletiva), na Universidade Federal do Acre (UFAC Centro) (1979 – coletiva; 1983 – coletiva; 1984 - individual e 1985), no espaço da Fundação Cultural do Acre (1983 – Individual e 1984 – individual), Galeria Garibaldi Brasil (1993 – individual), Parque Chico Mendes (1996), Colégio São José (1996), Colégio de Aplicação (1999) e Teatro Plácido de Castro (1999). Na Exposição Coletiva da Semana do Folclore (1984), realizada no Palácio da Cultura (UFAC), o artista Hélio Melo expôs 6 quadros que não ficaram à venda devido aos compromissos com outras exposições no Brasil e Exterior. Mas sua grande felicidade era porque acabara de ganhar uma sala da Divisão de Artes nas dependências do Palácio da Cultura bem no centro da cidade. No fundo de quintal da sua casa, onde funcionava seu atelier estava muito apertado e o novo espaço bem no centro da cidade iria permitir que a pessoa que o procurasse para adquirir seus desenhos o encontrasse com maior facilidade. Este espaço lhe 155 foi concedido em 1979 pelo Governador Geraldo Mesquita, que transferiu Seo Hélio do seu emprego de vigia da CODISACRE para a Divisão de artes da Fundação Cultural. Com a posse do novo Governador Joaquim Falcão de Macedo (1979-1983), o espaço lhe foi retirado e depois devolvido ,em 1983, onde permaneceu até 1988. Nesta época adota como seu aprendiz o então iniciante Valdenísio Rego, que pretendia aperfeiçoar sua técnica de desenho com o artista-seringueiro. O pai de Valdenísio, que havia trabalhado na CODISACRE junto com Seo Hélio foi quem indicou o filho para o agora consagrado artista. Antes que o jovem pedisse para trabalhar com ele, Seo Hélio se antecipou ao pedido e o convidou para trabalhar no ateliê, ao que Valdenísio respondeu: “Eu vou lhe ajudar e em troca o senhor me ensina a desenhar.” (REGO, 2009) Neste trabalho de ajudante. Valdenísio Rego trabalhou 10 anos com o artista Hélio Melo, fazendo serviço voluntário. Neste intervalo de tempo, conseguiu desenvolver seu próprio trabalho e chegou a participar de várias exposições. Com a ajuda de Seo Hélio chegou a ser presidente da Associação dos Artistas Plásticos do Acre (AAPA) por dois mandatos consecutivos. Este seu trabalho voluntário foi de grande ajuda para Seo Hélio, porque, nas ausências do artista na cidade de Rio Branco, para exposições pelo Brasil e exterior, o ajudante mantinha o ateliê aberto para possíveis compradores que vinham de toda a parte do mundo. Como gratidão do artista ganhou de presente a obra: “O Caçador”, 1998, pintura acrílica em tela com aguados, 100cm x 80 cm. ( inserir imagem DSC0014/15). Em 1985 faz, na Galeria de Artes da UFAC, uma exposição individual com 40 desenhos com a técnica de nanquim combinado com sumos de flores silvestres, no que resultou num trabalho bastante original com tonalidades que vão desde o verde (clorofila) até o vermelho e o azul. Nesta mostra individual, Seo Hélio reclamou da ausência de autoridades governamentais: Não veio ninguém no dia da abertura da mostra. Nem Governador, nem Prefeito, nenhum político... nem o pessoal que trabalha na Educação e na Cultura do Estado. Mas foi uma festa muito bonita. Vieram alguns estudantes e muitos amigos meus. O Alberto Barbosa (aquele ceguinho que toca banjo, violão e pandeiro), tocou, juntamente comigo, para as pessoas presentes. A Miragina patrocinou o coquetel de frutas regionais, licores saborosísimos. E foram feitas algumas reservas, algumas pessoas mostraram-se interessadas em adquirir meus trabalhos no final da mostra (Marcílio, 1985, p.s/n.). Hélio Melo não se furtou ao seu compromisso político com a causa dos seringueiros. Participou ativamente do processo de criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CSN), ajudando na confecção de cartazes para divulgação do evento, cedendo desenhos de sua 156 autoria. Em 1985 participou do I Encontro Nacional dos Seringueiros na Universidade de Brasília ( UnB) com apresentação de música e exposição de desenhos. Neste encontro se concretizou a ideia do líder sindical Chico Mendes, de congregar numa entidade nacional representantes de trabalhadores agroextrativistas organizados em associações, cooperativas e sindicatos. Deu-se, então, a união de seringueiros, coletores de castanha, açaí, cupuaçu, quebradeiras de coco babaçu, baladeiras, piaçabeiros, integrantes de projetos agroflorestais, extratores de óleo e plantas medicinais com o objetivo de fortalecer a luta pela melhoria da qualidade de vida, o uso sustentável dos recuros naturais da floresta amazônica e pelo direito à terra. No II Encontro de Seringueiros, realizado entre os dias 25 e 31 de março de 1989, na capital acreana, Rio Branco, Seo Hélio teve participação atuante, expondo painéis sobre a vida dos seringueiros, realizando um show de músicas e disponibilizou para venda cinco títulos de suas publicaçãos: “Caucho, Seringueira e seus Mistérios”; “História da Amazônia”; “Experiência do Caçador” “Os Mistérios dos Pássaros” e “Mistérios dos répteis”. Aconteceu junto com o 2º Encontro Nacional de Seringueiros a primeira edição do Encontro dos Povos das Florestas, do qual participaram 187 delegados seringueiros e indígenas do Acre, Amazonas, Pará, Amapá e Rondônia. O líder seringueiro Chico Mendes, assassinado em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri (AC), foi um dos inspiradores da ação.25 A ultima exposição do artista Hélio Melo na cidade de Rio Branco aconteceu em 2001, poucos dias antes de sua morte na cidade de Goiânia.:A coletiva do Salão Universitário de Artes, que contou com os esforços da Vice-Reitoria e Pró-Reitoria de Extensão da UFAC em parceria com a Fundação Elias Mansour e Serviço Social. A exposição se abriu no dia 05 de março e esteve aberta á visitação até o dia 05 de abril. Participaram da coletiva, além das obras de Hélio Melo, Jaqueline Mesquita, Ivan Campos, Darcy Seles, Ulisses Sanches, Zé Matos, Gesileu Salvatore, Paulo Sérgio, Leila Jalul, Waldenísio Rego, Jorge Rivasplata, Dalmir Ferreira e Eliane Rudney. Hélio Melo também expôs suas obras na cidade de Xapuri (1986, 1990 e 1998) e na cidade de Plácido de Castro (1983), onde atualmente mora sua filha Fátima Melo, que guarda o acervo do artista em memória do pai. 25 Para saber mais sobre o II Encontro Nacional dos Seringueiros consulte <http://www2.cultura.gov.br/noticias/noticias_do_minc> Acesso em 29 de novembro de 2009. 157 Hélio é artista de um tempo que se desconhece nas grandes cidades: tempo em que as experiências vividas se transmitem à beira do fogo, nas histórias contadas pelos amigos, reagadas a uma boa bebida. Cada desenho de Hélio Melo traz essas impregnações do vivido: cada um tem sua história, dos cordéis a embarcações, dos pássaros à mata espessa” ( Martins, 1992, p. 6). É por conta dessa relação entre arte e vivência que Gadamer (1987) foi buscar na origem da palavra o sentido intencional e funciona como uma unidade teleológica de sentido. Algo é avaliado como vivência no momento em que lhe é atribuido um significado total constituindo-se numa lembrança e para quem teve a vivência, fica como uma posse duradoura. As lembranças do tempo do seringal do artista Hélio Melo tem caráter permanente, inesquecível e inesgotável que geram significados para sua produção artística. 3.4 OBRAS DE HÉLIO MELO CATALOGADAS NA CIDADE DE RIO BRANCO Hélio de Holanda Melo, Sem título, s/d, tinta e extrato de folhas sobre papel cartão, 37,5 x 54 cm. Coleção Museu da Borracha, Rio Branco (AC) Figura 71 Hélio de Holanda Melo, 2º distrito em 1962, 2000, Tinta e extrato de folhas sobre tela, 41 x 54 cm. Coleção Museu do Palácio Rio Branco (AC) Figura 72 158 Hélio de Holanda Melo, Sem título, s/d tinta e Extrato sobre tela , 102 x 96 cm. Coleção Museu do Palácio Rio Branco (AC) Figura 73 Hélio de Holanda Melo, Coleta de Seringa, 1983, tinta e extrato de folhas sobre tela, 36 x 29 cm. Coleção: Patrimônio Histórico da Fundação Elias Mansour, Rio Branco (AC) Figura 74 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1999, tinta e extrato de folhas sobre tela, 105 x 125 cm. Coleção: Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Hélio Melo, Rio Branco (AC) Figura 75 159 Cópia da obra de Hélio Melo O caçador, feita na parede da EMEI Hélio Melo executado por Valdenísio Rego em 2002, Rio Branco (AC) Figura 76 Hélio de Holanda Melo, Cortando Castanha, 1995,nanquim e sumo de folhas sobre papel cartão29x39 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 77 Hélio de Holanda Melo, Beira do lago,1995, nanquim e sumo de folhas, 24 x 12 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 78 160 Hélio de Holanda Melo, Balsa de Borracha, 1997, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 30 x 99 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 79 Hélio de Holanda Melo, O seringueiro, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 36 x 38 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 80 Hélio de Holanda Melo, O Homem e o Cavalo, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 47 x 42 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 81 161 Hélio de Holanda Melo, Carga de borracha, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 37 x 46 cm. Coleção: Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 82 Hélio de Holanda Melo, Beira do rio, 1994, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 26 x 33,5 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 83 Hélio de Holanda Melo, Pescaria, 1994, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 32 x 43,5 cm. Coleção: Maria de Fátima Melo Figura 84 162 Hélio de Holanda Melo, Barracão de seringal, 1995, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 50 x 58 cm. Coleção: Maria de Fátima Melo Figura 85 Hélio de Holanda Melo, Festa no seringal, 2000, nanquim e sumos de folhas sobre compensado, 50 x 68cm. Coleção Maria de Fátima Melo Figura 86 Hélio de Holanda Melo, O Mapinguari, s/d látex sobre compensado, 2000 ,6 x 114,3 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 87 163 Hélio de Holanda Melo, Beira do lago, 1995, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 25 x 29 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 88 Hélio de Holanda Melo, O bêbado, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 35 x 47 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 89 Hélio de Expulsão Holanda dos Melo, seringueiros, 2000, 51x69cm, nanquim e sumos de compensado, folhas 2000. Maria de Fátima Melo Figura 90 sobre Coleção 164 Hélio de Holanda Melo, Pescaria, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 33 x 44 cm. Coleção Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 91 Hélio de Holanda Melo, Pescaria, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 26,5 x 41 cm. Coleção Maria de Fátima Melo Figura 92 Hélio de Holanda Melo, Cortando Seringa, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 33 x 44cm. Coleção Maria de Fátima Melo Figura 93 165 Hélio de Holanda Melo, Beira do lago, 1994, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 36,5 x 43 cm. Coleção: Maria de Fátima Melo Figura 94 Hélio Holanda Melo, Tempo dos Coronéis, 1999, nanquim , tinta a base d’água e sumos de folhas sobre papel cartão, 96 x 97 cm. Coleção Maria de Fátima Melo. Figura 95 Hélio Holanda Melo, O homem e o Cavalo, 1999, nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas sobre papel cartão, 96 x 77 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco, (AC) Figura 96 166 Hélio Holanda Melo, Serrador II,1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 43,5 x 52 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 97 Hélio Holanda Melo, Casa do Seringueiro, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 47 x 49,5 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 98 167 Hélio Holanda Melo, O cachorro do Deputado, 1997, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 47 x 55 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 99 Hélio de Holanda Melo, O serrador I, 1997, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 46 x 58 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 100 168 Hélio de Holanda Melo, O engenho e a prensa, 1996, nanquim com sumos de folhas sobre papel cartão, 51 x 61 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 101 Hélio de Holanda Melo, Caminho do Seringueiro, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 55x 59 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 102 Hélio de Holanda Melo, O serrador IV, 1996, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 43 x 55 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 103 169 Hélio de Holanda Melo, O Caçador, 1999, nanquim com sumos de folhas sobre papel cartão, 59 x 72 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC) Figura 104 Hélio de Holanda Melo, O barracão, 1996, nanquim com sumos de folhas sobre papel cartão, 52 x 63 cm. Coleção Maria de Fátima Melo. Figura 105 Hélio de Holanda Melo, O caminho do Seringueiro II, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 55 x 67 cm.Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC). Figura 106 170 Hélio de Holanda Melo, O cachorro do Deputado II, 1997, nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas sobre papel cartão, 32 x 40 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC). Figura 107 Hélio de Holanda Melo, O seringueiro, 2000, nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas sobre tela, 118 x 95 cm. Coleção Maria de Fátima Melo. Figura 108 171 Hélio de Holanda Melo, Beira do Rio, 1988, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 28 x 41 cm. Coleção Maria de Fátima Melo, Rio Branco (AC). Figura 109 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 74 x 99 cm. Coleção Rejane Maria Izídio dos Santos e Santos, Rio Branco (AC). Figura 110 Hélio de Sequência Holanda do Caçador, Melo, 1998, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, sem medida. Coleção Rejane Maria Izídio dos Santos e Santos, Rio Branco (AC). Figura 111 172 Hélio de Holanda Melo, Sem título [tirando leite da seringa] 1994,nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas sobre tela, 152 x 128 cm. Coleção Sede do Partido dos Trabalhadores (PT), Rio Branco (AC). Figura 112 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 2000, nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas, sobre tela, 108 x 99 cm. Coleção Gabinete do Governador do Estado do Acre, Rio Branco (AC) Figura 113 173 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1999, nanquim, tinta a base d’água e sumos de folhas sobre tela, 118 c 99 cm. Coleção Gabinete do Governador do estado do Acre, Rio Branco (AC). Figura 114 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1988, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 45 x 33,5 cm. Coleção Gabinete do Governador do Estado do Acre, Rio Branco (AC). Figura 115 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1981, nanquim, sumos de folhas sobre papel cartão, 28 x 41 cm. Coleção Gabinete do Governador do Estado do Acre, Rio Branco (AC). Figura 116 174 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1997, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 21 x 27, 5 cm. Coleção Danilo Batista de Sá, Rio Branco (AC). Figura 117 Hélio de Holanda Melo, Sem título, 1982 ou 1992, nanquim, tinta a base d’água e extrato de folhas, 26 x 35 cm. Coleção Atelier Pensatório (Dalmir Ferreira), Rio Branco (AC). Figura 118 Hélio de Holanda Melo, Sem título [Homem brigando com a onça], s/d, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 41 x 36 cm, obra inacabada sem assinatura. Coleção Atelier Pensatório (Dalmir, Rio Branco (AC). Figura 119 . 175 Hélio de Holanda Melo, Sem título [Homem cortando Seringa], s/d, nanquim e sumos de folhas sobre papel cartão, 43 x 50 cm, obra inacabada. Coleção Atelier Pensatório (Dalmir, Rio Branco (AC). Figura 120 . Hélio de Holanda Melo, Sem título, s/d, tinta e extrato de folhas sobre papel cartão, 48 x 48 cm. Museu da Borracha, Rio Branco (AC). Figura 121 176 Hélio Holanda Melo, Escolinha da Esperança, 1998, nanquim e extrato de folhas sobre papel cartão, 39 x 50 cm. Coleção Memorial dos Autonomistas, Rio Branco (AC) . Figura 122