TEMADECAPA
TEMADECAPA
por RITA ASCENSO
Aquecimento
Temos mais frio nas nossas casas
O mercado do aquecimento é um espelho das dificuldades económicas que se
vivem. Estamos mais pobres ao nível do conforto e a procura não acompanha a
tecnologia disponível. A deficiente envolvente dos edifícios é outra barreira para
o conforto térmico das nossas casas.
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TEMADECAPA
por RITA ASCENSO
TEMADECAPA
por FILIPA CARDOSO e RITA ASCENSO
O
frio voltou este ano a marcar um inverno rigoroso
e que empurra para segundo plano o conforto das
famílias portuguesas. A grave crise económica
continua a ser uma barreira e a qualidade de vida
das pessoas está a andar para trás. Recorde-se que um
estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2012
aponta para a pobreza energética de 28% das famílias portuguesas. Ou seja, perto de um terço das nossas casas não
estão devidamente aquecidas no inverno. Os rendimentos
baixos, a deficiente construção e a subida da energia estão
na base desta realidade também na Europa, onde se estima
que 125 milhões de cidadãos europeus estejam afectados
por este problema. Em Espanha, 15% das habitações têm
uma temperatura abaixo dos 18 graus no inverno, de acordo
com a Confederación de Consumidores y Usuários (CECU),
que denuncia a proliferação de doenças causadas pelo
frio. Embora estes dados sejam de 2012, tudo indica que
esta situação não se tenha alterado em 2013 do lado dos
consumidores.
Cá em Portugal, esta realidade explica-se, em primeiro lugar, pela falta de qualidade construtiva das nossas
habitações ou pela necessidade de implementação de
medidas de melhoria do lado da eficiência energética. Os
preços da energia são uma barreira enorme mas o conforto térmico do nosso parque edificado passa também
pela necessária reabilitação, num primeiro momento, e só
depois estamos em condições de incorporar as tecnologias
mais adequadas para o aquecimento. Para Abril de 2014,
Portugal e os restantes Estados-Membros deverão apresentar uma estratégia a longo prazo para a dinamização da
reabilitação e respectiva mobilização de investimentos. O
nosso PNAEE (Plano Nacional para a Eficiência Energética)
incorpora algumas medidas e já foram lançados alguns
Avisos no âmbito do Fundo de Eficiência Energética. O
potencial de poupança na Europa é de 70% para 2050,
segundo o BPIE (Buildings Performance Institute Europe).
E o sector residencial representa 75% do parque edificado
europeu. É portanto impossível dissociar as carências de
conforto térmico das necessidades do lado da reabilitação.
Enquanto não atacarmos o problema da reabilitação com
responsabilidade, as nossas casas vão continuar frias no
inverno e a pobreza energética está para ficar.
“Os recuperadores de calor e as caldeiras
a pellets acabam por ser a solução mais
barata e por isso aquela que tem tido
uma maior procura. As bombas de calor
vêm logo a seguir”. (AFIQ)
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A POBREZA ENERGÉTICA
EUROPEIA
As estatísticas europeias colocam em evidência a necessidade de accionar medidas de combate à pobreza
energética, através de definições e enfoques comuns a
toda a União Europeia. Só na Europa, um total de 125
milhões de pessoas são afectadas pelo frio e vivem em
condições de conforto deficitárias. Se recuarmos a 2010, a
base de dados Estatística do Rendimento e das Condições
de Vida na União Europeia (EU-SILC) indica que 30% da
população portuguesa admitia não ter a capacidade de
manter as habitações aquecidas, sendo que só a Bulgária
obteve piores resultados. Na mesma linha, está a vizinha
Espanha que, de acordo com um estudo das Asociación
Ciencias Ambientales, desde o começo da crise financeira
observou-se um aumento de aproximadamente 5% para
8% de habitações incapazes de manter temperaturas
adequadas, a par com o aumentou do número de famílias
que despendiam mais de 10% dos seus rendimentos no
consumo de energia doméstico. A Irlanda acompanhou
esta tendência, em relatórios oficiais referentes a 2009,
existindo 317 mil habitantes a gastar acima de 10% do
seu rendimento para aquecimento, encontrando-se 151
mil em pobreza energética severa e 83 mil em pobreza
energética extrema. No caso francês, o último estudo
a nível nacional aponta 3,8 milhões de casas (14,4%)
que estão numa situação preocupante. No entanto, o
relatório recente sobre pobreza energética, lançado pelo
Departamento para a Energia e Alterações Climáticas
britânico, revelou a extinção da problemática em 0,25
milhões de casas em 2011, quando comparado com as
4,5 milhões de residências que encontravam em pobreza
energética em 2010.
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ANTES DO AQUECIMENTO
Do lado das famílias podem ser dados passos importantes
antes da escolha sobre a melhor tecnologia (ver infografia),
nomeadamente a sensibilização para os correctos usos da
energia e algumas medidas ao nível dos comportamentos.
Importa atacar o problema de base, nomeadamente os
aspectos construtivos, as janelas e caixilharias e investir
em isolamentos que permitam manter a casa aquecida. Do
ponto de vista dos sistemas activos, estes deverão estar
integrados com outros sistemas de regulação inteligente
que tenham em conta a temperatura exterior de forma a
evitar desperdícios de funcionamento ou potências desnecessárias. A reabilitação energética tem que começar
por aí se queremos de facto ter conforto, eficiência e uma
redução nas nossas necessidades energéticas. Já não existem soluções isoladas para o problema do conforto térmico
e qualidade do ar no interior das habitações.
Sobre o chapéu da eficiência energética, são várias as
iniciativas e programas que sensibilizam os cidadãos para
estas questões. Aliás, esta área dos aspectos construtivos
e melhoria da envolvente assume-se como prioritária
numa nova visão da energia nos edifícios. Em Portugal,
o SEEP – Sistema de Etiquetagem Energética de Produtos,
embora não sendo obrigatório, promove uma série de
recomendações e acções na área das janelas eficientes
através de um sistema de classificações que aponta para
ganhos de desempenho e poupança energética. O Fundo
de Eficiência Energética – Aviso Edifício Eficiente, com 2
milhões para as janelas eficientes e solar térmico, fechou
a apoiar cerca de 1500 fogos. A iniciativa Jessica, um
instrumento da UE que ajuda os EM a aceder a fundos
comunitários, disponibilizou 136 milhões para projectos de
regeneração urbana onde se incluem projectos de reabilitação energética. As Câmaras Municipais desdobram-se
em iniciativas e a Estratégia de Reabilitação Urbana para
Lisboa 2011-2024, onde se enquadra a área de reabilitação
de edifícios, é um dos exemplos. No município do Porto,
também o Plano de Acção para a Energia Sustentável visa
explorar o potencial de melhoria energética na reabilitação
do edificado da cidade capitalizando na experiência adquirida no Guia de Termos de Referência para Reabilitação de
Edifícios no Centro Histórico. Estas e outras iniciativas são
fundamentais mas revelam-se insuficientes para resolver
o nosso problema. A solução pode passar por incentivos
fiscais ou outros que levem os portugueses a tomarem
medidas.
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TEMADECAPA
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por FILIPA CARDOSO e RITA ASCENSO
COMO PODEMOS AQUECER AS NOSSAS CASAS?
automaticamente accionado para compensar a falta da
primeira fonte de calor – o sol. Esta solução pode ainda
ser combinada com as tradicionais formas de aquecimento
das casas – aquecimento central, piso e tecto radiantes...
b) Bomba de calor - a bomba de calor é um equipamento
que transfere calor de uma fonte (ar exterior, solo, água
de um lago, de um rio ou da toalha freática), normalmente a uma temperatura mais baixa, transportando-o,
a uma temperatura mais elevada (ar ambiente, água
para aquecimento, ou outro fluido intermédio). Hoje em
dia praticamente todos os aparelhos de ar condicionado
utilizam este princípio.
c) Caldeiras - uma caldeira é um aparelho que serve para
aquecer um circuito de água que pode ser utilizado para
aquecimento de águas quentes sanitárias e ambiente
interior ou ambos. Quanto ao combustível, as caldeiras
podem ser eléctricas, a gás, a gasóleo ou biomassa
Caldeiras convencionais - caldeiras que trabalham a
temperaturas entre 70 a 80 graus.
Caldeiras de baixa temperatura - caldeiras que trabalham
a temperatura à volta dos 50 graus. Caldeiras de condensação - caldeiras de alto rendimento,
baseadas no aproveitamento do calor de condensação
dos gases resultantes da combustão, isto é, o vapor de
água que integra os gases de combustão é em parte
condensado, recuperando-se assim uma fracção do calor
latente, que no caso das caldeiras clássicas, é totalmente
evacuado com os produtos da combustão.
d) Sistemas combinados - aquecimento e arrefecimento
SISTEMAS PASSIVOS
Esta solução está, desde logo, condicionada pelos planos
de urbanização no que se refere à construção urbana e
posterior orientação das casas que nem sempre é a ideal.
Em casas de raiz é mais fácil implementar um conjunto de
medidas que pretende tirar o máximo aproveitamento da
envolvente, do clima e da radiação solar. Pretende-se ainda
que, ao nível dos aspectos construtivos, as casas ou prédios
reduzam, ao máximo, as suas necessidades energéticas:
fachadas, isolamentos, caixilharias, janelas e sistemas de
ventilação passivos. Na reabilitação, ou seja na maioria dos casos o potencial
de intervenção é mais reduzido. Nas casas viradas a sul,
recomenda-se a abertura de janelas no período de exposição
solar e apenas no caso de as temperaturas serem superiores
a 5 graus. O objectivo é aquecer ao máximo as superfícies
de forma a reter o calor que mais tarde se vai libertando e
aquecendo a casa. Neste caso o recurso a paredes de trombe
no início da obra ou em intervenções de reabilitação são
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ambiente e ainda aquecimento de águas sanitárias.
uma solução muito eficaz. Pelas suas características (espessura nunca inferior a 20cm), as paredes de trombe têm a
capacidade de acumular o calor proveniente da radiação
solar durante as horas de exposição.
SISTEMAS ACTIVOS
Dentro dos sistemas activos temos as caldeiras, bombas
de calor, solar térmico e painéis fotovoltaicos. O objectivo
é o mesmo e sempre que possível recorrer a sistemas de
aquecimento que promovam o aquecimento das superfícies
e o ambiente interior.
a) Sistemas solares térmicos - transformam a radiação solar
directamente em energia térmica para o aquecimento de
águas. Para efeitos de aquecimento, os sistemas solares
térmicos devem ser utilizados e integrados com uma
segunda fonte de calor (esquentador, termoacumulador,
caldeira...), funcionando como um sistema híbrido que é
A integração de sistemas de captação de energia solar térmica com bombas de calor e/ou caldeiras para climatização
e água quente sanitária faz-se através de um acumulador.
O aquecimento da água do depósito acumulador faz-se
sempre que exista disponibilidade do sistema solar podendo
ser complementado pela bomba de calor ou caldeira. No
verão este depósito funciona apenas para a preparação da
água quente sanitária, pois o arrefecimento fica a cargo da
bomba de calor a funcionar para arrefecimento. Para obtenção de uma boa eficiência energética, devem utilizar-se
sistemas de emissão a baixa temperatura, e.g., pavimento
radiante, o que permite um melhor desempenho da bomba
de calor, ou a utilização de caldeira de condensação, pelo
que a temperatura do acumulador não deve ser superior a
40ºC, devendo neste caso a temperatura de utilização final
da água quente sanitária ser garantida pela utilização de,
por exemplo, um esquentador.
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por FILIPA CARDOSO e RITA ASCENSO
FUNCIONAMENTO ESQUEMÁTICO DE UMA BOMBA DE CALOR NO INVERNO
Pe n s a d a p a ra s i
Compressor
ÁGUA SOLO AR
CALOR
Evaporador
AQUECIMENTO
Líquido a baixa pressão
e baixa temperatura
Condensador
CALOR
AMBIENTE INTERIOR
Vapor a alta pressão
e alta temperatura
Vapor a baixa pressão
e baixa temperatura
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M Á X I M A P O U PA N Ç A D E G Á S
Líquido a alta pressão
e alta temperatura
Válvulas de expansão
Importa atacar o problema de base, nomeadamente os aspectos construtivos, as
janelas e caixilharias e investir em isolamentos que permitam manter a casa aquecida.
O MERCADO
O ajustamento é inevitável e as empresas estão a viver
um mau momento agravado pela quase inexistência de
novas construções. Mas a reabilitação e a substituição
dos tradicionais sistemas por novas tecnologias mais
eficientes do lado da poupança são o caminho para a
manutenção de um mercado que timidamente começa
a recuperar.
Para a AFIQ – Associação de Fabricantes e Importadores de
Equipamentos de Queima, a conjuntura é idêntica à do ano
passado com a agravante da queda do solar térmico (ver pág.
46) que afecta directamente o mercado do aquecimento.
Neste domínio, estamos a andar para trás e para valores
de mercado de 2007.
Segundo estes responsáveis, a retracção foi generalizada
e marcou o primeiro semestre de 2013. Em contrapartida,
os últimos meses do ano deram um empurrão e a procura
apareceu. Ainda segundo Joaquim Meneses, presidente da
AFIQ, “o aumento dos preços do gasóleo são incomportáveis,
o que tem ajudado o mercado da reconversão ou substituição
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de caldeiras”. Aqui, este empresário destaca a biomassa no
topo da procura. “Os recuperadores de calor e as caldeiras
a pellets acabam por ser a solução mais barata e por isso
aquela que tem tido uma maior procura. As bombas de
calor vêm logo a seguir”.
Na sequência de um inquérito feito a algumas empresas,
o factor preço está a condicionar a escolha das soluções
por parte dos consumidores, não havendo uma perspectiva de investimento de médio prazo. Em termos gerais,
a perspectiva de escolher o que é sustentável também
não está nas prioridades das pessoas que optam pelo
equipamento que, naquele momento e da forma mais
barata, resolve ou ajuda a minimizar o problema. Em
jeito de conclusão, porventura, teremos que esperar por
uma conjuntura mais favorável de forma a recuperar o
tempo perdido e voltar a entrar no caminho de progresso
e mais amigo do ambiente. O argumento da eficiência
energética e a redução dos consumos mesmo num curto
espaço de tempo ainda não está a dar os resultados que
se esperavam. n
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condensação PLATINUM PLUS representa
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